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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO


PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
DISCIPLINA: História do Tempo Presente – Historiografia e Metodologia
Professora: Dra. Márcia Ramos de Oliveira
Discente: Patrícia Carla Mucelin
PAPER: GABRIEL, Carmen T.; MONTEIRO, Ana Maria. Currículo de História e
Narrativa: desafios epistemológicos e apostas políticas. In: MONTEIRO, Ana Maria;
GABRIEL, Carmen T.; ARAUJO, Chinthia M.; COSTA, Warley (Orgs.). Pesquisa em
Ensino de História. Entre desafios epistemológicos e apostas políticas. Rio de Janeiro:
Mauad X: Faperj, 2014. p. 23-40.

Em seu artigo, Gabriel e Monteiro buscaram trabalhar com o conceito de


narrativa histórica para a compreensão dos processos envolvidos no ensino de história,
por meio de questões discutidas no campo do Currículo. As autoras dividiram o texto
em três partes: primeiramente procuraram discutir o conceito de narrativa ressignificado
no campo da História; em segundo lugar, buscaram discutir o conceito de narrativa no
campo do ensino de História e pelas contribuições do campo do Currículo e da Didática;
na ultima parte do texto procuraram avaliar as possibilidades de análise abertas pela
utilização do conceito de narrativa para a compreensão de questões e impasses no
ensino de História (GABRIEL e MONTEIRO, 2014, p. 27).
As autoras afirmam que até época relativamente recente, a História narrativa era
condenada, ou seja, havia um combate à função da narrativa na representação histórica
em nome do rigor científico que privilegiava a modalidade analítica e estrutural, por
parte da primeira geração da escola dos Annales. Hartog apontou que aqueles que
defendiam a história científica, condenavam a maneira como essa história concebia o
acontecimento, o fato, o tempo e o sujeito histórico sem problematizar a noção de
narrativa. As autoras criticam algumas das correntes históricas mais recentes que
tendem a se basear no paradigma narrativista na perspectiva pós-moderna, pois tendem
a se basear no retorno do acontecimento e do indivíduo para anunciar o retorno da
narrativa e o termo “narrativa” permanece sem ser questionado, sendo utilizado apenas
para descrever o processo contrário ao da História Científica.
Para Gabriel e Monteiro é necessário desfazer a confusão semântica entre
narrativa histórica e História narrativa. Para elas a narrativa histórica possui uma
“fertilidade” teórico-metodológica, pois a noção de narrativa deve ser apreendida não
apenas como estilo da escrita histórica, mas também como elemento constitutivo desse
saber.
Esses debates no âmbito da história repercutiram no ensino da disciplina escolar
História, em diversos países, no Brasil os professores procuraram agregar metodologias
de ensino que incorporassem a perspectiva de “História-problema” para qualificar seu
trabalho aproximando-o da perspectiva da história científica e analítica. Neste momento
a História narrativa representava uma perspectiva a ser superada. O entendimento da
possibilidade de elaboração de discursos que possibilitassem diferentes leituras de uma
mesma realidade ou que eles configuram diferentes realidades estava e ainda está, para
as autoras, longe dos debates para a proposta de ensino da disciplina escolar (GABRIEL
e MONTEIRO, 2014, p. 32).
As novas contribuições da Sociologia do currículo e da Didática só passaram a
ser discutidas e difundidas no Brasil a partir dos anos 1990. Os estudos em História do
Currículo demandaram a articulação da perspectiva histórica com as perspectivas
sociológica e epistemológica, para estudá-lo como um conjunto de conhecimentos
selecionados e transmissão de conhecimentos. O conceito de conhecimento escolar e de
transposição didática contribui para que ocorra um diálogo contínuo e não hierarquizado
entre a Teoria da História e a historiografia para a sua renovação. Essa perspectiva
permite superar o mito da discrepância entre o conhecimento científico e o escolar.
A noção de narrativa oferece elementos para se pensar na produção de
conhecimentos escolares na disciplina histórica, para esclarecer processos e dificuldades
considerados instransponíveis. Assim, a narrativa é pensada no ensino de História de
maneira atualizada e contribui para que os alunos possam compreender a diversidade de
experiências das diversas sociedades humanas através de uma perspectiva crítica e
transformadora.
Repensar a questão do tempo no ensino de História é uma questão de dificuldade
epistemológica pressuposta pela reelaboração didática. Por conseguinte as autoras se
perguntam como é possível quebrar a linearidade da historiografia tradicional e ainda
assim permitir a inteligibilidade da história ensinada? Elas respondem que o professor
de história não pode perder de vista o “fio da meada” que traduz a permanente busca de
sentido. “Questionar, problematizar o presente vivido pelos alunos, passa a ser
percebido como condição sine qua non da inteligibilidade narrativa inerente ao ensino
de História” (GABRIEL e MONTEIRO, 2014, p. 37). Para as autoras, não podemos nos
limitar a pensar apenas na seleção de tramas a narrar, mas também em como transpor a
estrutura narrativa, inerente a toda forma de saber, para a esfera do ensino para
possibilitar a sua aprendizagem. Como, afinal, podemos articular o conceito
epistemológico de narrativa histórica com a prática do ensino de História? Seria através
do ensino da história da historiografia e dos conceitos de história?

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