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VEM ME VER...
Sinvaline Pinheiro
VEZ EM QUANDO
VEM ME VER...
Goiânia – GO
Prime, 2019
Copyright © 2019 by Sinvaline Pinheiro
Diagramação:
Tatiana Lima
Imagem da capa:
N. Confaloni
Trabalhadores - 1966
Pintura ao óleo sobre tecido
70x100cm
a.i.e.
Saida Cunha
Obra registrada no raisonné do artista, código de tombo: PNTR:0512
CDU: 821.134..3(84)-1
DIREITOS RESERVADOS
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2019
Goiânia em Prosa e Verso
Kleber Adorno
Mais que Prosas e Versos
Marca registrada da mesma prefeitura que realiza os
nacionalmente inéditos mutirões nos bairros da cidade, a Coleção
Prosa & Verso, da Secretaria Municipal de Cultura de Goiânia – e
seus parceiros – chega à sua 9ª edição. É, portanto, um projeto já
maduro e consagrado, que fomenta a produção literária goianiense e
desperta crescente interesse mundial pela sua ousadia.
Foram 1.213 títulos publicados, com a significativa média de
135 títulos lançados de uma só vez, em eventos sempre marcantes.
Agora, a Coleção estabelece novo recorde de títulos simultâneos, com
uma diversidade de autoria que faz dela uma ação afirmativamente
democrática e legitimamente representativa do poder criativo da
cidade na qual se insere.
Nesta edição, registre-se a homenagem transversal àquele que
foi marco zero das artes visuais em Goiás, frei Nazareno Confaloni.
No ano em que a mesma gestão pública põe fim a uma espera de
40 anos e inaugura o seu Museu em local estratégico da cidade
(Estação Cultura, em 10/05/2019), ele é revivido nas capas de todas
as criações literárias desta fornada com imagens das obras colhidas
no seu raisonné, que segue em processo.
Eis aqui uma feliz convergência de talentos. Um ramalhete de
luzes colhido no pulsar do nosso tempo presente. Merece o devido
reconhecimento e a devida celebração.
Px Silveira
À toda forma sublime de amar que existe e
persiste às diferenças...
Aos queridos:
Vanderlei Luiz Weber, pelo incentivo à criação;
Verônica Aldé, por acreditar que sempre é possível;
Meus filhos Evaine, Eber e Aline pela inspiração para amar tudo
e todos que ocupam o planeta Terra.
APRESENTAÇÃO
C
onta um antigo mito, que corre pelo rio Uru e repousa
na Serra da Mesa, que Sinvaline Pinheiro não nasceu
na Terra, que ela veio de outro planeta. Se é verdade ou
não, ainda não sabemos. O fato é que Sinvaline é uma pessoa
extraordinária, que traz na mente a sabedoria dos pajés, dos
ancestrais e projeta para o futuro sempre uma perspectiva
otimista. Culta na essência da cultura que nos fala Paulo Freire.
Sábia na essência da sabedoria que nos ensina a vida. Dinâmica
na essência do dinamismo dos homens libertos de preconceito.
Amante, na essência do amor que pregam as religiões e crenças
da Terra. Porém, acima de tudo a considero uma pessoa
extraordinária. Tipo de pessoa que leva séculos para ter uma
outra igual. Vislumbra o presente e futuro nas cores do passado.
Seu novo livro de poemas “VEZ EM QUANDO VEM ME
VER”, revela tudo que falei, mas revela também sua fiel e eterna
característica: a persistência. Trata-se de uma obra recheada
de saberes. Em cada estrofe e em cada verso, se percebe nas
entrelinhas a alma desse saber.
Bebendo desta sabedoria, organizada na forma de
exuberantes poemas, tenho que concordar com o mito. Sinvaline
é de outro planeta. E como otimista acredita que ainda é tempo
de plantar. Vamos, pois, colher os frutos que ela plantou nesta
transcendental obra.
Obrigado Sinvaline.
Phillipe Cupertino
Professor, advogado e militante de Direitos Humanos
Vez em quando volto a ver o carinho do saudoso poeta
MANOEL DE BARROS
SUMÁRIO
19
VEZ EM QUANDO VEM ME VER
À ti
21
VENTO
À ti e às saudades
22
PEDIDO
À Maxwel e Heloisa
23
SEM TI
À ti..
24
INQUESTIONÁVEL
À ti...
Hoje percebo
Que só preciso
De um abraço apertado
Ou mesmo de imaginar você ali,
Em silêncio, ao lado,
Sem nada dizer...
Que quando estou para chorar
Preciso de sua presença amiga
A me escutar paciente
A me fazer sorrir...
Que basta sentir seu toque
Seu cheiro,
Para ser feliz.
Que tudo é bonito e o mundo é só poesia
Com você por perto...
Hoje sei do inquestionável:
Amo você!
25
BENDITA CHUVA
26
MÃE
27
ONDE TE ENCONTRO
À ti
28
AMAR É...
Amar é não querer saber onde esteve, nem com quem e não
importa quanto tempo vai ficar, mas só saber que você volta...
29
FRESTA DE LUZ
30
SOU ASSIM
À Antonieta
Sou assim,
Frágil e forte
Dependente ou não.
E a vida cresce,
O sonho toma asas,
Em meu coração menino,
De mulher...
31
MEU CÉU
Aqui a má reputação
É elogiada pelo rio,
Que canta para mim,
E aí sonho,
Sou feliz...
32
POR QUÊ
Independente de mim
A vida segue, continua.
A pele se mistura à terra, é terra também.
Como mudar o curso do rio?
Tudo segue seu caminho e me toma toda,
deixando um vácuo profundo
Uma dor no peito
e mais uma ruga...
O redemoinho leva os “eus”...
A alma (alma?) torpe e insegura,
Acompanha a dor e se funde...
Como mudar a realidade?
Por que sou? Para que sou? Quem sou?
Me inventaram e fizeram regras.
Não as sigo, sou antissocial.
Na tentativa de me descobrir
Fico ridícula.
Vivo a criticar o que nem sei...
Desenharam o alfabeto e eu o engoli.
Agora vou parindo filhos misteriosamente...
Não têm pai, nem pátria...
Meus versos pagãos se alastram,
Dizem que sou poeta...
Por que? Para quê?
Até que se cale o último homem:
Por quê?
33
ELA PARECIA GENTE
34
Algo estava ali, um bicho parecido gente...
Recuou em atirar, era um bicho só e indefeso...
Uma voz forte dá ordem:
- Atira é um índia!
O tiro ecoa pela mata e
o corpo cai revolvendo a terra.
De perto, ele sente o fim...
A jovem índia grávida dá o último suspiro;
O soldado chora e bate em retirada.
A alma doendo dá o relatório final:
-Era uma índia, mas parecia gente...
35
PARALELA SOLIDÃO
36
SAUDADE
Um espelho intrometido
reflete o rosto,
volve a realidade...
O braço é limitado
não lhe alcanço...
Me perco na tangente,
sob um rio de lágrimas sem voz,
numa linha periódica,
infinita...
37
O ABRAÇO NO TEMPO
38
VÉSPERA DE NATAL
39
PROIBIDO FUMAR
40
SOMENTE UMA MULHER
À Nilva
41
ELE ESTEVE AQUI
42
AINDA É TEMPO
43
ROSINHA
44
MENINO MALINO
Ao Mestre Altair
45
RETROSPECTIVA
46
VÓ QUIRINA
(in memoriam)
47
LOUCURA SÓBRIA
48
MENINA DE RUA
E os sonhos de criança
se agasalham na calçada fria
Pela manhã tomam asas em busca da realidade,
Mas o sol quente abafa o mundo e os sonhos...
O concreto é real, duro demais.
Restam os olhos tristes de fome,
Que não entende o porquê de tanta desigualdade...
49
ME LEVA PRA CASA
50
INDIFERENÇA
51
DESERTO
52
ABRAÇO
Ao poeta
53
O MENINO
54
SUMENÈ
55
SÚPLICA
56
MUNDO CONCRETO DEMAIS
57
SARA
58
INDÍGENAS
59
TUA PRESENÇA
Amanheceu. ..
As cores e os sons enchem a vida
Que seja só um resto de vida, mas pulsa forte tecendo versos,
buscando sonhos...
Não questiones quando te chamo...
O tempo é bem curto aqui para viver os sons,
as cores
e tua Presença.
60
PARTÍCULA DE DEUS
Há um mundo espiritual
Adverso do corpo carnal,
Há um DEUS acima das luzes que piscam...
61
IDADE DO CORAÇÃO
62
CHEGASTE
Pra ti
Chegaste um dia...
Alegre e sorrateiro,
Teu sorriso cobriu as tristezas...
Fugiste,
Saltitante pelas chapadas
ignorando minha saudade...
Voltaste,
Fugaz
E sarcasticamente fingiste
Não ver o escuro que se fazia
Na noite, no rio e em mim...
63
FUGA
64
MAIS UM DIA
Nascer e morrer.
Ficamos todos os dias
No limiar da vida e dos sonhos...
É um amanhecer irresponsável
Num mundo redondo.
O dia nasce deslumbrante,
O sol contrasta com os montes
Deixando claro o tempo e as rugas,
Numa paralela solidão...
O horizonte desenha um quadro e
Mostra seu sorriso de dentes de ouro..
Não perco a pose também;
São momentos de saudade...
Um pássaro canta na palmeira,
Um apelo para a vida.
Se faz uma grande fuga...
O vento sopra devagar,
traz suave redemoinho,
Dança com minha roupa,
leva as lágrimas e
deixa um sorriso no ar
de MAIS UM DIA QUE NASCE
65
UNINDO DISTÂNCIAS
66
LUZ
Há uma angústia
Diante do mundo sem sentido
Me arranho contra tudo
Nada extra
Só essa dor inexplicável...
Saudade do mato
Saudade de mim
Que o tempo leva rápido...
A mente continua criança
Num duelo que isola
Não há como evitar...
Religião? Nunca teria
Só a poesia
E esse algo sobrenatural
Que toca naturalmente
Difere de tudo aqui
E me leva cada vez mais
Pertinho de você....
Que afaga a alma
Estremece o corpo
Acende a luz
Para um novo dia...
67
CAPELA DE SANTANA
À Ezecson de Sá
68
MARISA
(in memoriam)
Segurou as rochas,
Levantou o mastro do progresso
E assim forte e guerreira
Ela foi a gestora da cidade.
69
IGUALDADE
70
UMA FLAUTA NA MATA
71
FEIRA DA TROCA
72
CANTIGA DE NINAR
À Alba Franco
Quanto tempo?
Sessenta e sessentos,
quiçá mais...
Importa é viver.
Mas o poeta é feliz?
Seus versos têm as dores do mundo,
o olhar distante exige, pede.
No jogo das palavras
briga, inebria, movimenta corações.
O grito silencioso
deita no peito amado,
sente o pulsar do feto;
nasce mais um poema,
desafiando o tempo,
a indiferença dos homens.
74
RECORDAÇÃO
Eu vou,
Mas ficarei.
Se sentires saudade
Saiba que não te deixarei...
O vento meu nome dirá
Os pássaros o entoarão,
O som do “Ângelus’ lembrará
Uma doce recordação.
Por onde tu andares,
Minha sombra estará
Quer seja onde fores
O passado retornará...
A brisa suave lembrará
Meu monótono canto
E enxugará
O teu eterno pranto...
75
PASTA DE SONHOS
76
DONA DO MUNDO
77
MEU PAI
Ao meu pai Sinval Pinheiro
78
BONECOS AMBULANTES
O sol se foi,
Queimou a terra e os homens...
O caminho ilusório é
Indiferente à rotação do universo.
Vermes festejam as sobras
Do orgulho imperfeito e do calor...
E a vida continua
Trôpega, cansada e perfeita...
Até o último suspiro.
Bonecos ambulantes desfilam
À mercê da natureza e
Da forma como é tratada...
A noite vem, dormir, sonhar?
Ensaiar para morrer...
E amanhã (será?)
Se ainda estiver aqui,
O mesmo sol nascerá
Queimando tudo e todos.
79
DESPEDIDAS
80
CAVALO E HOMEM-BURRO
81
E O PALHAÇO CHOROU
Um grande espetáculo!
A multidão levanta, aplaude...
O palhaço curva, agradece e recomeça ...
Os refletores, a maquiagem escondem sua dor...
82
QUE TEMPO
83
SÍTIO VÓ QUIRINA
À minha toca...
84
DESAFIOS
85
SOBREVIVER
86
POR DOM CAPPIO
E as máquinas continuam...
87
CHALEIRA DE FERRO
88
APESAR DE TUDO
À querida Daniela Raizeira
89
VIRGILINA
Pura é a Virgilina
Guardiã das serras, dos mistérios
Encravados na caverna.
O lobo sai da gruta,
Dá um uivo longo.
Ela liga o rádio, já é hora de rezar...
O tamanduá bandeira sai para a caçada
Dá uma espiada no ranchinho,
Está tudo bem com ela.
Seu cavalo velho relincha fraco:
Será que vamos para a Paraúna?
Sacode o lombo, animado.
A bica d’água corre dentro do rancho
Joga pingos, molha o chão.
Virgilina canta feliz...
E começa mais um dia
Cheio de sol e esperança
No ranchinho pé-de-serra
Encravado de histórias
De uma mulher de muitas vidas...
Viva Virgilina!
90
MINHA IRMÃ
91
ESTATÍSTICAS
À ti
92
MANÉ PEDRO
93
MILAGRES
Barraco apertado
Somos 4, eu e 3 filhos, eu quase criança também...
Não temos comida, só arroz branco,
Fecho portas e janelas do barraco
Não podemos sentir o cheiro do churrasco ao lado...
Consigo distrai-los brincando.
Folheio um jornal em busca de emprego
A vizinha me empresta o sapato e o vestido
Hora do teste, preciso mentir, estudei sim.
Valem as leituras e a datilografia, estou empregada.
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BIOGRAFIA
Referências
Pinheiro, Sinvaline. Brasília de sertão a capital. In: KUYUMJIAN,
Marcia de Melo Martins. (Org.). Semeando Cidades e Sertões.
Brasília e o Centro-Oeste. 1ª ed. Goiânia: PUC-Goiás, 2010, v.,
p. 09-309.
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Cronista no site www.overmundo.com.br/perfis/sinvaline.
Overmundo (divulgação da cultura goiana)
Presidente da Comissão Municipal de Folclore Uruaçu - GO
Participou da criação e ainda coordena o espaço educativo
Memorial Serra da Mesa. www.memorialserradamesa.org
Livro PROSEANDO AQUI E ACOLÁ, publicado pela
Prefeitura Goiania, Editora Kelps e PUC - GO
Participou de várias antologias de causos e poemas.
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