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NOTAS DE ESPAÇOS VETORIAIS TOPOLÓGICOS

JORGE MUJICA

IMECC - UNICAMP
SEGUNDO SEMESTRE DE 2011
Sumário

1. Espaços vetoriais topológicos ......................................... ..................1


2. Bases de vizinhanças de zero ...... ......................................................5
3. Espaços localmente convexos.. ......................................................... 8
4. Normas e seminormas ....... ..............................................................10
5. Exemplos de espaços vetoriais topológicos .......................................14
6. Aplicações lineares contı́nuas ... .......................................................18
7. Conjuntos limitados.................................... .....................................20
8. Subespaço e espaço quociente.. ...................................................... 23
9. Produto cartesiano e soma direta ....... ............................................26
10. Espaços completos.................................................. .........................29
11. Espaços de dimensão finita ....... ......................................................34
12. Espaços metrizáveis ..... ...................................................................38
13. Teorema da aplicação aberta e teorema do gráfico fechado .............46
14. Teorema de Banach-Steinhaus .... ....................................................52
15. Teorema de Hahn-Banach, forma analı́tica .. ...................................55
16. Teorema de Hahn-Banach em espaços localmente convexos .. .........59
17. Teorema de Hahn-Banach, forma geométrica ................................. 62
18. Separação de conjuntos convexos.... ............................................... 65
19. Sistemas duais..................... ......................................................... ..68
20. Topologias fracas .............. ..............................................................70
21. Conjuntos polares .................... .......................................................74
22. Topologia da A-convergência.... ..................................................... 78
23. Teorema de Mackey-Arens... .......................................................... 80
24. Espaços tonelados ...................... .....................................................85
25. Espaços bornológicos .................. ....................................................89
26. Espaços reflexivos........................ ................................................... 93
27. Topologias projetivas................ .......................................................97
28. Topologias indutivas........................ ............................................. 102
29. Limites indutivos estritos..... ........................................................ 110
30. Teorema de Banach-Dieudonné......... .............................................115
Bibliografia................................................................ ....................118
1. Espaços vetoriais topológicos
Todos os espaços vetoriais serão espaços vetoriais sobre K, onde K denotará
o corpo R dos números reis ou o corpo C dos números complexos.
1.1. Definição. Diremos que E é um espaço vetorial topológico (abreviado
evt) se E é um espaço vetorial munido de uma topologia τ tal que as seguintes
aplicações são contı́nuas:

(x, y) ∈ E × E → x + y ∈ E,

(λ, x) ∈ K × E → λx ∈ E.
Neste caso diremos que τ é uma topologia vetorial. Para cada a ∈ E denotaremos
por Ua o conjunto de todas as vizinhanças de a em E.
Os exemplos mais simples de espaços vetoriais topológicos são os espaços
normados. Mais adiante veremos outros exemplos.
1.2. Proposição. Seja E um evt. Então:
(a) Para cada a ∈ E, a aplicação

x∈E →a+x∈E

é um homeomorfismo.
(b) Para cada λ 6= 0 em K, a aplicação

x ∈ E → λx ∈ E

é um homeomorfismo.
Demonstração. Imediata.
1.3. Corolário. Seja E um evt. Então:
(a) Para cada a ∈ E, U ∈ U0 se e só se a + U ∈ Ua .
(b) Para cada λ 6= 0 em K, U ∈ U0 se e só se λU ∈ U0 .
1.4. Definição. Se E é um espaço vetorial, então uma topologia τ em E é
dita invariante sob translações se a aplicação

x∈E →a+x∈E

é um homeomorfismo para cada a ∈ E.


1.5. Corolário. A topologia de um espaço vetorial topológico sempre é
invariante sob translações.
1.6. Proposição. Em um evt E, dada U ∈ U0 , existe V ∈ U0 tal que
V + V ⊂ U.
Demonstração. Imediata.

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1.7. Definição. Em um espaço vetorial E, um conjunto A ⊂ E é dito
simétrico se −x ∈ A para todo x ∈ A .
1.8. Proposição. Em um evt E cada vizinhança de zero contém uma
vizinhança simétrica de zero.
Demonstração. Se U é uma vizinhança de zero, então V = U ∩ (−U ) é
uma vizinhança simétrica de zero.
1.9. Proposição. Um evt E é um espaço de Hausdorff se e só se o conjunto
{0} é fechado.
Demonstração. (⇒) Dado x 6= 0 em E em E, existem U, V ∈ U0 tais que
(x + U ) ∩ V = ∅. Em particular 0 ∈
/ x + U , e portanto E \ {0} é aberto.
(⇐) Sejam x, y ∈ E, com x 6= y, ou seja x − y 6= 0. Como E \ {0} é
aberto, existe U ∈ U0 tal que 0 ∈
/ x − y + U . Seja V ∈ U0 , V simétrico, tal que
V + V ⊂ U . Afirmamos que

(x + V ) ∩ (y + V ) = ∅.

Caso contrário existiriam s, t ∈ V tais que x + s = y + t. Logo

0 = (x − y) + (s − t) ∈ x − y + V + V ⊂ x − y + U,

contradição.
1.10. Corolário. Um evt E é um espaço topológico de Hausdorff se e só
se E é um espaço topológico T1 .
1.11. Proposição. Seja E um evt, e seja A ⊂ E. Então:
\ \
A= (A + U ) = (A + U ),
U ∈U0 U ∈B0

sendo B0 qualquer base de vizinhanças de zero em E.


Demonstração. Seja x ∈ A, e seja U ∈ U0 . Seja V ∈ U0 , V simétrica, tal
que V ⊂ U . Como (x+V )∩A 6= ∅ e V é simétrico, vemos que x ∈ A+V ⊂ A+U ,
e portanto \ \
A⊂ (A + U ) ⊂ (A + U ).
U ∈U0 U ∈B0
T
Reciprocamente seja x ∈ U ∈B0 (A + U ), e seja U ∈ U0 . Seja V ∈ U0 ,
V simétrica, tal que V ⊂ U , e seja W ∈ B0 tal que W ⊂ V . Então x ∈
A + W ⊂ A + V . Como V é simétrica, vemos que (x + V ) ∩ A 6= ∅, e portanto
(x + U ) ∩ A 6= ∅. Logo x ∈ A.
1.12. Corolário. Um evt E é um espaço topológico de Hausdorff se e só se
\ \
{0} = U= U,
U ∈U0 U ∈B0

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sendo B0 qualquer base de vizinhanças de zero em E.
1.13. Corolário. Em um evt E cada vizinhança de zero contém uma
vizinhança fechada de zero.
Demonstração. Dada U ∈ U0 , seja V ∈ U0 tal que V + V ⊂ U . Pela
Proposição 1.11, V ⊂ V + V ⊂ U .
1.14. Corolário. Cada evt é um espaço topológico regular.
1.15. Proposição. Em um evt E, se A ⊂ E é aberto e B ⊂ E é arbitrário,
então A + B é aberto.
Demonstração. Temos que
[
A+B = (A + b),
b∈B

e A + b é aberto para cada b ∈ B.


1.16. Proposição. Em um evt E, se A ⊂ E é fechado e B ⊂ E é compacto,
então A + B é fechado.
Demonstração. Seja z ∈ A + B. Então existe uma rede (zi )i∈I ⊂ A + B
que converge a z. Escrevamos zi = xi + yi , com xi ∈ A e yi ∈ B para cada
i ∈ I. Como B é compacto, a rede (yi )i∈I admite uma subrede (yφ(j) )j∈J que
converge a um ponto y ∈ B. Segue que

xφ(j) = zφ(j) − yφ(j) → z − y.

Como A é fechado, vemos que z − y ∈ A. Segue que z = (z − y) + y ∈ A + B, e


portanto A + B é fechado.
1.17. Exemplo. Sejam

A = {(x, y) ∈ R2 : xy = 1}, B = {(x, y) ∈ R2 : xy = −1}.

É claro que A e B são subconjuntos fechados de R2 . Notemos que

(0, 0) = lim [(n, 1/n) + (−n, 1/n)] ∈ A + B,


n→∞

/ A + B. Logo a soma A + B não é fechada em R2 .


mas é fácil ver que (0, 0) ∈

Exercı́cios
1.A. Se E é um espaço normado, prove que:
(a) Se (xn , yn ) → (x, y) em E × E, então xn + yn → x + y em E.
(b) Se (λn , xn ) → (λ, x) em K × E, então λn xn → λx em E.
Ou seja cada espaço normado é um espaço vetorial topológico.

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1.B. Prove que em um evt E, dados U ∈ U0 e n ∈ N, existe V ∈ U0 tal que
2n V ⊂ U .
1.C. (a) Prove que em um evt E cada vizinhança de zero contém uma
vizinhança de zero que é simétrica e fechada.
(b) Prove que em um evt E cada vizinhança de zero contém uma vizinhança
de zero que é simétrica e aberta.
1.D. Seja E um espaço vetorial,Te seja {ASi : i ∈ I} uma famı́lia de subcon-
juntos simétricos de E. Prove que i∈I Ai e i∈I Ai são simétricos.
1.E. Seja E um espaço vetorial, e seja A ⊂ E. Prove que:
(a) A ∩ (−A) é o maior subconjunto simétrico de E que está contido em A.
(b) A ∪ (−A) é o menor subconjunto simétrico de E que contém A.

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2. Bases de vizinhanças de zero
2.1. Definição. Seja E um espaço vetorial, e seja A ⊂ E.
(a) A é dito equilibrado se λx ∈ A para todo x ∈ A e λ ∈ K, com |λ| ≤ 1.
(b) A é dito absorvente se para cada x ∈ E existe δ > 0 tal que λx ∈ A para
todo λ ∈ K, |λ| ≤ δ.
2.2. Proposição. Em um evt E cada vizinhança de zero é absorvente.
Demonstração. Sejam U ∈ U0 e x ∈ E. Como a aplicação

λ ∈ K → λx ∈ E

é contı́nua em 0, existe δ > 0 tal que λx ∈ U para todo |λ| ≤ δ. Logo U é


absorvente.
2.3. Proposição. Em um evt E cada vizinhança de zero contém uma
vizinhança equilibrada de zero.
Demonstração. Seja U ∈ U0 . Como a aplicação

(λ, x) ∈ K × E → λx ∈ E

é contı́nua em (0, 0), existem δ > 0 e V ∈ U0 tais que λx ∈ U para todo |λ| ≤ δ
e x ∈ V . Seja [
W = λV.
|λ|≤δ

Então W é uma vizinhança equilibrada de zero, contida em U .


2.4. Corolário. Em um evt E a topologia é invariante sob translações e
admite uma base B0 de vizinhanças de zero com as seguintes propriedades:
(a) cada U ∈ B0 é equilibrada e absorvente;
(b) dada U ∈ B0 , existe V ∈ B0 tal que V + V ⊂ U .
Demonstração. Seja B0 a famı́lia de todas as vizinhanças equilibradas de
zero em E. É claro que B0 verifica (a) e (b).
2.5. Proposição. Seja E um espaço vetorial, e seja τ uma topologia em
E, invariante sob translações, que admite uma base B0 de vizinhanças de zero
com as seguintes propriedades:
(a) cada U ∈ B0 é equilibrada e absorvente;
(b) dada U ∈ B0 , existe V ∈ B0 tal que V + V ⊂ U .
Então (E, τ ) é um evt.
Demonstração. Como τ é invariante sob translações, a famı́lia

Ba = {a + U : U ∈ B0 }

é uma base de vizinhanças de a, para cada a ∈ E.

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Primeiro provaremos que a aplicação

(x, y) ∈ E × E → x + y ∈ E

é contı́nua em (x0 , y0 ). Dado U ∈ B0 , seja V ∈ B0 tal que V + V ⊂ U . Segue


que
(x + y) − (x0 + y0 ) = (x − x0 ) + (y − y0 ) ∈ V + V ⊂ U
sempre que x − x0 ∈ V e y − y0 ∈ V .
A seguir provaremos que a aplicação

(λ, x) ∈ K × E → λx ∈ E

é contı́nua em (λ0 , x0 ). Escrevamos

(1) λx − λ0 x0 = λ(x − x0 ) + (λ − λ0 )x0 .

Dada U ∈ B0 , existe V ∈ B0 tal que V + V ⊂ U . Como V é absorvente, existe


δ > 0 tal que

(2) (λ − λ0 )x0 ∈ V sempre que |λ − λ0 | ≤ δ.

Seja n ∈ N tal que 2n > |λ0 | + δ. Por (b) e indução existe W ∈ B0 tal que
2n W ⊂ V . Como V é equilibrada, segue que

λW ⊂ V sempre que |λ| ≤ 2n .

logo

(3) λ(x − x0 ) ∈ V sempre que |λ − λ0 | ≤ δ e x − x0 ∈ W.

De (1), (2) e (3) segue que

λx − λ0 x0 ∈ U sempre que |λ − λ0 | ≤ δ e x − x0 ∈ W.

2.6. Proposição. Seja E um espaço vetorial, e seja B0 uma base de filtro


em E com as seguintes propriedades:
(a) cada U ∈ B0 é equilibrado e absorvente;
(b) dado U ∈ B0 , existe V ∈ B0 tal que V + V ⊂ U .
Seja

τ = {A ⊂ X : dado a ∈ A, existe U ∈ B0 tal que a + U ∈ A}.

Então τ é a única topologia vetorial em E que admite B0 como base de vizin-


hanças de zero.
Demonstração. É fácil verificar que τ é uma topologia em E. Segue da
definição de τ que a famı́lia

Ba = {a + U : U ∈ B0 }

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é uma base de vizinhanças de a, para cada a ∈ E. Em particular segue que τ é
invariante sob translações. Pela Proposição 2.5 τ é uma topologia vetorial em
E.
Para provar unicidade, seja τ 0 uma topologia vetorial em E, invariante sob
translações, que admita B0 como base de vizinhanças de zero. Como τ 0 é invari-
ante sob translações, segue que Ba é uma base de vizinhanças de a em (E, τ 0 ),
para cada a ∈ E. Dai segue que τ 0 = τ .

Exercı́cios
2.A. Seja E um espaço vetorial, e seja {Ai : i ∈ I}
T uma famı́lia
S de sub-
conjuntos equilibrados de E. Prove que os conjuntos i∈I Ai e i∈I Ai são
equilibrados.
2.B. Seja E um espaço vetorial, e seja A ⊂ E. Denotaremos por eq(A) a
interseção de todos os subconjuntos equilibrados de E que contém A. Diremos
que eq(A) é a envoltória equilibrada de A. Prove que:
(a) eq(A) é o menor subconjunto equilibrado de E que contém A.
(b) eq(A) = {λx : x ∈ A, λ ∈ K, |λ| ≤ 1}.
2.C. Seja E um evt, e seja A um subconjunto equilibrado de E.
(a) Prove que A é equilibrado.
(b) Prove que, se 0 ∈ intA, então intA é equilibrado.
2.D. Dê um exemplo de um conjunto equilibrado A ⊂ R2 tal que intA não
seja equilibrado.
2.E. (a) Prove que em um evt E cada vizinhança de zero contém uma
vizinhança de zero que é equilibrada e fechada.
(b) Prove que em um evt E cada vizinhança de zero contém uma vizinhança
de zero que é equilibrada e aberta.
2.F. Sejam E e F dois evt’s, e sejam B0 (E) e B0 (F ) bases de vizinhanças de
zero em E e F , respectivamente. Prove que uma aplicação linear T : E → F é
contı́nua se e só se, dada V ∈ B0 (F ), existe U ∈ B0 (E) tal que T (U ) ⊂ V . Em
particular, T é contı́nua se e só se T é contı́nua na origem.

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3. Espaços localmente convexos
3.1. Definição. Em um espaço vetorial E um conjunto A ⊂ E é dito
convexo se αx + βy ∈ A para todo x, y ∈ A e α, β ≥ 0, com α + β = 1.
3.2. Definição. Seja E um espaço vetorial, e seja A ⊂ E.
(a) Denotaremos por co(A) a interseção de todos os subconjuntos convexos
de E que contém A. Diremos que co(A) é a envoltória convexa de A.
(b) Denotaremos por Γ(A) a interseção de todos os subconjuntos convexos
e equilibrados de E que contém A. Diremos que Γ(A) é a envoltória convexa e
equilibrada de A.
Deixamos como exercı́cio a demonstração da proposição seguinte.
3.3. Proposição. Seja E um espaço vetorial e seja A ⊂ E. Então:
(a) co(A) é o P
menor subconjunto convexoP de E que contém A.
n n
(b) co(A) = { j=1 λj xj : xj ∈ A, λj ≥ 0, j=1 λj = 1}.
(c) Γ(A) é o P
menor subconjunto convexo Pe equilibrado de E que contém A.
n n
(d) Γ(A) = { j=1 λj xj : xj ∈ A, λj ∈ K, j=1 |λj | ≤ 1}.
3.4. Corolário. Seja E um espaço vetorial, e seja A um subconjunto
equilibrado de E. Então co(A) é convexo e equilibrado.
3.5. Definição. Diremos que E é um espaço localmente convexo (abreviado
elc) se E é um espaço vetorial topológico tal que cada vizinhança de zero contém
uma vizinhanza convexa de zero. Neste caso diremos que a topologia de E é
uma topologia localmente convexa.
3.6. Proposição. Em um elc E cada vizinhança de zero contém uma
vizinhança convexa e equilibrada de zero.
Demonstração. Seja U ∈ U0 . Como E é localmente convexo, existe U1 ∈
U0 , U1 convexa, tal que U1 ⊂ U . Pela Proposição 2.3 existe U2 ∈ U0 , U2
equilibrada, tal que U2 ⊂ U1 . Seja V = co(U2 ). Como U2 ⊂ V , segue que
V ∈ U0 . Pelo Corolário 3.4 V é convexa e equilibrada. E como U1 é convexa,
segue que V ⊂ U1 ⊂ U .
3.7. Corolário. Em um elc E a topologia é invariante sob translações e
admite uma base B0 de vizinhanças de zero com as seguintes propriedades:
(a) cada U ∈ B0 é convexa, equilibrada e absorvente;
(b) 12 U ∈ B0 para cada U ∈ B0 .
3.8. Corolário. Seja E um espaço vetorial, e seja τ uma topologia em E,
invariante sob translações, que admite uma base B0 de vizinhanças de zero com
as seguintes propriedades:
(a) cada U ∈ B0 é convexa, equilibrada e absorvente;
(b) 21 U ∈ B0 para cada U ∈ B0 .
Então (E, τ ) é um elc.

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1
Demonstração. Como cada U ∈ B0 é convexa, segue que 2U + 12 U ⊂ U .
Basta então aplicar a Proposição 2.5.
3.9. Corolário. Seja E um espaço vetorial, e seja B0 uma base de filtro
em E com as seguintes propriedades:
(a) cada U ∈ B0 é convexo, equilibrado e absorvente;
(b) 12 U ∈ B0 para cada U ∈ B0 .
Seja

τ = {A ⊂ E : dado a ∈ A, existe U ∈ B0 tal que a + U ∈ A}.

Então τ é a única topologia localmente convexa em E que admite B0 como base


de vizinhanças de zero.
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Demonstração. Como cada U ∈ B0 é convexo, segue que 2U + 12 U ⊂ U .
Basta então aplicar a Proposição 2.6.

Exercı́cios

T e seja {Ai : i ∈ I} uma famı́lia de subcon-


3.A. Seja E um espaço vetorial,
juntos convexos de E. Prove que i∈I Ai é convexo.
3.B. Em um espaço vetorial E um conjunto A ⊂ E é dito absolutamente
convexo se αx + βy ∈ A para todo x, y ∈ A e α, β ∈ K com |α| + |β| ≤ 1. Prove
que A é absolutamente convexo se e só se A é convexo e equilibrado.

Pn e seja A ⊂ E. Prove que:


3.C. Seja E um espaço vetorial,
(a) Se A é convexo, então j=1 λj xj ∈ A sempre que xj ∈ A e λj ≥ 0, com
Pn
j=1 λj = 1. Pn
(b) Se A é convexo e equilibrado, então j=1 λj xj ∈ A sempre que xj ∈ A
Pn
e λj ∈ K, com j=1 |λj | ≤ 1.
3.D. Prove a Proposição 3.3.
3.E. Dê um exemplo de um conjunto convexo A ⊂ R2 tal que eq(A) não seja
convexo.
3.F. Seja E um evt, e seja A um subconjunto convexo de E. Prove que A e
intA são convexos.
3.G. (a) Prove que em um elc E cada vizinhança de zero contém uma viz-
inhança de zero que é convexa, equilibrada e fechada.
(b) Prove que em um elc E cada vizinhança de zero contém uma vizinhança
de zero que é convexa, equilibrada e aberta.

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4. Normas e seminormas
4.1. Definição. Seja E um espaço vetorial. Uma função p : E → R é
chamada de seminorma se verifica as seguintes condições:
(a) p(x) ≥ 0 para todo x ∈ E;
(b) p(λx) = |λ|p(x) para todo x ∈ E e λ ∈ K;
(c) p(x + y) ≤ p(x) + p(y) para todo x, y ∈ E.
Uma seminorma p é chamada de norma se p(x) = 0 implica x = 0.
4.2. Proposição. Seja E um espaço vetorial, e seja p : E → R uma
seminorma. Então o conjunto

Up, = {x ∈ E : p(x) < }

é convexo, equilibrado e absorvente.


A demonstração desta proposição é simples e é deixada como exercı́cio.
4.3. Proposição. Seja E um espaço vetorial, e seja P uma famı́lia de
seminormas em E. Seja
 
\ 
B0 = Up, : P0 ⊂ P finito,  > 0 .
 
p∈P0

Então existe uma única topologia localmente convexa τP em E que admite B0


como base de vizinhanças de zero. τP é a topologia vetorial mais fraca em E tal
que cada p ∈ P é contı́nua. Diremos que τP é a topologia localmente convexa
definida por P .
Demonstração. Claramente B0 é uma base de filtro em E que verifica as
condições (a) e (b) do Corolário 3.9. Logo existe uma única topologia localmente
convexa τP em E que admite B0 como base de vizinhanças de zero.
Afirmamos que cada p ∈ P é τP -contı́nua. De fato, como

|p(x) − p(a)| ≤ p(x − a),

segue que
|p(x) − p(a)| <  sempre que x − a ∈ Up, .
Seja τ uma topologia vetorial em E tal que cada p ∈ P seja contı́nua. Então,
dado  > 0, existe uma vizinhança de zero U em (E, τ ) tal que

p(x) <  sempre que x ∈ U.

Segue que U ⊂ Up, , e portanto τP ⊂ τ .


4.4. Corolário. Seja E um espaço vetorial, e seja P uma famı́lia dirigida
de seminormas em E, ou seja, dadas p1 , p2 ∈ P , existe p3 ∈ P tal que p3 ≥ p1
e p3 ≥ p2 . Então os conjuntos Up, , com p ∈ P e  > 0, formam uma base de
vizinhanças de zero em (E, τP ).

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4.5. Corolário. Seja E um espaço vetorial, e seja P uma famı́lia de
seminormas em E. Então (E, τP ) é um espaço topológico de Hausdorff se e só
se \
p−1 {0} = {0}.
p∈P

Demonstração. É claro que


\ \ \
Up, = p−1 {0}.
P0 ⊂P finito, >0 p∈P0 p∈P

Assim basta aplicar a Proposição 4.3 e o Corolário 1.12.


4.6. Definição. Seja E um espaço vetorial, e seja A um subconjunto
absorvente de E. Chamaremos de funcional de Minkowski de A à função pA :
E → R definida por
pA (x) = inf{α > 0 : x ∈ αA}.

4.7. Proposição. Seja E um espaço vetorial, e seja A um subconjunto


convexo, equilibrado e absorvente de E. Então:
(a) pA é uma seminorma em E.
(b) {x ∈ E : pA (x) < 1} ⊂ A ⊂ {x ∈ E : pA (x) ≤ 1}.
Demonstração. Como (b) é claro, basta provar (a). É óbvio que pA (x) ≥ 0
para todo x ∈ E. A seguir provaremos que

pA (λx) = |λ|p(x) para todo x ∈ E, λ ∈ K.

Isto é claro se λ = 0, Se λ 6= 0, então, como A é equilibrado, temos que

pA (λx) = inf{α > 0 : λx ∈ αA} = inf{α > 0 : |λ|x ∈ αA}


α
= inf{α > 0 : x ∈ A} = inf{|λ|β : x ∈ βA} = |λ|pA (x).
|λ|
Finalmente provaremos que

pA (x + y) ≤ pA (x) + pA (y) para todo x, y ∈ E.

Dado  > 0, existem α e β, com

pA (x) ≤ α < pA (x) + , pA (y) ≤ β < pA (y) + ,

tais que x ∈ αA e y ∈ βA. Como A é convexo, segue que


 
α β
x + y ∈ αA + βA = (α + β) A+ A ⊂ (α + β)A.
α+β α+β
Logo
pA (x + y) ≤ α + β ≤ pA (x) + pA (y) + 2.

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Como  > 0 é arbitrário, a conclusão desejada segue.
4.8. Corolário. Seja E um elc, e seja B0 uma base de vizinhanças convexas
e equilibradas de zero em E. Então

P = {pU : U ∈ B0 }

é uma famı́lia dirigida de seminormas que define a topologia de E.


Demonstração. Como B0 é uma base de filtro, P é uma famı́lia dirigida
de seminormas. Segue do Corolário 4.4 que os conjuntos

{x ∈ E : pU (x) < },

com U ∈ B0 e  > 0, formam uma base de vizinhanças de zero para a topologia


τP definida por P . Segue da Proposição 4.7 que

{x ∈ E : pU (x) < } ⊂ U ⊂ {x ∈ E : pU (x) < 2}.

Logo τP coincide com a topologia de E.


A seguinte variante da noção de seminorma será muito útil mais adiante.
4.9. Definição. Seja E um espaço vetorial. Uma função p : E → R é
chamada de funcional sublinear se verifica as seguintes condições:
(a) p(λx) = λp(x) para todo x ∈ E e λ ≥ 0;
(b) p(x + y) ≤ p(x) + p(y) para todo x, y ∈ E.
Nos exercı́cios veremos versões das Proposições 4.2 e 4.7 para funcionais
sublineares positivos.

Exercı́cios
4.A. Prove a Proposição 4.2.
4.B. Seja E um evt, e seja p : E → R uma seminorma. Prove que as
seguintes condições são equivalentes:
(a) p é contı́nua.
(b) O conjunto Up,1 = {x ∈ E : p(x) < 1} é aberto.
(c) O conjunto Up, = {x ∈ E : p(x) < } é aberto para cada  > 0.
(d) p é contı́nua na origem.
4.C. Seja E um evt, e seja A um subconjunto convexo, equilibrado e ab-
sorvente de E. Prove que:
(a) Se A é aberto, então A = {x ∈ E : pA (x) < 1}.
(b) Se A é fechado, então A = {x ∈ E : pA (x) ≤ 1}.
4.D. Sejam E e F dois elc’s, e sejam P e Q famı́lias dirigidas de seminormas
que definem as topologias de E e F , respectivamente. Prove que uma aplicação

12
linear T : E → F é contı́nua se e só se, dada q ∈ Q, existem p ∈ P e c > 0 tais
que
q(T x) ≤ cp(x) para todo x ∈ E.

4.E. Seja E um espaço vetorial real, e seja p : E → R um funcional sublinear


positivo. Prove que o conjunto

{x ∈ E : p(x) < }

é convexo e absorvente para cada  > 0.


4.F. Seja E um espaço vetorial, e seja A uma subconjunto de E que é
convexo e absorvente. Prove que:
(a) pA é um funcional sublinear positivo.
(b) {x ∈ E : pA (x) < 1} ⊂ A ⊂ {x ∈ E : pA (x) ≤ 1}.
4.G. Seja p : Rn → R definida por

p(x) = max{ξ1 , ..., ξn } para cada x = (ξ1 , ..., ξn ) ∈ Rn .

Prove que p é um funcional sublinear, mas não é uma seminorma.


4.H. Seja p : Rn → R definida por

p(x) = max{ξ1+ , ..., ξn+ } para cada x = (ξ1 , ..., ξn ) ∈ Rn .

Aqui ξ + = ξ se ξ ≥ 0, e ξ + = 0 se ξ ≤ 0. Prove que p é um funcional sublinear


positivo, mas não é uma seminorma.
4.I. Seja p : Rn → R definida por

p(x) = max{ξ1− , ..., ξn− } para cada x = (ξ1 , ..., ξn ) ∈ Rn .

Aqui ξ − = 0 se ξ ≥ 0, e ξ − = −ξ se ξ ≤ 0. Prove que p é um funcional sublinear


positivo, mas não é uma seminorma.

13
5. Exemplos de espaços vetoriais topológicos
5.1. Espaços normados. Já vimos no Exercı́cio 1.A que cada espaço
normado E é um espaço vetorial topológico, cuja topologia será denotada por
τE . Os conjuuntos
U = {x ∈ E : kxk < },
com  > 0, formam uma base de vizinhanças de zero que são convexas, equili-
bradas e abertas. Em particular cada espaço normado é um espaço localmente
convexo.
5.2. A topologia fraca de um espaço normado. Seja E um espaço
normado, e seja E 0 seu dual. A topologia fraca de E, que denotaremos por
σ(E, E 0 ), é a topologia localmente convexa em E definida pela famı́lia dirigida
de seminormas pB : E → R definidas por

pB (x) = max |φ(x)|,


φ∈B

com B ⊂ E 0 finito. Os conjuntos

UB, = {x ∈ E : max |φ(x)| < },


φ∈B

com B ⊂ E 0 finito e  > 0, formam uma base de vizinhanças de zero que são
convexas, equilibradas e abertas. É fácil ver que σ(E, E 0 ) ⊂ τE .
5.3. A topologia fraca estrela do dual de um espaço normado. Seja
E um espaço normado, e seja E 0 seu dual. A topologia fraca estrela de E 0 , que
denotaremos por σ(E 0 , E), é a topologia localmente convexa em E 0 definida pela
famı́lia dirigida de seminormas pA : E 0 → R definidas por

pA (φ) = max |φ(x)|,


x∈A

com A ⊂ E finito. Os conjuntos

UA, = {φ ∈ E 0 : max |φ(x)| < },


x∈A

com A ⊂ E finito e  > 0, formam uma base de vizinhanças de zero que são
convexas, equilibrada e abertas. É claro que σ(E 0 , E) ⊂ σ(E 0 , E 00 ) ⊂ τE 0 .
5.4. Espaços de funções contı́nuas. Seja X um espaço topológico, e seja
C(X) o espaço vetorial de todas as funções contı́nuas f : X → K. A topologia
compacto-aberta em C(X) é a topologia localmente convexa em C(X) definida
pela famı́lia dirigida de seminormas pK : C(X) → R definidas por

pK (f ) = sup |f (x)|,
x∈K

com K ⊂ X compacto. Os conjuntos

UK, = {f ∈ C(X) : sup |f (x)| < },


x∈K

14
com K ⊂ X compacto e  > 0, formam uma base de vizinhanças de zero que
são convexas, equilibradas e abertas. Se X é compacto, então é claro que C(X)
é um espaço normado.
5.5. Espaços de funções diferenciáveis. Seja Ω um aberto de Rn , seja
k ∈ N, e seja C k (Ω) o espaço vetorial de todas as funções f : Ω → K de classe
C k . A topologia compacto-aberta de ordem k em C k (Ω) é a topologia localmente
convexa em C k (Ω) definida pela famı́lia dirigida de seminormas pK,k : C k (Ω) →
R definidas por
∂ |α| f


pK,k (f ) = max sup α1
αn (x) ,

|α|≤k x∈K ∂x1 ...∂xn

com K ⊂ Ω compacto. Aqui, se α = (α1 , ..., αn ) ∈ Nn0 , então |α| denota a soma
|α| = α1 + ... + αn . Os conjuntos

∂ |α| f
 
k

UK,k, = f ∈ C (Ω) : max sup α1 αn (x) <  ,

|α|≤k x∈K ∂x1 ...∂xn

com K ⊂ Ω compacto e  > 0, formam uma base de vizinhanças de zero que


são convexas, equilibradas e abertas.
5.6. Espaços de funções holomorfas. Seja Ω um aberto de C, e seja
H(Ω) o espaço vetorial de todas as funções holomorfas f : Ω → C. A topologia
compacto-aberta em H(Ω) é a topologia localmente convexa em H(Ω) definida
pela famı́lia dirigida de seminormas pK : H(Ω) → R definidas por

pK (f ) = sup |f (z)|,
z∈K

com K ⊂ Ω compacto. Os conjuntos

UK, = {f ∈ H(Ω) : sup |f (z)| < },


z∈K

com K ⊂ Ω compacto e  > 0, formam uma base de vizinhanças de zero que são
convexas, equilibradas e abertas. É claro que H(Ω) é um subespaço topológico
de C(Ω).
5.7. Espaços de sequências p-somáveis. Dado p > 0, seja `p o conjunto
de todas as sequências x = (ξn ) ⊂ K tais que


!1/p
X
p
kxkp = |ξn | < ∞.
n=1

É claro que
(1) kλxkp = |λ|kxkp
para todo x ∈ `p , λ ∈ K. Se p ≥ 1, então se verificam as desigualdades de
Minkowski
(2) kx + ykp ≤ kxkp + kykp

15
para todo x, y ∈ `p , e `p é um espaço normado. Neste caso, como sabemos, os
conjuntos
U = {x ∈ `p : kxkp < },
com  > 0, formam uma base de vizinhanças de zero que são convexas, equili-
bradas e abertas. Se 0 < p < 1, então não é difı́cil ver que a desigualdade (2)
não é verdadeira em geral, e que os conjuntos U não são convexos. Mas neste
caso, como logo veremos, se verifica a desigualdade seguinte.

(3) kx + ykpp ≤ kxkpp + kykpp

para todo x, y ∈ `p . Segue de (1) e (3) que `p é um espaço vetorial. Segue


também de (1) que cada U é equilibrado e absorvente. Por outro lado, se
2δ p ≤ p , então segue de (3) que

(4) Uδ + Uδ ⊂ U .

Logo a Proposição 2.6 garante que existe uma única topologia vetorial em `p
que admite a famı́lia de conjuntos U , com  > 0, como base de vizinhanças
de zero. Assim `p é um evt para cada p > 0. Se 0 < p < 1, mesmo sabendo
que cada U não é convexo, não podemos ainda afirmar que `p não é localmente
convexo. Mas na seção 7 veremos que, de fato, se 0 < p < 1, então `p não é
localmente convexo.
Ainda falta provar a desigualdade (3) quando 0 < p < 1. Assim queremos
provar a desigualdade

X ∞
X ∞
X
(5) |ξn + ηn |p ≤ |ξn |p + |ηn |p
n=1 n=1 n=1

para todo x = (ξn ), y = (ηn ) ∈ `p . A desigualdade (5) é consequência imediata


da desigualdade
(6) (a + b)p ≤ ap + bp
para todo a, b > 0. Para provar (6) consideremos a função

φ(t) = tp + (1 − t)p (0 ≤ t ≤ 1).

Então
φ0 (t) = ptp−1 − p(1 − t)p−1 ,
φ00 (t) = p(p − 1)tp−2 + p(p − 1)(1 − t)p−2 .
Como 0 < p < 1, vemos que φ00 (t) < 0 para todo 0 < t < 1, e portanto φ é
côncava para baixo. Como φ(0) = φ(1) = 1, segue que

(7) tp + (1 − t)p = φ(t) ≥ 1 para todo 0 ≤ t ≤ 1.

Fazendo t = a/(a + b) em (7), obtemos (6), completando a demonstração de (5).

16
Exercı́cios
5.A. Se E é um espaço normado, prove que:
(a) σ(E, E 0 ) ⊂ τE .
(b) Se E tem dimensão finita, então σ(E, E 0 ) = τE
(c) Se σ(E, E 0 ) = τE , então E tem dimensão finita.
5.B. Se E é um espaço normado, prove que:
(a) σ(E 0 , E) ⊂ σ(E 0 , E 00 ) ⊂ τE 0 .
(b) Se E tem dimensão finita, então σ(E 0 , E) = τE 0 .
(c) Se σ(E 0 , E) = τE 0 então E tem dimensão finita.
A resolução dos Exercı́cios 5.A e 5.B presupõe conhecimento de resultados
básicos sobre a topologia fraca e a topologia fraca estrela para espaços norma-
dos.
5.C. Seja Ω um aberto de Rn , e seja C ∞ (Ω) o espaço vetorial de todas as
funções f : Ω → K de clase C ∞ . A topologia compacto-aberta de ordem infinita
em C ∞ é a topologia localmente convexa em C ∞ (Ω) definida pela famı́lia di-
rigida de seminormas pK,k , com K ⊂ Ω compacto e k ∈ N, definidas no Exemplo
5.5. Prove que
C ∞ (Ω) ⊂ C k (Ω) ⊂ C j (Ω) ⊂ C(Ω)
para todo j, k ∈ N, com j < k, e todas as aplicações de inclusão são contı́nuas.
5.D. Seja 0 < p < 1.
(a) Ache x, y ∈ `p tais que

kx + ykp > kxkp + kykp .

(b) Prove que o conjunto

U = {x ∈ `p : kxkp < }

não é convexo para cada  > 0.

17
6. Aplicações lineares contı́nuas
Nos Exercı́cios 2.F e 4.D vimos os resultados seguintes:
6.1. Proposição. Sejam E e F dois evt’s, e sejam B0 (E) e B0 (F ) bases
de vizinhanças de zero em E e F , respectivamente. Então uma aplicação linear
T : E → F é contı́nua se e só se, dada V ∈ B0 (F ), existe U ∈ B0 (E) tal que
T (U ) ⊂ V . Em particular, T é contı́nua se e só se T é contı́nua na origem.
6.2. Proposição. Sejam E e F dois elc’s, e sejam P e Q famı́lias dirigidas
de seminormas que definem as topologias de E e F , respectivamente. Então uma
aplicação linear T : E → F é contı́nua se e só se, dada q ∈ Q, existem p ∈ P e
c > 0 tais que
q(T x) ≤ cp(x) para todo x ∈ E.

6.3. Definição. Sejam E e F dois evt’s.


(a) Denotaremos por La (E; F ) o espaço vetorial de todas as aplicaões lineares
T : E → F . Denotaremos por L(E; F ) o subespaço de todas as T ∈ La (E; F )
que são contı́nuas. Quando F = K, escreveremos E ∗ em lugar de La (E; K), e
E 0 em lugar de L(E; K). Diremos que E ∗ é o dual algébrico de E, e que E 0 é o
dual topológico, ou simplesmente o dual de E.
(b) Diremos que T : E → F é um isomorfismo algébrico se T é um isomor-
fismo de espaços vetoriais. Neste caso diremos que E e F são algebricamente
isomorfos. Diremos que T : E → F é um isomorfismo topológico se T é um
isomorfismo algébrico e um homeomorfismo. Neste caso diremos que E e F são
topologicamente isomorfos. Diremos que T : E → F é um mergulho topológico
se T é um isomorfismo topológico entre E e o subespaço T (E) de F .
6.4. Proposição. Seja E um evt. Então um funcional linear φ : E → K é
contı́nuo se e só se seu núcleo φ−1 (0) é fechado em E.
Demonstração. Para provar a implicação não trivial, suponhamos que
φ−1 (0) seja fechado em E. Se φ = 0, então φ é claramente contı́nuo. Se φ 6= 0,
então é fácil achar a ∈ E tal que φ(a) = 1. Como φ−1 (0) é fechado e a ∈
/ φ−1 (0),
existe U ∈ U0 , U equilibrado, tal que

(1) (a + U ) ∩ φ−1 (0) = ∅.

Provaremos que
(2) |φ(x)| < 1 para todo x ∈ U.
Caso contrário existiria b ∈ U tal que |φ(b)| ≥ 1. Seja

b
c=a− .
φ(b)

Então c ∈ (a + U ) ∩ φ−1 (0), contradizendo (1). Isto prova (2), e dai segue que

|φ(x)| <  para todo x ∈ U,  > 0.

18
Pela Proposição 6.1 φ é contı́nuo.

Exercı́cios
6.A. Se E e F são espaços normados, prove que uma aplicação linear T :
E → F é contı́nua se e só se existe c > 0 tal que

kT xk ≤ ckxk para todo x ∈ E.

6.B. Se E e F são espaços normados, prove que uma aplicação linear T :


E → F é um mergulho topológico se e só se existem b ≥ a > 0 tais que

akxk ≤ kT xk ≤ bkxk para todo x ∈ E.

6.C. Sejam E e F dois espaços vetoriais. Seja {ei : i ∈ I} uma base de E


e seja {bi : i ∈ I} uma famı́lia arbitrária em F . Prove que existe uma única
aplicação linear T : E → F tal que T ei = bi para cada i ∈ I.
6.D. Sejam E e F dois espaços vetoriais. Seja E0 um subespaço de E, e
seja T0 : E0 → F uma aplicação linear. Prove que existe uma aplicação linear
T : E → F tal que T x = T0 x para todo x ∈ E0 .
6.E. Seja E um espaço normado de dimensão infinita, e seja F um espaço
normado não trivial, ou seja F 6= {0}. Prove que existe uma aplicação linear
descontı́nua T : E → F .
6.F. Seja E um espaço vetorial, e seja φ : E → K um funcional linear, φ 6= 0.
Prove que existe a ∈ E tal que cada x ∈ E admite uma única representação da
forma
x = λa + z, com λ ∈ K, z ∈ φ−1 (0).
6.G. Seja E um evt, e seja φ : E → K um funcional linear. Prove que o
subespaço φ−1 (0) é fechado em E ou denso em E.

19
7. Conjuntos limitados
7.1. Definição. Em um evt E um conjunto A ⊂ E é dito limitado se dada
U ∈ U0 , existe δ > 0 tal que λA ⊂ U para todo λ ∈ K, |λ| ≤ δ.
É claro que na definição de conjunto limitado podemos substituir U0 por
qualquer base de vizinhanças de zero.
7.2. Proposição. Em um evt E um conjunto A ⊂ E é limitado se e só se,
dadas sequências (xn ) ⊂ A e (λn ) ⊂ K, com λn → 0, tem-se que λn xn → 0.
Demonstração. (⇒) Suponhamos A limitado, e sejam (xn ) ⊂ A e (λn ) ⊂
K, com λn → 0. Seja U ∈ U0 , e seja δ > 0 tal que λA ⊂ U para todo |λ| ≤ δ.
Seja n0 ∈ N tal que |λn | ≤ δ para todo n ≥ n0 . Segue que λn xn ∈ U para todo
n ≥ n0 , e portanto λn xn → 0.
(⇐) Suponhamos que A não seja limitado. Então existem U ∈ U0 e (λn ) ⊂ K
tais que |λn | ≤ 1/n e λn A 6⊂ U para cada n. Logo existe (xn ) ⊂ A tal que
λn xn ∈
/ U para cada n. Assim λn → 0, mas λn xn 6→ 0.
7.3. Proposição. Sejam E e F dois evt’s, e seja T ∈ L(E; F ). Então
T (A) é limitado em F para cada limitado A ⊂ E.
Demonstração. Seja A limitado em E, e seja V ∈ U0 (F ). Como T é
contı́nua, existe U ∈ U0 (E) tal que T (U ) ⊂ V . Como A é limitado em E, existe
δ > 0 tal que λA ⊂ U para todo |λ| ≤ δ. Segue que λT (A) = T (λA) ⊂ T (U ) ⊂
V para todo |λ| ≤ δ. Logo T (A) é limitado em F .
Se E e F são espaços normados, então é bem conhecido que uma aplicação
linear T : E → F é contı́nua se e só se T transforma limitados de E em
limitados de F . Mais adiante veremos que esse resultado não vale em geral
no caso de evt’s. Mais especificamente veremos que, se E é um espaço normado
de dimensão infinita, então a aplicação identidade
I : (E, σ(E, E 0 )) → (E, τE )
transforma limitados em limitados, mas não é contı́nua.
7.4. Proposição. Seja E um evt de Hausdorff, e seja M um subespaço
vetorial de E. Então M é limitado se e só se M = {0}.
Demonstração. É claro que se M = {0}, então M é limitado. Reciproca-
mente suponhamos M limitado e seja x ∈ M . Como nx ∈ M para todo n ∈ N,
segue da Proposição 7.3 que x = n1 (nx) → 0. Como E é Hausdorff, segue que
x = 0.
7.5. Proposição. Em um elc E, se A ⊂ E é limitado, então co(A) e Γ(A)
são limitados.
Demonstração. Seja A ⊂ E limitado, e seja U uma vizinhança convexa e
equilibrada de zero em E. Como A é limitado, existe δ > 0 tal que
λA ⊂ U para todo λ ∈ K, |λ| ≤ δ.

20
Usando a Proposição 3.3 segue que

λco(A) ⊂ λΓ(A) = Γ(λA) ⊂ U para todo λ ∈ K, |λ| ≤ δ.

Logo co(A) e Γ(A) são limitados.


7.6. Proposição. Se 0 < p < 1, então o espaço `p não é localmente
convexo.
Demonstração. Seja A = {en : n ∈ N}, onde en = (0, ..., 0, 1, 0, 0, ...), com
o número 1 no lugar n. No Exemplo 5.7 vimos que os conjuntos

U = {x ∈ `p : kxkp < },

com  > 0, formam uma base de vizinhanças de zero em `p . Como ken k = 1


para cada n, vemos que

λA ⊂ U para todo |λ| < ,

e portanto A é limitado. Seja


1
xn = (e1 + ... + en ) para cada n.
n
Então xn ∈ co(A) para cada n e
1
kxn k = n p −1 → ∞.

Segue que co(A) não é limitado. Pela Proposição 7.5 `p não é localmente con-
vexo.
7.7. Definição. (a) Um evt E é dito normável se existe uma norma em E
que define a topologia de E.
(b) Um evt E é dito localmente limitado se cada vizinhança de zero em E
contém uma vizinhança limitada de zero.
7.8. Proposição. Um evt de Hausdorff E é normável se e só se E é
localmente convexo e localmente limitado.
Demonstração. (⇒) Seja k.k : E → R uma norma em E que define a
topologia de E. Então as bolas

U = {x ∈ E : kxk < },

com  > 0, formam uma base de vizinhanças convexas e limitadas de zero em


E.
(⇐) Suponhamos que E seja localmente convexo e localmente limitado.
Então, usando a Proposição 3.6, podemos achar uma vizinhança de zero U
que é convexa, equilibrada e limitada. Como U é limitada, segue que os con-
juntos U , com  > 0, formam uma base de vizinhanças de zero em E. Segue
do Corolário 4.8 que o funcional de Minkowski pU define a topologia de E. Pela

21
Proposição 4.7 pU é uma seminorma em E. Para completar a demonstração
provaremos que pU é de fato uma norma. Seja x 6= 0 em E. Pelo Corolário 1.12
existe  > 0 tal que x ∈/ U . Pela Proposição 4.7

{x ∈ E : pU (x) < } ⊂ U,

e portanto pU (x) ≥  > 0.

Exercı́cios
7.A. Prove que em um evt E um conjunto A ⊂ E é limitado se e só se, dada
U ∈ U0 , existe δ > 0 tal que δA ⊂ U .
7.B. Em um evt E prove que:
(a) Cada subconjunto de um conjunto limitado é limitado.
(b) A união de dois conjuntos limitados é limitado.
7.C. Prove que em um evt E, se A ⊂ E é limitado, então eq(A) é limitado
7.D. Prove que em um evt E, se A ⊂ E é limitado, então A é limitado.
7.E. Prove que em um elc E um conjunto A ⊂ E é limitado se e só se cada
seminorma contı́nua em E é limitada sobre A.

22
8. Subespaços e espaços quociente
8.1. Proposição. Seja E um evt, e seja M um subespaço vetorial de E,
munido da topologia induzida. Então:
(a) M é um evt.
(b) Se E é Hausdorff, então M é Hausdorff.
(c) Se E é localmente convexo, então M é localmente convexo.
Demonstração. (a) Para provar que a aplicação

(x, y) ∈ M × M → x + y ∈ M

é contı́nua, seja (a, b) ∈ M × M , e seja W uma vizinhança aberta de a + b em


M . Então W = M ∩ W1 , sendo W1 uma vizinhança aberta de a + b em E.
Como a aplicação
(x, y) ∈ E × E → x + y ∈ E
é contı́nua, existem vizinhanças abertas U1 e V1 de a e b em E, respectivamente,
tais que U1 + V1 ⊂ W1 . Então os conjuntos U = M ∩ U1 e V = M ∩ V1 são
vizinhanças abertas de a e b em M , respectivamente, e é claro que U + V ⊂ W .
De maneira anaáloga podemos provar que a aplicação

(λ, x) ∈ K × E → λx ∈ E

é contı́nua. Logo M é um evt.


(b) segue de um resultado conhecido de Topologia Geral.
(c) Para provar que M é localmente convexo, seja U uma vizinhança de zero
em M . Então U = M ∩ U1 , sendo U1 uma vizinhança de zero em E. Como E
é localmente convexo, existe uma vizinhança convexa V1 de zero em E, tal que
V1 ⊂ U1 . Então V = M ∩ V1 é uma vizinhança convexa de zero em M , e é claro
que V ⊂ U .
8.2. Proposição. Seja E um evt, seja M um subespaço vetorial de E, e
consideremos o espaço quociente E/M , munido da topologia quociente. Então:
(a) A aplicação quociente π : E → E/M é contı́nua e aberta.
(b) E/M é um evt.
(c) E/M é Hausdorff se e só se M é fechado em E.
(d) Se E é localmente convexo, então E/M é localmente convexo.
Demonstração. Lembremos que, por definição da topologia quociente, um
conjunto B é aberto em E/M se e só se π −1 (B) é aberto em E. Ou seja, a
topologia quociente é a topologia mais fina em E/M tal que a aplicação π é
contı́nua.
(a) Já sabemos que π é contı́nua. Para provar que π é aberta, seja A aberto
em E. Para provar que π(A) é aberto em E/M , basta provar que π −1 (π(A)) é
aberto em E. Mas é claro que

π −1 (π(A)) = A + M,

que é aberto em E, pela Proposição 1.15.

23
(b) Para cada x ∈ E denotemos por [x] a classe de equivalência que contém
x. Para provar que a aplicação

([x], [y]) ∈ (E/M ) × (E/M ) → [x + y] ∈ E/M

é contı́nua, seja ([a], [b]) ∈ (E/M ) × (E/M ), e seja W uma vizinhança aberta
de [a + b] em E/M . Então π −1 (W ) é uma vizinhança aberta de a + b em E.
Como a aplicação
(x, y) ∈ E × E → x + y ∈ E
é contı́nua, existem vizinhanças abertas U1 e V1 de a e b em E, respectivamente,
tais que U1 + V1 ⊂ π −1 (W ). Como π é aberta, os conjuntos U = π(U1 ) e
V = π(V1 ) são vizinhanças abertas de [a] e [b] em E/M , respectivamente, e é
claro que U + V ⊂ π(π −1 (W )) = W .
De maneira análoga podemos provar que a aplicação

(λ, [x]) ∈ K × (E/M ) → [λx] ∈ E/M

é contı́nua. Logo E/M é um evt.


(c) Se E/M é Hausdorff, então, pela Proposição 1.9, o conjunto {[0]} é
fechado em E/M . Segue que M = π −1 ([0]) é fechado em E.
Reciprocamente suponhamos que M seja fechado em E. Pela Proposição
1.9, para provar que E/M é Hausdorff, basta provar que o conjunto {[0]} é
fechado em E/M . Seja [x] ∈ E/M , [x] 6= [0]. Então x ∈
/ M , e sendo M fechado
em E, existe uma vizinhança aberta U de x em E tal que

(1) U ∩ M = ∅.

Como π é aberta, o conjunto π(U ) é uma vizinhança aberta de [x] em E/M ,


e segue de (1) que [0] ∈ / π(U ). Segue que {[0]} é fechado em E/M , como
querı́amos.
(d) Para provar que E/M é localmente convexo, seja U uma vizinhança de
zero em E/M . Então π −1 (U ) é uma vizinhança de zero em E. Como E é
localmente convexo, existe uma vizinhança aberta e convexa V1 de zero em E
tal que V1 ⊂ π −1 (U ). Então V = π(V1 ) é uma vizinhança aberta e convexa de
zero em E/M , e é claro que V ⊂ π(π −1 (U )) = U .

Exercı́cios
8.A. Seja E um evt, e seja M um subespaço vetorial de E. Prove que M
também é um subespaço vetorial de E.
8.B. Seja E um evt, e seja M um subespaço vetorial de E. Prove que um
conjunto A ⊂ M é limitado em M se e só se A é limitado em E.
8.C. Prove que, se E é um evt, então o espaço quociente E/{0} é sempre
um evt de Hausdorff.

24
8.D. Seja E um evt, seja M um subespaço de E, e seja π : E → E/M a
aplicação quociente. Prove que, se B0 é uma base de vizinhanças de zero em E,
então a famı́lia
B̂0 = {π(U ) : U ∈ B0 }
é uma base de vizinhanças de zero em E/M .
8.E. Sejam E e F dois evt’s, seja T ∈ L(E; F ), e seja M = T −1 (0). Prove
que existe uma aplicação injetiva Tb ∈ L(E/M ; F ) tal que o seguinte diagrama
é comutativo:
T
E −→ F
π& % Tb
E/M

8.F. Sejam E e F dois evt’s, e seja T ∈ L(E; F ) uma aplicação aberta.


(a) Prove que T é sobrejetiva.
(b) Prove que a aplicação Tb : E/M → F do Exercı́cio 8.E. é um isomorfismo
topológico.
8.G. Seja E um espaço vetorial, seja M um subespaço vetorial de E, e seja
π : E → E/M a aplicação quociente. Dada uma seminorma p : E → R, seja
pb : E/M → R definida por

pb([x]) = inf{p(y) : y ∈ [x]} ([x] ∈ E/M ).

Prove que pb é uma seminorma em E/M , que chamaremos de seminorma quo-


ciente.
8.H. Seja E um espaço vetorial, seja M um subespaço vetorial de E, e
seja π : E → E/M a aplicação quociente. Seja A um subconjunto convexo,
equilibrado e absorvente de E, e seja pA : E → R o funcional de Minkowski
de A. Prove que o funcional de Minkowski de π(A) coincide com a seminorma
quociente pbA , ou seja pπ(A) = pbA .
8.I. Seja E um elc, e seja M um subespaço vetorial de E. Seja P uma
famı́lia dirigida de seminormas que define a topologia de E. Prove que

Pb = {b
p : p ∈ P}

é uma famı́lia dirigida de seminormas que define a topologia de E/M .

25
9. Produto cartesiano e soma direta

Q 9.1. Proposição. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de evt’s, e seja E =


i∈I Ei , munido da topologia produto. Então:
(a) E é um evt.
(b) Cada projeção πi : E → Ei é linear, contı́nua e aberta.
(c) Para cada i ∈ I existe σi ∈ L(Ei ; E) tal que πi ◦ σi (x) = x para todo
x ∈ Ei . Em particular cada Ei é topologicamente isomorfo a um subespaço
vetorial de E.
(d) E é Hausdorff se e só se cada Ei é Hausdorff.
(e) E é localmente convexo se e só se cada Ei é localmente convexo.
Demonstração. (a) Para provar que a aplicação

(x, y) ∈ E × E → x + y ∈ E

é contı́nua, sejam a = (ai ) e b = (bi ) em E, e seja W uma vizinhança de a + b


em E. Sem perda de generalidade podemos supor que
Y
W = Wi ,
i∈I

onde Wi é uma vizinhança aberta de ai + bi em Ei para cada i ∈ I, e Wi = Ei


para cada i ∈ I \ I0 , com I0 ⊂ I finito. Sejam
Y Y
U= Ui e V = Vi ,
i∈I i∈I

onde Ui e Vi são vizinhanças abertas de ai e bi em Ei , respectivamente, tais que


Ui + Vi ⊂ Wi , para cada i ∈ I0 , e Ui = Vi = Ei para cada i ∈ I \ I0 . Então U e
V são vizinhanças abertas de a e b em E, respectivamente, e U + V ⊂ W .
De maneira análoga podemos provar que a aplicação

(λ, x) ∈ K × E → λx ∈ E

é contı́nua. Logo E é um evt.


(b) πi é claramente linear, e é contı́nua e aberta por um resultado bem
conhecido de Topologia Geral.
(c) Seja σi : Ei → E definida por σi (x) = y = (yj ), onde yi = x e yj = 0
para cada j 6= i. É claro que σi é linear e contı́nua, e que πi ◦ σi (x) = x para
cada x ∈ Ei . Dai segue que σi é um homeomorfismo entre Ei e σi (Ei ).
(d) é bem conhecido de Topologia Geral.
(e) (⇒) Se E é localmente convexo, então cada Ei é localmente convexo pela
Proposição 8.1, pois Ei é topologicamente isomorfo a um subespaço vetorial de
E, por (c).
(⇐) Reciprocamente suponhamos que cada Ei seja localmente convexo. Para
provar que E é localmente convexo, seja U uma vizinhança de zero em E. Sem

26
perda de generalidade podemos supor que
Y
U= Ui ,
i∈I

onde Ui é uma vizinhança aberta de zero em Ei para cada i ∈ I, e Ui = Ei para


cada i ∈ I \ I0 , com I0 ⊂ I finito. Seja
Y
V = Vi ,
i∈I

onde Vi é uma vizinhança aberta e convexa de zero em Ei , Vi ⊂ Ui , para cada


i ∈ I0 , e Vi = Ei para cada i ∈ I \ I0 . Então V é uma vizinhança aberta e
convexa de zero em E, V ⊂ U .
9.2. Definição. Seja E um evt, e sejam M1 , ..., Mn subespaços vetoriais de
E.
(a) Diremos que E é a soma direta algébrica de M1 , ..., Mn se a aplicação

S : (x1 , ..., xn ) ∈ M1 × ... × Mn → x1 + ... + xn ∈ E

é um isomorfismo algébrico.
(b) Diremos que E é a soma direta topológica de M1 , ..., Mn , e escreveremos
E = M1 ⊕ ... ⊕ Mn , se a aplicação S é um isomorfismo topológico.
9.3. Proposição. Seja E um evt, e suponhamos que E seja a soma direta
algébrica dos subespaços vetoriais M1 , ..., Mn . Tem-se que E é a soma direta
topológica de M1 , ..., Mn se e só se a projeção canônica

Pj : x1 + ... + xn ∈ E → xj ∈ Mj

é contı́nua para cada j = 1, ..., n.


Demonstração. A aplicação S : M1 × ... × Mn → E é sempre contı́nua,
pois E é um evt. Como E é a soma direta algébrica de M1 , ..., Mn , segue que S
é bijetiva, e sua inversa é a aplicação

T : x1 + ...xn ∈ E → (x1 , ..., xn ) ∈ M1 × ... × Mn .

Como πj ◦ T = Pj , segue que T é contı́nua se e só se cada Pj é contı́nua, pelas


propriedades da topologia produto.
9.4. Proposição. Seja E um evt, e suponhamos que E seja a soma direta
algébrica dos subespaços vetoriais M e N . Então as seguintes condições são
equivalentes:
(a) E = M ⊕ N .
(b) A aplicação canônica E/M → N é contı́nua.
(c) A aplicação canônica E/M → N é um isomorfismo topológico.
Demonstração. Por hipótese E é algebricamente isomorfo a M ×N . Sejam
P : E → M e Q : E → N as projeções canônicas.

27
(a) ⇒ (b): Como Q−1 (0) = M , temos o diagrama comutativo seguinte
Q
E −→ N

π& %Q
b

E/M
com Q b bijetiva. Pela Proposição 9.3 Q é contı́nua. Pelas propriedades da
topologia quociente Q b é contı́nua também.
(b) ⇒ (a): Se Q b é contı́nua, então Q = Q b ◦ π é contı́nua, e dai P = I − Q é
contı́nua também. Pela Proposição 9.3 E = M ⊕ N .
(b) ⇒ (c): Q b é bijetiva e contı́nua, e é fácil verificar que sua inversa é π ◦ J,
onde J : N ,→ E é a inclusão. Segue que Q b é um isomorfismo topológico.
Como a implicação (c) ⇒ (b) é óbvia, a demonstração da proposição está
completa.

Exercı́cios

Q Seja {Ei : i ∈ I} é uma famı́lia de evt’s. Prove que um conjunto


9.A.
A ⊂ i∈I Ei é limitado se e s ó se πi (A) é limitado em Ei para cada i ∈ I.
9.B. Seja E um evt. Um subespacco vetorial M de E é dito complementado
se existe um subespaço vetorial N de E tal que E = M ⊕ N .
(a) Prove que um subespaço vetorial M de E é complementado se e só se
existe P ∈ L(E; E) tal que P 2 = P e P (E) = M . Neste caso diremos que P é
uma projeção de E sobre M .
(b) Se E é Hausdorff, prove que cada subespaço complementado de E é
fechado em E.
9.C. Sejam E e F dois evt’s, e sejam S ∈ L(E; F ) e T ∈ L(F ; E) tais que
T ◦ S(x) = x para todo x ∈ E. Prove que E é topologicamente isomorfo a um
subespaço complementado de F .
9.D. Se {Ei : i ∈ I} é uma famı́lia de evt’s, proveQque cada Ei é topologica-
mente isomorfo a um subespaço complementado de i∈I Ei .

28
10. Espaços completos
Lembremos que Λ é um conjunto dirigido se existir uma relação reflexiva e
simétrica ≤ em Λ tal que, dados λ1 , λ2 ∈ Λ, existe λ3 ∈ Λ tal que λ3 ≥ λ1 e
λ 3 ≥ λ2 .
Seja X um espaço topológico. Lembremos que uma rede em X é uma função
x : Λ → X, sendo Λ um conjunto dirigido. A rede x : Λ → X é denotada por
(xλ )λ∈Λ . Lembremos que uma rede (xλ )λ∈Λ em X converge a um ponto x ∈ X
se dada U ∈ Ux , existe λ0 ∈ Λ tal que xλ ∈ U para todo λ ≥ λ0 .
10.1. Definição. Seja E um evt.
(a) Uma rede (xλ )λ∈Λ em E é dita de Cauchy se dada U ∈ U0 existe λ0 ∈ Λ
tal que xλ − xµ ∈ U para todo λ, µ ≥ λ0 .
(b) Diremos que E é completo se cada rede de Cauchy em E é convergente.
Mais geralmente diremos que um conjunto A ⊂ E é completo se cada rede de
Cauchy em A converge a um ponto de A.
(c) Diremos que E é quase-completo se cada subconjunto fechado e limitado
de E é completo.
(d) Diremos que E é sequêncialmente completo se cada sequência de Cauchy
em E é convergente.
10.2. Observação. Lembremos que um espaço de Banach é um espaço
normado que é sequêncialmente completo. Não é difı́cil provar que cada espaço
de Banach é de fato completo. De fato seja E um espaço de Banach, e seja
(xλ )λ∈Λ uma rede de Cauchy em E. Então para cada n ∈ N existe λn ∈ Λ tal
que
(1) kxλ − xµ k < 1/n para todo λ, µ ≥ λn .
Sem perda de generalidade podemos supor que λ1 ≤ λ2 ≤ λ3 ≤ .... Segue de
(1) que
kxλp − xλq k < 1/n para todo p, q ≥ n.
Segue que (xλn ) é uma sequência de Cauchy em E, e converge portanto a um
ponto x ∈ E. Assim dado  > 0, existe n0 ∈ N tal que

kxλn − xk <  para todo n ≥ n0 .

Seja n ≥ max{n0 , 1/}. Então para cada λ ≥ λn temos que

kxλ − xk ≤ kxλ − xλn k + kxλn − xk < (1/n) +  ≤ 2.

Logo a rede (xλ )λ∈Λ converge a x.


10.3. Proposição. Seja E um evt, seja E0 um subespaço vetorial denso de
E, e seja F um evt de Hausdorff completo. Então, dada T0 ∈ L(E0 ; F ), existe
uma única T ∈ L(E; F ) tal que T x = T0 x para todo x ∈ E0 .
Demonstração. Dado x ∈ E, existe uma rede (xλ )λ∈Λ ⊂ E0 que converge
a x. Assim (xλ )λ∈Λ é uma rede de Cauchy em E0 , e como T0 : E0 → F é linear
e contı́nua, segue que (T0 xλ )λ∈Λ é uma rede de Cauchy em F , e tem portanto

29
um limite único. Definamos T x = lim T0 xλ . É fácil verificar que T x está bem
definido, ou seja T x é independente da escolha da rede (xλ )λ∈Λ . Como T0 é
linear, segue facilmente que T é linear. Como T0 é contı́nua, dada V ∈ U0 (F ),
existe U ∈ U0 (E) tal que T0 (U ∩ E0 ) ⊂ V . Como E0 é denso em E, segue que
U ∩ E0 é denso em U . Segue então da definição de T que

T (U ) ⊂ T0 (U ∩ E0 ) ⊂ V = V,

pois, sem perda de generalidade, podemos supor que V é fechada. Isto prova que
T é contı́nua. É claro que T x = T0 x para todo x ∈ E0 . Finalmente, para provar
unicidade, suponhamos que S : E → F seja uma aplicação linear e contı́nua tal
que Sx = T0 x para todo x ∈ E0 . Usando apenas a continuidade de S, segue
facilmente que Sx = T x para todo x ∈ E.
10.4. Lema. Seja E um evt, e seja A um subconjunto denso de E tal que
cada rede de Cauchy em A converge a um ponto de E. Então E é completo.
Demonstração. Seja (xλ )λ∈Λ uma rede de Cauchy em E. Como A é denso
em E segue que, dados λ ∈ Λ e U ∈ U0 , existe yλU ∈ A tal que yλU ∈ xλ + U .
Como (xλ )λ∈Λ é uma rede de Cauchy em E, segue que (yλU )(λ,U )∈Λ×U0 é uma
rede de Cauchy em A, e converge portanto a um ponto y ∈ E. Não é difı́cil
verificar que a rede (xλ )λ∈Λ também converge a y.
10.5. Teorema. Seja E um evt de Hausdorff. Então E é topologicamente
isomorfo a um subespaço vetorial denso de um evt de Hausdorff completo E. e O
espaço Ẽ é único, a menos de um isomorfismo topológico. Diremos que E e é o
completamento de E. Se E é localmente convexo, então E e é localmente convexo
também.
Demonstração. Seja C a famı́lia de todas as redes de Cauchy em E.
Diremos que duas redes (xλ )λ∈Λ e (yµ )µ∈M são equivalentes, e escreveremos
(xλ )λ∈Λ ∼ (yµ )µ∈M , se dada U ∈ U0 , existem λ0 ∈ Λ e µ0 ∈ M tais que
xλ − yµ ∈ U para todo λ ≥ λ0 e µ ≥ µ0 . É fácil ver que esta é uma relação
de equivalência em C. Seja E e o conjunto de todas as classes de equivalência.
Denotaremos por [(xλ )λ∈Λ ] a classe de equivalência que contém a rede (xλ )λ∈Λ .
Definamos
[(xλ )λ∈Λ ] + [(yµ )µ∈M ] = [(xλ + yµ )(λ,µ)∈Λ×M ],
α[(xλ )λ∈Λ ] = [(αxλ )λ∈Λ ].
É fácil verificar que estas operações estão bem definidas e fazem de E
e um espaço
vetorial.
Definamos T : E → E e da maneira seguinte. Dado x ∈ E, seja T x a classe
de equivalência de todas as redes em E que convergem a x. O representante
mais simples é a rede constante {x}. É claro que T é linear. Para provar que T
é injetiva, suponhamos que T x = 0 = T 0. Então {x} ∼ {0}, e dai x ∈ U para
cada U ∈ U0 . Logo x ∈ {0} = {0}, pois E é Hausdorff.
O próximo passo é definir uma topologia vetorial em E. e Pelo Corolário 2.4
E admite uma base B0 de vizinhanças de zero com as seguintes propriedades:

30
(a) cada U ∈ B0 é equilibrada e absorvente;
(b) dada U ∈ B0 , existe V ∈ B0 tal que V + V ⊂ U .
Dado A ⊂ E, seja A e o conjunto de todas as classes de equivalência [(xλ )λ∈Λ ],
com (xλ )λ∈Λ ⊂ A. Seja
Be0 = {U
e : U ∈ B0 }.

É fácil verificar que Be0 tem também as propriedades (a) e (b). Verifiquemos por
exemplo que cada U e ∈ Be0 é absorvente. Sejam Ue ∈ Be0 e X = [(xλ )λ∈Λ ] ∈ Ee
dados. Seja V ∈ B0 tal que V + V ⊂ U . Seja λ0 ∈ Λ tal que xλ − xµ ∈ V para
todo λ, µ ≥ λ0 . Seja 0 < δ ≤ 1 tal que αxλ0 ∈ V para todo |α| ≤ δ. Como V é
equilibrada segue que

αxλ = α(xλ − xλ0 ) + αxλ0 ∈ V + V ⊂ U para todo |α| ≤ δ, λ ≥ λ0 .

Segue que αX ∈ U e para todo |α| ≤ δ, como queriamos.


Como é claro que Be0 é uma base de filtro em E,
e a Proposição 2.6 garante
que existe uma única topologia vetorial em E que admite Be0 como base de
e
vizinhanças de zero.
Para provar que E e é Hausdorff, provaremos que {0} é fechado em E.
e Seja
X = [(xλ )λ∈Λ ] ∈ {0}. Dada U ∈ B0 , seja V ∈ B0 tal que V + V ⊂ U .
Como X ∈ Ve , existe uma rede (yµ )µ∈M ⊂ V tal que X = [(yµ )µ∈M ]. Como
(xλ )λ∈Λ ∼ (yµ )µ∈M , existem λ0 ∈ Λ e µ0 ∈ M tais que xλ − yµ ∈ V para todo
λ ≥ λ0 e µ ≥ µ0 . Segue que

xλ = (xλ − yµ0 ) + yµ0 ∈ V + V ⊂ U

para todo λ ≥ λ0 . Logo xλ → 0, e portanto X = T 0 = 0. Assim {0} é fechado


em E,
e como queriamos.
A seguir provaremos que

T (U ) ⊂ U
e ∩ T (E) ⊂ T (U ) para cada U ∈ U0 .

Como a primeira inclusão é clara, provaremos a segunda. Seja X ∈ U


e ∩ T (E).
Como X ∈ U , X = [(xλ )λ∈Λ ], com (xλ )λ∈Λ ⊂ U . E como X ∈ T (E), X =
e
T x = [{x}], com x ∈ E. Como (xλ )λ∈Λ ∼ {x}, dada V ∈ B0 , existe λ0 ∈ Λ
tal que xλ − x ∈ V para todo λ ≥ λ0 . Logo xλ → x, e como (xλ )λ∈Λ ⊂ U ,
concluimos que x ∈ U . Logo X = T x ∈ T (U ). Em particular vemos que
e ∩ T (E) para cada U ∈ U0 , U fechada.
T (U ) = U

Segue da Proposição 6.1 que T é um isomorfismo topológico entre E e T (E).


A seguir veremos que, se X = [(xλ )λ∈Λ ] ∈ E,
e então a rede (T xλ )λ∈Λ converge
a X. De fato, dada U ∈ B0 , existe λ0 ∈ Λ tal que xλ − xµ ∈ U para todo
λ, µ ≥ λ0 . Dai segue que T xλ − X ∈ U e para todo λ ≥ λ0 , provando que
T xλ → X. Em particular T (E) é denso em E. e
Para provar que E é completo, usaremos o Lema 10.4. Seja (T xλ )λ∈Λ uma
e
rede de Cauchy em T (E). Como T : E → T (E) é um isomorfismo topológico,

31
segue que (xλ )λ∈Λ é uma rede de Cauchy em E. Seja X = [(xλ )λ∈Λ ]. Já
sabemos que T xλ → X. Pelo Lema 10.4 E e é completo.
Para provar unicidade, suponhamos que S seja um isomorfismo topológico
entre E e um subespaço vetorial denso de um evt de Hausdorff completo F .
Sejam A = S ◦ T −1 e B = T ◦ S −1 . Então A é um isomorfismo topológico
entre T (E) e S(E), e B é um isomorfismo topológico entre S(E) e T (E). Pela
Proposição 10.3 A admite uma extensão A e ∈ L(E;e F ), e B admite uma extensão
B ∈ L(F ; E). Como B ◦ A(X) = X para todo X ∈ T (E), segue que B
e e e ◦ A(X)
e =
X para todo X ∈ E. e De maneira análoga podemos ver que A e ◦ B(Y
e ) = Y para
todo Y ∈ F . Logo A e:E e → F é um isomorfismo topológico.
Não é difı́cil verificar que se U ∈ B0 é convexa, então Ue ∈ Be0 é convexa
também. Isto prova que se E é localmente convexo, então E e é localmente
convexo também.
10.6. Proposição. Seja E um espaço vetorial, e sejam τ0 ⊂ τ duas topolo-
gias vetoriais de Hausdorf em E. Suponhamos que exista uma base B0 de viz-
inhanças simétricas de zero em (E, τ ) tal que cada U ∈ B0 seja fechada em
(E, τ0 ). Então:
(a) Se (E, τ0 ) é completo, então (E, τ ) é completo.
(b) Se (E, τ0 ) é quase-completo, então (E, τ ) é quase-completo.
(c) Se (E, τ0 ) é sequêncialmente completo, então (E, τ ) é sequêncialmente
completo.
Demonstração. Provaremos (a). As demonstrações de (b) e (c) são quase
idénticas. Seja (xλ )λ∈Λ uma rede de Cauchy em (E, τ ), e seja U ∈ B0 . Existe
λU ∈ Λ tal que
xλ − xµ ∈ U para todo λ, µ ≥ λU ,
e portanto
xλ ∈ xµ + U para todo λ, µ ≥ λU .
Fixemos µ ≥ λU . Como τ0 ⊂ τ , (xλ )λ∈Λ é também uma rede de Cauchy
em (E, τ0 ). Como (E, τ0 ) é completo, e xµ + U é fechado em (E, τ0 ), existe
aU µ ∈ xµ + U tal que xλ → aU µ em (E, τ0 ). Como (E, τ0 ) é Hausdorff, o limite
aU µ é o mesmo para todo U ∈ B0 e µ ≥ λU , digamos aU µ = a. Segue que, dada
U ∈ B0 , existe λU ∈ Λ tal que

a ∈ xµ + U para todo µ ≥ λU .

Como U é simétrica, segue que

xµ ∈ a + U para todo µ ≥ λU ,

e portanto xλ → a em (E, τ ).

Exercı́cios
10.A. Seja E um evt. Prove que:

32
(a) Cada rede convergente em E é de Cauchy.
(b) Cada sequência de Cauchy em E é limitada.
(c) Se E é quase-completo, então E é sequêncialmente completo.
10.B. Seja E um evt, e seja A ⊂ E completo. Prove que:
(a) Cada subconjunto fechado de A é completo.
(b) Se E é Hausdorff, então A é fechado em E.
10.C. Seja E um evt. Prove que:
(a) Se uma rede de Cauchy (xi )i∈I em E admite uma subrede que converge
a um ponto x, então a rede (xi )i∈I também converge a x.
(b) Cada subconjunto compacto de E é completo.
10.D. Sejam E e F dois evt’s, e seja T ∈ L(E; F ). Se (xλ )λ∈Λ é uma rede
de Cauchy em E, prove que (T xλ )λ∈Λ é uma rede de Cauchy em F .
10.E. Seja E um evt de Hausdorff, e seja A ⊂ E. Com a notação da
demonstração do Teorema 10.5, prove que:
(a) Se A é equilibrado, então Ae é equilibrado também.
(b) Se A é convexo, então A é convexo também.
e
Q
10.F. Seja E = i∈I Ei o produto de uma famı́lia de evt’s, e seja πi : E → Ei
a projeção canônica para cada i ∈ I. Prove que:
(a) (xλ )λ∈Λ é uma rede de Cauchy em E se e só se (πi (xλ ))λ∈Λ é uma rede
de Cauchy em Ei para cada i ∈ I.
(b) E é completo se e só se cada Ei é completo.
(c) E é quase-completo se e só se cada Ei é quase-completo.
10.F. Prove que (xn ) é uma sequência de Cauchy em um evt E se e só se,
para cada par de sequências estritamente crescentes (mk ) e (nk ) em N, tem-se
que xmk − xnk → 0.
10.G. Prove que (xλ )λ∈Λ é uma rede de Cauchy em um evt E se e só se,
para cada conjunto dirigido M e cada par de aplicações crescentes e cofinais
φ, ψ : M → Λ, tem-se que xφ(µ) − xψ(µ) → 0. Lembremos que φ : M → Λ é dita
crescente se µ1 ≤ µ2 implica φ(µ1 ) ≤ φ(µ2 ), e φ é dita cofinal se, dado λ ∈ Λ,
existe µ ∈ M tal que φ(µ) ≥ λ.
10.H. Un espaço topológico X é chamado de k-espaço se um conjunto U ⊂ X
é aberto em X sempre que U ∩K é aberto em K para cada subconjunto compacto
K de X.
(a) Prove que um espaço topológico X é um k-espaço se e só se, para cada
espaço topológico Y , uma aplicação f : X → Y é contı́nua sempre que a restrição
f |K : K → Y é contı́nua para cada subconjunto compacto K de X.
(b) Prove que cada espaço topológico que satisfaz o primeiro axioma de
enumerabilidade é um k-espaço.
(c) Prove que, se X é um k-espaço, então o espaço C(X) do Exemplo 5.4 é
um elc completo.

33
11. Espaços de dimensão finita
11.1. Teorema. Seja E um evt de Hausdorff de dimensão n. Seja
(e1 , ..., en ) uma base de E. Então a aplicação
n
X
S : (λ1 , ..., λn ) ∈ Kn → λk ek ∈ E
k=1

é um isomorfismo topológico.
Demonstração. Claramente S é um isomorfismo algébrico e S é contı́nua,
pela definição de evt. Usando indução em n provaremos que a aplicação inversa
n
X
R: λk ek ∈ E → (λ1 , ..., λn ) ∈ Kn
k=1

é contı́nua também. Se n = 1, então R é o funcional linear

R : λ1 e1 ∈ E → λ1 ∈ K.

Então R−1 (0) = {0}, que é fechado em E, pois E é Hausdorff. Pela Proposição
6.4 R é contı́nuo. Seja n > 1, e suponhamos a afirmação verdadeira para espaços
de dimensão n − 1. Sejam M e N os subespaços de E gerados por {e1 , ..., en−1 }
e {en }, respectivamente. Consideremos a projeção canônica
n
X
Q: λk ek ∈ E → λn en ∈ N.
k=1

Então Q−1 (0) = M , e temos o diagrama comutativo seguinte


Q
E −→ N

π& %Q
b

E/M
sendo π : E → E/M a aplicação quociente e Q b : E/M → N um isomorfismo
algébrico. M tem dimensão n−1 e, pela hipótese de indução, é topologicamente
isomorfo a Kn−1 , que é completo. Logo M é completo, e portanto fechado em
E. Logo o quociente E/M é um espaço de Hausdorff. Assim E/M e N são
espaços de Hausdorff de dimensão 1, e segue do caso n = 1 que a aplicação
Qb : E/M → N é um isomorfismo topológico. Pela Proposição 9.4 E = M ⊕ N .
Segue que E é topologicamente isomorfo a M × N = Kn−1 × K = Kn através
da aplicação R.
11.2. Corolário. Se E é um evt de Hausdorff, então cada subespaço de E
de dimensão finita é fechado.

34
Demonstração. Seja M um subespaço de E de dimensão n. Pelo Teorema
11.1 M é topologicamente isomorfo a Kn . Logo M é completo, e portanto
fechado em E.
11.3. Corolário. Seja E um evt, e sejam M e N dois subespaços de E.
Se M é fechado em E, e se N tem dimensão finita, então M + N é fechado em
E.
Demonstração. Seja π : E → E/M a aplicação quociente. Então E/M é
um evt de Hausdorff, e π(N ) é um subespaço de dimensão finita de E/M . Pelo
Corolário 11.2 π(N ) é fechado em E/M . Logo π −1 (π(N )) é fechado em E. Mas
é fácil verificar que π −1 (π(N )) = M + N . Logo M + N é fechado em E.
11.4. Corolário. Seja E um evt de Hausdorff de dimensão finita, e seja F
um evt arbitrário. Então cada aplicação linear T : E → F é contı́nua.
Demonstração. Se (e1 , ..., en ) é uma base de E, então T pode ser escrito
na forma
Xn Xn
T : λk ek ∈ E → λk T ek ∈ F.
k=1 k=1

Então T = S ◦ R, onde R e S são definidas por


n
X
R: λk ek ∈ E → (λ1 , ..., λn ) ∈ Kn ,
k=1

n
X
S : (λ1 , ..., λn ) ∈ Kn → λk T ek ∈ F.
k=1

Então R é contı́nua, pelo Teorema 11.1, e S é contı́nua, pela definição de evt.


Logo T é contı́nua.
Lembremos que, se M é um subespaço de um espaço vetorial E, então a
codimensão de M é por definição a dimensão do espaço quociente E/M .
11.5. Corolário. Seja E um evt de Hausdorff, e suponhamos que E seja
a soma direta algébrica dos subespaços M e N . Se M é fechado em E e tem
codimensão finita, então E é a soma direta topológica de M e N .
Demonstração. Seja Q : E → N a projeção canônica. Então Q−1 (0) = M ,
e temos o diagrama comutativo seguinte
Q
E −→ N

π& %Q
b

E/M
sendo π : E → E/M a aplicação quociente e Q
b : E/M → N um isomorfismo
algébrico. Como E/M é um evt de Hausdorff de dimensão finita, a aplicação

35
b : E/M → N é contı́nua, pelo Corolário 11.4. Segue que E = M ⊕ N , pela
Q
Proposição 9.4.
11.6. Corolário. Seja E um evt de Hausdorff. Então cada subespaço
fechado de E, de codimensão finita, é complementado em E.
Demonstração. Seja M um subespaço fechado de E, de codimensão finita.
Pelo Exercı́cio 11.A existe um subespaço N de E tal que E é a soma direta
algébrica de M e N . Pelo Corolário 11.5 E = M ⊕ N .
11.7. Definição. Seja E um evt.
(a) Um conjunto K ⊂ E é dito precompacto ou totalmente limitado se dada
U ∈ U0 existe A ⊂ E finito tal que K ⊂ A + U .
(b) E é dito localmente precompacto se cada vizinhança de zero em E contém
uma vizinhança precompacta de zero.
É fácil ver que cada subconjunto compacto de E é precompacto, e que cada
subconjunto precompacto de E é limitado.
11.8. Teorema de Riesz. Seja E um evt de Hausdorff. Então as seguintes
condições são equivalentes:
(a) E tem dimensão finita.
(b) E é localmente compacto.
(c) E é localmente precompacto.
Demonstração. (a) ⇒ (b): Pelo Teorema 11.1 E é topologicamente iso-
morfo a Kn , para algum n. Logo E é localmente compacto.
(b) ⇒ (c): Esta implicação é imediata, pois cada subconjunto compacto de
E é claramente precompacto.
(c) ⇒ (a): Seja U uma vizinhança precompacta de zero em E. Então existe
A ⊂ E finito tal que
1
U ⊂ A + U.
2
Seja M o subespaço vetorial de E gerado por A. Então M tem dimensão finita,
e é portanto fechado em E. Dai o espaço quociente E/M é um evt de Hausdorff.
Seja π : E → E/M a aplicação quociente. Então
1
π(U ) ⊂ π(U ),
2
e usando indução segue que

π(U ) ⊂ 2−n π(U ) para todo n ∈ N.

Como π(U ) é uma vizinhança de zero em E/M , e é portanto absorvente, segue


que E/M = π(U ), que é limitado. Pela Proposição 7.4 E/M = {0}. Logo
E = M , e E tem portanto dimensão finita.

36
Exercı́cios
11.A. Seja E um espaço vetorial, e seja M um subespaço de E. Prove que:
(a) Existe um subespaço N de E tal que E é a soma direta algébrica de M
e N.
(b) N é algebricamente isomorfo ao quociente E/M .
11.B. Seja E um evt. Prove que um conjunto K ⊂ E é precompacto se e só
se, dada U ∈ U0 , existe A ⊂ K finito tal que K ⊂ A + U .
11.C. Seja E um evt. Prove que:
(a) Cada subconjunto compacto de E é precompacto.
(b) Cada subconjunto precompacto de E é limitado.
11.D. Prove que em um elc E, se K ⊂ E é precompacto, então co(K) e
Γ(K) são precompactos.
11.E. Prove que em um evt E, se K ⊂ E é precompacto, então K é pre-
compacto.
11.F. Sejam E e F dois evt’s, e seja T ∈ L(E; F ). Prove que T (K) é
precompacto em F para cada subconjunto precompacto K de E.
11.G. Seja E um evt, e seja L um subconjunto de E tal que, dada U ∈ U0 ,
existe K ⊂ E precompacto tal que L ⊂ K + U . Prove que L é precompacto.

37
12. Espaços metrizáveis
12.1. Definição. (a) Um evt E é dito metrizável se existe uma métrica em
E que define a topologia de E.
(b) Se E é um espaço vetorial, então uma métrica d em E é dita invariante
sob translações se

d(x, y) = d(a + x, a + y) para todo x, y, a ∈ E.

A seguir estabeleceremos uma condição necessária e suficiente para que um


evt de Hausdorff seja metrizável. Primeiro provaremos um teorema válido
para espaços localmente convexos, e depois provaremos um teorema válido para
espaços vetoriais topológicos em geral. O primeiro teorema é um caso particular
do segundo, mas preferimos incluir as duas demonstrações, pois a demonstração
do primeiro teorema é bem mais simples. Assim o leitor interessado princi-
palmente em espaços localmente convexos poderá omitir a leitura da segunda
demonstração.
12.2. Teorema. Seja E um elc de Hausdorff. Então as seguintes condições
são ao equivalentes:
(a) E é metrizável.
(b) Existe uma base enumerável de vizinhanças de zero em E.
(c) Existe uma seqüência de seminormas que define a topologia de E.
Se estas condições são verificadas, então existe uma métrica em E, invari-
ante sob translações, que define a topologia de E.
Demonstração. (a) ⇒ (b): É claro que, se d é uma métrica que define a
topologia de E, então as bolas

B(0; 1/n) = {x ∈ E : d(x, 0) < 1/n}

formam uma base de vizinhanças de zero em E.


(b) ⇒ (c): Seja (Un ) uma base de vizinhanças de zero em E. Pela Proposição
3.6 podemos supor que cada Un é convexa e equilibrada. Pelo Corolário 4.8 os
funcionais de Minkowski pUn formam uma sequência de seminormas que define
a topologia de E.
(c) ⇒ (a): Seja (pn ) uma sequência de seminormas que define a topologia de
E. Sem perda de generalidade podemos supor que a sequência (pn ) é crescente.
Como E é Hausdorff, o Corolário 4.5 garante que pn (x) = 0 para todo n se e só
se x = 0. Seja p : E → R definida por

X pn (x)
p(x) = 2−n .
n=1
1 + pn (x)

A função p tem as seguintes propriedades:


(1) 0 ≤ p(x) < 1 para todo x ∈ E;
(2) p(x) = 0 se e só se x = 0;

38
(3) p(x) = p(−x) para todo x ∈ E;
(4) p(x + y) ≤ p(x) + p(y) para todo x, y ∈ E.
As propriedade (1), (2) e (3) são claras. A propriedade (4) é consequência
imediata das desigualdades
pn (x + y) pn (x) + pn (y) pn (x) pn (y)
≤ ≤ + .
1 + pn (x + y) 1 + pn (x) + pn (y) 1 + pn (x) 1 + pn (y)
A desigualdade da esquerda segue da desigualdade pn (x + y) ≤ pn (x) + pn (y) e
do fato que a função φ(t) = t/(1 + t) é crescente para t ≥ 0. A desigualdade da
direita é imediata. Seja d : E × E → R definida por

d(x, y) = p(x − y).

Segue de (1), (2), (3) e (4) que a função d tem as seguintes propriedades:
(1’) 0 ≤ d(x, y) < 1 para todo x, y ∈ E;
(2’) d(x, y) = 0 se e só se x = y;
(3’) d(x, y) = d(y, x) para todo x, y ∈ E;
(4’) d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z) para todo x, y, z ∈ E;
(5’) d(x, y) = d(a + x, a + y) para todo x, y, a ∈ E.
Em particular d é uma métrica em E, invariante sob translações. Para
completar a demonstração provaremos que as bolas

B(0; ) = {x ∈ E : d(x, 0) < } = {x ∈ E : p(x) < }

formam uma base de vizinhanças de zero em E. Para cada N ∈ N podemos


escrever
XN X∞
p(x) < 2−n pn (x) + 2−n < pN (x) + 2−N .
n=1 n=N +1
−N
Dado  > 0, seja N ∈ N tal que 2 < /2. Então

{x ∈ E : pN (x) < /2} ⊂ {x ∈ E : p(x) < } = B(0; ).

Isto prova que cada bola B(0; ) é uma vizinhança de zero em E. Por outro
lado, dada uma vizinhança U de zero em E, existe N ∈ N tal que

{x ∈ E : pN (x) < 1/N } ⊂ U.

A desigualdade p(x) < 4−N implica que


pN (x)
2−N < 4−N ,
1 + pN (x)
e portanto
pN (x)
< 2−N .
1 + pN (x)
Segue que
pN (x)
pN (x) < 2−N + 2−N pN (x) ≤ 2−N + ,
2

39
e portanto
pN (x) < 2−(N −1) ≤ 1/N.
Logo

B(0; 4−N ) = {x ∈ E : p(x) < 4−N } ⊂ {x ∈ E : pN (x) < 1/N } ⊂ U,

provando que cada vizinhança de zero em E contém uma bola B(0; δ).
12.3. Teorema. Seja E um evt de Hausdorff. Então E é metrizável se
e só se existe uma base enumerável de vizinhanças de zero em E. Neste caso
existe uma métrica em E, invariante sob translações, que define a topologia de
E.
Demonstração. Para provar a implicação não trivial, suponhamos que
exista uma base enumerável (Un ) de vizinhanças de zero em E. Pelo Corolário
2.4 podemos supor que cada Un é equilibrada, e que Un+1 + Un+1 ⊂ Un para
cada n. Seja D o conjunto de todos os números racionais que podem ser escritos
como uma soma finita X
(1) r= cn (r)2−n ,
n≥1

onde cada cn (r) é 0 ou 1. É fácil ver que uma tal representação é única. É claro
que 0 ≤ r < 1 para todo r ∈ D. Para cada r ∈ D definamos
X
(2) V (r) = cn (r)Un .
n≥1

Definamos também V (r) = E se r ≥ 1. Logo provaremos que

(3) V (r) + V (s) ⊂ V (r + s) para r, s ∈ D.

Segue de (3) que

(4) V (r) ⊂ V (s) para r, s ∈ D, r < s.

De fato, se r < s, então não é dificil ver que s − r ∈ D. Como 0 ∈ V (s − r),


segue que
V (r) ⊂ V (r) + V (s − r) ⊂ V (s).
Seja p : E → R definida por

(5) p(x) = inf{r : x ∈ V (r)}.

Provaremos que p possui as seguintes propriedades:


(6) 0 ≤ p(x) ≤ 1 para todo x ∈ E;
(7) p(x) = 0 se e só se x = 0;
(8) p(x) = p(−x) para todo x ∈ E;
(9) p(x + y) ≤ p(x) + p(y) para todo x, y ∈ E.
(6) é claro. Como 0 ∈ V (r) para todo r, segue que p(0) = 0. Se x 6= 0,
então existe n tal que x ∈/ Un = V (2−n ). Logo p(x) ≥ 2−n > 0. Isto prova (7).

40
Como cada V (r) é equilibrado, temos (8). Para provar (9) podemos supor que
p(x) + p(y) < 1. Dado  > 0, existem r, s ∈ D tais que

r < p(x) + , x ∈ V (r),

s < p(y) + , y ∈ V (s).


Usando (3) vemos que

x + y ∈ V (r) + V (s) ⊂ V (r + s).

Logo
p(x + y) ≤ r + s < p(x) + p(y) + 2,
e (9) segue. Seja d : E × E → R definida por

d(x, y) = p(x − y).

Segue de (6), (7), (8) e (9) que d tem as seguintes propriedades:


(6’) 0 ≤ d(x, y) ≤ 1 para todo x, y ∈ E;
(7’) d(x, y) = 0 se e só se x = y;
(8’) d(x, y) = d(y, x) para todo x, y ∈ E;
(9’) d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z) para todo x, y, z ∈ E;
(10’) d(x, y) = d(a + x, a + y) para todo x, y, a ∈ E.
Em particular d é uma métrica em E, invariante sob translações. Notemos
que, se 0 <  < 1, então
[
B(0; ) = {x ∈ E : d(x, 0) < } = {x ∈ E : p(x) < } = V (r).
r<

Como cada V (r) com r > 0 é uma vizinhança de zero em E, segue que B(0; ) é
uma vizinhança de zero em E. Por outro lado, se 0 <  ≤ 2−n , então B(0; ) ⊂
/ Un = V (2−n ) implica que p(x) ≥ 2−n ≥ . Isto prova que as bolas
Un , pois x ∈
B(0; ), com 0 <  < 1, formam uma base de vizinhanças de zero em E.
Para completar a demonstração do teorema ainda falta provar (3). Para
provar (3) denotaremos por PN a seguinte afirmação:
PN : Dados r, s ∈ D, com r + s < 1 e cn (r) + cn (s) = 0 para todo n > N ,
tem-se que V (r) + V (s) ⊂ V (r + s).
Notemos que para provar (3) basta provar PN para cada n ∈ N. Provaremos
PN por indução em N . Para provar P1 , suponhamos que r + s < 1 e cn (r) +
cn (s) = 0 para todo n > 1. Então

r = c1 (r)/2, s = c1 (s)/2.

Como r + s < 1, podemos supor que c1 (s) = 0. Dai segue que s = 0, V (s) = {0}
e
V (r) + V (s) = V (r) = V (r + s).
A seguir provaremos que PN implica PN +1 . Suponhamos que r + s < 1 e

cn (r) + cn (s) = 0 para todo n > N + 1.

41
Definamos r0 , s0 ∈ D por

r = r0 + cN +1 (r)2−(N +1) , s = s0 + cN +1 (s)2−(N +1) .

Então

V (r) = V (r0 ) + cN +1 (r)UN +1 , V (s) = V (s0 ) + cN +1 (s)UN +1 .

Assim usando PN vemos que

V (r) + V (s) = V (r0 ) + V (s0 ) + cN +1 (r)UN +1 + cN +1 (s)UN +1

⊂ V (r0 + s0 ) + cN +1 (r)UN +1 + cN +1 (s)UN +1 .


Se cN +1 (r) = cN +1 (s) = 0, então r = r0 , s = s0 e

V (r) + V (s) ⊂ V (r + s).

Se cN +1 (r) = 1 e cN +1 (s) = 0, então s = s0 e

V (r) + V (s) ⊂ V (r0 + s0 ) + UN +1 = V (r0 + s0 + 2−(N +1) ) = V (r + s).

O caso cN +1 (r) = 0 e cN +1 (s) = 1 é análogo. Finalmente se cN +1 (r) =


cN +1 (s) = 1, então usando PN vemos que

V (r) + V (s) ⊂ V (r0 + s0 ) + UN +1 + UN +1 ⊂ V (r0 + s0 ) + UN

= V (r0 + s0 ) + V (2−N ) ⊂ V (r0 + s0 + 2−N ) = V (r + s).


Isto prova PN , e portanto (3). Isto completa a demonstração do teorema.
12.4. Proposição. Seja E um evt metrizável, e seja d uma métrica em
E, invariante sob translações, que define a topologia de E. Então as seguintes
condições são equivalentes:
(a) Cada rede de Cauchy em E é convergente.
(b) Cada rede de Cauchy em (E, d) é convergente.
(c) Cada sequência de Cauchy em (E, d) é convergente.
(d) Cada sequência de Cauchy em E é convergente.
Em particular E é completo se e só se E é sequêncialmente completo.
Demonstração. Como d é uma métrica em E, invariante sob translações,
que define a topologia de E, é fácil ver que E e (E, d) tem as mesmas redes
convergentes e as mesmas redes de Cauchy. Dai segue que (a) ⇔ (b) e (c) ⇔ (d).
É claro que (b) ⇒ (c). Finalmente a prova de que (c) ⇒ (b) é quase uma
repetição da demonstração da Observação 10.2. Deixamos os detalhes como
exercı́cio.
12.5. Definição. Diremos que E é um espaço de Fréchet se E é um espaço
localmente convexo metrizável e completo.

42
É claro que cada espaço de Banach é um espaço de Fréchet. Nos exercı́cios de
esta seção veremos que vários dos espaços introduzidos na Seção 5 são espaços
de Fréchet.
12.6. Proposição. Seja E um evt metrizável, e seja M um subespaço de
E. Então M é metrizável também.
Demonstração. Basta usar o Teorema 12.3. Se (Un ) é uma base enu-
merável de vizinhanças de zero em E, então (Un ∩ M ) é uma base enumerável
de vizinhanças de zero em M .
12.7. Teorema. Seja E é um evt metrizável, e seja M um subespaço
fechado de E. Então:
(a) O espaço quociente E/M é metrizável.
(b) Se E é completo, então E/M é completo também.
Demonstração. (a) Usamos o Teorema 12.3, junto com a Proposição 8.2.
Seja (Un ) uma base enumerável de vizinhanças de zero em E. Como a aplicação
quociente π : E → E/M é contı́nua e aberta, segue que (π(Un )) é uma base
enumerável de vizinhanças de zero em E/M .
(b) Seja (Un ) uma base de vizinhanças de zero em E que verifica a condição

(1) Un+1 + Un+1 ⊂ Un para todo n.

Usando indução vemos que (1) implica a condição

(2) Un+1 + Un+2 + ... + Un+k ⊂ Un para todo n, k.

Seja (Xp ) uma sequência de Cauchy em E/M . Então existe uma sequência
estritamente crescente (pn ) ⊂ N tal que

Xp − Xq ∈ π(Un ) para todo p, q ≥ pn .

Em particular
Xpn+1 − Xpn ∈ π(Un ) para todo n.
Fixemos x1 ∈ Xp1 . Então por indução podemos achar xn ∈ Xpn para cada n
tal que
xn+1 − xn ∈ Un para todo n.
Assim para n > m temos que

xn − xm = (xn − xn−1 ) + (xn−1 − xn−2 ) + ... + (xm+1 − xm )

∈ Un−1 + Un−2 + ... + Um ⊂ Um−1 .


Assim (xn ) é uma sequência de Cauchy em E, e converge portanto a um ponto
x ∈ E. Então Xpn = π(xn ) → π(x). Como (Xp ) é uma seq uência de Cauchy
em E/M , segue que Xp → π(x). Logo E/M é completo.

43
12.8. Proposição (condição de enumerabilidade de Mackey). Seja
E um evt metrizável, e seja (Bj ) uma sequência de limitados de E. Então
existe
S∞ uma sequência (j ) de números estritamente positivos tal que o conjunto
j=1 j Bj é limitado.

Demonstração. Seja (Uk ) uma base enumerável de vizinhanças equili-


bradas de E. Para cada j existe uma sequência (δjk )∞
k=1 de números estrita-
mente positivos tal que

δjk Bj ⊂ Uk para todo k.

Se definimos
δk = min{δjk : 1 ≤ j ≤ k} para cada k,
então
δk ≤ δjk sempre que j ≤ k.
Seja 1 = 1, e para cada j ≥ 2 seja 0 < j ≤ 1 tal que
δjk
j ≤ para 1 ≤ k < j.
δk
Assim
δk j ≤ δjk para todo j, k.
Como cada Uk é equilibrada, segue que
δk j δk j
δk (j Bj ) = (δjk Bj ) ⊂ Uk ⊂ Uk para todo j, k,
δjk δjk
e portanto  

[
δk  j Bj  ⊂ Uk para todo k.
j=1
S∞
Logo j=1 j Bj é limitado.

Exercı́cios
12.A. Um espaço topológico X é dito hemicompacto se existe uma sequência
(Km )∞
m=1 de subconjuntos compactos de X tal que cada subconjunto compacto
de X está contido em algúm Km . Prove que, se X éum espaço topológico
hemicompacto, então o espaço C(X) do Exemplo 5.4 é um elc metrizável.
12.B. Seja Ω um subconjunto aberto de Rn . Seja k.k uma norma em Rn , e
seja
Km = {x ∈ Ω : kxk ≤ m e d(x, Rn \ Ω) ≥ 1/m}
para cada m ∈ N.
(a) Prove que cada Km é compacto, e cada compacto de Ω está contido em
algum Km , ou seja Ω é um espaço topológico hemicompacto.

44
(b) Prove que Ω é um k-espaço.
(c) Conclúa que C(Ω) é um espaço de Fréchet.
12.C. Seja Ω um aberto de Rn , seja k ∈ N, e seja C k (Ω) o espaço do Exemplo
5.5.
(a) Usando os compactos Km do exercı́cio anterior prove que C k (Ω) é um
elc metrizável.
(b) Usando o exercı́cio anterior e o Teorema Fundamental do Cálculo prove
que C k (Ω) é um espaço de Fréchet.
12.D. Seja Ω um aberto de C, e seja H(Ω) o espaço do Exemplo 5.6.
Prove que H(Ω) é um subespaço fechado de C(Ω), e é portanto um espaço de
Fréchet.
12.E. Seja K um subconjunto compacto de Rn , seja k ∈ N, e seja Dk (K) o
subespaço de todas as f ∈ C k (Rn ) cujo suporte está contido em K, onde

suporte(f ) = {x ∈ Rn : f (x) 6= 0}.

(a) Prove que Dk (K) é um subespaço fechado de C k (Rn ), e é portanto um


espaço de Fréchet.
(b) Prove que de fato Dk (K) é um espaço de Banach.
12.F. Seja 0 < p < 1, e seja `p o espaço do Exemplo 5.7.
(a) Prove que `p é um evt metrizável.
(b) Exiba uma métrica em `p , invariante sob translações, que defina a topolo-
gia de `p .
(c) Prove que `p é completo.
12.G. Seja E um evt metrizável, e seja (Kj ) uma sequência de subcon-
juntos precompactos de E. Prove que existe
S∞ uma sequência (j ) de números
estritamente positivos tal que o conjunto j=1 j Kj é precompacto.

45
13. Teorema da aplicação aberta e teorema do gráfico fechado
13.1. Definição. Seja X um espaço topológico.
(a) Diremos que X é um espaço de Baire se a interseção de cada sequência
de subconjuntos abertos e densos de X é um subconjunto denso de X.
(b) Diremos que um conjunto A ⊂ X é de primeira categoria em X se
podemos escrever

[ ◦
A= An , com An = ∅ para cada n ∈ N.
n=1

Caso contrário diremos que A é de segunda categoria em X.


13.2. Proposição. Cada espaço de Baire não vazio é de segunda categoria
em si mesmo.
Demonstração. Seja X um espaço topológico não vazio que é de primeira
categoria em si mesmo. Então podemos escrever

[
X= An ,
n=1


onde An é fechado em X e An = ∅ para cada n. Então

\
∅= (X \ An ),
n=1


X \ An é aberto e X \ An = X\ An = X para cada n. Logo X não é um espaço
de Baire.
13.3. Teorema de Baire. Cada espaço métrico completo é um espaço de
Baire.
Demonstração. Seja X um espaço métrico completo não vazio. Seja

(Un )T
n=1 uma sequência de subconjuntos abertos
T∞ e densos de X. Para provar

que n=1 Un é denso em X, basta provar que ( n=1 Un )∩B(a; ) 6= ∅ para cada
bola aberta B(a; ) ⊂ X. Fixemos uma bola aberta B(a; ) ⊂ X. Como U1 é
denso em X, existe x1 ∈ U1 ∩ B(a; ). Seja 0 < 1 < 1 tal que

B[x1 ; 1 ] ⊂ U1 ∩ B(a; ).

Como U2 é denso em X, existe x2 ∈ U2 ∩ B(x1 ; 1 ). Seja 0 < 2 < 1/2 tal que

B[x2 ; 2 ] ⊂ U2 ∩ B(x1 ; 1 ).

Procedendo por indução podemos achar sequências (xn )∞ ∞


n=1 ⊂ X e (n )n=1 ⊂ R
tais que 0 < n < 1/n e

B[xn ; n ] ⊂ Un ∩ B(xn−1 , n−1 ) para cada n ≥ 2.

46
Segue que
B(x1 ; 1 ) ⊃ B(x2 ; 2 ) ⊃ B(x3 ; 3 ) ⊃ ...,
e portanto
d(xn , xm ) < m < 1/m sempre que n ≥ m.
Logo (xn )∞
n=1 é uma sequência de Cauchy em X, e converge portanto a um
ponto x. É claro que
∞ ∞
!
\ \
x∈ B[xn ; n ] ⊂ Un ∩ B(a; ).
n=1 n=1
T∞
Assim n=1 Un é denso em X.
13.4. Teorema da aplicação aberta. Seja E um evt metrizável e com-
pleto, seja F um evt de Baire, e seja T ∈ L(E; F ). Então as seguintes condições
são equivalentes:
(a) T é sobrejetiva.
(b) T (U ) ∈ U0 (F ) para cada U ∈ U0 (E).
(c) T (U ) ∈ U0 (F ) para cada U ∈ U0 (E).
(d) T é aberta.
Se se verificam estas condições, então F é topologicamente isomorfo a um
quociente de E. Em particular F é metrizável e completo.
Demonstração. (a) ⇒ (b): Dada U ∈ U0 (E), seja U1 ∈ U0 (E), U1 equili-
brada, tal que U1 + U1 ⊂ U . Como T é sobrejetiva, segue que

[ ∞
[
F = T (E) = nT (U1 ) = nT (U1 ).
n=1 n=1

Como F é de segunda categoria em si mesmo, existe n tal que o conjunto nT (U1 )


tem interior não vazio. Dai o conjunto T (U1 ) tem interior não vazio. Seja V1
um aberto não vazio de F que está contido em T (U1 ). Seja V = V1 − V1 . Então
V é uma vizinhança aberta de zero em F e

V ⊂ T (U1 ) − T (U1 ) ⊂ T (U1 − U1 ) ⊂ T (U ).

Logo T (U ) ∈ U0 (F ).
(b) ⇒ (c): Seja U ∈ U0 (E), e seja (Un )∞
n=0 uma base enumerável de vizin-
hanças de zero em E tal que U0 + U0 ⊂ U e

Un+1 + Un+1 ⊂ Un para todo n ≥ 0.

Isto implica que

Un+1 + Un+2 + ... + Un+k ⊂ Un para todo n ≥ 0, k ≥ 1.

47
Segue de (b) que T (Un ) ∈ U0 (F ) para todo n ≥ 0. É fácil verificar que de
fato (T (Un ))∞
n=0 é uma base de vizinhanças de zero em F . Para provar que
T (U ) ∈ U0 (F ), basta provar que

(1) T (U1 ) ⊂ T (U ).

Para provar (1) seja y ∈ T (U1 ). Seja x1 ∈ U1 tal que

y − T x1 ∈ T (U2 ).

Seja x2 ∈ U2 tal que


y − T x1 − T x2 ∈ T (U3 ).
Procedendo por indução podemos achar uma sequência (xn )∞
n=1 ⊂ E tal que
xn ∈ Un e
X n
y− T xk ∈ T (Un+1 ) para todo n ≥ 1.
k=1

Como (T (Un ))∞


n=1 é uma base de vizinhanças de zero em F , concluimos que

n
X ∞
X
y = lim T xk = T xk .
n
k=1 k=1

Por outro lado, para m < n temos que


n
X m
X n
X
xk − xk = xk ∈ Um+1 + ... + Un ⊂ Um .
k=1 k=1 k=m+1
Pn
Isto mostra que as somas parciais k=1 xk formam uma sequência de Cauchy
em E. Seja
n
X ∞
X
x = lim xk = xk .
n
k=1 k=1

É claro que

X
Tx = T xk = y.
k=1

Finalmente
n
X
xk ∈ U1 + ... + Un ⊂ U0 para todo n ≥ 1,
k=1

e portanto
n
X
x = lim xk ∈ U 0 ⊂ U0 + U0 ⊂ U.
n
k=1

Logo y = T x ∈ T (U ), provando (1), e completando assim a demonstração que


(b) ⇒ (c).

48
Como as implicações (c) ⇒ (d) e (d) ⇒ (a) são imediatas, segue que (a),
(b), (c) e (d) são equivalentes.
Finalmente suponhamos que se verifique a condição (c), ou seja suponhamos
que T seja aberta. Se M = T −1 (0), então segue dos Exercı́cios 8.E e 8.F que
existe um isomorfismo topológico Tb : E/M → F tal que o seguinte diagrama é
comutativo:
T
E −→ F
π& % Tb
E/M
Pelo Teorema 12.7 o quociente E/M é metrizável e completo. Logo F também
é metrizável e completo.
13.5. Corolário. Seja E um evt metrizável e completo, seja F um evt de
Baire, e seja T ∈ L(E; F ) uma aplicação bijetiva. Então T é um isomorfismo
topológico. Em particular F é metrizável e completo.
Lembremos que o gráfico de uma aplicação f : X → Y é o conjunto

Gf = {(x, y) ∈ X × Y : y = f (x)} = {(x, f (x) : x ∈ X}.

13.6. Proposição. Sejam X e Y espaços topológicos, com Y Hausdorff.


Se f : X → Y é uma aplicação contı́nua, então o gráfico Gf é um subconjunto
fechado de X × Y .
Demonstração. Seja (xλ , f (xλ ))λ∈Λ uma rede em Gf que converge a um
ponto (x, y) ∈ X × Y . Então xλ → x em X e f (xλ ) → y em Y . Como f
é contı́nua, segue que f (xλ ) → f (x) em Y . Como Y é Hausdorff, segue que
y = f (x). Logo (x, y) = (x, f (x)) ∈ Gf e Gf é fechado.
13.7. Teorema do gráfico fechado. Sejam E e F dois evt’s metrizáveis
e completos. Seja T : E → F uma aplicação linear cujo gráfico GT é fechado
em E × F . Então T é contı́nua.
Demonstração. O gráfico

GT = {(x, T x) : x ∈ E}

é um subespaço vetorial fechado de E × F , e é portanto um evt metrizável e


completo. A aplicação

S : (x, T x) ∈ GT → x ∈ E

é claramente linear, contı́nua e bijetiva. Pelo Corolário 13.5 S é um isomorfismo


topológico. Logo a aplicação inversa

S −1 : x ∈ E → (x, T x) ∈ E × F

é contı́nua. Se Q : E × F → F denota a projeção, segue que T = Q ◦ S −1 é


contı́nua também.

49
Exercı́cios
13.A. Seja X um espaço topológico. Prove que:
(a) Um conjunto A ⊂ X é de primeira categoria em X se e só se A está
contido na união de uma sequência de subconjuntos fechados de X com interior
vazio.
(b) X é um espaço de Baire se e só se cada subconjunto de X de primeira
categoria em X tem interior vazio.
13.B. Prove que cada subconjunto aberto de um espaço de Baire é um espaço
de Baire.
13.C. Prove que cada espaço topológico de Hausdorff localmente compacto
é um espaço de Baire.
Q
13.D. Prove que o produto i∈I Xi de uma famı́lia arbitrária de espaços
métricos completos é um espaço de Baire.
13.E. (a) Prove que cada subespaço vetorial próprio de um evt tem interior
vazio.
(b) Prove que se um evt de Hausdorff E é um espaço de Baire e tem dimensão
enumerável, então E tem dimensão finita.
13.F. (a) Prove que `1 é um subconjunto de primeira categoria de `2 .
(b) Se 0 < p < q < ∞, prove que `p é um subconjunto de primeira categoria
de `q .
13.G. Seja E um espaço de Banach separável. Seja (xn )∞
n=1 um subconjunto
enumerável denso de BE , a bola unitária aberta de E. Seja T : `1 → E definida
por
X∞
T : (ξn )∞
n=1 ∈ ` 1
→ ξn xn ∈ E.
n=1

Prove que:
(a) T é linear e contı́nua.
(b) BE ⊂ T (B`1 ).
(c) T é aberta.
(d) E é topologicamente isomorfo a um quociente de `1 .
13.H. Seja E um evt metrizável e completo, seja I um conjunto arbitrário,
e seja T ∈ L(E; KI ) uma aplicação sobrejetiva. Prove que o conjunto I é
enumerável.
13.I. Seja E um espaço de Banach, e seja (φn )∞ 0
n=1 ⊂ E tal que φn (x) → 0
para cada x ∈ E. Prove que a aplicação

T : x ∈ E → (φn (x))∞
n=1 ∈ c0

é linear e contı́nua.

50
P∞
13.J. Seja E um espaço normado, e seja (xn )∞
n=1 ⊂ E tal que n=1 |φ(xn )| <
∞ para cada φ ∈ E 0 . Prove que a aplicação

T : φ ∈ E 0 → (φ(xn ))∞
n=1 ∈ `
1

é linear e contı́nua.
13.K. Sejam E e F espaços normados, e seja T : E → F uma aplicação
linear. Prove que se a aplicação

T : (E, τE ) → (F, τF )

é contı́nua, então a aplicação

T : (E, σ(E, E 0 )) → (F, σ(F, F 0 ))

é contı́nua também.
13.L. Sejam E e F espaços de Banach, e seja T : E → F uma aplicação
linear. Prove que as seguintes condições são equivalentes:
(a) T : (E, τE ) → (F, τF ) é contı́nua.
(b) T : (E, σ(E, E 0 )) → (F, σ(F, F 0 )) é contı́nua.
(c) T : (E, τE ) → (F, σ(F, F 0 )) é contı́nua.

51
14. Teorema de Banach-Steinhaus
14.1. Definição. Seja X um espaço topológico, seja F um evt, e seja F
uma famı́lia de aplicações de X em F . Diremos que F é equicontı́nua em um
ponto a ∈ X se dada V ∈ U0 (F ), existe U ∈ Ua (X) tal que f (x) ∈ f (a) + V
para todo x ∈ U e f ∈ F. Diremos que F é equicontı́nua se F é equicontı́nua
em cada ponto de X.
14.2. Proposição. Sejam E e F dois evt’s, e seja F ⊂ L(E; F ). Então F
é equicontı́nua se e só se, dada V ∈ U0 (F ), existe U ∈ U0 (E) tal que T (U ) ⊂ V
para toda T ∈ F. Ou seja F é equicontı́nua se e só se F é equicontı́nua na
origem.
Demonstração. Imediata.
14.3. Definição. Sejam E e F dois evt’s, e seja F ⊂ L(E; F ).
(a) Diremos que F é pontualmente limitada se para cada x ∈ E, o conjunto
F(x) = {T x : T ∈ F}
é limitado em F .
(b) Diremos que F é limitada nos limitados se para cada A ⊂ E limitado, o
conjunto
[ [
F(A) = {T x : T ∈ F, x ∈ A} = F(x) = T (A)
x∈A T ∈F

é limitado em F . É claro que se F é limitada nos limitados, então F é pontual-


mente limitado.
14.4. Proposição. Sejam E e F dois evt’s, e seja F ⊂ L(E; F ). Se F é
equicontı́nua, então F é limitada nos limitados.
Demonstração. Seja A ⊂ E limitado. Para provar que F(A) é limitado em
F , seja V ∈ U0 (F ), V equilibrada. Como F é equicontı́nua, existe U ∈ U0 (E)
tal que T (U ) ⊂ V para toda T ∈ F. Como A é limitado em E, existe δ > 0 tal
que δA ⊂ U . Dai segue que
[ [
δF(A) = δ T (A) = T (U ) ⊂ V,
T ∈F T ∈F

e portanto F(A) é limitado em F .


14.5. Teorema de Banach-Steinhaus. Seja E um evt de Baire, seja F
um evt arbitrário, e seja F ⊂ L(E; F ). Se F é pontualmente limitada, então F
é equicontı́nua.
Demonstração. Seja V ∈ U0 (F ), e seja V1 ∈ U0 (F ), V1 equilibrada e
fechada, tal que V1 + V1 ⊂ V . Seja
\
A= T −1 (V1 ).
T ∈F

52
Claramente A é um subconjunto fechado de E e T (A) ⊂ V1 para cada T ∈ F.
Como F é pontualmente limitada, dado x ∈ E, existe n ∈ N tal que F(x) ⊂ nV1 .
Segue que x ∈ nA, e portanto

[
E= nA.
n=1

Como E é de segunda categoria em si mesmo, existe n tal que nA tem interior


não vazio. Dai A tem interior não vazio. Seja U1 um aberto não vazio de E tal
que U1 ⊂ A, e seja U = U1 − U1 . Então U é uma vizinhança aberta de zero em
E e U ⊂ A − A. Logo

T (U ) ⊂ T (A) − T (A) ⊂ V1 − V1 ⊂ V.

Logo F é equicontı́nua.
14.6. Corolário. Sejam E e F espaços normados, com E completo, e seja
F ⊂ L(E; F ). Se

sup{kT xk : T ∈ F} < ∞ para cada x ∈ E,

então
sup{kT k : T ∈ F} < ∞.

Demonstração. Por hipótese F é pontualmente limitada. Pelo Teorema


14.5 F é equicontı́nua, e portanto limitada nos limitados. Se BE é a bola unitária
fechada de E, então o conjunto
[
F(BE ) = T (BE )
T ∈F

é limitado em F .
14.7. Corolário. Seja E um espaço normado, e seja A um subconjunto de
E tal que φ(A) é limitado em K para cada φ ∈ E 0 . Então A é limitado em E.
Demonstração. Seja J : E ,→ E 00 o mergulho canônico de E em seu bidual.
Segue da hipótese que J(A) é um subconjunto pontualmente limitado de E 00 .
Pelo Corolário 14.6. J(A) é limitado em E 00 . Logo A é limitado em E.
14.8. Corolário. Seja E um evt de Baire, seja F um evt de Hausdorff, e
seja (Tn ) uma sequência em L(E; F ) tal que o limite T x = lim Tn x existe para
cada x ∈ E. Então T ∈ L(E; F ).
Demonstração. Como cada Tn é linear, e F é Hausdorff, é fácil verificar
que T é linear. Para cada x ∈ E a sequência (Tn x) é convergente, e portanto
limitada em F . Pelo Teorema 14.5 a sequência (Tn ) é equicontı́nua. Assim,
dada V ∈ U0 (F ), V fechada, existe U ∈ U0 (E) tal que Tn (U ) ⊂ V para todo n.
Como V é fechada, segue que T (U ) ⊂ V , e portanto T é contı́nua.

53
Exercı́cios
P∞
14.A. Seja (ηj ) ⊂ K tal que a série j=1 ξj ηj converge para cada (ξj ) ∈ c0 .
Prove que (ηj ) ∈ `1 .
P
14.B. Seja 1 ≤ p < ∞, e seja (ηj ) ⊂ K tal que a série j=1 ξj ηj converge
para cada (ξj ) ∈ `p . Prove que (ηj ) ∈ `p0 , onde p0 é o ı́ndice conjugado de p, ou
seja (1/p) + (1/p0 ) = 1.
14.C. Seja I um conjunto arbitrário, seja F um espaço normado, e seja
{Tα : α ∈ A} ⊂ L(KI ; F ) uma famı́lia pontualmente limitada. Prove que
existem um conjunto finito J ⊂ I e uma famı́lia {T̂α : α ∈ A} ⊂ L(KJ ; F ) tal
que Tα = T̂α ◦ πJ para cada α ∈ A, sendo πJ : KI → KJ a projeção canônica.
14.D. Sejam E, F e G tres evt’s. Prove que uma aplicação bilinear A :
E × F → G é contı́nua se e só se, dada W ∈ U0 (G), existem U ∈ U0 (E) e
V ∈ U0 (F ) tais que A(U × V ) ⊂ W . Ou seja A é contı́nua se e só se A é
contı́nua na origem.
Denotaremos por La (E, F ; G) o espaço vetorial de todas as aplicações bi-
lineares A : E × F → G, e por L(E, F ; G) o subespaço de todas as A ∈
La (E, F ; G) que são contı́nuas. Quando G = K, escreveremos La (E, F ) em
lugar de La (E, F ; K), e L(E, F ) em lugar de L(E, F ; K).
14.E. Sejam E, F e G tres evt’s, e seja A ∈ La (E, F ; G). Dado x ∈ E, seja
Ax ∈ La (F ; G) definida por

Ax (y) = A(x, y) para todo y ∈ F.

De maneira análoga, dado y ∈ F , seja Ay ∈ La (E; G) definida por

Ay (x) = A(x, y) para todo x ∈ E.

Diremos que A é separadamente contı́nua se cada Ax e cada Ay são contı́nuas.


Prove que:
(a) Se A é contı́nua, então A é separadamente contı́nua.
(b) Se A é separadamente contı́nua, e E e F são metrizáveis, com um deles
completo, então A é contı́nua.
14.F. Sejam E, F e G tres evt’s metrizáveis e completos. Prove que uma
aplicação A ∈ La (E, F ; G) é contı́nua se e só se seu gráfico é fechado em E ×
F × G.

54
15. Teorema de Hahn-Banach, forma análitica
15.1. Teorema de Hahn-Banach. Seja E um espaço vetorial real, e
seja p : E → R um funcional sublinear. Seja M0 um subespaço de E, e seja
φ0 : M0 → R um funcional linear tal que
(a) φ0 (x) ≤ p(x) para todo x ∈ M0 .
Então existe um funcional linear φ : E → R tal que
(b) φ(x) = φ0 (x) para todo x ∈ M0 ;
(c) φ(x) ≤ p(x) para todo x ∈ E.
A chave da demonstração do teorema é o lema seguinte.
15.2. Lema. Seja E um espaço vetorial real, e seja p : E → R um
funcional sublinear. Seja M um subespaço próprio de E, seja z0 ∈ E \ M , e
seja N = M + [z0 ]. Seja φ : M → R um funcional linear tal que
(a) φ(x) ≤ p(x) para todo x ∈ M .
Então existe um funcional linear ψ : N → R tal que
(b) ψ(x) = φ(x) para todo x ∈ M ;
(c) ψ(x) ≤ p(x) para todo z ∈ N .
Demonstração. Cada z ∈ N pode ser escrito de maneira única na forma

z = x + λz0 , com x ∈ M, λ ∈ R.

Seja ψ : N → R definido por

ψ(z) = φ(x) + λζ0 ,

onde ζ0 é um número real independente de z, que será escolhido mais adiante.


É claro que ψ é linear e verifica (b). Para garantir (c) basta ter que

(1) λζ0 ≤ p(x + λz0 ) − φ(x) para todo x ∈ M, λ ∈ R.

Notemos que (1) é equivalente a

(2) − p(x − z0 ) + φ(x) ≤ ζ0 ≤ p(x + z0 ) − φ(x) para todo x ∈ M.

De fato, fazendo λ = 1 em (1) obtemos a desigualdade da direita em (2), e


fazendo λ = −1 em (1) obtemos a desigualdade da esquerda em (2). Logo (1)
implica (2). Para provar que (2) implica (1), consideremos tres casos. Se λ = 0,
então (1) segue de (a). Se λ > 0, então, aplicando a desigualdade da direita em
(2), com x/λ em lugar de x, e multiplicando por λ, obtemos (1). Finalmente,
se λ < 0, então, aplicando a desigualdade da esquerda em (2), com −x/λ em
lugar de x, e multiplicando por λ, obtemos (1). Assim (1) é equivalente a (2).
Para provar a existência de ζ0 ∈ R que verifique (2) para todo x ∈ M , basta
provar que

(3) sup [−p(x − z0 ) + φ(x)] ≤ inf [p(x + z0 ) − φ(x)].


x∈M x∈M

55
Para provar (3) basta provar que

(4) − p(x − z0 ) + φ(x) ≤ p(y + z0 ) − φ(y) para todo x, y ∈ M.

De fato, para x, y ∈ M temos que

φ(x) + φ(y) = φ(x + y) ≤ p(x + y) ≤ p(x − z0 ) + p(y + z0 ),

e (4) segue. Assim (4) é verdadeira, e basta escolher qualquer ζ0 ∈ R tal que

sup [−p(x − z0 ) + φ(x) ≤ ζ0 ≤ inf [p(x + z0 ) − φ(x)].


x∈M x∈M

Demonstração do Teorema 15.1. Seja P a famı́lia de todos os pares


(M, φ) tais que:
(i) M é um subespaço de E contendo M0 ;
(ii) φ : M → R é um funcional linear tal que φ|M0 = φ0 e φ ≤ p em M .
Dados (M, φ), (N, ψ) ∈ P definamos

(M, φ) ≤ (N, ψ) se M ⊂ N e φ = ψ|M.

É fácil ver que esta é uma relação de ordem parcial emSP.


Seja {(Mi , φi ) : i ∈ I} uma cadeia em P. Seja M = i∈I Mi , e seja φ : M →
R definida por φ(x) = φi (x) se x ∈ Mi . É fácil ver que φ está bem definida,
(M, φ) ∈ P, e (M, φ) é uma cota superior da cadeia {(Mi , φi ) : i ∈ I}.
Pelo lema de Zorn P possui um elemento maximal (M, φ). Para completar
a demonstração basta provar que M = E. Suponhamos que M 6= E, seja
z0 ∈ E \ M , e seja N = M + [z0 ]. Pelo Lema 15.2 existe um funcional linear
ψ : N → R tal que ψ|M = φ e ψ ≤ p em N . Assim (N, ψ) ∈ P, e (M, φ) não
seria maximal. Isto prova que M = E e completa a demonstração.
15.3. Teorema de Hahn-Banach. Seja E um espaço vetorial sobre
K, e seja p : E → R uma seminorma. Seja M0 um subespaço de E, e seja
φ0 : M0 → K um funcional linear tal que
(a) |φ0 (x)| ≤ p(x) para todo x ∈ M0 .
Então existe um funcional linear φ : E → K tal que
(b) φ(x) = φ0 (x) para todo x ∈ M0 ;
(c) |φ(x)| ≤ p(x) para todo x ∈ E.
Se E é um espaço vetorial real, então o Teorema 15.3 é consequência imediata
do Teorema 15.1. Para provar o Teorema 15.3 no caso de espaços vetoriais
complexos, vamos precisar do resultado seguinte.
15.4. Proposição. Seja E um espaço vetorial complexo, e seja ER o espaço
vetorial real associado. Então:
(a) Cada funcional linear φ : E → C admite uma única representação da
forma
(5) φ(x) = u(x) − iu(ix) para todo x ∈ E,
sendo u : ER → R um funcional linear.

56
(b) Dado um funcional linear u : ER → R, a fórmula (5) define um funcional
linear φ : E → C.
Demonstração. Dado φ, podemos escrever

φ(x) = u(x) + iv(x) para todo x ∈ E,

onde u(x) = Reφ(x) e v(x) = Imφ(x). É claro que u : ER → R e v : ER → R


são funcionais lineares. Como

u(ix) + iv(ix) = φ(ix) = iφ(x) = iu(x) − v(x),

segue que v(x) = −u(ix), provando (5). A unicidade da representação é clara.


(b) Dado u, seja φ definido por (5). É claro que

φ(x + y) = φ(x) + φ(y) para todo x, y ∈ E,

φ(λx) = λφ(x) para todo x ∈ E, λ ∈ R.


Para completar a demonstração basta provar que

φ(ix) = iφ(x) para todo x ∈ E.

De fato
φ(ix) = u(ix) + iu(x) = iφ(x) para todo x ∈ E.
Demonstração do Teorema 15.3 para espaços vetoriais complexos.
Pela Proposição 15.4 podemos escrever

φ0 (x) = u0 (x) − iu0 (ix) para todo x ∈ M0 ,

sendo u0 : (M0 )R → R um funcional linear. Como

u0 (x) ≤ |φ0 (x)| ≤ p(x) para todo x ∈ M0 ,

podemos aplicar o Teorema 15.1, e assim obter um funcional linear u : ER → R


tal que u(x) = u0 (x) para todo x ∈ M0 , e u(x) ≤ p(x) para todo x ∈ E. Seja
φ : E → C definido por

φ(x) = u(x) − iu(ix) para todo x ∈ E.

Pela Proposição 15.4 φ : E → C é um funcional linear que claramente verifica


(b). Para provar que φ verifica (c), fixemos x ∈ E, e escrevamos

φ(x) = |φ(x)|eiθ .

Então

|φ(x)| = e−iθ φ(x) = φ(e−iθ x) = u(e−iθ x) ≤ p(e−iθ x) = p(x),

completando a demonstração.

57
Na demonstração do Teorema 15.3 para espaços vetoriais complexos uti-
lizamos o Teorema 15.1. Em lugar do Teorema 15.1 poderiamos ter utilizado o
Teorema 15.3 para espaços vetoriais reais.

Exercı́cios
15.A. Seja E um espaço normado, e seja M0 um subespaço de E. Dado
φ0 ∈ M00 , prove que existe φ ∈ E 0 tal que φ|M0 = φ0 e kφk = kφ0 k.
15.B. Seja E um espaço normado. Dado x0 ∈ E, prove que existe φ ∈ E 0
tal que kφk = 1 e φ(x0 ) = kx0 k.
15.C. Seja E um espaço normado separável, e seja {xn : n ∈ N} um sub-
conjunto enumerável denso de E. Prove que:
(a) Existe {φn : n ∈ N} ⊂ E 0 tal que kφn k = 1 e φn (xn ) = kxn k para todo
n ∈ N.
(b) A aplicação
T : x ∈ E → (φn (x))∞
n=1 ∈ `∞

é um isomorfismo isométrico entre E e um subespaço de `∞ .


(c) {φn : n ∈ N} separa os pontos de E.
15.D. Seja E um evt. Prove que as seguintes condições são equivalentes:
(a) E 0 6= {0}.
(b) Existe U ∈ U0 , U convexa e equilibrada, U 6= E.
(c) Existe U ∈ U0 , U convexa, U 6= E.

58
16. Teorema de Hahn-Banach em espaços localmente convexos
16.1. Teorema de Hahn-Banach. Seja E um elc, seja M0 um subespaço
de E, e seja φ0 ∈ M00 . Então existe φ ∈ E 0 tal que φ|M0 = φ0 .
Demonstração. Como φ0 : M0 → K é um funcional linear contı́nuo, existe
U ∈ U0 , U convexa e equilibrada, tal que

|φ0 (x)| < 1 para todo x ∈ U ∩ M0 .

Seja pU : E → R o funcional de Minkowski de U . Então pU é uma seminorma e

|φ0 (x)| < 1 sempre que x ∈ M0 , pU (x) < 1.

Segue facilmente que

|φ0 (x)| ≤ pU (x) para todo x ∈ M0 .

Pelo Teorema 15.3 existe um funcional linear φ : E → K tal que φ|M0 = φ0 e

|φ(x)| ≤ pU (x) para todo x ∈ E.

Segue que
|φ(x)| ≤ 1 para todo x ∈ U,
e portanto φ é contı́nuo.
16.2. Corolário. Seja E um elc de Hausdorff, e seja x0 ∈ E, x0 6= 0.
Então existe φ ∈ E 0 tal que φ(x0 ) = 1.
Demonstração. Seja M0 = [x0 ] o subespaço de E gerado por x0 , e seja
φ0 : M0 → K definido por φ0 (λx0 ) = λ. Pelo Corolário 11.4 φ0 ∈ M00 . Pelo
Teorema 16.1 existe φ ∈ E 0 tal que φ|M0 = φ0 . Logo φ(x0 ) = φ0 (x0 ) = 1.
16.3. Corolário. Seja E um elc, seja M um subespaço fechado próprio de
E, e seja y ∈ E \ M . Então existe φ ∈ E 0 tal que φ(y) = 1 e φ(x) = 0 para todo
x ∈ M.
Demonstração. Consideremos a aplicação quociente

π : E → E/M.

6 0. Pelo Corolário 16.2 existe


Então E/M é um elc de Hausdorff, e π(y) =
ψ ∈ (E/M )0 tal que ψ(π(y)) = 1. Seja φ = ψ ◦ π. Então φ ∈ E 0 , φ(y) = 1 e
φ(x) = 0 para todo x ∈ M .
16.4. Corolário. Seja E um elc, seja M um subespaço de E, e seja y ∈ E.
Tem-se que y ∈ M se e só se φ(y) = 0 para cada φ ∈ E 0 tal que φ(x) = 0 para
todo x ∈ M .
Demonstração. (⇒) Se y ∈ M , então existe uma rede (xλ ) ⊂ M tal que
xλ → y. Seja φ ∈ E 0 tal que φ(x) = 0 para todo x ∈ M . Então φ(y) =
lim φ(xλ ) = 0.

59
(⇐) Se y ∈/ M , então, pelo Corolário 16.3 existe φ ∈ E 0 tal que φ(x) = 0
para todo x ∈ M , mas φ(y) = 1.
16.5. Corolário. Seja E um elc de Hausdorff, e sejam x1 , ..., xn n ve-
tores linearmente independentes em E. Então existem φ1 , ..., φn ∈ E 0 tais que
φj (xk ) = δjk para j, k = 1, ...n.
Demonstração. Seja M = [x1 , ..., xn ] o subespaço de E gerado por x1 , ..., xn ,
e sejam ψ1 , ..., ψn : M → K definidos por
n
!
X
ψj λk xk = λj .
k=1

Segue do Corolário 11.4 que ψ1 , ..., ψn ∈ M 0 . Pelo Teorema 16.1 existem


φ1 , ..., φn ∈ E 0 tais que φj |M = ψj para j = 1, ..., n. Logo φj (xk ) = ψj (xk ) =
δjk para j, k = 1, ..., n.
No Corolário 11.6 vimos que em um evt de Hausdorff E, cada subespaço
fechado de E, de codimensão finita, é complementado em E. Em espaços local-
mente convexos temos o resultado seguinte.
16.6. Corolário. Seja E um elc de Hausdorff. Então cada subespaço de
E, de dimensão finita, é complementado em E.
Demonstração. Seja M um subespaço de E de dimensão finita, e seja
(e1 , ..., en ) uma base de M . Pelo Corolário 16.5 existem φ1 , ..., φn ∈ E 0 tais que
φj (ek ) = δjk para j, k = 1, ..., n. Seja
n
\
N= φ−1
j (0).
j=1

Dado x ∈ E, é claro que


n
X
x− φk (x)ek ∈ N para todo x ∈ E,
k=1

e portanto
n
! n
!
X X
x= φk (x)ek + x− φk (x)ek ∈ M + N.
k=1 k=1

É fácil ver que a decomposição anterior é única, e portanto E é a soma direta


algébrica de M e N . Logo E/N é algebricamente isomorfo a M . Assim N é um
subespaço fechado de E de codimensão finita. Pelo Corolário 11.5 E é a soma
direta topológica de M e N . Logo M é complementado em E.

60
Exercı́cios
16.A. Seja E um espaço normado separável de dimensão infinita. Prove
que:
(a) Existe uma sequência estritamente crescente (Mn )∞n=1 de subespaços de
E, de dimensão finita, cuja união M é densa em E.
(b) Existe uma sequência (φn )∞ 0
n=1 ⊂ E tal que kφn k = 1 e φn (x) = 0 para
todo x ∈ Mn e n ∈ N.
(c) φn (x) → 0 para cada x ∈ E.
16.B. Seja E um elc, seja M um subespaço de E, e seja {ψi : i ∈ I}
uma famı́lia equicontı́nua em M 0 . Prove que existe uma famı́lia equicontı́nua
{φi : i ∈ I} em E 0 tal que φi |M = ψi for every i ∈ I.
16.C. Seja E um elc, seja M um subespaço de E, e seja

M ⊥ = {φ ∈ E 0 : φ(x) = 0 para todo x ∈ M }.

Seja R : E 0 → M 0 a aplicação restrição, ou seja

R : φ ∈ E 0 → φ|M ∈ M 0 .

b : E 0 /M ⊥ → M 0 tal que o seguinte


Prove que existe um isomorfismo algébrico R
diagrama é comutativo.
R
E0 −→ M0
π& %R
b

E 0 /M ⊥
sendo π : E 0 → E 0 /M ⊥ a aplicação quociente.
16.D. Seja E um elc, seja M um subespaço fechado de E, e seja π : E →
E/M a aplicação quociente. Seja π 0 : (E/M )0 → E 0 definida por

π 0 : ψ ∈ (E/M )0 → ψ ◦ π ∈ E 0

Prove que π 0 é um isomorfismo algébrico entre (E/M )0 e o subespaço M ⊥ de


E0.

61
17. Teorema de Hahn-Banach, forma geométrica
17.1. Definição. Seja E um espaço vetorial. Chamaremos de hiperplano
em E qualquer subespaço vetorial próprio maximal de E.
17.2. Proposição. Seja E um espaço vetorial. Então um conjunto H ⊂ E
é um hiperplano em E se e só se existe φ ∈ E ∗ , φ 6= 0, tal que H = φ−1 (0).
Demonstração. (⇒) Suponhamos que H seja um hiperplano em E, e seja
a ∈ E \ H. Então H + Ka = E, e cada y ∈ E admite uma única representação
da forma
y = x + λa, com x ∈ H, λ ∈ K.
Seja φ : E → K definida por

φ(x + λa) = λ para todo x ∈ M, λ ∈ K.

É claro que φ ∈ E ∗ e φ−1 (0) = H.


(⇐) Seja φ ∈ E ∗ , φ 6= 0, e seja a ∈ E \ φ−1 (0). Então cada y ∈ E admite
uma representação da forma
 
φ(y) φ(y)
y= y− a + a,
φ(a) φ(a)

e portanto E = φ−1 (0) + Ka. Segue que φ−1 (0) é um hiperplano em E.


17.3. Proposição. Seja E um espaço vetorial complexo, e seja ER o espaço
vetorial real associado. Então:
(a) Dado um hiperplano H em E, existe um hiperplano H0 em ER tal que
H = H0 ∩ iH0 .
(b) Dado um hiperplano H0 em ER , o conjunto H = H0 ∩ iH0 é um hiper-
plano em E.
Demonstração. (a) Seja H um hiperplano em E. Pela Proposição 17.2
existe φ ∈ E ∗ , φ 6= 0, tal que H = φ−1 (0). Pela Proposição 15.4 existe um
funcional linear φ0 : ER → R tal que

(1) φ(x) = φ0 (x) − iφ0 (ix) para todo x ∈ E.

Como φ 6= 0, é claro que φ0 6= 0. Seja H0 = φ−1


0 (0). Pela Proposição 17.2 H0 é
um hiperplano em ER e

H = {x ∈ E : φ(x) = 0} = {x ∈ E : φ0 (x) = 0, φ0 (ix) = 0} = H0 ∩ iH0 .

(b) Seja H0 um hiperplano em ER . Pela Proposição 17.2 existe φ0 ∈ (ER )∗ ,


φ0 6= 0, tal que H0 = φ−1 0 (0). Pela Proposição 15.4 a fórmula (1) define um
funcional linear φ : E → C. Como φ0 6= 0, é claro que φ 6= 0. Seja H = φ−1 (0).
Pela Proposição 17.2 H é um hiperplano em E e

H = {x ∈ E : φ(x) = 0} = {x ∈ E : φ0 (x) = 0, φ0 (ix) = 0} = H0 ∩ iH0 .

62
17.4. Teorema de Hahn-Banach. Seja E um evt, seja M um subespaço
de E, e seja A um subconjunto convexo, aberto e não vazio de E tal que A∩M =
∅. Então existe um hiperplano fechado H em E tal que M ⊂ H e A ∩ H = ∅.
Demonstração. (a) Primeiro suponhamos que E seja um evt real. Fixemos
a ∈ A. Então A − a é um subconjunto convexo e aberto de E que contém a
origem. Em particular A − a é um subconjunto absorvente. Seja p o funcional
de Minkowski de A − a. Pelo Exercı́cio 4.F p é um funcional sublinear positivo
e
(2) {x ∈ E : p(x) < 1} ⊂ A − a ⊂ {x ∈ E : p(x) ≤ 1},
ou seja
{x ∈ E : p(x − a) < 1} ⊂ A ⊂ {x ∈ E : p(x − a) ≤ 1}.
Como A é aberto, é fácil ver que

(3) A = {x ∈ E : p(x − a) < 1}.

Como A ∩ M = ∅, segue que

(4) p(x − a) ≥ 1 para todo x ∈ M.

Seja N = M + Ra, e seja ψ : N → R definido por

ψ(x − λa) = λ para todo x ∈ M, λ ∈ R.

Claramente ψ é linear. Afirmamos que

(5) ψ(x − λa) ≤ p(x − λa) para todo x ∈ M, λ ∈ R.

De fato, se x ∈ M e λ > 0, então segue de (3) que


x 
ψ(x − λa) = λ ≤ λp − a = p(x − λa).
λ
Por outro lado, se x ∈ M e λ ≤ 0, então é claro que

ψ(x − λa) = λ ≤ 0 ≤ p(x − λa),

provando (5). Pelo Teorema 15.1 existe um funcional linear φ : E → R tal que
φ|N = ψ e φ(y) ≤ p(y) para todo y ∈ E. Segue de (2) que

φ(y) ≤ p(y) ≤ 1 para todo y ∈ A − a.

Se U é uma vizinhança equilibrada de zero em E, contida em A − a, então é


claro que
|φ(y)| ≤ 1 para todo y ∈ U,
provando que φ é contı́nuo. Seja H = φ−1 (0). É claro que H é um hiperplano
fechado de E e

M = {y ∈ N : ψ(y) = 0} ⊂ {y ∈ E : φ(y) = 0} = H.

63
Por outro lado, para y ∈ H temos que

0 = φ(y) = φ(y − a) + φ(a) = φ(y − a) + ψ(a) ≤ p(y − a) − 1,

e portanto
p(y − a) ≥ 1 para todo y ∈ H.
Logo A ∩ H = ∅, por (3).
(b) Suponhamos que E seja um evt complexo. Por (a) existe um hiperplano
fechado H0 em ER tal que

M ⊂ H0 e A ∩ H0 = ∅.

Seja H = H0 ∩ iH0 . Pela Proposição 17.3 H é um hiperplano fechado em E.


Como M = iM , vemos que

M ⊂ H0 ∩ iH0 = H.

Finalmente, como H ⊂ H0 e A ∩ H0 = ∅, é claro que A ∩ H = ∅.

Exercı́cios
17.A. Seja E um espaço vetorial, e seja H um hiperplano em E. Dados
φ, ψ ∈ E ∗ \ {0} tais que φ−1 (0) = ψ −1 (0) = H, prove que ψ = αφ para algum
α ∈ K.
17.B. Seja E um evt, e seja H um hiperplano em E. Prove que H é fechado
em E ou denso em E.

64
18. Separação de conjuntos convexos
18.1. Teorema de Hahn-Banach. Seja E um evt real, seja M um
subespaço de E, e seja A um subconjunto convexo, aberto e não vazio de E
tal que A ∩ M = ∅. Então existe φ ∈ E 0 tal que

φ(x) = 0 para todo x ∈ M , φ(x) > 0 para todo x ∈ A.

Demonstração. Pelo Teorema 17.5 existe um hiperplano fechado H =


φ−1 (0), com φ ∈ E 0 \ {0}, tal que M ⊂ H e A ∩ H = ∅. A inclusão M ⊂ H
implica que φ(x) = 0 para todo x ∈ M . Por outro lado, como A é convexo e
A∩H = ∅ , segue que φ(A) é um intervalo em R que não contém 0. Substituindo
φ por −φ, se for necessário, podemos supor que φ(x) > 0 para todo x ∈ A.
18.2. Teorema de Hahn-Banach. Seja E um evt real, e sejam A e B
dois subconjuntos convexos, disjuntos e não vazios de E, com A aberto. Então
existem φ ∈ E 0 e α ∈ R tais que

φ(x) > α para todo x ∈ A, φ(x) ≤ α para todo x ∈ B.

Para provar este teorema vamos precisar do lema seguinte, que poderiamos
ter provado na Seção 11.
18.3. Lema. Seja E um evt, e seja φ : E → K um funcional linear, φ 6= 0.
Então φ é uma aplicação aberta.
Demonstração. Existe um funcional linear injetivo φb : E/φ−1 (0) → K tal
que o seguinte diagrama é comutativo.
φ
E −→ K

π& % φb
E/φ−1 (0)
sendo π : E → E/φ−1 (0) a aplicação quociente. Como φ 6= 0, φ é sobrejetivo,
e dai segue que φb é bijetivo. Segue do Corolário 11.4 que a função inversa
φb−1 : K → E/φ−1 (0) é contı́nua. Logo φb é aberta. Como a aplicação quociente
π : E → E/φ−1 (0) é aberta, pela Proposição 8.2, concluimos que φ = φb ◦ π é
aberta também.
Demonstração do Teorema 18.2. O conjunto A − B é convexo, aberto
e não vazio, e não contém 0. Pelo Teorema 18.1 existe φ ∈ E 0 tal que

φ(z) > 0 para todo z ∈ A − B,

ou seja
φ(x) > φ(y) para todo x ∈ A, y ∈ B.

65
Seja
α = inf{φ(x) : x ∈ A}.
Então

φ(x) ≥ α para todo x ∈ A, φ(y) ≤ α para todo y ∈ B.

Por outro lado, pelo Lema 18.3, φ : E → R é uma aplicação aberta. Em


particular φ(A) é um intervalo aberto. Segue que

φ(x) > α para todo x ∈ A.

18.4. Corolário. Seja E um evt real, e sejam A e B dois subconjuntos


convexos, disjuntos e não vazios de E, com A e B ambos abertos. Então existem
φ ∈ E 0 e α ∈ R tais que

φ(x) > α para todo x ∈ A, φ(x) < α para todo x ∈ B.

Demonstração. Pelo Teorema 18.2 existem φ ∈ E 0 e α ∈ R tais que

φ(x) > α para todo x ∈ A, φ(x) ≤ α para todo x ∈ B.

Por outro lado, pelo Lema 18.3, φ : E → R é uma aplicação aberta. Em


particular φ(B) é um intervalo aberto. Segue que

φ(x) < α para todo x ∈ B.

18.5. Teorema de Hahn-Banach. Seja E um elc real, e sejam A e B


dois subconjuntos convexos, disjuntos e não vazios de E, com A fechado e B
compacto. Então existem φ ∈ E 0 e α ∈ R tais que

φ(x) > α para todo x ∈ A, φ(x) < α para todo x ∈ B.

Para provar este teorema vamos precisar do lema seguinte.


18.6. Lema. Seja E um evt, e sejam A e B dois subconjuntos disjuntos
não vazios de E, com A fechado e B compacto. Então existe U ∈ U0 tal que

(A + U ) ∩ (B + U ) = ∅.

Demonstração. Como A é fechado, para cada b ∈ B existe Ub ∈ U0 tal que

A ∩ (b + Ub ) = ∅.

Seja Vb ∈ U0 , Vb aberta, tal que Vb + Vb ⊂ Ub . Como B é compacto, existem


b1 , ..., bn ∈ B tais que
[n
B⊂ (bj + Vbj ).
j=1

66
Seja
n
\
V = Vbj .
j=1

Então é fácil verificar que


A ∩ (B + V ) = ∅.
Seja W ∈ U0 , W equilibrada, tal que W + W ⊂ V . Então é fácil verificar que

(A + W ) ∩ (B + W ) = ∅.

Demonstração do Teorema 18.5. Pelo Lema 18.6 existe U ∈ U0 tal que

(A + U ) ∩ (B + U ) = ∅.

Como E é localmente convexo, podemos supor que U é convexa e aberta. Pelo


Corolário 18.4 existem φ ∈ E 0 e α ∈ R tais que

φ(x) > α para todo x ∈ A + U , φ(x) < α para todo x ∈ B + U .

Exercı́cios
18.A. Seja E um evt real, seja A um subconjunto convexo, aberto e não
vazio de E, e seja x0 ∈ E \ A. Prove que existe φ ∈ E 0 tal que

φ(x0 ) > φ(x) para todo x ∈ A.

18.B. Seja E um evt, seja A um subconjunto convexo, equilibrado, aberto


e não vazio de E, e seja x0 ∈ E \ A. Prove que existe φ ∈ E 0 tal que

φ(x0 ) > |φ(x)| para todo x ∈ A.

18.C. Seja E um elc real, seja A um subconjunto convexo, fechado e não


vazio de E, e seja x0 ∈ E \ A. Prove que existe φ ∈ E 0 tal que

φ(x0 ) > sup φ(x).


x∈A

18.D. Seja E um elc, seja A um subconjunto convexo, equilibrado, fechado


e não vazio de E, e seja x0 ∈ E \ A. Prove que existe φ ∈ E 0 tal que

φ(x0 ) > sup |φ(x)|.


x∈A

67
19. Sistemas duais
19.1. Definição. Sejam E e F espaços vetoriais sobre K. Diremos que
(E, F ) é um sistema dual se existe uma forma bilinear

(x, y) ∈ E × F → hx, yi ∈ K

com as seguintes propriedades:


(a) hx, yi = 0 para todo y ∈ F implica x = 0;
(b) hx, yi = 0 para todo x ∈ E implica y = 0.
(a) diz que a forma bilinear h., .i separa os pontos de E, enquanto (b) diz
que h., .i separa os pontos de F .
19.2. Exemplo. Seja E um espaço vetorial, e seja E ∗ seu dual algébrico.
Então (E, E ∗ ) é um sistema dual sob a forma bilinear

hx, x∗ i = x∗ (x) (x ∈ E, x∗ ∈ E ∗ ).

É claro que esta forma bilinear separa os pontos de E ∗ . Para provar que também
separa os pontos de E, consideremos uma base (ei )i∈I de E. Então cada x ∈ E
admite uma única representação da forma
X
x= ξi ei ,
i∈I

onde ξi = 6 0 para apenas um número finito de ı́ndices. Para cada j ∈ I seja


e∗j ∈ E ∗ definido por
!
X
e∗j ξi ei = ξj .
i∈I

Então é claro que e∗j (x) = 0 para todo j ∈ I implica x = 0.


19.3. Exemplo. Seja E um espaço vetorial, e seja F um subespaço de E ∗
que separa os pontos de E, ou seja

x∗ (x) = 0 para todo x∗ ∈ F implica x = 0.

Então (E, F ) é um sistema dual sob a forma bilinear

hx, x∗ i = x∗ (x) (x ∈ E, x∗ ∈ F ).

19.4. Exemplo. Seja E um elc de Hausdorff, e seja E 0 seu dual topológico.


Então E 0 é um subespaço de E ∗ que separa os pontos de E, pelo Corolário 16.2.
Então (E, E 0 ) é um sistema dual sob a forma bilinear

hx, x0 i = x0 (x) (x ∈ E, x0 ∈ E 0 ).

68
19.5. Proposição. Seja (E, F ) um sistema dual. Então F é algebricamente
isomorfo a um subespaço de E ∗ que separa os pontos de E.
Demonstração. Para cada y ∈ F seja yb ∈ E ∗ definido por

yb(x) = hx, yi (x ∈ E).

Então a aplicação
J : y ∈ F → yb ∈ E ∗
é linear e injetiva. Como a forma bilinear h., .i separa os pontos de E, é claro
que o subespaço J(F ) de E ∗ separa os pontos de E.
Se (E, F ) é um sistema dual, sempre identificaremos cada y ∈ F com sua
imagem canônica yb ∈ E ∗ .

Exercı́cios
19.A. Seja E um evt tal que E 0 separa os pontos de E. Prove que:
(a) E é Hausdorff.
(b) (E, E 0 ) é um sistema dual sob a forma bilinear

hx, x0 i = x0 (x) (x ∈ E, x0 ∈ E 0 ).

69
20. Topologias fracas
20.1. Definição. Seja (E, F ) um sistema dual. Denotaremos por σ(E, F ) a
topologia localmente convexa em E definida pela famı́lia dirigida de seminormas
pB : E → R, definidas por

pB (x) = sup |hx, yi| (x ∈ E),


y∈B

com B ⊂ F finito. De maneira análoga, denotaremos por σ(F, E) a topologia


localmente convexa em F definida pela famı́lia dirigida de seminormas pA : F →
R, definidas por
pA (y) = sup |hx, yi| (y ∈ F ),
x∈A

com A ⊂ E finito. As topologias σ(E, F ) e σ(F, E) são chamadas de topologias


fracas em E e F , respectivamente.
Como a definição das topologias σ(E, F ) e σ(F, E) é simétrica, nos limitare-
mos a enunciar os resultados sobre σ(E, F ). Para cada resultado sobre σ(E, F ),
há um resultado análogo sobre σ(F, E).
Com frequência usaremos o resultado seguinte, cuja demonstração é deixada
como exercı́cio.
20.2. Proposição. Seja (E, F ) um sistema dual. Então:
(a) Uma rede (xλ )λ∈Λ converge a x para a topologia σ(E, F ) se e só se
hxλ , yi → hx, yi para cada y ∈ F .
(b) Um conjunto A ⊂ E é σ(E, F )-limitado se e só se supx∈A |hx, yi| < ∞
para cada y ∈ F .
20.3. Proposição. Seja E um espaço vetorial, e sejam φ1 , ..., φn , φ ∈ E ∗ .
Tem-se que
\n
(1) φ−1
j (0) ⊂ φ
−1
(0)
j=1

se e só se existem α1 , ..., αn ∈ K tais que


n
X
(2) φ= αj φj .
j=1

Demonstração. É claro que (2) implica (1). Para provar a implicação


oposta, consideremos a aplicação linear

T : x ∈ E → (φ1 (x), ..., φn (x)) ∈ Kn .

Seja ψ0 : T (E) → K definido por

(3) ψ0 (T x) = φ(x) (x ∈ E).

70
Segue de (1) que ψ0 está bem definido. Claramente ψ0 : T (E) → K é um
funcional linear. Seja ψ : Kn → K um funcional linear tal que ψ|T (E) = ψ0 . Se
(e1 , ..., en ) é a base canônica de Kn , então, para cada x ∈ E temos que
 
Xn n
X
φ(x) = ψ0 (T x) = ψ(φ1 (x), ..., φn (x)) = ψ  φj (x)ej  = φj (x)ψ(ej ).
j=1 j=1
Pn
Logo φ = j=1 αj φj , onde αj = ψ(ej ) para j = 1, ..., n.
20.4. Corolário. Seja E um espaço vetorial, e sejam φ1 , ..., φn ∈ E ∗ .
Então os funcionais φ1 , ..., φn são linearmente independentes se e só se existem
x1 , ..., xn ∈ E tais que φj (xk ) = δjk para j, k = 1, ..., n.
Demonstração. Para provar a implicação não trivial, suponhamos que
φ1 , ..., φn sejam linearmente independentes. Então, para cada k, o funcional
φk não é combinação linear dos funcionais φj , com 1 ≤ j ≤ n, j 6= k. Pela
proposição anterior temos que
\
{φ−1 −1
j (0) : 1 ≤ j ≤ k, j 6= k} 6⊂ φk (0).

Logo existe yk ∈ E tal que φj (yk ) = 0 para cada j 6= k, mas φk (yk ) 6= 0. Se


definimos xk = yk /φk (yk ) para cada k, então φj (xk ) = δjk para j, k = 1, ..., n.
Lembremos que, se (E, F ) é um sistema dual, então sempre identificaremos
cada y ∈ F com sua imagem canônica yb ∈ E ∗ .
20.5. Teorema. Seja (E, F ) um sistema dual. Então:
(a) (E, σ(E, F )) é um elc de Hausdorff.
(b) (E, σ(E, F ))0 = F .
(c) σ(E, F ) é a topologia mais fraca em E tal que yb é contı́nuo em E para
cada y ∈ F .
Demonstração. (a) Se py (x) = |hx, yi| = 0 para todo y ∈ F , então x = 0,
pois F separa os pontos de E. Logo σ(E, F ) é uma topologia de Hausdorff.
(b) yb é σ(E, F )-contı́nuo para cada y ∈ F , pois
|b
y (x)| = |hx, yi| = py (x) para todo x ∈ E.
Reciprocamente, seja φ ∈ (E, σ(E, F ))0 . Então existem B ⊂ F finito e c > 0
tais que
|φ(x)| ≤ cpB (x) para todo x ∈ E.
Se B = {y1 , ..., yn }, então
|φ(x)| ≤ c sup |hx, yj i| = c sup |b
yj (x)| para todo x ∈ E.
1≤j≤n 1≤j≤n

Em particular segue que


n
\
ybj−1 (0) ⊂ φ−1 (0).
j=1

71
Pn
Pela Proposição 20.3 existem α1 , ..., αn ∈ K tais que φ = j=1 αj ybj . Logo
Pn
φ = yb, sendo y = j=1 αj yj ∈ F .
(c) Já sabemos que yb é σ(E, F )-contı́nuo para cada y ∈ F . Seja τ uma outra
topologia em E tal que yb seja τ -contı́nuo para cada y ∈ F . Então, dados y ∈ F ,
a ∈ E e  > 0, existe uma vizinhança U de a em (E, τ ) tal que

|hx, yi − ha, yi| = |b


y (x) − yb(a)| <  para todo x ∈ U.

Logo
U ⊂ {x ∈ E : py (x − a) < }.
Segue que σ(E, F ) ⊂ τ .
20.6. Corolário. Seja E um elc de Hausdorff. Então:
(a) (E, σ(E, E 0 )) é um elc de Hausdorff.
(b) (E, σ(E, E 0 ))0 = E 0 .
(c) σ(E, E 0 ) é a topologia mais fraca em E tal que cada y 0 ∈ E 0 é contı́nuo
em E.
20.7. Teorema. Seja E um elc de Hausdorff, com topologia τ , e seja A
um subconjunto convexo de E. Então
τ σ(E,E 0 )
A =A .

Demonstração. Segue do Corolário 20.6 que σ(E, E 0 ) ⊂ τ , e dai segue que


τ σ(E,E 0 )
A ⊂A .
σ(E,E 0 ) τ
Para provar a inclusão oposta, suponhamos que exista y ∈ A \ A . Como
τ
y∈/ A , o Exercı́cio 18.C garante a existência de φ ∈ E 0 tal que

(1) Reφ(y) > sup Reφ(x).


x∈A

σ(E,E 0 )
Por outro lado, como y ∈ A , existe uma rede (xλ ) ⊂ A tal que xλ → y
para σ(E, E 0 ). Pela Proposição 20.2 segue que φ(xλ ) → φ(y), contradizendo
(1).
20.8. Teorema. Seja E um elc de Hausdorff, com topologia τ . Então um
conjunto A ⊂ E é τ -limitado se e só se A é σ(E, E 0 )-limitado.
Demonstração. (⇒) Esta implicação é clara, pois σ(E, E 0 ) ⊂ τ .
(⇐) Se E é um espaço normado, então a implicação oposta segue do Corolário
14.7. No caso geral, seja p uma seminorma contı́nua em E. Seja (E, p) o espaço
vetorial E, seminormado por p, seja

Ep = (E, p)/p−1 (0)

72
o espaço normado quociente, e seja

πp : (E, p) → Ep

a aplicação quociente. Se ψ ∈ Ep0 , então

ψ ◦ πp ∈ (E, p)0 ⊂ E 0 .

Se A ⊂ E é σ(E, E 0 )-limitado, então segue da Proposição 20.2 que ψ ◦ πp (A) é


limitado em K para cada ψ ∈ Ep0 . Como Ep é um espaço normado, segue que
πp (A) é limitado em Ep . Segue que p(A) é limitado em K para cada seminorma
contı́nua p em E. Logo A é limitado em E.

Exercı́cios
20.A. Seja (E, F ) um sistema dual. Prove que uma rede (xλ ) converge a x
para a topologia σ(E, F ) se e só se hxλ , yi → hx, yi para cada y ∈ F .
20.B. Seja (E, F ) um sistema dual. Prove que um conjunto A ⊂ E é
σ(E, F )-limitado se e só se supx∈A |hx, yi| < ∞ para cada y ∈ F .
20.C. Seja E um espaço vetorial, e sejam x1 , ..., xn ∈ E. Prove que os vetores
x1 , ..., xn são linearmente independentes se e só se existem φ1 , ..., φn ∈ E ∗ tais
que φj (xk ) = δjk para j, k = 1, ..., n.
20.D. Seja E um elc metrizável, com topologia τ , seja A ⊂ E, e seja x ∈
σ(E,E 0 )
A . Prove que existe uma sequência (xn ) de combinações convexas de
elementos de A tal que (xn ) converge a x na topologia τ .

73
21. Conjuntos polares
21.1. Definição. Seja (E, F ) um sistema dual. O polar de um conjunto
A ⊂ E é o conjunto A◦ ⊂ F definido por

A◦ = {y ∈ F : |hx, yi| ≤ 1 para todo x ∈ A}.

De maneira análoga, o polar de um conjunto B ⊂ F é o conjunto B ◦ ⊂ E


definido por

B ◦ = {x ∈ E : |hx, yi| ≤ 1 para todo y ∈ B}.

Notemos que, por simetria, para cada resultado sobre A◦ , com A ⊂ E, há
um resultado análogo sobre B ◦ , com B ⊂ F . Na seguinte proposição listamos
as propriedades mais imediatas dos conjuntos polares.
21.2. Proposição. Seja (E, F ) um sistema dual, e sejam A ⊂ E, B ⊂ E
e Ai ⊂ E para cada i ∈ I. Então:
(a) AS⊂ B implicaTA◦ ⊃ B ◦ .
(b) ( i∈I Ai )◦ = i∈I A◦i .
(c) A ⊂ A◦◦ .
(d) A◦ = A◦◦◦ .
(e) (λA)◦ = λ−1 A◦ para cada λ ∈ K \ {0}.
(f ) A◦ é convexo, equilibrado e σ(F, E)-fechado.
(g) A◦ é absorvente se e só se A é σ(E, F )-limitado.
σ(E,F ) ◦
(h) A◦ = (Γ(A) ) .
Demonstração. (a), (b) e (c) são claros.
(d) Por um lado, segue de (c) que A ⊂ A◦◦ , e dai A◦ ⊃ A◦◦◦ , por (a). Por
outro lado, segue também de (c) que A◦ ⊂ A◦◦◦ .
(e) y ∈ (λA)◦ se e só se |hλx, yi| ≤ 1 para todo x ∈ A, ou seja |hx, λyi| ≤ 1
para todo x ∈ A, ou seja λy ∈ A◦ .
(f) É fácil ver que A◦ é convexo e equilibrado. Para provar que A◦ é σ(F, E)-
fechado, seja (yλ )λ∈Λ uma rede em A◦ que converge a um ponto y ∈ F na
topologia σ(F, E). Como |hx, yλ i| ≤ 1 para cada x ∈ A e λ ∈ Λ , e como
hx, yλ i → hx, yi, segue que |hx, yi| ≤ 1 para cada x ∈ A, ou seja y ∈ A◦ .
(g) Como A◦ é equilibrado, temos que A◦ é absorvente ⇔ dado y ∈ F , existe
δ > 0 tal que δy ∈ A◦ ⇔ dado y ∈ F , existe δ > 0 tal que |hx, δyi| ≤ 1 para
todo x ∈ A ⇔ supx∈A |hx, yi| < ∞ para cada y ∈ F ⇔ A é σ(E, F )-limitado.
σ(E,F )
(h) Como A ⊂ Γ(A) ⊂ Γ(A) , segue de (a) que
σ(E,F ) ◦
A◦ ⊃ (Γ(A))◦ ⊃ (Γ(A) ) .

Para provar que A◦ ⊂ (Γ(A))◦ , sejam y ∈ A◦ e x ∈ Γ(A). Então x =

74
Pn Pn
j=1 λj xj , com xj ∈ A e j=1 |λj | ≤ 1. Logo
* +
n n
X
X
|hx, yi| = λj xj , y ≤ |λj ||hxj , yi| ≤ 1,
j=1 j=1

e portanto y ∈ (Γ(A))◦ .
σ(E,F ) σ(E,F )
Para provar que (Γ(A)◦ ⊂ (Γ(A) )◦ , sejam y ∈ (Γ(A))◦ e x ∈ Γ(A) .
Seja (xλ )λ∈Λ uma rede em Γ(A) que converge a x na topologia σ(E, F ). Como
|hxλ , yi| ≤ 1 para cada λ ∈ Λ, e como hxλ , yi → hx, yi, segue que |hx, yi| ≤ 1, e
σ(E,F ) ◦
portanto y ∈ (Γ(A) ) .
21.3. Teorema do bipolar. Seja (E, F ) um sistema dual, e seja A ⊂ E
σ(E,F )
não vazio. Então A◦◦ = Γ(A) .
Demonstração. Pela proposição anterior, A ⊂ A◦◦ e A◦◦ é convexo, equi-
librado e σ(E, F )-fechado. Logo
σ(E,F )
Γ(A) ⊂ A◦◦ .
σ(E,F )
Para provar a inclusão oposta, seja C = Γ(A) , e seja x0 ∈ E \ C. Como C
é convexo, equilibrado e σ(E, F )-fechado, o Exercı́cio 18.D garante a existência
de φ ∈ (E, σ(E, F ))0 tal que
|φ(x0 )| > 1 > sup |φ(x)|.
x∈C

Segue do Teorema 20.5 que φ = yb, com y ∈ F . Assim


|hx0 , yi| > 1 > sup |hx, yi| ≥ sup |hx, yi|.
x∈C x∈A

Logo y ∈ A◦ e x0 ∈
/ A◦◦ . Isto prova que A◦◦ ⊂ C.
21.4. Corolário. Seja (E, F ) um sistema dual, e seja {Ai : i ∈ I} uma
famı́lia de subconjuntos não vazios, convexos, equilibrados e σ(E, F )-fechados
de E. Então
!◦ !σ(F,E)
\ [
Ai =Γ Ai◦ .
i∈I i∈I

Demonstração. Pelo Teorema 21.3 Ai = A◦◦


i para cada i ∈ I. Pela
Proposição 21.2 !◦
\ \ [
◦◦ ◦
Ai = Ai = Ai .
i∈I i∈I i∈I
Aplicando de novo o Teorema 21.3, segue que
!◦ !◦◦ !σ(F,E)
\ [ [
Ai = A◦i =Γ A◦i .
i∈I i∈I i∈I

75
21.5. Proposição. Seja E um elc de Hausdorff. Então um conjunto
Φ ⊂ E 0 é equicontı́nuo se e só se existe U ∈ U0 (E) tal que Φ ⊂ U ◦ .
Esta proposição é consequência imediata da Proposição 14.2.
21.6. Teorema de Alaoglu. Seja E um elc de Hausdorff. Então U ◦ é
σ(E 0 , E)-compacto para cada U ∈ U0 (E).
Demonstração. Notemos que U ◦ ⊂ E 0 ⊂ KE . É fácil verificar que o espaço
produto KE induz em E 0 a topologia fraca σ(E 0 , E). Como U é absorvente, para
cada x ∈ E existe rx > 0 tal que x ∈ rx U . Segue que

|φ(x)| ≤ rx para todo φ ∈ U ◦ ,

e portanto Y
U◦ ⊂ D(0; rx ),
x∈E

onde D(0; r) denota o disco fechado de centro 0 e raio r em K. O conjunto da


direita é compacto, pelo teorema de Tychonoff. Para completar a demonstração
provaremos que U ◦ é um subconjunto fechado de KE .
Seja (φλ )λ∈Λ uma rede em U ◦ que converge a um ponto f ∈ KE . Então
φλ (x) → f (x) em K para cada x ∈ E. Como cada φλ é linear, é fácil ver que f
é linear. Como |φλ (x)| ≤ 1 para cada x ∈ U e λ ∈ Λ, segue que |f (x)| ≤ 1 para
cada x ∈ U . Concluimos que f ∈ U ◦ , completando a demonstração.
21.7. Corolário. Seja E um elc de Hausdorff. Então cada subconjunto
equicontı́nuo de E 0 é relativamente compacto em (E 0 , σ(E 0 , E)).
21.8. Corolário. Se E é um espaço normado, então a bola unitária fechada
de E 0 é σ(E 0 , E)-compacta.

Exercı́cios
Seja (E, F ) um sistema dual. Dado A ⊂ E, o subespaço de F ortogonal a A
é o subespaço A⊥ de F definido por

A⊥ = {y ∈ F : hx, yi = 0 para todo x ∈ A}.

De maneira análoga, dado B ⊂ F , o subespaço de E ortogonal a B é o subespaço


B ⊥ de E definido por

B ⊥ = {x ∈ E : hx, yi = 0 para todo y ∈ B}.

Dado A ⊂ E, denotaremos por [A] o subespaço vetorial de E gerado por A.


21.A. Seja (E, F ) um sistema dual, e sejam A ⊂ E, B ⊂ E e Ai ⊂ E para
cada i ∈ I. Prove que:

76
(a) AS⊂ B implicaTque A⊥ ⊃ B ⊥ .
(b) ( i∈I Ai )⊥ = i∈I A⊥ i .
(c) A ⊂ A⊥⊥ .
(d) A⊥ = A⊥⊥⊥ .
(e) A⊥ é um subespaço vetorial σ(F, E)-fechado de F .
σ(E,F ) ⊥
(f) A⊥ = ([A] ) .
21.B. Seja (E, F ) um sistema dual, e seja A ⊂ E não vazio. Prove que
⊥⊥ σ(E,F )
A = [A] .
21.C. Seja (E, F ) um sistema dual, e seja {Mi : i ∈ I} uma famı́lia de
subespaços vetoriais σ(E, F )-fechados de E. Prove que
!⊥ " #σ(F,E)
\ [
Mi = Mi⊥ .
i∈I i∈I

21.D. Seja (E, F ) um sistema dual. Prove que, se M é um subespaço vetorial


de E, então M ⊥ = M ◦ .
21.E. Seja E um elc de Hausdorff. Prove que o espaço produto KE induz
em E 0 a topologia fraca σ(E 0 , E).

77
22. Topologia da A-convergência
22.1. Definição. Seja (E, F ) um sistema dual, e seja A uma famı́lia de
subconjuntos σ(E, F )-limitados de E. Diremos que A é saturada se verifica as
seguintes propriedades:
(a) dados A, B ∈ A, existe C ∈ A tal que A ∪ B ⊂ C;
(b) λA ∈ A para todo A ∈ A e λ > 0.
Pela Proposição 21.2, os conjuntos A◦ , com A ∈ A, são convexos, equili-
brados e absorventes. Segue do Corolário 3.9 que esses conjuntos formam uma
base de vizinhanças de zero para uma única topologia localmente convexa em
F , que denotaremos por τA . Diremos que τA é a topologia da A-convergência,
ou a topologia da convergência uniforme sobre os conjuntos A ∈ A. Essa termi-
nologia é justificada pelo resultado seguinte.
22.2. Proposição. Seja (E, F ) um sistema dual, e seja A uma famı́lia sat-
urada de subconjunto σ(E, F )-limitados de E. Então uma rede (yλ )λ∈Λ converge
a y em (F, τA ) se e só se

sup |hx, yλ − yi| → 0 para cada A ∈ A.


x∈A

Demonstração. Sabemos que −1 A ∈ A para todo A ∈ A e  > 0. Assim,


temos que yλ → y em (F, τA ) se e só se, dados A ∈ A e  > 0, existe λ0 ∈ Λ tal
que yλ − y ∈ A◦ para todo λ ≥ λ0 , ou seja

sup |hx, yλ − yi| ≤  para todo λ ≥ λ0 .


x∈A

De maneira análoga, dados um sistema dual (E, F ) e uma famı́lia saturada


B de subconjuntos σ(F, E)-limitados de F , podemos definir a topologia τB em
E da convergência uniforme sobre os conjuntos B ∈ B.
22.3. Exemplo. Seja (E, F ) um sistema dual, e seja A é a famı́lia de
todos os subconjuntos finitos de E. Neste caso a topologia τA coincide com a
topologia fraca σ(F, E).
22.4. Exemplo. Seja (E, F ) um sistema dual, e seja A a famı́lia de todos
os subconjuntos σ(E, F )-limitados de E. Neste caso a topologia τA é chamada
de topologia forte, e é denotada por β(F, E). É claro que σ(F, E) ⊂ β(F, E).
22.5. Definição. Seja E um elc de Hausdorff. Pelo Teorema 20.8, um
conjunto A ⊂ E é limitado se e só se A é σ(E, E 0 )-limitado. Assim β(E 0 , E) é
a topologia da convergência uniforme sobre os subconjuntos limitados de E. O
espaço (E 0 , β(E 0 , E)) é chamado de dual forte de E, e é usualmente denotado
por Eβ0 ou Eb0 .
22.6. Proposição. Seja E um elc de Hausdorff. Então cada subconjunto
equicontı́nuo de E 0 é β(E 0 , E)-limitado, e portanto σ(E 0 , E)-limitado.

78
Demonstração. Seja Φ um subconjunto equicontı́nuo de E 0 . Então existe
U ∈ U0 (E) tal que Φ ⊂ U ◦ . Se A ⊂ E é limitado, então existe δ > 0 tal que
δA ⊂ U . Segue que
δ −1 A◦ ⊃ U ◦ ⊃ Φ.
Logo Φ é β(E 0 , E)-limitado.
22.7. Exemplo. Seja E um elc de Hausdorff, e seja B a famı́lia de todos
os subconjuntos equicontı́nuos de E 0 . Neste caso a topologia τB é denotada por
(E, E 0 ).
22.8. Proposição. Seja E um elc de Hausdorff, com topologia τ . Então τ
coincide com (E, E 0 ).
Demonstração. Seja B a famı́lia de todos os subconjuntos equicontı́nuos
de E 0 . Para provar que (E, E 0 ) ⊂ τ , seja Φ ∈ B. Então existe U ∈ U0 (E) tal
que Φ ⊂ U ◦ . Segue que Φ◦ ⊃ U ◦◦ ⊃ U . Logo Φ◦ é uma vizinhança de zero em
(E, τ ).
Para provar que τ ⊂ (E, E 0 ), seja U ∈ U0 (E). Seja V ∈ U0 (E), V convexa,
equilibrada e fechada, tal que V ⊂ U . Pelo Teorema 20.7 V é σ(E, E 0 )- fechada.
Pelo teorema do bipolar V ◦◦ = V ⊂ U . Como V ◦ ∈ B, concluimos que U é uma
vizinhança de zero em (E, (E, E 0 )).

Exercı́cios
22.A. Seja (E, F ) um sistema dual, e seja A uma famı́lia saturada de sub-
conjuntos σ(E, F )-limitados de E. Para cada A ∈ A, seja qA : F → R definida
por
qA (y) = sup |hx, yi| (y ∈ F ).
x∈A

(a) Prove que qA é o funcional de Minkowski de A◦ .


(b) Prove que τA é a topologia localmente convexa em F definida pela famı́lia
dirigida de seminormas qA , com A ∈ A.
22.B. Seja (E, F ) um sistema dual, e seja A uma famı́lia saturada de sub-
conjuntos σ(E, FS)-limitados de E. Prove que a topologia τA é Hausdorff se e
só se o conjunto {A : AS∈ A} é total em (E, σ(E, F )), ou seja, o subespaço de
E gerado pelo conjunto {A : A ∈ A} é denso em (E, σ(E, F )).
Sugestão: Use o Exercı́cio 21.A.
22.C. Seja E um elc de Hausdorff. Seja A a famı́lia de todos os subconjuntos
finitos de E, e seja B a famı́lia de todos os subconjuntos precompactos de E.
Prove que as topologias τA e τB coincidem sobre cada subconjunto equicontı́nuo
de E 0 .

79
23. Teorema de Mackey-Arens
23.1. Definição. Seja (E, F ) um sistema dual. Diremos que uma topologia
localmente convexa τ em E é compatı́vel com o sistema dual (E, F ) se (E, τ )0 =
F.
23.2. Exemplo. Seja (E, F ) um sistema dual. Segue do Teorema 20.5 que
a topologia fraca σ(E, F ) é compatı́vel com o sistema dual (E, F ).
23.3. Exemplo. Seja E um elc de Hausdorff, com topologia τ . Então
é claro que a topologia τ é compatı́vel com o sistems dual (E, E 0 ), e segue
do Corolário 20.6 que a topologia fraca σ(E, E 0 ) também é compatı́vel com o
sistema dual (E, E 0 ).
23.4. Proposição. Seja (E, F ) um sistema dual, e seja A ⊂ E convexo.
Então a aderência de A é a mesma para todas as topologias localmente convexas
em E que são compatı́veis com o sistema dual (E, F ).
Demonstração. Seja τ uma topologia localmente convexa em E tal que
τ σ(E,F )
(E, τ )0 = F . Então segue do Teorema 20.7 que A = A .
23.5. Proposição. Seja (E, F ) um sistema dual. Então os subconjuntos
limitados de E são os mesmos para todas as topologias localmente convexas em
E que são compatı́veis com o sistema dual (E, F ).
Demonstração. Seja τ uma topologia localmente convexa em E tal que
(E, τ )0 = F . Então segue do Teorema 20.8 que que um conjunto A ⊂ E é
τ -limitado se e só se A é σ(E, F )-limitado.
23.6. Definição. Seja (E, F ) um sistema dual. Se C é a famı́lia de todos os
subconjunto convexos, equilibrados e σ(F, E)-compactos de F , então a topologia
τC é chamada de topologia de Mackey, e é denotada por τ (E, F ).
23.7. Teorema. Seja (E, F ) um sistema dual. Então:
(a) σ(E, F ) ⊂ τ (E, F ).
(b) (E, τ (E, F ))0 = F .
Demonstração. Seja C a famı́lia de todos os subconjuntos convexos, equi-
librados e σ(F, E)-compactos de F .
(a) Seja A a famı́lia de todos os subconjuntos finitos de F , e seja
B = {A◦◦ : A ∈ A}.
Pela Proposição 21.2 temos que A◦ = A◦◦◦ para cada A ∈ A, e dai segue que
σ(E, F ) = τA = τB .
Afirmamos que B ⊂ C. De fato, seja B = A◦◦ , com A ∈ A. Pela Proposição
21.2 A◦◦ é convexo e equilibrado. Por outro lado, A◦ é uma vizinhança de zero
em (E, σ(E, F )). Como (E, σ(E, F ))0 = F , o Teorema de Alaoglu 21.6 garante
que A◦◦ é σ(F, E)-compacto. Logo B = A◦◦ ∈ C.

80
Em resumo temos que
σ(E, F ) = τA = τB ⊂ τC = τ (E, F ).
(b) Segue de (a) e do Teorema 20.5 que
F = (E, σ(E, F ))0 ⊂ (E, τ (E, F ))0 .
Para provar a inclusão oposta, seja φ ∈ (E, τ (E, F ))0 ⊂ E ∗ . Então existe C ∈ C
tal que
(1) |φ(x)| ≤ 1 para todo x ∈ C ◦ .
Denotemos por p os polares com relação ao sistema dual (E, E ∗ ). Como C ⊂
F ⊂ E ∗ , é claro que C ◦ = C p , e podemos escrever (1) na forma
(2) |φ(x)| ≤ 1 para todo x ∈ C p .
Usando (2) e o Teorema do Bipolar 21.3 segue que
σ(E ∗ ,E) σ(E ∗ ,E)
φ ∈ C pp = Γ(C) =C .
Como C ∈ C, temos que C é σ(F, E)-compacto. E é claro que σ(E ∗ , E) induz
em F a topologia σ(F, E). Logo C é σ(E ∗ , E)- compacto, e portanto σ(E ∗ , E)-
fechado. Assim φ ∈ C ⊂ F . Temos provado que (E, τ (E, F ))0 ⊂ F , comple-
tando a demonstração.
23.8. Teorema de Mackey-Arens. Seja (E, F ) um sistema dual, e seja
τ uma topologia localmente convexa em E. Então as seguintes condições são
equivalentes:
(a) σ(E, F ) ⊂ τ ⊂ τ (E, F ).
(b) (E, τ )0 = F .
(c) τ = τBS , sendo B uma famı́lia saturada de subconjuntos σ(F, E)-compactos
de F tal que {B : B ∈ B} = F .
Demonstração. Seja C a famı́lia de todos os subconjuntos convexos, equi-
librados e σ(F, E)-compactos de F .
(a) ⇒ (b): Segue de (a) e dos Teoremas 20.5 e 23.7 que
F = (E, σ(E, F ))0 ⊂ (E, τ )0 ⊂ (E, τ (E, F ))0 = F.
Logo (E, τ )0 = F .
(b) ⇒ (c): Seja U a famı́lia de todas as vizinhanças de zero em (E, τ ) que
são convexas, equilibradas e fechadas. Como (E, τ )0 = F , segue do Teorema
20.7 que cada U ∈ U é σ(E, F )-fechada. Seja
B = {U ◦ : U ∈ U}.
Usando o Teorema de Alaoglu 21.6 segue que cada U ◦ ∈ B é convexo, equilibrado
e σ(F, E)-compacto. Segue do Teorema do bipolar 21.3 que U = U ◦◦ para cada
U ∈ U, e portanto τ = τB . É claro que
[
F = (E, τ )0 = {U ◦ : U ∈ U}.

81
Como a famı́lia B é claramente saturada, temos provado (c).
(c) ⇒ (a): Por um lado sabemos que σ(E, F ) = τA , sendo A a famı́lia de
todos os subconjuntos finitos de E. Como
[
F = {B : B ∈ B},

vemos que, dado A ∈ A, existe B ∈ B tal que A ⊂ B. Logo A◦ ⊃ B ◦ , e portanto

σ(E, F ) = τA ⊂ τB .

Por outro lado é claro que B ⊂ C, e portanto

τB ⊂ τC = τ (E, F ).

23.9. Corolário. Seja E um elc de Hausdorff, com topologia τ . Então

σ(E, E 0 ) ⊂ τ ⊂ τ (E, E 0 ).

23.10. Definição. Diremos que E é um espaço de Mackey se E é um elc


de Hausdorff cuja topologia coincide com a topologia de Mackey τ (E, E 0 ).
23.11. Proposição. Um elc de Hausdorff E é um espaço de Mackey
se e só se cada subconjunto convexo, equilibrado e σ(E 0 , E)-compacto de E 0 é
equicontı́nuo.
Demonstração. Seja τ a topologia de E. Pela Proposição 22.8 τ =
(E, E 0 ). Segue do Teorema de Alaoglu 21.6 (E, E 0 ) ⊂ τ (E, E 0 ). Se cada sub-
conjunto convexo, equilibrado e σ(E 0 , E)-compacto de E 0 é equicontı́nuo, então
é claro que τ (E, E 0 ) ⊂ (E, E 0 ). Reciprocamente, suponhamos que τ (E, E 0 ) ⊂
(E, E 0 ), e seja Φ um subconjunto convexo, equilibrado e σ(E 0 , E)-compacto de
E 0 . Então Φ◦ é uma vizinhança de zero em (E, τ (E, E 0 )), e é portanto uma
vizinhança de zero em (E, (E, E 0 )). Logo existe Ψ ⊂ E 0 equicontı́nuo tal que
Φ◦ ⊃ Ψ◦ . Seja U uma vizinhança de zero em E tal que Ψ ⊂ U ◦ . Segue que

Φ = Φ◦◦ ⊂ Ψ◦◦ ⊂ U ◦◦◦ = U ◦ ,

e portanto Φ é equicontı́nuo.
23.12. Proposição. Um elc de Hausdorff E é um espaço de Mackey se
e só se, para cada elc de Hausdorff F , uma aplicação T : E → F pertence a
L(E; F ) sempre que ψ ◦ T ∈ E 0 para cada ψ ∈ F 0 .
Demonstração. (⇐) Se τ é a topologia de E, então sempre vale que τ ⊂
τ (E, E 0 ). Para provar a inclusão oposta, seja F = (E, τ (E, E 0 )), e seja I :
E → F a aplicação identidade. Como F 0 = E 0 , pelo Teorema 23.7, segue
que ψ ◦ T ∈ E 0 para cada ψ ∈ F 0 . Logo I : E → F é contı́nua, e portanto
τ (E, E 0 ) ⊂ τ .

82
(⇒) Seja F um elc de Hausdorff, e seja T : E → F uma aplicação tal que
ψ ◦ T ∈ E 0 para cada ψ ∈ F 0. Como ψ ◦ T é linear para cada ψ ∈ F 0 , e como F 0
separa os pontos de F , é fácil ver que T é linear. Para provar que T é contı́nua,
consideremos a aplicação

S : ψ ∈ F 0 → ψ ◦ T ∈ E0.

Claramente S é linear, e é fácil ver que S é contı́nua com relação às topolo-
gias fracas σ(F 0 , F ) e σ(E 0 , E). Seja V ∈ U0 (F ), V convexa, equilibrada e
fechada. Então V é σ(F, F 0 )-fechada, pelo Teorema 20.7. Segue que V = V ◦◦ ,
pelo teorema do bipolar. O polar V ◦ é um subconjunto convexo, equilibrado
e σ(F 0 , F )-compacto de F 0 , pelo teorema de Alaoglu. Segue da linearidade e
continuidade de S que K = S(V ◦ ) é um subconjunto convexo, equilibrado e
σ(E 0 , E)-compacto de E 0 . Como E é um espaço de Mackey, K é equicontı́nuo.
Logo existe uma vizinhança U de zero em E tal que K ⊂ U ◦ , e portanto
K ◦ ⊃ U ◦◦ ⊃ U . Para completar a demonstração provaremos que T (U ) ⊂ V .
De fato, dados x ∈ U e ψ ∈ V ◦ , segue que x ∈ K ◦ e Sψ ∈ K, e portanto

|hT x, ψi| = |hx, ψ ◦ T i| = |hx, Sψi| ≤ 1.

Segue que T x ∈ V ◦◦ = V , e portanto T (U ) ⊂ V .

Exercı́cios
Na Seção 10, quando estudamos subconjuntos completos de um evt, nós
utilizamos convergência de redes. Nas aplicações do Teorema de Mackey-Arens,
vamos precisar de alguns resultados sobre subconjuntos precompactos de um
evt. Para obter esses resultados é mais fácil usar convergência de filtros.
Seja E um evt, seja S ⊂ E, e seja F um filtro em S.
Lembremos que F converge a um ponto x ∈ S se dada U ∈ U0 , existe A ∈ F
tal que A ⊂ x + U .
Diremos que F é um filtro de Cauchy se dada U ∈ U0 , existe A ∈ F tal que
A − A ⊂ U.
23.A. Seja E um evt, e seja S ⊂ E. Prove que cada filtro convergente em
S é de Cauchy.
Lembremos que um conjunto S ⊂ E é completo se cada rede de Cauchy em
S converge a um ponto de S.
23.B. Seja E um evt, e seja S ⊂ E. Prove que S é completo se e só se cada
filtro de Cauchy em S converge a um ponto de S.
23.C. Seja U um ultrafiltro em um conjunto não vazio X. Prove que, dados
subconjuntos A, B ⊂ X tais que X = A ∪ B, tem-se que A ∈ U ou B ∈ U.
23.D. Seja E um evt, e seja K ⊂ E. Prove que K é precompacto se e só se
cada ultrafiltro em K é um filtro de Cauchy.

83
23.E. Seja E um evt, e seja K ⊂ E. Prove que K é compacto se e só se K
é precompacto e completo.
23.F. Seja E um elc de Hausdorff quase-completo, e seja K a famı́lia de
todos os subconjuntos compactos de E. Prove que:
(a) Se K ∈ K, então co(K) ∈ K e Γ(K) ∈ K.
(b) (E 0 , τK )0 = E.
Em outras palavras, a topologia τK em E 0 é compatı́vel com o sistema dual
(E, E 0 ). O espaço (E 0 , τK ) será denotado por Ec0 .
23.G. Seja (E, F ) um sistema dual. Prove que:
(a) O espaço (F ∗ , σ(F ∗ , F )) é um elc de Hausdorff completo.
(b) (E, σ(E, F )) é um subespaço topológico denso de (F ∗ , σ(F ∗ , F )).
Em outras palavras (F ∗ , σ(F ∗ , F )) é o completamento de (E, σ(E, F )).
23.H. Seja E um espaço normado. Prove que o espaço (E, σ(E, E 0 )) é
completo se e só se E tem dimensão finita.
23.I. Seja E um espaço normado. Prove que o espaço (E 0 , σ(E 0 , E)) é com-
pleto se e só se E tem dimensão finita.

84
24. Espaços tonelados
Na Proposição 22.6 vimos que se E é um elc de Hausdorff, então cada sub-
conjunto equicontı́nuo de E 0 é β(E 0 , E)-limitado, e portanto σ(E 0 , E)-limitado.
Isto motiva a definição seguinte.
24.1. Definição. Seja E um elc de Hausdorff.
(a) Diremos que E é tonelado se cada subconjunto σ(E 0 , E)-limitado de E 0
é equicontı́nuo.
(b) Diremos que E é infratonelado se cada subconjunto β(E 0 , E)-limitado
de E 0 é equicontı́nuo.
É claro que cada espaço tonelado é infratonelado.
24.2. Exemplo. Segue do Teorema de Banach-Steinhaus 14.5 que cada
espaço de Fréchet é tonelado.
As definições de espaço tonelado e espaço infratonelado envolvem o espaço E
e seu dual E 0 . A seguir daremos caracterizações de espaços tonelados e espaços
infratonelados que envolvem apenas o espaço E. Mas antes precisamos de uma
definição.
24.3. Definição. Seja E um evt.
(a) Um conjunto A ⊂ E é chamado de tonel se A é fechado, convexo, equi-
librado e absorvente.
(b) Um conjunto A ⊂ E é dito bornı́voro se A absorve cada limitado de E,
ou seja, dado B ⊂ E limitado, existe δ > 0 tal que λB ⊂ A para todo |λ| ≤ δ.
24.4. Proposição. Seja E um elc de Hausdorff. Então:
(a) E é tonelado se e só se cada tonel em E é uma vizinhança de zero.
(b) E é infratonelado se e só se cada tonel bornı́voro em E é uma vizinhança
de zero.
Demonstração. (a) (⇒) Seja A um tonel em E. Segue que A é σ(E, E 0 )-
fechado, e portanto A = A◦◦ , pelo teorema do bipolar. Como A◦◦ = A é
absorvente, segue que A◦ é σ(E 0 , E)-limitado, e portanto equicontı́nuo, pois
por hipótese E é tonelado. Logo existe U ∈ U0 (E) tal que A◦ ⊂ U ◦ . Logo
A = A◦◦ ⊃ U ◦◦ ⊃ U , e portanto A é uma vizinhança de zero em E.
(⇐) Seja Φ um subconjunto σ(E 0 , E)-limitado de E 0 . Então Φ◦ é um sub-
conjunto absorvente de E. Segue que Φ◦ é um tonel em E, e é portanto uma
vizinhança de zero, por hipótese. Como Φ ⊂ Φ◦◦ , concluimos que Φ é um
subconjunto equicontı́nuo de E 0 . Logo E é tonelado.
(b) Na demonstração de (a) utilizamos o fato, estabelecido na Proposição
21.2, que um conjunto Φ ⊂ E 0 é σ(E 0 , E)-limitado se e só se o polar Φ◦ ⊂ E é
absorvente. A demonstração de (b) é análoga, mas utiliza o resultado seguin-
te.
24.5. Lema. Seja E um elc de Hausdorff. Então um conjunto Φ ⊂ E 0 é

85
β(E 0 , E)-limitado se e só se o polar Φ◦ ⊂ E é bornı́voro.
Deixamos para o leitor as demonstrações do Lema 24.5 e da Proposição
24.4(b).
24.6. Proposição. Seja E um elc de Hausdorff. Então:
(a) E é tonelado se e só se, para cada elc F , cada conjunto F ⊂ L(E; F )
que é pontualmente limitado, é equicontı́nuo.
(b) E é infratonelado se e só se, para cada elc F , cada conjunto F ⊂ L(E; F )
que é limitado nos limitados, é equicontı́nuo.
Demonstração. (a) Para provar a implicação não trivial, seja F um elc, e
seja F um subconjunto de L(E; F ) que é pontualmente limitado. Para provar
que F é equicontı́nuo, seja V ∈ U0 (F ), V fechada, convexa e equilibrada. Seja
\
U= T −1 (V ).
T ∈F

Claramente U é fechado, convexo e equilibrado. Provaremos que U é absorvente.


Dado x ∈ E, sabemos que o conjunto

F(x) = {T x : T ∈ F}

é limitado em F . Logo existe δ > 0 tal que δF(x) ⊂ V . Segue que δx ∈ U ,


e portanto U é absorvente. Assim U é um tonel em E, e é portanto uma
vizinhança de zero, pela Proposição 24.4.
A demonstração de (b) é análoga, e é deixada como exercı́cio.
É claro que cada espaço tonelado é infratonelado. Logo provaremos que se
um espaço infratonelado é quase-completo, então ele é necessariamente tonelado.
Para provar esse resultado, utilizaremos a proposição seguinte.
24.7. Proposição. Seja E um evt de Hausdorff, e seja A um subconjunto
convexo, equilibrado e limitado de E. Seja EA o subespaço vetorial de E gerado
por A, ou seja
[∞
EA = nA,
n=1

seminormado pelo funcional de Minkowski pA de A. Então:


(a) EA é um espaço normado.
(b) A inclusão EA ,→ E é contı́nua.
(c) Se A é fechado em E, e E é quase-completo, então EA é um espaço de
Banach.
Demonstração. (a) Sabemos que pA é uma seminorma em EA , e queremos
provar que de fato pA é uma norma em EA . Seja x ∈ EA , x 6= 0. Como E é
Hausdorff, existe U ∈ U0 (E) tal que x ∈/ U . Como A é limitado, existe δ > 0
tal que δA ⊂ U . Logo x ∈/ δA, e portanto pA (x) ≥ δ > 0.

86
(b) Seja U ∈ U0 (E), e seja δ > 0 tal que δA ⊂ U . Isto prova que a inclusão
EA ,→ E é contı́nua.
(c) Seja τ a topologia da norma em EA , e seja τ0 a topologia induzida por
E em EA . Segue de (b) que τ0 ⊂ τ . Por hipótese A é fechado em E e E é
quase-completo. Pela Proposição 10.6 EA é um espaço de Banach.
24.8. Proposição. Seja E um elc de Hausdorff quase-completo. Então:
(a) Cada subconjunto σ(E 0 , E)-limitado de E 0 é β(E 0 , E)-limitado.
(b) Cada tonel em E é bornı́voro.
Demonstração. (a) Seja Φ um subconjunto σ(E 0 , E)-limitado de E 0 . Para
provar que Φ é β(E 0 , E)-limitado, seja A um subconjunto limitado de E, e seja
B = Γ(A). Então B é fechado, convexo, equilibrado e limitado. Pela Proposição
24.7 EB é um espaço de Banach. Como a inclusão EB ,→ E é contı́nua, o
conjunto
Ψ = {φ|EB : φ ∈ Φ}
0
é um subconjunto pontualmente limitado de EB , e portanto limitado nos limi-
tados, pelo teorema de Banach-Steinhaus. Assim

sup{|φ(x)| : φ ∈ Φ, x ∈ A} ≤ sup{|φ(x)| : φ ∈ Φ, x ∈ B} < ∞

para cada limitado A ⊂ E. Logo Φ é β(E 0 , E)-limitado.


(b) Seja A um tonel em E. Então A é σ(E, E 0 -fechado, e portanto A = A◦◦ ,
pelo teorema do bipolar. Como A◦◦ = A é absorvente, segue que A◦ é σ(E 0 , E)-
limitado, e portanto β(E 0 , E)-limitado, por (a). Pelo Lema 24.5 o conjunto
A = A◦◦ é bornı́voro.
24.9. Corolário. Cada espaço infratonelado e quase-completo é tonelado.
24.10. Proposição. Seja E um elc de Hausdorff. Então cada subconjunto
convexo, equilibrado e σ(E 0 , E)-compacto de E 0 é β(E 0 , E)-limitado.
Demonstração. Seja τ a topologia de E, e seja Φ um subconjunto convexo,
equilibrado e σ(E 0 , E)-compacto de E 0 . Então o polar Φ◦ é uma vizinhança de
zero em (E, τ (E, E 0 ). Como τ e τ (E, E 0 ) definem os mesmos limitados, segue
que, para cada limitado A ⊂ E, existe δ > 0 tal que δA ⊂ Φ◦ . Segue que
A◦ ⊃ δΦ◦◦ = δΦ, provando que Φ é β(E 0 , E)-limitado.
24.11. Corolário. Cada espaço infratonelado é um espaço de Mackey.
Demonstração. Basta aplicar as Proposições 23.10 e 24.10.

Exercı́cios
24.A. Seja E um elc de Hausdorff. Prove que um conjunto Φ ⊂ E 0 é
β(E 0 , E)-limitado se e só se o polar Φ◦ ⊂ E é bornı́voro.

87
24.B. Seja E um elc de Hausdorff. Prove que E é infratonelado se e só se
cada tonel bornı́voro em E é uma vizinhança de zero.
24.C. Seja E um elc de Hausdorff. Prove que E é infratonelado se e só se,
para cada elc F , cada conjunto F ⊂ L(E; F ) que é limitado nos limitados, é
equicontı́nuo.
Seja X um espaço topológico. Lembremos que uma função f : X → R é dita
semicontı́nua inferiormente se o conjunto {x ∈ X : f (x) > a} é aberto em X
para cada a ∈ R.
24.D. Seja E um evt, e seja p : E → R uma seminorma. Prove que p é
semicontı́nua inferiormente se e só se o conjunto {x ∈ E : p(x) ≤ 1} é fechado
em E.
24.E. Prove que um elc de Hausdorff E é tonelado se e só se cada seminorma
p : E → R que é semicontı́nua inferiormente, é contı́nua.
24.F. Seja E um elc de Hausdorff. Prove que se E é um espaço de Baire,
então E é tonelado.
Q
24.G. Prove que o produto i∈I Ei de uma famı́lia arbitrária de espaços de
Féchet é um espaço tonelado.

88
25. Espaços bornológicos
Sejam E e F dois evt’s. Na Proposição 7.3 vimos que cada T ∈ L(E; F )
transforma limitados de E em limitados de F . Isto motiva a seguinte defini-
ção.
25.1. Definição. Diremos que E é um espaço bornológico se E é um elc
de Hausdorff tal que, para cada elc F , cada aplicação linear T : E → F que
transforma limitados de E em limitados de F é necessariamente contı́nua.
Logo veremos que na definição anterior basta considerar F normado. Para
provar isso vamos utilizar a proposição seguinte, que apareceu em parte na
demonstração do Teorema 20.8.
25.2. Proposição. Seja E um evt, e seja A um subconjunto convexo,
equilibrado e absorvente de E. Seja (E, pA ) o espaço vetorial E, seminormado
pelo funcional de Minkowski pA de A, e seja EA o espaço quociente, ou seja
EA = (E, pA )/p−1
A (0).

Então:
(a) EA é um espaço normado.
(b) Se A é bornı́voro, então a aplicação quociente πA : E → EA transforma
limitados de E em limitados de EA .
(c) Se A é uma vizinhança de zero em E, então a aplicação quociente πA :
E → EA é contı́nua.
Se A é um subconjunto convexo, equilibrado, absorvente e limitado de E,
então é fácil ver que o espaço normado EA definido na Proposição 25.2 coin-
cide com o espaço normado EA definido na Proposição 24.7. Assim não há
ambiguidade no uso dessa notação.
25.3. Proposição. Um elc de Hausdorff E é bornológico se e só se, para
cada espaço normado F , cada aplicação linear T : E → F que transforma
limitados de E em limitados de F , é contı́nua.
Demonstração. Para provar a implicação não trivial, seja F um elc, e seja
T : E → F uma aplicação linear que transforma limitados de E em limitados
de F . Para provar que T é contı́nua, seja V ∈ U0 (F ), V convexa, equilibrada
e aberta. Pela proposição anterior FV é um espaço normado e a aplicação
quociente πV : F → FV é contı́nua. Assim a aplicação composta πV ◦ T : E →
FV transforma limitados de E em limitados de FV , e é portanto contı́nua. Como
πV (V ) ∈ U0 (FV ), existe U ∈ U0 (E) tal que
πV ◦ T (U ) ⊂ πV (V ).
Logo
T (U ) ⊂ πV−1 (πV (V )) = V + πV−1 (0).
Como V é aberto, temos que
V = {y ∈ F : pV (y) < 1},

89
e dai segue que
V + πV−1 (0) = V.
Segue que T (U ) ⊂ V , eportanto T é contı́nua. Logo E é bornológico.
25.4. Corolário. Cada espaço normado é bornológico.
25.5. Proposição. Cada elc metrizável é bornológico.
Para provar esta proposição, vamos precisar do lema seguinte.
25.6. Lema. Seja E um evt metrizável, e seja (xn ) uma sequência em
E que converge a zero. Então existe uma sequência (λn ) de números positivos
tendendo a infinito tal que a sequência (λn xn ) converge a zero.
Demonstração. Seja (Uk ) uma base enumerável de vizinhanças equili-
bradas de zero em E tal que
1
Uk ⊂ Uk−1 para cada k ≥ 2.
k
Como xn → 0, podemos achar uma sequência estritamente crescente (nk ) ⊂ N
tal que
xn ∈ Uk para todo n ≥ nk .
Seja (λn ) definida por

λn = 1 se 1 ≤ n < n1 ;

λn = k se nk ≤ n < nk+1 .
Então
λn xn ∈ Uk−1 para todo n ≥ nk , k ≥ 2.
Assim λn → ∞ e λn xn → 0.
Demonstração da Proposição 25.5. Seja E um elc metrizável, seja F
um espaço normado, e seja T : E → F uma aplicação linear que transforma
limitados de E em limitados de F . Para provar que T é contı́nua, basta provar
que se (xn ) converge a zero em E, então (T xn ) converge a zero em F .
Se xn → 0 em E, então, pelo Lema 25.6 existe uma sequência (λn ) de
números positivos tal que λn → ∞ e λn xn → 0 em E. Então é claro que o
conjunto
A = {λn xn : n ∈ N}
é limitado em E. Logo o conjunto

T (A) = {λn T xn : n ∈ N}

é limitado em F . Pela Proposição 7.2


λn T xn
T xn = → 0.
λn

90
Logo T é contı́nua, e E é bornológico.
A definição de espaço bornológico envolve o espaço E e as aplicações lin-
eares de E em outros espaços. A seguir daremos uma caracterização de espaços
bornológicos que envolve apenas o espaço E.
25.7. Proposição. Um elc de Hausdorff E é bornológico se e só se cada
subconjunto convexo, equilibrado e bornı́voro de E é uma vizinhança de zero.
Demonstração. (⇐) Para provar que E é bornológico, seja F um espaço
normado, e seja T : E → F uma aplicação linear que transforma limitados de
E em limitados de F . Seja V ∈ U0 (F ), V convexa e equilibrada. Segue que
T −1 (V ) é um subconjunto convexo, equilibrado e bornı́voro em E, e é portanto
uma vizinhança de zero. Logo T é contı́nua, e E é bornológico.
(⇒) Seja A um subconjunto convexo, equilibrado e bornı́voro em E. Pela
Proposição 25.2 EA é um espaço normado e a aplicação quociente πA : E →
EA transforma limitados de E em limitados de EA . Como por hipótese E é
bornológico, a aplicação quociente πA : E → EA é contı́nua. Como πA (A) ∈
−1
U0 (EA ), segue que πA (πA (A)) ∈ U0 (E). Como

{x ∈ E : pA (x) < 1} ⊂ A ⊂ {x ∈ E : pA ≤ 1},

segue que
−1
πA (πA (A)) = A + p−1
A (0) ⊂ {x ∈ E : pA (x) ≤ 1} ⊂ 2A.

Logo 2A ∈ U0 (E), e portanto A ∈ U0 (E).


25.8. Corolário. (a) Cada espaço bornológico é infratonelado.
(b) Cada espaço bornológico e quase-completo é tonelado.
Demonstração. (a) segue das Proposições 25.7 e 24.4. (b) segue de (a) e
do Corolário 24.9.

Exercı́cios
25.A. Seja E um evt, e seja A um subconjunto convexo, equilibrado, ab-
sorvente e limitado de E. Prove que:
(a) O espaço normado EA definido na Proposição 25.2 coincide com o espaço
normado EA definido na Proposição 24.7.
(b) EA = E como espaços vetoriais.
(c) Se A é uma vizinhança de zero em E, então EA = E como evt’s.
25.B. Dê um exemplo de um elc E, e um subconjunto convexo, equilibrado,
absorvente e limitado de E tais que a identidade E → EA transforme limitados
de E em limitados de EA , mas não seja contı́nua.
25.C. Prove que um elc de Hausdorff E é bornológico se e só se cada semi-
norma p : E → R que é limitada nos limitados de E, é contı́nua.

91
25.D. Seja E um espaço bornológico, seja F um elc, e seja F uma famı́lia
de aplicações lineares de E em F . Prove que F é equicontı́nua se e só se F é
limitada nos limitados de E, ou seja, o conjunto
[
F(A) = {T x : T ∈ F, x ∈ A} = T (A)
T ∈F

é limitado em F para cada limitado A ⊂ E.


25.E. Sejam E e F dois evt’s, e seja T : E → F uma aplicação linear que
transforma sequências que convergem a zero em E em sequências limitadas de
F . Prove que T transforma limitados de E em limitados de F .
25.F. Seja E um espaço bornológico, seja F um elc, e seja T : E → F uma
aplicação linear. Prove que as seguintes condições são equivalentes:
(a) T é contı́nua.
(b) T é sequêncialmente contı́nua, ou seja, T transforma sequências que
convergem a zero em E em sequências que convergem a zero em F .
(c) T transforma sequências que convergem a zero em E em sequências
limitadas de F .
(d) T transforma limitados de E em limitados de F .

92
26. Espaços reflexivos
26.1. Definição. Seja E um elc de Hausdorff. O dual do dual forte de E
é chamado de bidual de E e é denotado por E 00 . Ou seja

E 00 = (Eb0 )0 = (E 0 , β(E 0 , E))0 .

Chamaremos de bidual forte de E o espaço (Eb0 )0b , ou seja o dual forte do dual
forte de E.
Sabemos que a aplicação

b ∈ E 0∗
J :x∈E→x

definida por
b(x0 ) = x0 (x)
x (x ∈ E, x0 ∈ E 0 )
b é σ(E 0 , E)-contı́nuo, e portanto β(E 0 , E)-
é linear e injetiva. Além disso cada x
contı́nuo. Assim
J :x∈E→x b ∈ E 00 .
26.2. Definição. Seja E um elc de Hausdorff.
(a) E é dito semireflexivo se a aplicação J : E → E 00 é sobrejetiva.
(b) E é dito reflexivo se a aplicação J : E → (Eb0 )0b é um isomorfismo
topológico.
26.3. Proposição. Seja E um elc de Hausdorff. Então as seguintes
condições são equivalentes:
(a) E é semireflexivo.
(b) τ (E 0 , E) = β(E 0 , E).
(c) Cada subconjunto limitado de E é relativamente compacto para a topolo-
gia σ(E, E 0 ).
Demonstração. (a) ⇔ (b): É claro que a inclusão τ (E 0 , E) ⊂ β(E 0 , E) é
sempre verdadeira. Por outro lado, E é semireflexivo se e só se (E 0 , β(E 0 , E))0 =
E, ou seja se e só se σ(E 0 , E) ⊂ β(E 0 , E) ⊂ τ (E 0 , E), pelo Teorema de Mackey-
Arens. Em resumo, E é semireflexivo se e só se β(E 0 , E) = τ (E 0 , E).
(b) ⇒ (c): Seja A um subconjunto limitado de E. Então A◦ é uma vizinhança
de zero em E 0 para β(E 0 , E). Como β(E 0 , E) = τ (E 0 , E), existe um subconjunto
convexo, equilibrado e σ(E, E 0 )-compacto B de E tal que A◦ ⊃ B ◦ . Tomando
polares segue que A ⊂ A◦◦ ⊂ B ◦◦ = B. Logo A é relativamente compacto para
σ(E, E 0 ).
(c) ⇒ (b): Cada subconjunto limitado de E está contido em um subconjunto
limitado, convexo, equilibrado e σ(E, E 0 )-fechado. Segue de (c) que cada sub-
conjunto limitado, convexo, equilibrado, e σ(E, E 0 )-fechado de E é σ(E, E 0 )-
compacto. Isto implica que β(E 0 , E) ⊂ τ (E 0 , E). Como a inclusão oposta é
sempre verdadeira, concluimos que β(E 0 , E) = τ (E 0 , E).
26.4. Corolário. Cada espaço semireflexivo é quase-completo.

93
Demonstração. Seja E um espaço semireflexivo. Segue da proposição
anterior que o espaço (E, σ(E, E 0 )) é quase-completo. Pela Proposição 10.6 o
espaço E é quase-completo também.
26.5. Proposição. Se E é semireflexivo, então Eb0 é tonelado.
Demonstração. Para provar que Eb0 é tonelado, seja Φ um tonel em Eb0 ,
ou seja Φ é convexo, equilibrado, absorvente e β(E 0 , E)-fechado. Usando a
Proposição 26.3 vemos que
σ(E 0 ,E) τ (E 0 ,E) β(E 0 ,E)
Φ =Φ =Φ = Φ.

Assim Φ é σ(E 0 , E)-fechado, e dai segue que Φ = Φ◦◦ . Como Φ◦◦ = Φ é


absorvente, Φ◦ é σ(E, E 0 )-limitado. Logo Φ = Φ◦◦ é uma vizinhança de zero
em Eb0 .

26.6. Definição. Seja E um elc de Hausdorff. É claro que (Eb0 , E 00 ) =


(Eb0 , (Eb0 )0 )
é um sistema dual.
(a) Denotaremos por (E 00 , E 0 ) a topologia em E 00 da convergência uniforme
sobre os subconjuntos equicontı́nuos de E 0 . É claro que (E 00 , E 0 ) induz em E
a topologia (E, E 0 ) definida no Exemplo 22.7.
(b) Pela Definição 22.5 β(E 00 , Eb0 ) = β((Eb0 )0 , Eb0 ) é a topologia em E 00 da
convergência uniforme sobre os subconjuntos limitados de Eb0 . Denotaremos
por β(E, Eb0 ) a topologia em E da convergência uniforme sobre os subconjuntos
limitados de Eb0 . É claro que β(E 00 , Eb0 ) induz em E a topologia β(E, Eb0 ).
26.7. Proposição. Seja E um elc de Hausdorff. Então as seguintes
condições são equivalentes:
(a) E é infratonelado.
(b) β(E 00 , Eb0 ) = (E 00 , E 0 ).
(c) β(E, Eb0 ) = (E, E 0 ).
Demonstração. Observemos que, como cada subconjunto equicontı́nuo de
E 0 é limitado em Eb0 , sempre temos as inclusões

(E 00 , E 0 ) ⊂ β(E 00 , Eb0 ), (E, E 0 ) ⊂ β(E, Eb0 ).

(a) ⇒ (b): Se E é infratonelado, então cada subconjunto limitado de Eb0 é


equicontı́nuo. Logo β(E 00 , Eb0 ) ⊂ (E 00 , E 0 ).
(b) ⇒ (c): Esta implicação é óbvia.
(c) ⇒ (a): Se β(E, Eb0 ) ⊂ (E, E 0 ), então é fácil ver que cada subconjunto
limitado de Eb0 é equicontı́nuo, e portanto E é infratonelado.
26.8. Corolário. Seja E um elc de Hausdorff. Então E é infratonelado se
e só se E é um subespaço topológico do seu bidual forte (Eb0 )0b .
26.9. Proposição. Seja E um elc de Hausdorff. Então as seguintes
condições são equivalentes:

94
(a) E é reflexivo.
(b) E é semireflexivo e infratonelado.
(c) E é semireflexivo e tonelado.
Demonstração. (a) ⇔ (b): E é reflexivo se e só se E é semireflexivo e E
é um subespaço topológico de (Eb0 )0b . Pelo corolário anterior E é um subespaço
topológico de (Eb0 )0b se e só se E é infratonelado.
(b) ⇔ (c): É claro que (c) ⇒ (b). Para provar que (b) ⇒ (c), basta observar
que cada espaço semireflexivo é quase-completo (pelo Corolário 26.4), e que cada
espaço infratonelado e quase-completo é tonelado (pelo Corolário 24.9).
26.10. Proposição. Se E é reflexivo, então Eb0 é reflexivo também.
Demonstração. Pela Proposição 26.9 E é reflexivo se e só se E é semireflex-
ivo e tonelado. Sendo E semireflexivo, Eb0 é tonelado, pela Proposição 26.5. E
sendo E tonelado, cada subconjunto limitado de Eb0 é equicontı́nuo, e portanto
relativamente compacto para a topologia σ(E 0 , E), pelo teorema de Alaoglu.
Como a topologia σ(E 0 , E) coincide com a topologia σ(Eb0 , (Eb0 )0 ), Eb0 é semire-
flexivo, pela Proposição 26.3. Assim Eb0 é tonelado e semireflexivo, e portanto
reflexivo.

Exercı́cios
26.A. Seja E um espaço semireflexivo, e seja M um subespaço fechado de
E. Prove que M é semireflexivo.
Sugestão: Use a Proposição 26.4, observando que a topologia σ(E, E 0 ) induz
em M a topologia σ(M, M 0 ).
26.B. Seja E um espaço semireflexivo. Prove que cada subconjunto σ(E 0 , E)-
limitado de E 0 é β(E 0 , E)-limitado.
26.C. Seja E um elc de Hausdorff. Prove que E é semireflexivo se e só se,
β(E 0 ,E) σ(E 0 ,E)
para cada Φ ⊂ E 0 convexo, tem-se que Φ =Φ .
Sugestão: Use as Proposições 26.4, 23.4 e 6.4.
26.D. Diremos que E é um espaço semi-Montel se E é um elc de Hausdorff
no qual cada limitado é relativamente compacto. Diremos que E é um espaço
de Montel se E é um espaço semi-Montel que é tonelado. Prove que:
(a) Cada espaço semi-Montel é semireflexivo.
(b) Cada espaço de Montel é reflexivo.
26.E. Prove que cada subespaço fechado de um espaço semi-Montel é semi-
Montel.
Q
26.F. Prove que o produto E = i∈I Ei de uma famı́lia de espaços semi-
Montel é semi-Montel.

95
26.G. Seja Ω um aberto de C, e seja H(Ω) o espaço vetorial das funções holo-
morfas f : Ω → C, munido da topologia compacto-aberta. Segue do Exemplo
5.6 e do Exercı́cio 12.E que H(Ω) é um espaço de Fréchet. Usando o teorema
de Arzelà-Ascoli prove que H(Ω) é um espaço semi-Montel, e é portanto um
espaço de Féchet-Montel.
26.H. Prove que o produto KI é um espaço de Montel para cada conjunto
I.
Sugestão: Use o Exercı́cio 24.G.

96
27. Topologias projetivas
27.1. Definição. Seja X um conjunto, seja {Xi : i ∈ I} uma famı́lia de
espaços topológicos, e seja πi : X → Xi uma aplicação de X em Xi para cada
i ∈ I. Chamaremos de topologia projetiva ou topologia fraca em X com relação
à famı́lia de aplicações {πi : i ∈ I} a topologia mais fraca em X tal que cada πi
é contı́nua.
É fácil ver que os conjuntos
\
πj−1 (Ui ),
j∈J

com J ⊂ I finito e Uj aberto em Xj para cada j ∈ J, formam uma base para os


abertos da topologia projetiva. Se Y é um espaço topológico, então é fácil ver
que uma aplicação f : Y → X é contı́nua se e só se πi ◦ f : Y → Xi é contı́nua
para cada i ∈ I.
27.2. Proposição. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de evt’s, e seja E um
espaço vetorial, munido da topologia projetiva com relação a uma famı́lia de
aplicações lineares πi : E → Ei (i ∈ I). Então:
(a) E é um evt.
(b) Se cada Ei é um elc. então E é um elc.
(c) E é Hausdorff se e só se, para cada x 6= 0 em E, existem i ∈ I e
Ui ∈ U(Ei ) tais que πi (x) ∈/ Ui .
Demonstração. (a) Para provar que a topologia de E é invariante sob
translações, fixemos a ∈ E. Como a topologia de cada Ei é invariante sob
translações, segue que, para cada a ∈ E, os conjuntos
\ \
πj−1 (πj (a) + Uj ) = a + πj−1 (Uj ),
j∈J j∈J

com J ⊂ I finito e Uj ∈ U0 (Ej ) para cada j ∈ J, formam uma base de vizin-


hanças de a em E. Logo a topologia de E é invariante sob translações. Seja
 
\ 
B0 = πj−1 (Uj ) : J ⊂ I finito, Uj ∈ U0 (Ej ), Uj equilibrada .
 
j∈J

Então é claro que B0 é uma base de vizinhanças de zero em E com as seguintes


propriedades:
(i) cada U ∈ B0 é equilibrada e absorvente;
(ii) dada U ∈ B0 , existe V ∈ B0 tal que V + V ⊂ U .
Então segue da Proposição 2.5 que E é um evt.
(b) é imediato, pois se cada Ei é um elc, então na definição da base B0
podemos supor que cada Uj é equilibrada e convexa.
(c) (⇒) Se E é Hausdorff, então, dado x 6= 0 em E, existe U = j∈J πj−1 (Uj ) ∈
T

B0 tal que x ∈
/ U . Logo existe j ∈ J tal que x ∈ / πj−1 (Uj ), ou seja πj (x) ∈
/ Uj .

97
(⇐) Por hipótese, dado x 6= 0 em E, existe i ∈ I tal que πi (x) ∈
/ Ui . Logo
/ πi−1 (Ui ), e portanto E é Hausdorff.
x∈
27.3. Exemplo. Seja M um subespaço vetorial de um evt E. Então a
topologia induzida por E em M coincide com a topologia projetiva com relação
à aplicação inclusão M ,→ E.
Q
27.4. Exemplo. Seja E = i∈I Ei o produto cartesiano de uma famı́lia de
espaços vetoriais topológicos. Então a topologia produto em E coincide com a
topologia projetiva com relação às projeções πi : E → Ei (i ∈ I).
27.5. Exemplo. Seja E um elc de Hausdorff. Então a topologia fraca
σ(E, E 0 ) coincide com a topologia projetiva com relação aos funcionais
φ ∈ E0.
27.6. Definição. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de evt’s, indexada por um
conjunto dirigido I. Suponhamos que para cada par de ı́ndices i, j ∈ I, com
i ≤ j, existe uma aplicação πij ∈ L(Ej ; Ei ) com as seguintes propriedades:
(a) πii é a identidade em Ei para cada i;
(b) πij ◦ πjk = πik sempre que i ≤ j ≤ k.
Então diremos que a coleção {Ei , πij : i, j ∈ I, i ≤ j} é um sistema projetivo
de evt’s. O conjunto
Y
E = {(xi )i∈I ∈ Ei : πij (xj ) = xi sempre que i ≤ j}
i∈I
Q
é um subespaço vetorial do produto cartesiano i∈I Ei . O subespaço E, munido
da topologia induzida pela topologia produto, é chamado de limite projetivo da
famı́lia {Ei : i ∈ I}, e é denotado por proji∈I Ei . Se
Y
πi : Ei −→ Ei
i∈I

é a projeção canônica, então é claro que a topologia de E coincide com a topolo-


gia projetiva com relação às restrições
πi |E : E −→ Ei ,
com i ∈ I.
27.7. Proposição. Seja {Ei , πij : i, j ∈ I, i ≤ j} um sistema projetivo de
evt’s de Hausdorff. Então
Q o limite projetivo proji∈I Ei é um subespaço fechado
do produto cartesiano i∈I Ei . Em particular proji∈I Ei é Hausdorff.
Demonstração. Seja E = proji∈I Ei . Por definição
\
E= Eij ,
i≤j

onde Y
Eij = {(xk )k∈I ∈ Ek : πij (xj ) = xi }
k∈I

98
sempre i ≤ j. Notemos que
Y
Eij = {x ∈ Ek : πij ◦ πj (x) − πi (x) = 0}.
k∈I

Se Ei é Hausdorff, então {0} é um Q


subespaço fechado de Ei . Segue que Eij é
um subespaço fechado do produto Q k∈I Ek sempre que i ≤ j. Logo E é um
subespaço fechado do produto k∈I Ek .
27.8. Teorema. Cada elc de Hausdorff completo é topologicamente iso-
morfo a um limite projetivo de espaços de Banach.
Demonstração. Seja E um elc de Hausdorff completo, e seja P uma famı́lia
dirigida de seminormas que define a topologia de E. Para cada p ∈ P seja Ep
o espaço normado
Ep = (E, p)/p−1 (0),
ep o completamento de Ep , e seja πp ∈ L(E; Ep ) a aplicação canônica.
seja E
Se p ≤ q, então existe uma única aplicação πpq ∈ L(Eq ; Ep ) tal que o seguinte
diagrama é comutativo.
id
(E, q) −→ (E, p)
↓ ↓
πpq
Eq −→ Ep
epq ∈ L(E
Seja π eq ; E
ep ) a extensão contı́nua de πpq a E
eq . Assim temos o diagrama
comutativo seguinte.
E
πq . & πp
πpq
Eq −→ Ep
↓ ↓
π
epq
E
eq −→ E
ep

É claro que {Ep , πpq : p, q ∈ P, p ≤ q} é um sistema projetivo de espaços


normados, e {E epq : p, q ∈ P, p ≤ q} é um sistema projetivo de espaços de
ep , π
Banach. Como Ep é um subespaço topológico de E ep para cada p ∈ P , segue
da Proposição 27.7 que o limite projetivo F = projp∈P Ep é um subespaço
topológico do limite projetivo Fe = projp∈P E ep .
A seguir provaremos que F é denso em Fe. Primeiro notemos que, sendo P
um conjunto dirigido, os conjuntos
eq = {e
U y = (ỹp )p∈P ∈ Fe : ke
yq k < },

com q ∈ P e  > 0, formam uma base de vizinhanças de zero em Fe. Para provar
yp )p∈P ∈ Fe, q ∈ Q e  > 0 dados. Seja xq ∈ Eq
que F é denso em Fe, sejam ye = (e

99
tal que kxq − yeq k < , seja x ∈ E tal que πq (x) = xq , e seja y = (πp (x))p∈P . É
claro que y ∈ F e y − ye ∈ U eq , pois

kπq (x) − yeq k = kxq − yeq k < .

Consideremos a aplicação linear

π : x ∈ E → (πp (x))p∈P ∈ F.

Claramente π é injetiva, pois E é Hausdorff.


A seguir provaremos que π(E) = F . De fato seja y = (yp )p∈P ∈ F dado.
Para cada p ∈ P seja xp ∈ E tal que πp (xp ) = yp . É fácil ver que (xp )p∈P é
uma rede de Cauchy em E. De fato, para p, q ≥ p0 temos que

p0 (xp − xq ) = kπp0 (xp − xq k = kπp0 p ◦ πp (xp ) − πp0 q ◦ πq (xq )k

= kπp0 p (yp ) − πp0 q (yq )k = kyp0 − yp0 k = 0.


Sendo E completo, a rede (xp )p∈P converge a um ponto x ∈ E. É fácil ver
πp (x) = yp para cada p ∈ P . De fato, para cada q ≥ p, temos que πq (xq ) = yq .
Aplicando πpq , segue que

πp (xq ) = πpq (yq ) = yp .

Como xq → x, segue que πp (x) = yp . Isto prova que π(E) = F , e portanto


π : E → F é um isomorfismo algébrico.
Como os conjuntos

Uq = {y = (yp )p∈P ∈ F : kyq k < },

com q ∈ P e  > 0, formam uma base de vizinhanças de zero em F , segue que


π : E → F é um isomorfismo topológico. Em particular F é completo. logo
π(E) = F = Fe, completando a demonstração.
27.9. Corolário. Cada elc de Hausdorff completo é topologicamente iso-
morfo a um subespaço fechado de um produto cartesiano de espaços de
Banach.
27.10. Corolário. Cada espaço de Fréchet é topologicamente isomorfo ao
limite projetivo de uma sequência de espaços de Banach.
27.11. Corolário. Cada espaço de Féchet é topologicamente isomorfo a
um subespaço fechado do produto cartesiano de uma sequência de espaços de
Banach.

Exercı́cios
27.A. Seja Ω um aberto de Rn , seja k ∈ N, e seja C k (Ω) o espaço de
todas as funções f : Ω → K de classe C k , munido da topologia localmente con-
vexa definida pela famı́lia dirigida de seminormas pK,k , com K ⊂ Ω compacto,

100
definidas no Exemplo 5.5. Segue do Exercı́cio 12.D que C k (Ω) é um espaço
de Fréchet. De maneira análoga denotaremos por C ∞ (Ω) o espaço vetorial de
todas as funções f : Ω → K de classe C ∞ , munido da topologia localmente con-
vexa definida pela famı́lia dirigida de seminormas pK,k , com K ⊂ Ω compacto
e k ∈ N.
(a) Prove que C ∞ (Ω) é um espaço de Fréchet.
(b) Prove que a topologia de C ∞ (Ω) coincide com a topologia projetiva com
relação às aplicações de inclusão C ∞ (Ω) ,→ C k (Ω), com k ∈ N.
27.B. Seja K um subconjunto compacto de Rn , seja k ∈ N, e seja Dk (K)
o subespaço de todas as f ∈ C k (Rn ) cujo suporte está contido em K. Segue
do Exercı́cio 12.F que Dk (K) é um espaço de Banach. De maneira análoga
denotaremos por D(K) o subespaço de todas as f ∈ C ∞ (Rn ) cujo suporte está
contido em K.
(a) Prove que D(K) é um subespaço fechado de C ∞ (Rn ), e é portanto um
espaço de Fréchet.
(b) Prove que a topologia de D(K) coincide com a topologia projetiva com
relação às aplicações de inclusão D(K) ,→ Dk (K), com k ∈ N.
27.C. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de evt’s, e seja E um espaço vetorial,
munida da topologia projetiva com relação a uma famı́lia de aplicações lineares
πi : E → Ei (i ∈ I). Prove que:
(a) Um conjunto A ⊂ E é limitado se e só se πi (A) é limitado em Ei para
cada i ∈ I.
(b) Uma rede (xλ )λ∈Λ converge a um ponto x em E se e só se (πi (xλ ))λ∈Λ
converge a πi (x) em Ei para cada i ∈ I.
(c) (xλ )λ∈Λ é uma rede de Cauchy em E se e só se (πi (xλ ))λ∈Λ é uma rede
de Cauchy em Ei para cada i ∈ I.
27.D. Seja E = proji∈I Ei o limite projetivo de um sistema projetivo de
evt’s de Hausdorff. Prove que se cada Ei é completo (resp. quase-completo),
então E é completo (resp. quase-completo).

101
28. Topologias indutivas
28.1. Definição. Seja E um espaço vetorial, seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia
de elc’s, e seja πi : Ei → E uma aplicação linear para cada i ∈ I. Chamaremos
de topologia indutiva localmente convexa, ou simplesmente topologia indutiva,
em E com relação à famı́lia de aplicações {πi : i ∈ I} a topologia localmente
convexa mais fina em E tal que cada πi é contı́nua.
28.2. Proposição. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de elc’s, e seja E um
espaço vetorial, munido da topologia indutiva com relação a uma famı́lia de
aplicações lineares πi : Ei → E (i ∈ I). Então:
(a) Os subconjuntos convexos, equilibrados e absorventes U de E tais que
πi−1 (U ) ∈ U0 (Ei ) para cada i ∈ I, formam uma base de vizinhanças de zero em
E para a topologia indutiva. S
(b) Se E coincide com o subespaço vetorial gerado pelo conjunto i∈I πi (Ei ).
Então os conjuntos da forma
!
[
(1) U =Γ πi (Ui ) , com Ui ∈ U0 (Ei ), Ui convexa e equilibrada,
i∈I

formam uma base de vizinhanças de zero em E para a topologia indutiva.


Demonstração. (a) é consequência imediata do Corolário 3.9.
(b) O conjunto U em (1) é claramente convexo e equilibrado, e segue da
hipótese que U é também absorvente. Como πi−1 (U ) ⊃ Ui , segue que πi−1 (U ) ∈
U0 (Ei ) para cada i ∈ I. Logo U é uma vizinhança de zero em E para a topolo-
gia indutiva. Por outro lado, seja V um subconjunto convexo, equilibrado e
absorvente de E tal que πi−1 (V ) ∈ U0 (Ei ) para cada i ∈ I. Segue que
!
[
−1
V ⊃Γ πi (πi (V ))) ,
i∈I

completando a demonstração.
28.3. Proposição. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de elc’s, e seja E um
espaço vetorial, munido da topologia indutiva com relação a uma famı́lia de
aplicações lineares πi : Ei → E (i ∈ I). Se F é um elc, então uma aplicação
linear T : E → F é contı́nua se e só se T ◦ πi : Ei → F é contı́nua para cada
i ∈ I.
Demonstração. Para provar a implicação não trivial, seja V ∈ U0 (F ), V
convexa e equilibrada. Então T −1 (V ) é um subconjunto convexo, equilibrado e
absorvente de E. Como a aplicação T ◦ πi é contı́nua, segue que

πi−1 (T −1 (V )) = (T ◦ πi )−1 (V ) ∈ U0 (Ei ) para cada i ∈ I.

Logo T −1 (V ) ∈ U0 (E), e portanto T é contı́nua.

102
28.4. Proposição. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de elc’s, e seja E um
espaço vetorial, munido da topologia indutiva com relação a uma famı́lia de
aplicações lineares πi : Ei → E (i ∈ I). Então:
(a) Se E é Hausdorff, e cada Ei é tonelado, então E é tonelado.
(b) Se E é Hausdorff, e cada Ei é infratonelado, então E é infratonelado.
(c) Se E é Hausdorff, e cada Ei é bornológico, então E é bornológico.
Demonstração. (a) Seja U um tonel em E, ou seja U é um subconjunto
fechado, convexo, equilibrado e absorvente de E. Então é claro que πi−1 (U ) é
um tonel em Ei para cada i ∈ I. Como Ei é tonelado, πi−1 (U ) é uma vizinhança
de zero em Ei para cada i ∈ I. Pela Proposição 28.2 U é uma vizinhança de
zero em E, e portanto E é tonelado.
As demonstrações de (b) e (c) são análogas e são deixadas como exercı́cio.
28.5. Exemplo. Seja M um subespaço de um elc E. Então a topologia
quociente em E/M coincide com a topologia indutiva com relação à aplicação
quociente π : E → E/M .

L 28.6. Definição. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia deQelc’s. Denotaremos por


i∈I Ei o subespaço vetorial de todos os (xi )i∈I ∈ i∈I EiLtais que xi 6= 0
para apenas um número finito de ı́ndices. O espaço vetorial i∈I EL i , munido
da topologia indutiva com relação às aplicações canônicas σi : Ei → i∈I Ei , é
chamado de soma direta localmente convexa, ou simplesmente soma direta, da
famı́lia {Ei : i ∈ I}.
28.7. Proposição. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de elc’s. Então os
conjuntos da forma
 
X X 
U= λj σj (xj ) : J ⊂ I finito, xj ∈ Uj , |λj | ≤ 1 ,
 
j∈J j∈J

com Ui ∈ U0 (Ei ), Ui L
convexa e equilibrada, formam uma base de vizinhanças de
zero na soma direta i∈I Ei .
Demonstração. Basta aplicar a Proposição 28.2.

L Seja {E
28.8. Proposição. Qi : i ∈ I} uma famı́lia de elc’s. Então:
(a) A inclusão i∈I Ei ,→ i∈I Ei é contı́nua.
(b) Cada L
Ei é topologicamente isomorfo a um subespaço complementado da
soma direta i∈I Ei . L
(c) A soma direta i∈I Ei é Hausdorff se e só se cada Ei é Hausdorff.
Demonstração. (a) Para provar (a) basta observar que a aplicação
σi
M Y πj
Ei −→ Ek ,→ Ek −→ Ej
k∈I k∈I

é contı́nua para todo i, j ∈ I. De fato essa aplicação é a identidade se i = j, e é


a aplicação identicamente nula se i 6= j.

103
(b) Segue do fato que πi ◦ σi é a identidade em Ei .
L
(c) Se a soma direta i∈I Ei é Hausdorff, então segue de (b) que Qcada Ei é
Hausdorff. Reciprocamente, se cada Ei é Hausdorff,
L então o produto i∈I Ei é
Hausdorff. Segue de (a) que a soma direta i∈I Ei é Hausdorff também.
28.9. Teorema.
L Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de elc’s de Hausdorff. Então
a soma direta i∈I Ei é um espaço completo se e só se cada Ei é completo.
Para provar este teorema vamos utilizar o lema seguinte.
28.10.
L Lema. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de elc’s de Hausdorff, e seja
E = i∈I Ei a soma direta algébrica da famı́lia {Ei : i ∈ I}. Seja τ a topologia
soma direta em E, e seja τ0 a topologia induzida em E pela topologia produto.
Seja C0 a famı́lia dos conjuntos da forma
Y
U =E∩ Ui ,
i∈I

com Ui ∈ U0 (Ei ), Ui convexa, equilibrada e fechada. Então:


(a) C0 é uma base de vizinhanças de zero para uma topologia localmente
convexa τ1 em E.
(b) τ0 ⊂ τ1 ⊂ τ .
(c) Se cada Ei é completo, então (E, τ1 ) é completo.
Demonstração. (a) É fácil ver que cada U ∈ C0 é absorvente. Então segue
do Corolário 3.9 que C0 é uma base de vizinhanças de zero para uma topologia
localmente convexa τ1 em E.
(b) É claro que τ0 ⊂ τ1 . Para provar que τ1 ⊂ τ , basta observar que a
aplicação canônica
σi : Ei −→ (E, τ1 )
é contı́nua para cada i ∈ I.
(c) Para provar que (E, τ1 ) é completo, seja (xλ )λ∈Λ uma rede de Cauchy
em (E, τ1 ), e seja Y
U =E∩ Ui ∈ C0 .
i∈I

Então existe λU ∈ Λ tal que

xλ − xµ ∈ U para todo λ, µ ≥ λU .

Segue que
πi (xλ − xµ ) ∈ Ui para todo λ, µ ≥ λU , i ∈ I
e portanto (πi (xλ ))λ∈Λ é uma rede de Cauchy em Ei para cada i ∈ I. Como
cada Ei é completo, a rede (πi (xλ ))λ∈Λ converge a um ponto xi ∈ Ei para cada
i ∈ I. Como cada Ui é fechada, segue que

xi − πi (xµ ) ∈ Ui para todo µ ≥ λU , i ∈ I.

104
Q
Seja x = (xi )i∈I ∈ i∈I Ei . Se soubermos que o ponto x pertence a E, seguiria
que x − xµ ∈ U para todo µ ≥ λU , provando que xλ → x em (E, τ1 ).
Assim para completar a demonstração provaremos que x = (xi )i∈I ∈ E.
Caso contrário existe uma sequência (in ) ⊂ I de ı́ndices distintos tal que xin 6= 0
para todo n. Como cada Ein é Hausdorff, existe Vin ∈ U0 (Ein ), Vin convexa,
equilibrada e fechada, tal que xin ∈
/ Vin para cada n. Para cada i ∈ I \ {in : n ∈
N} seja Vi = Ei , e seja Y
V =E∩ Vi .
i∈I

Como V ∈ C0 , o raciocı́nio anterior mostra que existe λV ∈ Λ tal que

πi (xλ − xµ ) ∈ Vi para todo λ, µ ≥ λV , i ∈ I.

Como πi (xλ ) → xi , segue que

xi − πi (xµ ) ∈ Vi para todo µ ≥ λV , i ∈ I.

Fixemos µ ≥ λV . Como xµ ∈ E, existe n tal que πin (xµ ) = 0. Segue que


xin ∈ Vin , contradição. Logo x = (xi )i∈I ∈ E, como queriamos.
Demonstração do Teorema 28.9. (⇒) Ei é topologicamente
L isomorfo
L a
um subespaço Lcomplementado, e portanto fechado, de i∈I Ei , pois i∈I Ei é
Hausdorff. Se i∈I Ei é completo, então Ei é completo também.
L
(⇐) Seja E = i∈I Ei a soma direta algébrica da famı́lia {Ei : i ∈ I}, e
sejam τ , τ0 e τ1 as topologias em E definidas no Lema 28.9. Seja B0 a base
de vizinhanças de zero em (E, τ ) definida na Proposição 28.7, ou seja B0 está
formada pelos conjuntos da forma
 
X X 
U= λj σj (xj ) : J ⊂ I finito, xj ∈ Uj , |λj | ≤ 1 ,
 
j∈J j∈J

com Ui ∈ U0 (Ei ), Ui convexa e equilibrada para cada i ∈ I. Então é claro que


a famı́lia
τ
Be0 = {U : U ∈ B0 }
também é uma base de vizinhanças de zero em (E, τ ).
τ τ1
Provaremos que U = U para cada U ∈ B0 . Como τ1 ⊂ τ , é claro que
τ τ1
U ⊂ U . Para provar a inclusão oposta, seja (xλ )λ∈Λ uma rede em U que
converge a um ponto x em (E, τ1 ). Seja L J = {j ∈ I : πj (x) 6= 0}. Como J é
finito, as topologias τ e τ1 coincidem em j∈J Ej . Seja
M M
πJ : Ei −→ Ej
i∈I j∈J

a projeção canônica. Então πJ (xλ ) → πJ (x) = x em Ej . Como πJ (xλ ) ∈


L
j∈J
τ
U para cada λ, segue que x ∈ U , como queriamos.

105
Assim Be0 é uma base de vizinhanças de zero em (E, τ ) cujos membros são
fechados em (E, τ1 ). Pelo Lema 28.10 (E, τ1 ) é completo. Pela Proposição 10.6
(E, τ ) é completo também.
28.11. Proposição. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de elc’s.Q Então o dual
da soma direta i∈I Ei é algebricamente isomorfo ao produto i∈I Ei0 .
L
L
Demonstração. L Seja σi : Ei → i∈I Ei a aplicação canônica para cada
i ∈ I. Dado φQ∈ ( i∈I Ei )0 , seja φi = φ ◦ σi ∈ Ei0 paraQcada i ∈ I, ou
seja (φi )i∈I ∈ i∈I Ei0 . Reciprocamente, dado (φi )i∈I ∈ i∈I Ei0 , seja φ :
L
i∈I Ei → K definido por
X L
φ(x) = φi (xi ) para cada x = (xi ) ∈ i∈I Ei .
i∈I

É claro que φ é linear. Como φ ◦ σi = φi ∈ Ei0 para cada i ∈ I, a Proposição


28.3 garante que φ ∈ (⊕i∈I Ei )0 . É claro que a aplicação
Y
φ ∈ (⊕i∈I Ei )0 → (φi )i∈I ∈ Ei0
i∈I

é linear e bijetiva.
28.12. QProposição. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de elc’s. L Então o dual
do produto i∈I Ei é algebricamente isomorfo à soma direta i∈I Ei0 .
L Q
Demonstração. Sejam σi : Ei →Q i∈I Ei e πi : i∈I Ei → Ei as aplicaes
canônicas para cada i ∈ I. Dado φ ∈ ( i∈I Ei )0 , seja 0
Q φi = φ ◦ σi ∈ Ei para cada
i ∈ I. Existe uma vizinhança U de zero no produto i∈I Ei tal que φ ∈ U ◦ . Sem
perda de generalidade podemos supor que U = i∈J πi−1 Ui , sendo J ⊂ I finito
T
e Ui ∈ U0 (Ei ) para cadaL i ∈ 0J. Então é claro que φi = 0 para cada L i ∈ 0I \ J,
e portanto
Q (φ i ) i∈I ∈ i∈I Ei . Reciprocamente, dado (φ i ) i∈I ∈ i∈I Ei , seja
φ : i∈I Ei → K definido por
X Q
φ(x) = φi (xi ) para cada x = (xi )i∈I ∈ i∈I Ei .
i∈I

É claro que φ é linear. Seja J = {i ∈TI : φi 6= 0}. Para cada i ∈ Q J seja


Ui ∈ U0 (Ei ) tal que φi ∈ Ui◦ , e seja U = i∈J πi−1 (Ui ). Então U ∈ U0 ( i∈I Ei )
e φ ∈ U ◦ . Logo φ ∈ ( i∈I Ei )0 . É claro que a aplicação
Q

Y M
φ ∈ ( Ei )0 → (φi )i∈I ∈ Ei0
i∈I i∈I

é linear e bijetiva.
28.13. Definição. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de elc’s, indexada por um
conjunto dirigido I. Suponhamos que para cada par de ı́ndices i, j ∈ I, com
i ≤ j, exista uma aplicação πji ∈ L(Ei ; Ej ) com as seguintes propriedades:

106
(a) πii é a identidade em Ei para cada i ∈ I;
(b) πkj ◦ πji = πki sempre que i ≤ j ≤ k.
Então diremos que a coleção {Ei , πji : i, j ∈ I, i ≤ j} é um sistema indutivo
de elc’s. Seja M
σi : Ei −→ Ei
i∈I
L
a aplicação canônica para cada i ∈ I, e seja M o subespaço de i∈I Ei gerado
pelas imagens das aplicações
M
σi − σj ◦ πji : Ei −→ Ei ,
i∈I
L
com i ≤ j. Então o espaço quociente ( i∈I Ei )/M é chamado de limite indutivo
da famı́lia {Ei : i ∈ I}, e é denotado por indi∈I Ei , ou seja
M
indi∈I Ei = ( Ei )/M.
i∈I

Se M M
π: Ei −→ ( Ei )/M
i∈I i∈I
é a aplicação quociente, então é claro que a topologia de indi∈I Ei coincide com
a topologia indutiva com relação às aplicações
π ◦ σi : Ei −→ indi∈I Ei ,
com i ∈ I.
28.14. Proposição. Seja {Ei : i ∈ I} uma famı́lia de subespaços vetoriais
de um espaço vetorial E, dirigida S sob a relação de inclusão. Suponhamos que
cada Ei seja um elc, e que E = i∈I Ei . Então E, munido da topologia indutiva
com relação às aplicações de inclusão πi : Ei ,→ E, é topologicamente isomorfo
ao limite indutivo indi∈I Ei . Neste caso diremos que E é o limite indutivo da
famı́lia de subespaços {Ei : i ∈ I}, e escreveremos
E = indi∈I Ei .

Demonstração. Seja
πji : Ei ,→ Ej
a aplicação de inclusão para cada i ≤ j, e seja
M
σi : Ei −→ Ei
i∈I
L
a aplicação canônica para cada i ∈ I. Seja M o subespaço vetorial de i∈I Ei
gerado pela imagens das aplicações
M
σi − σj ◦ πji : Ei −→ Ei ,
i∈I

107
e seja M M
π: Ei −→ ( Ei )/M = indi∈I Ei
i∈I i∈I
a aplicação quociente. Seja S a aplicação
M X
S : (xi )i∈I ∈ Ei −→ xi ∈ E.
i∈I i∈I

Notemos que S ◦ σi = πi para cada i ∈ I. Segue que S é linear, contı́nua e


sobrejetiva, e não é difı́cil verificar que S −1 (0) = M . Logo existe uma aplicação
Se ∈ L(indi∈I Ei ; E) tal que o seguinte diagrama é comutativo.
S
M
Ei −→ E
i∈I

π& % Se
indi∈I Ei
Como E tem a topologia indutiva com relação às aplicações de inclusão πi :
Ei → E, segue que Se : indi∈I Ei → E é um isomorfismo topológico.

Exercı́cios
28.A. Denotemos por K(I) o subespaço vetorial dos x = (xi )i∈I ∈ KI tais
que xi 6= 0 para apenas um número finito de ı́ndices. Consideremos o espaço
vetorial K(I) , munido da topologia soma direta. Prove que:
(a) K(I) é completo, tonelado e bornológico.
(b) Se F é um elc, então cada aplicação linear T : K(I) → F é contı́nua.
(c) Prove que o dual de K(I) coincide com o dual algébrico de K(I) , e é
algebricamente isomorfo ao produto KI .
28.B. Seja E um espaço vetorial, e seja B0 a famı́lia de todos os subconjuntos
de E que são convexos, equilibrados e absorventes. Prove que:
(a) B0 é uma base de vizinhanças de zero para uma topologia localmente
convexa em E, que é a mais fina topologia localmente convexa em E.
(b) E é topologicamente isomorfo ao espaço K(I) , para algum conjunto I.
(c) E é completo, tonelado e bornológico.
Sugestão: Considere uma base (ei )i∈I de E.
28.C. Seja Ω um subconjunto aberto de Rn , e seja D(Ω) o subespaço de
todas as f ∈ C ∞ (Rn ) cujo suporte é um subconjunto compacto de Ω, ou seja
[
D(Ω) = D(K).
K⊂Ω

Consideremos o espaço vetorial D(Ω), munido da topologia indutiva com relação


às aplicações de inclusão D(K) ,→ D(Ω), com K ⊂ Ω. O espaço
D(Ω) = indK⊂Ω D(K)

108
é conhecido como espaço das funções teste de Schwartz. O dual D(Ω)0 é con-
hecido como espaço das distribuições de Schwartz. Prove que:
(a) D(Ω) é tonelado e bornológico.
(b) Se (Km ) é a sequência de compactos de Ω definida no Exercı́cio 12.C,
então
D(Ω) = indm∈N D(Km ).
Assim D(Ω) é o limite indutivo de uma sequência crescente de espaços de
Fréchet.

109
29. Limites indutivos estritos
29.1. Definição. Seja E = indi∈I Ei o limite indutivo de uma famı́lia de
subespaços Ei . Diremos que o limite indutivo E = indi∈I Ei é estrito se Ei tem
a topologia induzida por Ej sempre que i ≤ j.
29.2. Teorema. Seja E = indn∈N En o limite indutivo estrito de uma
sequência crescente de subespaços En . Então:
(a) Cada En tem a topologia induzida por E.
(b) Se cada En é Hausdorff, então E é Hausdorff.
Para provar este teorema vamos precisar do lema seguinte.
29.3. Lema. Seja E um elc, e seja M um subespaço de E. Então, dada
U ∈ U0 (M ), U convexa e equilibrada, existe V ∈ U0 (E), V convexa e equilibrada,
tal que V ∩ M = U . Dado x0 ∈ E \ M , podemos escolher V de maneira que
x0 ∈/ V.
Demonstração. Seja W ∈ U0 (E) tal que

W ∩ M ⊂ U,

e seja
V = Γ(W ∪ U ).
Como V ⊃ W , é claro que V ∈ U0 (E). E certamente V é convexa e equilibrada.
Afirmamos que
V ∩ M = U.
É claro que U ⊂ V ∩ M . Para provar a inclusão oposta, seja x ∈ V ∩ M . Então

x = αw + βu, com w ∈ W, u ∈ U, |α| + |β| ≤ 1.

Se α = 0, então x = βu ∈ U . Se α 6= 0, então
x − βu
w= ∈ W ∩ M ⊂ U,
α
e portanto
x = αw + βu ∈ U.
Logo V ∩ M = U . Dado x0 ∈ E \ M , W pode ser escolhido de maneira que

(x0 + W ) ∩ M = ∅.

Afirmamos que neste caso x0 ∈


/ V . Caso contrário teriamos que

x0 = αw + βu, com w ∈ W, u ∈ U, |α| + |β| ≤ 1.

Isto implicaria que


x0 − αw = βu ∈ (x0 + W ) ∩ M,

110
contradição.
Demonstração do Teorema 29.2. (a) Para provar que En tem a topologia
induzida por E, seja Un ∈ U0 (En ), Un convexa e equilibrada. Pelo Lema 29.3,
para cada k ∈ N existe Un+k ∈ U0 (En+k ), Un+k convexa e equilibrada, tal que

Un+k ∩ En+k−1 = Un+k−1 .

Seja

[
U= Un+k .
k=0

Então U é um subconjunto convexo, equilibrado e absorvente de E tal que

U ∩ En+k = Un+k

para cada k ≥ 0. Em particular U ∈ U0 (E) e U ∩ En = Un .


(b) Para provar que E é Hausdorff, seja x 6= 0 em E. Então x ∈ En para
algum n. Como En é Hausdorff, existe Un ∈ U0 (En ), Un convexa e equilibrada,
tal que x ∈/ Un . Pela parte (a) existe U ∈ U0 (E) tal que U ∩ En = Un . Segue
que x ∈/ U , e portanto E é Hausdorff.
29.4. Teorema. Seja E = indn∈N En o limite indutivo estrito de uma
sequência crescente de subespaços En . Suponhamos que En seja fechado em
En+1 para cada n ∈ N. Então:
(a) Cada En é fechado em E.
(b) Se B é um subconjunto limitado de E, então B está contido e é limitado
em algum En .
(c) Se cada En é quase-completo, então E é quase-completo.
Demonstração. (a)SSegue da hipótese que En é fechado em En+k para
cada k ∈ N. Como E = n∈N En , segue de imediato que En é fechado em E.
(b) Seja B um subconjunto limitado de E, e suponhamos que B 6⊂ En para
cada n. Então existem sequências (xk ) ⊂ B e (nk ) ⊂ N, (nk ) estritamente
crescente, tais que
xk ∈ Enk+1 \ Enk para cada k.
Pelo Lema 29.3 podemos achar uma sequência (Unk ), Unk ∈ U0 (Enk ), Unk
convexa e equilibrada, tal que
xk
Unk+1 ∩ Enk = Unk , ∈
/ Unk+1
k
para cada k. Seja [
U= Unk .
k∈N

Então U é convexo, equilibrado e absorvente, e U ∩ Enk = Unk para cada k.


Como E = indk∈N Enk , segue que U ∈ U0 (E). Como xkk ∈/ U para cada k, segue

111
que xkk 6→ 0. Isto é absurdo, pois B é limitado. Assim temos provado que B
está contido em algum En . Como En tem a topologia induzida por E, segue
que B é limitado em En .
(c) Seja B um subconjunto fechado e limitado de E. Por (b) B está contido
e é limitado em algum En . Como En é quase-completo, segue que B é um
subconjunto completo de En . Como En tem a topologia induzida de E, segue
que B é um subconjunto completo de E.
29.5. Teorema. Seja E = indn∈N En o limite indutivo estrito de uma
sequência crescente de subespaços En . Se cada En é completo, então E é com-
pleto.
Para provar este teorema vamos utilizar o lema seguinte.
29.6. Lema. Seja E = indninN En o limite indutivo de uma sequência
crescente de subespaços En . Seja (xλ )λ∈Λ uma rede de Cauchy em E, e seja

Aλ = {xµ : µ ≥ λ} para cada λ ∈ Λ.

Então existe n ∈ N tal que

(1) (Aλ + U ) ∩ En 6= ∅ para todo λ ∈ Λ, U ∈ U0 (E).

Demonstração. Caso contrário existiriam uma sequência crescente (λn ) ⊂


Λ e uma sequência decrescente (Un ) ⊂ U0 (E), com cada Un convexa e equili-
brada, tais que

(2) (Aλn + Un ) ∩ En = ∅ para todo n ∈ N.

Seja

!
[
U =Γ (Un ∩ En ) .
n=1

É claro que U ∈ U0 (E). Afirmamos que

(3) (Aλn + U ) ∩ En = ∅ para todo n ∈ N.

Caso contrário existiriam n ∈ N e z ∈ (Aλn + U ) ∩ En . Escrevamos


X X
z = xµ + αm um , com xµ ∈ Aλn , um ∈ Um , |αm | ≤ 1.
m m

Segue que
X X
z− αm um = xµ + αm um ∈ En ∩ (Aλn + Un ),
m≤n m>n

112
contradizendo (2) e provando (3). Como (xλ )λ∈Λ é uma rede de Cauchy em E,
existe λ ∈ Λ tal que Aλ − Aλ ⊂ U . Fixemos n ∈ N tal que xλ ∈ En . Seja
xµ ∈ Aλ ∩ Aλn . Então

xλ = xµ + (xλ − xµ ) ∈ En ∩ (Aλn + U ),

contradizendo (3), e completando a demonstração do lema.


Demonstração do Teorema 29.5. Seja (xλ )λ∈Λ uma rede de Cauchy em
E, e seja
Aλ = {xµ : µ ≥ λ} para cada λ ∈ Λ.
Pelo Lema 29.6 existe n ∈ N tal que

(Aλ + U ) ∩ En 6= ∅ para todo λ ∈ λ, U ∈ U0 (E).

Seja
zλU ∈ (Aλ + U ) ∩ En para cada λ ∈ Λ, U ∈ U0 (E).
Afirmamos que (zλU )(λ,U )∈Λ×U0 (E) é uma rede de Cauchy em E. De fato, dada
U0 ∈ U0 (E), seja V0 ∈ U0 (E), V0 equilibrada, tal que V0 + V0 + V0 ⊂ U0 . Seja
λ0 ∈ Λ tal que Aλ0 − Aλ0 ⊂ V0 . Então, para λ, µ ≥ λ0 e U, V ⊂ V0 temos que

zλU − zµV ∈ (Aλ + U ) − (Aµ + V )

= (Aλ − Aµ ) + U + V ⊂ V0 + V0 + V0 ⊂ U0 .
Como zλU ∈ En para todo (λ, U ), e como En tem a topologia induzida por E,
segue que (zλU ) é uma rede de Cauchy em En . Como En é completo, segue que
(zλU ) converge a um ponto z em En , e portanto em E.
Finalmente provaremos que a rede (xλ )λ∈Λ também converge a z em E. De
fato escrevamos

zλU = xµ + yU , com xµ ∈ Aλ , yU ∈ U.

Dada U0 ∈ U0 (E), seja V0 ∈ U0 (E), V0 equilibrada, tal que V0 + V0 + V0 ⊂ U0 .


Sejam λ0 ∈ Λ e W0 ∈ U0 (E), W0 equilibrada, W0 ⊂ V0 , tais que Aλ0 − Aλ0 ⊂ V0
e
zλU − z ∈ V0 para todo λ ≥ λ0 , U ⊂ W0 .
Então, para λ ≥ λ0 e U ⊂ W0 temos que

xλ − z = (xλ − zλU ) + (zλU − z)

= (xλ − xµ ) − yU + (zλU − z) ∈ V0 + V0 + V0 ⊂ U0 .
Logo (xλ )λ∈Λ converge a z, e E é completo.

113
Exercı́cios
29.A. Prove que o limite indutivo D(Ω) = indm∈N D(Km ) do Exercı́cio 28.C
é estrito.
L∞
29.B. Seja m=1 En a soma direta localmente convexa de uma sequência
(En ) de elc’s. Prove que:
L∞
(a) A topologia de n=1 En coincide com a topologia indutiva com relação
LN L∞
às aplicações
L∞ de inclusão n=1 En ,→ n=1 En .
(b) n=1 En é o limite indutivo estrito da sequência crescente de subespaços
LN
n=1 En . L∞
(c) Prove que um conjunto B é limitado em n=1 En se e só se existe N ∈ N
LN
tal que B está contido e é limitado em n=1 En .
L
29.C. Seja i∈I Ei a soma direta localmente convexa deL uma famı́lia {Ei :
i ∈ I} de elc’s. Prove que um conjunto B é limitado emL i∈i Ei se e só se
existe J ⊂ I finito tal que B está contido e é limitado em j∈J Ej .

114
30. Teorema de Banach-Dieudonné
30.1. Proposição. Seja E um elc de Hausdorff, e seja Φ um subconjunto
equicontı́nuo de E 0 . Então a restrição a Φ da topologia τp da convergência
pontual coincide com a restrição a Φ da topologia τpc da convergência pre-
compacta.
Demonstração. É claro que τp |Φ ⊂ τpc |Φ. Para provar a inclusão oposta,
seja φ0 ∈ Φ, e seja K um subconjunto precompacto de E. Como Φ é equicontı́nuo,
Φ − φ0 é equicontı́nuo também. Logo existe U ∈ U0 (E) tal que

(1) Φ − φ0 ⊂ U ◦ .

Como K é precompacto, dado  > 0, existe A ⊂ E finito tal que

(2) K ⊂ A + U.

Então segue de (1) e (2) que

{φ ∈ Φ : sup |φ(x) − φ0 (x)| ≤ } ⊂ {φ ∈ Φ : sup |φ(x) − φ0 (x)| ≤ 2}


x∈A x∈K

e portanto τpc |Φ ⊂ τp |Φ.


30.2. Proposição. Seja E um elc de Hausdorff. Seja A a famı́lia de todos
os conjuntos A ⊂ E 0 tais que A ∩ Φ é aberto em (Φ, τp ) para cada conjunto
equicontı́nuo Φ ⊂ E 0 . Então:
(a) A é a famı́lia de abertos de uma topologia em E 0 que denotaremos por
τf .
(b) τf é a topologia mais fina em E 0 que coincide com τp em cada conjunto
equicontı́nuo Φ ⊂ E 0 . Em particular τf ⊃ τpc .
(c) τf é invariante sob translações.

Demonstração.
S (a) É claro que ∅ ∈ A e E 0 ∈ A. Dado Ai ∈ A para cada
i ∈ I, segue que i∈I Ai ∈ A, pois
!
[ [
Ai ∩ Φ = (Ai ∩ Φ)
i∈I i∈I

para cada conjunto equicontı́nuo Φ ⊂ E 0 . Dados A, B ∈ A, segue que A∩B ∈ A,


pois
(A ∩ B) ∩ Φ = (A ∩ Φ) ∩ (B ∩ Φ)
para cada conjunto equicontı́nuo Φ ⊂ E 0 .
A primeira afirmação em (b) é clara. A segunda segue da Proposição 30.1.
(c) Seja Φ um subconjunto equicontı́nuo de E 0 que contém zero. Então, para
cada φ0 ∈ E 0 , φ0 + Φ é um subconjunto equicontı́nuo de E 0 que contém φ0 .
Como
(φ0 + V ) ∩ (φ0 + Φ) = φ0 + (V ∩ Φ)

115
para cada V ⊂ E 0 , segue que φ0 + V é uma vizinhança de φ0 para τf se e só se
V é uma vizinhança de zero para τf .
30.3. Teorema de Banach-Dieudonné. Seja E um elc metrizável.
Então τpc é a topologia mais fina em E 0 que coincide com τp em cada sub-
conjunto equicontı́nuo de E 0 . Ou seja τpc = τf .
Para provar este teorema vamos precisar do seguinte lema.
30.4. Lema. Seja E um elc metrizável. Seja V uma vizinhança aberta
de zero em (E 0 , τf ). Seja (Un )∞
n=0 uma base enumerável decrescente de vizin-
hanças de zero em E, com U0 = E. Então existe uma sequência (An )∞ n=0 de
subconjuntos finitos de E tal que:
(a) An ⊂ Un para cada n ≥ 0;
Sn−1
(b) Un◦ ∩ Bn◦ ⊂ V para cada n ≥ 1, onde Bn = j=0 Aj .
Demonstração. Provaremos o lema por indução em n. Por hipótese V
é uma vizinhança aberta de zero em (E 0 , τf ). Logo V ∩ U1◦ é uma vizinhança
aberta de zero em (U1◦ , τp ). Logo existe A0 ⊂ E finito tal que
V ∩ U1◦ ⊃ A◦0 ∩ U1◦ .
Então
B1◦ ∩ U1◦ ⊂ V, onde B1 = A0 .
Suponhamos que já encontramos conjuntos finitos A0 ⊂ U0 , A1 ⊂ U1 , ..., An−1 ⊂
Un−1 tais que
Sn−1
(3) Bn◦ ∩ Un◦ ⊂ V, onde Bn = j=0 Aj .
Queremos encontrar um conjunto finito An ⊂ Un tal que
◦ ◦ Sn
(4) Bn+1 ∩ Un+1 ⊂ V, onde Bn+1 = j=1 Aj = Bn ∪ An .
Se não existir um tal An , então, para cada A ⊂ Un finito teriamos que
(Bn ∪ A)◦ ∩ Un+1

6⊂ V.
◦ ◦
Seja K = Un+1 \ V = Un+1 ∩ (E 0 \ V ). Então V é compacto em (E 0 , τp ), e o
conjunto
Bn◦ ∩ A◦ ∩ K
é um subconjunto fechado e não vazio de (K, τp ). Dados A, B ⊂ Un finitos,
temos que
(Bn◦ ∩ A◦ ∩ K) ∩ (Bn◦ ∩ B ◦ ∩ K) = Bn◦ ∩ (A ∪ B)◦ ∩ K.
Assim os conjuntos Bn◦ ∩ A◦ ∩ K, com A ⊂ Un finito, formam uma famı́lia
de subconjuntos fechados de (K, τp ) com a propriedade das interseções finitas.
Como (K, τp ) é compacto, segue que
\
Bn◦ ∩ A◦ ∩ K 6= ∅.
A

116
Segue que
Bn ∩ Un◦ ∩ K 6= ∅,
e portanto
Bn◦ ∩ Un◦ 6⊂ V.
Isto contradiz (3), e prova (4).
Demonstração do Teorema 30.3. Pela Proposição 30.2 basta provar que
τf ⊂ τpc . Seja V uma vizinhança aberta de zero em (E 0 , τf ). Seja (Un )∞
n=0 uma
base enumerável decrescente de vizinhança de zero em E, com U0 = E. Pelo
Lema 30.4 existe uma sequência (An )∞ n=0 de subconjuntos finitos de E tal que
Sn−1
An ⊂ Un para cada n ≥ 0, e Un◦ ∩Bn◦ ⊂ V para cada n ≥ 1, onde Bn = j=0 Aj .
Seja
[∞ [∞
B= Bn = Aj .
n=1 j=0

Como Aj ⊂ Uj para cada j, é claro que B é uma sequência em E que converge


a zero,So conjunto K = B ∪ {0} é compacto em E, e K ◦ = B ◦ ⊂ Bn◦ . Como

E 0 = n=1 Un◦ e Un◦ ∩ Bn◦ ⊂ V , segue que K ◦ = B ◦ ⊂ V . Logo V é uma
vizinhança de zero em (E 0 , τpc ).
Seja A aberto em (E 0 , τf ), e seja φ0 ∈ A. Então A é uma vizinhança aberta
de φ0 em (E 0 , τf ). Como τf é invariante sob translações, A − φ0 é uma vizin-
hança aberta de zero em (E 0 , τf ). Pelo que acabamos de provar, A − φ0 é uma
vizinhança de zero em (E 0 , τpc ). Como τpc é invariante sob translações, A é
uma vizinhança de φ0 em (E 0 , τpc ). Como φ0 ∈ A é arbitrário, temos provado
que A é aberto em (E 0 , τpc ), e portanto τf ⊂ τpc .
30.5. Corolário. Seja E um elc metrizável, seja Y um espaço topológico,
e seja f : E 0 → Y uma aplicação tal que f |Φ é τp -contı́nua para cada conjunto
equicontı́nuo Φ ⊂ E 0 . Então f é τpc -contı́nua.

Exercı́cios
30.A. Se E é um elc metrizável, prove que as seguintes topologias em E 0
coincidem:
(a) a topologia da convergência uniforme sobre os subconjuntos precompactos
de E;
(b) a topologia da convergência uniforme sobre os subconuntos compactos de
E;
(c) a topologia da convergência uniforme sobre as sequências em E que con-
vergem a zero.
30.B. Se E é um elc metrizável, prove que cada subconjunto precompacto
de E est contido na envoltória convexa e equilibrada de uma sequência em E
que converge a zero.

117
BIBLIOGRAFIA

[1] A. Grothendieck, Espaces Vectoriels Topologiques, 3a edição, Sociedade


de Matemática de São Paulo, 1964.
[2] J. Horváth, Topological Vector Spaces and Distributions, vol. I, Addison-
Wesley, Reading, Massachusetts, 1966.
[3] L. Nachbin, Topics on Topological Vector Spaces, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, 1994.
[4] H. Schaefer, Topological Vector Spaces, Springer, New York, 1971.

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