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Após deixar a vida de subúrbio que levava com a família, a inocente Amélie (Audrey
Tautou) muda-se para o bairro parisiense de Montmartre, onde começa a trabalhar como
garçonete. Certo dia encontra uma caixa escondida no banheiro de sua casa e, pensando
que pertencesse ao antigo morador, decide procurá-lo e é assim que encontra
Dominique (Maurice Bénichou). Ao ver que ele chora de alegria ao reaver o seu objeto,
a moça fica impressionada e adquire uma nova visão do mundo. Então, a partir de
pequenos gestos, ela passa a ajudar as pessoas que a rodeiam, vendo nisto um novo
sentido para sua existência. Contudo, ainda sente falta de um grande amor.
Premiações
- Recebeu 5 indicações ao Oscar, nas seguintes categorias: Melhor Filme Estrangeiro,
Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia, Melhor Som e Melhor Roteiro Original.
- Ganhou o Prêmio Adoro Cinema 2002 de Melhor Atriz Revelação (Audrey Tatou).
Outra crítica
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain pode ser considerado como um filme diferente
da grande maioria que existe por aí. É muito bom quando temos a oportunidade de
assistir a filmes como este, onde o diretor usa uma combinação que ao mesmo tempo é
dramática e cômica em uma história simples, mas encantadora.
Produzido na França, conta a história dramática de Amelie desde a sua infância, que não
foi das melhores. Viveu praticamente isolada das pessoas. Seu pai, que era médico,
nunca se aproximou de verdade para dar-lhe amor e carinho, só se aproximava quando
precisava fazer exames nela. Seu peixinho de estimação tinha crises e tentara o suicídio
várias vezes. E para completar, sua mãe teve uma morte trágica e sinceramente muito
esquisita. A menina então crescera isolada de outras pessoas e sem amigos para brincar
ou se divertir. Agora jovem, trabalha como garçonete e mora em um simples
apartamento em Paris. Certo dia encontra uma caixa pessoal em seu apartamento e
descobre que esta pertencia a um ex-morador. Depois disso, ela decide encontrar o dono
da caixa, por muita sorte, consegue devolver-lhe seu bem precioso. Encantada e ao
mesmo tempo comovida com a felicidade do homem, Amelie descobre um novo sentido
para sua vida e passa agora a fazer o bem ajudando a todos de todas as formas. Mas,
também acaba por descobrir que ainda lhe falta algo que a impede de se sentir feliz ou
realizada: um grande amor.
O roteiro não traz algo de revolucionário, mas mesmo assim tem qualidade e foi bem
escrito. Mas o que o valoriza ainda mais a produção é a forma que Jean-Pierre Jeunet dá
vida à personagem Amelie, juntamente com a atriz Audrey Tautou (este foi o filme que
a lançou para o mundo), mostrando dessa forma que ambos souberam muito bem
desenvolver os seus papéis. O estilo utilizado pelo diretor misturando comédia com
drama mais a presença de um narrador, que parece estar narrando um assunto didático,
acaba por tornar o filme muito interessante, leve e descontraído. Apresenta assim um
toque incomum que nos faz esquecer do tempo, pois acabamos ficando presos ao filme
para acompanhar sua narração que é rápida e rica em informações.
É curioso saber o que vai acontecer com a personagem, uma vez que no começo o filme
enfatiza muito o drama da pobre menininha, mas pouco tempo depois já o quebra com a
morte inesperada de sua mãe. Enfim, nossa personagem parece estar “abandonada”,
levando a crer que ela será uma pessoa isolada dos outros, com medo do mundo lá fora.
Porém, não é o que acontece. Amelie acaba se superando e nos dando uma lição de vida
de uma forma muito divertida com seus planos mirabolantes para fazer os outros felizes.
O filme foi muito bem visto e recebido pelo público francês e, embora seja uma
produção de língua não-inglesa, também fez um considerável sucesso nos Estados
Unidos, tudo graças a esse estilo diferente e incomum na maioria dos filmes.
A significância do sucesso
Boa parte da responsabilidade por este sucesso cabe, é claro, ao roteiro de Laurant, mas
isso não quer dizer que o excepcional trabalho do cineasta Jean-Pierre Jeunet deve ser
relegado a um segundo plano: associados à belíssima fotografia de Bruno Delbonnel, os
enquadramentos e movimentos de câmera criados pelo diretor conferem grande fluidez
e dinamismo ao filme, tornando a experiência ainda mais alucinante (e quando digo
'alucinante', estou sendo quase literal, já que as reflexões dos personagens vistos no
filme acontecem, em alguns casos, como incríveis delírios visuais). Como se não
bastasse, Jeunet faz uma sutil referência ao maravilhoso Delicatessen, que co-dirigiu ao
lado de Marc Caro em 1991, ao mostrar a interferência de um 'encontro sexual' sobre os
objetos espalhados na lanchonete em que a protagonista trabalha.
Enquanto isso, Audrey Tautou cria uma Amélie absolutamente adorável, que está
sempre vendo o mundo com olhos arregalados de admiração... e preocupação. Amélie
não é apenas uma jovem sonhadora e sensível – ela também é uma moça solitária que, é
importante dizer, encontra em suas missões uma forma de preencher o vazio de sua
própria existência, o que a transforma em uma personagem ainda mais interessante
(aliás, durante os créditos iniciais podemos ver algumas de suas brincadeiras durante a
infância, o que aumenta ainda mais nossa proximidade com a moça). Assim, à medida
em que a história se desenvolve, Amélie se torna cada vez mais 'real' – e passamos a
compreender melhor sua filosofia de vida ('Quando o dedo aponta para o céu, o imbecil
olha para o dedo', alguém diz em certo momento do filme, seguindo instruções da
garota.)
Ao contrário daquilo que acontecia em Delicatessen, desta vez Jean-Pierre Jeunet não
constrói um universo surrealista para ambientar sua história: a Paris vista em O
Fabuloso Destino de Amélie Poulain é fantasiosa, mas não fantástica. E é desta forma
que o diretor consegue extrair o mágico do cotidiano e escrever poesia a partir do banal.