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UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E COMUNICAÇÃO

Luma Carla Pardelinha David Moreira

CURA ESPONTÂNEA: MILAGRE OU AÇÃO DA MENTE?

São José dos Campos, SP


2013
Luma Carla Pardelinha David Moreira

GRANDE REPORTAGEM IMPRESSA:


CURA ESPONTÂNEA: MILAGRE. OU AÇÃO DA MENTE?

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade de Ciências
Sociais Aplicadas e Comunicação, da
UNIVAP, como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do título de
Jornalista.

Orientador(a): Prof. e Jornalista Areta


Rezende Braga Giglio
Co-orientador(a): Prof. Veriano Takuji Miura

São José dos Campos,


2013

2
Luma Carla Pardelinha David Moreira

GRANDE REPORTAGEM IMPRESSA:


CURA ESPONTÂNEA: MILAGRE. OU AÇÃO DA MENTE?

Relatório Final apresentado como parte das exigências


da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso à Banca
Avaliadora da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e
Comunicação da Universidade do Vale do Paraíba.

Orientador (a): Prof. e Jornalista Areta


Rezende Braga Giglio
Co-Orientador (a): Prof. Veriano Takuji Miura

Nota: ___________________________________________________

Banca Examinadora:

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

________________________________________________________

São José dos Campos, _____ de ___________________ de 2013.

3
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho para Deus, porque me acompanhou neste


processo de formação acadêmica e transformação pessoal, me
fazendo acreditar que era possível, quando eu mesma colocava em
dúvida a minha capacidade.

4
AGRADECIMENTOS

Registro o meu agradecimento para a minha orientadora, Areta


Braga, por toda compreensão e direcionamento, que me fizeram
enxergar uma mesma possibilidade de diversos ângulos.
Agradeço também ao meu pai, por representar o real significado
desta palavra na minha vida, estando sempre presente e me
amparando em todos os momentos.
Minha gratidão também se estende para todos aqueles que se
mostraram disponíveis em colaborar com este trabalho, de forma
enriquecedora, nas entrevistas, nas fotos, e na diagramação.

5
RESUMO

Este trabalho visa à fundamentação de uma grande reportagem para revista, que
irá apresentar os pontos de vista científico e religioso sobre a cura espontânea de
pacientes com graves problemas de saúde. Essa reportagem entrevistará
personalidades ligadas à ciência e à religião, no sentido de explorar ambas as
visões. Foram elencados conceitos de saúde e doença para auxiliar a
compreensão geral do assunto. A hipótese que será apresentada é que um
paciente pode apresentar cura espontânea e se recuperar de uma doença com
prognóstico desfavorável, sem efetivo tratamento. Para a ciência essa cura
estaria condicionada a fatores fisiológicos e mentais. Já para a religião, isso seria
caracterizado como milagre.

Palavras-Chave: Cura, milagre, fé, ciência, mente, reportagem.

6
ABSTRACT
This work aims at the foundation of a great story for the magazine, which will present
the views of scientific and religious on the spontaneous healing of patients with serious
health problems. This article interviewing personalities linked to science and religion, in
order to explore both views. Were mentioned concepts of health and illness to assist
the general understanding of the subject.
The hypothesis to be presented is that a patient may have spontaneous cure and
recover from a disease with poor prognosis, with no effective treatment. For science
this cure would be subject to physiological and mental factors. As for religion, it would
be characterized as a miracle.

Keywords: healing, miracles, faith, science, mind, story..

7
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

CAPÍTULO 1 – Cura Espontânea.............................................................................. 13


1.1 Definições ........................................................................................................ 13
1.2 Discussão......................................................................................................... 13
1.3 Saúde x doença ............................................................................................... 17

CAPÍTULO 2 – O poder curativo da mente ............................................................... 21


2.1 Pensamento positivo ........................................................................................ 21
2.2 Efeito placebo e convencimento mental ........................................................... 22

CAPÍTULO 3 – O milagre .......................................................................................... 25


3.1 Definição de Milagre ........................................................................................ 25
3.2 Contexto histórico ............................................................................................ 26
3.3 Milagre x Prodígio ............................................................................................ 28
3.4 Santo Agostinho x Santo Tomás ...................................................................... 30
3.5 Santos antigos x Santos atuais ........................................................................ 31
3.6 Os milagres para o Vaticano ............................................................................ 33

CAPÍTULO 4 – Modalidade ....................................................................................... 35


4.1 A reportagem ................................................................................................... 36
4.2 Jornalismo de Revista ...................................................................................... 36
4.3 O texto de jornalismo de revista ....................................................................... 37

CAPÍTULO 5 – Metodologia ...................................................................................... 39


5.1 Definição da Temática ..................................................................................... 39
5.2 Pesquisa Bibliográfica ...................................................................................... 40
5.3 Pesquisa Exploratória ...................................................................................... 40
5.4 Pesquisa Documental ...................................................................................... 41
5.5 Personagens .................................................................................................... 41

8
5.6 Pauta ................................................................................................................ 42
5.7 Cronograma ..................................................................................................... 42

CAPÍTULO 6 – Histórico da Superinteressante......................................................... 43


6.1 Superinteressante ............................................................................................ 43
6.2 Prêmios ............................................................................................................ 46
6.3 Layout da Revista ............................................................................................ 48

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 50

BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 51

APÊNDICE A.................................................................................................................
ANEXOS .......................................................................................................................

9
INTRODUÇÃO

Este trabalho consiste em uma grande reportagem impressa cujo tema


aborda as questões relacionadas à cura espontânea. A escolha se deu pela
importância de que os dois lados de uma mesma história sejam conhecidos,
afinal, antes de descartar alguma teoria é preciso que exista um conhecimento
prévio do que ela aborda e quais as bases e critérios que ela utiliza. A partir daí
as identificações pessoais que cada um traz, de sua vivência pessoal, irão ajudar
a definir a verdade que é mais conveniente para cada um.

E o objetivo deste trabalho é justamente esse, mostrar para o leitor o que é


cura espontânea, e apresentar as explicações científicas e religiosas, não com o
intuito de provar nenhuma das teorias, mas sim de explicar como funcionam, para
que o próprio chegue a sua verdade.

Primeiro teremos uma breve explicação do que é a cura espontânea e quais


circunstâncias podem receber esta denominação. Como o próprio nome já
sugere, para que um caso seja considerado cura espontânea é necessária que a
cura ocorra de forma completa e sem que possa ser atribuída ao efeito de
fármacos, ou seja, ainda que eles estejam sendo utilizados, não podem ser o
agente causador da cura.

O fato de um paciente ser curado por meios que não compreendem os


métodos científicos, como o uso de medicamentos torna esta reversão do quadro
clínico um campo desconhecido, abrindo margem para teorias que tentam
explicar este fenômeno. Como dito anteriormente, este trabalho aborda duas
vertentes que apresentam explicações e teorias para justificar este processo, a
ação da mente e o milagre, que serão explicados mais adiante.

Veremos que para a ciência, a mente do ser humano tem a capacidade de


levar o individuo a desenvolver doenças, teoria que é defendida por Russel
Norman Champlin, que é o autor de Enciclopédia de Bíblia, teoria e filosofia,
segundo ele, as emoções podem contribuir para o aparecimento de doenças, de
acordo com esta linha de pensamento, enfermidades físicas podem ter origem no
campo psíquico, ou seja, os sentimentos negativos são fatores que contribuem

10
para o aparecimento de enfermidades, logo, este autor chega à conclusão que se
o estado da alma for corrigido, a cura física será uma consequência.

E Russel não é o único que defende esta teoria, Bernie S. Siegel, autor de
Amor Medicina e Milagres, defende que o poder da mente se encontra sempre a
disposição e seu espaço de manobra se mostra maior antes da ameaça, ou seja,
em casos de doenças com um prognóstico desfavorável, a mente do ser humano
tem uma capacidade maior de sobressair e ocasionar a cura espontânea. E
Bernie deixa esta discussão ainda mais interessante ao afirmar que este
processo curativo dispensa qualquer tipo de submissão a qualquer fé religiosa,
colocando como ponto crucial e necessário para a cura, o fato de amar a vida e
lutar por ela.

O câncer é uma doença que permite um bom campo de observação para


casos de cura espontânea, tendo em vista que muitos médicos já admitem que
para o tratamento desta doença o pensamento positivo é um fator chave na
recuperação. Dr. Deepak Chopra, autor do livro A Cura Quântica: O poder da
mente e da consciência na busca da saúde integral faz parte desta classe de
médicos que defende esta teoria. Ele conta que já atendeu diversos pacientes
que tinham um estágio avançado de câncer e que sararam completamente
depois de considerados incuráveis, com um prognóstico de poucos meses de
vida.

Um processo como o descrito no parágrafo anterior poderia facilmente ser


admitido como milagre por boa parte da população, porém o Dr. Deepak,
descarta completamente esta hipótese e defende que este processo é puramente
mental.

Podemos observar que a teoria da ciência acredita que o pensamento


positivo e a vontade de viver fazem com que pacientes se recuperem
completamente de doenças graves, e que esta cura na maioria dos casos
acontece de dentro para fora, mas a possibilidade de uma intervenção divina é
negada pelos cientistas que preferem defender a capacidade curativa do próprio
corpo, através do convencimento mental, do pensamento positivo, ou até mesmo
do efeito placebo.

11
Em contra partida a religião defende que este processo capaz de curar um
indivíduo que havia sido desenganado, ou que havia recebido um prognóstico
com pouquíssimas chances de cura, tem um fundamento muito além do poder
psíquico, que seria a intervenção Divina, no qual uma divindade ajudaria na
recuperação, ou seja, neste caso a cura viria por meio da fé e de uma força que
está em um nível superior a nós. Diferente da ciência, a cura seria de fora para
dentro.

Porém como a diversidade religiosa é imensa, este trabalho irá abranger


apenas duas denominações religiosas, a católica e a protestante, que embora
sejam duas religiões que acreditem em milagres não atribuem qualquer processo
de cura a um fator divino, antes os casos precisam ser investigados para
distanciar as chances de o milagre ser confundido com um prodígio, que seria
algo falso, mentiroso, um engano, fato ligado à magia e a superstição.

Para que esta distinção seja feita, a igreja estabeleceu que para uma cura
ser considerada milagrosa, é preciso estar de acordo com o caráter de Deus, ou
a personalidade de Deus, que é o que veremos no capítulo que irá tratar do ponto
de vista religioso.

Um dos autores que irão defender esta teoria é o Dr. Miguel Chalub, que irá
explicar que Deus não é um mágico, não faz maravilhas apenas para
impressionar os homens, o milagre precisa ensinar a verdade. Chalub aponta que
Jesus não realizava milagres para mostrar o que era capaz de fazer, ou para que
outras pessoas o idolatrassem, mas para transmitir a verdade.

Então segundo este pensamento, o milagre precisa ter um fundamento


capaz de acrescentar benefícios que levem o individuo ao processo de salvação,
segundo o cristianismo.

A expectativa do trabalho é que nos próximos capítulos estas questões


científicas e religiosas fiquem esclarecidas, possibilitando que o leitor forme uma
opinião a partir destas informações.

12
CAPÍTULO 1

Cura espontânea

1.1– Definição
Antes de iniciarmos a discussão dos dois pontos de vista, é importante que
fique claro o conceito de cura espontânea, ou remissão espontânea, que
compreende a capacidade de recuperação espontânea do organismo humano, ou
seja, o desaparecimento das manifestações clínicas de qualquer enfermidade
sem que o enfermo tenha sido tratado, ou nos casos em que o tratamento não
surtiu efeito.

1.2– Discussão

O que pode ilustrar bem este conceito de cura espontânea são os casos
de câncer, quando o paciente é desenganado pelo médico, ou quando recebe um
diagnóstico e antes mesmo de iniciar o tratamento é curado. Estes são casos
raros, mas ainda assim existentes em todas as partes do mundo.1 Inclusive o
câncer de mama invasivo, em algumas ocasiões, poderia desaparecer sem
tratamento e em uma quantidade significativa de pacientes. 2
O estudo comandado pelos médicos H. Gilbert Welch, Per-Henrik Zahl e
Jan Maehlen, comparou dois grupos de mulheres com idade entre 50 e 64 anos,
em períodos consecutivos de seis anos cada um.
O primeiro grupo era composto por 109.784 mulheres, estudadas de 1992
a 1997, com a realização de apenas uma mamografia e o segundo com 119.472,
que foram analisadas entre 1996 e 2001 com a realização de uma mamografia a
cada dois anos. O que os pesquisadores esperavam com esta análise era que em
ambos os grupos fossem detectadas quantidades similares de cânceres de
mama, mas a pesquisa comprovou que o grupo que fez mamografia regularmente
teve 1909 mulheres diagnosticadas com câncer de mama invasivo durante todo o
11
Matéria escrita por Eugenio Frater para a revista Exame Info, que se encontra disponível no site da editora
abril com o título de “Como acontecem as curas espontâneas”.
2
Matéria escrita por Eugenio Frater para a revista Exame Info, que se encontra disponível no site da editora
abril com o título de “Como acontecem as curas espontâneas”, em um estudo realizado na Noruega e
publicado em “The Archives of Internal Medicine“.

13
período de análise, já no grupo submetido a apenas uma mamografia foram
identificados 1564 mulheres com o mesmo diagnóstico no mesmo espaço de
tempo.
Embora existam várias possibilidades para explicar este fenômeno à
teoria defendida pelo médico Welch, da Escola de Medicina Geisel em Dartmouth
(EUA) é a seguinte “Algumas mulheres têm um tumor em um momento da sua
vida e depois não o têm, ou seja, seus tumores desaparecem” (GEISEL, apud,
FRATER, 2013, internet).
Porém embora estes casos de cura espontânea sejam admitidos, esta
mesma matéria publicada na revista Exame Info, da editora Abril, revela que os
índices deste tipo de cura são baixos, isso de acordo com o hepatologista Bruno
Sangro, da Clínica Universitária de Navarra (Espanha), que foi o coordenador
desta pesquisa. “Calcula-se que a regressão parcial ocorre entre dois e quatro
casos a cada mil, e que de 1% a 2% dos pacientes podem experimentar algum
tipo de regressão, na qual o tumor encolhe ou diminui.” (SANGRO, apud,
FRATER, 2013, internet).
Mas se por um lado às estatísticas de cura espontânea do câncer são
baixas, na Leishmaniose Tegumentar Americana são bem elevadas, isso segundo
a artigo3 intitulado “Cura espontânea da Leishmaniose causada por Leishmania
Viannia Braziliensis em lesões cutâneas” e baseado em pesquisas que
envolveram 14 anos de trabalho clínico em campo, realizado na comunidade de
Três Braços e Corte da Pedra, Bahia, com 1416 pacientes portadores da referida
enfermidade.
16 pacientes do sexo masculino recusaram-se a utilizar a
medicação e 6 do sexo feminino encontravam -se em período
gestacional, porta n to não utilizaram o medicamento. Estes
pacientes foram acompanhados por um período entre 4 a 12
anos, a partir do diagnóstico. Observou-se que em 9 pacientes
(40,9% ) desta casuística, o tempo de cicatrização após o
aparecimento da lesão, p o d e ser calculado em 6 meses de
evolução. Quando se eleva a observação para 12 meses, tem
os que 19 pacientes (86,3%) cicatrizaram suas lesões neste
período. Em 3 casos (13,6%) as lesões permaneceram ativas
por mais de 12 meses.Conclui-se que os determinantes da
cicatrização natural das lesões produzidas por Leishmania
Viannia braziliensis permanecem desconhecidos (REVISTA DA

3
1990, Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

14
SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL, 1990,
internet)

Os números são bem distintos nos dois casos apresentados, mas em ambas
as amostras houve casos de cura espontânea o que atesta este fenômeno.

Porém segundo entrevista realizada para a produção deste trabalho com a


psiquiatra Michele Barbosa que é graduada na faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Minas Gerais, falar em cura através da mente é algo
complicado, porém existem de fato diversas pessoas que afirmam terem se
curado pela autossugestão por diversas e diferentes técnicas, mas segundo ela
não há como realizar um estudo adequado que considere o antes e o depois em
um período de tempo apropriado para que esta verificação seja feita, com a
devida exclusão da intervenção medicamentosa, o que descaracterizaria a cura
espontânea. “A autossugestão reconhecidamente altera a evolução de várias
patologias, mas há que se ter cautela na afirmação de poder curar uma
enfermidade”.4

Ela ainda complementa esta informação explicando que as pesquisas na


maioria dos casos são contraditórias no que se refere à cura de patologias, que
compreenderiam a cessação completa de uma determinada enfermidade, sem
que ficasse nenhuma sequela, através da autossugestão, ou do efeito placebo, ou
de algum meio que pudesse caracterizar a cura como espontânea, ou seja, sem
intervenção medicamentosa eficaz.

Barbosa explica que esta falta de precisão se dá em parte devido ao


conceito do que é cura e em parte pelas implicações éticas de uma pesquisa
adequada para que tal verificação seja realizada, “como não oferecer um
tratamento convencional de eficácia comprovada e expor o paciente ao risco de
uma piora?” 5

Mas mesmo com a falta de uma análise que ela considere totalmente segura
a ideia de que quanto mais um paciente se sente no controle da situação que
vive, com percepção adequada dos sinais e sintomas de sua doença, melhor é a
resposta ao tratamento é admitida. “Além disso, o sistema imunológico é
4
Entrevista realizada com a psiquiatra Michele Barbosa, através de e-mail no dia 13 de setembro de 2013.
5
Entrevista realizada com a psiquiatra Michele Barbosa, através de e-mail no dia 13 de setembro de 2013.

15
claramente influenciado pelo psiquismo, donde a crença de que um psiquismo
saudável leva a um organismo também saudável” 6
Também podemos encontrar menção a cura espontânea em uma reportagem
da revista GEO em que foi discutido o tema Milagre. Na referida matéria foram
apresentados alguns dados, dentre eles o de que cerca de 20 a 30 estudos de
casos de curas repentinas são publicados em revistas médicas especializadas. O
que é denominado pelos médicos como remissão espontânea, ou seja, regresso
da doença sem qualquer tratamento médico, ou por meio de terapias sem valor
reconhecido pela ciência.7
Mas os médicos que participaram desta reportagem levantaram algumas
questões a fim de considerar que esta cura é fisiológica e não milagrosa. O
processo de cura de um câncer, por exemplo, tem uma explicação denominada
teoria das infecções. De acordo com esta tese o processo de cura poderia ter
inicio a partir de uma infecção febril causada por vírus ou bactérias, onde os
mecanismos de defesa do corpo poderiam atacar os agentes patogênicos e, de
alguma forma, também o tumor. Esse processo poderia incluir defesas do próprio
organismo, como as chamadas citosinas, moléculas capazes de inibir o
crescimento de células cancerosas. 8
Além disso, diversas outras teorias são apresentadas para este tipo de cura,
como, transfusão de sangue ou influências hormonais são cogitadas como
“gatilho” para que este processo ocorra. Dietas e mecanismos psicológicos
também devem ser levados em consideração. Porém é mencionado na
reportagem que até o momento nenhuma dessas possibilidades levou a
explicações garantidas do por que e como as remissões ocorrem.9
Portanto o fato é que as curas espontâneas ocorrem, mas o fator que
desencadeia este fenômeno ainda é motivo de discussão e de especulação
cientifica e religiosa, com diversas teorias e tentativas de explicar algo que ainda
intriga a comunidade médica.

6
Entrevista realizada com a psiquiatra Michele Barbosa, através de e-mail no dia 13 de setembro de 2013.
7
Revista Geo, edição 48, página 34.
8
Revista Geo, edição 48, página 34
9
Revista Geo, edição 48, página 34

16
1.3– Saúde x Doença

Outro aspecto importante é que exista a compreensão do conceito de saúde


e de doença, afinal de contas estes aspectos precisam estar bem definidos para
que não haja confusão em relação a um individuo saudável e um não saudável,
facilitando assim o entendimento do que é a cura, e em quais circunstâncias ela
pode ser definida.
Vamos começar este capítulo com a definição da Organização Mundial de
Saúde (OMS) que compreende saúde como mais do que apenas a ausência de
doença. Portanto para que uma pessoa seja considerada saudável é necessário
que ela viva em uma situação de perfeito bem-estar físico, mental e social. Porém
existem controvérsias em relação a esta definição que é considerada por muitos
como ultrapassada. Para Marco Segre, autor do artigo O conceito de Saúde, da
Revista de Saúde Pública, esta definição não pode ser considerada correta, pois
“trata-se de definição irreal porque, aludindo ao “perfeito bem-estar”, coloca uma
utopia. O que é “perfeito bem-estar”? É por acaso possível caracterizar-se a
“perfeição”?”. (SEGRE, 1997, p.3).
Para fundamentar este conceito Marco menciona Freud com o intuito de
demonstrar que a perfeita felicidade de um indivíduo dentro da civilização constitui
algo impossível. Ele explica que Freud acreditava que os homens tinham feito um
pacto entre si, trocando uma parcela da liberdade pulsional por um pouco de
segurança.
Desta forma, a própria organização social e a condição mesma da
existência do homem em grupos baseiam-se em uma renúncia que,
ainda que assegure ao indivíduo certos benefícios, gera um
constante sentimento de “mal-estar”. (FREUD, apud, SEGRE, 1997,
p.3).

Segundo a linha de raciocínio deste autor quando se observa em alguém um


estado de hiper- adaptação mental é provável que o sujeito esteja com a vida
psíquica empobrecida. “Sua vida onírica e de fantasia parece amortecida, do que
resulta um rebaixamento da criatividade e do potencial de intervenção sobre a
realidade, no sentido de transformá-la.” (SEGRE, 1997, p.3).
Portanto estes sujeitos que não contam com uma proteção da vida psíquica
capaz de oferecer sustentação para o enfrentamento de acontecimentos

17
traumáticos, logo são os mais propensos à somatizar. Marco explica isto usando a
teoria do MARTY, autor de psichosomatique de 1980, que comenta que certas
doenças são verdadeiras expressões do inconsciente manifestadas de forma
primitiva, isto é, decorrentes da insuficiência fantasmática do sujeito. “Assim, ao
invés do sujeito produzir um sintoma psíquico e simbólico, como ocorre no caso
da neurose, ele tende a responder ao excesso de excitação que não pode
elaborar utilizando o corpo real.” (SEGRE, 1997, p.4).
Então podemos compreender que o estilo e o ritmo de vida do sujeito,
impostos pela cultura, a modalidade da organização do trabalho, a vida nas
metrópoles, entre tantos outros fatores, podem causar um impacto na vida da
pessoa, inclusive na saúde física.

Déjours (1980) tem nos trazido grandes contribuições, analisando as


formas de organização do trabalho que impedem o trabalhador de
manter seu funcionamento mental pleno, tendo assim de lançar mão
de um processo de repressão da vida fantasmática que o induz a
responder à excitação através da somatização. (SEGRE, 1997,
p.4).

Logo podemos compreender que a doença somática seria apenas uma via a
mais para externar a turbulência afetiva, tendo sido essa via inconscientemente
buscada pelo sujeito, incapaz de harmonizar os seus conflitos interiores. O autor
exemplifica que uma pessoa muito nervosa, e que repreende esta agressividade,
sem encontrar outra via de escape, pode explodir no plano somático, ou seja, no
corpo real. Por isso, ele reforça que é importante tratar o doente e não a doença.
Além disso, o médico também precisa ser apto a transmitir confiança para o
paciente, o que facilita o vinculo afetivo e, portanto resulta em um prognóstico
mais favorável na luta contra a doença.

O vínculo afetivo, embutido de confiança recíproca, na dupla que


empreende uma ação de saúde (profissional-cliente), a par dos
aspectos cognitivos, técnicos e científicos, é decisivo para que se
possa esperar a melhora do estado do cliente. (SEGRE, 1997, p.4).

Porém, este é um desafio difícil de ser cumprido porque segundo o autor a


medicina moderna é constituída de profissionais de saúde mal remunerados, logo
desmotivados, o que torna difícil o estabelecimento de qualquer tipo de relação

18
afetiva com o cliente, Marco ainda afirma que esta relação é algo tão irreal quanto
à expectativa de “perfeito” bem-estar da Organização Mundial de Saúde.

Admite-se que assim seja, pelo menos em parte, cabendo à


contrapartida à própria estrutura de personalidade do profissional,
despreparado muitas vezes para o estabelecimento daquele tipo de
vínculo. As restrições mencionadas absolutamente não desvalorizam
as reflexões apresentadas. (SEGRE, 1997, p.4).

Então dentro desta perspectiva podemos classificar qualidade de vida como


algo intrínseco, que deve ser avaliado individualmente, podendo variar de pessoa
para pessoa. Marco pontua este conceito com a seguinte afirmação “Não há
rótulos de “boa” ou “má” qualidade de vida, embora, a saúde pública, para a
elaboração de suas políticas necessite de “indicadores”.” (BION apud SEGRE,
1997, p. 5).
Neste artigo o conceito de doença também é questionado, já que nesta linha
de raciocínio, doença seria apenas um conceito estatístico e o sofrimento algo
relativo, podendo variar de acordo com a perspectiva de cada individuo.

O que é o doente? Um ser humano diferente, que talvez tenha sua


vida encurtada. O que é o sofrimento? É dor, inteiramente subjetiva,
qualquer que seja a sua origem. O tratamento de uma doença,
qualquer que seja ela apenas será legítimo (e,consequentemente,
ético), se o “doente” manifestar vontade de ser ajudado. (SEGRE,
1997, p.5).

De acordo com este princípio a autonomia do sujeito não pode ser negada,
ou seja, deve ser levado em consideração que o bom para um pode não ser
satisfatório para outro, um individuo pode preferir conviver com determinada
enfermidade a ter que ser submetido a um tratamento que em alguns casos pode
ser doloroso e com poucas chances de êxito. Uma pessoa que optaria pelo
tratamento poderia imaginar que o outro que não fez a mesma escolha estivesse
desistindo de viver ou que ele não tinha motivos para lutar, quando, no entanto
este conceito não pode ser considerado verdadeiro, tendo em vista que os
parâmetros de saúde e de doença variam de acordo com a realidade de cada um,
e de acordo com o que cada um compreende como um estado de vida saudável.
E isso nos leva novamente a questão da qualidade de vida, e a dificuldade
de encontrar uma definição para este conceito que seja capaz que abranger a
todos.

19
Poderá alguém afirmar que um portador de colostomia, consequente
a uma cirurgia de câncer intestinal, tem qualidade de vida pior do que
um seguidor obsessivo de regras religiosas, intimidado perenemente
por um Deus que lhe foi inculcado, independentemente de sua
vontade? (SEGRE, 1997, p.5).

Marco ainda questiona se alguém, pelo simples fato de não ter recursos para
se alimentar de acordo com nossos padrões, pode ser considerado com uma
qualidade de vida inferior a de uma pessoa bem alimentada?

O destaque à autonomia do ser humano, em que supostamente


existe uma “vontade”, fazendo parte de uma “psyche” (alma) que
transcende ao próprio ambiente sociocultural e mesmo à sua
bagagem genética, talvez dê uma condição melhor de entender a
virtual ineficácia de políticas de saúde em determinados casos e
circunstâncias. (SEGRE, 1997, p.6).

Para concluir Marco sugere que saúde seria um estado de razoável


harmonia entre o sujeito e a sua própria realidade.

20
CAPÍTULO 2
O poder curativo da mente

2.1 – Pensamento positivo

Neste capítulo veremos o poder do pensamento positivo de um ponto de


vista científico, tanto para o desenvolvimento de doenças como para a cura.

Russel Norman Champlin, autor de “Enciclopédia de Bíblia, teologia


e filosofia”, explica que as nossas emoções podem contribuir para
que um quadro de problemas de saúde se instale, ou seja, muitas
enfermidades físicas têm causas mentais. Ainda segundo Russel, os
sentimentos negativos são fatores que contribuem para o
aparecimento de enfermidades, “poderíamos frisar emoções
negativas como o ódio, a hostilidade e a ansiedade”. (Champlin,
2002, p. 1035).

Portanto para Russel, a correção do estado da alma leva a cura física. A


mente ainda guarda alguns mistérios, coisas que a ciência ainda não foi capaz de
explicar, contudo já foi descoberto que ela pode trabalhar contra ou a favor do
indivíduo. No caso de uma enfermidade a mente pode ativar o sistema
imunológico e produzir uma consequente melhora no quadro clínico, levando o
paciente à cura espontânea.
E este poder curativo da mente é acessível a todo aquele que condicionar o
pensamento de maneira positiva, segundo o autor do livro Amor Medicina e
Milagres, Bernie S. Siegel “O poder da mente se encontra sempre à disposição,
e seu espaço de manobra mostra-se maior antes da ameaça de um desastre”
(SIEGEL, 1989, p. 6). E este processo é livre de qualquer tipo de submissão a
denominações de ordem religiosa ou psicológica em particular, basta que
indivíduo desenvolva a capacidade de amar a vida e lutar por ela. “A capacidade
de nos amarmos, juntamente com a de amar a vida, aceitando por inteiro que ela
não dura para sempre, permite melhorar sua qualidade.” (SIEGEL, 1989, p. 6).
O autor acredita que o papel dele como cirurgião é ganhar tempo para que
as pessoas possam se curar por elas mesmas. “Procuro ajudá-las a ficar bem e,
ao mesmo tempo, compreender por que adoeceram. A partir daí, poderão obter
uma verdadeira cura e não uma simples reversão de determinada moléstia.”
(SIEGEL, 1989, p. 6.).

21
Outro livro que fala sobre o poder curativo da mente é o A Cura Quântica: O
poder da mente e da consciência na busca da saúde integral, do Dr. Deepak
Chopra, para este autor a cura é viva, complexa e holística.
Lidamos com ela presos a nossos meios limitados e ela parece
obedecer a nossos limites. Mas quando acontece alguma coisa
estranha, como um câncer avançado que desaparece súbita e
misteriosamente, frustra-se a teoria médica. Nossos limites parecem,
então, muito artificiais. (CHOPRA, 1989, p.10).

Deepak conta que já atendeu diversos pacientes que tinham um estágio


avançado de câncer e que sararam completamente depois de considerados
incuráveis, com prognóstico de poucos meses de vida, porém ele descarta a
hipótese de milagre e acredita que este processo é puramente mental. “achei
que eram a prova de quer a mente pode aprofundar-se o suficiente para mudar
os próprios modelos que formam o corpo.” (CHOPRA, 1989, p.10).
Para Deepak a dúvida em relação à cura através do poder mental se dá ao
fato de a ciência ter base física sólida e, portanto convincente aos olhos de
qualquer médico, já o poder da mente não dispõe destas características.

2.2 – Efeito placebo e convencimento mental

O efeito placebo é outro aspecto que pode exercer influência no processo de


cura espontânea. A psiquiatra Michele Barbosa entrevistada pela autora deste
trabalho define efeito placebo como uma situação de piora, melhora surgimento
ou cessação de sintomas a partir de uma intervenção, medicamentosa ou não,
sem que a mesma apresente ação específica sobre os mesmos. Ela explica que
este processo sempre funciona a partir de reflexos incondicionados e ressalta
que deve haver uma crença por parte do paciente sobre a intervenção a que será
submetido, e é esta crença que influencia o sistema nervoso. A partir desta
influência, vários podem ser os desdobramentos, resultando inclusive no referido
efeito placebo.
Ridicularizado durante uns vinte anos pela instituição médica, o efeito
placebo – pelo qual entre um quarto e um terço dos pacientes
apresentam melhoras por acreditarem que estão tomando
medicamento eficaz, ainda que o comprimido não contenha nenhuma
substância ativa – hoje é plenamente reconhecido. (SIEGEL, 1989, p.
22.).

22
Portanto, o efeito placebo também é um exemplo de cura psicológica, que
engana a mente para que ela acredite que o alívio chegou, e assim envie
mensagem para o corpo que reage de acordo com o estímulo positivo.
Este processo é baseado na teoria de que casos de cura podem acontecer
se a pessoa acreditar na eficácia do método, ou confiar em um terapeuta, ou em
alguém que esteja desenvolvendo um tratamento. Na medicina e na psiquiatria
estes casos são conhecidos como transferência positiva podendo também
acontecer o contrário, no caso da piora do quadro clínico ou do desenvolvimento
de uma doença, denomina-se então transferência negativa.
Bernie (2005), autor de Amor, Medicina e Milagres, explica que a “medicina
primitiva” era especialista em efeito placebo, uma vez que ainda não dispunham
de muitos recursos terapêuticos para cura, então a solução eram os rituais que
tinham a capacidade de estimular a confiança do paciente e terminavam por surtir
efeito. Esta dinâmica também pode ser considerada placebo.

A fé na cura se assenta na crença do doente num poder superior e


na capacidade do curandeiro para servir de intermediário. Por vezes,
basta como condutor de transmissão um mero artefato ou a relíquia
de um santo. Para um católico, uma garrafa com a etiqueta de água
benta de Lourdes tem propriedades curativas, ainda que ela só
contenha água da torneira. (GEISLER, 2002, p. 228).

Pode-se afirmar que efeito placebo está intimamente ligado à confiança do


paciente no médico, o Bernie relata em seu livro um estudo realizado pelo
psiquiatra Jerome Frank, da Universidade John Hopkins, que confirma esta
afirmação. Hopkins encontrou provas para esta tese ao estudar 98 pacientes
operados de deslocamento de retina. “Depois de avaliar a independência, o
otimismo e a fé de cada doente em seu respectivo médico, verificou que os mais
confiantes se curavam mais depressa que os outros.” (SIEGEL, 1989, p. 22.).
O processo de convencimento mental, que pode ser denominado como
sugestão e funciona quando a pessoa passa por um processo de convencimento
mental de estar curada, na maioria das vezes isso acontece de forma
inconsciente, através de um processo de autoconvencimento de que a doença
não existe.

23
Neuróticos e histéricos frequentemente se aliviarão de seus sintomas
pelas sugestões e pelo ministério de curandeiros carismáticos. É
tratando desses tipos que os curandeiros afirmam suas vitórias mais
dramáticas (GEISLER, 2002, p.228).

Muitas pessoas podem ser capazes de realizar uma cura psicológica sem
que isso tenha qualquer tipo de ligação com milagre, uma vez que o milagre se
trata de algo que contraria as leis naturais. Porém esta capacidade da mente em
desenvolver um mecanismo de cura, não deixa de ser algo extraordinário.

Já que Deus nos criou como unidades de mente e corpo, ele deve
receber a glória quando essa relação maravilhosa da mente afetando
o corpo é usada para trazer cura. Mas é um exagero sério considerar
essas curas sobrenaturais (GEISLER, 2002, p.229).

Portanto o efeito placebo é algo comprovado e eficaz em determinados


casos, bem como o pensamento de que o tratamento irá resultar em algo positivo.

24
CAPÍTULO 3
O Milagre

3.1 - Definição de Milagre

Vamos abrir este capítulo com o conceito da palavra milagre, o que é


importante para evitar que o milagre seja confundido com outros fenômenos.
Segundo o Dicionário Didático (2008) é um fato que não pode ser explicado
pelas leis da ciência ou da natureza e que se considera realizado por intervenção
divina ou sobrenatural.
Para o Padre Lucas Rosa da Silva, que é vigário da Paróquia Matriz de, São
José dos Campos – SP, o milagre pode ser compreendido como uma intervenção
extraordinária de Deus em vista do bem de uma pessoa alterando determinada
imperfeição, como por exemplo, uma cura, ou provocando fenômenos
extraordinários, casos de alucinações coletivas, por exemplo. 10
Alberto Gobbo Júnior, que cuida do Relicário do P. Rodolfo em São José dos
Campos - SP, e é secretário do Postulador Geral da causa do P. Rodolfo
Komorek, em Roma, Don Pierluigi Cameroni SDB, é uma autoridade no assunto,
e concorda com a opinião do padre Lucas, que afirma que o milagre é uma
intervenção divina, porém explica que para um caso de cura ser aceito como
milagre, é necessário que passe por um crivo criterioso, que envolve
personalidades ligadas diretamente a ciência.11
O representante da igreja protestante, pastor Batista Max Souza, define
milagre como uma ação sobrenatural que beneficia uma pessoa ou situação. Ele
defende que desde que a cura tenha sido realizada pelo nome de Jesus, ela pode
ser considerada uma intervenção divina, ou seja, um milagre. Para Max, a cura
veio pelo sangue de Jesus Cristo na cruz. “A palavra diz que por causa das suas
pisaduras nós somos sarados”. 12
De acordo com a Bíblia, o milagre é um prodígio religioso, uma obra de
poder, um sinal dirigido por Deus. Especialmente nos Evangelhos, é considerado
10
Dados colhidos durante entrevista realizada pela autora deste projeto, no dia 12 de outubro de 2013.
11
Entrevista realizada pela autora deste projeto no dia 12 de outubro de 2013.
12
Entrevista realizada pela autora deste projeto no dia 7 de outubro de 2013, através de e-mail.

25
como sinal, isto é, como “palavra plástica” de Deus que interpela o homem e o
ajuda a proferir um ato de fé na mensagem transmitida por Cristo. Ou seja, os
milagres são sinais divinos que não podem acontecer separados ou isolados da
Revelação de Deus à qual pertencem e que expressam.13
Definido o conceito de milagre podemos partir para o próximo capítulo, que
visa aprofundar a compreensão deste fenômeno extraordinário.

3.2 – Contexto histórico

Este capítulo irá retratar o milagre em um conceito histórico e social, para


que a compreensão deste fenômeno fique mais evidente. O autor que será usado
como fonte principal para as questões que serão apresentadas neste capítulo é o
psiquiatra Miguel Chalub.
Vamos começar com as questões culturais que permeiam este fenômeno.
Um aspecto importante e que irá facilitar a compreensão e afeição a este tema,
pois irá permitir a captação dor termos utilizados e trará a luz a origem histórica
de determinados pensamentos. “Na cultura ocidental cristã, as primeiras ideias
do milagre estão na bíblia, principalmente no Antigo Testamento. O milagre é
sempre mostrado como um sinal, um fenômeno, um testemunho.” (CHALUB,
1999, p. 6).
De acordo com esta afirmação a bíblia seria o principal livro donde os
cristãos extraem os conceitos e as definições do que pode ou ser considerado
um milagre, portanto para o cristianismo este livro tem valor histórico capaz de
sustentar a fé das duas religiões que serão o alvo deste projeto, a católica e a
protestante, é a partir do testemunho bíblico que ocorre a evolução da
compreensão teológica de milagre. 14
Para ambas, o milagre ocorre por intervenção Divina, sendo esta a única
fonte capaz operar maravilhas, a diferença é que os fiéis católicos creem que os
santos, podem agir como intercessores junto a Deus, que seria o operante do
milagre.

13
Material publicado em Teocomunicação 142 (2003) 881 - 894.
14
Material publicado em Teocomunicação 142 (2003) 881 - 894.

26
Intervenção divina é toda ação de Deus no mundo e na vida do justo, como
providência e graça. Os milagres são uma intervenção extraordinária. Somente
Deus realiza os milagres. Os santos intercedem a Ele, mas é Ele que age. Uma
pessoa (já falecida ou em vida ainda) que está em comunhão com Deus pode ser
instrumento Dele para uma intervenção extraordinária do mesmo (milagre). Tal
pessoa foi um intercessor.15
Chalub explica que no Cristianismo, o milagre é sempre visto como um sinal
de Deus e da ligação que ele tem com o mundo, porém o Judaísmo divide este
fenômeno. “Curiosamente, em uma das origens do nosso pensamento – que é o
Judaísmo, o pensamento rabínico-, dividiram-se os milagres em ocultos e
revelados (ou reveladores).” (CHALUB, 1999, p. 6).
O judaísmo não é o foco principal a ser estudado, mas é importante que o
ponto de vista desta doutrina seja conceituado para que possamos compreender
as diferenças e o momento em que elas divergem.
Para os judeus, o milagre verdadeiro é milagre oculto, que está ligado ao
fenômeno da vida, do Universo, do cotidiano. Segundo o autor no pensamento
judaico e rabínico o simples fato do ser humano sobreviver diante de tanta
adversidade, e se multiplicar já pode ser considerado um milagre. O milagre do
cotidiano, milagre da simples existência que o Judaísmo chama de milagre
oculto, e que para eles compreende o verdadeiro milagre.
Porém o imaginário popular não corresponde a esta descrição, e está mais
acostumado a associar este fenômeno a algo maravilhoso e inusitado, capaz de
causar reações espantosas nas pessoas.
Se perguntarmos a uma pessoa que não está muito preocupada com
o assunto o que é um milagre, dificilmente vai dizer que milagre é
estar vivo. Ou que milagre é o sol a nos proporcionar luz e calor,
permitindo que possamos existir. Ela vai mencionar fenômenos
portentosos, extraordinários, que é a ideia comum. (CHALUB, 1999,
p.7).

Mas o Tamulde judaico que compreende as obras rabínicas orienta que a fé


não precisa do milagre para ser provada. Segundo Chalub, os judeus acreditam
que pessoas que precisam de milagres para comprovação da fé, têm na verdade
uma imaturidade nesta área, para eles a fé dispensa completamente o milagre, ou

15
Entrevista realizada no dia 12 de outubro com o Pe. Lucas Rosa da Silva.

27
seja, segundo eles o milagre é um acontecimento que nada tem a ver com a fé. O
autor explica que esta ideia passou para o Cristianismo, mas teve uma bifurcação.

Dentro do Cristianismo, a primeira ideia é que o milagre cotidiano, o


milagre oculto, é um pouco esquecido, e passa a ser milagre o fato
extraordinário, a intervenção e a revelação de Deus. Deus não só
intervém na natureza, como também se revela através dessa
intervenção. Ou seja, o milagre é um demonstrativo da presença e da
intervenção de Deus. (CHALUB, 1999, p.7).

Isso significa, segundo o autor, que para os cristãos o milagre é um


demonstrativo da presença e da intervenção de Deus. Mas nem todo fato
extraordinário pode ser aceito como uma intervenção Divina. Esta distinção foi
estabelecida na era patrística, ou seja, durante os primeiros sete séculos, onde os
Padres ou Pais da Igreja foram os primeiros teóricos a elaborar a filosofia cristã,
estabelecendo critérios em defesa da fé do Cristianismo, inclusive na distinção do
milagre e do prodígio, que é o que veremos no próximo tópico.

3.3 – Milagre x prodígio

Neste tópico veremos o que os padres da Igreja, os pensadores do primeiro


século da Era Cristã estabeleceram a fim de distinguir a verdadeira intervenção
de Deus, o milagre. Dr. Miguel Chalub, explica que para um fato ser considerado
milagroso é preciso estar de acordo com o caráter Divino, ou seja, o milagre não
pode ser um prodígio, não pode causar sério abalo na natureza porque não seria
simplesmente a expressão do arbítrio de Deus.

É como se Deus quisesse provar a sua força e fosse capaz de


derrogar a lei da natureza simplesmente para mostrar que ele é
Deus, é o Todo-Poderoso. Isso, se ocorresse, seria um prodígio –
explicações ainda misteriosas, mas não ligadas à divindade. Então,
para ser um milagre, tem de corresponder ao que chamamos o
caráter de Deus, ou à personalidade de Deus. Deus não é um
mágico, não é um prestidigitador que faz maravilhas pata homens
ficarem impressionados. (CHALUB, 1999, p.7).

Este conceito já representa um bom ponto de partida para distinguir o


milagre do prodígio, mas não para por ai, apenas estes critérios poderiam ficar
vagos, então mais pontos foram acrescidos. Segundo Chalub, o milagre precisa
estar de acordo com o que a bíblia mostra, já que este é o livro usado como base

28
pelos cristãos. “O milagre só tem sentido se ensinar uma verdade. Os milagres do
Novo Testamento, do Evangelho, são assim.” (CHALUB, 1999, p.7).
Chalub destaca que Jesus não realizava milagres para mostrar o que era
capaz de fazer, ou para que outras pessoas o idolatrassem, mas para transmitir
uma verdade. Ele foi o transmissor de uma verdade, algumas já conhecidas do
Antigo Testamento, e outras estabelecidas pela nova fé, através da instauração
do Cristianismo, mas sempre em harmonia com o já estabelecido.

Os milagres têm que estar em harmonia com coisas já estabelecidas,


tanto no sentido natural quanto no sobrenatural ou no preternatural.
O milagre não pode estar totalmente em contradição com o que já
está estabelecido. Teria que haver uma adequação aos fins
religiosos. (CHALUB, 1999, p.8).

Portanto para Chalub, o milagre não pode ser algo sem fundamento, que
não leve a lugar nenhum. Precisa ter benefícios para que o processo de salvação
segundo a religião aconteça. Se estes benefícios não forem encontrados, não
estaremos diante de um milagre, mas talvez de um prodígio.
Outro aspecto importante é que o milagre não é propriamente uma anulação
das leis naturais, porque elas não podem ser anuladas. Para Chalub o milagre
seria uma suspensão episódica dessas leis, o que levaria a ultrapassagem de
qualquer força criada, ou seja, todos os fenômenos que podem ser explicados por
algum tipo de força criada, uma força natural, não podem ser considerados
milagre.
Em sua essência, teria que ultrapassar forças criadas. Se as quatro
forças fundamentais da física – o eletromagnetismo, a gravitação, a
atração forte e atração fraca – pudessem explicar o fenômeno, ele
não teria ultrapassado forças criadas e, por isso, não seria um
milagre. Poderia ser um fenômeno não explicado, um fenômeno cuja
causalidade ainda está oculta, mas não seria milagre. (CHALUB,
1999, p.8).

Porém ainda é preciso levar em consideração outros dois fenômenos, que


são os chamados paranormais e os preternormais. Chalub explica a diferença
entre os dois “Os fenômenos paranormais seriam fenômenos extraordinários, mas
ainda dentro das forças naturais, aquilo que é estudado pela parapsicologia, que
tenta obter um status de ciência, mas ainda não conseguiu” (CHALUB, 1999, p.8).
Mas embora exista esta pretensão o autor descarta esta possibilidade
porque segundo ele estes fenômenos paranormais já são estudados por cientistas

29
sérios, que podem chegar a conclusão que ou se tratam de fenômenos
psicológicos, portanto não precisariam de uma nova ciência, ou seria um
embuste, de “feitiçaria”. Desta forma ele não consideraria ciência.

3.4 - Santo Agostinho e Santo Tomás

Agora que o milagre já foi conceituado vamos abordar duas linhas de


pensamento teológico, para ver como estas explicações podem ser associadas a
alguns aspectos psicológicos. Estes pensadores serão o Santo Tomás e o Santo
Agostinho.
Para o catolicismo, Santo Tomás é o principal pensador a respeito dos
milagres. Ele retoma algumas ideias de Santo Agostinho, que tentava fazer uma
ligação entre a filosofia grega platônica e o Cristianismo, porém muda a direção
do conceito de milagre. “Santo Tomás deixa de ver o milagre como uma
semiologia, tal qual era para Santo Agostinho, para vê-lo sob uma forma de
metafísica, no sentido aristotélico, além da natureza, além da física.” (CHALUB,
1999, p.10). Ou seja, Santo Tomás deixa de tentar encontrar respostas e acredita
que este fenômeno está além da nossa compreensão, ele reforça ainda que o
milagre é uma singularidade da ação divina, é uma ação de Deus e uma
expressão da sua onipotência.
Já Santo Agostinho tem um pensamento que se aproxima mais da linha de
raciocínio da psicologia, compreendendo Deus de uma maneira diferente da que
Santo Tomás compreende. Para ele a ação divina está presente em cada ente,
portanto nós seríamos mais que objetos para que Deus opere milagres, nós
também teríamos participação na operação divina.

Ou seja, o milagre, despido do aspecto sobrenatural, seria uma ação


humana que em sua autonomia acompanharia a intervenção divina.
Haveria dois momentos: o primeiro, em que Deus resolve intervir
sobre a natureza por razões que só pertencem a sua consciência,
mas do qual o ser humano também participa como ser que tem sua
razão, seu livre arbítrio. Ele não é simplesmente um móvel que Deus
manipula, mas tem mobilidade própria, movimento próprio. Sem essa
intervenção do ser humano, sem a sua cooperação, o milagre não
ocorreria. (CHALUB, 1999, p.10).

No pensamento agostiniano, Deus não violenta a natureza, e não vai contra


ela, ou seja, como nós também somos parte desta natureza, o ser humano

30
precisaria acompanhar Deus para que o milagre acontecesse. “A causa segunda,
que somos nós, participa também. É claro que estou falando dos chamados
milagres em que o ser humano está envolvido diretamente, aqueles que nos
interessam, como a cura de doenças, por exemplo.” (CHALUB, 1999, p.10).
Esta explicação se encaixa nos casos de milagres em que o ser humano
está intimamente ligado, como mencionado a cima nos casos de cura. Já nos
casos de milagres relacionados somente à natureza a explicação ainda é
discutível, inclusive pela psicologia. “De qualquer maneira, isso seria um sucesso
de acontecimento, fora da ordem comum da natureza, mas é preciso frisar:
sempre com a participação do ser humano como causa segunda.” (CHALUB, 1999,
p.10).
O que também merece destaque nesta questão de milagres e da igreja
católica são os santos, que teriam o poder para realização de maravilhas. Chalun
levanta um questionamento quanto a estes que intercedem junto a Deus em
nosso favor, segundo ele os santos antigos são esquecidos e por isso não fazem
mais milagres, deixando todo o mérito para os santos atuais que são os que
realizam o maior número de milagres, mas além dos atuais e dos antigos, existem
os santos duradouros, como o Santo Antônio, que realiza supostos milagres com
frequência. Esta será a discussão do tópico a seguir.

3.5 – Santos antigos x Santos atuais

O fato de os santos atuais realizarem mais milagres que os antigos, segundo


Chalub, se deve a um fator estritamente psicológico, que é conhecido como
fenômeno de divulgação, do conhecimento, onde segundo esta teoria, as pessoas
depositariam mais expectativas em algo conhecido por elas, descartando o
desconhecido. O que revelaria que de certa forma o ser humano seria de fato a
segunda causa do milagre.
Se uma moça pede a Santo Antônio por um marido, e tem o pedido
atendido, o mérito é dela, mas a convicção de que o Santo iria conceder este
milagre ajudou a impulsionar esta realização. “É o ser humano que é miraculoso,
ele participa desse milagre, dessa ação divina. Talvez, sem ele, a ação divina não
ocorresse.” (CHALUB, 1999, p.11).

31
Com a inauguração da ciência moderna, este pensamento se tornou ainda
mais agudo, com o surgimento de alguns pensadores, como por exemplo,
Spinoza, que aproximava os desígnios de Deus da lei da natureza. Para este
pensador não haveria nada de extraordinário no milagre, uma vez que Deus e a
natureza seriam a mesma coisa. Neste pensamento podemos inclusive afirmar
que os milagres não existem, já que pertenceriam ao próprio mundo natural.
Hume é outro pensador, que acabou contribuindo de alguma forma para a
psicologia. Ele explica que quando pensamos em milagre, há uma tensão entre o
testemunho de outra pessoa e a experiência que nós mesmos vivenciamos. Ainda
segundo este pensador o milagre só teria sentido quando a experiência fosse
pessoal, não bastando o testemunho do próximo. Por isso tantas pessoas tem fé
e outras tantas desdenham de acontecimentos supostamente milagrosos. Esta
questão fica ainda mais latente nos casos de curas miraculosas.

Por mais que os processos de Fátima, principalmente de Lourdes,


que são os mais conhecidos, sejam muito rigorosos, levados a sério,
algumas pessoas continuam absolutamente céticas. Não acreditam
naquilo. Não adianta vir com demonstrações feitas de maneira
rigorosa, que elas não acreditam. Quer dizer, é preciso que haja uma
experiência própria. Não basta o testemunho. Isso foi dito por Hume,
que nada tem a ver com a teologia, e sim com filosofia, mas que
deixou essa contribuição. (CHALUB, 1999, p.11).

Esta teoria demonstra que o milagre está intimamente ligado ao ser humano
e para que haja uma cura, por exemplo, seria necessário que a pessoa estivesse
de acordo com este fator, só assim ele poderia acontecer, caso contrário não.
Então, chegamos ao ponto que vamos denominar milagre, especialmente
como fenômeno humano, que segundo Miguel, seria um fato que não revogou a
lei da natureza, mas sim que poderia ocorrer, não ocorre habitualmente, mas
existe uma chance que ocorra.
Mas Alberto Gobbo Júnior tem outra explicação para a questão dos santos,
segundo ele, que trabalha para que o Padre Rodolfo receba o título de santo, o
intercessor precisa ser conhecido para que as pessoas façam pedidos à ele, se
não for, não farão, e consequentemente não terão as causas alcançadas por
intermédio do santo desconhecido. 16

16
Entrevista realizada pela autora deste projeto no dia 12 de outubro de 2013.

32
3.6 – Os milagres para o Vaticano

Neste capítulo iremos compreender como o Vaticano encara esta questão, e


como é o critério de avaliação para confirmar ou descartar um milagre.
Em Roma, um órgão do Vaticano exige provas de milagres desde 1588,
antes que um morto ou um candidato à canonização possa ser beatificado. Até
2005, os papas criaram 784 santos, 650 deles no século 20, e desses, 482
somente no pontificado de João Paulo II (1978-2005). Acrescentando-se as 1338
beatificações, isso eleva o número de milagres oficialmente reconhecidos neste
papado para 1820.
Porém para que um caso seja considerado milagre pelo Vaticano, é preciso
que antes passe por um crivo, que envolve uma investigação criteriosa por
peritos científicos e teólogos. Segundo a Igreja, a maioria dos supostos milagres
está relacionada à cura de alguma enfermidade grave. “para que a recuperação
seja qualificada como divina, primeiro o doente precisa ter sido desenganado
pelos médicos e, depois, completamente curado.” (TAMANINI, 2013, internet).

O processo de reconhecimento de um santo começa com uma


detalhada — e exaustiva — investigação sobre a vida do “candidato”,
e só depois de comprovar a sua virtuosidade e que ele tenha
realizado pelo menos dois milagres após a sua morte é que esse
indivíduo é reconhecido como santo. (TAMANINI, 2013, internet).

Além deste critério, a cura deve ocorrer de forma espontânea, e sem


explicação cabível para o fenômeno. Outro ponto é que o doente deve ter
recorrido à intercessão de um único santo, para que não haja confusão em
relação à autoria do milagre.
Portanto, o primeiro passo é uma investigação da vida do candidato a santo.
Se for considerado virtuoso o suficiente, a pessoa é considerada ser um servo de
Deus. Se apresentar níveis heroicos de virtude na sua vida, eles são
considerados veneráveis. Para se tornarem santos, no entanto, eles precisam ter
realizado dois milagres após a morte.
O Padre Lucas Rosa da Silva17, explica que durante este processo busca-
se verificar e caracterizar o estado patológico anterior ao suposto milagre,

17
Dados colhidos durante entrevista realizada pela autora deste trabalho.

33
submeter depois o curado a exames médicos que comprovem ter sido impossível
pela medicina alcançar aquela cura, e por vezes se espera determinado tempo
para verificar se a cura persiste. Depois a Igreja emite um decreto afirmando o
milagre.
Mas com o avanço científico tecnológico, muitos fenômenos acabaram
sendo explicados, o que fez com que a Igreja mudasse um pouco os critérios
para a santificação.

Assim, apesar de os milagres ainda serem tecnicamente necessários


para qualificar um candidato como santo oficial, eles acabaram
perdendo um pouco a sua força. Em vez disso, hoje em dia a
“santidade” em vida — que serviu para inspirar e ajudar os fiéis
enquanto o candidato ainda estava entre nós — acabou se tornando
um importante fator de influência na decisão do Vaticano.
(TAMANINI, 2013, internet).

O papa João Paulo II, também contribuiu para facilitar a coprovação destes
milagres, reduzindo o número de milagres oficiais necessários, de três para dois.
O que mesmo assim ainda é considerado um processo criterioso. O senhor
Alberto Gobbo Júnior, é irmão salesiano e ser secretário do Postulador Geral da
causa do P. Rodolfo Komorek, em Roma, Don Pierluigi Cameroni SDB, ele relata
que mais de sete mil supostos milagres já foram registrados para o processo de
santificação do padre Rodolfo, porém nenhum destes passou pelo crivo do
Vaticano. 18

18
Entrevista realizada pela autora deste projeto, no dia 12 de outubro de 2013.

34
CAPÍTULO 4
Modalidade

Após a definição do tema foi verificado que a melhor maneira de apresentar


este projeto seria através de uma Grande Reportagem Impressa para revista, que
irá permitir que fossem demonstrados o ponto de vista religioso e o científico em
relação aos casos de cura espontânea, além disso, a reportagem impressa irá
permitir a utilização de infográficos para facilitar a compreensão do leitor.
.
4.1 A Reportagem

Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari a reportagem é um gênero


privilegiado, pois tem condições de explorar ao máximo a história e os seus
personagens.
Por isso, é a reportagem - onde se contam se narram as peripécias
da atualidade - um gênero jornalístico privilegiado. Seja no jornal
nosso de cada dia, na imprensa não cotidiana ou na televisão, ela se
afirma como o lugar por excelência da narração jornalística. E é
mesmo, a justo título, uma narrativa - com personagens, ação
dramática e descrições de ambiente - separada, entretanto da
literatura por seu compromisso com a objetividade informativa.
(SODRÉ; FERRARI, 1986, p. 9).

O objetivo da reportagem é se apronfundar no tema e trazer para o leitor o


máximo de informações relacionadas ao assunto escolhido, de forma clara e
precisa. Diferenciando da notícia que tende a ser mais factual.

Qual a diferença entre notícia e reportagem? A primeira informa fatos


de maneira mais objetiva e aponta as razões e efeitos. A segunda vai
mais a fundo, faz investigações, comentários, levanta questões,
discute, argumenta. (VILARINHO, 2013).

Este projeto pretende contar a história de pessoas que passaram por um


processo de cura espontânea. A modalidade será a grande reportagem para
revista. Muniz Sodré e Ferrari relatam que a reportagem é o relato de um fato,
não regido pelo imaginário, tendo então a necessidade de estar baseado em
fatos (SODRÉ; FERRARI, 1986).

35
O desdobramento das clássicas perguntas a que a notícia pretende
responder (que, o que, como, quando, onde, por quê) constituirá de
pleno direito uma narrativa, não mais regida pelo imaginário, como
na literatura de ficção, mas pela realidade factual do dia-a-dia, pelos
pontos rítmicos do cotidiano que, discursivamente trabalhados,
tornam-se reportagem. Esta é uma extensão da notícia e, por
excelência, a forma-narrativa do veículo impresso (embora a
entrevista, sobretudo o perfil, possa também, às vezes, assumir uma
forma narrativa). A reportagem constitui, assim, basicamente, um dos
gêneros jornalísticos. (GEISLER, 2002, p.231)

4.2- Jornalismo de Revista

O jornalismo de revista permite certa parcialidade na abordagem do assunto


escolhido e propicia uma pesquisa mais aprofundada sobre o assunto.

O texto de cinco ou seis páginas de uma revista semanal não é


neutro. Neutralidade é uma “pretensão” objetiva, comum no
jornalismo diário. Imagine como a Folha de S. Paulo, por exemplo,
escreveria sobre o assassinato de um conhecido traficante de
drogas. Pelo menos em tese, a rapidez, a padronização e a busca de
uma suposta neutralidade dariam o tom do texto. (Vila Boas,1996,
p.14).

No jornalismo de revista também é permito que o jornalista escolha o tom


que vai dar na matéria, o que diferencia o jornalismo de revista e de jornal. Na
revista é possível adotar um tom mais leve ou mais dramático, dependendo da
linha editorial da mesma, ou do foco que a revista quer dar na reportagem.

Na revista, o tom é uma escolha prévia de linguagem (humor,


tragédia, drama, tensão etc). O tom da maioria dos textos de um
jornal passa por uma suposta objetividade e isenção. (Vila
Boas,1996, p.14).

Como o tempo para analisar os fatos antes de escrever um texto para revista é
maior, é possível e interessante para o leitor que seja feito pelo jornalista um
levantamento histórico, explicando todo o contexto para quem estiver lendo a
matéria, o que torna o texto mais interessante e agrega valor documental.

A análise e a interpretação do fato não podem prescindir do tempo e


do espaço. Não os dispense de seu projeto, esteja sempre bem
informado. Não tenha apenas informações puras e simples. Depure e

36
compreenda o fato. A narrativa de um texto de revista é também um
documento histórico. (Vila Boas, 1996, p.15).

4.3 - O texto do Jornalismo de Revista

A linguagem utilizada na revista permite algumas brincadeiras com as


palavras e desde que sem exageros valida expressões típicas de determinadas
regiões, além disso, o uso das palavras pode ter um sentido conotativo, levando
o leitor a pensar, e tornando a leitura menos densa. Para Vilas Boas o tempo da
leitura permite esse jogo com as palavras, já que a leitura de uma revista não é
rápida como a de um jornal diário.

Na revista as palavras podem ser usadas não apenas com o sentido


que lhes atribuem os dicionários. Às vezes, é até bastante indicado
lançar mão de uma palavra que não está diretamente ligada ao
objeto ou ser ao qual dá nome. No texto diário de jornal, o valor
conotativo só é aceito em situações muito especiais, pois o
jornalismo diário precisa da padronização e da velocidade para
sobreviver. Além disso, o jornal diário é de leitura rápida, ao contrário
da revista. (Vila Boas, 1996, p.18).

Porém é bom estar atento e mesmo com essa permissividade de palavras


variadas e fora da linguagem coloquial, é importante saber dosar e usar estes
artifícios com moderação, sempre atento ao contexto, para que o texto não
empobreça ou fique vago.

Se a situação a ser narrada exige precisão, denominação concreta,


denotativa, não pense duas vezes. Evite que o “vago” ocupe um
“espaço”. A metáfora é um recurso que deve ser usado com
moderação, domínio e gosto. (Vila Boas, 1996, p.19).

O texto para revista também permite outro artifício muito eficaz, que é o
confronto de ideias, onde duas pessoas com opiniões distintas sobre
determinado assunto podem opinar e isso pode ser colocado em destaque para
que o leitor decida qual o melhor argumento.

Confrontar as ideias, por exemplo, é muito comum e eficaz no


texto de revista, dependendo, obviamente, do contexto. Se quiser
expor o pensamento de dois parlamentares de peso sobre uma
questão polêmica, torne bem marcantes as posições políticas de
cada um deles. Isso pode ser conseguido com frases de efeito ou

37
entrecortadas por palavras de fundo irônico, explícito ou não. (Vila
Boas, 1996, p.19)

É importante também que o texto tenha uma escrita clara e que caminhe
com fluidez para o desfecho, o leitor não pode ficar perdido ou confuso em meio
à reportagem. A objetividade é outro fator importante, palavras que não agregam
nenhum tipo de valor a compreensão do que está sendo redigido podem ser
cortadas.

O importante é que ao longo do texto você conduza as informações


para o fechamento, tão importante quanto a abertura. Lembre-se: há
sempre uma chance de o leitor não “captar a mensagem”. Aquele
que escreve com o objetivo oculto de “ouvir o texto” está, na verdade,
se esforçando para obter uma harmoniosa melodia. O ritmo entra em
compasso com a tônica. (Vila Boas, 1996, p.30 e 31).

38
CAPÍTULO 5
Metodologia

5.1- Definição da temática

Antes de iniciar este trabalho foi necessário definir o tipo de pesquisa que
melhor atenderia as necessidades para que o objetivo proposto fosse atingido.
Para Antonio Carlos Gil, “o elemento mais importante para a identificação de um
delineamento é o procedimento adotado para a coleta de dados” (GIL, 1985, p.
50).
Serão realizadas entrevistas com representantes da ciência e da religião, a
fim de coletar opiniões em relação a fenômenos de cura espontânea, além
desses procedimentos, foi realizado o levantamento bibliográfico, a pesquisa
exploratória e a pesquisa documental, a fim de dar cunho cientifico ao trabalho.
Para Gil, “o objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para
problemas mediante o emprego de procedimentos científicos” (GIL, 1985, p. 26).
O autor complementa que, com o desenvolvimento da pesquisa, o que antes
era um questionamento teórico cede lugar a questões práticas.
O delineamento ocupa-se precisamente do contraste entre a teoria e
os fatos e sua forma é a de uma estratégia ou plano geral que
determine as operações necessárias para fazê-lo. Constitui, pois, o
delineamento a etapa em que o pesquisador passa a considerar a
aplicação dos métodos discretos, ou seja, daqueles que
proporcionam os meios técnicos para a investigação. (GIL, 1985, p.
49)

Como ciência e religião são dois pontos de vista que divergem e que em
alguns momentos parecem se fundir, foi necessário realizar um aprofundamento
das teorias defendidas para explicação da cura espontânea. A conversa posterior
com os representantes será fundamental para iniciar a grande reportagem
impressa, que é a segunda parte deste trabalho.
Considerando os dois principais tipos de pesquisa, a qualitativa e
quantitativa, neste trabalho aplicou-se a pesquisa qualitativa, pois a intenção foi
levantar histórias e fatos que aconteceram e desenvolver a reportagem partindo
desses acontecimentos.
Na pesquisa qualitativa questões e problemas para a pesquisa
advêm de observações no mundo real, dilemas e questões. Elas são

39
formuladas como hipótese se – então (se variável dependente)
derivadas da teoria. (MARSCHALL; ROSSMAN, 1989).

Portanto como a parte prática do trabalho irá consistir em uma grande


reportagem impressa para revista, será necessário que sejam captados
personagens reais para permear a narrativa.

5.2- Pesquisa Bibliográfica

Após definido o tema foi realizada uma pesquisa bibliográfica a fim de


constatar a viabilidade ou não da temática deste projeto. Constatada a
possibilidade do desenvolvimento deste assunto, teve início à pesquisa de
autores que pudessem fundamentar este trabalho em todos os campos que a
temática abrange, ou seja, no campo da ciência e da religião, além disso, foram
exploradas algumas terminologias para que a compreensão se tornasse mais
familiar, portanto foram pesquisados autores que definissem algumas
terminologias, como saúde e doença.
Neste trabalho a pesquisa bibliográfica serviu como meio para obter
conhecimento sobre o assunto e para constatar que era possível o
desenvolvimento de um projeto com a abordagem proposta inicialmente.

A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de


permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos
muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.
[...] A pesquisa bibliográfica também é indispensável nos estudos
históricos. Em muitas situações, não há outra maneira de conhecer
os fatos passados senão com base em dados secundários. (GIL,
1985, p. 50)

A primeira leitura foi Milagres a ciência confirma a fé de Oscar González


Quevedo, que serviu como ponto de partida para o desenvolvimento do projeto.

5.3- Pesquisa Exploratória

A pesquisa exploratória foi utilizada no início deste projeto com o intuito de


tornar o tema mais familiar, através de uma sondagem do assunto, sendo
realizada antes das demais pesquisas, com o intuito de verificar a consistência
das ideias propostas neste trabalho.

40
Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental,
entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos de
amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são
costumeiramente aplicados nestas pesquisas. Pesquisas
exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão
geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de
pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é
pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses
precisas e operacionalizáveis. (GIL, 1985, p. 27)

Então foi feito um levantamento bibliográfico de temas que abordassem cura


espontânea, bem como conceitos de saúde e doença, além do ponto de vista da
religião, buscando bibliografias que aproximassem este conceito e me dessem
base para desenvolver o projeto.

5.4- Pesquisa Documental

Realizada a pesquisa bibliográfica houve a necessidade de ampliar o campo


de conhecimento, portanto a segunda etapa consistiu na pesquisa documental,
que compreende os mesmos passos da pesquisa bibliográfica, porém são
incluídas as análises documentais, de primeira e de segunda mão, tais como
relatórios de pesquisas, relatórios de empresas, tabelas estatísticas, e outros.

Existem, de um lado, os documentos de primeira mão, que não


receberam qualquer tratamento analítico, tais como: documentos
oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos, diários, filmes,
fotografias, gravações etc. De outro lado, existem os documentos de
segunda mão, que de alguma forma já foram analisados, tais como:
relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, tabelas estatísticas
etc. (GIL, 1985, p. 51)

No caso deste projeto foram utilizadas revistas científicas e conteúdos de


sites que continham entrevistas com pessoas relacionadas com o tema proposto.

5.5- Personagens

Os personagens escolhidos para este trabalho foram uma psiquiatra, um


padre, um pastor, e um irmão salesiano, que além de coordenar a catequese de
adultos na Sagrada Família, cuida do Relicário do P. Rodolfo Komorek, e é
secretário do Postulador Geral da causa do Padre Rodolfo.

41
5.6 – Pauta

As entrevistas com o Padre, o Pastor, e a Psiquiatra foram realizadas


através de correio eletrônico, já a entrevista com o irmão salesiano, foi presencial,
parcialmente gravada e parcialmente anotada, devido a uma falha técnica
apresentada pelo aparelho que estava sendo utilizado.

5.7 – Cronograma
JAN
FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV
2013
Pesquisa
X X X X
Bibliográfica
Coleta de
X X X X
dados
Elaboração
do projeto X X X X
escrito
Entrevistas X X X
Desenvolver a
grande X X X X
reportagem
Diagramação X X X
Apresentação X

42
CAPÍTULO 6
Histórico da Superinteressante

6.1– Superinteressante

A grande reportagem impressa que será escrita pela autora deste projeto
será para a revista Superinteressante e seguirá o padrão da referida revista. Esta
escolha foi baseada no público alvo que a referida revista abrange que é de
jovens entre 18 e 25 anos de idade.
Além disso, o tema escolhido pela autora se assemelha à temática abordada
pela Superinteressante, que costuma tratar de assuntos polêmicos, de maneira
lúdica e até divertida.
A Superinteressante teve sua primeira edição no ano de 1987, quando a
editora Abril comprou os direitos da revista espanhola Muy Interesante, lançada
no mercado em 1981. A ideia inicial era traduzir as páginas da revista espanhola.
A revista seria impressa com o fotolito19 enviado da Espanha.
O primeiro diretor de redação da Super foi o jornalista Almyr Gajardoni,
responsável por uma revista de 20 páginas, que estreou em grande estilo,
distribuindo 2 milhões de exemplares gratuitamente. A amostra grátis incluía uma
discussão densa sobre a inteligência dos robôs, um debate sobre a existência de
planetas fora do sistema solar e de seres vivos morando neles, e uma matéria
singela sobre a vida amorosa dos animais, além de seções variadas, inclusive
aquela que se revelaria a preferida dos leitores - "Perguntas Superintrigantes" 20
Na edição de número 1 da revista, a chegada às bancas foi marcada por um
número expressivo de cinco mil assinantes.
Sempre inovadora, em 1988 a revista apresentou aos leitores uma edição
marcante, com uma imagem holográfica na capa. Era a primeira vez que algo
deste tipo era veiculado no Brasil. Isto mostra a versatilidade e interesse por
assuntos e tecnologias inovadoras da revista. Nas páginas desta edição foi
abordado um assunto sobre o que era o Projeto Genoma, na época ainda uma
ideia no papel, em busca de dinheiro. Este assunto voltou diversas vezes as

19
Fotolito: Chapa metálica que carimba a tinta no papel.
20
Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto.

43
páginas da revista, até a conclusão desse que foi o maior projeto da história da
ciência, em fevereiro de 2011. 21
Em 1994, algo considerado inovador para época foi publicado na revista, um
contato de e-mail, do repórter Wagner Barreira, que recebeu 14 e-mails
comentando a matéria que ele havia escrito sobre o futuro online. Hoje cada
jornalista que trabalha na redação da Super, como é popularmente conhecida,
recebe em torno de dez vezes esse número de e-mails, todos os dias.22
Ainda em 1994 aconteceu a 1ª reforma gráfica, realizada pelo segundo
diretor da Super, Eugênio Bucci. A partir destas mudanças a revista ficou mais
informal, mais “pop”, e incorporou de vez o apelido de Super, ao invés de
Superinteressante. Outro ponto foi o aparecimento da palavra infográfico, que
entrou definitivamente no vocabulário, para designar as primorosas ilustrações
acompanhadas de bloquinhos de textos que viraram a marca registrada da
revista. 23
Em junho de 1996, a Super entrou para o mundo digital e ganhou um
domínio de site. Em abril de 1997 a revista passou por mais uma reformulação
gráfica, realizada pelo diretor de arte Augusto Lins Soares. E maior do mesmo
ano, mais uma novidade, a capa com cheiro, que continha cápsulas
aromatizadas, com cheiro de banana. 24
Em dezembro de 1997, foi lançado o CD-ROM para assinantes, e no mês
seguinte, passou a ser vendido para os demais nichos.
No final do ano de 1998, o redator-chefe André Singer assumiu a revista. O
que gerou uma nova reestruturação de direção, incorporando assuntos de
economia, que começaram a aparecer na revista, ao lado dos tradicionais temas
científicos, mas sempre tratados de uma forma menos formal, e mais atrativa, o
que mantinha o público alvo da revista estimulado e interessado pelos assuntos
abordados. Em 1999, a matéria “O Brasil na caçapa” infografava a crise que

21
Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto.
22
Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto.
23
Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto.
24
Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto.

44
havia abalado o real, fazendo uma representação em forma de uma mesa de
sinuca, e mantendo o diferencial da Super. 25
Em janeiro de 1999, a Super recebe o prêmio Esso pelo info “Montando na
Fúria”, de Alceu Nunes e Luiz Iria. Em abril o site da revista foi liberado para
todas as pessoas. 26
Em 2000, a revista passou por mais uma reestruturação, com o Adriano
Silva, que chegou com uma proposta de informalizar ainda mais a revista,
diminuindo a distância entre o leitor. A ideia era preservar o rigor e a seriedade,
mas acrescentar temas polêmicos, como drogas, eutanásia, aborto. A inquietude
espiritual do começo do milênio e os conflitos religiosos que se tornavam cada
vez mais comuns impuseram a revista um maior peso para as grandes
discussões. Esta nova fórmula agradou o público e a revista vendeu em 2001,
11100 exemplares, em bancas e supermercados. 27
Em fevereiro de 2005, a Editora Abril passou por uma reestruturação e a
Super passou a fazer parte de um núcleo. Adriano Silva assumiu a diretoria deste
Núcleo Jovem, que incluía as revistas Super, Bizz, Capricho, Super Surf, Mundo
Estranho e Flashblack. Denis Russo, redator chefe, passou a ser o novo diretor
da revista.28
Em agosto de 2007, Denis Russo recebe uma bolsa de estudos para
jornalistas e vai para Universidade de Stanford – Califórnia – EUA. O editor
Sérgio Gwercman passa a ser o novo redator-chefe da Super. 29
Agosto de 2009, nova reformulação gráfica na revista. Novas fontes, novos
desenhos de pagina, novos ícones. No editorial as alterações foram menos
radicais: algumas sessões deixaram de existir, outras foram criadas e a revista
fica ainda mais visual, com imagens que informam polêmicas, tendências e
conhecimento. 30

25
Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto.
26
Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto.
27
Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto.
28
Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto.
29
Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto.
30
Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto.

45
Em agosto de 2010, uma mulher assume pela primeira vez o cargo de
diretora de arte da revista, Alessandra Kalko, que já havia trabalhado
anteriormente na revista e retornou depois de ter assumido a Women’s Health e a
Mundo Estranho.31

6.2 – Prêmios

Ao longo de sua trajetória a revista conquistou alguns prêmios expressivos.


Confira a lista das principais premiações da Superinteressante.32
1. Abril/1998 - medalha de ouro no Malofiej com o info "Golpe de
mestre" - categoria esporte;
2. Janeiro/1999 - Prêmio Esso pelo info “Montando na Fúria" (Alceu
Nunes e Luiz Iria);
3. Maio/2001 - Prêmio Malofiej - medalha de bronze “Denome negro";
4. Junho/2001 - Prêmio Esso de Jornalismo: revista do ano;
5. Maio/2002 - Prêmio Super Ecologia;
6. Junho/2002 - Prêmio Máximo de revista que melhor utiliza a
infográfica no Malofiej;
7. Novembro/2002 -Prêmio Master da Ciência e Tecnologia 2002 pelo
Instituto de Estudos e Pesquisas de qualidade – Campinas;
8. Janeiro/2003 - Prêmio ETHOS de Jornalismo na categoria revista com
o Especial - Como salvar o Brasil;
9. Junho/2003 - revista recebe medalha de ouro - info "Metrô do Rock" e
prata para 'História das Ideias”;
10. Julho/2003 - 2º Prêmio Super de Ecologia onde a revista premia
vários projetos de ONGS brasileiras;
11. Setembro/2003 - Prêmio Abril de jornalismo: melhor Info "A história
da Terra" e melhor reportagem sobre saúde "Deveríamos parar de
comer carne?";
12. Maio/2004 - Medalha de ouro para o info "Oficina do Inferno" no
Prêmio Malofiej;

31
Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto.
32
Fonte: Atendimento ao leitor da revista Superinteressante, enviado por e-mail para a autora deste projeto.

46
13. Agosto/2004 - contos Bizzaros ganha o troféu HQ Mix 2003 (prÊmio
dos quadrinhos);
14. Abril/2005 - Prêmio Malofiej de Infográfica. A Super ganha medalha
de ouro por um info que mostrava como funciona o tráfico em uma
favela e como a polícia deveria agir para reprimi-la;
15. Julho/2005 - no Prêmio Abril, ganhamos com a melhor reportagem
de tecnologia (Google) e de comportamento (Casamento Gay);
16. Março/2008 - Prêmio Malofiej: medalha de prata para os infos
"Mundo árvore" e "Contas Abertas". "Por dentro dos Planetas" e "Do
boi ao bife”, com a de bronze;
17. Junho/2008 - No Prêmio Abril a Super fez bonito com matérias
publicadas em 2007: melhor capa, melhor reportagem, infografia e
ilustração;
18. Janeiro/2009 - Prêmio Esso de Criação Gráfica com uma matéria
sobre a história da impotência;
19. Novembro/2009 - o diretor de arte Adriano Sambugaro ganha um
prêmio (uma viagem para Nova York) dado pela empresa aos
profissionais que mais se destacaram no ano.

47
6.3- Layout da Revista

Figura 1: projeção da página 1 da grande reportagem

48
Figura 2: projeção da página 2 e 3 da grande reportagem.

Figura 3: projeção da página 4 e 5 da grande reportagem.

49
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho permitiu que a cura espontânea fosse explorada de dois


pontos de vista. Não considero que exista uma única explicação que seja a
verdade absoluta, neste caso específico e com base nas pesquisas e nas
entrevistas foi observado que as teorias na verdade são complementares e não
contrárias, embora em alguns pontos o fundamento seja diferente.

50
Referências Bibliográficas

CHALUB, Miguel. Os Milagres diante da fé e da ciência. Revista Magis Subidios,


1999, Disponível em http://www.clfc.puc-rio.br/magis.html. Acesso em 29 de
agosto, às 12h.

CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. São


Paulo: Editora Hagnos, 2002.

Dicionário didático 2 ed. – São Paulo: Edições SM, 2008.

Dicionário Priberam (http://www.priberam.pt/dlpo/Default.aspx?pal=milagre), às


9h no dia 17 de abril de 2013.

FRATER, Eugenio, http://info.abril.com.br/noticias/ciencia/2013/08/como-


acontecem-as-curas-espontaneas.shtml, acessado às 18h17 do dia 03 de outubro
de 2013.

GEISLER, Normam L. Enciclopédia de apologética. São Paulo: Editora Vida,


2002.

NICOLAU, Paulo Fernando,


http://www.psiquiatriageral.com.br/educacaomedica/ref_b.htm, às 17h03 do dia
02 de outubro de 2013.

QUEVEDO, Oscar González, Milagres a ciência confirma a fé, São Paulo, Editora
Loyola, 1996.

REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL, acessado


via internet através do link http://www.scielo.br/pdf/rsbmt/v23n4/04.pdf, às 18h36
no dia 03 de outubro de 2013.

SABRINA VILARINHO, http://www.brasilescola.com/redacao/a-reportagem.htm,


às 13horas no dia 05 de março de 2013.

51
SEGRE, Marco, O conceito de saúde. Ver. Saúde Pública, 31 (5): 538-42, 1997.

SIEGEL, Bernie S. Amor Medicina e Milagres: A cura espontânea de doentes


graves, segundo a experiência de um famoso cirurgião norte-americano, São
Paulo: Editora Best Seller, 1989.

SODRÉ, Muniz; FERRARI, Maria Helena. Técnica de reportagem: nota sobre a


narrativa jornalística. São Paulo: Summus, 1986.

TAMANINI, http://www.megacurioso.com.br/religiao/37248-como-e-que-o-
vaticano-reconhece-os-santos-e-seus-milagres-.htm, às 15h10 do dia 02 de
setembro de 2013.

VILAS BOAS, Sérgio. O estilo magazine: o texto em revista. São Paulo, Summus,
1996

http://www.lepanto.com.br/catolicismo/ciencia-e-fe/curas-milagrosas-de-lourdes-
depoimento-de-um-especialista/, às 9h no dia 13 de março de 2013.

52
APÊNDICE A
Entrevistas

Entrevista realizada no dia 12 de outubro pessoalmente com o irmão


salesiano, Alberto Gobbo Júnior, que é responsável pelas investigações dos
casos de supostos milagres atribuído ao P. Rodolfo Komorek.

Luma: Alberto o que é milagre?


Alberto Gobbo: Milagre é quando Deus age e modifica a realidade considerada
possível pelos homens. A bíblia é repleta de casos, e cada um dos evangelistas
com as suas características pessoais relata estes casos. No caso de São Lucas
que era médico, os casos eram muito bem relatados, é impossível ter dúvidas, já
que são todos os fatos narrados com clareza. Jesus não fazia nenhum destes
milagres para ganhar cartaz e isso é muito importante que seja frisado, já que o
verdadeiro milagre é constituído quando o Pai é revelado, através das boas obras
e da fé e não das ciências, da riqueza e do poder. São livros antigos, mas muito
bem relatados.

L: O que é fé?
A: A bíblia dá uma definição de fé na carta aos hebreus, que diz que a fé a
certeza da realidade que eu não vejo, ou seja, os cientistas querem provas por A+
B, mas nós apesar de não entendermos aceitamos isso é uma maravilha que eu
não abro mão e que é fundamental para que curas possam ocorrer. Jesus dava
grande importância a fé para que as curas acontecessem.

L: Como é a investigação da igreja em relação aos casos de supostos


milagres?
A: É muito criterioso. A igreja dispõe de uma junta médica que é especialista em
desvendar milagres. Eles tentam de todas as formas explicar o caso que chega
até o conhecimento deles, são médicos muito capazes, logo se um caso passar
por estes médicos isto significa que se trata de um milagre verdadeiro.

53
L: Padre Rodolfo já teve algum caso de cura coprovado?
A: Ainda não. Já chegaram até nós aproximadamente sete mil casos, mas
nenhum deles passou. Não é fácil não porque se um dos médicos do Vaticano
descartar o caso existe uma avaliação ainda mais criteriosa, mas se nós
insistirmos pode acontecer uma segunda avaliação. Tivemos um caso de cura de
câncer, mas os médicos de lá descartaram, pedimos esta reavaliação, mas a
equipe médica foi toda trocada o que em minha opinião não foi bom. Existem
casos com menos provas que foram aceitos, então o lado humano também conta
um pouco, infelizmente.

L: Esta avaliação é exclusiva dos médicos do Vaticano?


A: Não. Também acompanha o caso um médico daqui responsável pelo caso,
como testemunha.

L: E quem realiza estes milagres?


A: Quem realiza os milagres é Deus, mas os santos tem o poder de interceder.
Trabalhamos para que o Padre Rodolfo receba o título de santo, mas para isso
ele precisa ser conhecido para que as pessoas façam os pedidos para ele, caso
contrário não farão e consequentemente não terão as causas alcançadas por
intermédio do santo desconhecido.

L: Padre Rodolfo é um santo?


A: Ainda não, por enquanto ele é apenas um servo de Deus digno de veneração,
mas estamos trabalhando para comprovar a santidade dele, isso requer muitas
pessoas, testemunhas idôneas e em Roma especialistas em direito canônico
investiga o caso e a história do candidato. Para que ele seja santo precisa de um
grande milagre, mas os médicos não colaboram, dizem que a pessoa sarou
porque sarou. Tivemos o caso de um rapaz que sofreu um acidente e ficou em
coma desenganado pelos médicos, a mãe pediu à comunidade que pedisse ao
Padre pela cura do filho. Após este clamor o rapaz acordou saudável e sem
sequelas, mas a comissão do Vaticano não aceitou o caso sob a alegação de que
muitas pessoas voltavam de um coma sem nenhum tipo de intervenção de santo.
Iguais a este tivemos vários casos.

54
Entrevista realizada no dia 01 de outubro por e-mail com o Pr. Max Souza,
que é líder da Primeira Igreja Batista da cidade de São Paulo.

Luma: O que é milagre para a igreja?


Pr. Max Souza: É uma ação sobrenatural de Deus que beneficia uma pessoa ou
situação.

L: Todo caso de cura espontânea é admitido pela igreja como intervenção


Divina? Por quê?
M: Desde que seja pelo nome de Jesus sim. Cremos que a cura veio por meio do
sangue de Jesus Cristo na cruz. A palavra diz que por causa das suas pisaduras nós
somos sarados.

L: A fé é um ponto importante para que a cura aconteça?


M: Com certeza. No Novo testamento, quando Jesus curava as pessoas ele dizia: A
sua fé o curou.

L: É recomendável que uma pessoa abandone o tratamento médico em nome


da fé?
M: Nem em todos os casos. Em alguns casos, a pessoa recebe a cura de maneira
instantânea, mas também cremos que Deus age por meio da medicina. Remédios e
tratamentos são validos também no processo de recuperação do individuo.

L: Qual o papel dos sacerdotes neste processo?


M: Orar com fé sobre o enfermo para que o mesmo seja curado.

55
Entrevista realizada por e-mail no dia 14 de outubro com o Pe. Lucas Rosa
da Silva, que é Reitor do Seminário de Filosofia - Diocese de São José dos Campos
e Vigário da Paróquia Matriz de São José dos Campos.

Luma: O que é milagre para a igreja?


Pe. Lucas Rosa: Para a Igreja Católica o milagre é sempre uma intervenção
extraordinária de Deus em vista do bem de uma pessoa alterando determinada
imperfeição (uma cura, por exemplo) ou provocando um fenômeno extraordinário
(caso das alucinações coletivas nas aparições, por exemplo).

L: Todo caso de cura espontânea é admitido pela igreja como intervenção


Divina? Por quê?
Pe. L: Não. Por várias questões:
- Determinadas semiparalisias motivadas por trauma emocional podem ser curadas
se a pessoa conseguir, em um momento especial de oração, a integração
psicológica que o trauma impedia;
- A cura de uma enxaqueca, não motivada por patologia neuronal, se faz até sem
uso de remédios, com meditação e relaxamento;
- etc.

L: Como é o processo de investigação de um milagre? O que deve ser


avaliado?
Pe. L: No processo busca-se verificar e caracterizar o estado patológico anterior ao
suposto milagre, submeter depois o curado a exames médicos que comprovem ter
sido impossível pela medicina alcançar aquela cura, e por vezes se espera
determinado tempo para verificar se a cura persiste. Depois a Igreja emite um
decreto afirmando o milagre.

L: O que é intervenção Divina? Somente Deus pode realizar milagre, ou os


santos também tem este poder? Uma pessoa que está em comunhão com
Deus também pode realizar um milagre de cura?
Pe. L: Intervenção divina é toda ação de Deus no mundo e na vida do justo, como
providência e graça. Os milagres são uma intervenção extraordinária. Somente Deus

56
realiza os milagres. Os santos intercedem a Ele, mas é Ele que age. Uma pessoa (já
falecida ou em vida ainda) que está em comunhão com Deus pode ser instrumento
Dele para uma intervenção extraordinária do mesmo (milagre). Tal pessoa foi um
intercessor.

L: Por que algumas pessoas são atendidas e outras não?


Pe. L: Na verdade todos são atendidos. O que acontece é que não entendemos o
agir de Deus, seu propósito. Deveríamos sempre pedir a Ele a iluminação
necessária para entendermos seu agir. Deus não muda, logo se seu agir é sempre
de amor em relação aos seres humanos, não atender seria mudar o agir, seria
imperfeição (coisa incompatível com o ser de Deus). Mesmo quando pedimos uma
cura e ela não acontece, não significa que Deus não nos ouviu: Ele nos atendeu de
outro modo que podemos, pela fé, entender ainda em vida ou somente diante do
olhar Dele no dia do nosso grande encontro na morte,

L: A fé é um ponto importante para que a cura aconteça?


Pe. L: A fé é fundamental para que o milagre aconteça pois ela nos abre para a
graça de Deus. No milagre se a pessoa que precisa do milagre está incapacitada
para o ato de fé, a fé de quem intercede torna-se o caminho para a manifestação de
Deus.

L: Em que ponto a ciência e a religião interagem e em que ponto diverge?


Pe. L: Ciência e religião são campos diferentes de olhar a realidade. Pela própria
metodologia a ciência tem uma limitação na explicação da realidade. Mas onde ela
para a religião continua. Assim as duas não precisam ser inimigas, mas “as duas
asas para o ser humano alçar ao infinito” (Papa João Paulo II, na “Fides Et Ratio”). A
divergência acontece de forma positiva quando cada uma reconhece a
especificidade do seu campo e a possibilidade da saudável convivência. A negativa
seria quando uma se enclausura em seu ponto de vista e elimina a outra
(fundamentalismos religioso e cientifico).

57
L: É recomendável que uma pessoa abandone o tratamento médico em nome
da fé?
Pe. L: Jamais uma pessoa pode abandonar o tratamento médico em nome da fé.
Qualquer ministro religioso que recomendar isso está, diante da lei brasileira
cometendo crime de curandeirismo e, diante da Igreja, sendo irresponsável diante da
missão que a Igreja lhe conferiu junto ao povo de Deus. Pe Pio dava a bênção de
cura que a pessoa pedia e dizia: “continue seguindo o que seu médico mandou”.

L: Qual o papel dos sacerdotes neste processo?


Pe. L: Por sua missão, cabe ao sacerdote orientar o povo a respeito de tudo o que
expliquei acima, ajudando o povo a ter uma fé esclarecida e firme, e aprender a
perceber as diversas intervenções de Deus em suas vidas(e não apenas as
extraordinárias). Se ele não o fizer falhará tristemente em sua missão e será culpado
pelas falas do seu rebanho.

L: Para a igreja quais são os primeiros passos para a pessoa alcançar o


milagre da cura?
Pe. L: Os passos são semelhantes aqueles pedido a todos os fiéis: mediante uma
autêntica conversão abrir-se a graça de Deus, agradecendo a providência do Senhor
em suas vidas, pedindo aquilo que precisam para suas vidas mas deixando Deus ser
Deus, isto é, dizendo mais ou menos assim: Senhor eu queria esta graça em minha
vida, mas seja feito a sua vontade e me ensine a entendê-la.

L: Como a igreja entende os casos de pessoas que passaram por um processo


e foram curadas de forma espontânea, porém não acreditam em Deus? A que
podemos atribuir esta cura?
Pe. L: Nós não conhecemos o coração das pessoas: só Deus conhece. Nossa
percepção dos outros (fulano é ateu) por vezes é equivocada. Não entendemos a
ação de Deus e a sua misericórdia. Se houve uma manifestação de graça, a sua
origem só pode estar em Deus.

L: Como identificar a mão de Deus neste processo de cura?


Pe. L: Iremos reconhecer a manifestação de Deus mediante a mudança em nossa
perspectiva acerca do mundo e da nossa religião. Nossa religião não mudou: nós é

58
que não a compreendíamos. Essa é uma questão que está sendo colocada a nós
pela Teologia das Religiões e a Teologia Pública (David Tracy e outros). Por
exemplo, como Deus salva o mulçumano, o hindu, o budista, que nunca conheceram
a Cristo? Através daquilo que são os frutos do Evangelho (amor, misericórdia,
compaixão, etc.) que viverão na sua fé. Mas para os Cristãos Católicos a salvação
está no seguimento de Jesus Cristo através também de sua Igreja.

L: Conhece algum caso de milagre de cura?


Pe. L: Conheço os casos relatados e dados como milagres pela Igreja Católica e
conheço casos no meu cotidiano de padre, geralmente restritos ao conhecimento da
família, da comunidade e do seu pároco.

L: Qual o tipo mais frequente de milagre?


Pe. L: Dos relatos que conhecemos temos mais casos de cura física.

L: Quantos milagres foram aceitos pelo Vaticano? Destes quantos são os de


cura?
Pe. L: Essa estatística é difícil. Mas pegando apenas o século XX e o início do XXI,
basta ver quantos foram os beatificados (um milagre) e os canonizados (mais um
milagre) e teremos uma idéia. Nota: os mártires não contam pois não precisam de
um milagre, acontecido por sua intercessão, para a declaração de que são santos:
conta é seu heroísmo até a morte por causa de Cristo. Sobre o tipo de milagre, a
grande maioria é de cura.

L: Quantos destes milagres foram realizados no Brasil?


Pe. L: Novamente aqui temos duas questões:
- A estatística, da qual falei acima, acerca dos beatificados e canonizados (não
mártires);
- O fato dos milagres que acabam sendo apenas do conhecimento da família, da
comunidade paroquial e do seu pároco. Falo aqui de milagres que, se aplicássemos
os critérios da Igreja Católica, seriam milagres.

59
Entrevista realizada por e-mail com a Michelle Barbosa que é graduada em
Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais.

Breve currículo:
Médica de Família e Comunidade titulada pela Sociedade Brasileira de Medicina de
Família e Comunidade.
Médica Psiquiatra titulada pela Associação Brasileira de Psiquiatria.
Trabalho atual: médica concursada da Prefeitura Municipal de Jacareí. Atuação no
Ambulatório de Saúde Mental, como psiquiatra, e no Núcleo de Apoio à Saúde da
Família, como matriciadora em saúde mental.

Luma: É possível que a mente crie uma doença física?


Michele Barbosa: Não se sabe se eh possível a criação de uma doença física pela
mente de modo consciente. De modo inconsciente, tal fato já é comprovado. O que
se sabe é que existem doenças físicas sem causa orgânica identificável, e com
gênese claramente associada a sofrimento mental.

L: O que é autossugestão?
M: É a influência de um indivíduo sobre o próprio psiquismo. O indivíduo cria e aceita
uma ideia, com mudanças de conduta ou comportamento a partir de tal.

L: É possível que a autossugestão cure efetivamente um paciente?


M: As pesquisas são contraditórias no que se refere a cura de patologias (cessação
completa da mesma) via autossugestão. Isso ocorre em parte devido ao conceito do
que é cura e em parte pelas implicações éticas de uma pesquisa adequada para tal
verificação (como não oferecer um tratamento convencional de eficácia comprovada
e expor o paciente ao risco de uma piora?) . O que há de certo é que quanto mais
um paciente se sente no controle da situação que vive, com percepção adequada
dos sinais e sintomas de sua doença, melhor é a resposta aos tratamentos. Além
disso, o sistema imunológico é claramente influenciado pelo psiquismo, donde a
crença de que um psiquismo saudável leve a um organismo também saudável.

60
L: O que é efeito placebo? Como funciona este processo?
M: É uma situação de piora, melhora, surgimento ou cessação de sintomas a partir
de uma intervenção, medicamentosa ou não, sem que a mesma apresente ação
específica sobre os mesmos.Via de regra funciona a partir de reflexos
incondicionados: há uma crença por parte do paciente sobre a intervenção a que
será submetido, e tal crença influencia o sistema nervoso. Dessa influência, vários
podem ser os desdobramentos, resultando inclusive no citado efeito placebo.

L: A mente pode curar uma enfermidade, que já foi submetida a tratamento,


mas não obteve resultados satisfatórios, ou seja, a mente pode curar mesmo
sem a intervenção médica?Como funciona este processo?
M: É difícil falar em cura pela mente quando o que está em jogo são circuitos
hormonais e neuroimunes completamente interativos com a vida psíquica. Há relatos
vários de pessoas que afirmam terem se curado pela autossugestão por diversas e
diferentes técnicas, mas não há como realizar um estudo adequado que considere o
antes e o depois em um período de tempo adequado para tal verificação, e ainda
excluindo a intervenção médico com possibilidade de riscos à saude do indivíduo. A
autossugestão reconhecidamente altera a evolução de várias patologias, mas há
que se ter cautela na afirmação "pode curar uma enfermidade".

L: O que você pensa dos casos de cura que são considerados milagre?
M: Acredito que ainda conhecemos pouco sobre o funcionamento cerebral humano,
especialmente a ligação entre psiquismo e adoecimento. Muito há que se estudar
sobre o eixo hipotálamo - hipófise, partindo-se do princípio que o hipotálamo é que
quem integra as informações do mundo externo com o mundo interno, sendo o
ponto de partida para várias alterações nos sistemas neurológico, endócrino e
imunológico. Considerando que milagre é um evento extraordinário e sem
explicações científicas, a mente é capaz de produzi-lo sim, só ainda não sabemos
como.

61
Entrevista realizada por skype no dia 05 de novembro com o médico Odir
Romero.
Breve currículo: Pós-graduado em Pediatria, Saúde Pública, Medicina do
Trabalho e Formação de Professores para o Ensino Superior. Pós-Graduando em
Auditoria Médica e de Serviços Hospitalares. Título de Especialista em Medicina
Legal e Perícia Médica (ABMLPM / AMB).

Luma: O que é cura espontânea?


Odir Romero: Cura espontânea é um processo onde, por algum motivo, a doença
regride sem tratamento científico / medicamentoso.

L: Como funciona este processo?


O: Acredito que seja devido a estímulos externos que fazem com que a pessoa
tenha sua imunidade melhorada, provocando reação favorável de combate à
doença!

L: Este processo tem ligação com o estado emocional do paciente?


O: Com certeza! (comentei no item 2).

L: Existe alguma explicação para casos de cura espontânea?


O: Sim, um bom estado de saúde mental.

L: É possível realizar pesquisas relacionadas a este tema, ou existe algum


impedimento?
O: Se for pesquisa científica, sim mediante avaliação por um Comitê de Pesquisa
de alguma entidade.

L: Qual a importância da fé neste processo?


O: Pelo mesmo motivo citado no item 3.

L: A ciência admite a possibilidade de milagre, ou existem outras


explicações para os casos de cura espontânea?
O: Com este título "milagre" acho difícil, sendo que explicaria mediante a
estimulação citada acima.

62
L: O senhor conhece algum caso deste tipo?
O: Não. Mas acredito em uma citação que diz: "O que a ciência não consegue
explicar, aparecem manifestações religiosas e/ou sobrenaturais".

L: O que seriam esses estímulos externos?


O: Seriam coisas que estimulariam positivamente a pessoa, por exemplo: alegria,
satisfação, amor, afeto, pensamento positivo, etc. Na Medicina, considera-se que
o relacionamento bom Médico - Paciente num atendimento (simpatia, educação,
etc.) é "meio caminho andado" para a melhora do paciente (o mesmo sai da
consulta mais otimista!).

63
ANEXOS
Pré-Projeto

2.- Objetivo

2.1 Objetivo Geral

Elaborar uma reportagem para revista apresentando informações sobre


casos de cura espontânea e os diferentes pontos de vista sobre a ocorrência
desse fenômeno.

2.2 Objetivo Específico

Apresentar casos de cura espontânea e mostrar quais são as explicações


científicas e religiosas para este fenômeno. Além disso, explicar as terminologias
relacionadas à temática.

3. Problema
Como explicar que pacientes com doenças graves, com prognósticos
desfavoráveis, evoluam para a cura espontânea?

4. Tema

A Cura espontânea, sob o olhar da religião e da ciência: dois pontos de vista


em relação ao fenômeno.

4.1 Título

Cura espontânea: milagre, ou ação da mente?

4.2. Hipótese

Uma pessoa pode se recuperar repentinamente de um diagnóstico


desfavorável, o que é denominado cura espontânea. Para a ciência este

64
processo está condicionado à ação da mente. Já para a religião esta reversão no
quadro pode ser caracterizada como milagre.

5- Objeto

Visões da ciência e da religião sobre casos de cura espontânea.


6 Metodologia de Pesquisa

Antes de iniciar este trabalho foi necessário definir o tipo de pesquisa que
melhor atenderia as necessidades para que o objetivo proposto fosse atingido.

O elemento mais importante para a identificação de um delineamento


é o procedimento adotado para a coleta de dados. (GIL, 1985, p. 50)

Foram aplicados questionários orais e realizadas entrevistas com pastores,


padres, médicos clínicos e psiquiatras, psicólogos, a fim de coletar opiniões em
relação a fenômenos de cura sem explicação plausível. Além desses
procedimentos, foi realizado o levantamento bibliográfico, a pesquisa exploratória
e a pesquisa documental, dando cunho cientifico ao trabalho e buscando
esclarecimentos para o problema apresentado.
O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para
problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”. (GIL,
1985, p. 26)
Com o delineamento da pesquisa, as preocupações essencialmente
lógicas e teóricas da fase anterior cedem lugar aos problemas mais
práticos de verificação. O delineamento ocupa-se precisamente do
contraste entre a teoria e os fatos e sua forma é a de uma estratégia
ou plano geral que determine as operações necessárias para fazê-lo.
Constitui, pois, o delineamento a etapa em que o pesquisador passa
a considerar a aplicação dos métodos discretos, ou seja, daqueles
que proporcionam os meios técnicos para a investigação. (GIL, 1985,
p. 49)

Como são dois pontos de vista que divergem e que em alguns momentos parecem
se fundir, foi necessário realizar um aprofundamento de ambas as teorias, para
posteriormente conversar com representantes do lado cientifico e do lado religioso, para
então iniciar o projeto prático.

65
6.1 Tipos de Pesquisa

Considerando os dois principais tipos de pesquisa, a qualitativa e


quantitativa, neste trabalho aplicou-se a pesquisa qualitativa, pois a intenção foi
levantar histórias e fatos que aconteceram e desenvolver a reportagem partindo
desses acontecimentos.
Na pesquisa qualitativa questões e problemas para a pesquisa
advêm de observações no mundo real, dilemas e questões. Elas são
formuladas como hipótese se – então (se variável dependente)
derivadas da teoria. (MARSCHALL; ROSSMAN, 1989).

Portanto como a parte prática do trabalho irá consistir em uma grande


reportagem impressa para revista, será necessário que sejam captados
personagens reais para permear a narrativa.

6.1.1 Pesquisa Exploratória

A realização da pesquisa exploratória visou tornar o tema mais familiar,


através de uma sondagem do assunto, sendo realizada antes das demais
pesquisas, com o intuito de verificar a consistência das ideias propostas neste
trabalho.

Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental,


entrevistas não padronizadas e estudos de caso. Procedimentos de
amostragem e técnicas quantitativas de coleta de dados não são
costumeiramente aplicados nestas pesquisas. Pesquisas
exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão
geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de
pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é
pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses
precisas e operacionalizáveis. (GIL, 1985, p. 27)

6.1.2 Pesquisa Bibliográfica

Após definido o tema e constatada a viabilidade da problemática proposta


,iniciou-se um levantamento bibliográfico com o intuito de buscar autores que
abordassem o tema deste trabalho, partindo sempre de algo que fosse de
alguma forma comprovado ou estudado. Neste trabalho a pesquisa bibliográfica
serviu como meio para obter conhecimento sobre o assunto.

66
A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de
permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos
muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.
[...] A pesquisa bibliográfica também é indispensável nos estudos
históricos. Em muitas situações, não há outra maneira de conhecer
os fatos passados senão com base em dados secundários. (GIL,
1985, p. 50)

A primeira leitura foi “Milagres a ciência confirma a fé” de Oscar González


Quevedo, o que foi um bom ponto de partida para o desenvolvimento do trabalho,
porque aborda a questão dos milagres de um ponto de vista da parapsicologia,
não eximindo as explicações cientificas a respeito do tema.

6.1.3 Pesquisa Documental

Para o desenvolvimento do conteúdo deste trabalho este tipo de pesquisa


foi o mais indicado. Como o tema escolhido é abrangente, foi necessário realizar
pesquisas na internet, pesquisas com pessoas que relataram experiências
supostamente milagrosas, pesquisas com religiosos e pessoas ligadas a área da
ciência.

O desenvolvimento da pesquisa documental segue os mesmos


passos da pesquisa bibliográfica. Apenas há que se considerar que o
primeiro passo consiste na exploração das fontes documentais, que
são em grande número. Existem, de um lado, os documentos de
primeira mão, que não receberam qualquer tratamento analítico, tais
como: documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos,
diários, filmes, fotografias, gravações etc. De outro lado, existem os
documentos de segunda mão, que de alguma forma já foram
analisados, tais como: relatórios de pesquisa, relatórios de
empresas, tabelas estatísticas etc. (GIL, 1985, p. 51)

7. Justificativa

Este trabalho pretende apresentar os aspectos que podem levar ao processo


de cura espontânea, que compreende a capacidade de recuperação automática
do organismo humano. Segundo Dr. Franz Alexander, psicanalista interessado
em Medicina Psicossomática a mente tem o poder de governar o corpo. De

67
acordo com esta linha de raciocínio, o poder do pensamento positivo pode ter
influência neste processo de cura.
A fé no tratamento também é um fator importante, segundo Bernie S. Siegel,
M.D. Ele explica em seu livro “Amor, Medicina e Milagres” que durante muitos
anos o efeito placebo foi considerado sem grande importância para a ciência,
porém com o passar dos anos e o desenvolvimento de pesquisas, este método
foi plenamente reconhecido. O fato de o paciente acreditar no tratamento gera
esperança e faz com que a pessoa tenha força e fé de que pode ser curada.

Entre um quarto e um terço dos pacientes apresentam melhora por


acreditarem que estão tomando um medicamento eficaz, ainda que o
comprimido contenha nenhuma substância ativa. (SIEGEL, 1989,
página 22).

O autor ainda explica que os motivos que levam o paciente a ter uma
melhora com o tratamento placebo, são que o significado da doença se altera de
maneira positiva, porque a sensação de amparo ajuda a potencializar o sentido do
domínio e do controle sobre a doença, o que faz com que os pensamentos, antes
de desesperança, passem a ser esperançosos.
Ainda nesta linha de raciocínio, Bernie explica que o placebo pode ser um
objeto que o paciente acredite ter poder curativo, como por exemplo, uma garrafa
com a etiqueta de água benta de Lourdes, que para um católico tem propriedades
curativas, ainda que ela só contenha água da torneira.

Assim os adeptos da Ciência Cristã conseguem às vezes sarar de


uma doença, pois são doutrinados para procurar a paz de espírito e
confiar numa força superior. (SIEGEL, 1989, página 22).

Esta esperança e o crédito depositado em um objeto, ou em um tratamento,


induzem a um “relaxamento” que tem a capacidade de neutralizar a tensão e,
oferece em muitos casos, a chave para o restabelecimento.
Ainda segundo este autor, a “medicina primitiva” seria na realidade muito
mais elaborada do que a nossa, quanto ao uso da mente. O que segundo ele,
não significa que devemos abandonar os tratamentos convencionais, mas que
deveríamos levar em consideração o poder curativo da mente.

68
É importante destacar que as curas psicológicas surtem mais efeitos sobre
as doenças funcionais que sobre as doenças físicas e orgânicas.

A mente pode auxiliar no processo de cura. A atitude mental positiva


antecipa o processo curativo natural. Quando a doença é causada
psicologicamente, pode haver uma reversão dramática quando a
pessoa acredita repentinamente que pode ser curada. (GEISLER,
2002, p. 231).

Portanto neste caso, estas curas consideradas psicológicas, tem o fator fé,
como um agente importante neste processo.
A falta de fé na possibilidade de cura é um grave fator limitante para
o doente. (SIEGEL, 1989, página 24).

Quando se fala em cura através da fé, podemos pensar em milagre,


portanto não necessariamente uma coisa está ligada a outra, tendo em vista que
para algo ser considerado milagroso existe um combinado de fatores que devem
estar presentes.

Curas de “fé” de doenças funcionais não são sobrenaturais. Carecem


das características do verdadeiro milagre, que são as marcas
sobrenaturais, que dão valor apologético aos milagres. (GEISLER,
2002, p. 231).

Portanto para que um fenômeno seja considerado milagre, inclusive pela


igreja é preciso que ele passe antes por uma avaliação por parte de
pesquisadores científicos, que vão estabelecer uma, série de questões que
precisam ser avaliadas antes de o objeto de estudo ser de fato considerado
milagre. Para dar inicio a pesquisa, é importante que fique claro o significado da
palavra milagre.

Milagre é uma palavra originária do latim, miraculum, que significa


maravilha, coisa extraordinária, fato sobrenatural, oposto às leis da
Natureza. (Dicionário online “Priberam”)
Milagre 1. Fato que não pode ser explicado pelas leis da ciência ou
da natureza e que se considera realizado por intervenção divina ou
sobrenatural. 2. Aquilo que se considera raro, extraordinário ou
maravilhoso. (Dicionário didático 2 ed. – São Paulo: Edições SM,
2008.)

Porém conforme as explicações anteriores, nem todo o fenômeno


extraordinário pode ser considerado milagre. Afinal, devemos considerar o poder

69
curativo da nossa mente, entre outras coisas que a ciência apresenta como
contra argumento na aprovação de um possível milagre.

Mas é certo que um fenômeno frequente, ordinário, por mais


maravilhoso que seja em si mesmo e por mais que o crente possa
ver nele a ação da Divina Providência, comum ou especial,
precisamente por ser um fenômeno ordinário não é considerado
milagre: por exemplo, a ordem e conservação do universo. Todo
milagre é extraordinário, mas nem todo o extraordinário é milagre.
(QUEVEDO, 1996, página 212)

Portanto para que este projeto tenha andamento será necessário encontrar
histórias de pessoas que passaram por um processo de cura espontânea. Após a
identificação destes personagens, o caso será apresentado para um
representante da ciência e outro da religião, com a intenção de que sejam
discutidas ambas as possibilidades, levando então o leitor às suas próprias
conclusões em relação a este processo de cura espontânea e o que ocasionou o
mesmo.

8 Modalidade: Grande Reportagem

Escolhido o tema, pensei em realizar um livro-reportagem, mas após


orientação decidi que a melhor maneira para relatar o que pretendo apresentar é
através de grande reportagem impressa, onde terei a possibilidade de reunir,
relatos e imagens que ilustrem a história, além de infográficos para facilitar a
compreensão do leitor.

8.1 A Reportagem

Segundo Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari a reportagem é um gênero


privilegiado, pois tem condições de explorar ao máximo a história e os seus
personagens.
Por isso, é a reportagem - onde se contam se narram as peripécias
da atualidade - um gênero jornalístico privilegiado. Seja no jornal
nosso de cada dia, na imprensa não cotidiana ou na televisão, ela se
afirma como o lugar por excelência da narração jornalística. E é
mesmo, a justo título, uma narrativa - com personagens, ação

70
dramática e descrições de ambiente - separada, entretanto da
literatura por seu compromisso com a objetividade informativa.
(MUNIZ SODRÉ E MARIA HELENA FERRARI, 1986, p. 9).

O objetivo da reportagem é se apronfundar no tema e trazer para o leitor o


máximo de informações relacionadas ao assunto escolhido, de forma clara e
precisa. Diferenciando da notícia que tende a ser mais factual.

Qual a diferença entre notícia e reportagem? A primeira informa fatos


de maneira mais objetiva e aponta as razões e efeitos. A segunda vai
mais a fundo, faz investigações, comentários, levanta questões,
discute, argumenta. (VILARINHO, 05/03/2013, internet)

Para o meu Projeto pretendo contar a história de pessoas que vivenciaram


um milagre em forma de grande reportagem para revista. Miniz Sodré e Maria
Helena Ferrari relatam que a reportagem é o relato de um fato, não regido pelo
imaginário, tendo então a necessidade de estar baseado em fatos.

O desdobramento das clássicas perguntas a que a notícia pretende


responder (que, o que, como, quando, onde, por quê) constituirá de
pleno direito uma narrativa, não mais regida pelo imaginário, como
na literatura de ficção, mas pela realidade factual do dia-a-dia, pelos
pontos rítmicos do cotidiano que, discursivamente trabalhados,
tornam-se reportagem. Esta é uma extensão da notícia e, por
excelência, a forma-narrativa do veículo impresso (embora a
entrevista, sobretudo o perfil, possa também, às vezes, assumir uma
forma narrativa). A reportagem constitui, assim, basicamente, um dos
gêneros jornalísticos.
(GEISLER, 2002, p.231)

71
9. Cronograma de Trabalho

JAN
FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV
2013
Pesquisa
X X X X
Bibliográfica
Coleta de
X X X X
dados
Elaboração
do projeto X X X X
escrito
Entrevistas X X X
Desenvolver a
grande X X X X
reportagem
Diagramação X X X
Apresentação X

72
Projeção de Capítulos

Capítulo 1. Análise das supostas Curas Milagrosas

1.1- Definição de Milagre

Segundo o Dicionário Didático (2008) milagre é um fato que não pode ser
explicado pelas leis da ciência ou da natureza e que se considera realizado por
intervenção divina ou sobrenatural.

1.2 – O suposto milagre

As curas que são atribuídas a milagres estão em diversas religiões, cristãs


ou não, rituais ou orações que tem o poder de regenerar ou paralisar um
processo degenerativo em que a ciência não obteve êxito são um argumento
apologético para a defesa do cristianismo, porém como estas curas não ficam
limitadas as religiões cristãs este argumento não pode ser sustentado. Já os
teístas utilizam as supostas curas milagrosas como argumento para provar a
existência de Deus aos considerarem que o poder de cura seria um dom natural
que Deus concedeu a todos os homens, independente da prática religiosa que
por ventura venham a adotar e neste ponto que vamos focar este trabalho.
Quando falamos em poder de cura, é preciso explicar, que pode ser de
origem, psicológica ou milagrosa propriamente dita.

1.3 – Curas milagrosas

Cura milagrosa é um acontecimento que contraria as leis naturais, como, por


exemplo: ressuscitar mortos, curar paraplégicos, curar cegos de nascença entre
outras coisas que ficam em um âmbito de fenômenos inexplicáveis, inclusive pela
ciência. Processos de cura que são acelerados também podem ser entendidos
como milagre, quando contrariam os prognósticos estabelecidos pela medicina.
Na bíblia é possível encontrar muitos relatos de curas realizadas por Jesus que
contrariam todas as leis naturais, além de Jesus é possível encontrar nos

73
capítulos da bíblia milagres realizados pelos apóstolos, que eram pessoas que
caminhavam com Jesus e o tinham como mestre.
No livro de 1 Coríntios, no capítulo 12, versículo 9 o apóstolo Paulo relata o
dom de cura como um dom ofertado aos humanos pelo Espírito Santo.

Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro,


pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo
Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;
(BÍBLIA SAGRADA, Almeida Corrigida e Revisada Fiel, 1 Coríntios
12.8-9).

A bíblia orienta que os seguidores que estiverem com alguma enfermidade


procurem por algum cristão que tenha mais experiência no processo de cura, e
ressalta o poder da oração, dando a entender que a cura vem por intervenção
Divina, pelo clamor que é feito para que Deus cure a pessoa que está recebendo
a oração. Na passagem bíblica de Tiago, capítulo 5 versículo 14 a 16 esta
temática é tratada de forma clara.
Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e
orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; E a
oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver
cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas
culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis. A
oração feita por um justo pode muito em seus efeitos. (BÍBLIA
SAGRADA, Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Tiago 5.14-16).

Podemos observar também que a cura pode ser tanto um dom oferecido a
cristãos específicos para a realização dos milagres, como um exercício de
autoridade espiritual sobre as enfermidades que segundo a bíblia é concedido a
todos os que seguem os mandamentos contidos no referido livro.

E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os


espíritos imundos, para os expulsarem, e para curarem toda a
enfermidade e todo o mal. (BÍBLIA SAGRADA, Almeida Corrigida e
Revisada Fiel, Mateus 10.1).

E, convocando os seus doze discípulos, deu-lhes virtude e poder


sobre todos os demônios, para curarem enfermidades. (BÍBLIA
SAGRADA, Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Lucas 9:1).

Podemos observar também que a fé necessária para a cura está na pessoa


que realiza a oração e não necessariamente no individuo que se encontra
enfermo. Dos 35 milagres realizados por Jesus apenas dois se referem à fé da

74
pessoa que estava enferma, o que é uma questão importante de se observar já
que a ciência comumente atribui o fato da cura ao psicológico do enfermo.
A cura do paralitico de Carfanaum, relatada no livro de Mateus, capítulo 9,
do versículo dois ao versículo oito e dos dez leprosos em Samaria, no livro de
Lucas, capítulo 17, versículo 11 ao19 são trechos em que a fé do enfermo é
ressaltada.

E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho tem bom ânimo,


perdoados te são os teus pecados. E eis que alguns dos escribas
diziam entre si: Ele blasfema. Mas Jesus, conhecendo os seus
pensamentos, disse: Por que pensais mal em vossos corações?
Pois, qual é mais fácil? dizer: Perdoados te são os teus pecados; ou
dizer: Levanta-te e anda? Ora, para que saibais que o Filho do
homem tem na terra autoridade para perdoar pecados (disse então
ao paralítico): Levanta-te, toma a tua cama, e vai para tua casa. E,
levantando-se, foi para sua casa. E a multidão, vendo isto,
maravilhou-se, e glorificou a Deus, que dera tal poder aos homens.
(BÍBLIA SAGRADA, Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Mateus 9.2-
8).

E aconteceu que, indo ele a Jerusalém, passou pelo meio de


Samaria e da Galiléia; E, entrando numa certa aldeia, saíram-lhe ao
encontro dez homens leprosos, os quais pararam de longe; E
levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós. E
ele, vendo-os, disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E
aconteceu que, indo eles, ficaram limpos. E um deles, vendo que
estava são, voltou glorificando a Deus em alta voz; E caiu aos seus
pés, com o rosto em terra, dando-lhe graças; e este era samaritano.
E, respondendo Jesus, disse: Não foram dez os limpos? E onde
estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus
senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te
salvou. (BÍBLIA SAGRADA, Almeida Corrigida e Revisada Fiel, Lucas
17.11-19).

Em outros oito casos, a fé não é o destaque, mas ela pode ser cogitada,
como fator determinante para o suposto milagre. A cura de um leproso, em
Mateus 8.2-4, a cura da mulher do fluxo de sangue que aparece em Mateus 9.20-
22, Marcos 5.24-34 e Lucas 8.43-48, Pedro andar sobre as águas, a cura do
cego Bartimeu, em Mateus 14.24-33, a primeira pesca milagrosa em Lucas 5.1-
11, a cura do paralítico do poço de Betesda, no livro de João 5.1-9, a segunda
pesca milagrosa, em João 21.1-11, a cura do cego de nascença, em João 9.1-7.
Já nos 24 demais casos de milagres realizados por Jesus, a fé de quem
recebeu a cura milagrosa não é referida. Em 3 casos de ressurreição não havia a
menor possibilidade de a pessoa que foi ressurreta ter exercido algum tipo de fé,

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uma vez que estava desfalecida, são eles, o filho da viúva de Naim, descrito em
Lucas 7.11-17, a filha de Jairo, relatado em Mateus 9.23-26 e a ressurreição de
Lázaro, presente em João 11.1-44.
Portanto nem sempre a cura pode ser atribuída à fé da pessoa que está
enferma, sendo considerado algo sem explicação científica.

2 . A Visão da Ciência

A nossa mente pode ser capaz de nos levar a desenvolver uma


enfermidade, Russel Norman Champlin, autor de “Enciclopédia de Bíblia, teologia
e filosofia”, reassalta que as nossas emoções negativas podem contribuir para
que um quadro de problemas de saúde se instalar.

Muitas enfermidades físicas têm causas mentais. Poderíamos frisar


emoções negativas como o ódio, a hostilidade e a ansiedade. Todos
esses estados de alma podem ter efeitos adversos. A ciência vem
reconhecendo cada vez mais essa realidade. Às vezes, quando as
pessoas corrigem o estado de suas almas, corre a cura do corpo.
(Champlin, 2002, p. 1035).

A mente do ser humano pode trabalhar a favor ou contra ele em se tratando


de saúde, tanto pode ativar o sistema imunológico e produzir melhora no quadro
de determinada doença, como também pode deprimi-lo e levar o individuo a
evolução de um quadro de degradação da saúde. Casos de cura podem
acontecer se a pessoa acreditar que um método é eficaz, ou confiar em um
terapeuta, ou em alguém que esteja desenvolvendo um tratamento, na medicina
e na psiquiatria estes casos são conhecidos como transferência positiva o
contrário também pode acontecer, no caso da piora do quadro clínico ou do
desenvolvimento de uma doença, denomina-se então transferência negativa.
O efeito placebo é um exemplo de cura psicológica e consiste em uma
substância que não contém nenhum principio ativo capaz de causar melhora no
quadro clínico do paciente, mas por ação da mente o quadro clínico evolui de
forma positiva.

O placebo engana a mente para que acredite que o alívio chegou, e


o corpo reage de acordo (Geisler, 2002, p. 228).

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Outro exemplo é o processo de convencimento mental, que pode ser
denominado como sugestão e funciona quando a pessoa passa por um processo
de convencimento mental de estar curada, na maioria das vezes isso acontece
de forma inconsciente, é um processo de autoconvencimento de que a doença
não existe.
Neuróticos e histéricos frequentemente se aliviarão de seus sintomas
pelas sugestões e pelo ministério de curandeiros carismáticos. É
tratando desses tipos que os curandeiros afirmam suas vitórias mais
dramáticas (Geisler, 2002, p.228).

Muitas pessoas podem ser capazes de realizar uma cura psicológica e isso
não tem qualquer tipo de ligação com milagre, uma vez que o milagre se trata de
algo que contraria as leis naturais. Porém esta capacidade da mente em
desenvolver um mecanismo de cura, não deixa de ser algo extraordinário.

Já que Deus nos criou como unidades de mente e corpo, ele deve
receber a glória quando essa relação maravilhosa da mente afetando
o corpo é usada para trazer cura. Mas é um exagero sério considerar
essas curas sobrenaturais (Geisler, 2002, p.229).

3. Jornalismo de Revista

O jornalismo de revista permite certa parcialidade na abordagem do assunto


escolhido e propicia uma pesquisa mais aprofundada sobre o assunto.

O texto de cinco ou seis páginas de uma revista semanal não é


neutro. Neutralidade é uma “pretensão” objetiva, comum no
jornalismo diário. Imagine como a Folha de S. Paulo, por exemplo,
escreveria sobre o assassinato de um conhecido traficante de
drogas. Pelo menos em tese, a rapidez, a padronização e a busca de
uma suposta neutralidade dariam o tom do texto. (Vila Boas,1996,
p.14).

No jornalismo de revista também é permito que o jornalista escolha o tom


que vai dar na matéria, o que diferencia o jornalismo de revista e de jornal. Na
revista é possível adotar um tom mais leve ou mais dramático, dependendo da
linha editorial da mesma, ou do foco que a revista quer dar na reportagem.

Na revista, o tom é uma escolha prévia de linguagem (humor,


tragédia, drama, tensão etc). O tom da maioria dos textos de um

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jornal passa por uma suposta objetividade e isenção. (Vila
Boas,1996, p.14).

Como o tempo para analisar os fatos antes de escrever um texto para revista é
maior, é possível e interessante para o leitor que seja feito pelo jornalista um
levantamento histórico, explicando todo o contexto para quem estiver lendo a
matéria, o que torna o texto mais interessante e agrega valor documental.

A análise e a interpretação do fato não podem prescindir do tempo e


do espaço. Não os dispense de seu projeto, esteja sempre bem
informado. Não tenha apenas informações puras e simples. Depure e
compreenda o fato. A narrativa de um texto de revista é também um
documento histórico. (Vila Boas, 1996, p.15).

3.1 O texto do Jornalismo de Revista

A linguagem utilizada na revista permite algumas brincadeiras com as


palavras e desde que sem exageros valida expressões típicas de determinadas
regiões, além disso, o uso das palavras pode ter um sentido conotativo, levando
o leitor a pensar, e tornando a leitura menos densa. Para Vilas Boas o tempo da
leitura permite esse jogo com as palavras, já que a leitura de uma revista não é
rápida como a de um jornal diário.

Na revista as palavras podem ser usadas não apenas com o sentido


que lhes atribuem os dicionários. Às vezes, é até bastante indicado
lançar mão de uma palavra que não está diretamente ligada ao
objeto ou ser ao qual dá nome. No texto diário de jornal, o valor
conotativo só é aceito em situações muito especiais, pois o
jornalismo diário precisa da padronização e da velocidade para
sobreviver. Além disso, o jornal diário é de leitura rápida, ao contrário
da revista. (Vila Boas, 1996, p.18).

Porém é bom estar atento e mesmo com essa permissividade de palavras


variadas e fora da linguagem coloquial, é importante saber dosar e usar estes
artifícios com moderação, sempre atento ao contexto, para que o texto não
empobreça ou fique vago.

Se a situação a ser narrada exige precisão, denominação concreta,


denotativa, não pense duas vezes. Evite que o “vago” ocupe um
“espaço”. A metáfora é um recurso que deve ser usado com
moderação, domínio e gosto. (Vila Boas, 1996, p.19).

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O texto para revista também permite outro artifício muito eficaz, que é o
confronto de ideias, onde duas pessoas com opiniões distintas sobre
determinado assunto podem opinar e isso pode ser colocado em destaque para
que o leitor decida qual o melhor argumento.

Confrontar as ideias, por exemplo, é muito comum e eficaz no


texto de revista, dependendo, obviamente, do contexto. Se quiser
expor o pensamento de dois parlamentares de peso sobre uma
questão polêmica, torne bem marcantes as posições políticas de
cada um deles. Isso pode ser conseguido com frases de efeito ou
entrecortadas por palavras de fundo irônico, explícito ou não. (Vila
Boas, 1996, p.19)

É importante também que o texto tenha uma escrita clara e que caminhe
com fluidez para o desfecho, o leitor não pode ficar perdido ou confuso em meio
à reportagem. A objetividade é outro fator importante, palavras que não agregam
nenhum tipo de valor a compreensão do que está sendo redigido podem ser
cortadas.

O importante é que ao longo do texto você conduza as informações


para o fechamento, tão importante quanto a abertura. Lembre-se: há
sempre uma chance de o leitor não “captar a mensagem”. Aquele
que escreve com o objetivo oculto de “ouvir o texto” está, na verdade,
se esforçando para obter uma harmoniosa melodia. O ritmo entra em
compasso com a tônica. (Vila Boas, 1996, p.30 e 31).

4. Projeto Gráfico
A grande reportagem impressa que será escrita pela autora deste projeto
será para a revista Superinteressante e seguirá a diagramação da referida
revista.
A Superinteressante teve sua primeira edição no ano de 1987, quando a
editora Abril comprou os direitos da revista espanhola Muy Interesante, lançada
no mercado em 1981.

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