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INTRODUÇÃO
1. Enquadramento
1.1 - O Contributo pretendido: Sempre pensei que o meu contributo para o
desenvolvimento do crioulo caboverdiano (CCV) deveria situar-se na área da escrita e
da gramática. Por isso, tomei parte no Colóquio Linguístico de 1979, onde surgiu uma
proposta de escrita fonético-fonológica; escrevi o ensaio Diskrison Strutural di Língua
Kabuverdianu, 1982, o romance Odju d’Agu, 1987 e O Crioulo de Cabo Verde -
Introdução à Gramática, 1995; tomei ainda parte no Fórum de Alfabetização Bilingue,
1989, onde começou a ganhar consistência uma nova perspectiva para o alfabeto do
CCV, a de harmonização do modelo fonológico com o etimológico; presidi a Comissão
Consultiva criada no Fórum acima aludido, para aprofundar a problemática da
mudança afabética que se impunha; presidi o Grupo de Padronização do Alfabeto e
que deu corpo à harmonização acima referida, com a proposta do ALUPEC (Alfabeto
Unificado para a Escrita do Cabo-verdiano), proposta esta avançada em 1994 e
aprovada, a título experimental, em Dezembro de 1998 (ver Boletim Oficial n.º 48,
suplemento); preparei e defendi uma tese de doutoramento sobre Le Créole du Cap-
Vert, étude grammaticale descriptive et contrastive, 1998.
Porém, a patir dos anos 90, após dez anos de algum labor linguístico, dei-me
conta de que o meu contributo para o desenvolvimento do CCV deveria ser um
triângulo linguístico, abarcando a escrita, a gramática, mas também o dicionário.
Foi assim que, em 1995, após o estudo gramatical que culminou com a
publicação acima referida, dei início a um novo projecto, o do Dicionário Elementar
Crioulo de Cabo Verde-Português.
A área da lexicografia não é um terreno onde eu me sinto à-vontade. Porém, a
carência de estudos nesse domínio, o perigo de descrioulização lexical que ameaça o
CCV e ainda a necessidade de fixar a escrita das palavras, de acordo com o ALUPEC,
convenceram-me a assumir um tal estudo. Tenho a consciência das limitações deste
projecto que levou cinco anos a ganhar forma e conteúdo - a incompletude é a
característica de todos os dicionários -, mas também tenho a consciência que o
mesmo representa um contributo significativo para a afirmação de uma língua que,
com tenacidade, tem resistido, e resistirá sempre, às ameaças da glotofagia.
2. Estrutura
3. Metodologia
A B [C] D E F G H I J L M N Ñ O P K R S T U V X Y
Z
a b[c] d e f g h i j l m n ñ o p k r s t u v x z
y
Dígrafos: DJ, LH , NH, TX
As letras têm o mesmo valor dos símbolos do alfabeto fonético internacional
(AFI), havendo algumas excepções: j tem o valor de [ʒ]; ñ é uma semi-constritiva,
velar, nasal – [ŋ]: ñanhi (roer); x tem o valor de [ʃ].
Obs.: Em txapéu o diacrítico indica a natureza vocálica e não a sílaba tónica que é
preditível. Em patrísiu usa-se o diacrítico porque a palavra, embora termine por um
ditongo, precedido de consoante, é paroxítona. Em praia e feiu segue-se a R1 já que
terminam por ditongo que não é precedido de consoante, como estipula a R6.
4. Conteúdo
4.1 – Abrangência: O projecto inicial previa um total de dez mil entradas (ver o
conceito de entrada em 1.2). Porém, acabei por atingir mais de dezasseis mil e
quinhentas entradas, tendo ficado com a consciência de o trabalho ter ficado
incompleto, já que cada dia que passa dou-me conta de que há termos que não
cheguei a registar.
Também os nomes de plantas, frutas, peixes, categorias profissionais, objectos
etnográficos, práticas religiosas e filosóficas, têm uma presença pouco representativa
na obra. Do mesmo modo, as particularidades das ilhas, outras que não Santiago e S.
Vicente, são exíguas. Os cinco anos de investigação - com a preparação de uma tese
de doutoramento pelo meio e um financiamento externo que cobriu apenas um ano de
investigação – não me permitiram ir mais longe, numa altura que não me faltavam nem
forças, nem predisposição. Trata-se, pois, de um dicionário elementar, elementar
quanto ao universo lexical do CCV, mas também elementar quanto à sua
apresentação. O objectivo de fixar a palavra como conceito existente e como forma
escrita, à base do ALUPEC – um modelo ainda desconhecido do grande público –,
exigia uma apresentação simples, económica, directa e de grande expressão visual.
Por ter usado uma escrita de base fonético-fonológica, achei que a transcrição fonética
era dispensável. O dicionário é ainda elementar dado a insuficiência de descrição ou
de contextualização dos diversos sentidos que uma mesma forma semântica pode ter.
Contento-me, pois, em ver este dicionário como uma espécie de «léxico
fundamental» do CCV, isto é, um léxico reduzido, mas que satisfaz a comunicação
corrente do dia-a-dia. Um léxico reduzido, mas que comporta um número significativo
de palavras e de expressões que corriam o risco de desaparecer ou de perder a
fonética e/ou a forma que a índole do CCV lhes imprimiu através dos tempos.
5. Visão prospectiva
«O Governo pretende (…) com base em estudos científicos que vêm sendo
desenvolvidos por técnicos competentes na matéria, fixar metas e determinar etapas,
para a oficialização do crioulo (…) ao lado do português…»
Uma outra Resolução, n.º 8/98, publicada no BO n.º 10, dizia que
«Será valorizado, progressivamente, o crioulo cabo-verdiano, como língua de
ensino».
Manuel
Veiga