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Paulo Yassuhide Fujioka | Retomando questões da presença dos princípios arquitetônicos de Frank Lloyd Wright na obra de Vilanova Artigas

Retomando questões da presença dos


princípios arquitetônicos de Frank Lloyd
Wright na obra de Vilanova Artigas
Revisiting issues regarding the presence of Frank Lloyd Wright’s architectural
principles in the design and built work of Vilanova Artigas
Paulo Yassuhide Fujioka*

Resumo Abstract

Este artigo retoma o tema de Doutorado do autor, This article adresses the subject of the author’s
sobre a influência formal e conceitual dos princípios PhD thesis, regarding the architectural principles of
da arquitetura organicista de Frank Lloyd Wright na Frank Lloyd Wright’s organic architecture and their
Arquitetura Moderna Paulistana (2004), aqui espe- influence on the Modern Architecture in São Paulo,
cificamente na obra de Vilanova Artigas. Esta reto- focusing on the design and built work of Vilanova
mada é feita à luz de novas pesquisas do autor e Artigas. This re-evaluation resumes new research
por vários trabalhos publicados nos últimos anos. by the author and some recent scholarship pub-
*Graduou-se em Arquitetura Partindo de uma breve fortuna crítica da historio- lished regarding Artigas. From a brief fortuna critica
e Urbanismo na FAU-USP grafia sobre Artigas, e de como a inspiração wri- of the historiography on Vilanova Artigas, and of
(1985), cursando mestrado ghtiana é comentada ao longo do tempo, o autor how wrightian inspiration on him is discussed over
(1996) e doutorado (2004) retoma os princípios do organicismo e como ela se time, the author resumes the principles of organic
também na FAU-USP. Atual- manifestaria, de forma subjacente, na fase madura architecture and how they would have remained un-
mente é professor do Curso do arquiteto brasileiro. derlying the mature work of the Brazilian architect..
de Arquitetura e Urbanismo do
Instituto de Arquitetura e Urba- Palavras-chave: Vilanova Artigas, Frank Lloyd Keywords: Vilanova Artigas, Frank Lloyd Wright,
nismo da USP São Carlos. Wright, Presenças. inspiration.

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Para Ruth Verde Zein, interlocutora formidável.

O objetivo deste artigo é retomar o tema de A primeira oportunidade para entender a obra
Doutorado do autor, sobre a influência formal e de Artigas como um todo ocorreu após seu fa-
conceitual dos princípios da arquitetura organi- lecimento, através de uma exposição no então
cista de Frank Lloyd Wright na Arquitetura Mo- recém-inaugurado Centro Cultural São Paulo. A
derna Paulistana (2004), aqui especificamente edição especial sobre Artigas da revista Módulo
na obra de João Batista Vilanova Artigas (1915- serviu de catálogo de exposição. A revista Proje-
1985). Esta retomada é feita à luz de novas pes- to também publicou edição sobre Artigas com o
quisas do autor e por vários trabalhos publicados texto de Ruth Verde Zein, Vilanova Artigas: a obra
nos últimos anos. do arquiteto (ZEIN, 1984, pp. 79-91).

A primeira parte do artigo consiste numa for- Com a publicação de Arquitetura Moderna Bra-
tuna crítica da historiografia da obra de Artigas sileira, de Sylvia Ficher e Marlene Milan Acayaba
até o centenário de seu nascimento em 2015. A (1982) finalmente tínhamos um ponto de partida
segunda parte, “Uma leitura wrightiana do parti- para discutirmos a produção brasileira da época
do espaço-construtivo de Vilanova Artigas e da e, em particular, a paulista. Para nós, foi a primei-
Escola Paulista”, apresenta ideias desenvolvidas ra vez em que lemos comentários sobre textos
pelo autor após o término da Tese de Doutorado. de Artigas (FICHER e ACAYABA, 1982, pp. 115-
116) dos quais tivéramos contato em 1981 com
Durante seu período de vida, a obra arquitetônica a publicação da primeira versão de Caminhos da
de Artigas foi pouco publicada, particularmente Arquitetura, leitura obrigatória para quem quises-
no período mais repressivo do Regime Militar. se conhecer melhor as ideias daquele professor

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que tinha projetado o edifício da escola, que nun- res aulas de arquitetura. As casas, as escolas, os
ca nos deixava de nos surpreender todos os dias prédios projetados por Artigas estavam sempre
(e até hoje) – além das críticas a Le Corbusier e nessa lista.” (IWAMIZU, 2008, p.15)
Frank Lloyd Wright que mal tínhamos visto na
sala de aula. O ano de 1981 foi também marcado Na Bienal Internacional de Arquitetura de São Pau-
pela publicação tardia do estudo de Yves Bruand, lo em 1997, já temos a primeira grande exposição
Arquitetura Contemporânea no Brasil, que levan- sobre projetos e obras de Vilanova Artigas desde a
tou a polêmica sobre um “brutalismo paulista” mostra de 1984 no CCSP, com imensas maquetes
que incluiria Artigas, além da pretensa inspiração (curiosamente brancas), seguida da publicação,
wrightiana em uma fase preliminar de sua obra. pelo Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi, do pri-
meiro grande levantamento de projetos do mestre
Então, em 1983, o mapeamento comentado, e brasileiro1, logo apelidado de “livro azul” – embora
com endereços, da arquitetura moderna na cida- ainda não chegasse a ser um catálogo raisonnée
de de São Paulo em Arquitetura Moderna Pau- da obra de JBVA. Um pouco antes, Dalva Elias
listana, de Alberto Xavier, Carlos A.C. Lemos e Thomaz conclui sua Dissertação de Mestrado Um
Eduardo Corona possibilitou, pela primeira vez, Olhar sobre Vilanova Artigas e sua contribuição
estudar e visitar obras, incluindo as de Artigas, para a Arquitetura Brasileira (1997), o primeiro tra-
em São Paulo. Tornou-se assim um compêndio balho acadêmico sobre Artigas na FAU.
indispensável, para guiar-nos por uma produção
selecionada e qualificada de arquitetura. Em 1998, coordenado por Roberto Portugal Albu-
querque, há a publicação de Cadernos de riscos
Como complemento necessário, cinco anos de- originais: projeto do edifício da FAUUSP na Cida-
pois, temos a publicação de Residências em São de Universitária / João Batista Vilanova Artigas,
Paulo 1947-75, de Marlene Milan Acayaba. Lan- documentação esclarecedora do que, até pouco
çamento que surpreendeu à época pela diversi- antes, só sabíamos através de conversas com
dade de seleção de projetos, e pela inclusão ou professores e colegas mais velhos. No mesmo
ausência polêmica de algumas obras. Mais tarde ano, outra pesquisa pioneira de Mestrado sobre
perceberíamos em Residências um verdadeiro Artigas é concluída: Artigas: da ideia ao desenho,
tratado de arquitetura, um pouco na tradição dos de Maria Luiza Correa.
1. FERRAZ, Marcelo (coord. tratados clássicos como o de Palladio, sobre as
edit.). Vilanova Artigas. São casas da Escola Paulista. Como escreveu Shun- Na passagem do século temos a publicação de
Paulo: Instituto Lina Bo e
di, “nesse período de estudos, com amigos da dois compêndios que, pela primeira vez desde
Pietro Maria Bardi – Funda-
ção Vilanova Artigas, 1997. escola, as visitas às obras constituíam as melho- Bruand, objetivam uma panorâmica do Moderno

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no Brasil, além de um oportuno balanço dessa ram esse episódio); e a viagem de Artigas aos
produção: Arquitetura Moderna Brasileira, de EUA em 1946-47, esta tantas vezes referenciada
Elisabetta Andreoli e Adrian Forty (1999) e Ar- por vários autores, mas que ainda não tinha sido
quitetura no Brasil 1900-1990, de Hugo Segawa enfocada detalhadamente por ninguém.
(1999). Já o novo século traz a oportuna publica-
ção do primeiro estudo analítico das idéias, pro- A partir de 2003, cada vez mais pesquisadores
jetos e obras de Artigas, por João Massao Ka- se debruçam sobre a produção mais recente da
mita (2000), e um catálogo de projetos e textos arquitetura moderna no Brasil. O tempo passado
que acompanhou a exposição sobre o arquiteto desde o falecimento de Artigas, pesquisas a pu-
na Casa da Cerca em Almada, Portugal, coor- blicação dos inventários de projeto de Oswaldo
denado por Ana I. Ribeiro (2000). Segawa apre- Bratke, Roberto Burle-Marx, Mendes da Rocha,
senta e discute a obra e as ideias de Artigas no das casas de Eduardo de Almeida, etc., a premia-
capítulo “A afirmação de uma hegemonia”, e nos ção do Pritzker Prize a Paulo Mendes da Rocha
subcapítulos ”Vilanova Artigas e a Linha Paulis- em 2006, estimularam a produção de análises
ta”, “Maturação do Projeto Paulista”, “Arquitetura projetuais sob novas perspectivas e balanços
como Modelo”. Segawa retoma e debate a ideia das trajetórias de arquitetos e grupos à luz do
de que, em Artigas, “a responsabilidade social tempo decorrido.
do arquiteto se sustentava no conceito de proje-
to como instrumento de emancipação política e Consequentemente, tudo isto levou também ao
ideológica”, a busca da moral construtiva como estudo do que seria uma “Escola Paulista”, cuja
disciplina intelectual. própria definição ainda é motivo de intensa polê-
mica (só incluiria a produção do “brutalismo pau-
Em 2002, temos a publicação da pesquisa de lista” ou outros arquitetos de fases anteriores?),
Mestrado pioneira sobre Frank Lloyd Wright e inclusive durante a própria banca de defesa de
Vilanova Artigas, Wright e Artigas: Duas Viagens, Mestrado do autor. Talvez as denominações de
de Adriana Irigoyen de Touceda, um achievement Hugo Segawa “linha paulista” e “projeto paulista”
de fôlego sobre a presença wrigthiana no Brasil fossem mais precisas (abaixo). A elogiada e bem-
e na obra de Artigas – através de um tratamento -sucedida produção de arquitetos contemporâ-
temático original e elegante: a viagem de Frank neos, retomando temas da “Escola Paulista”,
Lloyd Wright ao Rio de Janeiro em 1931, única também contribui para o debate acirrado. Este
vez em que visitou o Brasil, pouco conhecida en- autor adotará o termo “Escola Paulista” neste
tre nós e mesmo na historiografia wrightiana (nos artigo, reconhecendo ser criticável sob vários
EUA só Neil Levine e Anthony Alofsin comenta- pontos de vista, mas pela sua difusão no meio

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acadêmico-profissional; por mais desconfortável Katinsky é um dos poucos ex-colaboradores de


que seja para os leitores. O autor retornará a este Artigas a escrever um texto sobre ele.
tema em outro artigo.
O trabalho de Juliana Suzuki mostra a literal foun-
As notáveis dissertações de Mestrado de Maria tainhead que constitui a obra de Artigas, sempre
A.L. Sanvitto (2002), Alexandre Seixas (2003), Ju- surpreendendo pela variedade e originalidade
liana Suzuki (2003), Marcos Gabriel (2003), Ale- em qualquer fase de sua trajetória. É de se la-
xandre Tenório (2003) se incluem nesta retomada mentar que o complexo do Estádio Municipal de
mais abrangente, vigorosa e enfocada da obra Londrina (1953) jamais tenha sido construído e
e do discurso de Artigas. A pesquisa de Seixas que ainda tenhamos tão pouca informação so-
destaca-se pelo resgate do depoimento de Arti- bre o projeto (SUZUKI, 2003, pp. 136-137), como
gas a José Alberto de Almeida (1981): “Com Wri- o desenho extraordinário das arquibancadas do
ght eu entrei no mundo moderno” (Artigas in SEI- campo de beisebol com um cluster de abóbadas
XAS, 2003, p. 69) e pelas notáveis análises das duplas encadeadas com apoios angulares. Como
escolas públicas projetadas por JBVA. Apesar de notou a autora, uma solução que parece conjugar
problemas de interpretação da arquitetura wri- as coberturas da Estação Rodoviária de Londrina
ghtiana, trata-se do melhor estudo da arquitetura (1948) com a cobertura borboleta da Residência
escolar de Artigas. Ribeiro de Menezes (1952) e que, para este autor,
ter algo das estruturas dendriformes de Wright,
A publicação de uma versão revisada e amplia- como a coluna-cogumelo da sede da SC John-
da de Vilanova Artigas – Caminhos da arquite- son (Racine, 1936).
tura ocorreu também em 2004, organizado por
José Lira e Rosa Artigas2, e incluindo outros A pesquisa de Doutorado deste autor (2004), Prin-
textos, entrevistas (algumas delas muito difíceis cípios da Arquitetura Organicista de Frank Lloyd
de se encontrar anteriormente); além da precio- Wright e suas influências na Arquitetura Moderna
sa transcrição integral da prova do “concurso” Paulistana, objetivou primeiro compreender a ar-
2. ARTIGAS, Rosa e LIRA, para professor titular da FAUUSP e de cada ar- quitetura orgânica de Frank Lloyd Wright a partir
José Tavares Correa de. Vi- guição (“A Função Social do Arquiteto”, Artigas do discurso sobre o organicismo nos textos do
lanova Artigas – Caminhos
in LIRA e ARTIGAS, 2004, pp. 183-230). Em 2003 próprio Wright, de como críticos e tratadistas de
da arquitetura. São Paulo:
CosacNaify, 2004. ainda temos uma segunda grande exposição so- História e Teoria da Arquitetura e do Urbanismo
3. KATINSKY, Júlio Roberto bre Artigas, desta vez no Instituto Tomie Ohtake, avaliaram este organicismo ao longo do tempo
e OHTAKE, Ricardo (orgs.).
com catálogo de exposição organizado por Jú- e, por fim, como a historiografia wrightiana mais
Vilanova Artigas. São Paulo:
Instituto Tomie Ohtake, 2003. lio Roberto Katinsky e Ricardo Ohtake3. O Prof. recente retomou a obra e as ideias de FLLW com

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a abertura irrestrita do acervo da Frank Lloyd Wri- quitetura paulista da década de 1960: técnica e for-
ght Foundation Archives a partir de 1985. ma, de Luis Espallargas Gimenez, propôs corajo-
samente uma contestação radical, embasada em
Estabelecidos os princípios básicos do organicis- ampla e sedimentada erudição, das ideias e obras
mo wrightiano, objetivou-se estudar a influência de, entre outros, Le Corbusier e Vilanova Artigas.
ou presença de Frank Lloyd Wright na Arquitetu- Não se pode afirmar tratar-se de uma visão refres-
ra Moderna Brasileira, pela identificação destes cante, mas a ousadia de sua abordagem é neces-
princípios na obra de arquitetos, particularmente sária para evitar-se cair numa unanimidade rodri-
em São Paulo, com ênfase em Gregori Warcha- gueana. Espallargas ainda retomaria temas de seu
vchik, José Cláudio Gomes, Eduardo de Almeida, Doutorado no artigo O recuo brutalista, de 2014.
Vilanova Artigas e o caso de estudo contemporâ-
neo de Marcos Acayaba. Não interessou a este Raquel Weber, na Dissertação de Mestrado A lin-
autor apenas uma apropriação morfológica da guagem da estrutura na obra de Vilanova Artigas
expressão wrightiana (fachadas, beirais, abertu- (2005), analisa a utilização por Artigas (e de ou-
ras, balanços, por exemplo), mas como os prin- tros, como Eero Saarinen) do pilar triangular in-
cípios organicistas influenciaram a concepção vertido, de base de secção menor do que o topo.
espacial e tectônica do arquiteto na criação ar- Trabalho inovador, com levantamento exaustivo
quitetônica qualificada. de identificação de padrões formais e processos
geradores de formas estruturais, principalmente
Então, se a discussão da pesquisa estava no as colunas de geometria complexa, com análises
campo da análise da concepção projetual, como comparativas de resultados pioneiros de rela-
fazer no caso de Artigas (FUJIOKA, 2004, pp. ções formais e variação da gramática de formas
213-243), onde o ato de projetar nunca pode (as tabelas comparativas são surpreendentes). É
ser dissociado do forte discurso político, sem interessante a ênfase nas conceituações de gra-
enredar-se na armadilha, da camisa de força da mática arquitetônica e de gramática de formas e
análise do discurso ideológico, do qual este autor sua aplicação sistemática e regrada.
se sentiria tão pouco afeito e desconfortável? A
solução foi ater-se à dimensão da narrativa his- A produção acadêmica em 2005 ainda se abor-
tórico-biográfica, cuja vereda já tinha sido aberta daria a arquitetura de Artigas em vários artigos
pelo trabalho pioneiro, original e exaustivo de Iri- e o discurso vilanoviano, em particular, na tese
goyen. Voltarei a este tema abaixo. de doutorado Arquitetura construtiva – propo-
sições para a produção material da arquitetura
Ainda em 2004, outra pesquisa de Doutorado, Ar- contemporânea no Brasil, de Ana Paula Koury.

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Clévio D.N. Rabelo em Entre o Chão e o Céu – As sertação de Mestrado de Cesar Shundi Iwamizu
rampas em Artigas, aborda um tema tão celebra- (ver abaixo); e A Casa Bettega de Vilanova Artigas:
do quanto pouco abordado na carreira de JBVA: desenho e conceitos, dissertação de mestrado de
as rampas das casas, edifícios e passarelas. De Giceli Portela C. de Oliveira.
fato, tão citadas tais rampas e tão pouco inves-
tigadas. Dalva Thomaz conclui sua Tese de Dou- A dissertação de Shundi faz parte de uma nova
torado Artigas: Liberdade na Inversão do Olhar, historiografia sobre JBVA pois, como ele mesmo
Modernidade e Arquitetura Brasileira. Seina Mar- afirma nas conclusões, “procura desmistificar a
quardt comenta a obra de Artigas na Dissertação produção de Artigas, ressaltando que a realização
de Mestrado A Estrutura Independente e a Arqui- dessas obras de grande densidade poética, antes
tetura Moderna Brasileira, onde destaca a racio- de tudo, é fruto apenas do trabalho e de uma pro-
nalização da construção como atitude de projeto, posta ética em relação à profissão, coerente com
não se limitando a propor uma nova linguagem, sua visão humanista” (IWAMIZU, 2008, p. 403).
mas uma nova organização social do espaço. Ou seja, sem deixar de considerar a dimensão
política, se interessa mais – como a maioria dos
Mas é Marcio Cotrim Cunha que publica na Vitru- formandos pós-1985 – pelo Artigas arquiteto do
vius e em um seminário Docomomo algumas das que pelo militante. O mesmo vale para a original
análises projetuais mais instigantes do espaço vi- análise gráfico-projetual de Giceli Portela.
lanoviano: Diálogos imaginários: Marcel Breuer e
Vilanova Artigas; A casinha de Artigas: reflexos e Maurício Miguel Petrosino conclui em 2009 a
transitoriedade (2005), Uma nova proposta tipoló- dissertação de mestrado João Batista Vilanova
gica na obra de Vilanova Artigas nos anos 1970 Artigas – Residências unifamiliares e produção
(2011) e, com Abílio Guerra, Entre o pátio e o átrio. arquitetônica de 1937 a 1981. Pesquisa que se
Três percursos na obra de Vilanova Artigas (2012). tornou referência sobre tema pouco investigado
(embora tantas vezes citado): a produção de Ar-
Em 2007 temos a conclusão da interessante pes- tigas como arquiteto, neste caso, de casas uni-
quisa de Doutorado de Eduardo Pierrotti Rosset- familiares. Petrosino produziu um levantamento
ti Arquitetura e Transe: Lucio Costa, Oscar Nie- rigoroso das residências unifamiliares projeta-
meyer, Vilanova Artigas e Lina Bo Bardi: nexos da das por Artigas, ano a ano, com plantas e cor-
arquitetura brasileira pós-Brasília (1960-85). E em tes produzidos especificamente para a pesquisa
2008 temos dois trabalhos acadêmicos pioneiros e numerosas reproduções de fotos e desenhos
no tema e na abordagem: A Estação Rodoviária técnicos de arquivo. Cada projeto levantado vem
de Jaú e a dimensão urbana da arquitetura, Dis- acompanhado de uma análise projetual meticu-

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losa. Sem dúvida, um dos trabalhos acadêmicos No vasto universo das centenas de prairie hou-
mais interessantes já produzidos sobre Artigas. ses, dos quais entre os melhores exemplos estão
a Ward Willits House (1900-02), Thomas Hardy
Em relação à questão da presença wrightiana, House (1905), Darwin D. Martin House / Barton
Petrosino, como outros pesquisadores, se apoia House (1902-04), Robie House (1905) e Avery
na análise equivocada, contraditória, de Bruand Coonley House (1906-07), este autor considera
sobre o organicismo (v. PETROSINO, 2009, pp. que o parentesco wrightiano maior com a Casa
68-69), e identifica atributos wrightianos nos ca- Bertha Gift Steiner está justamente nos casos em
sos de estudo dentro de parâmetros morfológi- que temos esta configuração compacta, “prati-
cos, como a maioria da historiografia sobre Ar- camente quadrada” e com cobertura de telhado
tigas o faz, e dos quais discordo. Com respeito, singular em quatro águas: a Arthur Heurtley Hou-
4. De fato, mesmo atendo-se ção ao centro geométrico da
acredito que tenha faltado ao pesquisador uma se (1902) e a Edwin Cheney House (1904), ambos
apenas às características casa. Tal como nas usonian
morfológicas enumeradas houses, as áreas molhadas bibliografia mais atualizada sobre Wright para em Oak Park (v. FUJIOKA, 2004, p. 15).
por Petrosino, a Casa Rio estão agrupadas num mes- poder efetuar uma análise mais pertinente.
Branco Paranhos (Fujioka, mo setor. Irigoyen observa
A pesquisa cuidadosa de Petrosino esclarece a
p. 221), por exemplo, o jogo acertadamente outras carac-
dinâmico de volumes, ba- terísticas wrightianas, como Por exemplo, a Casa Bertha Gift Steiner (1940) confusão entre a denominação e os endereços
lanços, aberturas, beirais e o sistema de eixos composi- absolutamente nada tem de usoniana (como respectivos das casas Rivadávia de Mendonça
materiais aparentes reme- tivos que não coincide com
te à fase prairie, como NA o eixo de circulação (acesso
afirma Petrosino), escapando totalmente à (1944) e Luiz Antônio Leite Ribeiro (1943) na lis-
Thomas H. Gale House (Oak lateral, não frontal, típica das classificação consagrada de John Sergeant tagem da Fundação Vilanova Artigas e no “livro
Park, 1909) e Emil Bach Hou- casas de Wright) e o núcleo quanto ao partido original da usonian house azul” de 1997, além da mudança ocorrida com os
se (Chicago, 1915). Mas te- de circulação ao redor do
mos também os beirais per- qual os ambientes se inte-
e suas variantes (polliwog usonian, diagonal nomes das ruas (Petrosino, pp. 39-41), confusão
furados (como na “Casinha”) gram. Também Irigoyen nota usonian, in-line usonian, hexagonal usonian, que este autor também caiu ao procurar estas
que remetem às usonian que este efeito centrífugo do raised usonian, v. FUJIOKA, 2004, pp. 106- casas a pé no Pacaembu para fotografar. Agra-
houses como a Ben Rebhuhn núcleo de circulação é acen-
House (Long Island, 1937) tuado pelo forte desnível e
108). Idem para Irigoyen. De fato, só pela con- deço a Petrosino por finalmente ter desfeito este
e a Georges Sturges House que a circulação costura os figuração compacta, “praticamente quadrada” mistério. Entre as casas mais “usonianas” de Ar-
(Brentwood Heights, Cali- espaços “à maneira de uma (PETROSINO, 2009, p. 172) podemos ver que tigas estariam a Casa Roberto Lacaze (1941) e a
fórnia, 1939). O sentido de espiral, deixando de lado
horizontalidade é acentuado às áreas de serviço.” (IRI-
está longe de ser usoniana (as usonian houses Casa Luiz Antônio Leite Ribeiro (1943), esta com
pelos beirais, pela fenestra- GOYEN, 2002, pp. 141-143) caracterizam-se pelo partido em dobraduras a implantação e balcão que parece aludir à Stur-
ção corrida, pelos beirais e 5. GIANNECCHINI, Ana posicionadas sobre grelhas e cobertura plana, ges House (1939) – aqui com seu nome correto
pelo tijolo aparente. Na plan- Paula. Técnica e Estética
ta está presente o partido no Concreto Armado – Um
em grande parte), e mais vinculada à fase das desta vez. (FUJIOKA, 2004, pp. 219-222)4
em pinwheel plan das prairie estudo sobre os edifícios do Prairie houses de configuração pinwheel plan
houses, mas o estar não está MASP e da FAUUSP. Dis- (planta catavento). O mesmo vale para as ca- No mesmo ano, temos a dissertação de mestra-
ancorado pela lareira, que se sertação de Mestrado. São
encontra deslocada em rela- Paulo: FAUUSP 2009.
sas Hermann Hugo Sheyer e Max Dreifuss. do de Ana Clara Giannecchini5, outra pesquisa

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de porte, que reforça as conclusões de Shundi sobre Vilanova Artigas, Carlos Milan, Neo-Bruta-
sobre o papel da estrutura na idéia de arquitetu- lismo e Brutalismo Paulista. Tal como o compên-
ra de Vilanova Artigas. A referência wrightiana é dio de Segawa, resgatou para os leitores mais
trabalhada por Giannecchini para além de uma jovens uma produção de resistência dos anos
leitura morfológica, partindo da polêmica sobre 1960-70, que já está injustamente caindo no es-
quando e como Artigas teria tido contato com quecimento. Comentaremos abaixo.
a arquitetura e as idéias de Wright, tendo como
interlocutores as pesquisas de Thomaz, Ficher, No mesmo ano, foi publicado o primeiro estudo
Irigoyen. A trajetória política se reflete na evolu- fora do Brasil sobre a obra de Artigas, a 2G Vila-
ção da arquitetura de Artigas e, portanto, de suas nova Artigas, da série 2G International architec-
soluções de estrutura, da expressão plástica da ture review books / Gustavo Gili, com textos de
estrutura e de seu significado6. Kenneth Frampton e Gulherme Wisnik (também
editor). O artigo de Frampton foi o primeiro sobre
Ainda em 2009, a Dissertação de Mestrado de Ga- JBVA por parte de um dos grandes intérpretes do
briel Rodrigues da Cunha, Uma análise da produ- Movimento Moderno. Esta edição será comenta-
ção de Vilanova Artigas entre os anos de 1967 a da em outro artigo.
6. Na pesquisa de Giannec- esse funcionamento na pró-
1976 traz uma exaustiva investigação e análise da
chini, temos pela primeira pria forma do pilar e, mais
vez por escrito o que os pro- ainda, decide chamar aten- produção de projeto de experimentação e resis- A notável pesquisa de Doutorado de Ana Taglia-
fessores de Projeto e Tec- ção para o ponto onde o tência do arquiteto, diante do período mais repres- ri, Os projetos não-construídos de Vilanova Arti-
nologias nos ensinavam em momento tende para o zero
sivo do Regime Militar, dentro do quadro do de- gas em São Paulo (2012), abordou um tema raro
aula: que a forma dos pilares no pilar, colocando uma ar-
perimetrais, as “cariátides” ticulação.” (Giannecchini, p. bate crítico sobre o discurso desenvolvimentista na historiografia da arquitetura brasileira: a obra
de triângulo invertido que pe- 227) Também temos duas da arquitetura moderna brasileira. Estabelece-se não-construída – de Artigas neste caso – levan-
netram nos ápices das bases narrativas inéditas: primeiro,
uma dinâmica rigorosa e pari passu entre análise tada exaustivamente e com utilização precisa de
piramidais, pode ser explica- a epopeia da construção do
da observando “o comporta- edifício (dos quais também das obras e textos, depoimentos e entrevistas de maquetes digitais, contribuição importante para
mento estrutural de um pór- tínhamos apenas fragmentos Artigas, em ordem cronológica e temática. o debate sobre JBVA em seu centenário.
tico simples e desenhando o episódicos e anedotas con-
diagrama de momento fletor tados também professores,
vê-se que o caminho das for- aqui plenamente alicerçados Em 2010, a publicação de Brasil: Arquiteturas Adentrando a segunda década do século XXI, a
ças no pilar de um pórtico de em documentos e raras foto- após 1950, de Maria Alice Junqueira Bastos e publicação de O futuro da arquitetura desde 1889
articulações rígidas se mani- grafias de obra) e, segundo,
Ruth Verde Zein, contribui para uma nova revi- – uma história mundial, de Jean-Louis Cohen
festa em forma semelhante o drama interminável, impre-
àquela dada aos pilares ex- visível e pleno de surpresas são da trajetória da produção pós-Brasília após (2012) representa uma primeira tentativa multi-
ternos da FAUUSP. Isto mos- do restauro do edifício: o edi- os balanços de Hugo Segawa e Andreoli / Forty facetada de um grande balanço da trajetória da
tra como Artigas, dominando fício da FAUUSP como caso
(1999). Provocativo e ousado na abordagem e na arquitetura moderna até 2010, como parte de um
questões de comportamento de estudo de preservação do
estrutural, decide explicitar patrimônio histórico. argumentação, contribuiu para acirrar o debate processo histórico. Cohen destaca a importância

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das vertentes fora do circuito Europa Ociden- projetos e obras, com interpretações que se apro-
tal/EUA, como o Brasil, México e Japão, e é o ximam das de Thomaz e Irigoyen, e à luz da tra-
primeiro dos grandes narradores panorâmicos jetória política de Artigas e do embate ideológico
internacionais (Gideion, Zevi, Scully, Benevolo, que marcou, com grande violência e radicalismo,
Curtis, Frampton) a comentar Artigas. grande parte do século XX. A ênfase está em dis-
secar o discurso político em relação à arquitetura.
Em 2013, um original ensaio de Fernando Vazquez
Ramos, Ética Brutalista na Arquitetura Introspec- Em relação aos vínculos Wright/Artigas, Buzzar
tiva de Vilanova Artigas apresenta uma aborda- também cita as casas da fase prairie e usonian,
gem ousada que será comentada abaixo. E em comenta a Fallingwater e a proposta da Broadacre
2014, as vésperas do centenário de nascimento City, de forma balanceada. A principal referência
de JBVA, temos mais publicações novas sobre bibliográfica utilizada sobre FLLW é Frank Lloyd
Artigas: João Batista Vilanova Artigas – Elementos Wright – sus ideas y sus realizaciones, organizado
para a compreensão de um caminho da arquitetu- por Edgar Kaufmann, Jr. e Bem Raeburn (Tradu-
ra brasileira 1938-1967, de Miguel Antonio Buzzar ção Prof. Ricardo J. Velzi - Buenos Aires: Editorial
e Vilanova Artigas – habitação e cidade na mo- Victor Lerú S.R.L., 1962). Trata-se de uma edição
dernização brasileira, de Leandro Silva Medrano e argentina de Frank Lloyd Wright – Writings and
Luiz Antonio Recamán Barros; além da publicação Buildings (1960), versão lida por este autor.
(longamente aguardada) da Tese de Doutorado de
Jeferson Cristiano Tavares, Projetos para Brasília Frank Lloyd Wright – Writings and Buildings cons-
1927-1957, este último uma pesquisa exaustiva e titui mais uma antologia de textos de Wright, se-
implacável que apresenta uma análise detalhada lecionados de livros e ensaios em revistas, publi-
da pouco discutida proposta de Vilanova Artigas, cado após sua morte por Edgar Kaufmann, Jr. e
Carlos Cascaldi, Paulo Camargo e Almeida e equi- por Ben Raeburn, amigo do casal Wright e editor
pe para o concurso de anteprojetos para a nova da Horizon Press. Esta coletânea é mais extensa
capital federal, tema abordado também por Bas- do que as editadas anteriormente por Kaufmann
tos & Zein e Medrano & Recamán. A obra de Ar- e Frederick Gutheim. Também incorpora trechos
tigas ainda é comentada por Ruth Verde Zein em dos últimos livros de Wright, como A Testament,
seu Brutalist Connections – a refreshed approach The Natural House e The Living City (ver acima).
to debates & buildings, do mesmo ano. Os textos estão organizados em segmentos
que seguem um linha cronológica e biográfica:
Buzzar analisa a presença wrightiana em Artigas “Raízes”, “Arquitetura da Pradaria 1893-1910”,
tomando como base mais os textos do que os “Taliesin 1911-16”, “Japão 1916-22”, “Projetos

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Grandes e Casas Pequenas 1920-29”, “Fello- por Wright se volta. Neste texto estão as bases
wship 1930-45” e “Arquitetura Mundial 1946-59“. do organicismo wrigthiano: John Ruskin, William
Temos trechos da palestra The Art and Crafts of Morris e os pensadores e poetas do trascenden-
the Machine, a célebre palestra feita na Hull Hou- talismo americano: Ralph Waldo Emerson (1803-
se de Chicago em 06/03/1901; ensaios publica- 1882), Henry David Thoreau (1817-1862) e Walt
7. Respeitando-se o vasto Ruskin, Thoreau, Emerson dos nas revistas The Architectural Record e Archi- Whitman (1819-1892)7.
esforço de pesquisa e inter- permeiam o discurso unita- tectural Forum, artigos para o jornal The New York
pretação de M.F. Gabriel, na riano familiar a Wright desde
sua Dissertação de Mestrado a sua infância. Ao se tornar
Times, trechos do catálogo Ausgeführte Bau- Note-se que Buzzar aponta o fato de que Artigas
Vilanova Artigas – uma po- o principal colaborador de ten und Entwurfe (1910-11) e trechos dos livros critica Wright, entre outros, à luz do conhecimen-
ética traduzida (São Carlos- Louis Sullivan, FLLW volta a An Autobiography (1932), Modern Architecture to relativamente limitado que se tinha, apesar da
-SP: EESC-USP, 2003), em discutir estes autores com
relação a Frank Lloyd Wright o Liebe Meister, junto com
(1931), Architecture and Modern Life (1937), Orga- viagem aos EUA, baseado em leituras superadas
(GABRIEL, 2003, pp. 69-82), Whitman, a quem Sullivan nic Architecture (1939), The Natural House (1954), do arquiteto americano e em visões de terceiros
as considerações do autor admirava. O melhor estudo A Testament (1957) e The Living City (1958). que poderiam estar equivocadas da mesma forma
são prejudicadas por uma sobre estas questões ainda
leitura pouco contextualiza- é Louis Sullivan – An Archi-
(BUZZAR, 2014, pp. 249-252, 306-309, 344-345,
da dos textos escritos por tect in American Thought, de Buzzar não fez uso da vasta bibliografia que sur- 389-390, 408-409). Wright, por exemplo, se con-
FLLW e, acima de tudo, por Sherman Paul (Nova Jersey: giu após a abertura geral e incondicional dos sideraria insultado – pelo que é possível imaginar
desconhecimento tanto da Spectrum Books / Prentice
historiografia clássica como Hall, 1962). Por fim, Giles arquivos de FLLW após 1985, denominada por pelos seus 25 livros e 242 artigos, depoimentos e
a da pós-1985, já referida, Deleuze dissecou Walt Whit- alguns como a “nova historiografia crítica wri- entrevistas – ao ser chamado de “dionisíaco”, “re-
sobre Wright. Mais importan- man em artigo publicado no ghtiana” liberta de uma excessiva reverência ao trógrado” e defensor de um retorno à Idade Média,
te: não há menção por parte Caderno Mais! da Folha de
de Gabriel de textos de John São Paulo, 02/06/1996, “De- mestre, representada por nomes como Robert entre outros motivos, pela proposta anti-urbana
Ruskin, Henry David Thoreau leuze escreve sobre Whit- Twombly, Donald L. Johnson, Neil Levine, Ken- de Broadacre City (FUJIOKA, 2004, pp. 128-132)8.
(Walden, Civil Desobedien- man”. O que Deleuze escre- neth Frampton, Robert McCarter, Jonathan Lip-
ce, A week on the Concord veu sobre Whitman cai como
and Merrimack Rivers), Ralph uma luva para Frank Lloyd man, Joseph Siry, John Sergeant, Kathryn Smith, Isto ocorreu, em parte, pela falta de conhecimen-
Waldo Emerson (Arte) e Walt Wright, mostrando a força Donald Langmead, Patrick Pinnell, Robert Mac- to das origens, bases e as circunstâncias da pro-
Whitman (Folhas da Relva). que a poética whitmaniana Cormac, Donald Langmead, Norris Kelly Smith, posta de Broadacre City. De fato, até hoje, estes
Sem discutir estes autores, tinha sobre a obra e a vida
é impossível entender o dis- de FLLW. (http://www1.folha. Werner Seligmann, etc. aspectos foram pouco discutidos em qualquer
curso de Frank Lloyd Wright. uol.com.br/fsp/1996/6/02/ texto da historiografia brasileira, como se a pro-
Igualmente grave é a ausên- mais!/14.html) Com a abertura dos arquivos, a nova historio- posta tivesse nascido apenas do desejo de FLLW
cia do texto de Wright que 8. Gabriel, Seixas e outros
é considerado o mais fun- caem na mesma confusão ao grafia wrightiana descobriu a importância do pri- em expor suas ideias ao público. Quem tiver lido
damental pela historiografia aceitar literalmente o equívo- meiro texto publicado por FLLW, justamente The apenas Richard A. Etlin9 pode suspeitar que Wri-
wrightiana: The Art and Craft co de Artigas do “apolíneo” Art and Craft of the Machine, pedra fundamental ght estivesse apenas querendo fazer um contra-
of the Machine, matriz de to- versus “dionisíaco” em rela-
dos os 25 livros e 242 artigos ção a Wright. para o entendimento do pensamento wrightiano ponto com o conceito da “cidade de três milhões
escritos por Wright. a que toda a produção de livros e artigos escritos de habitantes” proposto um pouco antes por Le

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9. Ver Frank Lloyd Wright and he Disappearing City fez par- Corbusier – e, de fato, Neil Levine analisa a utopia cre pois, à luz dos avanços técnicos da época,
Le Corbusier – The Romantic te da série de livros sobre
de Broadacre City comparando-a com a utopia não pareceria ser inviável. Como parte dos pro-
Legacy, de Richard A. Etlin Wright que voltou a chamar a
(Manchester e Nova York: atenção do público para suas corbusiana. Entretanto, a nova historiografia wri- gramas sociais do New Deal, o governo federal
Manchester University Press, idéias, após o período de ghtiana vai além9. estava levando eletricidade para o campo e to-
1994). Ver também a referên- escândalos dos anos 20. Foi
das as cidades do interior através do REP Rural
cia consagrada pela histo- publicado para acompanhar
riografia, Urban Utopias in a exposição itinerante Broa- Como resumiu Levine10, “concebida no fim dos Electrification Program, ferrovias novas e as pri-
the Twentieth Century: Ebe- dacre City, produzida pela Ta- anos 1920, seguindo as propostas revolucio- meiras grandes autoestradas estavam cruzando
nezer Howard, Frank Lloyd liesin Fellowship em 1934-35.
nárias de Le Corbusier para uma ‘cidade con- o interior; novos aviões de pequeno porte e de
Wright and Le Corbusier, de A história desta mostra está
Robert Fishman (Nova York: bem documentada em An temporânea’ planejada ao redor da imagem da baixo custo, e os primeiros helicópteros prome-
Basic Books, 1977); e tam- Autobiography e nos livros moderna tecnologia, Broadacre City ofereceu tiam facilitar o transporte rápido entre cidades e
bém o compêndio e catálo- de Tafel e Twombly.
uma alternativa agrária. Em oposição direta a Le fazendas; além disso, as grandes obras públicas
go de exposição Frank Lloyd Como a maioria dos livros
Wright and the Living City de Wright, está montado Corbusier, Wright chamou seu princípio regula- do New Deal, como o Hoover Dam e as hidrelé-
(Weil-am-Rhein, RFA e Milão, como uma série de pales- dor ‘Ruralismo como distinto de Urbanisme’. Seu tricas do Tennessee Valley Authority, anunciavam
Itália: Vitra Design Museum e tras (ou sermões, pregações)
esquema descentralizado e baseado na terra ga- uma era de desenvolvimento maciço do interior.
Skira Editore, 1998), com um destinadas a converter o
texto de Jean-Louis Cohen, leitor à causa da arquitetu- rantiria um mínimo de um acre a cada cidadão O desenvolvimentismo do New Deal não estava
Wright’s Ideas of Twentieth- ra orgânica e da Broadacre para viver e cultivar num esforço de reintegrar somente associado às grandes cidades, aos ser-
-Century Urbanism and their City. Começa discutindo as
a vida nos EUA aos moldes de Taliesin”. Levi- viços e à indústria, mas ao campo também.
European Echoes, além de origens da civilização e da
outros artigos de David G. cidade, a formação da idéia ne ainda observa que, apesar de anti-urbano, a
DeLong, J. Michael Des- de democracia americana e proposta era moderna em sua “aceitação do au- Assim sendo, não se tratava apenas de um re-
mond, David A. Hanks, Ri- seu conceito de democracia
tomóvel como gerador de um desenvolvimento torno a uma arcádia medieval idealizada. FLLW,
chard Joncas, Bruce Brooks como o “evangelho da indivi-
Pfeiffer, Jack Quinan. dualidade”. Discute o que ele sub-urbano sem limites que seria ‘nowhere un- como grande parte de seus contemporâneos,
10. LEVINE, Neil. The ar- entende por uma crise social less everywhere’ e utópico na sua eliminação da era um entusiasta das grandes transformações
chitecture of Frank Lloyd e econômica dos EUA desde
especulação imobiliária e do aluguel em favor de de seu tempo. Ao nascer (1867), os EUA ainda
Wright. Princeton, NJ: Prin- os anos 30 e um desvio dos
ceton University Press, 1996. ideais originais da democra- um sistema cooperativo baseado em crédito so- era um país rural, com a maior parte da popula-
11. When Democracy Builds cia jeffersoniana. cial”. (LEVINE, 1996, p. 221) ção composta por imigrantes espalhados de for-
(Chicago: The University of Por fim, defende o partido
ma rarefeita, de costa a costa, ao longo de uma
Chicago Press, 1945) é uma da arquitetura orgânica e o
edição ampliada de The Di- conceito básico da Broa- A proposta de Broadacre City foi consolidada pradaria interminável; e cindido pelos rancores e
sappearing City (Nova York: dacre City: decentralização após a crise de 1929 e divulgada a partir de ex- traumas da Guerra Civil. Ao iniciar sua carreira
William Farquhar Payson, e uma nova idéia de escala
1932), em que Wright apre- (um retorno à idéia jefferso-
posição itinerante 1930-31 e também divulgada profissional, ainda não havia eletricidade, telefo-
sentou o conceito da Broada- niana de democracia rural, por Wright em seu The Disappearing City (1932), ne, automóvel. Wright visitava clientes e cantei-
cre City. O exemplar da Biblio- fuga das cidades e idílio nas edições ampliadas de An Autobiography e ros de obras a cavalo e qualquer cidade grande
teca da FAUUSP é da edição campestre) – reforçado pela
revisada, portanto, com ainda crença na tecnologia liber-
em When Democracy Builds (1945)11. FLLW sen- tinha várias entregas de correio por dia. Em 1959,
mais modificações. tando os homens das tare- tiu-se encorajado a propor publicamente Broada- quando faleceu, a maior parte da população dos

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EUA era urbana, Wright já possuia em Taliesin incluindo galerias de arte e museus. (…) De for-
não somente telefone como também geladeira, ma presciente, Wright delineou três sistemas
vitrolas, radio, televisão (colorida e com um tipo modernos que já proviam as fundações de sua
de controle remoto a cabo) e vários carros e tra- visão: o automóvel, que assegurava mobilida-
tores na escola-fazenda. Os primeiros satélites de para cada indivíduo, telecomunicações, que
já estavam em órbita, o cálculo de suas trajetó- preveniam isolamento; e produção industrial,
rias possibilitado pelos primeiros computadores. que proveria produtos modernos para a clien-
E a primeira sonda teleguiada, da URSS, tinha tela de massa. (…)
pousado na Lua nesse ano, o primeiro engenho
a pousar em outro corpo celeste, 10 anos antes Aqui e ali, ele sentiu que a arquitetura implica-
da chegada dos primeiros astronautas. O mundo va numa perspectiva mais ampla, bem além
doméstico que conhecemos hoje, eletrificado e daquela do objeto isolado, fetichizado. Não se
conectado, começava a se configurar. pode deixar de sentir-se atingido pelo seu com-
promisso de vida com a idéia de uma paisagem
Como escreveu Gwendolyn Wright em Frank arquitetônica como um domínio público. Tal
Lloyd Wright and the Domestic Landscape (1994): paisagem seria transposta num padrão formal.
fas mais brutais do campo. Ainda assim sempre permaneceria um mundo
Descreve como seriam os Em consonância com o mito agrário da auto- de beleza natural e interação humana, pelo qual
componentes da Broadacre -suficiência, Broadacre revolveu ao redor do lar Wright, como arquiteto e como ser humano,
City: a fazenda usoniana, a
e da família. ‘O verdadeiro centro (a única cen- sentia total responsabilidade. (WRIGHT, 1994,
casa usoniana, os negócios,
os equipamentos educacio- tralização permissível) na democracia usoniana, p. 93, tradução P. Fujioka)
nais e culturais. Com este é o indivíduo em seu lar verdadeiro usoniano’,
volume, Wright consolida
seu conceito de Broada- explicou Wright. O domínio para a interação Portanto, a fantasia de Broadacre City tem que
cre City como resposta aos pública era, em contraste, esparso e uniforme, ser vista à luz desses pouco menos de 100 anos
males sociais, políticos e
mesmo se a prosa de Wright descrevesse uma de transformações radicais na habitação e na
econômicos dos EUA – e
que reforçaria mais tarde em unidade plena de alegria. Mercados à beira de cidade ocidental. Assim, apesar das críticas de
Living City, sua versão final estrada nas principais conexões anteciparam Artigas, a visão de FLLW talvez não fosse tão
de uma sociedade ideal, es-
os shopping malls do pós-guerra, fundindo con- medieval, afinal, como vemos na conclusão de
truturada espacialmente. O
discurso denota o impacto sumismo com convivialidade. Pessoas também Gwendolyn Wright.
da II Guerra Mundial e o de- poderiam se congregar nos postos de gasolina
sejo de propor uma direção
para um futuro melhor para
[verdadeiros centros de consumo e serviços – Uma última questão: o posicionamento anti-
a sociedade e para o meio- nota PF] e centros comunitários, que proviam -urbano de Frank Lloyd Wright, que iniciou-se
-ambiente construído. instalações esportivas e outras formas de lazer, com seu desgosto em relação ao caos urbano

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em Chicago e a reação moralista da cidade frente de produção da casa e da ocupação da cidade


aos problemas conjugais de FLLW (1910), teria e do território nos EUA e no Brasil teriam sido
se mantido ao longo de toda sua vida? A histo- trabalhadas por Artigas, progressivamente, num
riografia mais recente parece duvidar disso. Já ideário da produção de arquitetura e cidade na
em meados dos anos 1950, última década de modernização brasileira da segunda metade do
sua vida, temos um Wright urbano e cosmopoli- século XX. Tudo parte do intenso processo evolu-
ta muito à vontade em Nova York, onde passava tivo dialético da arquitetura de Artigas, principal-
alguns dias da semana acompanhando a obra mente através do exercício do projeto residencial
do Guggenheim Museum, hospedado pelo mu- como experimento de laboratório – uma hipótese
seu em suíte adaptada por ele no Plaza Hotel; e válida e muito consistente.
divulgando suas ideias, participando de debates
e entrevistas em revistas, rádio e TV – conforme Igualmente ousada é a ideia de que haveria uma
depoimentos da coletânea About Wright – An al- referência wrightiana na proposta para o Concur-
bum of recollections by those who knew Frank so de Brasília (1957) da equipe de Carlos Cascal-
Lloyd Wright, editado por Edgar Tafel e com pre- di, Artigas, Mário Wagner Vieira da Cunha e Paulo
fácio de Tom Wolfe (1993). O crítico Herbert Mus- de Camargo e Almeida, e que contou com a cola-
champ (1947-2007) faz a análise deste período boração de, entre outros, Júlio Roberto Katinsky
em Man about town – Frank Lloyd Wright in New e Flávio Motta (MEDRANO e RECAMÁN, 2015,
York City (1985). Enfim, não há mais espaço para pp. 109-117). Os autores apontam que:
desenvolvermos essas questões aqui, ficam para
outro artigo. (...) o setor mais extenso da vida da cidade,
e sua ênfase social e arquitetônica, era com-
Já o trabalho de Medrano e Recamán constitui posta de unidades unifamiliares isoladas, de
o conjunto mais provocador, original, exaustiva- baixíssima densidade [inferior a 150 hab./ha,
mente argumentado e intrigante entre as pes- segundo Tavares, p. 437], a qual não variava
quisas recentemente publicadas sobre Artigas. nas áreas verticalizadas, A Broadacre City,
Em um novo conjunto de hipóteses acerca do de Frank Lloyd wright, projetada em 1932,
desenvolvimento da ideia de arquitetura habi- propunha solução similar com lotes maiores
tacional de JBVA, o papel das ideias de Wright (4.000m2), com fins produtivos e com desni-
ganham novo e provocante relevo. Partindo da dade de 10hab./ha. O Plan Voisin para Paris,
ideia da “grande cobertura” das prairie houses, de Le Corbusier, em 1925, propunha uma den-
presente no desenho da “Casinha”, as circuns- sidade média de 3 mil hab./ha. (MEDRANO e
tâncias, contradições e impasses nas formas RECAMÁN, 2015, p. 113)

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Os autores destacam as contradições concei- tidade e estilo próprio do desenho técnico do


tuais entre uma apropriação de um conceito de arquiteto. Nota-se também que evitou-se incor-
ocupação territorial (Broadacre) e o programa rer na antiga confusão entre imagens das casas
de uma capital federal, notando também que a Rivadávia de Mendonça e Luís Antônio Leite Ri-
proposta para Brasília, ao contrário de muitos beiro, apontada por M.M. Petrosino em sua pes-
projetos de Artigas, não se tornou referência quisa (ARTIGAS, 2015, pp. 28-29).
ou objeto de pesquisa, com exceção de Je-
ferson Tavares (TAVARES, 2014, pp. 228-242), Por fim, a publicação da Monolito no. 27/2015
que identificou uma presença corbusiana mais edição “Vilanova Artigas e a FAU/USP” celebrou
forte. Buzzar, também, nas pranchas de ilustra- os 100 anos de JBVA com um amplo portfólio da
ções, contrapõe uma imagem da proposta de obra maior do arquiteto, o resgate das imagens
Artigas com uma vista por satélite de Chandi- do caderno de desenhos originais e outro ensaio
garh, projeto de Le Corbusier um pouco anterior provocador, O templo-escola, de Ana Paula Pon-
ao concurso. Seja como for, o reconhecimento tes, que será comentado abaixo.
de uma presença organicista na proposta para
Brasília é instigante. UMA LEITURA WRIGHTIANA DO PARTIDO
ESPAÇO-CONSTRUTIVO DE VILANOVA ARTI-
Em 2015, na esteira dos vários eventos come- GAS E DA ESCOLA PAULISTA
morativos dos 100 anos do nascimento de JBVA,
temos finalmente o lançamento de um catálogo Como vimos acima, os últimos 10 anos da histo-
raisonné da obra de Artigas12, que inclui obras riografia sobre Artigas produziram resultados tão
pouco conhecidas do público mais jovem, como extraordinários que demandam uma nova refle-
a proposta para Brasília com Carlos Cascaldi, xão sobre a presença de Wright na obra de JBVA.
o conjunto habitacional CECAP João da Velha Alguns dos mais destacados pesquisadores da
(curiosamente composto por casas unifamiliares, arquitetura de Artigas (Bruand, Thomaz, Sega-
em mais uma abordagem de baixa densidade) e wa, Kamita, Irigoyen, Sanvitto, Buzzar, Petrosino,
a proposta para o concurso de Renovação Urba- Shundi, etc.) apontam uma leitura wrightiana em
na do Vale do Anhangabaú. Publicação bem-vin- alguma fase inicial da obra de Artigas por aproxi-
da diante das lacunas do “livro azul” de mesmo mação da forma, por leituras morfológicas, elen-
12. PONTES, Ana Paula. O nome, de 1997, optou-se aqui pela reprodução cando características morfológicas como amplos
templo-escola. in Monolito, dos magníficos desenhos originais de confecção beirais, telhados de inclinação rasa sobrepostos,
São Paulo, no. 27 (2015), edi-
manual – atitude louvável diante da atual pasteu- janelas alinhadas com o forro, materiais e estru-
ção Vilanova Artigas e a FAU/
USP, pp. 108-115, 2015. rização dos recursos digitais, que retira a iden- turas aparentes ou valorizadas.

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Para este autor, a presença ou influência de edifício e natureza, com a arquitetura edificada a
FLLW só se manifesta integralmente pelo enten- partir de células como um organismo vivo.
dimento ou absorção dos princípios organicistas
wrightianos: Princípio da Plasticidade – Parte da “Gramática
dos Materiais”, “plasticidade” e “continuidade”
Princípio da Unidade, caracterizada pelo di- significam que os materiais fluem e se amoldam
mensionamento dos espaços, estruturas e ao invés de montados, cortados ou juntados.
materiais através de modulação; e também na Formas plásticas não podem ser compostas,
relação com a paisagem natural, parte de um mas produzidas por cultivo, germinação, cresci-
princípio geral orgânico da simplicidade. O mó- mento. A ornamentação não pode ser um aden-
dulo governa o projeto em planta e corte, mas do, mas parte integrante do sistema construtivo
de forma distinta da modulação compositiva e intrínseco ao material utilizado e exposto de
de origem clássica adotada por Brunelleschi, forma aparente (como a estrutura), e apenas ten-
Palladio, Ledoux. Tanto quanto um sistema de do a função de arremate, acabamento e esqua-
proporções, é também matriz celular construti- dria. Os ornatos que caracterizam frisos, calhas,
va para canteiro (ou pré-fabricação, como nos requadros de janelas, vitrais, esquadrias, serra-
casos das textile-block houses, usonian e uso- lheria, jardineiras, etc. são parte de um sistema
nian automatic houses). de motivos gráficos, também modulares, que
reforçam o sentido de unidade.
Tal matriz celular era inspirado tanto pela modu-
lação de tatami da arquitetura tradicional japone- Princípio da Continuidade – Fluidez espacial
sa como por exemplos da já racionalizada cons- que, pelo sentido de plasticidade, pode-se con-
trução americana do século XIX, como o balloon formar um espaço livre e aberto, sem existir um
frame. Este sistema de módulo é também dis- limite claro entre o que é espaço construído e a
tinto das propostas modulares de Le Corbusier natureza ao redor.
e Mies, embora possa se estabelecer relações
com este último. As textile-block houses eram Princípio da Gramática dos Materiais ou Natu-
projetadas a partir de uma base de papel qua- reza dos Materiais – Uso funcional e racionali-
driculado e mesmo o projeto do Solomon Gug- zado dos materiais, de acordo com um padrão
genheim Museum, com toda sua expressividade modular e o sentido de plasticidade acima. Na
curvilínea, também é governado por uma grelha “Gramática dos Materiais” todo material tem
quadriculada. Unidade também é união entre sua própria linguagem.

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Nova relação de escala com a paisagem – Se- Lloyd Wright”, após a viagem aos EUA e com a
guindo o princípio da continuidade, Wright pro- militância política no Partido Comunista. De fato,
põe uma nova relação de escala, proporção e com as críticas ao regime stalinista feitas por Wri-
simetria com a paisagem, com o fim da com- ght em An Autobiography após a viagem à URSS
partimentação dos espaços internos (“Destruc- em Junho 1937, como delegado do Congresso
tion of the Box” – a destruição da caixa) e na internacional de Arquitetos, o próprio Partido Co-
dissolução dos limites entre exterior e interior munista dos EUA teria solicitado que seus mem-
(inspirado na arquitetura Arts and Crafts e na bros e colegas internacionais não se referissem
13. Entendendo-se esta tradição japonesa shoin). Tal dissolução se ba- mais a FLLW14.
como o grupo de arquitetos seava numa leitura atenta do sítio: a arquitetura
ao redor de Vilanova Artigas Já em relação do “Neo-Brutalismo”, Rita Artigas
wrightiana é basicamente site-specific.
e Carlos Millan, e ainda os
adeptos das ideias de am- se refere à edição “Rapporto Brasile” da revista
bos, tais como Eduardo de Os princípios acima denotam que Frank Lloyd italiana Zodiac, com o texto de Bruno Alfieri so-
Almeida, Paulo Mendes da bre uma pretensa “pesquisa brutalista” de Arti-
Rocha, Arnaldo Martino, Jor-
Wright, como todo arquiteto Arts and Crafts que
ge Wilheim, Miguel Juliano, se preze, visava o Gesumtkunstwerk, a obra de gas baseada em Alison e Peter Smithson. Como
Pedro Paulo de Melo Sarai- arte total, em cada projeto. afirma Rita Artigas:
va, Abrahão Sanovicz, Pau-
lo Bastos, Ubyrajara Gilioli,
Edgar Dente, João Eduardo A maioria dos autores não reconhece, considera Envolvido com uma produção teórica e práti-
di Gennaro, Hélio Penteado, irrelevante ou descarta a possibilidade de uma ca que propunha para a arquitetura moderna o
Ruy Ohtake, João Walter
presença wrightiana posterior a sua viagem aos convívio com um projeto cultural com valores
Toscano, Benno Perelmutter.
Além destes se contariam, EUA em 1946-47. Da mesma forma, muitos au- nacionais-populares, Artigas frequentemen-
fora de São Paulo, Paulo te se irritava com a filiação de sua obra com
tores recusam chamar a arquitetura de uma “Es-
de Camargo e Almeida, Léo
cola Paulista” de “Neo-Brutalismo Paulista”13 na valores nacionais-populares, Artigas frequente-
Grossman, Paulo Zimbres,
Oscar Arine, Miguel Alves medida em que o próprio Artigas rejeitou não so- mente se irritava com a filiação de sua obra ao
Pereira, entre outros. brutalismo inglês. Considerava que essa quali-
mente uma inspiração wrightiana, como descon-
14. Ver ARTIGAS, Rita, 2015,
p.13 e WRIGHT, Frank Lloyd siderou com veemência qualquer forma de inspi- ficação era resultado de uma crítica frágil (AR-
Wright. An Autobiography. ração num neo-brutalismo britânico, este até por TIGAS, 2015, p. 17)
2ª edição revista e amplia-
discursos ideológicos distintos.
da. Nova York: Duell, Sloan
and Pierce, pp. 549-550. A Segawa denotou a interlocução entre Artigas e
primeira edição é de 1932, Como escreve Rita Artigas, JBVA passa “a de- Flávio Motta na confecção do discurso funda-
anterior à viagem a URSS mental de “projeto” e “desenho” como resistên-
senvolver uma crítica radical e ideológica às in-
fluências das vanguardas internacionais da arqui- cia, com todo envoltório ideológico que ressoa
tetura, principalmente a Le Corbusier e a Frank até hoje; e aponta as origens etimológicas (de-

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sign, drawing, desígnio, dibujo) tal como discu- As últimas residências que construiu em São
tido anteriormente por Flávio Motta (SEGAWA, Paulo revelam uma tendência para o que acríti-
1999, pp. 144-145). Também destaca a posição ca, em especial a européia, chama de brutalis-
de Artigas, no âmbito da polarização ideológica mo. Um brutalismo brasileiro, por assim dizer.
da Guerra Fria e seus desdobramentos no Brasil Não creio que isso se justifique de todo. O con-
pós-1964, em relação ao debate internacional de teúdo ideológico do brutalismo europeu é bem
arquitetura moderna: outro. Traz consigo uma carga de irracionalismo
tendente a abandonar os valores artísticos da
(...) a descolonização na arquitetura não se faz arquitetura, de um lado, aos imperativos da téc-
pela proibição da importação de modelos de nica construtiva que se transforma em fator de-
solução estético-construtivos. Mas principal- terminante; de outro lado, a forma arquitetônica
mente pela descolonização da consciência dos surgiria como um acidente da solução técnica.
arquitetos dentro da cultura em que trabalham. Como só o artista colhesse, na anarquia das so-
Por isso são importantes as escolas de arquite- luções técnicas, os momentos de emoção que
tura nacionais. A elas cabe educar os arquitetos não predeterminou mas que surgiram ao acaso
na direção de conhecerem a fundo as questões [Artigas (1988ª), apud SEGAWA, 1999, p. 34]
de suas pátrias para versarem-nas eles mes-
mos (...) a posição colonizada que se caracteri- Vazquez, entretanto, aponta vínculo entre a produ-
za pelo “não sabemos” atribui a outros setores ção residencial de Artigas nos “anos de chumbo”
da cultura responsabilidades nossas. Entretan- – e portanto, da produção de toda uma “escola
to o pior dessa atitude é que ala também se paulista” – “através de um sentido ético inscrito
atribui a estrangeiros na constante procura de na definição de Banham e dos Smithsons” (...) in-
liderança metropolitana, como se constata nas corporando à dimensão plástica e estilística que
declarações sobre a crise da arquitetura bra- se expressa na forma da obra a visão dos ’objeti-
sileira e tantas outras. [ARTIGAS (1977), apud vos culturais’ que nela se manifestam do ponto de
SEGAW3A, 1999, p. 34] vista compositivo e espacial, sem esquecer que
eles partem da percepção política e ideológica do
Confirmando a rejeição de Artigas da influência artista acerca da sociedade em que atuava” (VA-
de ideias vindas do exterior, Segawa aponta tre- ZQUEZ, 2013, p. 2). Estratégia de interpretação
cho de outro texto de JBVA, A propósito de Car- que pode também intuir a presença subjacente
los Milan, 1927-1964: de Frank Lloyd Wright, não através de uma apro-
priação da forma, mas pela leitura dos princípios
na obra de Artigas pós-1946, particularmente na

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idéia de uma tectônica firmemente baseada na ló- Em Centenário de Louis Sullivan (1957) temos
gica construtiva – que constitui, para este autor, o também uma visão respeitosa do arquiteto e
pilar de uma visão de “escola paulista”, tal como do cidadão consciente: “(...) a suprema lição de
foi insistentemente discutido com professores du- Sullivan é a do lutador, do militante.” (Caminhos
rante a Graduação e o Mestrado15 da Arquitetura, p. 96). E em Frank Lloyd Wright
(1960, in Caminhos da Arquitetura, pp. 97-98),
De fato, Artigas aparentemente continuou a se in- Artigas, mesmo após tendo oficialmente rompi-
teressar por Wright nos anos 1960-70. Em entre- do com a arquitetura orgânica, ainda presta ho-
vista durante a pesquisa de Doutorado, a Profa. menagem a FLLW e destaca o mérito de suas
Marlene Yurgel comentou do interesse infindo que ideias, de sua obra e (algo raro nos dias de hoje),
Artigas se interessava por arquitetura moderna, in- a militância. Escreve de como a casa wrightiana
clusive a produzida por Wright, em revistas e livros. perde paredes, ligou-se à paisagem, “confundiu
Também lembrou-se de uma escala em Nova York contornos de compartimentos e passou a definir-
de uma viagem Portugal-Brasil que JBVA fez com -se pela dinâmica da vida, pela dinâmica da ati-
a arquiteta, na década de 1970, quando visitaram vidade humana a que se destinava” (idem, 1960,
o Guggenheim Museum e Artigas mostrou conhe- p. 98). Destacou a Unity Temple como o “templo
cimento aprofundado sobre o museu enquanto inconformista” e louvou o Larkin Building com
solução de projeto e construção. sua solução de espaço interno que entoa “um
hino ao trabalho”. (idem, 1960, p. 95 e BUZZAR,
15. Para Vazquez “não é
Por mais crítico que possa parecer o texto Os Ca- 2014, p. 307)
o material usado que de-
termina a inclusão de uma minhos da Arquitetura Moderna (1952), o discurso
obra nos parâmetros ana- e o tom de Artigas, ao se referir a FLLW, nunca Por fim, o episódio da viagem de Wright à URSS,
líticos e interpretativos do
pareceu a este autor como ofensivo, muito pelo descrita por Artigas, mostra que este leu An Au-
Novo Brutalismo, mas sim
a intencionalidade, desígnio contrário: ele descreve a lógica construtiva e es- tobiography, de FLLW. Aliás, a forma jocosa com
que sustenta o projeto, uma pacial num olhar ao menos carinhoso (p. 55). De que Wright se referia a Michelangelo, também
ideia que certamente que
fato, mais do que nas aulas teóricas da Gradua- descrita por Artigas, demonstra que este leu pelo
se enquadra no pensamen-
to artiguiano (...) entender, ção da FAUUSP, foi através de Artigas que este menos mais um texto de FLLW, que consta de
por meio deste sentido ético autor foi apresentado a Frank Lloyd Wright, pelo Modern Architecture being the Kahn Lectures for
inserido na definição de ba-
“textos de saudação”, como denominou José 1930, uma transcrição das palestras feitas por
nham e nos Smithsons, os
desígnios que orientam as Lira, “a Sullivan, em que celebra o funcionalismo Wright para a série Kahn Lectures da Princeton
decisões de projeto que le- como manifestação social; a Wright, seu herdeiro, University, editado por Frederick Gutheim. Na Bi-
varam Artigas a levantar uma
por sua concepção democrática e reformadora do blioteca da FAUUSP tais palestras constam de
arquitetura contra a cidade.”
(VAZQUEZ, 2013, p.2) desenho.” (Caminhos da Arquitetura, p. 13) outra antologia de textos: The Future of Architec-

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ture (WRIGHT, 1953, p. 83)16. Um outro aspecto da trajetória das ideias de ar-
quitetura de JBVA pós-1960 também pode indicar
Na Tese de Doutorado do autor, propõe-se que um paralelo com FLLW. Rita Artigas aponta que:
haja de fato uma presença de Wright, toda-
via subjacente, baseada na identificação dos A partir dos anos 1960, Artigas desenvolveu
princípios organicistas de FLLW em produção um repertório que se firmava na pesquisa da
pós-1947, mesmo sem uma comprovação de história e do conhecimento universais da qual
Artigas na forma de texto ou fala. Entretanto, participavam saberes populares e eruditos.
Maria Alice Junqueira Bastos e Ruth Verde Zein Recuperava para sua arquitetura expressões e
argumentam como Colin Rowe prefere “enten- conceitos até então relegados devido às apro-
der a essência da arquitetura moderna tra- ximações exaustivas com a cultura do período
vés da consideração atenta e erudita de seus colonial. Sua obra foi instigada pelas reflexões
resultados factuais, do que ela resulta ser, a acerca da arquitetura republicana e eclética, do
despeito de suas teorias e discursos; assim, interesse pelo art nouveau pesquisado por Flá-
pondo a nu a dissociação entre os domínios” vio Motta, da contribuição dos imigrantes eu-
(BASTOS e ZEIN, 2010, p. 194), estando este ropeus instalados no Brasil e pela arte popular.
autor totalmente de acordo. De fato, o próprio (ARTIGAS, 2015, p. 17)
Jean-Louis Cohen em, O futuro da arquitetura
desde 1889, escreve: Artigas se referiu ao exemplo das empenas de
concreto armado resultantes das vigas perime-
(...) Embora João Batista Vilanova Artigas cri- trais ou de dobraduras dos beirais, o primeiro
ticasse as teorias de Le Corbusier a partir de exemplo sendo da Casa Baeta – com referências
sua própria posição de esquerda, nem por isso à arquitetura popular e tradicional das casas de
deixou de utilizar elementos do vocabulário do madeira do Paraná, desde as inclinações de te-
arquiteto parisiense, conforme revistos e trans- lhado, o pé-direito mais alto do estar, até o lam-
formados pro seus colegas do Rio de Janeiro. brequim expresso nas empenas (ARTIGAS, 2015,
(COHEN, 2013, p. 368) p. 69 e também na 5ª arguição do Concurso para
Professor Titular da FAU, idem, p. 225).
16. WRIGHT, Frank Lloyd. The
Future of Architecture. Nova
É interessante ler Cohen admitir que Artigas pos-
York: Horizon Press, 1953. sa – apesar de seus textos críticos – ter uma in- Nota-se aqui um paralelo com a solução das uso-
17. WRIGHT, Frank Lloyd. fluência corbusiana, uma abertura que permite nian houses. Frank Lloyd Wright escreveu, em
The Natural House. Nova
York: Horizon Press, 1954,
reforçar a ideia de uma presença wrightiana sub- The Natural House17 (1954), como a solução para
pp. 165-166. jacente em seus projetos. a integração cozinha/serviço (workspace) com o

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estar/jantar nasceu da típica casa de madeira dos seja, aquela que começa a se configurar com a
imigrantes do interior do Wisconsin, com telhado Casa Taques Bittencourt de 1959 (Kamita) e que
de duas águas e inclinação acentuada, geralmente culmina na FAUUSP (1969) e na Estação Rodovi-
de origem germânica, e que costumava frequentar ária de Jaú (1973)?
na infância – onde todas as atividades, com exce-
ção do dormir, giravam ao redor de uma grande Aqui é necessário voltar a Vazquez, em sua aná-
cozinha, espaço central da casa, com pé-direito lise das casas denominadas “introspectivas” de
alto – conforme ele conta em The Natural House: Artigas 1966-69: Berquó (1966), Telmo Porto
(1968) e Martirani (1969). Vazquez demonstra
Mas eu acredito em ter uma cozinha caracteriza- como o partido destas casas configurou espa-
da como um espaço de trabalho [work space] e cialidades que evitariam o cotidiano urbano, a
uma parte apropriada do estar – uma caracterís- conexão com a cidade e se voltariam para den-
tica bem vinda. De volta aos dias da fazenda era tro – antiurbanas, conclusão similar a de vários
um grande estar, um fogão nela, e a Mãe estava dos autores citados acima, inclusive Shundi e
lá cozinhando – cuidando das crianças e falando Medrano/Recamán. O Golpe Militar de 1964
com o Pai – cães e gatos e a fumaça de tabaco torna-se elemento essencial para entender
também – tudo gemütlich [aconchego, em ale- essa rejeição projetual à vida urbana, envol-
mão - nota PF] se tudo estava ordenado, mas ta no clima de medo e paranoia do regime de
raramente estava; e as crianças estavam lá brin- 1964. Apesar de notar exceções como a casa-
cando em volta. Isto criava uma certa atmosfera -ponte Mendes André, do mesmo período, que
de uma natureza doméstica o qual tinha charme se abre ativamente para a rua, e o Conjunto CE-
e do qual não é, penso eu, uma coisa boa de CAP Guarulhos de 1967. A análise de Kamita é
se desprender de todo. Consequentemente, na a principal referência.
planta Usoniana a cozinha era chamada “espaço
de trabalho” [“workspace”] e identificado larga- Vazquez mostra como estas casas se voltam
mente com o estar. De fato, isto se tornou uma para dentro, “introspectivas”, lidando-se com
alcova do estar, mas mais alta para boa ventila- esta introspecção de forma distinta: Casa Berquó
ção e amplitude. (WRIGHT, 1954, pp. 165-166, resolve-se através pátio central com iluminação
apud FUJIOKA, 2004, pp. 98-99) zenital, a Casa Porto configura uma centralidade
com iluminação zenital e a Casa Martirani se de-
Entretanto, como definir mais precisamente a fine com o que Vazquez chama de “dupla pele”
presença subjacente dos princípios organicistas que configura um “exoesqueleto”, “capaz de
de FLLW na arquitetura madura de Wright, ou construir uma exterioridade controlada”.

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Bastos e Zein também associam a arquitetura tigas do Quartel da Guarda Territorial do Amapá,
neo-brutalista à ideia de um exoesqueleto, toman- de Artigas (1971):
do como base o Crown Hall do IIT e a Neue Natio-
nalgalerie de Berlim, ambos de Mies van der Rohe Uma variação de um tema desenvolvido no iní-
como pavilhões cujo espaço interno está total- cio dos anos 1960: o exoesqueleto de concre-
mente livre de obstáculos para permitir uma liber- to, a grande laje suspensa pela sequência de
dade total de organização de atividades inerentes pórticos, liberando o espaço interno, de forma
a cada programa (BASTOS e ZEIN, 2010, p. 71). mais simples e padronizável. (BASTOS e ZEIN,
2010, p. 144)
Mas o exoesqueleto vilanoviano não configura um
prisma translúcido perfeito, e Vazquez aponta a A ideia de um exoesqueleto já permite uma primei-
ideia da quebra, ou da destruição da caixa, que ra conexão com os princípios do organicismo wri-
viria desde Palladio, notando aqueles que queriam ghtiano. Por que? Primeiro, um exoesqueleto em
destruir a caixa, como Theo van Doesburg, ou Le si denota uma imagem biológica, orgânica, orga-
Corbusier, que queria vazá-lo. Entretanto, o pri- nicista. Wright costumava mostrar a seus aprendi-
meiro a literalmente propor a “destruição da caixa” zes em Taliesin uma pequena coleção de conchas
foi Frank Lloyd Wright18 em 1904 (FUJIOKA, 2004, de praia (não sabemos se havia algum exemplar
pp. 74-75). Aliás, a extensão dos diálogos entre das conchas de moluscos nautilóides) para de-
Frank Lloyd Wright e as vanguardas holandesas, monstrar os princípios da simplicidade, unidade
desde os contatos Hendrik-Petrus Berlage/Louis (celular), plasticidade, continuidade, gramática e
18. Ver ensaio Frank Lloyd
Wright and the Destruction of Sullivan/Frank Lloyd Wright, extensivamente pes- natureza dos materiais. O princípio da continuida-
the Box, de H. Allen Brooks quisada por Langmead e Johnson19, sugere que de implicava num espaço fluido interno e disso-
(in Journal of the Society of
a destruição da caixa de van Doesburg e Gerrit lução dos limites entre interior e exterior (destrui-
Architectural Historians no.
01 vol. 38, March 1979, pp. Rietveld tenham influência wrightiana. ção da caixa) e abertura para a paisagem (caso
7-14) e Writings on Wright – o projeto não estivesse num sítio urbano – todas
Selected comments on Frank
Na Casa Martirani, Vazquez mostra a “estrutura/ as obras urbanas de FLLW se voltam para dentro,
Lloyd Wright, editado tam-
bém H. Allen Brooks Cam- exoesqueleto contentora” configurada por pi- são muito mais introspectivas e radicalmente anti-
bridge, Mass. e Londres: The lares e empenas cegas, continuação da experi- -urbanas do que as de Artigas). Wright também
MIT Press, 1981.
mentação de projeto onde abertos e fechados mencionava o casco da tartaruga como exemplo
19. Ver LANGMEAD, Donald
e JOHNSON, Donald Les- se conformam ativamente como uma cobertura / do princípio de unidade e plasticidade.
lie. Architectural Excursions casca que excluem-se da cidade, a “dialética da
– Frank Lloyd Wright, Holland
empena” (MEDRANO e RECAMÁN, 2015, p. 71). A ideia de uma arquitetura “introspectiva”, que se
and Europe. Londres / West-
port: Greenwood Press, 2000. Bastos e Zein ainda comentam o projeto de Ar- volta para o interior, anti-urbana, seria contrária

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ao princípio de continuidade. Entretanto, a ideia o Estádio do Morumbi, as escolas estaduais, a


do exoesqueleto também implica numa estrutura, Garagem de Barcos Santa Paula, a FAUUSP, o
até certo ponto, vazada. E, de fato, não deixando Anhembi Tenis Clube, a casa Ivo Viterito até os
de concordar com Vazquez e outros acima, na projetos feitos para a Prefeitura de Jaú, incluindo
hipótese de um partido anti-urbano, este autor se a Rodoviária – identificando o advento e evolu-
lembra também de interlocuções com professo- ção da estratégia de um “desenho do chão” e de
res durante a Graduação, que conheciam Artigas um “desenho do teto”.
e/ou foram colaboradores deste, e que mencio-
navam as casas Baeta e Berquó como exemplos Shundi observa que a Casa Martirani apresenta
de uma arquitetura que dialogava de forma crítica uma “sobreposição da estrutura concreto arma-
com o urbano, através justamente dos beirais e do” acima de um embasamento de concreto ci-
empenas que traziam incerteza sobre o perímetro clópico, “um pequeno muro de arrimo parte da
da habitação, uma crítica à legislação de uso do calçada frontal e se desenvolve no interior do
solo com seus recuos frontal, laterais e fundos. lote, criando um espaço irregular semi-enterrado
Ou seja, o exoesqueleto dialogava criticamente que abriga a garagem e outros espaços inter-
com a forma de produção da habitação e da pró- nos (...) solução adotada faz com que o conjun-
pria cidade em si. Mas o exoesqueleto não cons- to composto pela cobertura “flutue” em relação
titui uma casca enraizada no solo, de fato a rela- aos espaços internos, criando uma complexa
ção das casas com o solo é distinta da cobertura. fusão entre dois sistemas estruturais distintos
E aí é que está uma grande questão no que tange que ampliam a tensão existente entre o “teto” e o
à ideia de continuidade. “chão.” (Shundi, p. 333) Tensão a que este autor,
pela dinâmica interior-exterior, também diria que
Aqui se evidencia um conceito da dissertação de existiria um tensão empena/muro.
Cesar Shundi, uma das melhores pesquisas re-
centes sobre Artigas: a leitura do partido que im- O próprio Shundi adota o termo “continuidade”,
plica numa concepção do nível térreo (“desenho mas sem relação com FLLW: na Garagem de
do chão”, IWAMIZU, 2008, pp. 273-348) e outra Barcos Santa Paula (1961) Artigas “continua a
da cobertura (“desenho do teto”, IWAMIZU, 2008, explorar as relações de continuidade entre o edi-
pp. 349-400), essencial para a compreensão do fício e o chão, ressaltando os dilemas presentes
projeto da Estação Rodoviária de Jaú, projeto de nas formalizações desses embasamentos” onde
Artigas (1973). Shundi percorre a trajetória proje- “muros de concreto ciclópico [característica wri-
tual de JBVA partindo das casas iniciais e pas- ghtiana, tão presente em Taliesin West, como
sando pelas casas Taques Bittencourt II e Baeta, nas obras de Artigas dos anos 1960 – nota PF]

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definem as duas cotas principais, ressaltando o apenas dois pontos, as empenas laterais possi-
desnível entre a avenida e a represa.” (IWAMIZU, bilitam a perfeita acomodação do edifício à de-
2008, p. 343) E sobre a Casa Ivo Viterito, “execu- clividade do terreno, permitindo a continuidade
tado um ano após a Garagem de Barcos, o pa- da ‘natureza’ ao pátio interior, agora retificada,
vimento dos dormitórios é implantado em ‘sub- mas também delimitando o espaço interno da
solo’, subvertendo de modo radical a ocupação residência.” (IWAMIZU, 2008, p. 352) E depois,
do lote e a tipologia tradicional das residências. a empena-vedação-pilar evolui para um pórtico
Nesse caso, o partido do projeto privilegia a con- que define o módulo estrutural do Ginásio EEP-
tinuidade entre o amplo espaço interno das áreas SG de Itanhaém (1959).
de estar da residência para o exterior” (IWAMIZU,
2008, p. 345). O que temos de fato na Casa Taques Bittencourt
II é um exoesqueleto orgânico, uma casca que
Ou seja, haveria uma atitude projetual anti-urba- envolve externamente o programa, mas que atra-
na, introspectiva (“desenho do teto”) e uma atitu- vés de aberturas na cobertura, no espaço cen-
de projetual de diálogo com o urbano (“desenho tral (de forma zenital) e entre as empenas, temos
do chão”), até porque a cidade, de forma crítica, um diálogo com a cidade, como nos animais que
jamais seria deixado de lado por Artigas, como se fecham ou se recolhem como um diafragma
podemos ver pelas passarelas rampadas de pe- na medida em que o ambiente externo se torna
destres, que são estudadas também Shundi. Não hostil (tartarugas, moluscos, insetos, tatus). En-
é desusado lembrar também que Rabelo deno- tretanto, lembremos que tais seres podem se iso-
mina seu estudo das rampas de Entre o Chão e o lar, conscientes do que ocorre fora – para depois
Céu – As rampas em Artigas (2005). abrir-se de novo, passado o perigo. O exoesque-
leto pode fechar, mas abrir também.
Voltemos à questão do exoesqueleto, através de
sua primeira manifestação expressiva, a Casa Aqui finalmente chegamos no exemplo que tanto
Taques Bittencourt II20. Shundi, baseando-se em se aludiria morfologicamente à arquitetura wri-
20. É interessante verificar
que, na versão 1 da Casa Ta- Kamita (KAMITA, 2000, p. 25), demonstra que ghtiana: o edifício da FAUUSP (1961-69). Autores
ques Bittencourt (1959, ano “a partir das experiências realizadas nas casas como Irigoyen e Buzzar, além de vários professo-
do falecimento de Wright),
projetadas para Olga e Sebastião Baeta e José res ainda na Graduação, entre outros, já comen-
podemos perceber na planta
(versão térrea) um partido si- Francisco de Souza, as empenas estruturais da taram as correspondências entre o espaço cen-
milar a de uma casa usonia- Casa Bittencourt assumem as funções de ve- tral da FAU com as centralidades da Unity Temple
na tipo polliwog usonian com
dações, pilares e vigas, agora sintetizadas em (1905-08) e do Larkin Building (1903-06), de Wri-
planta em L (v. FUJIOKA,
2004, p. 106) um único elemento. Desse modo, apoiadas em ght. Também temos o Marin County Civic Center

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(1957-62), com sua caixilharia curiosamente simi- 19). McCarter22 também discorre sobre o tartan
lar em geometria ao da FAUUSP, como já apon- grid (McCARTER, 2005, p. 303), além de Richard
tou Anat Falbel em um diálogo sobre o tema. MacCormac no mesmo livro, pela natureza tectô-
nica, construtiva, onde uma gramática construti-
Este autor concorda com essas correspondên- va (tanto quanto uma “moral construtiva”) estava
cias, mas baseado numa leitura dos princípios baseada numa matriz geométrica tridimensional,
wrightianos e não apenas pela comparação mor- citando Wright: “geometria é a gramática, por as-
fológica. Continuando na questão do exoesque- sim dizer, da forma.”
leto, temos no projeto da FAUUSP claramente a
resultante de uma evolução progressiva da ideia Os princípios da plasticidade e da gramática/na-
de um “desenho do chão” e de um ”desenho do tureza dos materiais está na utilização do con-
teto”, como desenvolveu Shundi em sua disser- creto armado e da estrutura aparente formando
tação, a partir da Casa Taques Bittencourt II. É um casco, um exoesqueleto como a da Unity
uma arquitetura introspectiva aos níveis dos ate- Temple, do Larkin Building e do Guggenheim Mu-
liers e das atuais salas de aula pela caixa que seum. Entretanto, é óbvio que não se trata de um
Sanvitto definiria [o grande abrigo do brutalismo casco ancorado wrightianamente no solo, caso
paulista] como prisma elevado sobre pilotis, mas dos exemplos acima, pois existem, como mos-
aberta aos níveis do Caramelo, da Biblioteca e tra Shundi, os desenhos do “teto” e do “chão”;
dos departamentos, que se abrem para a cidade e o exoesqueleto serve de suporte para o gran-
através de aberturas envidraçadas ou vazadas. de protagonista do espaço da FAUUSP e da ar-
São estas aberturas que garantem o princípio de quitetura de Artigas que emerge a partir da Casa
continuidade, tanto em relação à natureza (Wri- Berquó, o espaço central, sem o qual não haveria
21. SERGEANT, John. Frank
Lloyd Wright’s Usonian Houses
ght) como em relação à cidade (Artigas). sentido essa casca de cobertura.
– The case for Organic Archi-
tecture. Nova York: Whitney O sentido orgânico de unidade se manifesta atra- Ficher e Acayaba, ao comentar o projeto da
Library of Design – Watson-
-Guptill Publications, 1976.
vés da modulação celular da grelha quadricula- FAUUSP em 1982, já observavam que Artigas,
22. McCARTER, Robert. The da, que é geometricamente uma grelha em xa- a partir das casas Baeta (1956) e Mendonça
integrated ideal – Ordering drez tartan como planta, estabelecendo-se outro (1957), das escolas em Itanhaém (1960) e Gua-
principles in Wright’s ar-
chitecture. in McCARTER,
paralelo com Wright, na medida em que a grande rulhos e da Garagem de Barcos Santa Paula
Robert (editor). On and by maioria dos projetos de Wright é definida por um (1961), “desenvolveu ainda mais a proposta da
Frank Lloyd Wright – A Pri- traçado regulador de grelha xadrez denominada cobertura em grelha de concreto sob a qual o
mer of Architectural Prin-
ciples. Londres: Phaidon
por John Sergeant21 como tartan configuration espaço é organizado de acordo com as neces-
Press, 2005, pp. 232-263. grid (FUJIOKA, 2004, p. 75, SERGEANT, 1976, p. sidades do programa, independente da estrutu-

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ra. Seu apreço pelos grandes balanços, pelas Tanto nos projetos da FAUUSP, da Garagem de
estruturas arrojadas e principalmente pelo uso Barcos Santa Paula, das escolas públicas, como
do concreto armado que formam seu repertó- da Estação Rodoviária de Jaú, Shundi conclui que
rio pessoal, foi amplamente seguido tanto em “na tensão criada entre os desenhos do ‘teto’ e do
São Paulo como em outras regiões.” (FICHER e ‘chão’ são projetados edifícios que exploram as
ACAYABA, 1982, p. 52) relações com o meio urbano, caracterizados por
uma contenção formal exterior em contraponto ao
Bastos e Zein observam que o projeto da FAU é rico espaço interno capaz de abrigar as diversas
definido como “uma grande cobertura que exter- atividades humanas”. Sua dissertação mostra cla-
namente se apoia em empenas-viga de concreto ramente na Estação de Jaú “relações de continui-
armado, que descarregam em uma colunata ex- dade com a malha urbana”, ampliando os espa-
terna de desenho original, formando um peristilo ços públicos do “desenho do chão” para a cidade.
nas quatro faces do edifício. Pilares internos, de
aparência cilíndrica, regularmente espaçados, Reforçando o debate, Seixas desenvolve a ideia de
apoiam as lajes dos diversos pisos e fornecem que, no projeto da FAU, as relações entre os pisos
o apoio interno da cobertura. O programa se re- constituiriam uma reflexão [possivelmente dirigida
solve contido quer por caixa de vidro no interior a alunos] sobre as situações urbanas nas ruas e es-
da superestrutura, quer pela empenas-vigas de paços públicos da cidade brasileira, numa rica in-
concreto” com um “grande vazio interno semia- terpretação da arquitetura escolar vilanoviana que
berto, percebido externamente pela interrupção podemos apenas inserir alguns fragmentos:
da caixilharia do piso térreo junto à lateral das
rampas e também em boa parte da elevação Se a resolução do ambiente protegido pela co-
frontal, levando a uma ambiguidade e a uma gra- bertura aponta para uma oposição permanente
dação entre espaço interno e externo.” (BASTOS e constitutiva na estratégia de projeto, o espa-
e ZEIN, 2010, p 74) ço central se apresenta como o local onde a
imprecisão entre os limites do espaço interno
Como observou Shundi, “o projeto da FAU, como e do externo se torna mais evidente. Podemos
proposta arquitetônica, defende a tese da conti- afirmar que os espaços centrais dessas escolas
nuidade espacial. Seus seis pavimentos são liga- parecem trazer para dentro do edifício a dimen-
dos por rampas suaves e amplas, em desníveis são da praça pública. (...) o espaço central nas
que procuram dar a sensação de um só plano. escolas de Artigas e Cascaldi se porpõe como
Há uma interligação física contínua em todo o o foco da tensão permanente entre externo e
prédio.” (IWAMIZU, 2008, p. 335) interno. (SEIXAS, 2003, p.77)

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Seina Marquardt também considera que o espaço vinculando-os a uma tradição clássica. Diante
central, analisando o Ginásio EEPSG de Guaru- da ausência de referências clássicas de porte
lhos (Artigas e Cascaldi, 1960), sob uma “cobertu- no discurso do próprio Artigas, e pela rejeição
ra vazada”, torna-se “legítimo propagador de con- da tradição em textos como Centenário de Louis
vivência e interação.” (MARQUARDT, 2005, p. 69) Sullivan. Pontes argumenta que:

Márcio Cotrim e Abílio Guerra, no ensaio Entre o ...apesar de o arquiteto compartilhar do des-
pátio e o átrio – três percursos na obra de Vila- dém da ideologia moderna em relação à arqui-
nova Artigas (2012), dissecaram a gênese e de- tetura acadêmica, é instigante buscar também
senvolvimento do espaço central, ainda um pátio em sua obra possíveis afinidades com a tradi-
aberto, na Casa Taques Bittencourt II, mostrando ção arquitetônica a partir do edifício da FAU,
como a solução em rampa ao redor do pátio cen- pois, por ter sido concebido para condensar
tral se viabiliza justamente através da nova solu- valores coletivos tidos como exemplares, rea-
ção de pórticos e cascas perimetrais. O pátio, tal lização o aproxima da condição de monumen-
como ocorreria na FAUUSP, “organiza e promove to. A questão que se coloca é: de que modo
a integração visual de todos os espaços, que são o projeto lidou com o tema da expressão sim-
articulados em meios níveis por uma rampa (...) bólica mantendo-se plenamente dentro da lin-
A solução estrutural é definida por duas paredes guagem abstrata moderna? Desvinculando-se
‘de carga’, apoiadas em quatro reduzidos pon- das questões figurativas, das ordens e orna-
tos, que recebem as lajes nervuradas de concre- mentações, é possível encontrar características
to armado” – solução que lembra, em princípio, da tradição arquitetônica que, abstraídas e fil-
o exoesqueleto do Guggenheim Museum que tradas pela nova linguagem, permanecem vivas
resolve a rampa espiral em balanço; expressão em diversos exemplos da história da arquitetura
plástica e formal resultado de uma tectônica rigo- moderna do século XX, mesmo que o discurso
rosamente baseada na lógica construtiva, como tenha negado com tanta veemência. (PONTES,
Artigas. E que configura um espaço central que 2015, pp. 108-109)
também organiza e promove a integração visual
de todos os espaços (assim como na FAUUSP). Note-se que a questão colocada por Pontes é
fundamental para o entendimento da obra de
Todas estas considerações nos levam ao ensaio Wright em sua trajetória das fases prairie, maia e
de Ana Paula Pontes, O templo-escola (2015), usoniana. De fato, esta questão define e envolve
onde a autora elabora um conjunto de propo- toda a obra de FLLW como arquiteto, planejador,
sições sobre a concepção do projeto da FAU, designer, artista gráfico, marchand.

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A argumentação de Pontes prima pela ousadia ferro-hidroviário da Costa Leste dos EUA, entron-
como também pela erudição. A comparação en- camento ferroviário de várias linhas que vinham
tre a tipologia da basílica e o partido FAUUSP é do Meio-Oeste e porto oceânico pelo acesso ao
original e bene trovata: na basílica romana temos Atlântico via Lago Erie e Rio São Lourenço.
de fato a colunata interna que define as naves
laterais e sustenta a nave central em galeria com Buffalo era, portanto, uma das cidades mais
pé-direito mais alto, o lanternim com ilumina- poluídas e mais populosas de um país que, na
ção zenital. Mas se há referências clássicas na transição do século XIX-XX, tinha se tornado a
concepção deste projeto por Artigas, e existindo locomotiva do mundo industrial – embora hoje
uma presença wrightiana, haveria uma referência faça parte do Rust Belt, com população reduzida
clássica em Wright? (258.703 hab.) e tenha sérios problemas de de-
semprego (fato que não escapou à ironia de al-
Pontes desenvolve a relação FLLW-JBVA em sub- guns turistas orientais, e mesmo americanos, que
capítulo com muitos insights (PONTES, 2015, pp. visitavam Buffalo na mesma ocasião que este
111-113), a partir do texto escrito por Artigas (aci- autor). Além disso, tornou-se pioneira no plane-
ma) para o catálogo da exposição do MAM em jamento urbano e paisagístico (plano diretor de
1960, onde a autora observa que ele só cita nomi- Frederick Law Olmsted), justamente pela neces-
nalmente três obras: Larkin Building, Unity Temple, sidade de lidar com as más condições de vida da
Guggenheim Museum. “Não à toa podemos ver cidade. Vários autores destacaram este aspecto
nesses edifícios uma relação direta com a espa- na necessidade de fazer o Larkin um ambiente
cialidade que Artigas emprega e que atinge o auge estanque, forma e função, em relação à cidade,
no edifício da FAU.” (PONTES, 2015, p. 111) como Anthony Alofsin, Neil Levine, Robert Mc-
Carter e, principalmente, o Prof. Jack Quinan, do
Em relação ao Larkin Building, existe a distinção fundamental Frank Lloyd Wright’s Larkin Building
básica, em contraponto à FAU, de ser uma arqui- – Myth and Fact (1987).
tetura fechada totalmente ao exterior, desde as
janelas altas e estanques, os poucos acessos e Pontes desenvolve mais a fundo a questão de um
a ventilação resolvida mecanicamente “exibindo classicismo imanente em Wright, baseado em
para a rua maciços volumes simétricos e verti- Etlin e Curtis. O texto de referência fundamental
cais, com poucas aberturas, possivelmente em sobre a questão é o ensaio Academic tradition
resposta a vizinhos incômodos, como uma linha and the individual talent – Similarity and differen-
de trem e uma fábrica de gás”. A situação era ce in Wright’s formation, de Patrick Pinnell (2005),
mais complexa: Buffalo na época era o maior hub muito bem documentado e que confirma algu-

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mas hipóteses da autora. embora o impacto seja igual. Os princípios orgâ-


nicos existem neles, mas com sentidos distintos,
Entretanto, não é tão simples sugerir uma “força como ocorre geralmente na obra urbana de Wright.
da arquitetura neoclássica para a afirmação da Jonathan Lipman25 analisa a arquitetura de uso co-
identidade americana, como na capital do país” letivo de FLLW em seu texto de referência Conse-
(PONTES, 2015, p. 113). Afora as considerações crated spaces – Wright’s public buildings (2005).
de Pinnell, pode-se notar que Daniel Boorstin23,
em The Americans (vols. 1-3, 1958-73), mostrou o Lipman argumenta que os grandes edifícios não-
debate político acirrado sobre identidade nacional -residenciais de FLLW – como o Larkin (Buffalo,
dos EUA em seus primeiros 100 anos de história 1902-06), Unity Temple (Oak Park, 1905-06), Mi-
caótica e violenta, que incluiria uma guerra civil dway Gardens (Chicago, 1913-14), Hotel Imperial
sangrenta, cujos rancores repercutem até hoje. (Tokyo, 1914-22), a sede da SC Johnson (Raci-
Debate em que a escolha da arquitetura neoclás- ne, Wisconsin, 1936-39), o Guggenheim Museum
sica e de todo o simbolismo associado a ela, para (Nova York, 1943-59), a sinagoga Beth Sholom
a capital e para os edifícios públicos, não era um (Elkins Park, Pensilvânia, 1954), a Annunciation
consenso nem para políticos, nem para arquitetos. Greek Orthodox Church (Wauwatosa, Milwaukee,
23. BOORSTIN, Daniel J.
As trocas de correspondências entre estadistas e 1956-62) e o Marin County Civic Center (La Jolla,
The Americans – The Natio-
nal Experience. Nova York: arquitetos americanos dos séculos XVIII-XIX – que 1957-59) – podem ser formal e programaticamen-
Vintage Books – Random vemos na antologia de textos Architecture in Ame- te muito distintos entre si, “mas seriam notáveis
House, 1965; e BOORSTIN,
rica: A Battle of Styles, editado por William Coles e variações de um mecanismo arquitetônico espe-
Daniel J. The Americans –
The Democratic Experience. Henry Hope Reed, Jr.24 (1961) – mostram os em- cífico que estabelece, na mais forte linguagem
Novba York: Vintage Books – bates ideológicos que envolveram a epopeia da arquitetônica, o focus funcional e simbólico para
Random House, 1974.
escolha do projeto da capital e de seus principais a consciência de grupo dos usuários do edifício
24. COLES, William A. e
REED, Jr., Henry Hope (edi- monumentos. Sullivan e Wright, anti-imperialistas, – nas palavras de Wright, um ‘espaço consagra-
tores). Architecture in Ameri- condenavam a adoção do neoclássico como in- do’” (LIPMAN, 2015, p. 264):
ca – A Battle of Styles. Nova
dicação de um caminho ruim para a democracia
York: Appleton-Century-
-Crofts, 1961. americana. Wright ironizava se os congressistas O edifício como arquitetura é gestado através
25. LIPMAN, Jonathan. Con- não deveriam trajar togas romanas, já que convi- do coração do Homem, para sempre consorte
secrated spaces – Wright’s
viam com as ordens clássicas. com a terra, camarada das árvores, reflexo ver-
public buildings. in McCAR-
TER, Robert (editor). On and dadeiro do Homem no domínio de seu próprio
by Frank Lloyd Wright – A Voltemos aos três edifícios de uso coletivo citados espírito. Seu edifício é, portanto, espaço consa-
Primer of Architectural Prin-
por Artigas. De fato, a obra não-residencial de Wri- grado. (Frank Lloyd Wright apud LIPMAN, 2005,
ciples. Londres: Phaidon
Press, 2005, pp. 264-285. ght é numericamente menor do que a residencial, p. 264, tradução P. Fujioka)

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Assim, dentro da análise de Lipman, este espaço com cobertura de vidro se alçando por toda
consagrado deveria prover um foco simbólico e a altura inteira [do edifício] (...) O exterior é
enobrecedor para a consciência de seus ocupan- desafiador mas nos diz que algo está con-
tes. Aqui estaria de fato a verdadeira presença tido dentro. A entrada deve ser procurada.
da arquitetura organicista no projeto da FAUUSP, É finalmente encontrada num lugar escuro
na arquitetura escolar e nos espaços de uso de entre pilares centrais, ao lado de uma fonte
coletivo projetados por Artigas. Como observou de água. (...) O avanço é da luz exterior em
Shundi, ainda acerca do projeto da FAU, “a sen- direção à penumbra interior além do qual,
sação de generosidade espacial que sua estru- para a esquerda, alguma luz a mais pode
tura permite, aumenta o grau de convivência, de ser percebida filtrando abaixo entre os pi-
encontros, de comunicação. Quem der um grito, lares centrais. Estes então se levantam (...)
dentro do prédio, sentirá a responsabilidade de num clímax de expansão espacial, ilumina-
haver interferido em todo o ambiente. Aí, o indi- dos por cima como nos edifícios romanos
víduo se instrui, se urbaniza, ganha espírito de [Scully se refere justamente às basílicas,
equipe.” (IWAMIZU, 2008, p. 335) nota PF] e criando, como aqueles também
fizeram, um espaço interior idealizado iso-
O assunto não está esgotado, nem mesmo em lado do mundo exterior (...) A sequência do
relação à análise de Lipman do espaço central percurso era progressiva e também emocio-
de Wright em contraponto com o espaço central nante: desafio, desorientação, compressão,
de Artigas. Também ainda não chegamos a uma
busca e, finalmente, surpresa, liberação,
comparação entre soluções estruturais de Arti-
transformação e memória. (SCULLY, 1960,
26. SCULLY Jr., Vincent. Frank gas e Wright, mas dada a dimensão deste artigo,
Lloyd Wright. Nova York: Ge- p. 20, tradução P. Fujioka)
orge Braziller, 1960, p. 20. será necessário de retomar o tema num texto se-
guinte, de continuação. O percurso para o espaço consagrado, eno-
brecedor – “desafio, desorientação, compres-
Para concluir, uma passagem, da monografia Frank são, busca e, finalmente, surpresa, liberação,
Lloyd Wright, de Vincent Scully, Jr.26 (1960), que transformação e memória” – da entrada baixa
descreve o Larkin Building, demolido há pouco, e escura para a galeria iluminada pelo alto, o
mas que poderia se aplicar ao projeto da FAU e a “focus funcional e simbólico para a consciên-
outros edifícios públicos da fase madura de Artigas: cia de grupo”, onde o aprendiz se torna cons-
ciente, o verdadeiro legado, a mais expressiva
Como espaço o edifício foi concebido se conexão entre Frank Lloyd Wright e Vilanova
faceando para dentro, com o hall central Artigas.

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Figura 1 Unity Temple, Oak Park (1905) de Frank Lloyd Wright, foto do autor. Figura 2 Corte longitudinal do Larkin Building de Frank Lloyd Wright, cópia em papel dos arquivos
de Darwin D. Martin, preservada no acervo da Biblioteca da State University of New York em Buffalo.

Figura 3 Guggenheim Museum em Nova York, projeto de Frank Lloyd Wright. Foto do autor. Figura 4: Guggenheim Museum em Nova York, projeto de Frank Lloyd Wright. Foto: “Floors in the So-
lomon R. Guggenheim Museum (5892484651)” by Alex Proimos from Sydney, Australia - Floors in the
Solomon R. Guggenheim MuseumUploaded by russavia. Licensed under CC BY 2.0 via Wikimedia Com-
mons - https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Floors_in_the_Solomon_R._Guggenheim_Museum_
(5892484651).jpg#/media/File:Floors_in_the_Solomon_R._Guggenheim_Museum_(5892484651).jpg

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Figura 5 Marin County Civic Center, La Jolla, Califórnia, projeto de Frank Lloyd Wright. Foto Marin Figura 6 Salão Caramelo, interior da FAUUSP, projeto Vilanova Artigas, foto Nelson Kon.
Civic Center interior by Fizbin at en.wikipedia - fizbin’s crappy camera... Licensed under Public
Domain via Commons - https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Marin_Civic_Center_interior.jpg

Figura 7 Elevação frontal do prédio da FAU-USP, projeto Vilanova Artigas, desenho a lápis do autor, original em escala 1:200.

Figura 9 Detalhe de corte original em escala 1:50 do pédio da


FAU-USP, projeto Vilanova Artigas, desenho a lápis do autor,
Figura 8 Elevação lateral leste do prédio da FAU-USP, projeto Vilanova Artigas, desenho a lápis do autor, original em escala 1:200. a partir de cópia heliográfica de 1984 do projeto executivo
disponível na biblioteca da FAU-USP.

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