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Um espaço de Banach

não isomorfo
ao conjugado complexo

Wilson Albeiro Cuellar Carrera

Dissertação apresentada
ao
Instituto de Matemática e Estatística
da
Universidade de São Paulo
para
obtenção do título
de
Mestre em Ciências

Programa: Matemática
Orientador: Prof. Dr. Valentin Raphael Henri Ferenczi

Durante o desenvolvimento deste trabalho o autor recebeu auxílio financeiro do CNPq

São Paulo, Fevereiro de 2011


Um espaço de Banach
não isomorfo
ao conjugado complexo

Esta versão definitiva da dissertação


contém as correções e alterações sugeridas pela
Comissão Julgadora durante a defesa realizada
por Wilson Albeiro Cuellar Carrera em 25/02/2011.

Comissão Julgadora:

• Profa. Dr. Valentin Raphael Henri Ferenczi (orientador) - IME-USP


• Prof. Dr. Eloi Medina Galego - IME-USP
• Prof. Dr. Jorge Tulio Mujica Ascui - UNICAMP
Agradecimentos

Agradeço inicialmente ao meu orientador, o Prof. Dr. Valentin Ferenczi, pela sua dedi-
cação e disposição para todas as minhas consultas.

A minha família pelo incentivo e apoio em todo momento.

Aos amigos e colegas do instituto pela atitude amável e integradora.

Agradeço o apoio financiero do CNPq através da bolsa de mestrado.

i
ii
Resumo

Neste trabalho fazemos um estudo do conceito de soma torcida de F -espaços. Apresen-


tamos algumas propriedades e simplificações na construção de somas torcidas de F -espaços
localmente limitados. Em particular, estudamos uma condição suficiente para que uma soma
torcida de espaços de Banach seja um espaço de Banach. Finalmente aplicamos esses con-
ceitos para definir o espaço construído por N. J. Kalton [Kal95], que é um exemplo de um
espaço de Banach não isomorfo ao conjugado complexo. Este espaço X de Kalton corres-
ponde a uma soma torcida de espaços de Hilbert, isto é, X possui um subespaço fechado E
tal que E e X/E são isomorfos a espaços de Hilbert.
Palavras-chave: Estruturas complexas, Somas torcidas, Espaços de Banach.

iii
iv
Abstract

In this work we study the concept of twisted sum of F -spaces. We present some properties
and simplifications in the construction of twisted sums of locally bounded F -spaces. In
particular, we study a sufficient condition for a twisted sum of Banach spaces to be a Banach
space. Finally we apply these concepts to define the space constructed by N. J. Kalton
[Kal95], which is an example of a Banach space not isomorphic to its complex conjugate.
The Kalton space X is a twisted sum of Hilbert spaces, i.e. X has a closed subspace E such
that E and X/E are isomorphic to Hilbert spaces.
Keywords: Complex structure, Twisted sums, Banach spaces.

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vi
Sumário

1 Resultados preliminares 3
1.1 Conceitos e notações básicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Espaços vetoriais topológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.3 Espaços Quase-normados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.4 Decomposição de Schauder . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2 Somas torcidas 25
2.1 Somas torcidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.2 Propriedades preservadas pelas somas torcidas . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.3 Somas torcidas de espaços de Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.4 Simplificações na construção de somas torcidas . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

3 Exemplo de um espaço de Banach não isomorfo a seu conjugado complexo 57


3.1 Construção do espaço Z2 (α) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.2 Propriedades do espaço Z2 (α) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.3 Isomorfismos entre os espaços Z2 (α) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

Referências Bibliográficas 73

vii
viii SUMÁRIO
Introdução

Um resultado clássico de S. Mazur e S. Ulam [MU32] estabelece que dois espaços de Ba-
nach reais que sejam isométricos devem ser R-linearmente isométricos. A pergunta natural é
se esse resultado pode-se estender ao caso complexo. Dado um espaço de Banach complexo
X, o espaço mais simples que é R-linearmente isométrico a X é o espaço conjugado X de X,
que está definido como o espaço X munido com a lei escalar λ x = λx em vez de λx. Em
1986 J. Bourgain [Bou86] exibiu dois espaços de Banach que são linearmente isométricos
como espaços reais, porém não isomorfos como espaços complexos. Mais especificamente,
Bourgain construiu, usando técnicas probabilísticas, um espaço de Banach não isomorfo ao
conjugado. Desta forma, o resultado de Mazur-Ulam não é válido no caso complexo. Uma
construção mais explícita de um espaço não isomorfo ao conjugado foi obtida por N. J.
Kalton [Kal95] mediante somas torcidas. O objetivo deste trabalho é apresentar o espaço de
Kalton, que é uma soma torcida de `2 com `2 .

Este trabalho está dividido em três capítulos. No capítulo 1, estabelecemos a notação


e os conceitos fundamentais, começando com as propriedades gerais dos espaços vetoriais
topológicos(e.v.t), em particular mostramos uma condição necessária e suficiente para que
um e.v.t seja normalizável. Vamos centrar a nossa atenção nos espaços localmente limitados
e sua correspondência com os espaços quase-normados. Demonstramos o teorema de Aoki-
Rolewicz que estabelece que todo espaço localmente limitado é localmente p-convexo para
algum p(0 < p ≤ 1). Também estudamos a noção de espaço de Banach com decomposição de
Schauder. Estabelecemos um teorema de ’blocking’ para operadores contínuos entre espaços
com decomposição contrátil.

No capítulo 2, fazemos um estudo das somas torcidas em F -espaços. Listamos algumas


propriedades que são preservadas pelas somas torcidas, tais como ser reflexivo, localmente
limitado, completo, separável entre outras. Mostramos que toda suma torcida é gerada por
um operador quase-linear. Escrevemos para o caso complexo a simplificação na construção
de aplicações quase-lineares dada por Kalton e Peck [KP79]. Em particular, usando este
procedimento obtemos um método para construir somas torcidas em espaços de sequências.
Por um exemplo de Ribe [Rib79] existe uma soma torcida de espaços de Banach que não
é um espaço de Banach. Para resolver isso é introduzido o conceito de B-convexidade e é
provado um teorema de Kalton [Kal78] que estabelece que toda soma torcida de espaços de

1
2 SUMÁRIO 0.0

Banach B-convexos é um espaço de Banach B-convexo.

No capítulo 3, utilizando as técnicas obtidas na construção de somas torcidas em espaços


de sequências, apresentamos os espaços de Kalton [Kal95] Z2 (α) (α ∈ (−∞, ∞)) que são
isomorfos a somas torcidas de `2 com `2 . Provamos que o conjugado de Z2 (α) é isomorfo a
Z2 (−α) e, por último estabelecemos que Z2 (α) é isomorfo a Z2 (α0 ) somente se α = α0 . Com
isto Z2 (α) não é isomorfo ao conjugado complexo quando α 6= 0.
Capítulo 1

Resultados preliminares

Neste capítulo apresentamos definições e resultados básicos que utilizaremos no decorrer


deste trabalho. Em particular, introduzimos o conceito de quase-norma e observamos que
um espaço vetorial topológico é localmente limitado se, e somente se, a topologia é gerada
por uma quase-norma. Demonstramos o resultado clássico de Aoki-Rolewicz que induz uma
métrica invariante em cada espaço localmente limitado. Quando essa métrica é completa,
obtemos exemplos de F -espaços localmente limitados e será nesse tipo de espaços que defi-
niremos somas torcidas no capítulo 2.
Na última seção abordaremos alguns resultados envolvendo espaços com decomposição de
Schauder contrátil. Esses resultados serão fundamentais no estudo do espaço de Kalton que
será definido no capítulo 3.

1.1 Conceitos e notações básicas


Denotaremos por N o conjunto dos números naturais, por R o conjunto dos números
reais e por C o conjunto dos números complexos. Em geral escreveremos K para denotar R
ou C de acordo ao contexto. Dado um número real α, a parte inteira de α será escrita como
[α].

Denotaremos por c00 (K) o conjunto das sequências sobre o corpo K, tais que suas coor-
denadas são todas zero, exceto um número finito.

Seja X um espaço vetorial sobre um corpo K, denotaremos por idX a função identidade
de X, isto é, a aplicação idX : X → X definida por idX (x) = x para todo x ∈ X.

Definição 1.1. Sejam X1 e X2 subespaços de um espaço vetorial X sobre um corpo K.


Dizemos que X é soma direta algébrica de X1 e X2 , e escrevemos X = X1 ⊕X2 , se X1 ∩X2 =
∅ e cada x ∈ X pode ser escrito da forma x = x1 + x2 onde x1 ∈ X1 e x2 ∈ X2 .

3
4 RESULTADOS PRELIMINARES 1.1

Teorema 1.2 (Lema de Zorn). Seja P um conjunto não vazio parcialmente ordenado com
a propriedade que todo subconjunto totalmente ordenado de P possui uma cota superior em
P . Então P contém pelo menos um elemento maximal.

Segue do Lema de Zorn que todo espaço vetorial possui uma base de Hamel, ou seja,
uma família geradora e linearmente independente. De modo mais geral, temos o seguinte:

Teorema 1.3. Sejam X um espaço vetorial sobre um corpo K e E um subconjunto de X


linearmente independente. Então existe uma base de Hamel B de X tal que E ⊆ B.

Os seguintes três lemas são consequências do teorema anterior.

Lema 1.4. Sejam X um espaço vetorial e X1 um subespaço de X. Então existe um subespaço


X2 de X, tal que X = X1 ⊕ X2 .

Lema 1.5. Sejam X e Y espaços vetoriais e Te : X0 → Y uma aplicação linear definida em


X0 um subespaço vetorial de X. Então existe uma extensão linear T : X → Y , isto é, T é
uma aplicação linear tal que T (x) = Te(x) para todo x ∈ X0 .

Lema 1.6. Seja T : X → Y uma aplicação linear sobrejetora entre espaços vetoriais X e
Y . Então existe uma aplicação linear S : Y → X tal que T ◦ S = idY .

Sejam X um espaço vetorial sobre um corpo K e A e B subconjuntos de X. Indicaremos


por spanA o subespaço gerado por A em X. A + B será o conjunto de todas as somas de
elementos de A e B, ou seja, A + B = {x + y; x ∈ A, y ∈ B}. No caso B = {x}, escreve-
remos simplesmente A + B = A + x. Para cada λ ∈ K definimos λA = {λx; x ∈ A}.

Definição 1.7. A envoltória convexa de um subconjunto C de um espaço vetorial X é o


conjunto
( n
)
X
α1 x1 + · · · + αn xn ∈ X : αi = 1; αi ≥ 0, xi ∈ C para cada i = 1, . . . , n .
i=1

Ou seja, a envoltória convexa de C é o conjunto de todas as combinações convexas de um


número finito de elementos de C.

Definição 1.8. Seja (X, d) um espaço vetorial métrico, dizemos que d é invariante, se
d(x + a, y + a) = d(x, y) para todo x, y, a ∈ X.

Seja (X, d) um espaço vetorial métrico, definimos para cada x0 ∈ X e r > 0 a bola aberta
centrada em x0 e rádio r como o conjunto Br (x0 ) = {x ∈ X, d(xo , x) < r}, em particular
B1 (0) é a bola aberta unitária e BX = {x ∈ X, d(0, x) ≤ 1} é a bola fechada unitária.
1.1 CONCEITOS E NOTAÇÕES BÁSICAS 5

Num espaço métrico a topologia gerada pela métrica ao considerar um aberto como união
de bolas abertas, é chamada de topologia induzida pela métrica.

Seja (X, τ ) um espaço topológico, se a topologia τ é gerada por uma métrica d, então
dizemos que τ e d são compatíveis.

Seja X um espaço normado. A métrica d induzida pela norma é definida por d(x, y) =
kx − yk. A topologia em X obtida pela métrica induzida será chamada de topologia gerada
pela norma.

Definição 1.9. Dizemos que um espaço topológico X é normalizável se existe uma norma
em X tal que a topologia em X coincide com a topologia gerada pela norma.

Um espaço topológico X é chamado Hausdorff, se para todo par de elementos distintos


x, y ∈ X existem abertos U e V , contendo a x e y, respetivamente, tais que U ∩ V = ∅.

Vamos denotar por M e M o o fecho e o interior, respetivamente, de um subconjunto M


de um espaço topológico X.

Definição 1.10. Um subconjunto M de um espaço topológico X é chamado magro em X


se (M )o = ∅

Definição 1.11. Um espaço topológico é de Baire, se não é união enumerável de conjuntos


magros.

Teorema 1.12 (Baire). Todo espaço métrico completo, não vazio, é de Baire.

Demonstração. [Meg98].

Seja X um espaço normado, vamos denotar por X ∗ o espaço dual de X, isto é, o espaço
(de Banach) de todas as aplicações lineares contínuas f : X → K, munido com a norma
kf k = supx∈BX |f (x)| para f ∈ X ∗ . Denotamos por X ∗∗ o espaço dual de X ∗ .

Definição 1.13. Sejam X e Y espaços vetoriais normados. Se T : X → Y é uma aplicação


linear contínua então o operador transposto de T é o operador T ∗ : Y ∗ → X ∗ , definido por
(T ∗ (g))(x) = g(T (x)), para todo g ∈ Y ∗ e todo x ∈ X.

Lema 1.14. Seja T : X → Y é uma aplicação linear contínua entre espaços normados X e
Y . Então o operador transposto de T é contínuo e kT ∗ k = kT k.

Demonstração. [Meg98].
6 RESULTADOS PRELIMINARES 1.1

Teorema 1.15 (Hahn-Banach). Seja X um espaço vetorial normado sobre K. Seja M um


subespaço de X e seja g uma função a valores reais sobre X com as seguintes propriedades:

1. g(x + y) ≤ g(x) + g(y) para todo x, y ∈ X;

2. g(αx) = |α| g(x) para todo α ∈ K e x ∈ X.

Se f : M → R é uma aplicação linear contínua sobre M tal que |f (m)| ≤ g(m) para todo
m ∈ M , então existe um funcional F ∈ X ∗ tal que F (x) = f (x) para cada x ∈ M e
|F (x)| ≤ g(x) para todo x ∈ X.

Para cada x0 ∈ X a aplicação Q(x0 ) : X ∗ → K dada por Q(x0 )(f ) = f (x0 ), para
todo f ∈ X ∗ , é uma aplicação linear contínua tal que kQ(x0 )k = kx0 k. Logo a função
Q : X → X ∗∗ , que a cada x0 ∈ X associa Q(x0 ) como antes, é uma isometria linear sobre
um subespaço de X ∗∗ .

Definição 1.16. O espaço normado X é chamado reflexivo se a aplicação Q é sobrejetora.

Dado um subconjunto M de um espaço normado X, M ⊥ denotará o conjunto de funci-


onais lineares f ∈ X ∗ tais que f (m) = 0 para todo m ∈ M . M ⊥ é chamado de anulador de
M . M ⊥⊥ ⊆ X ∗∗ representa o anulador de M ⊥ .

Seja X um espaço normado e M um subespaço fechado de X. Denotaremos por X/M o es-


paço normado quociente {x + M : x ∈ X} com a norma kx + M k = inf {kx − mk : m ∈ M }.

Lema 1.17. Seja M um subespaço de um espaço vetorial normado X. Então

(a) X ∗ /M ⊥ é isométrico a M ∗ pela aplicação S : X ∗ /M ⊥ → M ∗ definida por S(f + M ⊥ ) =


f |M , onde f + M ⊥ ∈ X ∗ /M ⊥ e f |M é a restrição de f a M.

(b) Se M é fechado (e então X/M é um espaço vetorial normado) então (X/M )∗ é isomé-
trico a M ⊥ pela aplicação T : M ⊥ → (X/M )∗ definida por T (m⊥ )(x + M ) = m⊥ (x).

Demonstração. [Meg98].

Lema 1.18. Sejam X um espaço normado e M um subespaço de X. Se Q é a aplicação


canônica de X em X ∗∗ , então M é reflexivo se, e somente se, Q(M ) = M ⊥⊥ .

Demonstração. [Meg98].

Definição 1.19. Seja X um espaço normado


A topologia fraca (w) em X é a topologia gerada pela base formada pelos conjuntos

O = {x ∈ X; |fi (x − x0 )| <  para i = 1, . . . , n}


1.2 ESPAÇOS VETORIAIS TOPOLÓGICOS 7

para todas as escolhas de x0 ∈ X, f1 , . . . , fn ∈ X ∗ e  > 0.


Analogamente, a topologia fraca estrela (w∗ ) no espaço dual X ∗ de X é generada pelos
conjuntos
O∗ = {f ∈ X ∗ ; |(f − f0 )(xi )| <  para i = 1, . . . , n}

para todas as escolhas de f0 ∈ X ∗ , x1 , . . . , xn ∈ X e  > 0.

Lema 1.20. Seja X um espaço normado.

w∗
(a) Sejam f, f1 , f2 . . . ∈ X ∗ . Então fn −→ f se, e somente se, limn→∞ fn (x) = f (x) para
todo x ∈ X.
w
(b) Sejam x, x1 , x2 . . . ∈ X. Então xn −
→ x se, e somente se, limn→∞ f (xn ) = f (x) para todo

f ∈X .

Demonstração. Ver [Fea01]

Teorema 1.21 (Mazur). Seja X um espaço de Banach e E ⊆ Xun subconjunto convexo de


X. Então E é fechado em relação à topologia fraca se, e somente se, E é fechado em relação
à topologia da norma.

Demonstração. Ver [Fea01]

Teorema 1.22 (Aplicação aberta). Sejam X e Y espaços de Banach. Se T : X → Y é um


operador linear contínuo sobrejetor, então T é uma aplicação aberta, isto é, T leva qualquer
conjunto aberto sobre um conjunto aberto.

Definição 1.23. Seja X um espaço de Banach complexo, o conjugado X de X é definido


como o espaço X munido com a lei escalar λ x = λx em vez de λx. Assim o conjugado
de X é sempre R-linearmente isométrico a X.

1.2 Espaços vetoriais topológicos


Um espaço vetorial topológico é um espaço vetorial X sobre um corpo K = R ou C,
munido com uma topologia τ tal que

1. cada ponto de X é um conjunto fechado;

2. as operações do espaço vetorial são contínuas em relação a τ

Isto é, para cada x ∈ X o conjunto X − {x}, complementar de x, é aberto, e as operações:

X × X 3 (x, y) → x + y ∈ X; K × X 3 (k, x) → kx ∈ X
8 RESULTADOS PRELIMINARES 1.2

são contínuas, onde os espaços X × X e K × X estão munidos da topologia produto.

É claro que as funções

Ta (x) = x + a, a ∈ X; Mλ (x) = λx, λ ∈ K, λ 6= 0

são homeomorfismos de X. Assim, um conjunto E é aberto se e somente se, E + a é aberto.


Em consequência, para determinar τ é suficiente definir as vizinhanças de 0. Dizemos que U
é uma base local de 0, ou simplesmente uma base local, se cada U ∈ U é um aberto contendo
0, e cada vizinhança de 0 contem um elemento de U.

Lema 1.24. Todo espaço vetorial topológico é Hausdorff. Logo, se U é uma base local, então
T
U = {0}

Demonstração. [Rud73].

Definição 1.25. Seja (X, τ ) um espaço vetorial topológico e E um subconjunto de X, então

(a) E é convexo se quaisquer que sejam x, y ∈ E, e t ∈ [0, 1], tem-se tx + (1 − t)y ∈ E .

(b) E é limitado se para cada vizinhança U de 0, existe t > 0 tal que E ⊆ sU para todo
s > t.

(c) E é equilibrado se quaisquer que sejam λ ∈ K com |λ| ≤ 1, e x ∈ E, tem-se que


λx ∈ E

(d) E é absorvente se para cada x ∈ X, existe t = t(x) > 0 tal que x ∈ tE

As seguintes propriedades dos anteriores tipos de conjuntos são simples de provar. Para
os detalhes sugerimos o livro de Rudin [Rud73].

Lema 1.26.

(a) O interior e o fecho de um conjunto convexo são convexos.

(b) O fecho da soma de dois conjuntos contém a soma dos fechos destes dois conjuntos.

(c) O fecho de um conjunto equilibrado é equilibrado.

(d) Se o interior de um conjunto equilibrado contém 0, então ele é equilibrado.

(e) A soma e união finita de conjuntos limitados é limitado.

Definição 1.27. Seja (X, τ ) um espaço vetorial topológico

(a) X é localmente convexo se existir uma base local U de conjuntos convexos.

(b) X é localmente limitado se 0 possui uma vizinhança limitada.


1.2 ESPAÇOS VETORIAIS TOPOLÓGICOS 9

(c) X é metrizavél se τ é gerada por alguma métrica d.

(d) X é F-espaço se a topologia é induzida por uma métrica completa invariante d.

(e) X é um espaço de Fréchet se X é um F-espaço localmente convexo.

Lema 1.28. Seja X um espaço vetorial topológico

(a) Toda vizinhança de 0 contém uma vizinhança equilibrada de 0.

(b) Toda vizinhança convexa de 0 contém uma vizinhança convexa equilibrada de 0.

Demonstração. (a) Seja U uma vizinhança de 0 em X. Pela continuidade da multiplicação


por escalar, existe δ > 0 e uma vizinhança V de 0, tal que para todo α com |α| < δ temos
S
αV ⊆ U . Escrevamos W = |α|<δ αV , assim W é uma vizinhança de 0 contida em U e é
equilibrada, pois |λ| ≤ 1 implica que λαV ⊆ W se |α| < δ.
T
(b) Seja U uma vizinhança convexa de 0. Definamos A = αU , onde a intersecção é
tomada sobre todos os escalares α de valor absoluto 1. Pela parte (a) seja W uma vizinhança
equilibrada de 0. Observemos que α−1 W ⊆ W se |α| = 1, logo W ⊆ αW ⊆ W e assim
α−1 W = W . Portanto W ⊆ αU para todo |α| = 1, isto é, W ⊆ A. Assim o interior de A(Ao )
é uma vizinhança de 0. A é convexo pois é intersecção de convexos, e pelo lema (1.26),
Ao é convexo. Falta observar que Ao é equilibrado, para isto é suficiente mostrar que A é
equilibrado. Seja λ ∈ K tal que |λ| ≤ 1, então λ = rβ onde 0 ≤ r ≤ 1 e |β| = 1

\ \
rβA = rβαU = rαU
|α|=1 |α|=1

agora, αU é convexo e contem 0, logo rαU ⊆ αU , e assim λA ⊆ A,com isto A é equilibrado.

Observação 1.29. Todo espaço vetorial topológico possui uma base local de conjuntos equi-
librados.
Todo espaço vetorial topológico localmente convexo possui uma base local de conjuntos con-
vexos e equilibrados.

Lema 1.30. Seja X um espaço vetorial topológico e V uma vizinhança de 0.

(a) Se 0 < r1 < r2 < · · · e rn → ∞ quando n → ∞, então



[
X= rn V.
n=1

(b) Se s1 > s2 > · · · e sn → 0 quando n → ∞ e V é limitada, então a colecção de conjuntos

{sn V : n = 1, 2, . . .}

é uma base local de 0.


10 RESULTADOS PRELIMINARES 1.2

Demonstração. (a). Fixemos x ∈ X. Resulta da continuidade da aplicação Mx : K → X


definida por Mx (λ) = λx que existe uma vizinhança W de 0 em K tal que Mx (W ) ⊆ V .
Portanto, para todo n suficientemente grande 1/rn ∈ W , assim (1/rn )x ∈ V ou x ∈ rn V
para todo n exceto um número finito.
(b). Seja U uma vizinhança de 0 em X. Se V é limitada, existe t > 0 tal que V ⊆ sU para
todo s > t. Se n é suficientemente grande tal que tsn < 1, temos V ⊆ (1/sn )U . Portanto U
contém todos, exceto um número finito dos conjuntos sn V .

Pela parte (a) do lema anterior segue-se que toda vizinhança de 0 é absorvente.

Vamos estabelecer uma condição necessária e suficiente para que um espaço vetorial to-
pológico seja normalizável, isto é, que a topologia seja induzida por una norma.
Considere E um subconjunto absorvente de X, o funcional de Minkowski µE de E está
definido por
µE (x) = inf t > 0 : t−1 x ∈ E

(x ∈ X).

É claro que µE (x) < ∞ para todo x ∈ X.

Lema 1.31. Seja E um conjunto convexo, equilibrado e absorvente num espaço vetorial
topológico X. Então

(a) µE (x + y) ≤ µE (x) + µE (y)

(b) µE (tx) = tµE (x), t ≥ 0

(c) µE (αx) = |α| µE (x), α ∈ K

Demonstração. Para cada x ∈ X, defina o conjunto

HE (x) = t > 0 : t−1 x ∈ E




HE (x) 6= ∅ pois A é absorvente. Suponha t ∈ HE (x) e s > t, dado que 0 ∈ E e que E é


convexo, então s ∈ HE (x)(s−1 x = s−1 t(t−1 x)+(1−s−1 t)0) ∈ E). Seja s > µE (x) e t > µE (y),
escrevamos u = s + t. Assim, s−1 x ∈ E e t−1 y ∈ E e de novo pela convexidade de E
s  
−1 t
−1
u (x + y) = (s x) + (t−1 y) ∈ E
u u
logo µE (x + y) ≤ u, o que prova (a). A propiedade (b) é clara a partir da definição.
Seja agora, α ∈ K, α = rβ onde r ≥ 0 e |β| = 1. Da prova do Lema (1.28), temos que se E
é equilibrado, então βE = E, isto mostra que µE (βx) = µE (x). Concluímos usando (b). que
µE (αx) = rµE (x) = |α| µE (x).

Teorema 1.32. Um espaço vetorial topológico X é normalizável se, e somente se, 0 possui
uma vizinhança aberta convexa e limitada.
1.2 ESPAÇOS VETORIAIS TOPOLÓGICOS 11

Demonstração. Se existe uma norma k.k compatível com a topología em X, então a bola
aberta unitária B1 (0) é convexa e limitada.
Reciprocamente, seja U uma vizinhança de 0 limitada e convexa. Pelo Lema (1.28), U contém
uma vizinhança V de 0 convexa e equilibrada. Definamos

kxk = µV (x) (x ∈ X)

É claro que V é limitada, logo por Lema (1.30)-(b), os conjuntos rV (r > 0) formam uma
base local para a topologia de X. Se x 6= 0 então x ∈
/ rV para algum r > 0(X é Hausdorff)
e assim kxk ≥ r, isto prova, junto com o Lema (1.31), que k.k define uma norma.
Dado que V é um aberto,
{x : kxk < r} = rV r > 0

em consequência a topologia da norma coincide com a topologia de X.

Agora observemos que o teorema da aplicação aberta é válida para F -espaços.

Teorema 1.33 (Teorema da aplicação aberta). Sejam X, Y F -espaços e T : X → Y uma


aplicação linear contínua sobrejetora. Então T é aberta.

Demonstração. Vamos mostrar que se V é uma vizinhança de 0 em X, então T (V ) contém


uma vizinhança de 0 em Y . Seja d a métrica completa invariante em X que é compatível
com a topologia. Se r > 0 é tal que Br (0) ⊆ V , definamos Vn = B2−n r (0) (n = 1, 2, . . .).
Vamos encontrar uma vizinhança W de 0 em Y tal que

W ⊆ T (V1 ) ⊆ T (V ) (1.1)

Dado que V2 − V2 ⊆ V1 , temos pelo Lema (1.26)

T (V2 ) − T (V1 ) ⊆ T (V2 ) − T (V2 ) ⊆ T (V1 ).

Portanto, para provar a primeira inclusão em (1.1) é suficiente mostrar que T (T (V2 )) tem
interior não vazio. Segue do Lema (1.30)-(a) que X = ∞
S
k=1 kV2 . Logo


[
Y = kT (V2 ).
k=1

Pelo teorema de Baire (1.12) existe k0 ∈ N tal que (k0 T (V2 ))o 6= ∅, dado que x → ko x é um
homeomorfismo de X, temos (T (V2 ))o 6= ∅. Notemos que o mesmo argumento mostra que
T (Vn ) é uma vizinhança de 0 para todo n ≥ 1.
Para mostrar a segunda inclusão em (1.1), fixemos y1 ∈ T (V1 ). Por indução vamos escolher
12 RESULTADOS PRELIMINARES 1.3

yn ∈ T (Vn ) e xn ∈ Vn . Suponha que yn já foi escolhido. Observemos que


 
yn − T (Vn+1 ) ∩ T (Vn ) 6= ∅

pois yn − T (Vn+1 ) é uma vizinhança de yn . Portanto, existe xn ∈ Vn tal que

T (xn ) = yn − T (Vn+1 ).

Definamos yn+1 = yn − T (xn ). Com isto, yn+1 ∈ T (Vn+1 ) e podemos continuar o processo.
Dado que d(xn , 0) < 2−n r (n ≥ 1), então as somas sn = x1 + · · · + xn formam uma sequência
de Cauchy. Com efeito, se n < m

m
! m
!
X X
d (sm , sn ) = d (sm − sn , sn − sn ) = d xk , 0 ≤ 2−k r
k>n k>n

e em consequência, d(sm , sn ) → 0 quando n, m → ∞. Como X é completo, seja x ∈ X o


limite da sequência (sn )n . Observemos que
m
X m
X
T xn = (yn − yn+1 ) = y1 − yn+1 .
n=1 n=1

Segue da continuidade de T que limn→∞ yn+1 = 0, pois yn+1 ∈ T (Vn+1 ). Concluímos que
y1 = T x ∈ T (V ). O que completa a demonstração.

Corolario 1.34. Sejam X, Y F -espaços e T : X → Y um operador linear contínuo sobre-


jetor. Então X/ ker T é isomorfo a Y .

Demonstração. A aplicação S : X/ ker T → Y , dada por S(x + ker T ) = T (x) é bijetora


e contínua entre F -espaços. Pelo teorema da aplicação aberta, a inversa de S é contínua,
portanto S é um isomorfismo.

1.3 Espaços Quase-normados


Consideremos X um espaço vetorial topológico localmente limitado, e seja V uma vi-
zinhança equilibrada e limitada de 0, fazendo analogia ao Teorema (1.32), estudemos o
funcional de Minkowski µV associado a V . Neste caso, µV não sempre é uma norma, mas
satisfaz as seguintes propriedades:

(Q1) µV (x) ≥ 0 para todo x ∈ X,

(Q2) Se µV (x) = 0, então x = 0,

(Q3) µV (αx) = |α| µV (x) para todo α ∈ K e x ∈ X,


1.3 ESPAÇOS QUASE-NORMADOS 13

(Q4) Existe K ≥ 1 tal que µV (x + y) ≤ K (µV (x) + µV (y)) para todo x, y ∈ X


T
(Q1) é claro por definição e (Q2) segue do fato que α>0 αV = {0}. (Q3) tem a mesma
prova que no Lema (1.31).
Dado que V + V é limitada, existe t > 0 tal que V + V ⊆ sV para todo s > t. Vamos
S
considerar K > 0 uma constante tal que λ∈[0,1] (λV + (1 − λ)V ) ⊆ KV . Sejam s > µV (x)
e t > µV (y) então x/s e y/t pertencem a V , o que implica

s x t y 1
+ = (x + y) ∈ KV
s+ts s+tt s+t

portanto x + y ∈ K(s + t)V e em consequência

µV (x + y) ≤ K (µV (x) + µV (y))

o que prova (Q4). Observamos que se V é convexa, a melhor constante é K = 1, e nesse


caso obtemos uma norma, tal como foi estabelecido no Teorema (1.32)
Agora observemos que a topologia em X pode ser determinada usando µV . Isto, porque
E = {x ∈ X : µV (x) ≤ 1} = V e os conjuntos αV , α > 0 formam uma base de de vizinhan-
ças de 0.

Uma aplicação que satisfaz as propriedades (Q1) até (Q4) é chamada de quase-norma.
Uma constante K em (Q4) chama-se módulo de concavidade.
Temos mostrado até aqui, que

Lema 1.35. A topologia de um espaço localmente limitado pode ser determinada por uma
quase-norma.

Também é válida a afirmação recíproca:

Lema 1.36. Seja X um espaço vetorial e k.k uma quase-norma em X. Então X é localmente
limitado com a topologia induzida por k.k

Demonstração. Consideremos E = {x ∈ X : kxk ≤ 1}. A coleção rE, r > 0, forma uma base
1 1
T
local de 0, de uma topologia Hausdorff, pois α>0 αE = {0}. Segue-se do fato 2K E + 2K E⊆
E(por Q4), que a topologia é compatível com a estrutura linear. Claramente E é limitado,
o que completa a prova.

Definição 1.37. Um espaço vetorial topológico chama-se quase normado se ele é localmente
limitado, o que é equivalente a dizer que a topologia é gerada por uma quase-norma.

Observação 1.38. Num espaço localmente limitado a quase-norma não é necessáriamente


uma função contínua em relação à topologia que gera. Assim, por exemplo, se (αn )n é uma
sequência de escalares convergente para um α ∈ K e x ∈ X tal que

kαn xk ≤ C, n∈N
14 RESULTADOS PRELIMINARES 1.3

para alguma constante C > 0, então

kαxk ≤ K (kαx − αn xk + kαn xk)


≤ K |α − αn | kxk + KC

portanto, kαxk ≤ KC, onde K é um módulo de concavidade da quase-norma.

De forma análoga ao caso de espaços normados, se X é um espaço quase-normado e M


é um subespaço fechado de X, então a topologia de X/M é determinada pela quase-norma

kuk = inf {kxk : π(x) = u}

onde π : X → X/M é a aplicação quociente. Com frequência usaremos a seguinte observação:


seja x ∈ X, nas condições anteriores, dado  > 0 existe y ∈ X com x + M = y + M tal que
kyk < kx + M k + .
Se T : X → Y é uma aplicação linear entre dois espaços quase-normados, observamos
facilmente, que T é contínua se

kT k = sup {kT xk : kxk ≤ 1} < ∞

Definição 1.39. Duas quase-normas |.| e k.k em X são equivalentes se existem constantes
0 < m ≤ M < ∞ tais que
m|x| ≤ kxk ≤ M |x|, x ∈ X.

Definição 1.40. Seja 0 < p ≤ 1. Um subconjunto C de um espaço vetorial X sobre K é


p-convexo se para todo x, y ∈ C, αx + βy ∈ C sempre que α ≥ 0, β ≥ 0 e αp + β p = 1. O
conjunto C é absolutamente p-convexo se αx + βy ∈ C, sempre que x, y ∈ C e α, β ∈ K
com |α|p + |β|p ≤ 1

Definição 1.41. Uma quase-norma k.k é p-subaditiva, 0 < p ≤ 1, se kx + ykp ≤ kxkp +kykp
para todo x, y ∈ X.

Definição 1.42. Um espaço X localmente limitado é localmente p-convexo (ou simplesmente


p-convexo), 0 < p ≤ 1, se possui uma vizinhança limitada absolutamente p-convexa de 0.

Agora vamos estabelecer o teorema de Aoki-Rolewicz: se X é um espaço localmente


limitado então X é p-convexo para algum p. Em termos de quase-normas(a demonstração
segue [KPR84] ):

Teorema 1.43 (Aoki-Rolewicz(1957)). Seja (X, k.k) um espaço quase-normado. Então exis-
tem números positivos p, L e uma quase-norma p-subaditiva |||.||| equivalente a k.k, tais que

n n
!1/p
X X
||| xi ||| ≤ L |||xi |||p
i=1 i=1
1.3 ESPAÇOS QUASE-NORMADOS 15

para todo n e x1 , . . . , xn ∈ X.

Demonstração. Seja K um módulo de concavidade de k.k, escrevamos ρ = 2K, assim


kx1 + x2 k ≤ ρ max {kx1 k , kx2 k} para todo x1 , x2 ∈ X. Seja 0 < p ≤ 1 tal que 21/p = ρ.
Definamos:  !1/p n 
 X n X 
|||x||| = inf kxi kp : xi = x
 
i=1 i=1

Então |||x||| ≤ kxk, logo k|xk| satisfaz (Q1),(Q2) e (Q3). Vejamos que |||.||| é p-subaditiva.
Dado  > 0, sejam ni=1 xi = x e m
P P
j=1 yj = y tais que

n
X
p
|||x||| +  > kxi kp
i=1
m
X
p
|||y||| +  > kyj kp
j=1

Logo |||x+y|||p ≤ (kxi kp + kyj kp ) < |||x|||p +|||y|||p +2. Como  era arbitrário, concluímos
P

que |||x + y|||p ≤ |||x|||p + |||y|||p .


Para provar (Q4), vamos demonstrar os seguintes dois fatos:
FATO 1. kx1 + · · · + xn k ≤ max1≤k≤n ρk kxk k, para todo n ∈ N.
A demonstração é por indução sobre n. O caso n = 2 é claro. Suponhamos que a fórmula é
valida para n > 2, então

kx1 + · · · + xn+1 k ≤ ρ max {kxi k , kx2 + · · · + xn+1 k}


 
k
≤ ρ max kxi k , max ρ kxk+1 k
1≤k≤n

= max ρk kxk k
1≤k≤n+1

isto completa o passo indutivo.


1/p
FATO 2. kx1 + · · · + xn k ≤ 41/p ( ni=1 kxi kp ) , para todo n ∈ N.
P

Definamos a função H : X → R por



2n/p se 2n−1/p < kxk ≤ 2n/p , n ∈ Z
H(x) =
 0 se x = 0

Logo kxk ≤ H(x) ≤ 21/p kxk. Vamos mostrar por indução que

kx1 + · · · + xn k ≤ 21/p (H(x1 )p + · · · + H(xn )p )1/p (1.2)


16 RESULTADOS PRELIMINARES 1.3

e em consequência

kx1 + · · · + xn k ≤ 21/p (2 kx1 kp + · · · + 2 kxn kp )


= 41/p (kx1 kp + · · · + kxn kp )

A fórmula (1.2) é clara para n = 1. Suponhamos que também é válida para n = m. Sejam
x1 , . . . , xm+1 ∈ X. Podemos supor kx1 k ≥ kx2 k ≥ · · · ≥ kxm+1 k. Vamos considerar dois
casos. O primeiro, se os elementos do conjunto {H(xi ) : 1 ≤ i ≤ m + 1} são todos distintos.
Neste caso, 21/p H(xj+1 ) ≤ H(xj ) para j = 1, . . . , m. Logo, H(x1 ) ≥ 2i−1/p H(xi ). Agora,

ρi kxi k ≤ 2i/p H(xi ) ≤ 21/p H(x1 )

e pelo FATO 1:

kx1 + · · · + xm+1 k ≤ 21/p H(x1 )


≤ 21/p (H(x1 )p + · · · + H(xm+1 )p )1/p

O segundo caso é quando H(xj ) = H(xj+1 ) para algum j, 1 ≤ j ≤ m. Então para algum
r∈Z

2r−1/p < kxj+1 k ≤ kxj k ≤ 2r/p

Portanto, H(xj + xj+1 )p ≤ 2r+1 = H(xj )p + H(xj+1 )p . Concluímos aplicando a hipótese de


indução:
 1/p
X
kx1 + · · · + xm+1 k ≤ 21/p  H(xi )p + H(xj + xj+1 )p 
i∈{j,j+1}
/

m+1
!1/p
X
≤ 21/p H(xi )p
i=1

e assim a prova do FATO 2 está completa. Este resultado implica que


 1/p
1
kxk ≤ |||x||| ≤ kxk
4
O que permite provar (Q4):

1/p
|||x1 + x2 ||| ≤ (kx1 kp + kx2 kp )
≤ 21/p (kx1 k + kx2 k)
≤ 21/p 41/p (|||x1 ||| + |||x2 |||)
= ρ3 (|||x1 ||| + |||x2 |||)
1.4 DECOMPOSIÇÃO DE SCHAUDER 17

Por último encontramos a constante L > 0:



n
X Xn
1/p
||| xi ||| ≤ xi ≤ 41/p (kx1 kp + · · · + kxn kp )


i=1 i=1

≤ 41/p (4|||x1 |||p + · · · + 4|||xn |||p )1/p


= 42/p (|||x1 |||p + · · · + |||xn |||p )1/p

Observação 1.44. Sejam (X, k.k) e (Y, |.|) dois espaços quase-normados. Segue da prova
do teorema de Aoki-Rolewicz, que podemos tomar o mesmo p ∈ (0, 1] tal que k.k e |.| sejam
equivalentes a quase-normas p-subaditivas. Com efeito, é suficiente tomar K um módulo
de concavidade comum para as quase-normas de X e Y e continuar a construção feita na
demonstração.

Definição 1.45. Seja X um espaço quase-normado. Consideremos pelo teorema de Aoki-


Rolewicz um p ∈ (0, 1] tal que a quase-norma em X seja equivalente a uma quase-norma k.k
p-subaditiva. Então
d(x, y) = kx − ykp

define uma métrica invariante em X.


O espaço quase-normado X é chamado de quase-Banach se X é completo em relação à
métrica d.

Observação 1.46. A definição anterior é independente de p pois as métricas obtidas para


diferentes p são equivalentes.

Teorema 1.47. Um espaço quase-Banach X é isomorfo a um espaço de Banach se, e


somente se, X possui uma base local de vizinhanças convexas.

Demonstração. É claro que se um espaço quase-Banach é isomorfo a um espaço de Ba-


nach, então 0 possui uma base local de vizinhanças convexas. Reciprocamente, se um espaço
quase-Banach X possui uma vizinhança convexa de 0, o Teorema (1.32) garanta que X é
normalizável e em consequência é isomorfo a um espaço normado completo, ou seja, um
espaço de Banach.

1.4 Decomposição de Schauder


Seja X um espaço de Banach. Uma sequência {Xn }∞ n=1 de subespaços fechados de X é
chamada uma decomposição de Schauder de X, se cada x ∈ X possui uma única represen-
tação da forma x = ∞
P
n=1 xn com xn ∈ Xn para todo n ∈ N. Neste caso usaremos a notação
X = Xn . Se dimXn < ∞ para todo n, então {Xn }∞
P
n=1 é chamada decomposição de Schau-
der finito-dimensional ou simplesmente F.D.D. Vamos chamar de k-F.D.D uma F.D.D tal
18 RESULTADOS PRELIMINARES 1.4

que dimXn = k para todo n ∈ N. Em particular, uma 1-F.D.D não é outra coisa do que
uma base de Schauder {xn }∞n=1 de X, onde Xn = span {xn } para cada n ∈ N.
Cada decomposição de Schauder {Xn }∞ n=1 de um espaço de Banach X determina uma
sequência de projeções {Pn }n=1 sobre X, definidas por Pn ( ∞
∞ P Pn
k=1 xk ) = k=1 xk que satis-
fazem o lema seguinte.

Lema 1.48. Seja {Xn }∞ n=1 uma decomposição de Schauder de um espaço de Banach X.
Então as projeções associadas Pn : X → X são contínuas e supn∈N kPn k < ∞.

O número supn∈N kPn k do lema anterior é chamado de constante da decomposição {Xn }∞


n=1 .
A prova deste lema é análoga à dada no caso 1-F.D.D. ou seja, quando temos uma base de
Schauder(ver [Fea01]).

Uma decomposição de Schauder {Xn }∞ n=1 de um espaço de Banach X é chamada con-


trátil, se para cada x∗ ∈ X ∗ temos limn→∞ kPn∗ x∗ − x∗ k = 0. Em particular, dizemos que
uma base de Schauder {xn }∞ n=1 de um espaço de Banach X é contrátil, se a decomposição

{Xn }n=1 é contrátil, onde Xn = span {xn }. A base de Schauder é chamada Pde limitadamente

P∞ k
completa se n=1 an xn converge para todos os escalares an tais que supk n=1 an xn < ∞.

Um teorema clássico caracteriza a reflexividade em espaços de Banach com base de Schau-


der(ver [Jam50]): X é reflexivo, se e somente se, a base é contrátil e limitadamente completa.
O resultado pode-se extender para decomposições de Schauder finito dimensionais, em par-
ticular vamos demonstrar o seguinte teorema.
P
Teorema 1.49. Seja X um espaço de Banach reflexivo e X = Xn uma F.D.D. Então a
decomposição {Xn }∞
n=1 é contrátil.

Demonstração. Para cada n ∈ N, o subespaço Xn tem dimensão finita, logo consideremos


e1 , . . . , enkn uma base de Xn . Assim, dado x ∈ X, x = ∞
 n P
n=1 xn onde

kn
X
xn = ani eni para ani ∈ K
i=1

A aplicação fin : Xn → K definida por fin (xn ) = ani é contínua, pois dimXn < ∞. Assim o
operador linear en∗ n∗ n
i : X → K , definido como ei (x) = ai é contínuo, já que

|en∗ n n
i (x)| = |fi (Pn − Pn−1 )(x)| ≤ kfi k 2K kxk

onde K é a constante da decomposição.


1.4 DECOMPOSIÇÃO DE SCHAUDER 19

Seja x∗ ∈ X ∗ , então para cada m

m
!
X
Pm∗ (x∗ )(x) = x∗ xn
n=1
m kn
!
X X
= x∗ ani eni
n=1 i=1
m X
X kn
= ani x∗ (eni )
n=1 i=1
Xm X kn
= x∗ (eni )en∗
i (x)
n=1 i=1

w∗
Agora mostremos que Pm∗ (x∗ ) −→ x∗ em X ∗ . Com efeito para cada x ∈ X

m
!
X
lim Pm∗ (x∗ )(x) = lim x∗ (Pn (x)) = lim x∗ xk
m→∞ m→∞ m→∞
k=1
m
!
X
= x∗ lim xk
m→∞
k=1

= x (x)

Portanto, usando o teorema de Mazur e a reflexividade de X


X ∗ = spanw
 k∗
ei
= spanw ek∗

i

= span ek∗

i

Assim, fica demonstrado que Pn∗ (x∗ ) → x∗ com a topologia da norma em X ∗ .

Vamos estabelecer um teorema sobre operadores contínuos em espaços de Banach com


F.D.D contrátil(usamos como referência [LT77]), para isto precisamos da seguinte definição

Definição 1.50. Sejam {Xn }∞ n=1 uma decomposição de Schauder de X e 1 = k1 < k2 < k3 <
. . . uma sequência crescente de números inteiros. Escreva Yi = Xki ⊕ Xki +1 ⊕ · · · ⊕ Xki+1 −1
(i = 1, 2, . . .). Então a decomposição {Yi }∞
i=1 de X é chamada um ’blocking’ da decomposição

{Xn }n=1 .

Teorema 1.51. Seja T : X → Y um operador linear limitado entre espaços de Banach X


e Y . Sejam {Bn }∞ ∞
n=1 uma decomposição F.D.D contrátil de X e {Cn }n=1 uma F.D.D de Y .
Dada {i }∞ 0 ∞
i=1 uma sequência de números positivos com limite 0, existem ’blockings’ {Bi }i=1
de {Bn }∞ 0 ∞ ∞ 0 0 0
n=1 e {Ci }i=1 de {Cn }n=1 tal que para cada x ∈ Bi , existe um y ∈ Ci−1 ⊕ Ci tal que
kT x − yk ≤ i kxk.
20 RESULTADOS PRELIMINARES 1.4

Demonstração. Sejam {Pn } e {Qn } as projecções associadas às decomposições de X e Y


respectivamente. A prova do teorema está baseada nos dois passos seguintes.
PASSO 1. Para cada  > 0 e cada n ∈ N, existe m ∈ N tal que se Pm (x) = 0 então
kQn T xk ≤  kxk.
No caso contrário, existiria um  > 0 e uma sequência {xk }∞ k=1 em X tal que kxk k = 1,
Pk (xk ) = 0 e kQn T xk k ≥  para todo k ∈ N. Pelo teorema de Hahn Banach, seja yk∗ ∈ (Qn Y )∗
com kyk∗ k = 1 e tal que
yk∗ (Qn T xk ) = kQn T xk k ≥ .

Como a dimensão de (Qn Y )∗ é finita então, passando a uma sub-sequência se for necessario,
existe ye∗ ∈ (Qn Y )∗ tal que
ye∗ = lim yk∗
k→∞

Também pelo teorema de Hahn Banach, estendemos a um funcional linear y ∗ ∈ Y ∗ com


ky ∗ k = 1. Se M = sup kQn k, seja N ∈ N tal que para todo k > N , ke
y ∗ − yk∗ k < /2M kT k.
Logo

|y ∗ (Qn T xk )| = |e
y ∗ (Qn T xk )|
≥ |yk∗ (Qn T xk )| − |(e
y ∗ − yk∗ )(Qn T xk )|
M kT k 
≥ − =
2M kT k 2

Escrevendo f = Q∗n y ∗ , a equação anterior fica |T ∗ f (xk )| ≥ /2. Logo para todo n suficiente-
mente grande

kPn∗ (T ∗ f ) − T ∗ f k ≥ |Pn∗ (T ∗ f xn ) − T ∗ f xn |
= |T ∗ f (xn )| ≥ /2

um absurdo, pois T ∗ f ∈ X ∗ e {Bn }∞ n=1 é contrátil.


PASSO 2. Para cada  > 0 e n ∈ N existe um inteiro m ∈ N tal que para todo x ∈ Pn X
temos kT x − Qm T xk ≤  kxk
Observemos da compacidade de SPn X = {x ∈ Pn X; kxk = 1} que dado δ > 0 existem
x1 , . . . , xn ∈ SPn X tais que para cada x ∈ SPn X e algum i ∈ {1, . . . , n}, kx − xi k < δ.
Sabemos que para cada i, limk→∞ Qk T xi = T xi . Então existe m ∈ N tal que

kT xi − Qk T xi k ≤ 
1.4 DECOMPOSIÇÃO DE SCHAUDER 21

para todo k > m. Assim, para x ∈ SPn X

kT x − Qm T xk ≤ kT x − T xi k + kT xi − Qm T xi k + kQm T xi − Qm T xk
≤ kT k δ + /2 + kQm k kT k δ
= /2 + (kT k + M kT k)δ

Logo, tomando δ = /2(kT k + M kT k), temos

kT x − Qm T xk ≤  kxk

para todo x ∈ Pn X.

Usando as observações anteriores, vamos construir duas sequências de inteiros 1 = m0 <


m1 < m2 < . . . e 1 = k0 < k1 < k2 < . . . da seguinte maneira: Pelo PASSO 1. existe m1 > 1
tal que se Pm1 x = 0 então kQk0 T xk ≤ 2 /2 kxk. Agora pelo PASSO 2. existe k1 > 1 tal que
se x ∈ Pm1 X, então kT x − Qk1 T xk ≤ 1 /2 kxk.

Continuando desta forma, para cada j > 1 seja mj > mj−1 tal que Qkj−1 T x ≤ j+1 /2 kxk
sempre que Pmj x = 0. Também, escolha kj > kj−1 tal que para cada x ∈ Pmj X, tem-se

T x − Qk T x ≤ j /2 kxk.
j

Assim para cada x ∈ Xmj−1 +1 ⊕ · · · ⊕ Xmj


T x − (Qk T x − Qk T x) ≤ T x − Qk T x + Qk T x
j j−2 j j−2

≤ j /2 kxk + j /2 kxk
= j kxk

observamos que Qkj T x − Qkj−2 T x ∈ Ykj−2 +1 ⊕ · · · ⊕ Ykj−1 ⊕ · · · ⊕ Ykj −1 . Portanto as sequên-


cias {1, m1 + 1, m2 + 1, . . .} e {1, k1 + 1, k2 + 1, . . .} determinam os ’blockings’ de X e Y
respectivamente pedidos no teorema.

Notamos na demonstração do teorema anterior, que para cada x ∈ Bi0 a existência de


0
y ∈ Ci−1 ⊕ Ci0 tal que kT x − yk ≤ i kxk depende linearmente de x. Logo o Teorema (1.51)
pode ser enunciado como:

Teorema 1.52. Seja T : X → Y um operador linear contínuo entre espaços de Banach X e


P P
Y . Sejam X = Xn uma F.D.D contrátil de X e Y = Yn uma F.D.D de Y . Então para
cada sequência (n )n com limite 0, existem sequências estritamente crescentes (mj )j e (kj )j
e aplicações lineares Tj : Xj0 → Yj−1
0
⊕ Yj0 tais que kT x − Tj xk ≤ j kxk para todo x ∈ Xj0 ,
onde Xj0 = Xmj−1 +1 ⊕ · · · ⊕ Xmj e Yj0 = Ymj−1 +1 ⊕ · · · ⊕ Ymj .
22 RESULTADOS PRELIMINARES 1.4

P
Lema 1.53. Sejam X e Y espaços de Banach e X = Xn uma decomposição de Schauder
de X. Seja ∞
P
n=1 n =  uma serie convergente de números reais não negativos. Se existem
aplicações lineares Tn : Xn → Y tais que kTn (xn )k ≤ n kxn k para todo xn ∈ Xn , então o
operador T (x) := ∞
P P
n=1 Tn (xn ), onde x = xn , está bem definido, é contínuo e kT k ≤ 2K

sendo K a constante da decomposição {Xn }n=1 .
P
Demonstração. Seja x ∈ X, vamos mostrar inicialmente que n Tn (xn ) converge. Suponha-
mos que kxn k ≤ 1 para todo n ∈ N. Assim

X ∞
X
kTn (xn )k ≤ n = 
n=1 n=1

logo como Y é de Banach, obtemos que ∞


P
n=1 Tn (xn ) converge. Para o caso geral, observemos
que
kxn k = k(Pn − Pn−1 )(x)k ≤ 2K kxk

assim, aplicamos o resultado anterior a xn /2K kxk e obtemos pela linearidade de Tn , que
P
n Tn (xn ) converge e

X ∞
Tn (xn ) ≤ 2K kxk


n=1

Agora é claro que T (λx) = λT (x) e T (x + y) = T (x) + T (y) para todo λ ∈ K e x, y ∈ X.


Assim, T : X → Y é um operador linear contínuo tal que kT k ≤ 2K.

Juntando os dois resultados anteriores, obtemos


P
Teorema 1.54. Sejam X e Y espaços de Banach, X = Xn uma F.D.D contrátil de X
P P∞
eY = Yn uma F.D.D de Y . Considere n=1 n =  uma serie convergente de números
reais positivos. Então dado um operador contínuo T : X → Y , existem ’blockings’ {Xn0 }∞
n=1
de {Xn }∞n=1 e {Y 0 ∞
}
n n=1 de {Y } ∞
n n=1 e um operador linear contínuo T
e : X → Y tais que
0
(a) Te(x) ∈ Yi−1 ⊕ Yi0 para todo x ∈ Xi0

(b) T (x) − Te(x) ≤ i kxk para todo x ∈ Xi0


(c) Te ≤ kT k + 

P
Corolario 1.55. Sejam X e Y espaços de Banach, X = Xn uma F.D.D contrátil de X
P P∞
eY = Yn uma F.D.D de Y . Considere n=1 n =  uma serie convergente de números
reais positivos. Então dado um operador contínuo T : X → Y , existem ’blockings’ {Xn0 }∞
n=1
∞ 00 ∞ ∞
de {Xn }n=1 e {Yn }n=1 de {Yn }n=1 e um operador contínuo T : X → Y tais que
e

(a) Te(x) ∈ Yn00 para todo x ∈ X2n


0
1.4 DECOMPOSIÇÃO DE SCHAUDER 23


(b) T (x) − T (x) ≤ n kxk para todo x ∈ Xn0
e


(c) Te ≤ kT k + 

0
Demonstração. Basta tomar Yn00 = Y2n−1 0
⊕ Y2n . Onde Te, {Xn0 }∞ 0 ∞
n=1 e {Yn }n=1 são obtidos pelo
teorema anterior.
24 RESULTADOS PRELIMINARES 1.4
Capítulo 2

Somas torcidas

Neste capítulo estudamos o conceito de soma torcida em F -espaços localmente limitados.


Mostramos que toda soma torcida está associada a um operador quase-linear e estudamos
simplificações na construção desse tipo de operadores.
Também abordamos o problema de somas torcidas de espaços de Banach, que por um exem-
plo exibido por Ribe [Rib79], nem sempre é um espaço de Banach. Para isto, será estudada
a propriedade de B-convexidade e demonstraremos que toda soma torcida de espaços de
Banach B-convexos é um espaço de Banach B-convexo.

2.1 Somas torcidas


Definição 2.1. Consideremos X e Y F -espaços. Uma soma torcida de X e Y é um F -espaço
Z que possui um subespaço X 0 isomorfo a X tal que Z/X 0 seja isomorfo a Y .

A maioria dos teoremas deste capítulo serão estabelecidos para F -espaços localmente
limitados. Esta classe de espaços é a mais geral e interessante para estudar somas torcidas,
pois nos F -espaços é válido o teorema da aplicação aberta e, como será demonstrado na
próxima secção, toda soma torcida de F -espaços localmente limitados é um F -espaço local-
mente limitado.
Usaremos a notação k.k para referirmos à quase-norma que gera a topologia do F -espaço
localmente limitado(Definição (1.37)).

Definição 2.2. Sejam X, Y e Z F -espaços. Vamos dizer que

j q
0→X→Z→Y →0

é uma sequência exata curta de F -espaços se existem aplicações lineares contínuas j : X → Z


e q : Z → Y tais que

• j é injetora.

• q é sobrejetora.

25
26 SOMAS TORCIDAS 2.1

• j(X) = ker q.

Lema 2.3. Sejam X, Y e Z F -espaços. Então Z é uma soma torcida de X e Y se, e somente
j q
se, existe uma sequência exata curta 0 → X → Z → Y → 0.

Demonstração. Suponhamos Z uma soma torcida de X e Y . Se X 0 é um subespaço de Z


tal que existem T : X → X 0 e S : Z/X 0 → Y isomorfismos lineares, então

T S◦π
0→X→Z → Y →0

é uma sequência exta curta, onde π : Z → Z/X 0 é a aplicação quociente.


j q
Reciprocamente, se 0 → X → Z → Y → 0 é uma sequência exata curta, temos que j(X)
é um subespaço fechado de Z, logo pelo teorema da aplicação aberta em F -espaços, X é
isomorfo a j(X) e Z/ ker q é isomorfo a Y . Portanto, escrevendo X 0 = j(X), obtemos que
X é isomorfo a X 0 e Z/X 0 é isomorfo a Y e assim, Z é soma torcida de X e Y .

Definição 2.4. Sejam X e Y F -espaços e Z1 , Z2 duas sumas torcidas de X e Y . Dizemos


que Z1 e Z2 são equivalentes, se existe um operador linear contínuo T : Z1 → Z2 tal que o
seguinte diagrama comuta

j1 q1
0 / X / Z1 /Y /0

iX T iY
 j2  q2 
0 / X / Z2 /Y /0

Observação 2.5. Observemos que na definição anterior T deve ser um isomorfismo:

• j2 (x) = T (j1 x), x ∈ X

• q2 (T z) = q1 (z), z ∈ Z1

• T é injetor. Seja z ∈ Z1 tal que T z = 0, então q1 (z) = q2 (z) = 0. Logo z = j1 (x),


x ∈ X; assim j2 (x) = T (j1 (x)) = T (z) = 0 implica x = 0 e portanto z = 0.

• T é sobrejetor. Seja z2 ∈ Z2 , como q(z2 ) ∈ Y e q1 é sobrejetor, existe z1 ∈ Z1 tal que


q1 (z1 ) = q2 (z2 ). Também q1 (z1 ) = q2 (T z1 ), então q2 (T z1 − z2 ) = 0; isto é, existe x ∈ X
tal que j2 (x) = T z1 −z2 como j2 (x) = T (j1 x), concluímos T (z1 −j1 x) = T z1 −T (j1 x) =
z2 .

• Pelo teorema da aplicação aberta em F -espaços (Corolario (1.34)) T é um isomorfismo.

Nesta secção vamos estudar varias propriedades das somas torcidas, em particular mos-
traremos que geram e são geradas por aplicações quase-lineares.

Definição 2.6. Uma função F : Y → X chama-se quase-linear se satisfaz:

(a) F (λy) = λF (y), para todo y ∈ Y e λ ∈ K


2.1 SOMAS TORCIDAS 27

(b) kF (y1 + y2 ) − F (y1 ) − F (y2 )k ≤ M (ky1 k + ky2 k), para todo y1 , y2 ∈ Y onde M é uma
constante independente de y1 , y2 .

Consideremos X e Y F -espaços quase-normados e F : Y → X uma aplicação quase-


linear. Observemos que a fórmula

k(x, y)kF = kyk + kx − F (y)k

define uma quase-norma no espaço vetorial X × Y (onde usamos o mesmo símbolo para as
diferentes quase-normas).
Com efeito, as propriedades (Q1), (Q2) e (Q3) são claras. Provemos (Q4)

k(x1 + x2 , y1 + y2 )kF = ky1 + y2 k + k(x1 + x2 ) − F (y1 + y2 )k


≤ k(ky1 k + ky2 k) + k k(x1 − F (y1 )) + (x2 − F (y2 ))k
+ k kF (y1 + y2 ) − F (y1 ) − F (y2 )k
≤ k 2 (ky1 k + ky2 k + k(x1 − F (y1 ))k + k(x2 − F (y2 ))k)
+ kM (ky1 k + ky2 k)
≤ k(k + M )(ky1 k + k(x1 − F (y1 ))k + ky2 k + k(x2 − F (y2 ))k)
= k(k + M )(k(x1 , y1 )kF + k(x2 , y2 )kF )

onde k é um módulo de concavidade para as quase-normas em X e Y .


Agora mostraremos que o subespaço X 0 = {(x, 0) : x ∈ X} de X ⊕F Y é isométrico a X e
que (X ⊕F Y )/X 0 é isométrico a Y . Com efeito, definamos j(x) = (x, 0) , assim

kj(x)kF = k(x, 0)kF = kxk

Completamos a afirmação observando

k(x0 , y) + X 0 kF = inf {k(x0 , y) + (x, 0)kF : x ∈ X}


= inf {kx − F (y)k + kyk : x ∈ X}
= kyk

Portanto (X × Y, k.kF ) é uma soma torcida de X e Y .

Definição 2.7. Se X e Y são F -espaços quase-normados e F : Y → X é uma aplicação


quase-linear, denotaremos por X ⊕F Y a soma torcida (X × Y, k.kF ) obtida no comentário
anterior.

Observemos que todas as somas torcidas são da forma anterior:

Teorema 2.8. Toda soma torcida Z de X e Y é equivalente a X ⊕F Y para alguma aplicação


quase-linear F : Y → X.
28 SOMAS TORCIDAS 2.1

Demonstração. Considere K um módulo de concavidade para as quase-normas de X, Y e


j q
Z. Suponhamos que 0 → X → Z → Y → 0 é uma sequência exata curta que define a soma
torcida. Pelo Lema (1.6), existe uma aplicação linear θ : Y → Z tal que qθ = idY . Dado que
q : Z → Y é aberta, então existe uma constante C e uma aplicação φ : Y → Z tal que

(a) kφ(y)k ≤ C kyk, para todo y ∈ Y .

(b) qφ(y) = y, para todo y ∈ Y .

(c) φ(λy) = λφ(y), para todo y ∈ Y e λ ∈ K.

Com efeito, pelo teorema da aplicação aberta existe uma constante C > 0 tal que C1 BY ⊆
q(BZ ). Vamos definir φ inicialmente em SY = {y ∈ Y : kyk = 1}. Considere sobre SY a
seguinte relação de equivalência, y1 Ry2 se, e somente se, existe λ ∈ K com |λ| = 1 tal que
y2 = λy1 . Para cada y ∈ SY , denotemos por y a classe de equivalência de y. Pelo axioma de
S
escolha, consideremos J = α∈I {yα } um conjunto que contém um único representante de
cada classe de equivalência. Para cada yα ∈ J, definamos φ(yα ) = Czα onde yα = q(Czα )
para algum zα ∈ BZ . Deste modo kφ(yα )k ≤ C para todo α ∈ I. Agora dado y ∈ SY ,
definimos φ(y) = φ(yα ) se y ∈ yα . E para cada λ ∈ K e y ∈ SY definamos φ(λy) = λφ(y).
Assim, para y ∈ Y , y 6= 0 arbitrário
 
y
φ(y) = kyk φ
kyk

e com isto φ satisfaz as propriedades enunciadas.


Como φ(y) − θ(y) ∈ ker(q) = j(X) e j é injetora, então definamos F (y) = j −1 (φ(y) − θ(y)).
Seja L tal que kj −1 zk ≤ L kzk para todo z ∈ j(X). Assim, para todo y1 , y2 ∈ Y

kF (y1 + y2 ) − F (y1 ) − F (y2 )k = j −1 (φ(y1 + y2 ) − φ(y1 ) − φ(y2 ))


≤ L kφ(y1 + y2 ) − φ(y1 ) − φ(y2 )k


≤ LK 2 (kφ(y1 + y2 )k + kφ(y1 )k + kφ(y2 )k)
≤ LK 2 C (ky1 + y2 k + ky1 k + ky2 k)
≤ 2LK 3 C(ky1 k + ky2 k).

Portanto, F é um operador quase-linear, pois é claro que F (λy) = λF (y) para todo λ ∈ K.
Agora definamos T : Z → X ⊕F Y mediante a fórmula

T (z) = (j −1 (z − θqz), qz).


2.1 SOMAS TORCIDAS 29

Então

kT (z)kF = kqzk + j −1 (z − θ(qz)) − j −1 (φ(qz)) − θ(qz)


= kqzk + j −1 (z − φ(qz))

≤ kqzk + L kz − φ(qz)k
≤ kqzk + KL (kzk + kφ(qz)k)
≤ kqk kzk + KL(kzk + C kqk kzk).
= (kqk + KL + KLC kqk) kzk .

Com isto, T é contínuo. Observemos que o diagrama

j q
0 / X / Z / Y / 0
iX T iY
  q0 
0 / X
i / X ⊕F Y / Y / 0

comuta, pois

• T (jx) = (j −1 (jx − θq(jx)), q(jx)) = (x, 0) = i(x) para todo x ∈ X

• q 0 T (z) = qz para todo z ∈ Z.

O que completa a prova do teorema.

Definição 2.9. As aplicações quase-lineares F, G : Y → X são equivalentes se X ⊕F Y e


X ⊕G Y são somas torcidas equivalentes.

Teorema 2.10. As aplicações quase-lineares F e G são equivalentes se, e somente, se existe


uma constante M e uma aplicação linear A : Y → X tal que

kF (y) − G(y) + A(y)k ≤ M kyk , y∈Y

Demonstração. Suponhamos que F e G são equivalentes e seja T : X ⊕F Y → X ⊕G Y um


operador linear contínuo tal que o diagrama

j1 q1
0 / X / X ⊕F Y / Y / 0
iX T iY
 j2  q2 
0 / X / X ⊕G Y / Y / 0
seja comutativo. Assim, T (j1 (x)) = j2 (x) implica que T (x, 0) = (x, 0) e de q1 (x, y) =
q2 (T (x, y)) temos y = q2 (T (0, y)). Escrevamos πX : X ⊕F Y → X a projeção sobre
X(πX (x, y) = x) e definamos a aplicação A(y) = πX T (0, y), y ∈ Y . Claramente A é li-
near e
30 SOMAS TORCIDAS 2.2

T (x, y) = T (x, 0) + T (0, y) = (x, 0) + (A(y), y) = (x + A(y), y)

Então T (F (y), y) = (F (y) + A(y), y) e

kT (F (y), y)kG = kyk + kF (y) + A(y) − G(y)k


k(F (y), y)kF = kyk + kF (y) − F (y)k = kyk

Logo, pela continuidade de T

kF (y) − G(y) + A(y)k ≤ kT k kyk , y∈Y

Reciprocamente, se F , G e A satisfazem as hipóteses, defina T : X ⊕F Y → X ⊕G Y


como sendo T (x, y) = (x + A(y), y). É claro que T é linear e contínuo, pois

kT (x), y)kG = kyk + kx + A(y) − G(y)k


≤ k(kyk + kx − F (y)k + kF (y) − G(y) + A(y)k)
≤ k(m + 1)(kyk + kx − F (y)k)
= k(m + 1) k(x, y)kF

Pela construção, T faz que o diagrama comute, com isto a prova fica completa.

2.2 Propriedades preservadas pelas somas torcidas


Seja P uma propriedade definida para espaços quase-normados. Dizemos que P é uma
propriedade dos três espaços na categoria dos espaços quase-normados se todo espaço quase-
normado X possui a propriedade P , sempre que exista um subespaço fechado M de X tal
que os dois, M e X/M , satisfazem a propriedade P . No caso que uma propriedade P , dos
três espaços, seja invariante por isomorfismos(i.é. se X e X 0 são espaços isomorfos tal que
se X satisfaz P então X 0 também deve satisfazer P ) temos que P é conservada por somas
torcidas, ou seja, toda soma torcida de espaços com a propriedade P também satisfaz a
propriedade P .
Nesta seção vamos dar exemplos de algumas propriedades elementares que são dos três
espaços (usamos como referência [CG97]). Em particular, pelos Teoremas (2.11) e (2.14) fica
claro que toda soma torcida de F -espaços localmente limitados é um F -espaço localmente
limitado.
Ribe(ver [Rib79]) apresentou um exemplo de uma soma torcida de espaços de Banach que
não é localmente convexa, e portanto, não é um espaço de Banach. Assim a propriedade de
ser Banach não é dos três espaços. Este caso será analizado na proxima seção.
2.2 PROPRIEDADES PRESERVADAS PELAS SOMAS TORCIDAS 31

Teorema 2.11. Ser completo é uma propriedade dos três espaços.

Demonstração. Sejam X um espaço quase-normado e M um subespaço fechado de X tal


que M e X/M sejam completos. Consideremos (xn )n uma sequência de Cauchy em X. Assim
(xn + M )n é uma sequência de Cauchy em X/M pois k(xn − xm ) + M k ≤ kxn − xm k. Com
isto, existe y ∈ X tal que lim xn + M = y + M . Pelas propriedades da norma do quociente,
para cada n ∈ N existe yn ∈ X com yn + M = (xn − y) + M tal que

kyn k ≤ k(xn − y) + M k + 2−n

em consequência lim yn = 0. Notemos que xn −y −yn é uma sequência de Cauchy em M , que


deve convergir para algum z ∈ M . Concluímos que xn = (xn − y − yn ) + (y + yn ) converge
para z + y ∈ X. Logo X é completo.

Teorema 2.12. A propriedade de ter dimensão finita é dos três espaços.

Demonstração. Sejam X um espaço quase-normado e M um subespaço de X tal que M e


X/M possuem dimensão finita. Então se {m1 , . . . , mn } é uma base para M e {x1 + M, . . . , xk + M }
é uma base de X/M , é imediato obsevar que {m1 , . . . , mn , x1 . . . , xk } é uma base para X.

Teorema 2.13. Ser separável é uma propriedade dos três espaços.

Demonstração. Consideremos X um espaço quase-normado e M um subespaço de X tal que


M e X/M sejam separáveis. Suponhamos que {m1 , m2 , . . .} e {x1 + M, x2 + M, . . .} sejam
conjuntos densos enumeráveis em M e X/M , respetivamente. Vamos mostrar que a coleção
{xi + mj }i,j∈N é densa em X.
Sejam x ∈ X e  > 0. Então existe xi + M tal que

k(x − xi ) + M k < /3K

onde K é o módulo de concavidade da quase-norma. Tomemos y ∈ X com y + M =


(x − xi ) + M tal que
kyk < k(x − xi ) + M k + /3K.

Assim, como x − xi − y ∈ M , existe mj ∈ M tal que kx − xi − y − mj k < /3K. Portanto

kx − (xi + mj )k ≤ K (kx − xi − y − mj k + kyk) < 

o que completa a prova.

Teorema 2.14. Ser localmente limitado é uma propriedade dos três espaços.

Demonstração. Sejam X um F -espaço e M um subespaço de X tal que M e X/M sejam


espaços localmente limitados. Tomemos U uma vizinhança de 0 em X, tal que U ∩ M e
π(U ) sejam limitados, onde π : X → X/M é a aplicação quociente. Pelo Lema (1.28) existe
32 SOMAS TORCIDAS 2.3

uma vizinhança equilibrada V de 0 tal que V + V ⊆ U . Vamos mostrar que V é limitada.


Por absurdo, se não fosse, existiriam uma vizinhança equilibrada W de 0 e uma sequência
(xn )n de elementos em V tais que xn ∈ / n2 W . Assim a sequência n1 π(xn ) converge para 0,
pois π(V ) é limitada. Também para cada n ∈ N existe mn ∈ M tal que lim n1 xn + mn = 0.
Logo, existe N ∈ N tal que n1 xn + mn ∈ V para todo n ≥ N . Como V é equilibrada, temos
   
1 1
mn = xn + mn + − xn ∈ V + V ⊆ U.
n n

Com isto, a sequência (mn ) é limitada, o que implica que n1 xn é limitada, pois soma de


conjuntos limitados é limitado. Portanto, existe α > 0 tal que xn ∈ nαV para todo n ∈ N,
em particular tomando n ≥ α, temos xn ∈ n2 V o que é uma contradição. Concluímos que
V é limitada.

Teorema 2.15. Reflexividade é uma propriedade dos três espaços.

Demonstração. Sejam X um espaço normado e M um subespaço fechado de X tal que M


e X/M sejam reflexivos. Para demonstrar o teorema é suficiente tomar x∗∗ ∈ X ∗∗ e mostrar
que x∗∗ ∈ Q(X), onde Q é a aplicação canônica de X em X ∗∗ . Consideremos T a aplicação
isométrica entre os espaços M ⊥ e (X/M )∗ como no Lema (1.17)-(b), então x∗∗ T −1 ∈ (X/M )∗∗
e pela reflexividade, existe x ∈ X tal que para cada m⊥ ∈ M ⊥

x∗∗ (m⊥ ) = (x∗∗ T −1 )(T m⊥ ) = T m⊥ (x + M )


= m⊥ (x)
= Q(x)(m⊥ )

Assim x∗∗ − Q(x) ∈ M ⊥⊥ e pelo Lema (1.18) existe m ∈ M tal que x∗∗ − Q(x) = Q(m). Em
consequência x∗∗ = Q(x + m). Isto completa a prova.

2.3 Somas torcidas de espaços de Banach


O objetivo desta seção será estudar o conceito de B-convexidade e demonstrar que toda
soma torcida de espaços de Banach B-convexos é um espaço de Banach também B-convexo.

Definição 2.16 (Funções de Rademacher). As funções de Rademacher são aplicações γn :


[0, 1] → R, n ∈ N, definidas por

γn (t) = Sinal(sin 2n πt)

A n-ésima função de Rademacher toma valor constante +1 ou −1, de forma alternada,


nos intervalos do tipo (k2−n , (k + 1)2−n ) para k = 0, . . . , 2n − 1, começando com γn (t) = +1
para t ∈ [0, 2−n ].
2.3 SOMAS TORCIDAS DE ESPAÇOS DE BANACH 33

As seguintes fórmulas serão usadas com frequência em próximos argumentos.

Lema 2.17. Para cada sequência de sinais (i )ni=1 (i = ±1) existe um único k ∈ {0, 1, . . . , 2n − 1},
tal que  
k k+1
i = γi (t), t ∈ , para i = 1, . . . , n.
2n 2n

Demonstração. Vamos provar este lema por indução sobre n. É claro que a afirmação é válida
quando n = 1. Supondo que também é válida para n, consideremos (i )n+1 i=1 uma sequência
n
de n + 1 sinais. Pela hipótese de indução, seja kn ∈ {0, 1, . . . , 2 − 1}único tal que
 
kn kn + 1
i = γi (t), t∈ , para i = 1, . . . , n.
2n 2n

Agora γn+1 alterna de sinal só uma vez no intervalo k2nn , kn2+1



n . Então n+1 = γn+1 (t) quando
k k+1

t ∈ 2n+1 , 2n+1 onde k = 2kn ou k = 2kn + 1 (só um dos dois). Portanto
 
k k+1
i = γi (t), t∈ n+1
, n+1 para i = 1, . . . , n + 1,
2 2

k
, 2k+1 kn kn +1
 
já que 2n+1 n+1 ⊆ 2n
, 2n . O que completa o passo indutivo.

Lema 2.18. Seja (X, k.k) um espaço quase-normado. Consideremos x1 , . . . , xn , . . . , xnm nm-
vetores em X. Então temos:
R 1 Pn 2 1
P Pn 2
(a) 0
k k=1 γk (t)xk k dt = 2n k =±1 k k=1 k xk k

(b) Para cada s ∈ [0, 1]


  2 2
Z 1
X n X Z 1
Xmn

γk (s) γj (t)xj dt = γj (u)xj du
 

0 k=1 m(k−1)<j≤mk 0 j=1

Onde a soma no lado direito de (a) é tomada sobre todas as escolhas de n sinais  = (i )ni=1 ,
ou seja, i é +1 ou −1 para cada i = 1, . . . , n.

Demonstração. (a) Pelo lema anterior


2 n −1 Z
j+1
2
Z 1 n 2X n
2n
X X
γk (t)xk dt = γk (t)xk dt


j
0
k=1

j=0 2n

k=1

2
n
1 X X

= n  x

k k
2


i =±1 k=1

(b) Usando a parte (a)


34 SOMAS TORCIDAS 2.3

  2 2
Z 1
n Z 1
Xmn
X X 
γk (s) γj (t)xj dt = γj (t) γkj (s)xj dt
 

0 k=1 m(k−1)<j≤mk 0 j=1
nm 2
1 X X

= nm j γkj (s)xj

2  =±1 j=1


j
2
nm
1 X X

= nm j xj

2  =±1


j j=1

onde kj é o inteiro k tal que j ∈ (m(k − 1), mk]. A última igualdade segue do fato que
γkj (s) = ±1 e a soma é tomada sobre todas as sequências de nm sinais, então o produto
j γkj (s) também percorre todas 2nm possíveis escolhas de nm sinais. Usando novamente (a)
obtemos (b).

Definição 2.19. Seja (X, k.k) um espaço quase-normado. Definamos

an (X) = sup kx1 + · · · + xn k


x1 ,...,xn ∈BX

X n
bn (X) = sup min i xi

x1 ,...,xn ∈BX i =±1
 i=1 2 
n
11 X X
c2n (X) = P sup  x

n i i
kxi k2 =1 n 2  =±1

n
i=1 i i=1

Quando seja clara a referência do espaço, escreveremos simplesmente an , bn , c2n . Da


definição, notamos que as sequências an e bn são crescentes.
A partir do Lema (2.18) e usando a notação das funções de Rademacher, obtemos que c2n (X)
é a menor constante c tal que
2 !
Z 1 Xn n
X
2 2
γk (t)xk dt ≤ c n kxk k


0
k=1

k=1

para qualquer escolha x1 , . . . , xn ∈ X.

Lema 2.20. Seja X um espaço quase-normado. As sequências (an ) ,(bn ) e (cn ) são submul-
tiplicativas no sentido

(a) anm ≤ an am

(b) bnm ≤ bn bm

(c) cnm ≤ cn cm
2.3 SOMAS TORCIDAS DE ESPAÇOS DE BANACH 35

para todo n, m ∈ N.

Demonstração. (a). Sejam xij ∈ X com kxij k ≤ 1 para 1 ≤ i ≤ n e 1 ≤ j ≤ m. Pela


definição
kxi1 + · · · + xim k ≤ am (i = 1, . . . , n)

assim
1
k(x11 + · · · + x1m ) + · · · + (xn1 + · · · + xnm )k ≤ an
am
logo anm ≤ an am .
(b). Considere xij ∈ X como en (a). Para cada i escolha sinais θij = ±1 (j = 1, . . . , m) tais
que

Xm
θij xij ≤ bm (i = 1, . . . , n).



j=1

Escolha sinais ηi = ±1, i = 1, . . . , n tais que


!
n m
X 1 X
ηi θij xij ≤ bn .

bm j=1


i=1

Logo se escrevemos ij := ηi θij , obtemos



X
ij xij ≤ bn bm .



i,j

Portanto bnm ≤ bn bm .
(c) Sejam x1 , . . . , xnm nm vetores em X. Para cada 1 ≤ k ≤ n e t ∈ [0, 1] definamos
X
yk (t) = γj (t)xj .
m(k−1)<j≤mk

R 1 R 1 Pn 2
Denotemos por I = 0 0
k k=1 γk (s)yk (t)k dsdt. Segue da definição de cn que

n Z
X 1 nm
X
2
I≤ nc2n kyk (t)k dt ≤ nmc2n c2m kxj k2 .
k=1 0 j=1

Por outro lado, o Lema (2.18)-(b) estabelece para cada s ∈ [0, 1]


2 Z 1 2
Z 1 Xn Xmn
γ (s)y (t) dt = γ (u)x j du.

k k j
0
k=1
0
j=1

Portanto 2
Z 1 Xmn nm
X
γj (u)xj du = I ≤ (mn)(cn cm ) 2
kxj k2


0
j=1

j=1
36 SOMAS TORCIDAS 2.3

e em consequência cnm ≤ cn cm .
Definição 2.21. Um espaço quase-normado é chamado B-convexo se limn→∞ n−1 bn = 0.
Pela propriedade sub-multiplicativa dos bn , podemos notar que uma condição necessária
e suficiente para que um espaço X seja B-convexo é que exista um m ∈ N tal que m−1 bm < 1.
Com efeito, esta condição é necessária. Para ver que é suficiente, seja n ∈ N arbitrário e
k ∈ N tal que mk ≤ n < mk+1 . Assim, usando o Lema (2.20)

n−1 bn ≤ m−k bmk+1 ≤ m−k bmk bm ≤ (m−1 bm )k bm

e portanto limn→∞ n−1 bn = 0.


Logo ser B-convexo significa que existem n ∈ N, n > 1 e um δ > 0 tal que para cada escolha
de n-vetores x1 , . . . , xn ∈ BX existe uma escolha de sinais  = (i )ni=1 de tal forma que

k1 x1 + · · · + n xn k ≤ (1 − δ)n.

Num espaço normado, isto pode-se entender como a propriedade que permite fazer múltiples
cancelamentos entre quaisquer n vetores de BX usando sinais i = ±1, isto é, a expressão
1 x1 + · · · + n xn tem vários cancelamentos de modo que não se atinge a norma máxima.

Considere x1 , . . . , xn ∈ BX . Segue da definição de cn que


2 !
n n
1 X X X
i xi ≤ nc2n kxi k2 ≤ n2 c2n

2n  =±1 i=1


i i=1

k )nk=1 tal que


 = (e
Assim, existe uma escolha de sinais e
2
Xn
k xk ≤ n2 c2n .

e

k=1

Portanto
Xn
min i xi ≤ ncn

i =±1
i=1

de onde concluímos que n−1 bn ≤ cn . Suponhamos agora que X é um espaço normado. A


desigualdade 2
X 2
n n ! n
X X
i xi ≤ xi ≤ n kxi k2



i=1 i=1 i=1

mostra que neste caso cn (X) ≤ 1. Logo para espaços normados

n−1 bn (X) ≤ cn (X) ≤ 1.

Vamos estudar mais uma caracterização dos espaços B-convexos, agora na categoria de
2.3 SOMAS TORCIDAS DE ESPAÇOS DE BANACH 37

espaços normados.

Lema 2.22. Seja X um espaço normado. Então X é B-convexo se, e somente, se limn→∞ cn (X) =
0

Demonstração. Do comentário anterior é claro que se limn→∞ cn (X) = 0 então X é B-


convexo. Reciprocamente, suponhamos que X seja B-convexo. O objetivo será encontrar um
m ∈ N tal que cm < 1. Com efeito, se existe tal m, para todo n ∈ N com n ≥ mk , temos
cn ≤ cmk ≤ (cm )k . Logo limn→∞ cn (X) = 0.
Assim, é suficiente demonstrar que se cn = 1 então n−1 bn = 1 para todo n ∈ N. Como
observamos anteriormente, se cn = 1, temos
2 2
Z 1 n n
X 1 X X
n2 = sup γk (t)xk dt = sup n k xk

2  =±1

0
k=1

k=1

k

onde o supremo é tomado sobre todos os x1 , . . . , xn ∈ BX .


Por enquanto, fixemos x1 , . . . , xn ∈ BX e escolha uma sequência de sinais e k )nk=1 tal
 = (e
que
X n X n
k xk = min k xk .

e
k =±1
k=1 k=1

É claro que k nk=1 e


P
k xk k ≤ bn . Logo

2  2  2
X Xn X Xn Xn
k xk ≤ k xk + k xk
 
e
 =±1

k k=1 6=e
 k=1 k=1
n 2
≤ (2 − 1)n + b2n .

Tomando o supremo sobre todos os x1 , . . . , xn ∈ BX na expressão anterior, obtemos

n2 ≤ 2−n ((2n − 1)n2 + bn ).

Desenvolvendo esta fórmula achamos n−1 bn ≥ 1, assim devemos ter n−1 bn = 1.

Vejamos alguns exemplos.


Exemplo 1. Todo espaço de dimensão finita é B-convexo.
Seja X um espaço normado com dimX < n. Fixemos n vetores x1 , . . . , xn ∈ BX e tomemos
escalares a1 , . . . , an não todos zero tais que ni=1 ai xi = 0, podemos escolher os escalares de
P

forma que sup1≤i≤n |ai | = 1 e reais, pois no caso complexo é suficiente tomar a parte real.
Escrevamos i = sinal(ai ) se ai 6= 0 e i = 0 em outro caso. Com isto, |i − ai | ≤ 1 e para
algum i ∈ {1, . . . , n}, i − ai = 0. Portanto
38 SOMAS TORCIDAS 2.3


Xn Xn n
X
n−1 i xi = n−1 ai x i + (i − ai )xi


i=1 i=1 i=1
n
X
≤ n−1 |i − ai |
i=1
≤ n−1 (n − 1) = 1 − n−1 .

Logo n−1 bn (X) < 1, o que prova que X é B-convexo.


Exemplo 2. Todo espaço uniformemente convexo é B-convexo, em particular espaços com
produto interno são B-convexos.
Lembremos que um espaço normado X é uniformemente convexo, se para cada  > 0, existe
δ > 0 tal que para todo x, y ∈ X com kxk = kyk = 1 se kx − yk ≥  então kx + yk < 2(1−δ).
Equivalentemente, X é uniformemente convexo se para cada  > 0 esxiste δ 0 > 0 tal que se
x, y ∈ BX com kx − yk > , então kx + yk ≤ 2(1−δ 0 ). Para ver que esta propriedade implica
ser B-convexo, seja δ 0 > 0 tomado da definição quando  = 1 e escrevamos θ = min {δ 0 , 1/2}.
Fixemos x, y ∈ BX . Então podemos ter kx − yk ≤ 1 = 2(1 − 1/2) ≤ 2(1 − θ) ou kx − yk > 1
em tal caso kx + yk ≤ 2(1 − δ 0 ) ≤ 2(1 − θ). Com isto, 2−1 b2 (X) < 1, assim X é B-convexo.
Exemplos de espaços uniformemente convexos são espaços com produto interno. Com efeito,
pela caracterização
kx + yk2 + kx − yk2 = 2 kxk2 + kyk2


se kxk = kyk = 1, então kx + yk2 +kx − yk2 = 4. Portanto, se kx − yk ≥ , temos kx + yk2 =


1/2
4 − kx − yk2 ≤ 4 − 2 . Assim kx + yk ≤ 2(1 − δ) onde δ = 1 − (1 − (/2)2 ) .
Concluímos que `2 é B-convexo.
Exemplo 3. O espaço `1 não é B-convexo.
Para cada n ∈ N se (i )ni=1 é uma escolha de n sinais e e1 , . . . , en são os primeiros n vetores
da base canônica, temos n−1 k ni=1 i ei k1 = 1. Portanto, n−1 bn (`1 ) = 1 e em consequência
P

`1 não é B-convexo.
Exemplo 4. Os espaços `∞ e c0 não são B-convexos.
Fixemos n ∈ N, definamos n sequências x1 , . . . , xn ∈ c0 da seguinte forma
 
j−1 j
xi (j) = γi (tj ), tj ∈ , , j = 1, . . . , 2n
2n 2n

e xi (j) = 0 para j > 2n . Onde γ1 , . . . , γn são as primeiras n funções de Rademacher.


Pelo Lema (2.17) para cada sequência de n sinais (i )ni=1 existe j ∈ {1, . . . , 2n } tal que
Pn
xi (j) = i para i = 1, . . . , n. Assim, a j-ésima coordenada de i=1 i xi é n. Portanto
n
n−1 k i=1 i xi k∞ = 1. Com isto, n−1 bn (`∞ ) = n−1 bn (c0 ) = 1. Concluímos que `∞ e c0
P

não são B-convexos.

Agora vamos provar alguns lemas técnicos, para demonstrar que toda soma torcida de
2.3 SOMAS TORCIDAS DE ESPAÇOS DE BANACH 39

espaços de Banach B-convexos é um espaço de Banach B-convexo.

Teorema 2.23. Seja X um espaço quase-normado tal que sup n−1 an < ∞. Então 0 possui
uma vizinhança convexa e limitada.

Demonstração. Vamos mostrar que a envoltória convexa do conjunto BX é limitada.


Seja C > 0 uma constante tal que an ≤ Cn para todo n ∈ N. Considere x1 , . . . , xn ∈ BX e
α1 , . . . , αn números reais positivos tais que ni=1 αi = 1. Então:
P

!
Xn n
X
[mαi ]xi ≤ C [mαi ] .


i=1 i=1
Pn Pn
Como i=1 [mαi ] ≤ i=1 mαi = m, obtemos
n
X [mα ]
i
xi ≤ C.

m


i=1

Também observamos que limm→∞ [mαi ]/m = αi pois (m − 1)αi ≤ [mαi ] ≤ mαi . Logo
passando ao limite(Observação (1.38))
n
X
α i i ≤ CK
x



i=1

onde K é o módulo de concavidade da quase-norma.

Lema 2.24. Seja X um espaço quase-normado tal que lim n−1 bn = 0. Então existe p > 1
tal que sup n−1/p bn < ∞

Demonstração. Por hipótese existe um m ∈ N tal que m−1 bm < 1. Considerando a função
mr com r > 0, podemos encontrar um p > 1 que satisfaz m−1/p bm < 1 e usando o Lema
(2.20) temos m−k/p bmk ≤ (m−1/p bm )k para todo inteiro positivo k. Logo para qualquer n ∈ N,
se mk ≤ n < mk+1

n−1/p bn ≤ m−k/p bmk+1 = m1/p m−(k+1)/p bmk+1



k+1
≤ m1/p m−1/p bm

e assim limn→∞ n−1/p bn = 0 o que permite concluir que n−1/p bn é limitada.

Lema 2.25. Em um espaço quase-normado X, se lim n−1 bn = 0 então sup n−1 an < ∞

Demonstração. Primeiro observemos que é suficiente demonstrar que sup 2−n a2n < ∞. Com
efeito, suponhamos que exista C > 0 tal que 2−k a2k ≤ C para todo k ∈ N. Sejam n ∈ N e
x1 , . . . , xn ∈ X com kxi k ≤ 1, se 2k ≤ n < 2k+1 então

1 −1
n kx1 + · · · + xn k ≤ 2−(k+1) kx1 + · · · + xn + 0 + · · · + 0k
2
≤ 2−(k+1) a2k+1
40 SOMAS TORCIDAS 2.3

Assim n−1 an ≤ 2C. Isto mostra que o lema fica provado se (n−1 an )r é limitado para n = 2k
e algum r > 0 fixo.
Sejam d > 0 e p > 1 constantes, obtidas pelo lema (2.24), tais que bn ≤ dn1/p , isto é
n−1 bn ≤ dn1/p−1 . Escrevamos 1/q = 1 − 1/p > 0, tomando n da forma 2k observamos que
para qualquer r > 0
r
2−k b2k ≤ dr 2−kr/q

de onde
n ∞
X
−k
r X
2 b2k ≤d r
2−kr/q = C (2.1)
k=0 k=0

para todo n ∈ N(é claro que C < ∞).


Vamos considerar um r > 0 tal que a quase-norma k.k em X seja equivalente a uma r-norma(
i.é uma quase-norma que satisfaz kx + ykr ≤ kxkr + kykr ).

Agora sejam {x1 , . . . , x2n } 2n vetores com kxi k ≤ 1 e uma escolha de sinais i = ±1 tal
que
X2n
i i ≤ b2n
x



i=1

Definamos os conjuntos A = {i ≤ 2n : i = +1} e B = {i ≤ 2n : i = −1}. Podemos supor


que |A| ≤ n. Assim
X2n X 2n
X
xi = 2 xi − i xi
i=1 i∈A i=1

Logo
2n r
X r

X
xi ≤ 2r xi + br2n



i=1 i∈A
≤ 2 an + br2n .
r r

Portanto ar2n ≤ 2r arn + br2n . Multiplicando por (2n)−r

(2n)−r ar2n ≤ n−r arn + (2n)−r br2n

Daqui, temos
2−(n+1)r ar2n+1 − 2−nr ar2n ≤ 2−(n+1)r br2n+1 .
2.3 SOMAS TORCIDAS DE ESPAÇOS DE BANACH 41

Logo
n
X
2−(n+1)r ar2n+1 ar1 2−(k+1)r ar2k+1 − 2−kr ar2k

− =
k=0
n
X
≤ 2−(k+1)r br2k+1 ≤ C
k=0

para todo n ∈ N, onde a última desigualdade é garantida pela equação (2.1). Isto implica
que supk∈N (2−k a2k )r < ∞, e assim a prova do lema fica completa.

Teorema 2.26. Sejam X um espaço quase-normado e Y um subespaço fechado de X tal


que X/Y e Y sejam isomorfos a espaços de Banach B-convexos. Então X é B-convexo.

Demonstração. Seja K um módulo de concavidade da quase-norma em X. Lembremos da


definição (2.19) que para qualquer espaço localmente limitado Z, cn (Z) é a menor constante
cn tal que
n 2 n
1 X X X
2
i xi ≤ ncn kxi k2

n
2  =±1 i=1


i i=1

para todo x1 , . . . , xn ∈ Z.
Pelo lema sobre B-convexidade em espaços normados(Lema ((2.22))) se Z é isomorfo a um
espaço de Banach B-convexo, então limn→∞ cn (Z) = 0(pois passando a una quase-norma
equivalente não altera esta propriedade). Assim, neste caso lim cn (Y ) = lim cn (X/Y ) = 0.

Sejam {xij : 1 ≤ i ≤ m, 1 ≤ j ≤ n} um conjunto de nm vetores em X. Denotemos por


θij (1 ≤ i ≤ m, 1 ≤ j ≤ n) as mn primeiras funções de Rademacher em [0, 1]. Então, pelo
Lema (2.18)-(a)
2 Z 2
1 Xm X
n
1 X
X

ij xij = θij (t)xij dt

2nm


ij =±1

i,j 0
i=1 j=1

Definamos por ϕ1 , . . . , ϕm as primeiras m funções de Rademacher em [0, 1], e para cada


i = 1, . . . , m seja ui (t) := nj=1 θij xij , t ∈ [0, 1]. Também pelo Lema (2.18)-(b)
P

2 Z 1Z 1 2
Z 1 X m X n X m X n
θij (t)xij dt = ϕi (s)θij (t)xij dsdt


0
i=1 j=1
0 0
i=1 j=1

Z 1Z 1 2
X m
= ϕi (s)ui (t) dsdt


0 0
i=1

R P 1/2
1 2
Seja A(t) = 0 k mi=1 ϕi (s)ui (t)k ds .
A imagem da função ui é um conjunto finito de vetores de X, assim dado t ∈ [0, 1] existe
42 SOMAS TORCIDAS 2.3

vi (t) ∈ Y tal que


kui (t) + vi (t)k ≤ 2 kπ(ui (t))k

onde π : X → X/Y é a aplicação quociente. Portanto

kvi (t)k ≤ K (kui (t) + vi (t)k + kui (t)k)


≤ 3K kui (t)k

Observamos
!
Xm Xm X m
ϕi (s)ui (t) ≤ K ϕi (s)(ui (t) + vi (t)) + ϕi (s)vi (t)



i=1 i=1 i=1

Logo pela desigualdade triangular em L2 e a definição de cn (Z)

 m 2 1/2 
Z 1 2 1/2
Z 1 X Xm
A(t) ≤ K  ϕi (s)(ui (t) + vi (t)) ds + K  ϕi (s)vi (t) ds


0
i=1
0
i=1

m
!1/2 m
!1/2
√ X √ X
≤ K mcm (X) kui (t) + vi (t)k2 + K mcm (Y ) kvi (t)k2
i=1 i=1
m
!1/2 m
!1/2
√ X √ X
≤ 2K mcm (X) kπ(ui (t))k2 + 3K 2
mcm (Y ) kui (t)k2
i=1 i=1

Usando de novo a desigualdade triangular para funções em L2

1/2 m Z
!1/2
Z 1 √ X 1
2
A (t)dt ≤ 2K mcm (X) kπ(ui (t))k2 (2.2)
0 i=1 0

m Z
!1/2
√ X 1
2
+ 3K mcm (Y ) kui (t)k2
i=1 0

Pn
Observemos que π(ui (t)) = j=1 θij (t)π(xij ). E assim:

2 !1/2
m Z
X 1 Xm m
X n
X 2
θij (t)π(xij ) dt ≤ cn (X/Y ) kπ(xij )k


i=1 0
i=1

i=1 j=1

Usando a desigualdade anterior vamos limitar os termos da desigualdade (2.2). Para o


primeiro:
2.3 SOMAS TORCIDAS DE ESPAÇOS DE BANACH 43

m Z
!1/2 
m Z
m 2 1/2
X 1 X 1 X
kπ(ui (t))k2 =  θij (t)π(xij ) dt


i=1 0 i=1 0
i=1

m n
!!1/2
X X
≤ nc2n (X/Y ) kπ(xij )k2
i=1 j=1
m X
n
!1/2
√ X
= ncn (X/Y ) kπ(xij )k2 (2.3)
i=1 j=1

Agora o segundo termo:

!1/2  2 1/2
m Z
X 1 m Z
X 1 Xn
kui (t)k2 =  θij (t)xij dt


i=1 0 i=1 0
j=1

m n
!!1/2
X X
≤ nc2n (X) kxij k2
i=1 j=1
m X
n
!1/2
√ X
= ncn (X) kxij k2 (2.4)
i=1 j=1

Assim, usando as equações (2.2), (2.3) e (2.4) obtemos

 2 1/2 Z 1 1/2
 1
X X
2
ij xij = A (t)dt

2nm


ij =±1 i,j
0
!1/2
√ √ X
≤ K m n (2cm (X)cn (X/Y ) + 3Kcm (Y )cn (X)) kxij k2
i,j

o que permite concluir que

cmn (X) ≤ K(2cm (X)cn (X/Y ) + 3Kcm (Y )cn (X)).

Em particular
cm2 (X) ≤ (2Kcm (X/Y ) + 3K 2 cm (Y ))cm (X).

Pela hipótese limm→∞ 2Kcm (X/Y )+3K 2 cm (Y ) = 0. Assim usando a relação anterior, existe
um m ∈ N tal que cm (X) = α < 1. Do fato que m−1 bm (X) ≤ cm (X) < 1 concluímos que X
é B-convexo.
Teorema 2.27. Toda soma torcida de espaços de Banach B-convexos é um espaço de Banach
B-convexo.
44 SOMAS TORCIDAS 2.4

Demonstração. Suponhamos que X seja uma soma torcida de espaços de Banach B-convexos.
Pelo teorema anterior, X é B-convexo. Resulta dos teoremas (2.25) e (2.23) que 0 ∈ X possui
uma vizinhança convexa limitada, como foi estudado no capítulo 1( Teorema (1.32)) essa é
uma condição necessária e suficiente para que um espaço seja normalizável. Também X deve
ser completo (Teorema (2.11)). Em consequência X é um espaço de Banach B-convexo.

2.4 Simplificações na construção de somas torcidas


Vamos mostrar duas simplificações para construir funções quase-lineares o que significa
simplificações na construção de somas torcidas. A primeira nos permite considerar funções
definidas num subespaço denso, e a segunda elimina a exigência da homogenidade.

Teorema 2.28. Sejam X e Y F -espaços quase-normados e Y0 um subespaço denso de Y .


Se F0 : Y0 → X é uma aplicação quase-linear, então existe uma aplicação quase-linear
F : Y → X tal que F (y) = F0 (y), para todo y ∈ Y0

Demonstração. Considere o espaço X ⊕F0 Y0 com a quase norma

k(x, y)k = kyk + kx − F0 (y)k

Seja Z um completamento deste espaço. Defina j : X → X ⊕F0 Y0 como sendo j(x) = (x, 0)
e q̂ : X ⊕F0 Y0 → Y por q̂(x, y) = y. Sabemos que q̂ é contínua e sobrejetora, então existe
uma função q : Z → Y contínua que estende q̂. Vamos demonstrar que a sequência curta

j q
0→X→Z→Y →0

é exata. Para isto, só falta verificar que j(X) = ker q. É claro que j(X) ⊆ ker q pois
q(j(x)) = q(x, 0) = q̂(x, 0) = 0.
Seja z ∈ ker q, então z = lim(xn , yn ) onde (xn , yn ) ∈ X ⊕F0 Y0 . Assim 0 = q(z) =
lim q(xn , yn ) = lim q̂(xn , yn ) = lim yn , isto implica que lim(F0 (yn ), yn ) = 0, pois

k(F0 (yn ), yn )k = kyn k + kF0 (yn ) − F0 (yn )k = kyn k

Portanto, lim(xn − F0 (yn ), 0) = z. Observemos que

k(xn − F0 (yn )) − (xm − F0 (ym ))kX ≤ k(xn − F0 (yn ), 0) − (xm − F0 (ym ), 0)kF0

Logo (xn − F0 (yn ))n é de Cauchy em X e em consequência convergente a um x0 ∈ X. Então

j(x0 ) = lim j(xn − F0 (yn )) = lim(xn − F0 (yn ), 0) = z

o que mostra que ker q ⊆ j(X).


Logo Z é equivalente a X ⊕H Y para alguma aplicação quase-linear H : Y → X. Seja
2.4 SIMPLIFICAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE SOMAS TORCIDAS 45

T : Z → X ⊕H Y um operador contínuo tal que o diagrama

j q
0 / X / Z /Y / 0
iX T iY
 j0  q0 
0 / X / X ⊕H Y /Y / 0
seja comutativo. Segue da demonstração do teorema 1.3, que T |X ⊕F0 Y0 tem a forma

T (x, y) = (x + Ay, y)

onde A : Y0 → X é linear e tal que

kF0 (y) − H(y) + A(y)k ≤ kT k kyk , y ∈ Y0

Consideremos pelo Lema (1.5) uma extenção linear de A a todo Y , definamos



H(y) − A(y) se y ∈/ Y0
F (y) =
 F0 (y) se y ∈ Y0

Da fórmula anterior é claro que F (λy) = λF (y) para todo λ ∈ K e y ∈ Y . Para mostrar que
F é um operador quase-linear, temos que achar uma constante C tal que

kF (y1 + y2 ) − F (y1 ) − F (y2 )k ≤ C (ky1 k + ky2 k)

para todo y1 , y2 ∈ Y . Para isto, devemos verificar a desigualdade anterior em cada um dos
seguintes casos:

(a) y1 , y2 ∈ Y0 ;

(b) y1 ∈ Y0 , y2 ∈
/ Y0 ;

(c) y1 ∈
/ Y0 , y 2 ∈
/ Y0 .

O caso (a) é claro. Para o caso (b), observemos que y1 + y2 ∈


/ Y0 e então

kF (y1 + y2 ) − F (y1 ) − F (y2 )k = kH(y1 + y2 ) − A(y1 + y2 ) − F0 (y1 ) − H(y2 ) + A(y2 )k


≤ K kH(y1 + y2 ) − H(y2 ) − H(y1 )k + K kF0 (y1 ) − H(y1 ) − A(y1 )k
≤ KMH (ky1 k + ky2 k) + K kT k ky1 k
≤ (KMH + K kT k) (ky1 k + ky2 k)

onde K é um módulo da quase-norma em X e MH é uma constante que depende do operador


quase-linear H. A prova no caso (c) é similar. Concluímos que F é um operador quase-
linear.
46 SOMAS TORCIDAS 2.4

Definição 2.29. Seja Y um espaço quase-normado. Uma função f : Y → X chama-se


quase-aditiva se

(a) kf (y1 + y2 ) − f (y1 ) − f (y2 )k ≤ k(ky1 k + ky2 k) y1 , y2 ∈ Y

(b) limt→0 f (ty) = 0, y ∈ Y

(c) f (λy) = λf (y), y ∈ Y e λ ∈ K com |λ| = 1.

Onde k é uma constante em (a). Dizemos que f é quase-aditiva de ordem k.

Lema 2.30. Sejam X e Y espaços quase-normados. Então existem constantes positivas r e


L tais que, se f : Y → X é uma função quase-aditiva de ordem K, então

n
! n

n
!1/r
X X X
f yi − f (yi ) ≤ KL kyi kr


i=1 i=1 i=1

para quaisquer y1 , . . . , yn ∈ Y .

Demonstração. Suponhamos (X, k.kX ) e (Y, k.kY ) são espaços quase-normados. Pela obser-
vação (1.44) do teorema de Aoki-Rolewicz, existem quase-normas |.|X e |.|Y equivalentes a
k.kX e k.kY , respetivamente, e um 0 < p ≤ 1 tais que

|x1 + x2 |pX ≤ |x1 |pX + |x2 |pX , x1 , x2 ∈ X

|y1 + y2 |pY ≤ |y1 |pY + |y2 |pY , y1 , y2 ∈ Y

e para constantes positivas C, D < ∞

kxkX ≤ |x|X ≤ C kxkX , x∈X

kykY ≤ |y|Y ≤ D kykY , y∈Y

Portanto

|f (y1 + y2 ) − f (y1 ) − f (y2 )|X ≤ C kf (y1 + y2 ) − f (y1 ) − f (y2 )kX


≤ CK (|y1 |Y + |y2 |Y )
1/p
≤ CK (|y1 |pY + |y2 |pY )

pois (a + b)p ≤ ap + bp se a, b ≥ 0. Por indução, vamos provar que para todo n ∈ N



n
! n

n
!1/p
X X X
f yi − f (yi ) ≤ CK i |yi |pY (2.5)


i=1 i=1 X i=1

Com efeito, o caso n = 2 segue do comentário anterior. Agora suponhamos que a fórmula
2.4 SIMPLIFICAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE SOMAS TORCIDAS 47

(2.5) seja válida para n − 1. Então


! p ! ! !
n
X n
X n
X n
X n
X n
X
f yi − f (yi ) = f yi − f (yi ) + f yi − f yi − f (x1 )


i=1 i=1 i=2 i=2
X
! p i=1 !
i=2
! X
p
X n X n X n Xn
≤ f yi − f (yi ) + f yi − f yi − f (x1 )


i=2 i=2 X i=1 i=2 X
n
!
n
! p
X
X
≤ C pK p (i − 1) |yi |pY + C p K p yi + |y1 |Y

i=2
p i=2 !Y
Xn X n
p
≤C Kp p
(i − 1) |yi |Y + yi + |y1 |pY


i=2 i=2 Y
n
!
X
≤ C pK p i |yi |pY
i=1

Escrevamos r = p/2. Para y1 , . . . , yn ∈ Y com |y1 |Y ≥ |y2 |Y · · · ≥ |yn |Y

n
X n
X
i |yi |pY = i |yi |rY |yi |rY
i=1 i=1
n i
!
X X
≤ |yj |rY |yi |rY
i=1 j=1
n X
n n
!2
X X
≤ |yi |rY |yj |rY = |yi |rY
i=1 j=1 i=1

Assim
n
! n
n
!1/p
X X X
f yi − f (yi ) ≤ CK i |yi |pY


i=1 i=1 X i=1
n
!2/p
X
≤ |yi |rY
i=1
n
!1/r
X
= |yi |rY
i=1

Mediante um reordenamento, a desigualdade é válida para todo y1 , . . . , yn ∈ Y , e em con-


sequência

n
! n

n
!1/r
X X X
f yi − f (yi ) ≤ CDK kyi kr


i=1 i=1 i=1

Lema 2.31. Suponha X um F -espaço quase-normado. Então existe uma constante KX , que
48 SOMAS TORCIDAS 2.4

depende de X, tal que para toda f : R → X quase-aditiva de ordem K, temos

kf (t) − tf (1)k ≤ KX K 0 ≤ t ≤ 1

Demonstração. Vamos dividir a prova em vários passos.


PASSO 1. Podemos supor f (1) = 0, pois em outro caso, aplicamos o lema para g(t) =
f (t) − f (1) que é quase-aditiva de ordem K e, satisfaz g(1) = 0:

g(t1 + t2 ) − g(t1 ) − g(t2 ) = (f (t1 + t2 ) − (t1 + t2 )f (1))


− (f (t1 ) − t1 f (1)) − (f (t1 ) − t1 f (1)))
= f (t1 + t2 ) − f (t1 ) − f (t2 )

e assim kg(y1 + y2 ) − g(y1 ) − g(y2 )k ≤ k(ky1 k + ky2 k). Também

lim g(ty) = lim(f (ty) − tf (1)) = 0


t→0 t→0

e g(−t) = f (−t) − tf (1) = −g(t).


PASSO 2. Aplicando o lema anterior com Y = R = Y0 e o Teorema (1.43), existem constantes
positivas r e L tais que


n
! n

n
!1/r
X X X
f ti − f (ti ) ≤ KL kti kr (2.6)


i=1 i=1 i=1

n

n
!1/r
X X
xi ≤ L kxi kr (2.7)



i=1 i=1

para todo t1 , . . . tn ∈ R e x1 , . . . xn ∈ X.
PASSO 3. O objetivo é mostrar que existe uma constante KX dependendo só do espaço X
tal que
kf (t)k ≤ KX K 0 < t < 1

Observemos inicialmente que se s ∈ [1, 2) podemos escrever s = ∞ −k


P
k=0 k 2 onde k = 0
ou 1. Com efeito, tome 0 = 1 e defina

1, se s ≥ Pk  2−j + 2−(k+1)
j=0 j
k+1 =
 0 se s < k  2−j + 2−(k+1)
P
j=0 j

logo para t ∈ (0, 1) e n ∈ N tal que 2−n ≤ t < 2−(n−1) temos que

X
n
2 t= k 2−k
k=0
2.4 SIMPLIFICAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE SOMAS TORCIDAS 49

P∞
isto é t = 2−n k=0 k 2
−k
e definamos
m
X
−n
tm = 2 k 2−k
k=0

Como f é quase-aditiva, temos

kf (t) − f (tm ) − f (t − tm )k ≤ K(tm + (t − tm )) ≤ K

No PASSO 4, vamos mostrar que existe uma constante C > 0 tal que para todo m ∈ N

kf (tm )k ≤ KC

assumindo isto e usando o PASSO 2, observamos que

kf (t)k = k(f (t) − f (tm ) − f (t − tm )) + f (tm ) + f (t − tm )k


1/r
≤ L (kf (t) − f (tm ) − f (t − tm )kr + kf (tm )kr + kf (t − tm )kr )
1/r
≤ L (K r + (KC)r + kf (t − tm )kr )
1/r
= LK 1 + C r + K −r kf (t − tm )kr

Pela definição de f é claro que se m → ∞ então f (t − tm ) → 0. Logo

kf (t)k ≤ L(1 + C r )1/r K = KX K

PASSO 4. Vamos provar a afirmação usada no passo anterior. Observamos pela quase-
aditividade de f , que
−n
f (2 ) − 2f (2−(n+1) ) ≤ K(2−(n+1) + 2−(n+1) ) = K2−n

Portanto

2 f (2−n ) − 2n+1 f (2−(n+1) ) ≤ K


n

Também temos

2n f (2−n ) = 2n f (2−n − 2(n−1) f (2−(n−1)


+ 2(n−1) f (2−(n−1) − 2(n−2) f (2−(n−2)
..
.
+ 2f (2−1 ) − 20 f (20 )

pois f (1) = 0. Assim usando a equação (2.7)


50 SOMAS TORCIDAS 2.4

n
!1/r
2 f (2−i ) − 2i−1 f (2−(i−1) ) r
X
2 f (2−n ) ≤ L
n i

i=0
n
!1/r
X
r
≤L K = LKn1/r
i=0

Agora
!
m
X m
X m
X
f (tm ) − k f (2−(n+k) ) = f k 2−(n+k) − k f (2−(n+k) )


k=0 k=0 k=0
m
!1/r
X
≤ KL k 2−r(n+k)
k=0
∞  k !1/r
X 1
≤ KL
k=0
2r
 1/r
1
= KL
1 − 2−r

onde a primeira desigualdade é garantida pelo passo 2.


Também pela equação (2.7)


m

n
!1/r
X X r
k f (2−(n+k) ) ≤ L k f (2−(n+k) )



k=0 i=0
m
!1/r
X r
k 2−(n+k)r 2−(n+k) f (2−(n+k) )

≤L
k=0
m
!1/r
X
≤L k 2−(n+k)r (LK)r (n + k)
k=0
m
!1/r
X
= L2 K k (n + k)2−(n+k)r
k=0
2.4 SIMPLIFICAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE SOMAS TORCIDAS 51

Finalmente, usando as desigualdades anteriores


r r !1/r
Xm X m
−(n+k) −(n+k)
kf (tm )k ≤ L f (tm ) − k f (2 ) + k f (2 )


k=0 k=0
m
!1/r
X
≤ L (KL)r (1 − 2−r )−1 + (L2 K)r k (n + k)2−(n+k)r
k=0

!1/r
X
= KL2 (1 − 2−r )−1 + Lr k2−kr = KC
k=0

e a prova do lema agora está completa.

O lema anterior é o argumento principal do seguinte teorema que é uma ’fábrica’ de


funções quase-lineares.

Teorema 2.32. Sejam X , Y F -espaços quase-normados e Y0 um subespaço denso de Y .


Considere f : Y0 → X uma aplicação quase-aditiva. Então a função F : Y0 → X definida
por   
kxk f x se x 6= 0
kxk
F (x) =
 0 se x = 0
é quase-linear.

Demonstração. Tomemos primeiro x ∈ Y0 , x 6= 0 e definamos


 
x
g(t) = f t , t ∈ R.
kxk

Observamos que

     
t1 + t2 t1 t2
kg(t1 + t2 ) − g(t1 ) − g(t2 )k = f
x −f x −f x
kxk kxk kxk
 
t1 x t2 x
≤K kxk + kxk

= K (|t1 | + |t2 |)

Logo g é quase-aditiva de ordem K, para cada x ∈ Y0 . Suponhamos agora que 0 < kxk ≤ 1.
Temos pelo lema anterior

kg(kxk) − kxk g(1)k ≤ KX K


 
x
isto é f (x) − kxk f kxk ≤ KX K.

Denotemos por C um módulo de concavidade da quase-norma em X. Então se kxk + kyk ≤


52 SOMAS TORCIDAS 2.4

1/C, temos kx + yk ≤ 1 e assim

kf (x + y) − F (x + y)k ≤ KX K

Isto implica
kF (x + y) − F (x) − F (y)k =

k(F (x + y) − f (x + y)) − (F (x) − f (x)) − (F (y) − f (y)) + (f (x + y) − f (x) − f (y))k


≤ C(kf (x + y) − f (x) − f (y)k + 3C 2 KX K)
≤ CK(1 + 3C 2 KX ) = K ∗ .

x y
Logo aplicando o fato anterior a C(kxk+kyk)
e C(kxk+kyk)
, obtemos

kF (x + y) − F (x) − F (y)k ≤ K ∗ C(kxk + kyk).

Para concluir que F é quase-linear, seja λ ∈ K


   
λx λ x
F (λx) = kλxk f = |λ| kxk f
kλxk |λ| kxk
 
x
= λ kxk f
kxk
= λF (x)

Lema 2.33. Seja φ : R → C uma função Lipschitz. Se L é a constante de Lipschitz de φ,


então

(a) Para todo x1 , x2 ∈ R

|(x1 + x2 )φ(− log |x1 + x2 |) − x1 φ(− log |x1 |) − x2 φ(− log |x2 |)| ≤ L log 2(|x1 | + |x2 |)

(b) Para todo z1 , z2 ∈ C

|(z1 + z2 )φ(− log |z1 + z2 |) − z1 φ(− log |z1 |) − z2 φ(− log |z2 |)| ≤ 8L(|z1 | + |z2 |)

Demonstração. (a). Suponhamos inicialmente x1 , x2 > 0, então


2.4 SIMPLIFICAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE SOMAS TORCIDAS 53


x1 x2
φ(− log(x1 + x2 )) − φ(− log x1 ) − φ(− log x2 )

x1 +x2 x1 +x2

x1 x2
≤ |φ(− log(x1 + x2 )) − φ(− log x1 )| + |φ(− log(x1 + x2 )) − φ(− log x2 )|
x1 + x2 x + x2
    1 
x1 x1 + x2 x2 x1 + x 2
≤L log + log
x1 + x2 x1 x1 + x2 x2
≤ L log 2

onde a última desigualdade resulta do fato que t log(1/t) + (1 − t) log(1/(1 − t)) ≤ log 2
(0 < t < 1)(Isto porque log x é uma função côncava em (0, ∞), logo t log(t−1 ) + (1 −
t) log((1 − t)−1 ) ≤ log(tt−1 + (1 − t)(1 − t)−1 ) = log 2). Portanto, fica provada a desigualdade
de (a) no caso que x1 e x2 tenham o mesmo sinal. Agora suponhamos x1 < 0 e x2 > 0. Então
se x1 + x2 > 0 substituindo x1 por −x1 e x2 por x1 + x2

|(x1 + x2 )φ(− log |x1 + x2 |) − x1 φ(− log |x1 |) − x2 φ(− log |x2 |)|

= |x2 φ(− log x2 ) + x1 φ(− log(−x1 )) − (x1 + x1 )φ(− log(x1 + x2 ))|


≤ L log 2(−x1 + (x1 + x2 ))
≤ L log 2(|x1 | + |x2 |).

Se x1 + x2 < 0, então substituimos x1 por −x1 − x2 e deixamos x2 fixo. Com isto,

|(x1 + x2 )φ(− log |x1 + x2 |) − x1 φ(− log |x1 |) − x2 φ(− log |x2 |)|

= |−(x1 + x1 )φ(− log(−x1 − x2 )) + x2 φ(− log x2 ) + x1 φ(− log(−x1 ))|


≤ L log 2(−(x1 + x2 ) + x2 )
≤ L log 2(|x1 | + |x2 |).

O que completa a prova de (a).


Para demonstrar (b) escrevamos zj = xj + iyj , j = 1, 2. Usando a parte (a), obtemos

|(z1 + z2 )φ(− log |z1 + z2 |) − z1 φ(− log |z1 |) − z2 φ(− log |z2 |)|

= x1 φ(− log |z1 |) − x1 φ(− log |x1 |) + x1 φ(− log |x1 |)
+ x2 φ(− log |z2 |) − x2 φ(− log |x2 |) + x2 φ(− log |x2 |)
− (x1 + x2 )φ(− log |z1 + z2 |) + (x1 + x2 )φ(− log |x1 + x2 |) − (x1 + x2 )φ(− log |x1 + x2 |)
+ iy1 φ(− log |z1 |) − iy1 φ(− log |y1 |) + iy1 φ(− log |y1 |)
+ iy2 φ(− log |z2 |) − iy2 φ(− log |y2 |) + iy2 φ(− log |y2 |)

− i(y1 + y2 )φ(− log |z1 + z2 |) + i(y1 + y2 )φ(− log |y1 + y2 |) − i(y1 + y2 )φ(− log |y1 + y2 |)
54 SOMAS TORCIDAS 2.4

≤ |x1 (φ(− log |z1 |) − φ(− log |x1 |))| + |x2 (φ(− log |z2 |) − φ(− log |x2 |))|
+ |(x1 + x2 ) (φ(− log |x1 + x2 |) − φ(− log |z1 + z2 |))| + L log 2 (|x1 | + |x2 |)
+ |y1 (φ(− log |z1 |) − φ(− log |y1 |))| + |y2 (φ(− log |z2 |) − φ(− log |y2 |))|
+ |(y1 + y2 ) (φ(− log |y1 + y2 |) − φ(− log |z1 + z2 |))| + L log 2 (|y1 | + |y2 |)

     
|z1 | |z2 | |z1 + z2 |
≤ L |x1 | log + |x2 | log + |x1 + x2 | log + log 2 (|x1 | + |x2 |)
|x1 | |x2 | |x1 + x2 |
     
|z1 | |z2 | |z1 + z2 | 
+ |y1 | log + |y2 | log + |y1 + y2 | log + log 2 (|y1 | + |y2 |)
|y1 | |y2 | |y1 + y2 |


≤ 2L |z1 | + |z2 | + |z1 + z2 | + log 2(|z1 | + |z2 |)
≤ 2L(2 + log 2)(|z1 | + |z2 |)
≤ 8L(|z1 | + |z2 |).

Denotemos por L a colecção de todas as funções de Lipschitz φ : R → K tais que


φ(t) = 0 para t ≤ 0. Vamos usar os resultados obtidos até agora para construir operadores
quase-lineares sobre espaços de sequências.

Teorema 2.34. Considere E um espaço quase-normado de sequências sobre um corpo K


que satisfaz as seguintes propriedades

(a) Se en denota o n-ésimo vetor da base canônica(en (k) = δnk ), então o espaço linear c00 (K)
gerado por os vetores (en ) é denso em E.

(b) A quase norma k.k em E satisfaz

• ksxk ≤ ksk∞ kxk, para todo s ∈ `∞ e x ∈ E;


• ken k = 1, para todo n ∈ N;
• kxk∞ ≤ kxk, para todo x ∈ X.

Então, para cada φ ∈ L, existe um operador quase-linear Fφ : E → E, de modo que para


cada x ∈ c00 (K)se x(k) 6= 0, temos
 
x(k) |x(k)|
Fφ (x)[k] = kxk φ − log
kxk kxk
 
kxk
= x(k)φ log
|x(k)|

Demonstração. Como consequência das propriedades (a) e (b) de E, temos que se x ∈ E e


|x| denota a sequência cujo k-ésimo termo é igual a |x(k)|, então |x| ∈ E e k|x|k = kxk. Isto
2.4 SIMPLIFICAÇÕES NA CONSTRUÇÃO DE SOMAS TORCIDAS 55

porque neste caso (en ) forma uma base incondicional de E e tomando a sequência s = (s(k))k
tal que para todo k ∈ N, com x(k) 6= 0

x(k)s(k) = |x(k)|

e s(k) = 0 se x(k) = 0. Assim ksk∞ ≤ 1 e

k|x|k = ksxk ≤ ksk∞ kxk = kxk = s−1 |x| ≤ s−1 ∞ k|x|k ≤ k|x|k

onde s−1 (k) = (s(k))−1 se s(k) 6= 0 e s−1 (k) = 0 se s(k) = 0. Do mesmo modo, observamos
que se x, y ∈ E são tais que |x(k)| ≤ |y(k)| par todo k ∈ N, então kxk ≤ kyk.

Seja φ ∈ L definamos uma aplicação fφ : c00 (K) → c00 (K) mediante a fórmula

x(k)φ(− log |x(k)|), se x(k) 6= 0, k ∈ N,
fφ (x)[k] = (2.8)
 0, se x(k) = 0, k ∈ N.

fφ assim definida é quase-aditiva(em relação à quase-norma de E). Para provar isto, obser-
vemos que pelo Lema (2.33) se L é a constante de Lipschitz de φ e x1 , x2 ∈ E

|fφ (x1 )[k] + fφ (x2 )[k] − fφ (x1 + x2 )[k]| ≤ 8L (|x1 (k)| + |x2 (k)|) .

Segue do comentário anterior que

kfφ (x1 ) + fφ (x2 ) − fφ (x1 + x2 )k ≤ 8L k|x1 | + |x2 |k


≤ 8LK (kx1 k + kx2 k)

Onde K é o módulo de concavidade de k.k. Agora pelo Teorema (2.32) fφ induz uma aplicação
quase-linear F0 : c00 (K) → c00 (K) que podemos extender(Teorema (2.28)) a um operador
quase-linear Fφ : E → E. E, pela construção Fφ satisfaz a fórmula do enunciado.

O seguinte teorema é também um método de construção de somas torcidas, agora em


espaços mais gerais do que o teorema anterior.

Teorema 2.35. Sejam X e Y espaços quase-normados e Z um espaço vetorial tal que


Y ⊆ Z. Suponhamos que exista Ω : X → Z uma aplicação tal que

(a) Ω(λx) = λΩ(x) para todo x ∈ X e λ ∈ K.

(b) Ω(x1 + x2 ) − Ω(x1 ) − Ω(x2 ) ∈ Y para todo par x1 , x2 ∈ X. Além disso, existe uma
constante K > 0 tal que

kΩ(x1 + x2 ) − Ω(x1 ) − Ω(x2 )kY ≤ K (kx1 kX + kx2 kX ) .


56 SOMAS TORCIDAS 2.4

Se denotamos por E = {(x, z) ∈ X × Z; z − Ω(x) ∈ Y } e definimos para (x, z) ∈ E

k(x, z)kΩ = kxkX + kz − Ω(x)kY .

Então (E, k.kΩ ) é um espaço quase-normado isométrico a uma soma torcida Y ⊕Ω0 X, para
algum operador quase-linear Ω0 : X → Y , tal que Ω − Ω0 : X → Y é linear.

Demonstração. Pelas propriedades de Ω é fácil notar que E é um espaço vetorial. Vejamos


que k.kΩ é uma quase-norma em E. Considere M um módulo de concavidade para as quase-
normas em X e Y e tomemos (xi , zi ) ∈ E, i = 1, 2.

k(x1 , z1 ) + (x2 , z2 )kΩ = kx1 + x2 kX + kz1 + z2 − Ω(x1 + x2 )kY


≤ M (kx1 kX + kx2 kX + kz1 − Ω(x1 )kY )
+ M 2 (kz2 − Ω(x2 )kY + kΩ(x1 + x2 ) − Ω(x1 ) − Ω(x2 )kY )
≤ M + M 2 K (k(x1 , z1 )kΩ + k(x2 , z2 )kΩ )


Seja Q : Z → Z/Y a aplicação quociente. Pelo Lema (1.6) existe uma aplicação linear
η : Z/Y → Z tal que Q ◦ η = idZ/Y . Dado que Q ◦ Ω : X → Z/Y é linear( condição (b) de
Ω), definamos A = η(Q ◦ Ω). Portanto Q ◦ A = Q ◦ Ω e em consequência Ω − A(x) ∈ Y para
todo x ∈ X. Escrevamos Ω0 = Ω − A : X → Y . Verificamos pelas propriedades (a) e (b) que
Ω0 é um operador quase-linear, pois

Ω0 (x1 + x2 ) − Ω0 (x1 ) − Ω0 (x2 ) = Ω(x1 + x2 ) − Ω(x1 ) − Ω(x2 )

para todo x1 , x2 ∈ X. Formemos a soma torcida Y ⊕Ω0 X com a quase-norma

k(y, x)kΩ0 = kxkX + ky − Ω0 (x)kY

e definamos T : Y ⊕Ω0 X → E mediante a fórmula T (y, x) = (x, y + Ax). Com isto, T está
bem definida, pois y + Ax − Ω(x) = y − Ω0 (x) ∈ Y . Além disso

kT (x, y)kΩ = kxkX + ky + Ax − Ω(x)kY


= kxk2 + ky − Ω0 (x)kY
= k(x, y)kΩ0

Por último, T é sobrejetora, já que (x, z) = T (z − Ax, x) e para (x, z) ∈ E temos z − Ax =


(z − Ω(x)) + (Ω(x) − Ax) ∈ Y . Logo T é uma isometría linear entre E e Y ⊕Ω0 X.
Capítulo 3

Exemplo de um espaço de Banach não


isomorfo a seu conjugado complexo

Neste capítulo, para cada α ∈ (−∞, ∞) vamos definir um espaço de Banach Z2 (α) que é
uma soma torcida de `2 com `2 . Demonstraremos que o espaço conjugado de Z2 (α) é isomorfo
a Z2 (−α). Usando o fato que cada Z2 (α) possui uma F.D.D contrátil, mostraremos que se
α 6= β então Z2 (α) não é isomorfo com nenhum subespaço de Z2 (β). Portanto, para α 6= 0,
Z2 (α) não é isomorfo ao conjugado.

3.1 Construção do espaço Z2(α)


Usando as técnicas do capítulo anterior, vamos construir um espaço de Banach não
isomorfo a seu conjugado complexo.
Com a notação do Teorema (2.35), seja Z = CN o conjunto de todas as sequências de valores
complexos e X = Y = `2 subespaço de Z. Para cada função de Lipschitz φ : [0, ∞] → C,
definamos uma aplicação Ωφ : `2 → CN mediante
 
kxk2
(
x(n)φ log |x(n)|
se x(n) 6= 0
Ωφ (x)(n) =
0 se x(n) = 0.

É claro que Ωφ (λx) = λΩφ (x) par todo λ ∈ C.


Escrevamos fφ como na fórmula (2.8) da seção anterior

x(n)φ(− log |x(n)|), se x(n) 6= 0, k ∈ N,
fφ (x)(n) =
 0, se x(n) = 0, k ∈ N.

Segue do Lema (2.33) que se L é a constante de Lipschitz de φ, então

kfφ (x1 ) + fφ (x2 ) − fφ (x1 + x2 )k2 ≤ 8L (kx1 k2 + kx2 k2 ) .

57
58 EXEMPLO DE UM ESPAÇO DE BANACH NÃO ISOMORFO A SEU CONJUGADO
COMPLEXO 3.2

Também observemos que para cada x ∈ `2 com kxk2 ≤ 1 e cada x(n) 6= 0

 
kxk 2

|Ωφ (x)(n) − fφ (x)(n)| = x(n)φ log − x(n)φ(− log |x(n)|)
|x(n)|
 
kxk2 |x(n)|
≤ L |x(n)| log

|x(n)|
|x(n)|
≤ L .
kxk2

Em consequência kΩφ (x) − fφ (x)k2 ≤ L. Suponhamos kx1 k2 + kx2 k2 ≤ 1

kΩφ (x1 + x2 ) − Ωφ (x1 ) − Ωφ (x2 )k ≤ kΩφ (x1 + x2 ) − fφ (x1 + x2 )k2

+ kΩφ (x1 ) − fφ (x2 )k2 + kΩφ (x2 ) − fφ (x2 )k2 +

kfφ (x1 ) + fφ (x2 ) − fφ (x1 + x2 )k ≤ 11L

Agora, se x1 , x2 ∈ `2 arbitrários, fica claro que

kΩφ (x1 + x2 ) − Ωφ (x1 ) − Ωφ (x2 )k2 ≤ 11L (kx1 k2 + kx2 k2 )

Portanto, Ωφ satisfaz as condições (a) e (b) do Teorema (2.35). Denotemos por Z2 (φ) =
{(x, y) ∈ `2 × C∞ ; y − Ωφ (x) ∈ `2 }. Então

k(x, y)kφ = kxk2 + ky − Ωφ (x)k2

define uma quase-norma em Z2 (φ). Assim, podemos considerar (Z2 (φ), k.kφ ) como uma soma
torcida de `2 com ele mesmo e em consequência Z2 (φ) será um espaço de Banach refle-
xivo(Teoremas (2.27) e (2.15)) com uma norma equivalente a k.kφ .
Em particular vamos estudar os espaços Z2 (φ) para as funções φα (t) = t1+iα , t ≥ 0 para
α ∈ (−∞, ∞). Denotamos por Z2 (α) o espaço Z2 (φα ) e Ωα no lugar de Ωφα

3.2 Propriedades do espaço Z2(α)


Lema 3.1. A sequência de subespaços {En }∞
n=1 de Z2 (φ), onde En = span {(en , 0), (0, en )},
é uma 2-F.D.D contrátil de Z2 (φ).
P∞
Demonstração. Seja (x, y) ∈ Z2 (φ). Vamos mostrar que n=1 (x(n)en , y(n)en ) converge a
3.2 PROPRIEDADES DO ESPAÇO Z2 (α) 59

(x, y) em Z2 (φ). Dado n ∈ N e z ∈ `2 , denotaremos por z n :=


P
k>n z(k)ek . Assim

n X   n
X kx k
(x, y) − (x(k)ek , y(k)ek ) = kxn k2 + y(k) − x(k)φ log 2
ek


k=1

k>n
|x(k)|
φ 2
 
n n
X kxk2
≤ kx k2 + k(y − Ωφ (x)) k2 + L x(k) log

n
kx k2


k>n 2
 
n kxk
= kxn k2 + k(y − Ωφ (x)) k2 + L kxn k2 log 2
kxn k2

e a última expressão tem limite zero quando n → ∞. Portanto, a série ∞


P
n=1 (x(n)en , y(n)en )

converge para (x, y). Dado que dimEn = 2 , concluímos que {En }n=1 é uma 2-F.D.D. Segue
do Teorema (1.52) que a decomposição é contrátil, pois Z2 (φ) é um espaço reflexivo.

Observação 3.2. Dada uma sequência crescente k = (kn )∞ n=1 de inteiros positivos, o ope-
rador Tk : Z2 (φ) → Z2 (φ) definido por Tk (x, y) = (xπk , yπk ) onde xπk (n) = x(kn ), é linear e
contínuo, pois kTk (x, y)kφ ≤ k(x, y)kφ , assim kTk k ≤ 1. Nos próximos argumentos, vamos
estudar o comportamento de certos operadores definidos em Z2 (φ). Usando Tk será possí-
vel simplificar a análise destes, considerando só o seu comportamento nos subespaços Ekn
relativos à sequência k.

Lema 3.3. Seja β ∈ (−∞, ∞). Se b = 1 + iβ, então para t > s > 0

b
t − sb ≥ t − s (3.1)
b
t − sb ≤ |b| (t − s) (3.2)
t − sb − bsb−1 (t − s) ≤ 1 |b| |s|−1 (t − s)2
b
(3.3)
2

Demonstração. A primeira desigualdade resulta de tb − sb ≥ tb − sb = t − s. Para

obter (3.2), derivamos φ0β (t) = (1 + iβ)t1+iβ t−1 = btiβ , logo φ0β (t) ≤ |β| para todo t > 0,

assim tb − sb ≤ |b| (t − s). Para a terceira fórmula, usamos aproximação por Taylor, ou

seja, para algum s < u < t temos φβ (t) − φβ (s) − φ0β (s)(t − s) = 21 φ00β (u) (t − s)2 =
bu u (t − s)2 ≤ 12 |b| |s|−1 (t − s)2 .

1 iβ −1
2

Dado β ∈ (−∞, ∞), escrevamos b = 1 + iβ. Definamos para cada w ∈ `2 uma sequência
Ω0β (w), mediante a fórmula

w(n)(log |w(n)|−1 )b , se w(n) 6= 0,
0
Ωβ (w)(n) =
 0, se w(n) = 0.

Pela definição Ω0β (w) preserva o suporte da sequência w, no sentido que Ω0β (w)(n) = 0 para
60 EXEMPLO DE UM ESPAÇO DE BANACH NÃO ISOMORFO A SEU CONJUGADO
COMPLEXO 3.3

todo n tal que w(n) = 0. Também observamos que


   
Ωβ (w)(n) − Ω0β (w)(n) = w(n)fβ log kwk2 − w(n)fβ log 1


|w(n)| |w(n)|

kwk2 1
≤ |w(n)| |b| log
− log
|w(n)| |w(n)|
= |w(n)| |b| |log kwk2 |

Para kwk2 ≤ 1 temos |log kwk2 | ≤ 1/ kwk2 e portanto

Ωβ (w) − Ω0β (w) ≤ |b|



2
(3.4)
P
Se A é um subconjunto finito de N, vamos denotar por ξA = n∈A en . Para u ∈ CN ,
P
escreveremos uξA = n∈A u(n)en .

Lema 3.4. O conjugado complexo de Z2 (α) é isomorfo a Z2 (−α)

Demonstração. Seja α ∈ (−∞, ∞). Definamos o operador T : Z2 (−α) → Z2 (α) por

T (x, y) = (x, y)

onde x representa a sequência x(k) = x(k) para cada k ∈ N. Do fato que t1+iα = t1−iα , t ≥ 0
temos    
kxk2 kxk2
y(n) − x(n)fα log = y(n) − x(n)f−α log
|x(n)| |x(n)|
segue-se que kT (x, y)kα = k(x, y)k−α , logo T está bem definido e é bijetor. T é C linear,
pois T (λ(x, y)) = λ T (x, y). Assim, T é um isomorfismo C linear entre os espaços Z2 (−α)
e Z2 (α).

Definição 3.5. Um operador linear contínuo T : Z2 (α) → Z2 (β) será chamado c-admissível,
para algum c > 0, se kT k < 1 e kT (en , 0)kβ , kT (0, en )kβ > c para todo n ∈ N.

3.3 Isomorfismos entre os espaços Z2(α)


O objetivo principal é provar o seguinte teorema.

Teorema 3.6. Se Z2 (α) é isomorfo a um subespaço de Z2 (β), então α = β.

Seja α 6= 0 e suponhamos que Z2 (α) seja isomorfo a um subespaço de Z2 (β). A prova do


teorema resulta das seguintes afirmações:
Afirmação 1. Existe um operador linear contínuo T : Z2 (α) → Z2 (β) c-admissível. E
existem sequências complexas u, v, w e y e uma sequência crescente de inteiros positivos
3.3 ISOMORFISMOS ENTRE OS ESPAÇOS Z2 (α) 61

(pn )∞
n=0 tais que

T (en , 0) = (uξBn , vξBn )


T (0, en ) = (wξBn , yξBn )

onde Bn = {pn−1 , . . . , pn − 1}.


Afirmação 2. O operador T obtido na afirmação 1 satisfaz limn→∞ kwξBn k2 = 0.
Afirmação 3. Existe um operador linear contínuo T : Z2 (α) → Z2 (β) c-admissível. E
existem sequências complexas u, v e y e uma sequência crescente de inteiros positivos (pn )∞
n=0
tais que

T (en , 0) = (uξBn , vξBn )


T (0, en ) = (0ξBn , yξBn )

onde Bn = {pn−1 , . . . , pn − 1}. Em outras palavras podemos tomar o operador T da afirma-


ção 1, tal que w = 0.
Afirmação 4. O operador T obtido na afirmação 3 satisfaz inf n∈N kuξBn k∞ 6= 0.
Afirmação 5. Existe um operador linear contínuo S : Z2 (α) → Z2 (β) com kSk < 1 tal que

S(en , 0) = (λen , µen )


S(0, en ) = (0, νen )

para constantes λ, µ e ν com λ 6= 0.


Afirmação 6. A existência de um operador como o obtido na afirmação 5 implica que α = β.

Escrevamos a = 1 + iα e b = 1 + iβ.

Afirmação 1. Vamos a obter um operador T : Z2 (α) → Z2 (β) c-admissível, para al-


gum c > 0, e uma sequência crescente de inteiros positivos (pn )∞ n=0 tal que T (en , 0) =
(uξBn , vξBn ) e T (0, en ) = (wξBn , yξBn ) para certas sequências complexas u, v, w e y, onde
Bn = {pn−1 , . . . , pn − 1}.

Considerando um múltiplo escalar de um operador que determina o isomorfismo entre


Z2 (α) e um subespaço de Z2 (β) obtemos um operador linear contínuo T : Z2 (α) → Z2 (β) c-
admissível. Pelo Lema (3.1) os subespaços {En }∞n=1 formam uma 2-F.D.D contrátil de Z2 (α).
Sejam  > 0, tal que kT k +  < 1 e (n )n uma sequência de números reais positivos tais que

kT (en , 0)kβ − n > c

kT (0, en )kβ − n > c


62 EXEMPLO DE UM ESPAÇO DE BANACH NÃO ISOMORFO A SEU CONJUGADO
COMPLEXO 3.3

P
e n n < . Aplicando o Teorema (1.54) e seu corolario (1.55), obtemos um operador linear
contínuo Te : Z2 (α) → Z2 (β) e ’blockings’ {Fn }∞ ∞
n=0 de {En } em Z2 (α) e {Gn }n=0 de {En }
em Z2 (β), satisfazendo

(a) Te(x) ∈ Gn , para todo x ∈ F2n .



(b) Te(x) ≥ kT xkβ − n kxkα , para todo x ∈ Fn .

β

(c) Te ≤ kT k +  < 1.

Supondo que os ’blockings’ {Fn }∞ ∞


n=0 e {Gn }n=0 são gerados pelas sequências t0 = 1 < t1 <
t2 < . . . e p0 = 1 < p1 < p2 < . . ., respetivamente, definamos k = (kn )n , uma sequência,
onde kn = t2(n−1) para n ≥ 1. Usando o operador Tk (definido na observação (3.2)) associado
à sequência k e escrevendo S = Te ◦ Tk , obtemos

S(en , 0) = (uξBn , vξBn )

S(0, en ) = (wξBn , yξBn ) (3.5)

onde u, v, w e y são sequências complexas e Bn = {pn−1 , . . . , pn − 1} para n ≥ 1. Além disso



kS(en , 0)kβ = T (et2(n−1) , 0) ≥ T (et2(n−1) , 0) − t2(n−1) > c.
e
β β


De modo análogo, kS(0, en )kβ > c para todo n ∈ N. Notemos também que kSk ≤ Te < 1.

Logo S é o operador requerido.

Afirmação 2. Vamos provar para o operador obtido na afirmação anterior que limn→∞ kwξBn k2 =
0.
Caso contrário, existiria um δ > 0 e uma sequência crescente (kn )∞
n=1 de inteiros positivos

tais que wξBkn 2 ≥ δ para todo n. Pela observação (3.2), podemos supor que kn = n para

todo n ∈ N, pois é simplesmente trabalhar com T ◦ Tk .
Dado um inteiro N , seja A = {1, 2, . . . , N }. Notemos que

T (0, N −1/2 ξA ) ≤ kT k (0, N −1/2 ξA )



β α

= kT k < 1

pois (0, N −1/2 ξA ) α = N −1/2 kξA k2 = 1. Logo
3.3 ISOMORFISMOS ENTRE OS ESPAÇOS Z2 (α) 63

!

−1/2 X X
N yξBj − Ωβ N −1/2 wξBj ≤ 1 (3.6)


j∈A j∈A

P 
−1/2 −1/2
 P
já que T 0, N ξA = N j∈A yξBj , j∈A wξBj .
De forma análoga

kT (0, ej )kβ ≤ kT k k(0, ej )kα


= kT k < 1

e pela equação (3.5)



kT (0, ej )kβ = (wξBj , yξBj ) β

= yξBj − Ωβ (wξBj ) 2 + wξBj 2 .

Em consequência wξBj 2 < 1 para todo j ∈ N. Agora, como Bi ∩ Bj = ∅ para i 6= j,
observamos que


−1/2 X
N wξBj ≤ 1. (3.7)


j∈A 2

Com efeito,
2
X XX
wξBj = |w(k)|2



j∈A 2 j∈A k∈Bj

wξB 2 ≤ N.
X
= j
j∈A


Usando o mesmo argumento, e o fato que yξBj − Ωβ (wξBj ) 2 < 1 segue também que

X X
−1/2
N yξBj − Ωβ (N −1/2 wξBj ) ≤ 1 (3.8)


j∈A j∈A 2

pois Ωβ preserva o suporte das sequências. Por (3.6) , (3.8) e desigualdade triangular, obtemos
!
X X 
Ωβ N −1/2 wξBj − N −1/2 Ωβ wξBj ≤ 2 (3.9)


j∈A j∈A 2
64 EXEMPLO DE UM ESPAÇO DE BANACH NÃO ISOMORFO A SEU CONJUGADO
COMPLEXO 3.3

Agora, por (3.7) e a equação (3.4)


! !
X X
−1/2
Ωβ N wξBj − Ω0β N −1/2
wξBj ≤ |b| (3.10)


j∈A j∈A

e para todo j
Ωβ (wξB ) − Ω0β (wξB ) ≤ |b| .

j j

Da equação anterior obtemos



X X
−1/2  −1/2 0

N Ωβ wξBj − N Ωβ wξBj ≤ |b| (3.11)


j∈A j∈A

Pois Ω0β também preserva o suporte. Novamente pela desigualdade triangular, juntando (3.9),
(3.10) e (3.11)
!
X X 
0
Ωβ N −1/2 wξBj − N −1/2 Ω0β wξBj ≤ 2(1 + |b|)


j∈A j∈A

Desenvolvendo a fórmula anterior, que só interessa quando w(k) 6= 0, obtemos

√ !b 
2
N b
1 X X 2
N 1
≤ 4(1 + |b|)2 .
|w(k)| log − log
N j=1 k∈B |w(k)| |w(k)|
j

Segue do Lema (3.3) equação (3.1)

√ !b 

b √ 
N 1
log − log ≥ log N

|w(k)| |w(k)|

e assim

√ !b 
2
b
 √ 2

X 2
N 1 ≥ wξB 2 log N .

|w(k)| log − log j 2
k∈Bj |w(k)| |w(k)|

Portanto
N
1 X  √ 2
4(1 + |b|)2 ≥ wξB 2 log N
j 2
N j=1
 √ 2
≥ δ 2 log N

para todo N ∈ N. Isto é um absurdo, logo limn→∞ kwξBn k2 = 0.


3.3 ISOMORFISMOS ENTRE OS ESPAÇOS Z2 (α) 65

Afirmação 3. Vamos observar que pelo fato anterior, existe um operador c admissível
com as propriedades da afirmação 1, tal que w = 0.

Definamos operadores Wn : En → Z2 (β) para cada n da seguinte forma

Wn (0, en ) = (wξBn , Ωβ (wξBn ))


Wn (en , 0) = 0

e extendamos a En por linearidade, ou seja Wn (xn en , yn en ) = yn Wn (0, en ). Observemos que

kWn (xn en , yn en )kβ ≤ |yn | k(wξBn , Ωβ (wξBn ))kβ


= |yn | kwξBn k2
≤ kwξBn k2 k(xn en , yn en )kα

Com isto, kWn k ≤ kwξBn k2 .


Tomemos  > 0 de modo que kT k +  < 1. Como na afirmação 1, podemos obter uma
sequência (n )n de números reais positivos tais que ∞
P
n=1 n < /2K onde K é a constante

da decomposição {En }n=1 e
kT (en , 0)kβ − n > c.

kT (0, en )kβ − n > c.

Do fato que limn→∞ kwξBn k2 = 0, concluímos que existe uma sequência crescente k = (kn )n

de inteiros positivos tal que wξBkn 2 ≤ n para todo n ∈ N. Seja Tk o operador associado
à sequência k, como na observação (3.2), se Tkn denota o operador Tk restrito ao subespaço
En , então
Wkn Tkn : En → Z2 (β)

satisfaz kWkn Tkn k ≤ kWkn k kTkn k ≤ n . Pelo Lema (1.53), o operador W = n Wkn Tkn é
P

contínuo e kW k ≤ . Escrevamos S = T ◦ Tk − W , então

• kSk ≤ kT ◦ Tk k +  ≤ kT k +  < 1

• kS(en , 0)kβ = kT (ekn , 0)kβ > c

• k(S(0, en )kβ ≥ kT (0, ekn )kβ − kn > c

e observemos que neste caso

S(0, en ) = (wξBn , yξBn ) − (wξBn , Ωβ (wξBn ))


= (0, yeξBn ).

Assim, S é c-admissível com as propriedades da afirmação 1 e tal que w = 0. Vamos conser-


66 EXEMPLO DE UM ESPAÇO DE BANACH NÃO ISOMORFO A SEU CONJUGADO
COMPLEXO 3.3

var a notação de T para o operador achado.

Afirmação 4. Agora mostraremos que o operador construido na afirmação anterior sa-


tisfaz inf n∈N kuξBn k∞ 6= 0.

Supondo o contrário, dado K > 0 existe uma sequência crescente (kn )∞n=1 de inteiros tais

que uξBkn ∞ ≤ e−K . Mais uma vez, pelo argumento da subsequência dado pela observação
(3.2), podemos assumir que existe um operador admissível T : Z2 (α) → Z2 (β), T = TK
(com w = 0) e tal que kuk∞ ≤ e−K .
Com isto, sejam m1 < M1 e m2 < M2 pares de inteiros e definamos σr = 1/2 log mr e
τr = 1/2 log Mr para r = 1, 2. Seja M qualquer inteiro maior do que max {M1 , M2 }. Suponha
A ⊆ {1, . . . , M } com |A| = m1 . Então kσ1α ξA − Ωα (ξA )k2 = 0, pois
 α
kξA k2 
1/2

Ωα (ξA )(k) = ξA (k) log = log m1 = σ1α
|ξA (k)|

1/2
Logo k(ξA , σ1α ξA )kα = kξA k = m1 . Observemos que
 
−1/2
X −1/2
T m1 (ξA , ξ1α ξA ) = m1 (T (ek , 0) + σ1α T (0, ek ))
k∈A
−1/2
X
= m1 ((uξBk , vξBk ) + σ1α (0, yξBk ))
k∈A
−1/2
X
= m1 (uξBk , vξBk + σ1α yξBk )
k∈A

como kT k ≤ 1, então
X
−1/2 α
m1 (uξBk , vξBk + σ1 yξBk ) ≤ 1



k∈A β

e em consequência
!
X
−1/2 −1/2
X
m1 (vξBk + σ1α yξBk ) − Ωβ m1 uξBk ≤ 1 (3.12)



k∈A k∈A 2

X
−1/2
m1 uξBk ≤ 1.



k∈A 2

Usamos (3.4) e a anterior desigualdade para obter


! !

−1/2 −1/2
X X
Ωβ m1 uξBk − Ω0β m1 uξBk ≤ |b|


k∈A k∈A 2
3.3 ISOMORFISMOS ENTRE OS ESPAÇOS Z2 (α) 67

e logo por (3.12)


!

−1/2 α X −1/2
X X −1/2
m1 σ1 yξBk + m1 vξBk − Ω0β m1 uξBk ≤ 1 + |b|


k∈A k∈A k∈A 2

Para simplificar notação escrevamos ρj = − log |u(j)| se |u(j)| =


6 0 e ρj = K se |u(j)| = 0.
−K
Desta forma, ρj ≥ K pois |u(j)| ≤ e . Agora, desenvolvendo a equação anterior

!  −1 b

−1/2 −1/2 −1/2
X X
Ω0β m1 uξBk = m1 u(j) log m1 uξBk (j) 


k∈A k∈A
 b
−1/2 1/2 −1
= m1 u(j) log m1 + log |u(j)|
−1/2
= m1 u(j)(σ1 + ρj )b .

Então
1 X X a 2
σ1 y(j) + v(j) − (σ1 + ρj )b u(j) ≤ (1 + |b|)2 .
m1 k∈A j∈B
k

Logo, para cada i ∈ {1, . . . , m1 + 1}

m1 +1
σ1a y(j) + v(j) − (σ1 + ρj )b u(j) 2 ≤ m1 (1 + |b|)2
X X

k=1,k6=i j∈Bk

e somando as m1 + 1 desigualdades obtidas

m 1 +1
σ1a y(j) + v(j) − (σ1 + ρj )b u(j) 2 ≤ (m1 + 1)m1 (1 + |b|)2 .
X X
m1
k=1 j∈Bk

Portanto
m 1 +1 X
1 X
σ1 y(j) + v(j) − (σ1 + ρj )b u(j) 2 ≤ (1 + |b|)2
a
m1 + 1 k=1 j∈B
k

e em consequência,

M
1 X X a 2
σ1 y(j) + v(j) − (σ1 + ρj )b u(j) ≤ (1 + |b|)2 .
M k=1 j∈B
k

De maneira análoga

M
1 X X a 2
τ1 y(j) + v(j) − (τ1 + ρj )b u(j) ≤ (1 + |b|)2
M k=1 j∈B
k
68 EXEMPLO DE UM ESPAÇO DE BANACH NÃO ISOMORFO A SEU CONJUGADO
COMPLEXO 3.3

Usando a estimativa (3.3) do Lema (3.3), temos

2
(s + ρj )b − ρbj − bsρb−1 ≤ |b| s

j
2K
2
(τ1 + ρj )b − (σ1 + ρj )b − b(τ1 − σ1 )ρb−1 ≤ |b| τ1

j
K
Definamos
M X
X
κ = σ1a y(j) + v(j) − (σ1 + ρj )b u(j)
k=1 j∈Bk
M X
X
λ = τ1a y(j) + v(j) − (τ1 + ρj )b u(j)
k=1 j∈Bk
M X
X
µ = (τ1 + ρj )b − (σ1 + ρj )b − b(τ1 − σ1 )ρb−1
j u(j)
k=1 j∈Bk

Assim, levando em conta que kuξBk k∞ ≤ 1

kλ − κ + µk2 ≤ kλk2 + kκk2 + kµk2



≤ 2 M (1 + |b|) + M |b| τ12 /K.

Portanto,

M
1 X X a iβ
2
τ1 y(j) − σ1a y(j) − bρj u(j)(τ1 − σ1 )

M k=1 j∈B
k
√ !2
2 M M K −1
≤ (1 + |b|) + |b| τ12
M2 M2
2
≤ 2 (1 + |b|) + K −1 |b| τ12

de onde
M 2 2
(2 (1 + |b|) + K −1 |b| τ12 )
a
1 XX τ1 − σ1a iβ

τ1 − σ1 y(j) − bρj u(j) ≤ (3.13)

M k=1 j∈B (τ1 − σ1 )2
k

Um cálculo similar ao feito até agora, mostra uma equação análoga à anterior para σ2 e τ2 .

M a 2 −1 2 2
τ2 − σ2a
1 XX iβ ≤ (2 (1 + |b|) + K |b| τ2 )

y(j) − bρ j u(j) (3.14)
M k=1 j∈B τ2 − σ2 (τ2 − σ2 )2
k

Lembremos que kT (0, en )kβ ≥ c logo

M
1 XX
|y(j)|2 ≥ c2
M k=1 j∈B
k
3.3 ISOMORFISMOS ENTRE OS ESPAÇOS Z2 (α) 69

Pela desigualdade triangular e as equações (3.13), (3.14)

M
τ1 − σ1a τ2a − σ2a 2
a
1 XX 2
τ1 − σ1 − τ2 − σ2 |y(j)| ≤ L1 + L2

M k=1 j∈B
k

2
(2(1+|b|)+K −1 |b|τr2 )
onde Lr = (τr −σr )2
para r = 1, 2. Portanto
a
τ1 − σ1a τ2a − σ2a

τ1 − σ1 − τ2 − σ2 ≤ N1 + N2 (3.15)

onde
1
K −1 |b| τr2 + 2 + 2 |b|

Nr = (3.16)
c
α
Seja k > 1 um inteiro, é claro que k 6= 1. Vamos mostrar que

k a ςna − ςna
lim (3.17)
n→∞ kςn − ςn

existe, onde ςn = (1/2) log n.


Sejam n, m ∈ N arbitrários, escrevamos

m1 = n e M1 = nk

m2 = n e M2 = nk

Com isto, σ1 = (1/2) log m1 = ςn e τ1 = (1/2) log M1 = kςn , de forma análoga, σ2 = ςm e


τ2 = kςm . Como K é arbitrário na fórmula (3.16), então
0 0
a a
k ςn − ςna k a ςm
a a

− ςm ≤ c + c

kςn − ςn −
kςm − ςm σ1 σ2

para c0 > 0 uma constante . Isto implica que o limite em (3.17) existe, pois a sequência é de
α −1 
Cauchy. Portanto, limn→∞ ςniα kk−1 existe. Em outras palavras

lim (log n)iα


n→∞

existe. Vamos provar que isto é impossivel se α 6= 0. Com efeito, pelo seguinte lema, para
cada t > 0 podemos obter uma subsequência (log nk )iα iαt
nk que converge para e .

Lema 3.7. Seja (tn )n uma sequência de números reais tal que limn→∞ tn = +∞ e limn→∞ tn+1 −
tn = 0. Então para cada t ∈ R+ e cada  > 0, existe n0 ∈ N tal que |(t + 2sπ) − tn0 | < 
para algum inteiro s > 0.

Antes de demonstrar o lema, vejamos como usá-lo. Temos que (log n)iα = eiα(log n) e que a
sequência tn = α log n satisfaz as hipóteses do lema, logo para cada t > 0 existem sequências
70 EXEMPLO DE UM ESPAÇO DE BANACH NÃO ISOMORFO A SEU CONJUGADO
COMPLEXO 3.3

crescentes (sk )k e (nk )k de inteiros positivos tais que

lim tnk − 2sk π = t.


k→∞

Da continuidade da função f (θ) = eiθ , obtemos limk→∞ eitnk = limk→∞ ei(tnk −2sk π) = eiαt .
Assim, o limite em (3.17) não existe.
Portanto, temos provado que existe um operador admissível T com as propriedades da afir-
mação 1, tal que w = 0 e inf kuξBn k∞ > 0.

Demonstração. (Lema (3.7)) Seja M ∈ N tal que |tn+1 − tn | <  para todo n ≥ M . Agora
como limn→∞ tn = +∞, seja s > 0 um inteiro tal que se tn+1 ≥ t + 2sπ implica n + 1 ≥ M e
t1 < t + 2sπ. Logo tomemos n0 = max {n ∈ N; tn < t + 2sπ}. Assim |tn0 +1 − tn0 | <  pois
n0 + 1 ≥ M e
|t + 2sπ − tn0 | < |tn0 +1 − tn0 | < .

Afirmação 5. Agora o objetivo será mostrar que existe um operador linear contínuo
S : Z2 (α) → Z2 (β) com kSk < 1 tal que S(en , 0) = (λen , µen ) e S(0, en ) = (0, νen ) para
constantes λ, µ e ν com λ 6= 0.

Como as sequências u, v e y são limitadas, podemos passar a uma subsequência onde cada
uma converge. Vamos perturbar T no sentido do Lema (1.53). Usando o argumento de sub-
sequência(Observação (3.2)), podemos assumir para cada n ∈ N: |un − λ| < n , |vn − µ| < n
P
e |yn − ν| < n para n tais que n =  seja suficientemente pequeno(tal que kT k+3 < 1).
Notemos que λ 6= 0 pois inf kuξBn k∞ > 0. Definamos Wn : En → Z2 (β) primeiro na base de
En :

Tn (en , 0) = ((un − λ)en , (vn − µ)en )


Tn (0, en ) = (0, (yn − ν)en )

e estenda por linearidade. Assim

kWn (cn en , dn en )kβ = |cn | (|un − λ| + |vn − µ|) + |dn | (|yn − ν|)
≤ 3n k(cn en , dn en )kα .
P
Logo é consequência do Lema (1.53) que W = n Wn é contínuo e kT − W k ≤ kT k+3 < 1.
E neste caso, S = T − W satisfaz

S(en , 0) = (λen , µen )


S(0, en ) = (0, νen )
3.3 ISOMORFISMOS ENTRE OS ESPAÇOS Z2 (α) 71

para todo n ∈ N. O que completa a prova da afirmação.

Afirmação 6. Vamos concluir que se existe um operador linear contínuo S : Z2 (α) →


Z2 (β) com as propriedades da afirmação 5, então devemos ter α = β.

Para cada N ∈ N, definamos o conjunto A = {1, . . . , N }. Anteriormente observamos que


−1/2 a
N −1/2 ξA α = 1

N ξA , σN

onde σN = 12 log N . Portanto

S N −1/2 ξA , σN N −1/2 ξA β ≤ 1
a


Desenvolvendo a equação anterior, obtemos


 √ b
−1/2
a
N (σN ν + µ)ξA − λ log N ξA < 1

2

isto é
a
b
σN ν + µ − λσN ≤ 1.
a b
Portanto, σN ν − λσN é limitado. Fatorizando, observamos que

σN eiα log σN ν − λei(β−α) log σN




é limitado.
Suponhamos que β 6= α(sem perda de generalidade β > α), escrevendo tN = (β − α) log σN
a expressão anterior implica que a sequência
tN
σN eiα β−α ν − λeitN

(3.18)

é limitada. Notemos que o fator σN não é limitado.


Observemos que (tN )N satisfaz as condições do Lema (3.7) e portanto existem sequências
crescentes (sk ) e (Nk ) de inteiros positivos, tais que

lim tNk − 2sk π = 2π


k→∞

Logo, pela continuidade de eiθ , temos 1 = e2πi = limk→∞ e(tNk −2sk π)i = limk→∞ etNk i . Assim

lim ν − λeitNk = ν − λ.
k→∞

Como a expressão (3.18) é limitada, então devemos ter ν = λ.


72 EXEMPLO DE UM ESPAÇO DE BANACH NÃO ISOMORFO A SEU CONJUGADO
COMPLEXO

Agora, aplicando um argumento análogo ao anterior, existe uma subsequência (tNj )j tal que

lim tNj − 2sj π = π


j→∞

e assim −1 = limj→∞ eitNj . Portanto

lim ν − λeitNj = ν + λ
j→∞

e ν + λ 6= 0. Isto contradiz o fato que a sequência em (3.18) é limitada. Logo devemos ter
α = β.

A prova do Teorema (3.6) está completa.

Corolario 3.8. O espaço Z2 (α) não é isomorfo a seu conjugado complexo se α 6= 0.


Referências Bibliográficas

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