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Raíssa Pereira Cintra de Oliveira
Resumo
Abstract
The dialectic between the old and the new in Lina Bo Bardi operation: interfaces between
architecture, museology and restoration
This research proposes to understand the dialogues between the disciplines of architecture,
museology and restoration throught the dialectic between the old and the new. Therefore the
trajectory of the architect Lina Bo Bardi and some of the mechanisms found pointing her
confrontation of the dialectic in the city will be addressed. This paper attent for three important
2
A dialética entre o antigo e o novo na atuação da arquiteta Lina Bo Bardi: interfaces entre arquitetura, museologia e restauração
moments in her career: "the weight of the old and the new sensibility" explores her Italian academic
background, both the influence of the generation of architects and artists of the interwar in facing
expository forms for confirmation of a new modern sensibility, as well as the work in urban
interventions; "the weight of the new and the pursuit of continuity" is mainly focused on the
performance of the architects of postwar and their criticisms forward the idea of "break with the
past" added to the anxieties of recovering places of sociability. Finally, "old and new for the
transformation", brings the discussion of the dialectic in hers operations in Brazil where the dialectic
gets another meaning, related to traditional forms of know-how as propellants in a modern,
industrial and authentic country.
Lina Bo Bardi foi escolhida, pois nota-se que a arquiteta trabalha de forma diversa da idéia de
"ruptura com o passado" tão preconizada como instrumento de intervenção pelo movimento
moderno de vanguarda, o que alarga a margem da própria idéia de modernidade canonizada. Esta
abordagem aqui proposta sobre a arquiteta e sua produção é mais um exemplo de uma série de
pesquisas acadêmicas que desde a década de 1990 vem trabalhando para entender de fato os
aspectos variados que incidiam na conjuntura específica que não apenas a visão mitológica e
homogênea difundida sobre a arquitetura moderna brasileira do século XX.1 Neste contexto de
revisão destacam-se inúmeras pesquisas sobre a arquiteta Lina Bo Bardi, em seus mais variados
aspectos, as quais conformam um corpo que contribuem para a reflexão aqui lançada, uma vez
que, dentro do amplo rol de atuação da arquiteta está presente o foco principal desta investigação:
a dialética existente entre o antigo e o novo como propulsor de um diálogo interdisciplinar.2
1
GUERRA, Abilio. Monografia sobre Salvador Candia e a necessidade de um diálogo acadêmico. Resenhas Online, São
Paulo, 07.078, Vitruvius, jun 2008 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/07.078/3071>
2
Alguns dos trabalhos são estes relacionados em ordem cronológica: CABRAL, Maria Cristina Nascentes. Racionalismo
arquitetônico de Lina Bo Bardi. Dissertacão de Mestrado, PUC- Rio de Janeiro, 1996; CAMPELLO, M. de Fátima de M.
Barreto. Lina Bo Bardi: as moradas da alma. Dissertação de Mestrado, EESC – USP. São Carlos, 1997; SOBRAL,
3
Raíssa Pereira Cintra de Oliveira
Renato Luiz Sobral. Interlocução com a arquitetura italiana na constituição da arquitetura moderna em São Paulo. Texto
de sistematização da produção científica para o Concurso de Livre Docência – EESC – USP. São Carlos, 2001;
BIERRENBACH, Ana Carolina. Os restauros de Lina Bo Bardi e as interpretações da história. Dissertação de Mestrado -
UFBA. Salvador, 2001; OLIVEIRA, Olívia. Sutis substâncias da arquitetura de Lina Bo Bardi. Tese de Doutorado,
ETSAB/UPC, Barcelona, 2002; RUBINO, Silvana Barbosa. Rotas da modernidade, trajetória, campo e história na atuação
de Lina Bo Bardi 1947-1968. Tese de Doutorado, UNICAMP, Instituto de Filosofia, e Ciências Humanas, Campinas, 2002;
CHAGAS, Maurício de Almeida. Modernismo e tradição: Lina Bo Bardi na Bahia. Dissertação de Mestrado da área de
Desenho Urbano, FAU -UFBA. Salvador, 2002 ; LUZ, Vera Santana. Ordem e origem em Lina Bo Bardi. Tese de
doutorado, FAU-USP, São Paulo, 2003; ROSSETTI, Eduardo Pierrotti. Tensão moderno/popular em Lina Bo Bardi: nexos
de arquitetura. Salvador: Dissertação de Mestrado, FAU UFBA, Slavador, 2002; __________.Arquitetura em transe. Lucio
Costa, Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi e Vilanova Artigas: nexos da arquitetura brasileira pós-Brasília (1960-1985). São
Paulo: Tese de Doutorado, FAU-US, 2007; LAURENTZ, Luiz Carlosde. Salvador como fato de cultura e comunicação:
representações da cidade da Bahia nos produtos, nas imagens e nas linguagens de Lina Bo Bardi e Caetano Veloso.
Tese de Doutorado, Salvador, UFBA, 2006. ORTEGA, Cristina Garcia. Lina Bo Bardi: móveis e interiores (1947-1968) -
interlocuções entre moderno e local. Tese de doutorado. FAU USP, São Paulo, 2008; OLIVEIRA, Raíssa P. C. de.
Permanência e inovação: o antigo e o novo nos projetos urbanos de Lina Bo Bardi. Dissertação de mestrado, FAU USP,
São Paulo, 2008.
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A dialética entre o antigo e o novo na atuação da arquiteta Lina Bo Bardi: interfaces entre arquitetura, museologia e restauração
integrassem fielmente aos meios da vida moderna. Para isso a arquitetura e o urbanismo
teriam que ser vistos como indissociáveis ou partes fundamentais da nova situação de vida:
objetiva, exata e racional. Le Corbusier, protagonista e porta-voz da nova arquitetura, persiste
na busca de uma outra visão de espaço que acompanhasse o ritmo performático da vida
moderna e industrializada. Paris é escolhida para materializar o que já havia concebido três
anos antes no seu “Projeto para a Cidade de Três Milhões de Habitantes”, apresentado em
1922 no Salão de Outono de Paris. Nesta cidade, as torres isoladas parecem "alfinetes" sobre
uma indiferente superfície horizontal. Mudando de perspectiva, sobre o centro da cidade,
mostra os arranha-céus se organizando entre o verde eventual da copa das árvores e a
massa vegetal no horizonte. Seu novo instrumento não poderia ser outro que não a
geometria: a cidade moderna acedia a linha reta e a racionalização que facilite a ordem da
engenharia e da indústria - a canalização, a circulação, a moradia para todos. Espera-se uma
prosperidade da nova ordem.
Esta abordagem bastante promulgada sobre a nova cidade é bastante diversa daquela
propiciada pelo ambiente acadêmico frequentado por Lina, especialmente pela relevância que
a discussão sobre a relação entre o antigo e o novo representa nesse momento na Itália (até
porque a inovação funcional proposta pela conjuntura política carrega também a necessidade
de se apreciar a tradição estética como identidade importante do próprio regime fascista).
Outro dado preponderante é a inserção da escala urbana como problema a ser enfrentado
em dois aspectos fundamentais: funcionais e memoriais. Nesta direção, surge como tema
central a questão dos centros antigos e do designado “patrimônio histórico urbano”. 3
Protagonista desta reflexão na Itália é Gustavo Giovannoni, professor de Lina e figura
principal na concepção da Escola de Arquitetura em Roma.
3
Termo cunhado por Françoise Choay In: CHOAY, Françoise. A Alegoria do Patrimônio. São Paulo: Estação Liberdade /
Ed. Unesp, 2001, pp.175-205.
4
GIOVANNONI, Gustavo. Vecchie città ed edilizia nuova. In: Nuova Antologia, 1913, p.450.
5
Raíssa Pereira Cintra de Oliveira
Esta atitude conciliatória é freqüentemente tratada como resultado de sua formação ampla -
que admite os problemas enfrentados pelo patrimônio urbano, principalmente aqueles levantados
em infinitas discussões sobre o sentido da cidade antiga como organismo estético, ao mesmo
tempo em que procura trabalhar questões referentes ao urbanismo e à indiscutível necessidade de
renovação das cidades. Esta iniciativa intermediária se alinha com a tendência proveniente da
Teoria da Restauração, principalmente a do restauro científico na figura de Camilo Boito - o que
explica muitas soluções emprestadas para o conjunto urbano.6
5
Idem, p.460.
6
Giovannoni foi o responsável por recuperar do ostracismo os preceitos postos por Boito no séc. XIX para disciplinar a
restauração, culminando na corrente conhecida como restauro científico ou filológico.
6
A dialética entre o antigo e o novo na atuação da arquiteta Lina Bo Bardi: interfaces entre arquitetura, museologia e restauração
cidade encontram-se vestígios da identidade italiana. Assim, a renovação urbana implica num
profundo conhecimento da paisagem e da vocação do lugar para que se possam eleger edifícios e
modos de utilização que devam prosperar ou não. Neste sentido, a formação romana de Lina
confere-lhe uma alta capacidade filológica de análise do meio.
Apesar de Lina descordar os métodos de sua formação e defender outro modelo de ensino,
não há como negar esta bagagem enquanto formação de uma visão sobre a cidade. Lina, através
da constante consideração sobre o aspecto da formação afirma a vontade de uma nova cultura
baseada na consciência histórica e, portanto, na aquisição de um novo método que devera
concretizasse uma nova sensibilidade, segundo ela somente possível, através de outro método de
ensino que buscasse dar relevância ao exame crítico, colocando sob a responsabilidade do
arquiteto uma atitude moral e de construir problemas advindos da real necessidade de cada lugar e
não apenas apresentar soluções emprestadas ou adequadas em algum momento ou em outro
lugar. Para Lina, seguir linhas de intervenções já estabelecidas significava aderir a uma mera
abstração apontada pela arquiteta como insuficiente frente à complexidade da vida
contemporânea.
É dessa forma que o exame crítico estabeleceria uma outra relação com o ensino e a
formação do arquiteto. O novo método buscado propõe uma outra aproximação com o passado,
rompendo com normas pré-fixadas que até então condicionavam a produção da arquitetura. Isto
não quer dizer que o exame crítico subestime a história ou o passado, mas sim que exige um
rompimento metodológico na consideração do tempo linear: o passado não mais como modelo,
mas como reflexão.
7
Idem, pp.69-70.
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possibilidades do arquiteto (entendido como aquele mediador responsável pelo modo de viver
dos homens). 8 Acredita-se, então, que o processo crítico e o método são responsáveis pela
qualidade da arquitetura e, da mesma forma, pela prosperidade do modo de se viver na
cidade. Estabelece-se um estreito caminho entre produção e formação, o que é perseguido
constantemente em seu trabalho.
Não se pode esquecer que a nova sensibilidade moderna já era mote entre os artistas e
arquitetos italianos da geração anterior, no entre guerras. As exposições das vanguardas
modernas italianas em espaços expositivos existentes na Itália criavam uma tensão entre o antigo
e o novo que seria um desafio para os italianos. Pode-se dizer que o convívio dos tempos se dava
pela simultaneidade e coexistência de diferentes linguagens. A experiência expositiva criava uma
tensão entre figuratividade e temporalidade que contribuiria para construir um novo olhar moderno
uma vez que privilegiava a percepção e a experiência espacial do visitante. Assim, a sensibilidade
do espaço moderno era enfrentada através do design (dos desenhos dos suportes até a maneira
de se expor as obras) tendo como matriz a experiência abstrata alemã. A obra não se encontrava
mais em locais herméticos ou em ambientes neutros, mas eram colocadas diretamente nestes
ambientes antigos, e o resultado visual era incisivamente gráfico, semelhante a uma “colagem”.
“Por ter se constituído em um dos poucos espaços de atuação ocupado pela primeira
geração racionalista entre 1928 e 1932, quando então se abre um amplo campo de
trabalho mediado por uma política conciliatória, a trajetória das exposições se
confunde com a própria história da aproximação dos italianos com a arquitetura das
vanguardas modernas.[...] A construção de espaços onde essa nova arquitetura fosse
experimentada, mesmo que através da cenografia de teatro e de cinema, constituiria
instrumento eficiente para sua propagação, uma vez que apresentaria para as
pessoas o que corresponde, na arquitetura, ao estilo moderno que elas já vivenciam.
Assim, a modernidade não necessitaria ser imposta pelo Estado. Amplamente
9
difundida, a sociedade passaria a aspirar por ela”.
Essa ação expositiva, inicialmente entendida como ação pedagógica do público para a nova
sensibilidade através da simultaneidade de tempos (figurativo versus espaço), funciona como
laboratório da percepção, desdobrando-se mais adiante, em outros campos de atuação. A
experiência expositiva tem um desenvolvimento que se origina das propagandas ou vitrines, passa
por exposições e chega até a museologia.
8
Idem, pp.57-58.
9
ANELLI, Renato Luiz Sobral. Interlocuções..., op.cit, p.50-51.
8
A dialética entre o antigo e o novo na atuação da arquiteta Lina Bo Bardi: interfaces entre arquitetura, museologia e restauração
Sob estes aspectos, o tema da convivência entre o antigo e o novo inicialmente provocada por
ações pontuais expositivas pode ser tomado como um ponto importante da formação da geração
de Lina basicamente em duas frentes que se movimentam entre passado-presente / presente-
passado: primeiro, na ação pedagógica que pretendia “atualizar” o passado através da própria
percepção espontânea do visitante (erudito ou inculto) usando-se do método da simultaneidade do
antigo e do novo e da percepção do contraste existente entre as estratificações temporais.10 E, em
segundo lugar, na consideração da preexistência como dado importante durante o processo de
criação do novo. Portanto, não há como negar a importância do envolvimento de Lina com a
museologia ou mesmo com a arquitetura de museus, atividades que de certa forma retomam
questões também vividas na Itália do entre-guerra e que será preponderante na formação desta
geração em que Lina está inserida.
Não é mera coincidência que os estudos sobre Lina esbarrem sempre na experiência dos
museus. Talvez seja porque é justamente nessa atividade que a arquiteta sintetiza de fato as
noções que percorrem toda a sua obra durante a constante busca de se constituir uma "ação
cultural" de forma mais ampla. É no museu que se tem a latente necessidade de confirmações
dessas ações, pois são estas questões os meios de sua existência - o significado da memória,
passado, história, cultura, etc. Pode-se apontar no museu um procedimento de síntese da revisão
das categorias culturais. Manfredo Tafuri escreve um texto sobre o laboratório que a experiência
museológica representa no enfrentamento da preexistência durante a mudança de escala
museu/cidade. Ou melhor, a questão sobre a relação entre o antigo e o novo apresenta a mesma
problemática na arquitetura. Para o autor, a dificuldade apontada na experiência do museu e na
arquitetura faz parte de um mesmo problema: a manipulação de um repertório através de um
contato físico. O museu assume a forma de metáfora nas discussões sobre a memória e a inserção
do novo nas cidades antigas.11
10
Este método procura retirar o lado hierárquico e culto das obras pois não define por exemplo, um percurso cronológico
ou mesmo uma organização feita a priori através dos “estilos”, em suma, não prioriza apenas o público detentor de um
conhecimento histórico e artístico, mas também aqueles que apenas percebem sinais simples, como o pueril contraste
(ou convívio) entre o antigo e o novo.
11
TAFURI, Manfredo. Aufklärung II. Il museo, la storia, la metáfora. In: Storia dell´architettura italiana 1944-1985. Torino:
Giulio Einaudi Editore, 1982.
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12
SOLÀ-MORALES, Ignasi. Le Corbusier. La dispersión del espacio público. In: Inscripciones. Barcelona: G. Gilli, 2003,
pp.194-195.
13
Idem, ibidem.
10
A dialética entre o antigo e o novo na atuação da arquiteta Lina Bo Bardi: interfaces entre arquitetura, museologia e restauração
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HUET, B. apud BARONE, Ana Claudia Castilho. Team 10: arquitetura como crítica. São Paulo: Annablume; Fapesp,
2002, p.46-47.
15
KUHL, Beatriz Mugayar. História e Ética na Conservação e na Restauração de Monumentos Históricos. In: Revista
CPC, São Paulo, v.1, n.1, p.16-40, nov. 2005/abril.,2006.
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A dialética entre o antigo e o novo na atuação da arquiteta Lina Bo Bardi: interfaces entre arquitetura, museologia e restauração
Não significa que Lina desconheça as modificações no campo da Teoria da Restauração nem
que ignore as metodologias do campo. Constantemente, a arquiteta apropria-se das metodologias
conforme as necessidades momentâneas. Antes mesmo da publicação da Carta de Veneza a
arquiteta concede uma entrevista especificando exatamente seu conhecimento sobre o as
mudanças no campo da restauração ao explicar as ações no Solar do Unhão (1963).16 A partir das
afirmações no texto verifica-se que Lina mantém-se atualizada em relação às novas proposições
enfrentadas pela teoria do restauro arquitetônico, o que possivelmente deve-se à interlocução
constante que a arquiteta mantinha com seu amigo Bruno Zevi, historiador e crítico atuante no
ambiente italiano, num momento em que essas idéias vinham sendo elaboradas por teóricos como
Renato Bonelli e Roberto Pane.
É neste contexto que Lina mergulha na busca da tradição popular brasileira. O popular para
Lina é tudo o que se relaciona com os problemas reais de determinado tipo de vida, portanto
honesto com as necessidades reais do homem. É essa a herança que Lina quer conservar,
16
SALVADOR. Museu salva a cultura da Bahia e o passado pela fé. Salvador, 21 de setembro de 1963 (artigo
encontrado no arquivo do Solar do Unhão).
17
WISNIK, Guilherme. Lina Bo Bardi: a interpretação cultural do Brasil ‘pós-Brasília´. Folha de São Paulo, Caderno
Ilustrada, quarta-feira, 11 de janeiro de 2006.
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herança vista como algo construído pela necessidade presente, totalmente oposta ao folclore
(herança estática e regressiva). Há, conseqüentemente, um sentido de permanência, de
continuidade da tradição implícita na produção moderna - entenda-se aqui por tradição aquilo que
provém muito mais das condições imateriais: da necessidade e do saber fazer. Portanto, a
retroversão tem um propósito claro, racional e objetivo em relação à revisão do presente. Com isso,
mais uma vez é possível afirmar que o diálogo entre o antigo e o novo no trabalho de Lina se dá
muito mais através desta luta lançada em busca de um país moderno e original, ou seja, muito
mais pela experiência do que por uma abordagem vinda de uma trajetória acadêmica.
Portanto, somado ao problema da nova sensibilidade e do método colocados até aqui, Lina
traça um caminho entre o popular e o erudito.18 A busca por uma cultura autêntica e ao mesmo
tempo moderna é relevada no sentido do uso cotidiano espontâneo. Nesta visão, a preservação do
patrimônio cultural ganha sentido na apropriação dos valores e significações próprias em
permanentemente modificação que a população estabelece com suas dinâmicas cotidianas. O
passado herdado é traduzido através da análise das “práticas sociais”.19 É neste sentido que se
considera Lina um personagem atuante no âmbito cultural, muito mais do que apenas ligada às
questões inerentes apenas à arquitetura.
18
Pode-se dizer que a preocupação de Lina Bo Bardi em resolver a questão da indústria e o artesanato inicia-se com o
contato com Giò Ponti e o contexto italiano. Os números relativos aos anos de 1950 da Revista Habitat trazem uma
amostra destas preocupações. Sobre o tema destaca-se também: CAMPELLO, Maria de Fátima.Op.cit., p.38-39;
ROSSETI, Eduardo Pierrotti. Op.cit.
19
ARANTES, Antonio Augusto. Paisagens Paulistanas. São Paulo: Imprensa Oficial, 2000.
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A dialética entre o antigo e o novo na atuação da arquiteta Lina Bo Bardi: interfaces entre arquitetura, museologia e restauração
uma cultura historicamente (em sentido áulico) pobre, pudesse lucidamente [...] apoiando -se
numa experiência popular [...] entrar no mundo da verdadeira cultura moderna.” 20
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20
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15
Raíssa Pereira Cintra de Oliveira
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