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UNESP

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS

Campus de Botucatu

DISCIPLINA DE PRAGAS FLORESTAIS E


MÉTODOS DE CONTROLE

PRAGAS FLORESTAIS:
FORMIGAS CORTADEIRAS

Prof. Dr. Carlos F. Wilcken


Prof. Dr. Luiz C. Forti
Depto. Defesa Fitossanitária
FCA / UNESP

Botucatu - SP

2002
1

PRAGAS FLORESTAIS:
FORMIGAS CORTADEIRAS

1. INTRODUÇÃO:
As formigas cortadeiras, conhecidas também por saúvas e quenquéns, são
consideradas como a principal praga das espécies florestais, principalmente para o
eucalipto e pinheiros (Pinus). As formigas cortadeiras podem atacar desde mudas
novas no campo até árvores adultas e, se não forem controladas, podem inviabilizar a
formação das plantações florestais.

2. IDENTIFICAÇÃO DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES:

As formigas são insetos da ordem Hymenoptera, família Formicidae e tem


grande importância, como pragas e como inimigos naturais de outras pragas. As
formigas cortadeiras dos gêneros Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns) pertencem
à subfamília Myrmicinae, tribo Attini, tendo sua distribuição restrita à região Neotropical.
As principais espécies de formigas cortadeiras de importância florestal são:
Saúvas
• Atta sexdens rubropilosa (Forel, 1908) - saúva limão
• Atta laevigata (F. Smith, 1858) - saúva cabeça-de-vidro

Quenquéns (espécies mais freqüentes)


• Acromyrmex crassispinus (Forel, 1909) - Quenquém de cisco
• Acromyrmex subterraneus Forel, 1893 - Quenquém de cisco ou caiapó
• Acromyrmex niger (F. Smith, 1858) - Quenquém mineira-de-duas-cores
• Acromyrmex coronatus (Fabricius, 1804) - Quenquém de árvore

Os principais caracteres diferenciais entre os gêneros Atta e Acromyrmex estão


listados na tabela 1.
Outras espécies de formigas podem causar problemas aos plantios apenas
quando em altas infestações, como as do gênero Trachymyrmex.
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Tabela 1. Caracteres diferenciais entre as saúvas e quenquéns (DELLA LUCIA, 1993).


Saúvas Quenquéns
Operárias grandes (1,2 a 1,5 cm de Operárias pequenas (0,8 a 1,0 cm de
comprimento) comprimento)
Operárias apresentam 3 pares de espinhos Operárias apresentam de 4 a 5 pares de
dorsais no tórax espinhos dorsais no tórax
Coloração avermelhada Coloração marrom clara a preta
Ninhos grandes de terra solta Ninhos pequenos com pouca terra solta e/ou
presença de pedaços de folhas secas sobre
os ninhos

Os caracteres diferenciais entre as espécies são (segundo GALLO et al., 1978 e


FORTI et al., 1987):

A. sexdens rubropilosa: Operária soldado com cabeça pilosa e sem brilho e exala odor
de limão ou erva-cidreira quando esmagadas. As colônias apresentam grandes montes
de terra solta (murundum), de formato irregular, sendo os orifícios de alimentação
distantes do murundum. As formigas cortam exclusivamente folhas de dicotiledôneas.

A. laevigata: Operária soldado com cabeça brilhante e não exala odor de limão ou erva-
cidreira quando esmagadas. As colônias apresentam grandes montes de terra solta, de
formato regular (semi-esférico), sendo os orifícios de alimentação distribuídos próximos
ou sobre o murundum. As formigas cortam folhas de dicotiledôneas e gramíneas.

A. crassispinus: As operárias são semelhantes às saúvas mas de tamanho menor e de


coloração negra ou marrom escura. As colônias possuem um monte de cisco (pedaços
de folhas secas), são pouco profundos e apresentam uma única câmara com fungo.

A. subterraneus: As operárias são de coloração marrom clara a escura. Os ninhos são


grandes e bastante populosos (com 2 a 3 câmaras), cujo monte de terra solta pode
atingir até 2 m de diâmetro, às vezes recobertos por folhas secas.

A. niger: Existem operárias de coloração castanho clara e castanho escura na mesma


colônia. Os ninhos possuem apenas uma câmara, são de difícil localização e possuem
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galerias longas e sinuosas. Os orifícios são alimentação são estreitos e escondem-se


sob a vegetação. Não há montículos de terra visíveis.

A. coronatus: Constróem o ninho sobre troncos de árvores e o recobre com fragmentos


de gravetos e folhas secas.

3. BIOLOGIA E CONTROLE:

3.1. Fundação da colônia:


A formação de uma nova colônia se dá após o período de revoada das saúvas,
que ocorre geralmente com o início das chuvas, entre os meses de outubro e
novembro.
A fêmea alada, conhecida por içá ou tanajura, é fecundada em vôo por vários
machos (bitús), descendo ao solo após ser copulada, onde perde as asas. Em seguida,
a içá começa a abrir um túnel perpendicular no solo até uma profundidade de 8 a 25
cm, onde constrói uma pequena câmara. Logo após a fêmea obstrui o canal de entrada
e fica fechada até o surgimento das primeiras operárias.
Antes de sair para a revoada ou vôo nupcial, a içá retira um pedaço do fungo da
colônia-mãe e o aloja numa cavidade da boca. Após a içá se fechar na câmara que
construiu, ela deposita o pedaço de fungo no solo e começa a cultivá-lo com suas
fezes. A fêmea fica fechada na câmara por um período de 80 a 100 dias e nesse
intervalo coloca ovos de alimentação para sua nutrição e ovos férteis, que darão
origem às operárias (jardineiras e carregadeiras). Nesta fase a fêmea passa a ser
chamada de rainha e as operárias passam a cuidar da colônia, mantendo o fungo,
alimentando as larvas e limpando a rainha e elas próprias.
Após o período de 80 a 100 dias, as primeiras operárias cortadeiras - cortadeiras
retiram a terra que obstruía o canal inicial e saem para começar a cortar as plantas. O
segundo orifício surge apenas após 420 dias.
A mortalidade natural das colônias jovens é alta, sendo de 97,5 % para A.
sexdens rubropilosa. Apenas 0,05% das içás produzidas por um ninho de saúva limão
darão origem a colônias adultas.
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3.2. Castas:

A população de um formigueiro é composta por indivíduos que diferem


morfologicamente. O tamanho e idade das formigas está relacionado com a função que
desempenham na colônia.

Castas:
• Indivíduos permanentes (ápteros):
• Rainha (sexuada)
• Operárias (estéreis): - jardineiras (pequenas)
- Cortadeiras e carregadeiras (médias)
- Soldados (grandes)
• Indivíduos temporários (alados):
• Fêmeas (içás e tanajuras)
• Machos (bitús)

As colônias de saúvas possuem apenas uma rainha e, se esta morrer, todo o


formigueiro morre. As operárias soldados tem função de defesa da colônia. As
cortadeiras/carregadeiras cortam e transportam os fragmentos de folhas para o interior
do ninho. As jardineiras limpam os pedaços de folhas e cortam em fragmentos
menores. Estes fragmentos são incorporados e inoculados com fungo.
A estimativa da longevidade da rainha de A. sexdens rubropilosa é de 15,5 anos
em condições naturais. Em laboratório pode ser de mais de 20 anos. Os dados de ciclo
de vida das operárias de Atta estão apresentados na tabela 2.

Tabela 2. Ciclo de vida de operárias de saúvas (FORTI et al., 1987)


Fases Período (dias)
Incubação dos ovos 25
Larval 22
Pupal 10
Longevidade do adulto 120

A população numa colônia de saúvas é muito maior em relação à população de


uma colônia de quenquéns (tabela 3).
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Tabela 3. Estimativa da população de operárias em colônias adultas de saúvas e


quenquéns
Espécie População estimada
A. sexdens rubropilosa 5.000.000
A. laevigata 3.500.000
Acromyrmex crassispinus 270.000

3.3. Forrageamento e alimentação:


As formigas cortadeiras são geralmente ativas à noite, mas em áreas
sombreadas, como as florestas, as atividades de corte e carregamento de folhas
podem ocorrer durante o dia.
A maioria das espécies de formigas cortadeiras fazem trilhas ou carreiros
superficiais, podendo chegar até 70 m de extensão para saúva limão. As trilhas são
marcadas com substâncias químicas produzidas pelas próprias formigas (feromônios),
que servem para orientar as demais operárias até a fonte de alimento.
O processo de forrageamento é o seguinte: as operárias saem da colônia,
chegam ao local de corte, sobem na planta, cortam um pedaço de folha, carregam-no
para baixo e transportam até o ninho. Em A. sexdens rubropilosa , as operárias podem
cortar a folha e deixá-la cair ao solo e outras operárias se incumbirão se carregá-la ao
ninho.
As saúvas podem cortar desde mudas novas de eucalipto até árvores adultas,
tendo preferência pelas folhas jovens. As quenquéns geralmente atacam mudas novas
e as brotações, não sendo consideradas um problema sério em florestas adultas.
As formigas cortadeiras não se alimentam das folhas que cortam e transportam.
As folhas servem de substrato para cultivarem um fungo, sendo este fungo o alimento
das formigas. No interior do ninho, as operárias jardineiras cortam os pedaços de folha
em pedaços menores, “lambem” estes pedaços visando eliminar microrganismos
indesejáveis presentes na folha. Os fragmentos de folha, após a limpeza, são
inoculados com o fungo e incorporados ao jardim ou “esponja” de fungo.
Existem dúvidas quanto à identificação taxonômica do fungo, sendo a mais
aceita a espécie Leucocoprinus gongylophorus.
O substrato cortado é distribuído por quase todas as câmaras de fungo da
colônia, não sendo observada distribuição setorial nas colônias de saúvas.
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3.4. Arquitetura da colônia:

O conhecimento da arquitetura da colônia é muito importante para que se possa


fazer um controle eficiente.
De um modo geral uma colônia de saúvas consiste de câmaras escavadas no
solo (panelas), interligadas por canais (Figura 1). Dentro das panelas as formigas
cultivam o fungo, que além de servir de alimento para toda a colônia, também abriga os
ovos, larvas, pupas, operárias e rainha. Além das panelas de fungo existem panelas
onde as formigas depositam todos os resíduos do cultivo do fungo e os indivíduos
mortos, sendo estas câmaras denominadas de ”panelas de lixo”.

Os ninhos de saúvas são extremamente grandes sob a superfície do solo. Uma


colônia escavada de A. laevigata (saúva cabeça-de-vidro) com área de terra solta de
67 m2 apresentou 7.864 câmaras distribuídos a uma profundidade de 7 m (MOREIRA,
1996).
As câmaras dos ninhos de A. sexdens rubropilosa e A. laevigata se situam na
projeção dos montes de terra solta, o que não ocorre para a saúva parda A. capiguara
(cortadeira de pastagens), que apresenta apenas as panelas de lixo na projeção do
murundum.
Toda a terra do murundum é proveniente do subsolo escavado pelas formigas. A
deposição de terra é mais intensa nos meses que antecedem a revoada (julho a
setembro) e praticamente ausente no período entre dezembro a abril. As colônias
jovens depositam pouca quantidade de solo, sendo que a partir do segundo ano a
deposição torna-se intensa, sendo constante durante todo o ano até a colônia se tornar
adulta.
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Figura 1. Esquema de uma colônia de saúva.

4. DANOS:

As formigas cortadeiras causam danos consideráveis, cortando as folhas e


ramos tenros das plantas e ocasionando geralmente desfolhamento total das mudas e
árvores.
As saúvas são o grupo de formigas mais importante nas florestas de eucalipto e
Pinus, pois atacam desde mudas recém-plantadas até árvores adultas, com mais de 20
anos de idade, e normalmente a extensão dos danos é grande, principalmente durante
a formação do plantio (até o 1o ano). As quenquéns são consideradas problema na
fase inicial da floresta, desfolhando mudas novas e a brotação dos cepos de eucalipto,
diminuindo sua importância após o primeiro ano da floresta.
Informações da literatura citam que árvores de eucalipto morrem após 3
desfolhas consecutivas causadas por saúvas e que a perda de cepos de eucalipto
pode atingir 30 % em áreas com 200 colônias de quenquéns por hectare em média.
Outros dados mostram que um formigueiro adulto por hectare pode desfolhar 86
8

árvores de eucalipto em 1 ano, consumindo cerca de 1 tonelada de folhas (MARICONI,


1970)

5. CONTROLE:

As formigas podem ser controladas por vários métodos de controle. O controle


mecânico, que consiste na destruição do formigueiro novo com enxadão ou outras
ferramentas, e viável apenas para pequenos produtores rurais. O controle cultural,
através de aração e gradagem ou culturas armadilhas (gergelim) são pouco eficientes.
O controle biológico natural ( pássaros, besouros e formigas predadoras, tatús, etc.)
tem uma grande eficiência de controle nos períodos de revoada e fundação do ninho,
sendo que todas as tentativas do homem em manipular esse controle natural (criação
massal e liberações de inimigos naturais) foram fracassadas, ou seja, não se
conseguiu um aumento na eficiência do controle biológico natural. O controle
microbiano com fungos patogênicos às saúvas também se mostrou inviável.
Desta forma o único método de controle que o homem pode adotar para
aumentar a mortalidade das colônias no campo é o controle químico.
O controle químico implica na aplicação de inseticidas, de diferentes formas e
formulações, visando eliminar as colônias de formigas cortadeiras.

5.1. Formicidas
Os formicidas (inseticidas usados especificamente para controle de formigas)
podem ser classificados em 5 grupos:
• Pós secos - controle localizado
• Gases liqüefeitos - controle localizado
• Soluções nebulígenas - controle localizado
• Iscas granuladas - controle localizado ou sistemático
• Formulações especiais - controle localizado
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• Pós secos:

Ingrediente ativo Marca comercial Dose (g / m2) Classe toxicol.


Clorfenvinfós Birlane 50 P 30 I
Fention* Lebaycid Pó 30 - 50 III
Deltametrina K-Othrine 2-P 5 a 10 III
* Registrado só para controle de quenquéns

O modo de ação principal dos inseticidas em pó é a ação de contato, ou seja,


quanto maior o número de indivíduos que receberem o pó, maior será a mortalidade.
A aplicação dos pós formicidas é feita através de polvilhadeiras manuais,
dotadas de um tubo flexível que é introduzido nos olheiros. Deve ser identificados os
olheiros ativos, proceder a limpeza desses olheiros e efetuar a aplicação. O uso de
formicidas em pó implica em utilizá-los em condição seca, ou seja, não utilizá-los nos
períodos chuvosos, pois o pó pode se aderir às paredes úmidas dos canais e não
atingir toda a colônia. A aplicação de formicidas em pó é eficiente no controle de
formigueiros iniciais (até 1 ano de idade) de saúvas e ninhos de quenquéns. Para
colônias grandes de saúvas a eficiência é baixa.
Os equipamentos de proteção individual (EPI) necessários para a aplicação de
pó são: botas, luvas, macacão e máscara.

• Gases liqüefeitos:
Os produtos formicidas na formulação de gás liqüefeito são os de maior
eficiência no controle, porém o alto custo, o baixo rendimento da operação e a alta
periculosidade dos produtos limitam o seu uso. O brometo de metila pode ser usado
em períodos secos ou chuvosos, controlando colônias novas e adultas.

Ingrediente ativo Marca comercial Dose (ml / m2) Classe toxicol.


Brometo de metila Bromex 3a4 I
Bromo-Fersol
Bromo Flora
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Os procedimentos para a aplicação são: medir o tamanho do formigueiro,


escolher os olheiros próximos ao murundum, limpar os olheiros, introduzir a mangueira
do aparelho dosador-aplicador no canal e cobri-la com terra, virar a lata e abrir a
torneira até marcar o volume necessário, voltar a lata na posição normal e esperar
produto escoar pela mangueira, retirar a mangueira e fechar o olheiro.
Os equipamentos de proteção individual (EPI) necessários para a aplicação de
pó são: botas, luvas, macacão e máscara com filtro.

• Soluções nebulígenas:

Ingrediente ativo Marca comercial Dose (g / m2) Classe toxicol.


Fenitrotion Sumifog 70 1,0 III
Clorpirifós Lakree fogging 1,0 II
Attamig
Deltametrina Decis-fog formicida 1,0 III

O processo de nebulização é muito eficiente, podendo ser usado em qualquer


época do ano. Entretanto, exige equipamento próprio para aplicação
(termonebulizador).
Os formicidas nebulígenos também agem por contato. A fumaça contendo o
produto é absorvida pelo tegumento das formigas e causa a intoxicação.
Os produtos nebulígenos são gotejados numa câmara quente, saindo na forma
de neblina ou fumaça (misturados com óleo diesel), condensando-se na forma de
gotículas no interior do formigueiro sobre o fungo e sobre as próprias formigas,
causando a intoxicação dentro de 3 a 4 horas após a aplicação.
A aplicação dos formicidas nebulígenos consiste do seguinte: limpeza dos
olheiros, introdução da ponteira do termonebulizador no olheiro escolhido, abrir a
torneira de saída do formicida, tapar os olheiros por onde estiver saindo fumaça,
esperar 1 minuto após o fechamento de todos os olheiros e fechar a torneira e retirar a
ponteira do olheiro.
Os fatores limitantes do uso de formicidas nebulígenos são o baixo rendimento
operacional e a manutenção constante dos equipamentos.
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• Iscas granuladas:
O uso de iscas formicidas é o melhor método do controle de formigas
cortadeiras, pois possuem alta eficiência (dependendo do ingrediente ativo), alto
rendimento operacional, pode ser aplicado de forma sistemática e são de baixa
toxicidade. Além disso, a distribuição do formicida dentro da colônia é feita pelas
próprias formigas e após 72 horas do carregamento da isca aproximadamente 70 % da
população da colônia está contaminada (PRETTO, 1996).

Ingrediente ativo Marca comercial Dose (g / m2) Classe toxicol.


Sulfluramida Mirex-S 6a8 IV
Isca formicida Atta-mex-S
Formicida granulado Pikapau-S
Formicida granulado Dinagro-S
Fluramin
Clorpirifós Isca Formifós 5 a 10 II
Isca formicida Tatu
Isca formicida Attafós
Landrin-F
Pik-isca Pikapau
Iskatoks
Fipronil Blitz 10,0 IV
Diflubenzuron Formilin 10,0 IV

As iscas granuladas consistem de uma mistura de polpa cítrica, óleo de soja e


inseticida, sendo altamente atrativas para as formigas cortadeiras de folhas largas
(saúvas limão e cabeça-de-vidro e quenquéns)
O sucesso no uso de iscas formicidas implica em algumas características do
ingrediente ativo utilizado. Os inseticidas empregados nesta formulação devem ter
ação de ingestão e de forma lenta. As iscas contaminam primeiro as operárias
jardineiras (aquelas que cortam os pedaços de folhas e os “lambem”), durante o
processo de trituração e incorporação da isca. Estas se contaminam e contaminam as
demais operárias através do hábito de trocar alimento pela boca (trofalaxia) (Figura 2.)
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Figura 2 . Modo de intoxicação das operárias de saúvas com iscas formicidas através
da trofalaxia.

Após alguns dias, as jardineiras morrem e a cultura do fungo deixa de ser


cuidada. Desta forma o fungo cresce descontroladamente, fungos e bactérias
contaminantes se desenvolvem e a colônia passa a se desestruturar em sua
organização. As operárias cortadeiras / carregadeiras morrem em seguida. A rainha é o
último indivíduo a morrer.
Os ingredientes ativos que possuem esse tipo de ação são o dodecacloro e a
sulfluramida. O inseticida fipronil, na forma de isca, tem demonstrado ser altamente
eficiente no controle de formigas cortadeiras. Apesar de possuir ação de contato, é
usado em baixíssimas dosagens, mostrando apenas ação de ingestão.
Os inseticidas com forte ação de contato, como o clorpirifós, geralmente
apresentam baixa eficiência no campo, pois as operárias carregadeiras se contaminam
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rapidamente, durante o processo de transporte até a colônia e as demais operárias


podem devolver ou parar de carregar o restante da isca.
A aplicação de iscas consiste em medir inicialmente a área do formigueiro (figura
3), dosar a isca a ser aplicada e distribuí-la nas trilhas ativas, colocando à margem das
trilhas. Não se deve manusear as iscas com a mão nua, pois além se ser tóxica,
qualquer alteração no odor das iscas pode fazer com que as formigas não as
carreguem.

Figura 3. Medição do ninho para cálculo da quantidade de isca necessário para o


controle

O maior inconveniente das iscas granuladas é que não podem ser utilizadas no
período chuvoso ou com solo úmido, pois degradam-se rapidamente, deixando de
serem atrativas às formigas. Este problema é contornado através do uso de porta-
iscas. O porta-isca consiste de um recipiente que proteja a isca das intempéries. O
primeiro modelo de porta-isca consistia de um copo de papelão encerado ou plástico,
com orifícios laterais para a entrada das formigas. A isca ficava embalada por um outro
plástico fino. Neste porta-isca eram colocados de 30 a 60 g de isca. O segundo modelo
foi o micro-porta-iscas (MIPIS), que consiste de um saquinho de plástico fino, contendo
10 g de isca. Este modelo é vendido comercialmente e é o mais utilizado pelas
empresas florestais.
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Vários outros modelos de porta-iscas foram criados desde então, de papelão ou


de plástico resistente para ser reutilizável, porém de custos mais elevados. Atualmente,
está sendo lançado no mercado um MIPIS com embalagem biodegradável acrescida
de substâncias atrativas às formigas.
Os porta-iscas permitem ainda a aplicação de forma sistemática, ou seja, a
aplicação é feita sem se localizar os ninhos, distribuindo os porta-iscas por toda a área
de forma regular. Este é um tipo de aplicação utilizada em condições de cultivo mínimo
ou de sub-bosque desenvolvido, onde as colônias, principalmente às de quenquéns,
são de difícil localização. A aplicação sistemática tem um alto rendimento mas o
controle é lento.

• Formulações especiais:

Ingrediente ativo Marca comercial Dose (seg. / m2) Classe toxicol.


Bifentrina Bistar 2 II

Um novo equipamento de nebulização foi idealizado visando facilitar o controle


localizado dos formigueiros. Este equipamento consiste de um tambor ou tanque onde
se armazena uma mistura de gás de cozinha (propano + butano) e inseticida piretróide.
O gás serve de propelente, distribuindo as partículas do inseticidas dentro da colônia.
O gás fica sob pressão dentro do tanque, não sendo necessário motor ou aquecimento
do produto. Esse sistema de controle foi denominado de Aerosystem.
Os resultados preliminares mostraram uma boa eficiência no controle de saúvas,
mas os testes de campo demonstraram que o sistema é eficiente apenas para
formigueiros iniciais e ninhos de quenquéns, sendo ineficiente para formigueiros com
mais de 1 ano de idade.

As informações contidas neste item foram compiladas de GALLO et al. (1978),


FORTI et al. (1987) e DELLA LUCIA (1993).
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

DELLA LUCIA, T.M.C. (ed.) 1993. As formigas cortadeiras. Viçosa. 262 p.

FORTI, L.C.; CROCOMO, W.B.; GUASSU, C.M.O. 1987. Bioecologia e controle de


formigas cortadeiras de folhas em florestas implantadas. Botucatu, FEPAF.
Boletim Técnico, 4., 39 p.

GALLO, D., NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; BATISTA, G.C.;
BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCHII, R.A.; ALVES, S.B. 1978. Manual de
Entomologia Agrícola. Ed. Agron. Ceres, 531 p.

MARICONI, F.A.M. 1970. As saúvas. S. Paulo, Ed. Agr. Ceres. 167 p.

MOREIRA, A.A. 1996. Arquitetura das colônias de Atta laevigata (F. Smith, 1858)
(Hymenoptera: Formicidae) e distribuição de substrato nas câmaras de fungo.
Botucatu, 96 p. (Mestrado - FCA / UNESP - Campus de Botucatu).

PRETTO, D. 1996. Arquitetura dos túneis de forrageamento e do ninho de Atta sexdens


rubropilosa Forel, 1908 (Hymenoptera: Formicidae), dispersão do substrato e
dinâmica do inseticida na colônia. Botucatu, 109 p. (Mestrado - FCA / UNESP -
Campus de Botucatu).

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