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Parem tudo, peguem os lenços e preparem-se para ver a história mais desgraçada

do cinema, pensa em uma pessoa fodida, agora pense que esta pessoa é a pessoa mais
feliz do mundo perto da protagonista de “Preciosa – Uma História de Esperança”, e
peço desculpas aos tradutores brasileiros, mas isso não é uma história de esperança, é
uma história de “se mata porque não tem jeito”. Brincadeiras à parte, Claireece
“Preciosa” Jones é o tipo de personagem que temos que assistir para parar de reclamar
de nossa vida, definitivamente, não tenho mais coragem de choramingar.

Vamos ao que interessa antes das considerações sentimentais e cheias de


opiniões pessoais. Ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz
Coadjuvante para Mo’Nique; Globo de Ouro de Atriz Coadjuvante para Mo’Nique;
Screen Actors Guild novamente para Mo’Nique. Com todos estes prêmios, não é de se
estranhar a presença de Mo’Nique... Mo’Nique é a coisa mais estranha do filme, sua
personagem é Mary, mãe de Preciosa, mas vamos com calma, voltemos para Preciosa.

Preciosa não existe, não é possível alguém ter tanto azar na vida. Abusada pela
mãe, foi estuprada pelo pai desde neném, engravidando duas vezes, na primeira nasceu
sua filha Mongo, uma garota com Síndrome de Down, e assim que engravida pela
segunda vez, sua escola decide que não pode mais lidar com esta situação e a expulsa.
Preciosa acaba indo para uma escola especial, onde poderá falar sobre sua vida de
merda sem ser julgada. Esqueci-me de dizer que ela é pobre, negra e gorda; fatores que
ajudaram o mundo a ataca-la com preconceito. Juro que só faltava ser Judia, lésbica e
viver na época do nazismo.

A desgraça não para aí, um grande choque está por vir, mas não quero estragar a
surpresa do filme. “Preciosa” é um filme bem contado, chocante e usa de uma
linguagem estranha para retratar todas as desgraças, é algo incrível, parece ironia e
sarcasmo jogado na tela, sempre que acontece alguma porcaria, Claireece simplesmente
é transportada para dentro de sua cabeça, onde é uma pessoas famosa, idolatrada,
respeitada e rica, neste momento, com o barulho de fora virando silêncio para virar
alardes de superstar, ficamos constrangidos e nos sentimos terríveis, mesmo que tudo
que mostrado seja bonito. Esta quebra da realidade é essencial para mostrar que aquilo
não é para o bico de Preciosa, e enquanto alguns brincam na fama, outros são
estuprados fisicamente e moralmente. Até o prazer de ser mãe é tirado de Preciosa, já
que sua filha fica com a vó, vindo para sua casa apenas quando a assistente social vem
analisar se precisa continuar ajudando a família, neste momento a mãe de Clareece tenta
destrambelhadamente aparentar um ser humano e fingir que é boa pessoa.

Mary é a pior personagem que já vi, e sua interprete é maravilhosa. A mãe de


Clareece é uma mulher egoísta, ignorante, rude, nojenta, não tem amor próprio e sente
pela filha um sentimento de ter sido traída, para ela não é um absurdo que o esposo
tenha transado com a própria filha, mas que ele tenha preferido a criança invés dela.
Juro que a cena que mais esperei foi quando a assistente social (interpretada por Mariah
Carey) bate de frente com Mary e a obriga a admitir tudo isso que acontece com
Preciosa, a melhor interpretação de todos os tempos, é de uma ingenuidade e
monstruosidade que nunca vi, Mary não mente, é sincera, tenta fugir do assunto, mas
nos deixa arrepiados e com lágrimas quando mostra que tipo de mulher é. Geralmente
ficamos tristes e em lágrimas pelas desgraças acontecendo, mas poucas vezes pelo
diálogo de um vilão; mesmo com tanta desgraça acontecendo com a garota, é esta
mulher a responsável por nos deixar abismados.

E não posso deixar de frisar que a solução para tudo isso sem solução foi um
verdadeiro soco no estômago da família e até mesmo aos assistentes sociais, parece que
Preciosa simplesmente percebe que não há dinheiro no mundo que ajudará recompor
sua dignidade, ela está farta, não precisa de bolsa-esmola para viver, o que ela precisa
ela nunca terá, foi tirado há tempos. É sem fôlego que chegamos ao fim do filme.

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