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3 DE JUNHO DE 2013
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§ 1.º
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AS FONTES SOBRE GOVERNO DE SOCIEDADES ANÓNIMAS
Governação societária (corporate governance): conjunto das matérias, princípios e regras
relativas à administração e controlo das sociedades
Cabo Verde: Código das Empresas Comerciais (CEC) e Código do Mercado de Valores
Mobiliários (CMVM)
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ASSEMBLEIA GERAL/ACCIONISTA
O acionista tem direito a participar na assembleia e nela discutir e votar, desde que tenha direito a pelo
menos, um voto. Os acionistas sem direito de voto só assistem à assembleia e participam na discussão dos
assuntos indicados na ordem do dia, se o contrato da sociedade assim o determinar (artigo 410º CEC)
acionistas sem direito de voto: ações preferenciais sem voto, que em contrapartida, conferem a vantagem
que consiste no direito a um dividendo prioritário (artigo 384º do CEC)
Representação: o representante deve ser o cônjuge, ascendente ou descendente, outro acionista ou
advogado (artigo 411º do CEC)
Voto por correspondência: nas sociedades abertas, podendo tal prorrogativa ser afastada pelos estatutos
da sociedade, salvo quanto à alteração destes e à eleição de titulares dos órgãos sociais (artigo 97º do
CVMCV)
A cada ação corresponde um voto podendo (artigo 415º do CEC)
O acionista, não pode votar, por si nem por interposta pessoa, quando a lei assim o imponha ou quando se
encontre em situação de conflito com a sociedade (artigo 415º, n.º 6 do CEC): situações de conflito de
interesses não exemplificadas na lei, o que não deixa de acentuar ainda mais a dúvida sobre a extensão
dessas situações
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Participação da Assembleia Geral (direito de voto, impedimentos aos seus exercícios e regras sobre
quórum e maiorias deliberadtivas)
Princípio da unidade de voto (artigo 416º do CEC):um acionista não pode fracionar os votos ao
seu dispor para votar em sentidos diversos sobre a mesma proposta ou para deixar de votar com
todas as suas ações com direito de voto princípio aplicável acionista a acionista, podendo, por isso,
um acionista votar de forma diversa com os seus votos e com os votos de outro acionista que
represente e, bem assim, deixar de votar com as suas ações ou com as dos representados
Quórum constitutivo (artigo 414º do CEC): para que a assembleia geral possa deliberar é
necessário um quórum mínimo cujo nível varia conforme se trate da primeira ou da segunda
convocação e de matéria sujeita a maioria simples ou qualificada
Quórum deliberativo: quórum exigido para que as deliberações sejam tomadas - a regra é que a
assembleia geral delibera por maioria de votos emitidos, seja qual for a percentagem do capital social
nele representado, não sendo as abstenções contadas (artigo 417º do CEC). A deliberação sobre
alteração do pacto social deve ser aprovada por dois terços dos votos emitidos, quer a assembleia
reúna em primeira ou em segunda convocação (artigo 417º, n.º 3 do CEC) - regra não estendida às
outras situações em que a lei exige maioria qualificada
Cálculo da maioria: as acções cujos titulares estejam impedidos legalmente de votar, quando a lei
ou o contrato exijam uma maioria qualificada determinada em função do capital da sociedade não são
tidas em conta para este cálculo (n.º 4 do artigo 417º do CEC)
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Direito de Informação
Necessidade do accionista sócio estar informado para poder exercer, de forma consciente, os seus
direitos face à sociedade
Direito geral à informação (artigo 123.º, n.º 1, alínea c) do CEC,): conteúdo delimitado consoante o
contrato adotado
varia consoante a percentagem de capital detido pelo acionista ou grupo de acionistas que queira
exercer o direito em conjunto - (direito mínimo à informação - artigo 356º CEC)
As deliberações que não tenham sido precedidas do fornecimento dos elementos mínimos de
informação pode determinar a anulabilidade da deliberação (artigo 159º, f) do n.º 1 e n.º 2 do CEC)
O direito à informação para a assembleia geral consiste (artigo 357º n.º 1 do CEC):
consultar, na sede social e, desde a data da convocação da assembleia geral, todos os
documentos que devam ser submetidos à apreciação desta
requerer, no decurso da assembleia geral, todas as informações que julgue necessárias para o
completo esclarecimento dos pontos da ordem do trabalho e, bem assim, sobre as relações entre a
sociedade e as suas coligadas
Sociedades abertas: direito à informação visa a protecção público e dos acionistas financeiros
deveres de comunicação e publicação de quem atinge determinados patamares de participação,
de forma a manter os acionistas atuais ou potenciais, devidamente informados (artigos 87º a 91º
do CMVM)
dever de informação anual detalhada sobre a estrutura e práticas de governo societário (artigo
131º, n.º 1 do CMVM)
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Divulgação de Participações Sociais
Código das Empresas Comerciais: não estabelece um sistema de divulgação das participações mais
relevantes que imponha aos acionistas um dever especial de informação e divulgação
Código do Mercado de Valores Mobiliários: nas sociedades abertas é obrigatória a divulgação das
participações sociais relevantes (artigo 87º CVMVM), recaindo sobre a sociedade participada o dever de
divulgar as informações recebidas sobre as participações relevantes, a divulgar o mais rapidamente
possível e no prazo de três dias de negociação após receção da comunicação (artigo 90º do CMVM),
através de anúncios no boletim oficial da bolsa (artigo 2º do Regulamento n.º 1/2009, de 23 de
Dezembro, da AGMVM)
Em Cabo Verde, o legislador cuidou desta matéria apenas no que se refere ao caso específico das “quase
entradas” previstas no artigo 133º do CEC e está dependente de aprovação prévia por deliberação da
sociedade, precedida de verificação do valor dos bens por um contabilista ou auditor certificado,
registada e publicada, estando o fundador a quem os bens sejam adquiridos, impedido de nela votar
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ADMINISTRAÇÃO
Estrutura
Conselho de administração ou administrador único (sociedades anónimas cujo capital social seja
inferir a dez mil contos) – modelo clássico
Composição: um número impar de membros a ser fixado no contrato (artigo 421º, n.º 1 do CEC)
Os administradores, sócios ou não sócios da sociedade, devendo ser sempre pessoas singulares,
acionistas ou não (artigo 421º, nº 1 e n.º 3 do CEC)
Orgão colegial, coordenado por um presidente, exerce as suas funções mediante deliberações, reúne-
se com a presença da maioria dos seus membros, podendo estes fazerem-se representar por outro
membro (artigos 425º, 427º, 438º e 439º do CEC)
Incompatibilidades e independência
conduzir os negócios sociais de forma criteriosa, conscienciosa e cuidada, sempre com obediência
às disposições legais em vigor e ao disposto nos estatutos, ou seja, deve ser leal, jamais contrapondo no
exercício de seu poder de administração seus interesses particulares em detrimento dos interesses
sociais
os administradores devem promover e proteger o interesse da sociedade e se absterem de condutas
que lesem a sociedade
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ADMINISTRAÇÃO
os administradores não podem exercer, na sociedade ou em sociedades que com esta estejam em
relação de domínio, quaisquer funções temporárias ou permanentes ao abrigo de contrato de trabalho
ou de prestação de serviço, durante o período para o qual foram designados - vedada a designação de
trabalhadores da sociedade ou prestadores de serviços como administradores e, em caso de nomeação
para o conselho de administração, os respetivos contratos devem suspender-se, sendo retomados logo
após a cessação de funções (artigo 428º do CEC)
os administradores não podem exercer, diretamente ou por interposta pessoa atividade concorrente
com as efetivamente desenvolvidas pela sociedade, salvo autorização da assembleia geral
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ADMINISTRAÇÃO
Designação, substituição e destituição
Presidente do conselho de administração designado pela assembleia geral ou eleito pelo conselho de
administração, consoante o que determinar o contrato de sociedade (artigo 425º do CEC)
Os administradores são eleitos por deliberação aprovada por maioria dos votos emitidos ou, havendo
mais de uma proposta, por maioria relativa (artigo 417º, nº 1 e n.º 2 e 423º, n.º 1 e n.º 3 do CEC)
Estatutos podem adoptar regras que reforçam os direitos dos sócios maioritários:
permitir que grupos de acionistas apresentem listas para, em eleição isolada, ser escolhido um,
dois ou três administradores desde que nenhum desses grupos possua acções representativas de
mais de 20% e de menos de 10% do capital social (artigo 423º, n.º 4 e n.º 8 do CEC)
estabelecer que uma minoria de acionistas que tenha votado contra a proposta que fez
vencimento na eleição dos administradores, tem direito a designar, pelo menos, um administrador,
desde que essa minoria represente, pelo menos, 10% do capital social (artigo 423º, n.º 9 e 10 do
CEC)
O administrador é substituído, em caso de falta, pelo primeiro elemento eleito como suplente (artigo
424º do CEC)
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ADMINISTRAÇÃO
Qualquer membro do conselho de administração pode ser destituído em qualquer momento, por
deliberação da assembleia geral, ressalvados os administradores que tiverem sido nomeados pelo
Estado ou entidade equiparada
Destituição dos administradores não tem que ser fundada em justa causa, podendo ser feita sempre
que se perca a confiança num administrador, mesmo não tendo uma razão objetiva para o efeito
Um administrador pode ser destituição por decisão judicial, a ser requerida por acionistas que
representem 10% do capital social e desde que seja invocada justa causa
O conselho de administração pode nomear uma comissão executiva, composta no máximo de três
membros, e nela proceder a uma delegação de poderes de gestão ordinária e de representação da
sociedade, desde que haja uma previsão estatutária nesse sentido (artigo 422º, n.º 1)
Nomeação é feita em acta que deve ser publicitada através de publicação no Boletim Oficial e num dos
jornais de maior circulação no país
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Administradores Executivos e não Executivos
Delegação de poderes não exclui os poderes do conselho de administração para tomar resoluções
sobre as mesmas matérias, ou seja, não exclui a competência normal dos outros administradores
Os outros administradores são responsáveis perante a sociedade pelos actos e omissões praticados
pelo administrador delegado desde que, tendo conhecimento desses actos ou omissões, ou do propósito
de os praticar, não provoquem a intervenção do conselho para tomar medidas adequadas
Cabo Verde: a maior parte das sociedades anónimas não têm optado pela nomeação de uma comissão
executiva(a dimensão das sociedades anónimas existentes condiciona a nomeação de uma comissão
executiva)
algumas sociedades – na sua maioria instituições de crédito - abertas ou não, mas com um
capital social elevado, mais disperso e com participação estrangeira, têm optado por ter uma
comissão executiva, permitindo com esta separação que o conselho de administração tenha um
papel de monitorização da gestão
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ADMINISTRAÇÃO
Remuneração
Fixada pela assembleia geral ou a uma comissão de vencimentos composta por três ou cinco
acionistas por aquela eleitos (art. 429º, n.º 2)
Administradores, por princípio, são remunerados, podendo, no entanto, ser estabelecido o contrário
nos estatutos ou por deliberação da assembleia geral (artigo 429º, n.º 1 do CEC)
Remuneração fixa, variável ou em parte e noutra variável (artigo 429º)
Prestação de Contas
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ADMINISTRAÇÃO
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FISCALIZAÇÃO
Estrutura
Conselho fiscal composto por três membros efetivos e dois suplentes, obrigatório que um dos
membros efetivos e um dos suplentes seja contabilista ou auditor certificado ou, fiscal único com o
respetivo suplente, devendo ambos ser contabilista ou auditor certificado (artigo 440º do CEC)
Membros do conselho fiscal e os fiscais únicos devem ser pessoas singulares com capacidade jurídica
plena, não se admitindo pois a designação de sociedades (v.g. sociedades de advogados ou de
contabilidade e auditoria)
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FISCALIZAÇÃO
Competências (cont):
•Inspecionar e pedir esclarecimentos sobre os livros, registos e documentos da sociedade
•Pedir esclarecimentos ao conselho de administração sobre o curso das atividades da sociedade;
•Assistir às reuniões da administração sempre que entenda por conveniente
Reúne-se, pelo menos, uma vez por ano e as suas deliberações são tomadas por maioria, tendo o
respetivo presidente voto de qualidade em caso de empate (artigo 448º do CEC)
Incompatibilidades e independência
Fiscal único, um membro do conselho fiscal e o suplente devem ser contabilista ou auditor
certificado e, nestes casos, não podem ser escolhidos de entre pessoas que se encontrem ligadas à
sociedade, nem a nenhuma outra que com esta esteja em relação de domínio, por contrato de
trabalho ou de prestação de serviços
FISCALIZAÇÃO
Impedimentos - estreitamente ligados com as questões de independência e idoneidade, sendo
inelegíveis para exercer essas funções (artigo 441º/3 CEC):
As pessoas que exerçam funções de administradores da sociedade ou tenham ocupado essas
funções nos últimos dois anos não podem nela exercer funções de membro do conselho fiscal,
respetivos cônjuges parentes e afins em linha reta e até o terceiro grau, inclusive, na linha
colateral
Os membros dos órgãos de sociedade que se encontrem em relação de domínio ou de grupo com
a sociedade fiscalizada, respetivos cônjuges, parentes e afins em linha reta e até o terceiro grau,
inclusive, na linha colateral
As pessoas que prestem serviços remunerados com carácter de permanência à sociedade ou a
sociedade que com ela se encontre em relação de domínio, respetivos cônjuges parentes e afins
em linha reta e até o terceiro grau, inclusive, na linha colateral
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FISCALIZAÇÃO
Quadro legislativo atual não exige que o conselho fiscal seja integrado por um ou mais membros
independentes e tão pouco se determina o âmbito desta independência, embora se tenha tido o cuidado
de elencar um conjunto de situações que visam dar alguma independência a este órgão de fiscalização
A prática em Cabo Verde demonstra uma tendência para as sociedades nomearem acionistas para
integrar este órgão, o que embora seja permitido, não assegura a independência deste órgão
Nomeados no contrato de sociedade ou pela assembleia geral, por um período previsto no contrato de
sociedade, não superior a quatro anos, devendo um ser designado presidente (artigo 442º do CEC)
Em caso de impedimento: substituição por um suplente - o suplente que for contabilista ou auditor
certificado, deve substituir o efectivo que tiver a mesma qualificação e que a substituição de membros
efectivos durará até ao termo do mandato (artigo 443º do CEC)
A não substituição de algum ou alguns membros do conselho de administração no prazo de trinta dias
a contar da cessação das suas funções, permite que seja requerida a nomeação judicial pelo conselho de
administração ou qualquer acionista, a expensas da sociedade (artigo 444º do CEC)
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FISCALIZAÇÃO
Remuneração
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FISCALIZAÇÃO
Auditoria
Código das Empresas Comerciais não prevê um sistema de fiscalização externa para as sociedades
anónimas
Código de Valores Mobiliários institui esse sistema para as sociedades abertas (arigo 40º) - exige que a
informação financeira a submeter à AGMVM, a publicar no âmbito de pedido de admissão à negociação
em mercado regulamentado ou respeitante a instituições de investimento coletivo, seja objeto de
relatório ou parecer elaborados por um auditor independente
Figura não reconhecida no Código das Empresas Comerciais ficando sem resposta a sua
relação com a sociedade (nomeação, destituição, ou remuneração)
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§ 2.º
DESENVOLVIMENTOS
INTERNACIONAIS E POSSÍVEIS
FUTUROS DESENVOLVIMENTOS
DO GOVERNO DAS INSTITUIÇÕES
EM CABO VERDE
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PARA ENTENDER AS FUNÇÕES DO GOVERNO DAS INSTITUIÇÕES,
É NECESSÁRIO COMPREENDER OS PROBLEMAS DE “AGÊNCIA”
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PROBLEMAS DE “AGÊNCIA”
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OUTROS PROBLEMAS A RECLAMAR SOLUÇÕES
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FUNÇÕES DO GOVERNO DAS SOCIEDADES
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PERCURSO HISTÓRICO: GÉNESE
Principles of Corporate Governance: Analysis and Recommendations
sob égide do American Law Institute:
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PERCURSO HISTÓRICO: INTERNACIONALIZAÇÃO
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PERCURSO HISTÓRICO: REFORMISMO
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PERCURSO HISTÓRICO: REFORMISMO
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PERCURSO HISTÓRICO: REFORMISMO
Vários documentos internacionais recentes nesta área:
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PERCURSO HISTÓRICO : REFORMISMO -
OS EFEITOS DA CRISE FINANCEIRA
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PERCURSO HISTÓRICO : REFORMISMO -
OS EFEITOS DA CRISE FINANCEIRA
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PERCURSO HISTÓRICO : REFORMISMO -
OS EFEITOS DA CRISE FINANCEIRA
Novas medidas:
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SÍNTESE PROVISÓRIA: AS TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
• Vocação expansiva das prescrições normativas e recomendatórias
sobre corporate governance
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A EVOLUÇÃO EM ÁFRICA
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IMPLICAÇÕES PARA O CONTEXTO CABO-VERDIANO:
AS NOVIDADES NO ÂMBITO DO MERCADO DE CAPITAIS
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IMPLICAÇÕES PARA O CONTEXTO CABO-VERDIANO:
AS NOVIDADES NO ÂMBITO BANCÁRIO
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IMPLICAÇÕES PARA O CONTEXTO CABO-VERDIANO:
AS NOVIDADES NO ÂMBITO BANCÁRIO
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IMPLICAÇÕES PARA O CONTEXTO CABO-VERDIANO:
POSSÍVEIS TEMAS A DESENVOLVER NO FUTURO
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www.governancelab.org
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