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– Alexander Lowen
O CONCEITO DE GROUNDING
Quando se diz que alguém tem grounding significa que esta pessoa está conectada com o solo,
e que não se encontra “suspensa no ar”. Se a pessoa tem grounding, ela não vive “nas
nuvens”, mas está em pleno contato com a realidade. Diz-se então que esta pessoa conhece
bem o seu lugar e sabe exatamente quem é.
Na verdade estamos o tempo todo “nos segurando”, suspensos no ar, com medo de cair,
medo de falhar, medo de deixar acontecer, e de nos entregarmos aos nossos sentimentos. Em
maior ou menor grau, enrijecemos para enfrentar os desafios que nos eram difíceis de
confrontar quando éramos crianças; ou para suplantar os nossos medos, nossos terrores, ou
mesmo a dor que nos foi infligida, e que não gostaríamos de novamente sentir.
Desta forma, quando uma pessoa está altamente excitada ou carregada, sua tendência é ir
para cima, levantar vôo, e esta sensação da excitação trás consigo um elemento de ansiedade
e perigo, o perigo de cair, cuja resolução se dá quando a pessoa se sente novamente em
contato com o solo, contato físico e emocional.Verifica-se então um fluxo descendente da
energia, colocando-a em contato maior com o chão e com a realidade.
O OBJETIVO DE GROUNDING
Alguns movimentos da bioenergética têm a finalidade de levar a pessoa a alcançar este estado,
o que por certo vai fazê-la se sentir mais próxima da terra, proporcionando-lhe um incremento
no seu senso de segurança e permitindo-lhe que venha entregar-se ao fluxo da energia que
percorre seu corpo, de tal forma que ele naturalmente “deixe acontecer”.
A direção descendente do fluxo energético é o caminho para o prazer, que ocorre com a
liberação do fluxo através da descarga. Este também é o caminho para a satisfação sexual, pois
o medo de deixar acontecer bloqueia a liberdade de entrega total à descarga sexual,
impedindo que se experimente a total satisfação orgástica.
Num sentido amplo, o objetivo do grounding é ajudar a pessoa a se identificar com a sua
natureza animal, que inclui evidentemente a sua sexualidade.
A metade inferior do corpo é de natureza muito mais animal em suas funções (locomoção,
defecação e sexualidade) do que a superior (pensamento, fala, e manipulação do ambiente).
Além do mais, aquelas funções são mais instintivas e menos submetidas ao controle
consciente.
Mas é em nossa natureza animal que residem as qualidades de ritmo e graciosidade. Os corpos
rijos, todavia, não conseguem exibir esta graça devido à limitação dos movimentos em virtude
das tensões musculares.
Este deslocamento ascendente do fluxo energético pode ser invertido através dos movimentos
de grounding propostos pela bioenergética. À medida que o centro de gravidade do corpo
desce para a pelve e em que os pés servem de suporte energético, a pessoa pode sentir-se
centrada na parte inferior do abdômen.
GROUNDING E HARA
O ventre é literalmente o assento da vida. O corpo se senta na bacia pélvica. É na pelve que o
indivíduo tem contato com os órgãos sexuais e com as pernas, e é na barriga que o indivíduo é
concebido e de onde emerge para a luz. A perda de contato com esse centro vital desequilibra
a pessoa e produz ansiedade e insegurança.
Joelhos trancados, quando se está de pé, torna a parte inferior do corpo, dos quadris para
baixo, uma estrutura rígida, impedindo o indivíduo de fluir para a parte inferior do corpo e
identificar-se com ela.
O PROCESSO DE FUNDAMENTAÇÃO
Levar os sentimentos ao ventre, para que a pessoa possa sentir suas entranhas, e às pernas
para que as sinta como raízes móveis, chama-se fundamentar o indivíduo. A pessoa assentada
percebe que tem um apoio sólido no chão e coragem para se erguer ou movimentar-se como
desejar.
Estar fundamentado é estar em contato com a realidade, é ter os pés no chão, é ter bases
sólidas. Quando o indivíduo está assentado, ele deixa de agir com base nas suas ilusões, pois
não precisa delas. Por outro lado, aquele que mantém suas ilusões, se mantém nas nuvens e
assim impede sua fundamentação.
Durante todo o tempo, o ser humano está produzindo e descarregando energia. Através da
parte superior do corpo produzimos energia, pela alimentação, respiração ou estímulos
sensoriais. E por intermédio da parte inferior do corpo, descarregamos a energia, pela
movimentação, excreção ou pela atividade genital. Estes dois processos básicos de carregar
em cima e descarregar em baixo estão normalmente equilibrados.
Mas dentro do corpo também há uma pulsação energética. Os sentimentos se movem para o
alto, em direção à cabeça, quando precisamos de energia ou excitamento, e se movem para
baixo, em direção às extremidades inferiores, quando necessitamos da descarga.
A função da descarga é vivenciada como prazer, e sabemos disto pela experiência, quando
constatamos que a descarga de qualquer estado de tensão ou excitamento é agradável. Isto é
facilmente comprovável na função sexual. A incapacidade de descarregar a tensão é
vivenciada como um estado de dor. De modo igual, podemos postular que a pessoa numa
“situação suspensa” também se encontra em um estado de dor, ainda que conscientemente
ela não possa senti-la.
A “suspensão” também é um estado de tensão, mas que não pode ser percebido porque a
pessoa se amorteceu com a rigidez de sua estrutura para não sentir a dor. E tem medo de
liberar a rigidez, porque isto certamente a fará sentir novamente a dor. O “estado de
suspensão” tornou-se uma segunda natureza para a pessoa, e quando isto ocorre, ela perde
também a consciência da própria rigidez.
Então, o que a pessoa sente, é a falta de prazer na sua vida, impulsionada cada vez mais a
perseguir os objetos de suas ilusões, na forma de dinheiro, sucesso, fama, ou outro fruto de
sua ilusória percepção. Prende-se a um círculo vicioso, cada vez mais subindo em espiral, até o
colapso da ilusão, vivenciado em forma de depressão.
Quando isto ocorre, a pessoa perde o prazer de estar viva, sua respiração se torna restrita, seu
apetite míngua e o interesse pela vida diminui. Na “pessoa suspensa”, o fluxo é reduzido; na
pessoa deprimida, parece ter parado.
O fluxo oscilante de sentimento ou energia no corpo é como um grande pêndulo que faz a vida
se mover facilmente e sem esforço. No entanto, qualquer distúrbio na fundamentação – fluxo
natural da energia – é como a destruição de algumas raízes que mantêm a vida de uma árvore.
Destrua as raízes, e veja quanto tempo ela se manterá ereta e viva.
De modo igual, por exemplo, uma criança prematuramente separada da mãe teve cortado o
fluxo energético do seu crescimento como o fruto daquela árvore. Sua inclinação natural é
voltar-se para a mãe a fim de completar o processo de maturação abortado. Sem dar-se conta
disto, toda sua energia disponível será investida nesta tentativa, mas como a ligação original
não pode ser restaurada, aquela busca persistente estará destinada ao fracasso.
Conquanto esse seja o dilema da personalidade oral, a verdade é que em algum ponto de
nossas vidas, as raízes de nossas árvores sofreram algum dano, impedindo o seu crescimento
natural.
Durante toda vida ela comprometeu suas energias na luta para vencê-las, e agora ceder a tais
sentimentos equivale a um fracasso pessoal, uma derrota do ego e uma aparente perda de
integridade. Ele deseja se render, pois a luta não faz mais sentido, mas está apavorado,
sentindo-se ameaçado por um mar de emoções avassaladoras, numa viagem que precisa ser
facilitada por um terapeuta fundamentado, que já a conhece, e por isto capaz de transmitir fé
ao seu paciente.
Quando acontecem, indicam que o desejo sexual está fluindo através do corpo inteiro, e não
se limitam apenas aos órgãos genitais. São, todavia, amedrontadoras porque representam o
início de uma dissolução que irá terminar no êxtase de um orgasmo completo, mas que devido
aos bloqueios é vivenciado como uma dissolução do self, uma desintegração da personalidade,
ensejando o medo de se derreter ou de permitir-se afundar no fogo da paixão que queima
toda região do ventre e da pelve. Todos procuram esta rendição, mas estão muito temerosos
para deixar que venha a acontecer.
Ansiedade anal – Em muitas pessoas há ansiedades ligadas às funções urinárias, que devem
também ser resolvidas. Ensinaram-lhes as lições equivocadas de que essas funções podem
causar dor, vergonha e humilhação se não fossem rigorosamente controladas. Recebiam
elogios quando conseguiam controlar, e punição quando falhavam no controle, e agora não
sabem como relaxar os músculos contraídos que envolvem as aberturas inferiores do corpo.
Ansiedade de solidão – Por último há a ansiedade de ficar erguido em seus próprios pés, o que
denota o medo profundo de ficar só. Ninguém quer realmente permanecer só, pois somos
gregários por natureza, contudo, em muitas pessoas, esse medo alcança alturas irracionais.
Por causa dele farão qualquer coisa, abandonarão até mesmo sua individualidade, na crença
errônea de que aqueles que verdadeiramente ousam ser eles mesmos, assertivos em relação
aos demais, acabarão rejeitados ou no ostracismo.
O medo de ficar só, que alimenta a sociedade de massas, é provavelmente a maior ansiedade
dos nossos tempos.Todavia, a verdadeira independência reside na capacidade de estar só, pois
isto denota que esta pessoa tem possibilidade de permanecer erguida, em cima dos próprios
pés. Verdadeiro consigo, ela atrai outras pessoas, e sua responsividade é genuína, provindo do
coração. Está, por isto, muito mais apta a sentir a unidade que relaciona o homem à mulher.
Esse medo origina-se de experiências antigas infantis, quando a criança era obrigada a cumprir
a exigência de seus pais, sob a ameaça de retirada do afeto daqueles cuja missão primordial
era amá-los sem condições e protegê-los. As crianças se sentiam rejeitadas se não aceitassem
as regras impostas pelos pais, e este sentimento acompanhou-os pela vida a fora, incutindo-
lhes o medo profundo do abandono e da solidão.
Por trás da submissão há uma rebelião, que deve ser aceita, pois só através dessa rebeldia ele
consegue mobilizar os sentimentos que o libertarão. Mas ele precisa ultrapassar a rebeldia, e é
com a fundamentação dos sentimentos em seu corpo, em contato com sua sexualidade
animal, e colocando-o no chão a que ele pertence, é que se restaura a sua posição na família
dos homens e no reino da natureza. Restaura-se a fé básica que sustentou os seus antigos
ancestrais, a fé de que ele foi feito para este mundo e de que o mundo foi feito para ele.
Embora a respiração sadia, em grande parte, seja inconsciente, é através das sensações do
corpo, que surgem de uma respiração profunda e completa, que nos tornamos conscientes da
pulsação viva de nossos corpos, e nos sentimos unidos a todas as criaturas vibrantes de um
universo em pulsação.
Mas para atingir esse estado de unidade, a respiração deve ter uma qualidade abdominal
profunda.
A onda respiratória se inicia de dentro do ventre, no centro vital, e se move para cima em
direção à garganta e a boca, produzindo uma inalação. Em seguida, procede na direção oposta,
resultando numa expiração.
No curso do seu movimento, estas ondas podem ser observadas passando pelo corpo, como
movimentos completos e livres, se houver liberdade do fluxo da energia, ou como restritos e
espásticos, se as áreas de tensão bloqueiam as ondas, distorcendo a percepção da pulsação.
Ventre – Ventre flácido e nádegas apertadas são responsáveis por poucos movimentos
abdominais durante a respiração.
Tórax – Na metade superior do corpo, uma parede torácica rígida reduzirá as sensações nesta
parte do corpo, principalmente as sensações e sentimentos associados com o coração, o qual,
fechado numa caixa rígida, não conhecerá o amor livre, mas restrito e confinado.
Crânio – Há um anel de tensões pressionando a base do crânio, que podem ser palpáveis na
espasticidade dos pequenos músculos occipitais. Na frente da cabeça podem ser palpáveis na
dureza da musculatura que movimenta a mandíbula, afetando a sua mobilidade, de tal sorte
que é mantida numa posição retraída ou proeminente.
Costas e pernas – Espasticidades nos músculos longos das costas e das pernas criam uma
rigidez corporal que perturbam as ondas respiratórias e bloqueiam o fluxo livre e completo da
excitação no corpo. Além dessas, há áreas de colapso no corpo onde um padrão de rigidez
apertada se quebrou sob o stress. Essas áreas de rigidez são barreiras poderosas para o fluxo
do excitamento e dos sentimentos.
Toda conduta terapeuta que pretende fundamentar uma pessoa deve efetuar uma liberação
significante dessas tensões musculares. Na análise bioenergética isso acontece fazendo a
pessoa a voltar a ter contato com suas tensões, isto é, ajudando-a a percebê-las.
Pode-se pedir ao paciente para fazer certos movimentos expressivos que irão ativar as áreas
imobilizadas, ou pode-se produzir uma pressão seletiva nos músculos tensos para produzir
uma liberação imediata.
que papel a tensão exerce na economia energética do corpo, ou seja, como ela age para evitar
os sentimentos e as excitações?
Para alcançar o objetivo terapêutico de liberar essas tensões não apenas temporariamente,
torna-se imprescindível uma compreensão das suas origens. O paciente deve entender a
relação de suas atitudes corporais – seus padrões de tensão – com as experiências de sua vida,
especialmente com as da infância.
Finalmente, em certo grau, devem ocorrer fenômenos reativos. Os impulsos bloqueados pela
tensão muscular devem ser expressos dentro do ambiente controlado da situação terapêutica.
Assim, os pacientes devem ser encorajados a vocalizar suas negativas ou gritar suas
hostilidades contra seus pais quando essas ações são pertinentes com seus sentimentos, sob a
condição de que este comportamento não será feito na vida real.
Não se tenha a impressão de que o trabalho terapêutico para fundamentar o paciente limita-
se ao aspecto físico do seu problema. Os aspectos psíquicos exigem tanta atenção como seus
correspondentes físicos; melhor será que o tempo terapêutico fique igualmente dividido entre
esses dois lados.
Toda modalidade válida de psicoterapia tem seu lugar no arsenal de um bom terapeuta. A
análise bioenergética se distingue pelo fato de ter uma orientação corporal, que fornece uma
base visível e objetiva tanto para as observações de diagnóstico como para os progressos
terapêuticos.
À medida que os padrões de tensão são reduzidos, pode-se ver rapidamente a diferença no
corpo do paciente. Uma luminosidade marcante do rosto e dos olhos indica um fluxo maior de
energia e excitamento. Mais cor e calor nos pés indicam não apenas melhor circulação, mas
denotam uma carga de energia bem maior naquela área. As pernas deixam de ser apenas
órgãos passivos usados apenas para sustentar o tronco, para tornarem-se órgãos ativos de
relacionamento. Restaura-se a mobilidade natural da pelve, abrindo sua conexão com as
pernas. E a onda respiratória pode ser vista passando por todo o corpo em direção às pernas.
No lado subjetivo o paciente relata estar sentindo suas pernas e pés de uma forma nova e mais
vital. Sente que está dentro “deles”, e não apenas em cima deles. Torna-se consciente do seu
contato com o solo e se sente mais enraizado, ligados aos seus corpos, à sua sexualidade e ao
chão.
Segundo Lowen, esta ligação não é um ideal de saúde, mas o mínimo de saúde, visto que a
ausência desta conexão equivale a não estar fundamentado, indicando uma patologia em nível
corporal que restringe a alegria, o prazer e a vitalidade do ser humano.
EXERCÍCIOS DE FUNDAMENTAÇÃO
Posição de orientação
Fique erguido com os pés paralelos, separados aproximadamente uns 15 cm., e incline os
joelhos para que o peso do corpo se equilibre entre o calcanhar e a ponta do pé. O resto do
corpo deve estar ereto, com os braços caindo relaxados, os pés descalços.
A boca deve estar ligeiramente aberta, a barriga solta, e os movimentos respiratórios (sem
forças) devem se estender dentro do ventre. As costas eretas, sem rigidez. nádegas e pélvis,
soltas e livres.
O propósito do exercício é fazer você entrar em contato com suas pernas e pés; por isto,
preste atenção em seus pés e tente manter seu equilíbrio entre os tornozelos e as pontas dos
pés. Se ocorrerem tremores involuntários, lembre-se de que eles são expressão do fluxo de
sensações em seu corpo. Permita-os enquanto for confortável. Sinta seu corpo e procure
vivenciar sua vitalidade. Em seguida, faça o movimento nº 2.
Vibração ou grounding
Nesta postura, os pés são colocados aproximadamente 25 cm. de distância entre um e outro,
com os dedos grandes ligeiramente voltados para dentro. Com os joelhos flexionados, abaixe-
se até que as pontas dos dedos das mãos toquem o chão, apenas como apoio, pois o peso do
corpo deve recair sobre a perna e os pés.
A boca deve estar aberta, e a respiração deve se desenvolver fácil e completamente. O peso
do corpo deve cair no espaço entre o calcanhar e a parte arredondada do pé. Mantendo a
ponta dos dedos no chão, estique os joelhos gradualmente até que alguma vibração se
desenvolva nas pernas.
Mantenha a postura por 2 minutos ou mais, sem que se torne estafante ou dolorosa. Se
ocorrerem parestesias, é sinal de que você está respirando mais profundamente do que o
habitual. Elas desaparecerão com a prática continuada da postura.
Equilibre-se em uma perna só e dobre o joelho o máximo possível sem tirar a sola do pé do
chão. A outra perna deve estar estendida para trás, fora do chão. Os braços, estendidos para
frente, apóiam-se levemente em duas cadeiras colocadas paralelamente à pessoa. As cadeiras
são usadas para ajudar o equilíbrio, não como apoio. No chão, à frente do paciente, coloca-se
um cobertor dobrado.
Você pode sentir medo de cair, embora não esteja submetido a um perigo real. Pode lutar para
manter-se na postura indefinidamente ou pode cair prematuramente, como um ato de
vontade, e não uma rendição. Ou pode ir se aproximando gradualmente do chão. Em qualquer
caso, você deve observar o que realmente lhe acontece, ou discutir a ação com o seu
terapeuta.
Posição muçulmana
Permaneça no chão sobre os dois joelhos, com as mãos estendidas, juntas e espalmadas, a
testa apoiando-se nas mãos, em postura muçulmana.
A extremidade inferior deve ser empurrada para trás o máximo possível, permitindo que a
respiração se desenvolva na cavidade abdominal. Relaxe os glúteos e ânus.. Fique na posição
por dois minutos para sentir o ventre solto e os efeitos do relaxamento.