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Rio

São
Francisco
~ singularidades ~
Caio Alves
Este fotolivro recebeu incentivo do
EDITAL CRIAÇÃO, FRUIÇÃO E DIFUSÃO DA
LEI ALDIR BLANC PERNAMBUCO - 2ª EDIÇÃO - LAB PE 2021
Caio Alves

Rio São Francisco


singularidades

1ª edição

PETROLINA-PE
2022
Fotografias e texto de apresentação Caio Alves
Projeto gráfico e capa Caio Alves
Revisão Jonalva Paranã
Incentivo Lei Aldir Blanc Pernambuco
Governo de Pernambuco
Fundação do Patrimônio, Histórico e Artístico de Pernabuco (FUNDARPE)
Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco (SECULT-PE)
Secretaria Especial da Cultura
Ministério do Turismo
Governo Federal

Petrolina-PE, 2022.
Direitos reservados aos autores dos textos e imagens.

@caioalvesfotografia

Este fotolivro recebeu incentivo do Edital Criação, Fruição e Difusão do Prêmio de Cultura
Lei Aldir Blanc - 2ª Edição - Pernambuco (LAB PE).
Apresentação
O Rio São Francisco, por onde passa brota culturas,
manifestações e afetos. Viver em suas margens
desperta mistérios relacionados ao sentir, explorar e
inspirar o bem viver.

Por passar por muitos cantos, o Velho Chico também


representa diversidades e singularidades de existir e
expressar. O Opará se tornou marco importante para
como penso e sinto a arte, a poesia e a fotografia.

A ideia do projeto nasceu de observações e conversas


com pessoas de diferentes idades e gêneros sobre a
ligação que elas também constroem com o Rio São
Francisco. A maneira que falam como o Rio influencia
no dia-a-dia tem um encantamento e enraíza o modo
que elas se percebem no mundo.
Caio Alves Bom, acho que é isso! Eu não gosto muito de ficar me
descrevendo ou falando o que faço. Até que saiu
algumas palavrinhas aqui.
Ribeirinho nascido e criado em Juazeiro, norte da
Bahia, cidade que faz divisa com Petrolina, Sertão de
Espero que gostem desse novo trabalho. Um trabalho
Pernambuco. Entre as duas cidades passa o Rio São
construído coletivamente. Agradeço a todas, todos e
Francisco. É nesse ambiente que fui crescendo e
todes por essa construção.
conhecendo o mundo - uma parte dele. Há 6 anos
tenho Petrolina como morada.

Tenho 31 anos, e além de um ribeirinho que passa


horas na Orla contemplado as águas do Velho Chico,
sou Jornalista, Fotógrafo e Artista Visual. Também
desenvolvo trabalhos com autorretratos – onde venho
me dedicando com novas formas de expressar meus
sentimentos.

Esse é o terceiro fotolivro que estou lançando. No mês


de abril de 2021 lancei a "A cidade que me acolheu:
Petrolina em colagens e fotografias" e "Beira de Rio:
um olhar para o Velho Chico", onde faço um convite
para que todos, todas e todes admirem – nem que seja
por alguns minutinhos – a beleza que o Rio São
Francisco proporciona.
Dedicado à Aurora Opará.
Sebastião Barbosa
Seu Sebastião parecia que estava a fim ser fotografado. De longe, em uma
sombra de árvore ficou olhando o meu movimento e depois parou bem na
frente da cena, em que eu estava fotografando. Acabei fazendo alguns cliques
meio sem ele perceber – eu acho que não estava percebendo.

Depois sentou em uma ponta de barco e começou a conversar comigo.


Contou sobre a sua vida e da história de uma pedra – onde tenho costume de
ficar sentado nas minhas visitas ao Velho Chico – que fica na margem do Rio
São Francisco, próxima a Orla de Petrolina (PE).

Segundo ele, a pedra era ponto de encontro de outros pescadores, e quem


tomava conta do espaço era o pescador “Zezé de Felipe”.

“Ali era um encontro, um lugar calmo... e quando passo por ali vejo aquela
pedra e lembro de Zezé”, contou ‘Seu’ Sebastião.
~ renovação ~
Luíza Lopes
27 anos.
Umbandista.
Natural de Salgueiro-PE e mora em Petrolina-PE.

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‘‘Minha relação com as águas...

Olhe, pra ser sincera, o que eu sinto é um mix de


emoções, sabe?! Me sinto leve e renovada. O Rio
São Francisco é um lugar muito sagrado, é uma
segunda casa, é onde eu me sinto livre e onde
renovo minhas energias. Estando nele é onde
consigo ter uma conexão maior com os orixás - em
especial Iemanjá e Oxum. O Velho Chico... é onde
encontro minha paz.’’
~ conexão ~
Dayane Marques
23 anos.
Pedagoga.
Natural de Belém do São Francisco-PE.

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‘‘Quando eu entro no rio
É como se todas as partes de mim
Voltassem a se realinhar
É uma sensação inexplicável
Mas que desperta em mim uma enorme conexão
E um sentimento de conforto
Como se de certa forma
O rio fosse uma de minhas moradas.’’
~ nascer~
Jackson Vicente
27 anos.
Ator, Diretor e Produtor Cultural.
Natural de Petrolina-PE.

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‘‘Sou ribeirinho desde criança. Morei na
Caatiguinha, zona rural de Petrolina-PE, e sempre
tive um contato com o rio muito forte: seja pra
comer, colher, nadar e beber. Usava o rio como
forma de brincadeira e manifestação poética. Em
suas margens, eu fazia ‘coisas’ de barro e criava
filmes na minha imaginação.

E toda essa organização energética do corpo, eu


trouxe para o teatro. É graças aos saberes e as
vivências que tive no Velho Chico.’’
Jéssica Moreira
28 anos.
Nutricionista e desenhista/artista plástica.
Natural de Petrolina-PE.
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‘‘Minha relação com o Rio São Francisco tem

~ muito a ver com toda a minha vivência nesse lugar.


Eu cresci indo para o rio, somente anos depois,
descobri uma aproximação, e é difícil definir com
palavras o que sinto quando estou aqui... aqui no

renovação Rio.

Mas eu sinto uma necessidade de me recarregar


nele - o Rio. É como se eu precisasse abastecer meu

~ intimo com algo que encontro aqui. Eu não sei


definir o quê.

Isso tem uma relação muito grande com minha


arte. Gosto de pintar o Rio São Francisco e
destacar de onde eu vim. E quando eu destaco
pintando é gratificante, prazeroso e me preenche.

Isso tudo está ligado as minhas lembranças e os


momentos em que vivi nele’’.
~ encontros ~
Manuela ‘Manu’ Conceição
19 anos.
Graduanda em Ciências Sociais.
Natural de Juazeiro-BA.

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‘‘A palavra que escolhi - encontros - reflete muito o
que a gente é no mundo, sobre o que a gente é em
contato com o Rio São Francisco. Um contato
baseado em encontros e afetos. Penso muito nisso
quando penso no Rio. Talvez não seja um
encontro no espaço coletivo, mas também em um
encontro individual.

Um encontro onde a gente possa realmente


desaguar , em todos os sentidos da palavra. E que
esse desaguar seja íntimo, seja leve, mas também
que seja nosso, que flua dentro de cada um e uma.

O Rio promove isso na gente. O encontro das


águas, o encontro das pessoas e o encontro da
gente com a agente mesmo’’.
~
ancestralidade
~
Alinne Café
29 anos.
Formada em História e trabalha com Educação
Infantil.
Natural de Juazeiro-BA e reside em Petrolina-
PE.
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‘‘A Ilha do Fogo é um local que freqüento muito. É
um espaço que tem essa conexão com o Rio. Um
Rio que representa tanto para a nossa região. A
maioria das pessoas tem uma relação afetuosa com
o Velho Chico, com a natureza, com a nossa
ancestralidade, e que remete a muitas energias
boas. É um encontro com muitas energias boas.

Remeter uma força que está aqui há tanto tempo, e


que tá ligada de onde nos viemos. E o Rio é um ser
vivo... o Rio é um ser vivo!’’
Jonalva Paranã
32 anos.
Psicóloga.
Natural de Petrolina-PE.
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~ ‘‘O Velho Chico me remete a continuidade na


experiência de ver e pensar sobre o curso de suas
águas. Em seus caminhos, como na vida, há

continuidade
nascimentos, renascimentos, mortes, pulsão,
necessidades de contornos, barreiras, desvios,
sombra, escuridão, luz, calmaria, tempestade.
Estar na beira do Rio São Francisco e sempre um

~ momento de conexão com quem veio antes, é uma


ferramenta de comunicação e discernimento, as
águas estão ali, elas ensinam sobre a abertura de
vislumbrar a beleza da continuidade da existência.’’
Hemilly Ranna
20 anos.
Graduanda em Geografia.
Natural de Petrolina-PE.
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~ ‘‘O brilho do sol transparece nas águas do Rio são


Francisco, ele ilumina esse pequeno mundo que
chamo de Petrolina.

transformação
Com árvores e rochas a sua margem, uma água que
vem e vai, que leva e transporta, não apenas
sedimentos de rocha.
Como tudo observo e tudo vejo, tudo é um grande

~ ciclo, ciclo que transforma, em que um dia é


flexível como uma rocha subversiva tão quente
como larva, em outros resistentes e duras com uma
montanha.
Mas a água leva tudo, a água transforma sem você
ver, ela faz a rocha das mais duras se modificar com
o seu simples balança.
O vento traz sementes que a princípio são
pequenas, mas como tudo é ciclo elas crescem e se
apropriam de espaços antes inexistentes.
Há, e as flores que são tão linda e cheias de vida,
elas brotam entre as rachaduras das rochas, elas
são vida e beleza a onde não deveria se ter nada,
mas elas existem e persistem.
Há, mas e o homem? O homem é ágio mais rápido
do que a natureza em sua transformação.
Ele leva, ele modifica ao seu bem favor, ele replica
é assim que é o homem.
Mas o tempo também transforma o homem e no
fim ele também vira pó.
O que um dia foi gigante, hoje são sedimentos que
é levado pelas águas do nosso rio.
E com os pés na área, sentido o balança das águas,
sinto a plenitude de observa esse grade ciclo que é
a vida.’’
~ paz ~
Luamar Guarani
25 anos.
Graduanda em Psicologia.
Natural de Petrolina-PE.

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‘‘Escolhi a palavra ‘paz’ porque é o que sinto
quando estou diante do Rio São Francisco, ou
como gosto de chamar, ‘Chico’. Sinto uma
conexão muito forte com ele. Nos momentos em
que não estou bem, busco ficar diante dele e
molhar os meus pés, e de alguma forma isso me
auxilia a ficar mais leve. Então, acabo utilizando as
minha idas ao Chico com uma estrategia de bem-
estar.’’
Izabella Laranjeira
30 anos.
Natural de Senhor do Bonfim-BA.
Mora em Petrolina (entre idas e vindas) há 14
anos.
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‘‘Conexão
/cs/
substantivo feminino
1. ligação, união, vínculo.
2. relação lógica ou causal; nexo, coerência.

~ conexão ~ Nas águas do Velho Chico me perco em mim.


É portal e ponte.
Uma sensação paradoxal.
Me conecto com o rio que deságua nas minhas
profundezas.
Me descubro pequena, diante da sua grandeza,
e g rande, ao entender que também sou
pertencente da sua natureza.

Velho Chico deságua nas águas do meu infinito.

É conexão.’’
~ Jusante ~
Emile Machado
40 anos.
Comunicóloga e produtora cultural.
Nascida em Salvador-BA.
Vivendo há 14 anos no Vale do São Francisco.
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‘‘Jusante define o meu movimento nas águas. O rio
para mim é um caminho de volta, o destino me fez
subir a nascente para descobrir outros caminhos,
sabores e cheiros, o mar foi a maior conexão na
minha infância e na vida adulta fiz o caminho
inverso, seguir contra a correnteza em busca da
nascente e das raízes da minha ancestralidade, na
beira rio firmei a consciência, as águas calmas do
rio, também existem correntezas profundas e
fortes assim como no mar, mas com formas
diferentes, que faz em mim um redemoinho de
saberes, um ser água que conhece o seu caminho,
esse encontro me fez cheia e às vezes vazante
como a beira-mar, porem mais doce.

•Jusante• O sentido da correnteza num curso de


água contraria, da nascente para a foz.’’
Locais das fotos
Orla de Petrolina-PE
Sebastião Barbosa
Luíza Lopes
Jackson Vicente
Hemille Ranna
Jonalva Paranã

Ilha do Fogo (Pernambuco - Bahia)


Jéssica Moreira
Alinne Laynne
Izabella Laranjeira

Serrote do Urubu (Petrolina-PE)


Jonalva Paranã

Ilha do Massangano (Petrolina-PE)


Emile Machado

Orla de Juazeiro-BA
Manuela Conceição
Luamar Guarani
Dayane Marques

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