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O campo eletromagnético que sustentamos a poucos palmos de distância do nosso

corpo está, de certa forma, impregnado pelas impressões deixadas por nossas ações, falas e
pensamentos, como se esses adquirissem alguma forma extrassensorial e orbitassem ao redor
de nosso corpo, após emitidos. Como já dito na literatura espiritual, existem pensamentos que
carregados de afeto adquirem uma forma, tornando-se uma forma-pensamento, a qual cresce
conforme as alimentamos diariamente com novas emissões de comportamentos, falas ou
pensamentos. Quando nos aproximamos das pessoas, além de nos aproximarmos de seu
corpo físico, entramos em contato com esse campo e suas formas de pensar e sentir, nesses
encontros surgem afinidades e desavenças entre os diferentes seres.

Logicamente, essa interação está alinhada com as nossas falas, expressões corporais e
até mesmo com a interação bioquímica microscópica dos feromônios, que não se restringem
apenas aos sexuais, pois também existem, por exemplo, os de agregação, de alarme e de
ataque. Complementando o todo das diferentes interações que surge do encontro de dois ou
mais seres.

Algumas pessoas tem uma maior sensibilidade para captar essas formas-pensamento,
o que pode se tornar, inclusive, algo difícil para a pessoa manejar, por existir um contato
imediato muito íntimo com algumas pessoas e até mesmo um compartilhamento dos dramas
pessoais de cada um, que a pessoa tem que lidar além do seu próprio. Essa empatia excessiva,
paradoxalmente, pode tornar a pessoa mais difícil de se conviver, por essa apresentar
comportamentos arredios ou de isolamento por alguns momentos, devido à sua inabilidade
para lidar com tantos estímulos.

A pessoa que desenvolve essa sensibilidade, no início, tende a evitar locais com muitas
pessoas e ambientes que possuem uma atmosfera negativa, que é ‘negativizada’ devido às
atividades que acontecem no local, e as formas como as pessoas pensam e sentem nesse
ambiente. Mas conforme a pessoa “limpa” esse campo energético, através do cultivo de
pensamentos, emoções e ações positivos, ela se sente mais à vontade para experienciar o
campo energético dos outros, pois o maior conflito surge quando pensamentos diferentes,
mas que estão carregados com uma carga afetiva negativa semelhante, se encontram.

A princípio pode parecer uma forma maniqueísta de cunho religioso a definição entre
a carga positiva ou negativa dos afetos; mas, simplificando, isso é apenas o tipo de sentimento
gerado, dentro de uma dualidade, pela ausência ou a presença de algo que faz parte das
demandas do nosso ser emocional, a princípio. O que necessitamos que exista e esteja
presente em nossa vida emocional? Basicamente o amor, que envolve o aconchego, a
aceitação, o amparo, a proteção, assim como necessitamos, em uma significativa parte da
vida, de satisfação sexual, que afeta o nosso ser nos mais diversos níveis, e também das
necessidades físicas que são essenciais para a manutenção da vida; alguém que está com fome
e sem alimento, por exemplo, desenvolverá uma emoção desagradável em relação a isso, ou
seja, o biológico está intimamente correlacionado com o emocional.

Essa presença de algo que necessitamos está correlacionada a, enumerarei algumas


que consensualmente são consideradas básicas para uma vida satisfatória; pertencermos a
grupos que sustentem laços emocionais mais profundos e nos quais sejamos reconhecidos e
amparados (falta disso no capitalismo, competição, inveja)(pode ser a família, um grupo de
amigos e/ou relações em um nível mais comunitário), assim como o fato de possuirmos um lar
acolhedor e uma vida saudável, com tudo que isso implica, e até mesmo uma interação com as
outras formas de vida do planeta (passar momentos em meio a natureza, interagir com plantas
e animais). Teoricamente, diante da presença desses fatores, todas as necessidades básicas de
um ser humano estão supridas, consequentemente, emitimos pensamentos positivos, pois o
que necessitamos está presente, aquilo que sentiríamos como falta se não estivesse ali; diante
desse quadro, nós pensamos, agimos e sentimos como se o universo fosse um lugar
abundante, que supre nossas faltas, desenvolvemos um sentimento de gratidão, o que
desencadeia uma atitude de segurança, tolerância e generosidade, pois sabemos que não
faltará aquilo que nos é importante. O oposto seria a ausência de algo, desde algo relacionado
às necessidades fisiológicas mais básicas (como a alimentação e um lugar adequado para
dormir), até as demandas emocionais de atenção e afeto, o que vai gerar um sentimento de
falta, carência, incapacidade, que pode desenvolver outros sentimentos como a mágoa, inveja,
depressão e até despertar impulsos agressivos dirigidos para a violência e/ou competição, pois
sentimos que o outro tem e nós não temos, então temos que brigar por aquilo que queremos
ou nos ressentimos por não ter.

O parâmetro de necessidades varia para cada pessoa e cada cultura, sendo cada uma
priorizada em detrimento de outra nos diversos casos. Por exemplo, na sociedade do
consumo, a aceitação social se tornou uma demanda altíssima para o indivíduo, mais
importante do que uma vida saudável, ao contrário dos esquimós, que sobrevivem da caça e
têm que possuir um corpo saudável para sobreviver às intempéries do Circulo Polar Ártico. Um
esquimó, a menos que esteja fora de suas raízes culturais, não desenvolverá um sentimento de
falta por não possuir uma roupa de marca ou um par de óculos escuros que está na moda,
porque isso não faz parte de suas necessidades fundamentais, o seu sentimento de
pertencimento a um grupo está estruturado em outros valores, para o esquimó seria mais
desamparador sentir que não está mais forte o suficiente para caçar.

Segundo a Psicanálise, nunca curaremos esse sentimento de falta, pois essa falta é
uma saudade inconsciente da época que éramos apenas uno com nossas mães, época que não
tínhamos necessidades, nem desejos, tudo chegava prontamente a nós pelo cordão umbilical,
sem o nosso esforço, tínhamos calor e alimento, não precisávamos nem respirar, tínhamos
todas nossas necessidades satisfeitas de forma imediata; mesmo que faltasse para nossas
mães, éramos primeiro atendidos. Já os espiritualistas, dizem que sentimos saudades das
estrelas, quando vivíamos em planos superiores, fora da prisão da carne e da matéria, quando
éramos livres de verdade; um psicanalista, provavelmente, diria que isso é um mito que
representa a fusão originária com a nossa mãe na gravidez, mito semelhante ao do Jardim do
Éden, referindo-se a um período de satisfação ilimitada e sem desejos não satisfeitos, um
eterno estado de gozo.

A Psicanálise também nos indica que o desejo é que move o sujeito, ele que nos torna
vivos, desejamos algo porque algo nos falta e devemos ir atrás daquilo que condiz com o nosso
desejo; o desejo pode ser realizado, mas nunca satisfeito, porque a satisfação plena não existe,
a realização de um desejo desencadeará outro desejo que manterá o sujeito em uma busca
constante. O processo analítico visa que esse sujeito assuma os seus verdadeiros desejos, e
não viva os desejos de outros, pois frequentemente o sujeito molda seus sonhos através do
que seus progenitores almejam para ele ou na busca de pertencimento a um grupo, e até
mesmo para agradar o parceiro amoroso.

Dentro dessa perspectiva psicanalítica, pode parecer um absurdo as religiões e


filosofias orientais que buscam cessar o desejo, como o budismo, e que valorizam uma vida de
renuncia aos prazeres da vida material, para viver na natureza selvagem ou templos, como os
sadhus que vivem por toda Índia e Nepal como ascetas, se dedicando apenas a prática
espiritual. Essa busca espiritual seria uma forma de buscar a plenitude, a sensação da presença
e se desprender das necessidades de nosso corpo físico e emocional, o que se torna um
caminho extremamente austero para alguns dos ascetas, que buscam aprimoramento através
de rigorosas privações, inclusive de alimentos, fazendo longos jejuns e com usando poucas
vestes no interior das florestas ou em peregrinação.

Vivendo em uma sociedade que está constantemente cultivando ideias relacionadas à


falta, acredito que temos algo a aprender com os sadhus, pois a maioria das necessidades do
ser humano globalizado são criadas pelo próprio sistema que ele vive e estão dissociados da
real necessidade por trás daquela demanda, um sempre querer mais. O ser humano se frustra
por não suprir necessidades artificiais, que são irrisórias para o desenvolvimento do nosso
bem-estar pessoal, e inclusive colocando em risco seu próprio bem-estar em nome de uma
necessidade fabricada, que não vai supri-lo por muito tempo. Como exemplo, temos a
excessiva acumulação de riquezas e o exagero de tempo gasto em trabalho por uns, pois essa
atitude afeta diretamente os laços sociais do indivíduo e a sua saúde, na busca de uma suposta
segurança que o dinheiro poderia trazer, mas essa incessante busca obstinada por crescimento
pessoal muitas vezes traz um enfraquecimento dos laços emocionais e uma fragilidade do
corpo, o que afetará diretamente o seu sentimento de segurança e amparo na vida, diante da
ilusão que o dinheiro atrai amigos e assegura o bem-estar físico porque paga um bom plano de
saúde.

O dinheiro é um tema sempre polêmico, considerado por alguns como o “mal da


humanidade”, por outros como o “mal necessário”, independente da questão de o dinheiro
ser ou não algo com um valor intrínseco negativo, necessitamos dele para suprir algumas
necessidades vitais, a maioria de nós pelo menos. A quantidade que necessitamos é
questionável, pois no pensamento coletivo, em sua maioria, a relação é que quanto mais
dinheiro eu tenho, melhor, o que não é uma verdade, como já indica estudos que a partir de
uma quantidade ganha de dinheiro, o bem-estar e a qualidade de vida não sofrem melhorias,
podendo até decair de acordo com a relação do indivíduo com a sua fonte de renda.

CAPITALISMO

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