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Sinopse

Após deixar a vida de subúrbio que levava com a família, a inocente Amélie (Audrey
Tautou) muda-se para o bairro parisiense de Montmartre, onde começa a trabalhar como
garçonete. Certo dia encontra uma caixa escondida no banheiro de sua casa e, pensando
que pertencesse ao antigo morador, decide procurá-lo e é assim que encontra
Dominique (Maurice Bénichou). Ao ver que ele chora de alegria ao reaver o seu objeto,
a moça fica impressionada e adquire uma nova visão do mundo. Então, a partir de
pequenos gestos, ela passa a ajudar as pessoas que a rodeiam, vendo nisto um novo
sentido para sua existência. Contudo, ainda sente falta de um grande amor.

Premiações
- Recebeu 5 indicações ao Oscar, nas seguintes categorias: Melhor Filme Estrangeiro,
Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Som e Melhor Roteiro Original.

- Recebeu uma indicação ao Globo de Ouro, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

- Ganhou 2 prêmios no BAFTA, nas seguintes categorias: Melhor Roteiro Original e


Melhor Desenho de Produção. Foi ainda indicado em outras 7 categorias: Melhor Filme,
Melhor Diretor, Melhor Atriz (Audrey Tatou), Melhor Filme Estrangeiro, Melhor
Fotografia, Melhor Trilha Sonora e Melhor Edição.

- Recebeu 13 indicações ao César, nas seguintes categorias: Melhor Filme, Melhor


Diretor, Melhor Atriz (Audrey Tautou), Melhor Ator Coadjuvante
(Rufus e James Debbouze), Melhor Atriz Coadjuvante (Isabelle Nanty), Melhor
Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Desenho de Produção, Melhor
Trilha Sonora, Melhor Som e Melhor Roteiro.

- Ganhou o Prêmio da Audiência no Festival Internacional de Edimburgo.

- Ganhou o Prêmio do Público no Festival de Toronto.

- Recebeu uma indicação ao Grande Prêmio Cinema Brasil, na categoria de Melhor


Filme Estrangeiro.

- Ganhou o Prêmio Adoro Cinema 2002 de Melhor Atriz Revelação (Audrey Tatou).

O fabuloso Destino de Amélie Poulain


Em certo momento de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, a personagem-título,
ansiosa com o atraso de uma pessoa, começa a imaginar os motivos que poderiam ter
provocado a demora e só consegue pensar em duas razões: a primeira é incrivelmente
simples, mas a segunda é tão criativa que se torna inacreditável. E esta característica, a
imaginação exacerbada, é justamente a marca registrada de todo o roteiro, que possui
idéias suficientes para mais dez filmes.
Escrita por Guillaume Laurant, a história gira em torno de Amélie Poulain (Tautou),
uma jovem solitária que, certo dia, encontra em seu apartamento uma caixinha contendo
diversos brinquedos que foi escondida por um garoto que morou ali há várias décadas.
Sem ter muitos propósitos na vida, a moça resolve devolver o objeto para seu dono e,
sentindo-se recompensada pela reação deste, decide solucionar os problemas de todas as
pessoas com quem convive. No entanto, suas estratégias jamais se aproximam do óbvio
e, com isso, ela bola planos complicadíssimos que muitas vezes (mas não sempre)
funcionam melhor do que uma conversa franca (a maneira que ela encontra para
estimular o pai a viajar é uma das melhores coisas do filme).
O que Amélie parece compreender muito bem é que, de modo geral, são os pequenos
detalhes que determinam o grau de satisfação com que levamos nossas vidas: prazeres
rotineiros ou contratempos triviais quase sempre definem aquilo que costumamos julgar
como sendo um 'bom' ou um 'mau' dia. Da mesma forma, são nossas preferências mais
sutis que, de um jeito ou de outro, acabam servindo como indícios de nosso caráter – e o
filme acerta em cheio ao apresentar alguns de seus personagens através daquilo que eles
gostam ou não: uma vizinha de Amélie gosta de ouvir o barulho da tigela de leite
batendo no azulejo do chão de sua cozinha; e a heroína adora ver a expressão das
pessoas em uma sala de cinema.
São observações como estas que demonstram algo que fica claro ao longo da projeção:
os realizadores de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain apreciam verdadeiramente as
particularidades da natureza humana e, portanto, analisam com sensibilidade os efeitos
que certos acontecimentos (como a morte ou o término de um relacionamento) exercem
sobre as pessoas. Além disso, o filme consegue conferir beleza aos atos mais simples,
como no momento em que um personagem cata alguns grãos de açúcar que se
encontram sobre a mesa.
Porém, ao contrário do que muitos poderiam imaginar a partir das constatações acima,
Amélie jamais se torna um filme maçante. Ao contrário: caso tivesse sido produzido por
Hollywood, vários críticos não hesitariam em classificá-lo como uma produção
'comercial', já que funciona também como um passatempo descompromissado, repleto
de tiradas divertidíssimas.

Críticas do filme em versão de um crítico


"Somente a dor é positiva", dizia Schopenhauer. Talvez esta seja a melhor explicação
para o grande mistério envolvendo a crítica: por que os críticos preferem malhar um
filme ao invés de elogiá-lo?
A crítica deveria ser, a princípio, a análise das partes constituintes de determinado
objeto e a avalição de como tais partes se articulam. Porém, comumente, a crítica se
desenvolve como a constatação de que a articulação é falha e como o objeto é, por isso,
deficiente.
Isto é inevitável. Quando se trata de filmes ruins, além de ser muito mais fácil de se
falar sobre eles, há um prazer imanente em atacá-los. "Somente a dor é positiva" e o
desprazer que certo filme nos causa é o solo sobre o qual obtemos algum prazer, ao
apresentarmos suas falhas.
Talvez seja por isto que demorei tanto tempo para criticar "O Fabuloso Destino de
Amélie Poulain". Assisti a ele umas dez ou doze vezes e sempre me encanto com este
filme.
A trama é despretensiosa: Amélie descobre, escondida há quarenta anos, na parede de
seu banheiro, uma caixinha de brinquedos. Ela decide que devolverá tal descoberta ao
dono e, se isto mudar a vida dele, ela, daquele momento em diante, dedicará sua vida a
ajudar as pessoas.
Tudo neste filme é encantador, começando com a intérprete de Amélie (Audrey
Tautou), passando pela trilha sonora, pelo roteiro magnífico, pela direção de arte e,
principalmente, pela fotografia. "Amélie" é uma obra de arte em último sentido,
causando prazer estético pelo maravilhamento de causa. É daqueles filmes que se ama -
inclusive chega a ser cultuado - ou se odeia, mas não há quem fique indiferente diante
dele.
O diretor Jean-Pierre Jeunet atingiu o ápice de carreira neste filme (até que prove o
contrário!); preparou-se para ele em "Delicatessen" e o imitou em "Eterno Amor";
"Alien, A Ressurreição" é um corpo estranho...
É difícil saber se "Amélie" um dia se tornará um clássico do cinema, ainda mais em
nossa época, quando tudo é tão efêmero que já nasce ultrapassado, mas, certamente, é
uma obra-prima de beleza e encantamento.
Um filme de narrativa inovadora, com uma belíssima lição de vida.
Mais do que recomendado.  

Outra crítica
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain pode ser considerado como um filme diferente
da grande maioria que existe por aí. É muito bom quando temos a oportunidade de
assistir a filmes como este, onde o diretor usa uma combinação que ao mesmo tempo é
dramática e cômica em uma história simples, mas encantadora.
Produzido na França, conta a história dramática de Amelie desde a sua infância, que não
foi das melhores. Viveu praticamente isolada das pessoas. Seu pai, que era médico,
nunca se aproximou de verdade para dar-lhe amor e carinho, só se aproximava quando
precisava fazer exames nela. Seu peixinho de estimação tinha crises e tentara o suicídio
várias vezes. E para completar, sua mãe teve uma morte trágica e sinceramente muito
esquisita. A menina então crescera isolada de outras pessoas e sem amigos para brincar
ou se divertir. Agora jovem, trabalha como garçonete e mora em um simples
apartamento em Paris. Certo dia encontra uma caixa pessoal em seu apartamento e
descobre que esta pertencia a um ex-morador. Depois disso, ela decide encontrar o dono
da caixa, por muita sorte, consegue devolver-lhe seu bem precioso. Encantada e ao
mesmo tempo comovida com a felicidade do homem, Amelie descobre um novo sentido
para sua vida e passa agora a fazer o bem ajudando a todos de todas as formas. Mas,
também acaba por descobrir que ainda lhe falta algo que a impede de se sentir feliz ou
realizada: um grande amor.

O filme é um primor visual: a fotografia é belíssima, muito bem trabalhada, rica em


detalhes e bem colorida. Na realidade é um dos grandes destaques do filme.
Tecnicamente, é o mais interessante. Quanto à trilha sonora, pode-se dizer que é muito
bem empregada, mesmo que algumas vezes a execução dela seja paralela às falas do
narrador, o que faz com que ela seja perdida e passe despercebida nessas ocasiões. Os
diálogos são rápidos e ao mesmo tempo diretos, mas não chegam a ser superficiais.

O roteiro não traz algo de revolucionário, mas mesmo assim tem qualidade e foi bem
escrito. Mas o que o valoriza ainda mais a produção é a forma que Jean-Pierre Jeunet dá
vida à personagem Amelie, juntamente com a atriz Audrey Tautou (este foi o filme que
a lançou para o mundo), mostrando dessa forma que ambos souberam muito bem
desenvolver os seus papéis. O estilo utilizado pelo diretor misturando comédia com
drama mais a presença de um narrador, que parece estar narrando um assunto didático,
acaba por tornar o filme muito interessante, leve e descontraído. Apresenta assim um
toque incomum que nos faz esquecer do tempo, pois acabamos ficando presos ao filme
para acompanhar sua narração que é rápida e rica em informações.

É curioso saber o que vai acontecer com a personagem, uma vez que no começo o filme
enfatiza muito o drama da pobre menininha, mas pouco tempo depois já o quebra com a
morte inesperada de sua mãe. Enfim, nossa personagem parece estar “abandonada”,
levando a crer que ela será uma pessoa isolada dos outros, com medo do mundo lá fora.
Porém, não é o que acontece. Amelie acaba se superando e nos dando uma lição de vida
de uma forma muito divertida com seus planos mirabolantes para fazer os outros felizes.

O filme foi muito bem visto e recebido pelo público francês e, embora seja uma
produção de língua não-inglesa, também fez um considerável sucesso nos Estados
Unidos, tudo graças a esse estilo diferente e incomum na maioria dos filmes.

A significância do sucesso
Boa parte da responsabilidade por este sucesso cabe, é claro, ao roteiro de Laurant, mas
isso não quer dizer que o excepcional trabalho do cineasta Jean-Pierre Jeunet deve ser
relegado a um segundo plano: associados à belíssima fotografia de Bruno Delbonnel, os
enquadramentos e movimentos de câmera criados pelo diretor conferem grande fluidez
e dinamismo ao filme, tornando a experiência ainda mais alucinante (e quando digo
'alucinante', estou sendo quase literal, já que as reflexões dos personagens vistos no
filme acontecem, em alguns casos, como incríveis delírios visuais). Como se não
bastasse, Jeunet faz uma sutil referência ao maravilhoso Delicatessen, que co-dirigiu ao
lado de Marc Caro em 1991, ao mostrar a interferência de um 'encontro sexual' sobre os
objetos espalhados na lanchonete em que a protagonista trabalha.
Enquanto isso, Audrey Tautou cria uma Amélie absolutamente adorável, que está
sempre vendo o mundo com olhos arregalados de admiração... e preocupação. Amélie
não é apenas uma jovem sonhadora e sensível – ela também é uma moça solitária que, é
importante dizer, encontra em suas missões uma forma de preencher o vazio de sua
própria existência, o que a transforma em uma personagem ainda mais interessante
(aliás, durante os créditos iniciais podemos ver algumas de suas brincadeiras durante a
infância, o que aumenta ainda mais nossa proximidade com a moça). Assim, à medida
em que a história se desenvolve, Amélie se torna cada vez mais 'real' – e passamos a
compreender melhor sua filosofia de vida ('Quando o dedo aponta para o céu, o imbecil
olha para o dedo', alguém diz em certo momento do filme, seguindo instruções da
garota.)
Ao contrário daquilo que acontecia em Delicatessen, desta vez Jean-Pierre Jeunet não
constrói um universo surrealista para ambientar sua história: a Paris vista em O
Fabuloso Destino de Amélie Poulain é fantasiosa, mas não fantástica. E é desta forma
que o diretor consegue extrair o mágico do cotidiano e escrever poesia a partir do banal.

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