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Inovações

Tecnológicas
para Construções
Sustentáveis

Prof. Luis Urbano Durlo Tambara Junior

Indaial – 2022
1a Edição
Elaboração:
Prof. Luis Urbano Durlo Tambara Junior

Copyright © UNIASSELVI 2022

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

T154i

Tambara Junior, Luis Urbano Durlo

Inovações tecnológicas para construções sustentáveis. / Luis


Urbano Durlo Tambara Junior – Indaial: UNIASSELVI, 2022.

199 p.; il.

ISBN 978-65-5663-776-1
ISBN Digital 978-65-5663-777-8

1. Construção civil. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo


da Vinci.

CDD 620

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Viver dentro dos limites da capacidade da Terra é uma necessidade no século
XXI. Os recursos da construção civil são finitos e é obrigação do setor fazer uso de forma
consciente dos materiais e insumos, além de destinar adequadamente os resíduos
gerados nas atividades e controlar a emissão de poluição causadas pela construção
civil. Esses e demais fatores relacionados a reduções de danos ao meio ambiente são
conhecidos como os objetivos das construções sustentáveis.

Os principais aspectos a serem levados em conta no ambiente construído são:


construção, montagem, operação e demolição final de edifícios. Esses aspectos geram
um grande impacto no meio ambiente seja de maneira direta, através do consumo
de materiais e energia e da poluição e resíduos gerados, como indiretamente, como
ineficiência de infraestrutura ou superestrutura que podem levar a retrabalhos ou até
mesmo condenar a obra. Outros aspectos importantes que devem ser considerados
para construções sustentáveis é o impacto na saúde física e econômica e o bem-estar
do indivíduo e da comunidade. Esses aspectos trazem uma valorização da comunidade e
aumenta a capacidade produtiva individual.

Nos últimos anos, esforços vêm sendo feitos para aumentar o compromisso de
reverter tendências insustentáveis no desenvolvimento da construção civil. Para isso, é
necessário minimizar a geração de desperdícios e poluição, usar de maneira racionalizada
e eficaz os recursos não renováveis, cumprir as metas de responsabilidade para proteger
outras espécies e ambientes e gerenciar o processo, desde a administração de projetos
ao canteiro de obras.

De modo específico, para que os conhecimentos dessa disciplina sejam


adquiridos, cada unidade abordará conteúdos sobre a realização de construção
sustentáveis, desde seus conceitos até os processos e desempenho, que levarão a
noções e procedimentos de inovações tecnológicas para construções sustentáveis.

Na Unidade 1, abordaremos de maneira introdutória a construção sustentável


e seus pilares. Veremos sobre sua importância e o surgimento de suas políticas, quais
são os desafios da seleção de materiais de construção e as tecnologias utilizadas
para construções mais verdes, além de vermos sobre os conceitos de habitabilidade
e salubridade.

Em seguida, na Unidade 2, estudaremos os processos sustentáveis, entendendo


quais são os sistemas de edifícios ecológicos e como realizar a execução de projetos
de baixo impacto. Veremos sobre práticas de planejamento integrado de obra, que
contribuem para uma construção enxuta, com planejamentos de gestão de resíduos
e qualidade. Por fim, veremos sobre um melhor aproveitamento de recursos naturais,
como iluminação, ventilação e recursos hídricos.
Por fim, na Unidade 3, aprenderemos os conceitos de desempenho e qualidade.
Identificaremos aqui quais são as melhores práticas para uma melhor durabilidade
das estruturas da construção civil, através da utilização de técnicas para inspeção de
patologias e problemas de obras. Veremos a eficiência energética, para que obtenhamos
um conforto ambiental na nossa construção. Por fim, nosso estudo passará por um
panorama ecoeficiente na reutilização de resíduos da construção civil.

As práticas de sustentabilidade estão sempre sendo atualizadas e servem de


maneira a pensar um melhor aproveitamento de espaços internos e externos a moradia.
Um bom profissional precisa sempre estar atualizados quanto a técnicas e abordagens
desses conceitos e de sua responsabilidade com o meio ambiente. Portanto, atualize-se
sempre e seja a diferença!

Bons estudos e muito ânimo!

Prof. Luis Urbano Durlo Tambara Junior

GIO
Olá, eu sou a Gio!

No livro didático, você encontrará blocos com informações


adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento
acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender
melhor o que são essas informações adicionais e por que você
poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações
durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais
e outras fontes de conhecimento que complementam o
assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos


os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina.
A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um
novo visual – com um formato mais prático, que cabe na
bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada
também digital, em que você pode acompanhar os recursos
adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo
deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura
interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no
texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que
também contribui para diminuir a extração de árvores para
produção de folhas de papel, por exemplo.

Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente,


apresentamos também este livro no formato digital. Portanto,
acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com
versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Preparamos também um novo layout. Diante disso, você


verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses
ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos
nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos,
para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os
seus estudos com um material atualizado e de qualidade.
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você –
e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR
Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite
que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois,
é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.

ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que


preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 — INTRODUÇÃO A CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL............................................. 1

TÓPICO 1 — IMPULSOS SUSTENTÁVEIS................................................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 IMPORTÂNCIA DE CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS..........................................................3
3 CONSTRUÇÕES VERDES ....................................................................................................6
3.1 HISTÓRICO.................................................................................................................................................7
3.2 MITOS E VERDADES............................................................................................................................ 10
4 CONCEITOS VERDES......................................................................................................... 12
5 CASOS DE ESTUDOS .........................................................................................................14
RESUMO DO TÓPICO 1.......................................................................................................... 21
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 22

TÓPICO 2 — MATERIAIS PARA CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS...................................... 25


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 25
2 DESAFIO DA SELEÇÃO DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO........................................... 26
2.1 MATERIAIS QUE REDUZEM O USO DE RECURSOS...................................................................... 27
2.2 MATERIAIS QUE MINIMIZAM IMPACTOS AMBIENTAIS................................................................28
2.3 MATERIAIS QUE NÃO POSSUEM RISCO A SAÚDE HUMANA....................................................29
2.4 MATERIAIS DE EMPRESAS COM PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS, SOCIAIS E AMBIENTAIS......29
3 CICLO DE VIDA DE UM MATERIAL DE CONSTRUÇÃO OU PRODUTO............................. 30
4 SUSTENTABILIDADE DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO............................................. 33
4.1 TECNOLOGIA DE CONSTRUÇÃO EM TERRA ..................................................................................34
4.2 CONSTRUÇÃO EM MADEIRA E BAMBU..........................................................................................36
4.3 RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO...........................................................................................................38
5 MATERIAIS SUSTENTÁVEIS EM BASE DE CIMENTO...................................................... 40
5.1 ESTRATÉGIAS DE CONCRETOS SUSTENTÁVEIS........................................................................... 41
5.2 CONCRETOS E ARGAMASSAS DE ALTAS PRESTAÇÕES E ESPECIAIS...................................42
5.3 MATERIAIS INTELIGENTES: TERMOCRÔMICOS E AUTORREPARÁVEIS..................................44
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 46
AUTOATIVIDADE...................................................................................................................47

TÓPICO 3 — HABITABILIDADE E SALUBRIDADE: COMO CONSTRUIR SUSTENTÁVEL.......49


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 49
2 CONFORTO HIGROTÉRMICO............................................................................................ 49
3 CONTAMINAÇÃO ACÚSTICA E LUMÍNICA....................................................................... 52
4 CONTAMINAÇÃO QUÍMICA............................................................................................... 52
5 CONTAMINAÇÃO POR GÁS RÁDON.................................................................................. 55
6 ACESSIBILIDADE...............................................................................................................57
LEITURA COMPLEMENTAR.................................................................................................. 61
RESUMO DO TÓPICO 3..........................................................................................................67
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 68

REFERÊNCIAS....................................................................................................................... 71
UNIDADE 2 — PROCESSOS SUSTENTÁVEIS.......................................................................75

TÓPICO 1 — PROCESSO DE DESIGN VERDE........................................................................ 77


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 77
2 SISTEMAS DE ENTREGA DE EDIFÍCIOS CONVENCIONAIS X ECOLÓGICOS................... 77
2.1 “DESIGN-BID-BUILD”..........................................................................................................................78
2.2 “DESIGN-BUILD”.................................................................................................................................. 79
2.3 GERENCIAMENTO DE CONSTRUÇÃO COM ENTREGA DE RISCO ............................................ 79
2.4 “INTEGRATED PROJECT DELIVERY”.............................................................................................. 80
2.5 SISTEMAS DE ENTREGA DE EDIFÍCIOS VERDES DE ALTO DESEMPENHO............................ 81
3 EXECUÇÃO DE PROJETOS DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEIS..................................... 83
4 CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS E O ENTORNO..............................................................87
4.1 ABORDAGENS DE TERRENO E PAISAGEM PARA EDIFICÍOS SUSTENTÁVEIS.......................89
4.2 USO DA TERRA.....................................................................................................................................90
4.3 GESTÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS.......................................................................................................... 91
5 DESENVOLVIMENTO DE BAIXO IMPACTO....................................................................... 93
RESUMO DO TÓPICO 1..........................................................................................................95
AUTOATIVIDADE...................................................................................................................96

TÓPICO 2 — PLANEJAMENTO INTEGRADO DE OBRA.........................................................99


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................99
2 ESTRUTURA ANALÍTICA DE PROJETO (EAP)..................................................................99
2.1 PROPRIEDADES..................................................................................................................................102
2.2 BENEFÍCIOS........................................................................................................................................104
3 ORÇAMENTO NO PLANEJAMENTO................................................................................ 104
4 CONSTRUÇÃO ENXUTA...................................................................................................106
4.1 CONTRIBUIÇÃO NO USO DE FERRAMENTAS............................................................................... 107
5 PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL DO CANTEIRO DE OBRA...........................................108
5.1 PRÁTICAS PARA UMA BOA GESTÃO...............................................................................................110
5.2 GESTÃO DE RESÍDUOS.......................................................................................................................111
5.3 POLÍTICAS DE QUALIDADE..............................................................................................................112
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................ 115
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 116

TÓPICO 3 — APROVEITAMENTO DE RECURSOS............................................................... 119


1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 119
2 ILUMINAÇÃO.................................................................................................................... 119
3 RECURSOS HÍDRICOS.....................................................................................................122
4 VENTILAÇÃO....................................................................................................................123
4.1 NATURAL ............................................................................................................................................. 124
4.2 FORÇADA............................................................................................................................................. 125
5 PROJETO DE INSTALAÇÃO ............................................................................................126
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................128
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................133
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................134

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 137
UNIDADE 3 — DESEMPENHO E QUALIDADE..................................................................... 141

TÓPICO 1 — DURABILIDADE...............................................................................................143
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................143
2 PATOLOGIAS NA EDIFICAÇÃO .......................................................................................143
3 TÉCNICAS DE INSPEÇÃO NÃO DESTRUTIVA DO PATRIMÔNIO.....................................149
3.1 TÉCNICAS ELETROQUÍMICAS ......................................................................................................... 149
3.2 TÉCNICAS ELETROMAGNÉTICAS.................................................................................................. 154
3.3 TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA................................................................................................. 155
4 NOVOS MATERIAIS PARA AMPLIAR A VIDA ÚTIL DE ESTRUTURAS............................159
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................162
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................163

TÓPICO 2 — EFICIÊNCIA ENERGÉTICA..............................................................................165


1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................165
2 DESENHO SOLAR PASSIVO.............................................................................................166
3 REABILITAÇÃO ENERGÉTICA.........................................................................................170
4 ASPECTOS SOCIAIS: POBREZA ENERGÉTICA................................................................171
5 ESTUDO DE CASO: SISTEMAS DE AQUECIMENTO E ESFRIAMENTO........................... 172
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................ 174
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 175

TÓPICO 3 — RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL (RCC)................................................... 177


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 177
2 PANORAMA DE REUTILIZAÇÃO NA INDÚSTRIA............................................................ 177
3 PROPRIEDADES DOS RCC...............................................................................................180
3.1 TIPOS E COMPOSIÇÕES ...................................................................................................................180
3.2 VALORAÇÃO DE RCC.........................................................................................................................181
4 ANÁLISE DE CICLO DE VIDA...........................................................................................182
5 ECOEFICIÊNCIA...............................................................................................................184
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................185
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................194
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................195

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 197
UNIDADE 1 —

INTRODUÇÃO A
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender a importância das construções sustentáveis;

• identificar as melhores seleções de materiais de construção sustentável;

• utilizar de estratégias para desenvolvimento de materiais sustentáveis a base de


cimento;

• contribuir para conhecimento de habitabilidade e salubridade;

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – IMPULSOS SUSTENTÁVEIS

TÓPICO 2 – MATERIAIS PARA CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS

TÓPICO 3 – HABITABILIADE E SALUBRIDADE: COMO CONSTRUIR SUSTENTÁVEL

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 —
IMPULSOS SUSTENTÁVEIS

1 INTRODUÇÃO
Sustentabilidade envolve grandes questões e interações complexas: a divisão
de riqueza e oportunidades entre ricos e pobres mundialmente, saúde, bem-estar,
segurança, trabalho, qualidade e direito das gerações futuras e de outras espécies
como necessidades básicas das sociedades e direitos dos indivíduos.

A qualidade do meio ambiente é fundamental e impacta diretamente na vida


humana. Questões globais, sociais e culturais envolvidas na sustentabilidade estão
preocupadas com um âmbito muito maior que custos de orçamentos e licitações.
Atualmente, pouco tempo é gasto pensando sobre a qualidade de uma obra e as
necessidades dos usuários. A sustentabilidade aparece como uma maneira de desafiar
o que é apropriado para o desenvolvimento através de cidades mais ecológicas.

Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos a importância de construções verdes no


desenvolvimento da construção civil. Veremos como avançou, ao longo do tempo, o
conceito de sustentabilidade e seus pilares, além de ver alguns mitos e verdades sobre
esses tipos de construção. Por fim, serão apresentados alguns estudos de casos de
obras sustentáveis.

2 IMPORTÂNCIA DE CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS


A palavra sustentável vem do latim (sustentare), que significa defender,
favorecer, apoiar, conservar ou cuidar. Já nos dicionários, essa palavra está definida
como a capacidade de sustentar ou suportar uma ou mais condições exibidas por algo
ou alguém. Na atualidade, a palavra sustentabilidade se tornou um pensamento sistêmico,
relacionado à continuidade dos processos econômicos, sociais, culturais e ambientais
mundiais.

A proposta da sustentabilidade está no ato de conseguir suprir as necessidades


humanas (sejam elas no âmbito da construção civil, agropecuária, marítima, aérea, entre
outros) da melhor maneira possível e, ao mesmo tempo, preservar a biodiversidade,
ecossistemas naturais e a qualidade de vida das pessoas. Portanto, seria possível obter
uma redução de impacto em todas as áreas para preservar o meio ambiente para futuras
gerações.

3
Uma maneira simplificada apresentada pela Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992a) sobre o desenvolvimento sustentável é
que é necessário suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das
gerações futuras de realizar o mesmo. Para atingir esse objetivo, é necessário considerar os
aspectos econômico, social e ambiental, conforme o tripé da sustentabilidade apresentado
na figura 1.

FIGURA 1 – TRIPÉ DA SUSTENTABILIDADE

FONTE: <https://s3.amazonaws.com/risu-blog/wp-content/uploads/2017/09/responsabilidade-social-
empresarial_tripe-sustentabilidade-284x300.jpg>. Acesso em: 27 out. 2021.

ATENÇÃO
Um princípio adotado pela Conferência das Nações Unidas sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992a), a fim de proteger o meio
ambiente, é o princípio de precaução, que deve ser amplamente
aplicado conforme interpretado pela declaração. Onde há ameaças
de graves ou irreversíveis danos ao meio ambiente, falta de
conhecimento científico não deve ser usado como razão para adiar
medidas de baixo custo para prevenir a degradação ambiental.

Sustentabilidade pode abranger diversos níveis de organização, desde um


empreendimento, a uma pequena comunidade. A humanidade vem enfrentando
desafios para reverter tendências insustentáveis, sejam elas de poluição do ar, terra,
água e alimentos, que resultam em uma ameaça à segurança, saúde e qualidade de

4
vida da humanidade. A questão que a sustentabilidade traz é a de que podemos manter
uma melhora na qualidade de vida ao mesmo tempo que melhoramos a eficácia de
como usamos nossos recursos e reduzimos a poluição e desperdícios.

O setor da construção civil é uma peça-chave para a auxiliar nas questões de


sustentabilidade. Por exemplo, até a década de 1990, a indústria da construção civil
não implementou controles de clorofluorcarbonetos (CFCs), apesar das evidências
significativas dos efeitos adversos e ainda projeta obras com recursos ineficientes,
poluentes, com grande geração de resíduos e com equipamentos com baixa
eficácia, além de depender de maquinários altamente poluentes nas suas formas de
transporte, sem avaliar o longo prazo dos efeitos de suas construções na comunidade
(HALLIDAY, 2008).

A preocupação com o aumento dos gases CO2 não é recente, o químico sueco
Arrhenius foi o primeiro a reconhecer e quantificar que o aumento do gás carbônico
resultaria num aquecimento da temperatura. Por mais que seus trabalhos tenham sido
publicados na década de 1930, foi somente a partir de 1970 que a comunidade científica
entrou em consenso e preocupação com as emissões desses gases.

Atualmente, a questão referente à emissão dos gases CO2 é uma das principais
agendas políticas e científicas. Apesar disso, ainda é difícil encontrar uma eficácia
na diminuição desse poluente, sendo utilizadas outras propostas de solução, como
o sequestro de carbono (envolvimento o crescimento de árvores e em cavernas
subterrâneas) e o uso de energias alternativas (energias renováveis como a solar e
eólica e energia nuclear, esta última acaba sendo uma solução não tão eficaz uma vez
que necessita de uma gestão de resíduos radioativos gerados).

Estima-se que a construção civil é responsável por quase 40% do total de


emissões de CO2 relacionadas à energia. Em 2019, foi calculado um total de 9,95 GTCO2
de emissão nesse setor (UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME, 2020). Esse
valor foi maior que os obtidos nos anos anteriores. Ele necessita, aliás, ser reduzido
pela metade para estar de acordo com agenda de comitês internacionais, para que seja
obtido uma neutralidade climática até 2050.

O aumento das emissões no setor da construção civil enfatiza a necessidade


urgente de uma estratégia tripla para reduzir agressivamente a demanda de energia
no ambiente construído, descarbonizar o setor energético e implementar estratégias
de materiais que reduzam as emissões de carbono do ciclo de vida. Para isso, é
necessário que todo o setor e a cadeia produtiva aumente em cinco vezes as ações de
descarbonização do seu impacto.

Portanto, uma alternativa para a reduzir as emissões de gás carbônico no setor


da construção civil está numa maior aplicação de ações sustentáveis durante todo o
processo de implementação da obra; e uma forma de melhor difundir essas políticas
está na adoção de construções verdes.

5
3 CONSTRUÇÕES VERDES
As construções verdes, também conhecidas como construções sustentáveis
ou edifícios verdes, são conceitos relativamente novos no meio da construção civil.
Eles se referem a uma estrutura que apresente a aplicação de processos ambientais
e eficientes, desde o uso de recursos e ao longo de seu ciclo de vida: planejamento
do projeto, execução da obra, operações, materiais utilizados, manutenção, renovação
e demolição.

NOTA
O ciclo de vida de uma edificação é uma avaliação de todos os processos realizados para
a realização da obra, ou seja, inicia-se pela análise desde a extração das matérias primas
de sua fabricação, produção, transporte, comercialização, utilização e termina quando o
produto perde sua função. Ao longo desse ciclo é possível perceber os impactos sociais e
ambientais que acontecem em cada etapa dos processos.
No Brasil, duas normas são utilizadas para avaliação do ciclo de vida na
construção civil, sendo elas a ISSO 1404: Gestão Ambiental – Avaliação do
Ciclo de Vida – Princípios e Estruturas (ABNT, 2009a) e a ISSO 14044: Gestão
Ambiental – Avaliação do Ciclo de Vida – Requisitos e orientações (ABNT,
2009b). Dentro destas normas é necessário seguir quatro etapas para
avaliação do ciclo de vida: objetivo e escopo do período de estudo, análise
do inventário, avaliação dos impactos e a interpretação dos resultados.

O Comitê Federal para Construção Verde Americano (The Federal Commitment


to Green Building) do Escritório do Executivo Ambiental Federal (Office of the Federal
Environmental Executive) (OFEE, 2014) define construções verdes como a prática de:

• Aumentar a eficiência com que os edifícios e seus locais usam energia, água e
materiais.
• Reduzir os impactos da construção na saúde humana e o meio ambiente, por meio
de uma melhor localização, projeto, construção, operação, manutenção e remoção, o
ciclo de vida completo da construção.

Para os edifícios verdes é necessária uma cooperação entre diversos


profissionais e usuários envolvidos em todas as partes do ciclo de vida da obra, desde
arquitetos, empreiteiros, engenheiros, cliente e residentes. Isso resulta num complexo
cruzamento de informações que objetivam em uma melhora de design de construção,
maior economia, utilidade, durabilidade e conforto final. O edifício verde é um esforço
para amplificar o positivo e mitigar o negativo desses efeitos ao longo de todo o ciclo de
vida de um edifício (KUBBA, 2017). A seguir, veremos a evolução do conceito e alguns
mitos e verdades de construções sustentáveis.

6
3.1 HISTÓRICO
A preocupação com o meio ambiente começou a ser fortemente debatida pelo
mundo a partir da conferência de Estocolmo (Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente Humano), realizada em 1972. Esta conferência foi o primeiro marco de
reunião de chefes de estados das organizações unidas (ONU) para tratar sobre questões
relacionadas à degradação do meio ambiente. A partir deste ponto, iniciou-se debater
tentativas de melhorar as relações do homem com o meio ambiente para haver um
equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e reduções de degradações ambientais.
Os principais tópicos abordados foram relativos à poluição atmosférica e uso de recursos
naturais.

Na conferência já foram observadas divergências entre os países desenvolvidos e


em desenvolvimento. Enquanto os países desenvolvidos defendiam a redução imediata
do ritmo de industrialização como forma de reduzir a degradação ambiental, os países
em desenvolvimento se recusavam a assumir os compromissos, afirmando que limitaria
a capacidade de enriquecimento e garantia de melhor da qualidade de vida das suas
populações. Este impasse resultou na impossibilidade de estabelecer metas concretas
para serem cumpridas entre os países, porém foi redigida a Declaração da Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em que reconhecia o direito humano
a um meio ambiente de qualidade, permitindo ao homem viver com dignidade.

Tendo como fundação a conferência de Estocolmo, no ano de 1992 ocorreu no


Rio de Janeiro uma nova conferência entre chefes de estados organizada pelas Nações
Unidas, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento,
também conhecida como Eco-92. Aqui, foram debatidos os problemas ambientais
globais, resultando em alguns documentos oficiais fundamentais.

Dentre os documentos gerados, a Carta da Terra (1992b) surgiu como uma


declaração dos princípios éticos fundamentais para a construção e uma sociedade
global justa, sustentável e pacífica, oferecendo um novo marco para o desenvolvimento
de um futuro sustentável e ético. A carta define que os objetivos de proteção ecológica,
erradicação da pobreza, desenvolvimento econômico equitativo e respeito aos direitos
humanos, democráticos e de paz são interdependentes e indivisíveis.

ATENÇÃO
Dentre os princípios englobados pela Carta da Terra (1992b)
estão: respeitar e cuidar da comunidade da vida, necessitando de
integridade ecológica e justiça social e econômica.
Para uma melhor leitura da carta, acesse o link: https://antigo.
mma.gov.br/educacao-ambiental/pol%C3%ADtica-nacional-de-
educa%C3%A7%C3%A3o-ambiental/documentos-referenciais/
item/8071-carta-da-terra.html.

7
Outros importantes resultados obtidos pela Eco-92 foi a realização:

• Da convenção sobre diversidade biológica: que tratou da proteção da biodiversidade


entre 156 países, que objetivou a conservação da biodiversidade, uso sustentável
de seus componentes e a divisão equitativa e justa dos benefícios gerados com a
utilização de recursos genéticos.
• Da convenção das nações unidas de combate à desertificação: tratando da redução
da desertificação e a convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do
Clima, tratando de mudanças climáticas globais.
• Da Agenda 21: um programa de ações que viabiliza o novo padrão de desenvolvimento
ambiental racional.

Entre os temas abordados pela Agenda 21 (CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES


UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO,1992a) estão:

• As dimensões econômicas e sociais: com enfoque nas políticas internacionais


para auxiliar no desenvolvimento sustentável em países em desenvolvimento,
estratégias de combate à pobreza, mudanças de padrões de consumo e propostas
para promover saúde pública e melhoria de qualidade dos assentamentos humanos.
• A conservação e questões de recursos para desenvolvimento: apresentando
enfoques para proteger a atmosfera e viabilizar transição energética, manejo integrado
do solo, proteção de recursos do mar e gestão ecocompatíveis dos recursos de água
doce, além de combate ao desmatamento e desertificação, medidas de proteção e
promoção aos povos indígenas, trabalhadores e sindicatos, comunidade científica e
tecnológica, agricultores, comercio e indústria.
• A revisão dos instrumentos necessários para execução das ações propostas:
abordando mecanismos financeiros e instrumentos jurídicos internacionais, produção
e oferta de tecnologias ecoconscientes e de atividades cientificas. Além de suportes
essenciais à gestão da sustentabilidade, educação e treinamento como instrumento
da construção de uma consciência ambiental e da capacitação de quadros para
desenvolvimento sustentável.
• A aceitação do formato e conteúdo da Agenda: com a criação da Comissão de
Desenvolvimento Sustentável (CDS), com objetivo de acompanhar e cooperar com
países na elaboração e implementação das agendas nacionais.

Em 2016, em decorrência da reunião Eco-92, a ONU propôs aos líderes mundiais


17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para que, coletivamente, a
humanidade pudesse desassociar o crescimento econômico da pobreza, da desigualdade
e das mudanças climáticas. Os ODS são parte da Resolução nº 70/1 (ONU, 2015) da
Assembleia Geral das Nações Unidas: "Transformando o nosso mundo: a Agenda 2030
para o Desenvolvimento Sustentável", que depois foi encurtado para “Agenda 2030”.
O ponto mais crucial relacionado a construções sustentáveis está relacionado com
as mudanças climáticas. A figura 2 apresenta de maneira separada cada atuação dos
objetivos acordado entre 193 países.

8
FIGURA 2 – OS 17 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3Hi2ZNP> Acesso em: 28 out. 2021.

9
Os 17 objetivos vão desde acabar com a fome até promover sociedades pacíficas
e inclusivas e cada um possui metas detalhadas a serem alcançadas nos próximos 15
anos. No entanto, o que ninguém esperava é que pudesse surgir uma pandemia, como
a da COVID-19, que impactou diretamente no progresso dessas metas.

Diante desse cenário, a contribuição dos edifícios sustentáveis é ainda mais


significativa. Eles são uma oportunidade de economizar energia, água e emissões de
carbono, além de educar, criar empregos, fortalecer comunidades, melhorar a saúde e o
bem-estar, entre outros benefícios.

3.2 MITOS E VERDADES


Embora o público esteja se tornando cada vez mais consciente dos muitos
benefícios do design sustentável e da construção verde, existem muitos mitos
persistentes relacionados à construção verde. Um dos mitos é que os edifícios
sustentáveis custam mais caro, ignorando as recentes pesquisas. Fora isso, para
qualquer sociedade prosperar, é necessário alcançar um equilíbrio saudável entre as
dimensões ambientais, sociais e econômicas.

Sustentabilidade não é apenas construir verde, mas construir uma comunidade


saudável e sustentar um estilo de vida de qualidade. Como comunidade, é necessário
que continuemos ativamente na busca de novas fontes de energia, como eólica,
solar e geotérmica. Com a situação atual da economia, esses esforços ajudariam a
criar empregos, atrair novas empresas, reduzir custos de energia e criar um ambiente
saudável.

Embora a construção ecológica tenha feito grandes avanços nos últimos


anos, ela não recebeu a força que merece. Ainda existem muitos que continuam não
convencidos e questionam seus inúmeros benefícios, principalmente devido aos
diversos mitos e equívocos gerados nas principais indústrias de construção e imobiliária,
sendo eles (KUBBA, 2017):

1. Construção verde é mais cara do que construção convencional. Este é o maior


e mais persistente equívoco. Edifícios com certificado ambiental (Leadership in
Energy and Environmental Design – LEED) reduzem as emissões de gases de efeito
estufa e o consumo de água em quase 50%, além de custar 25% menos e aumentar
a satisfação de aproximadamente 30% dos ocupantes.

2. Construções verdes são tipicamente não atrativas e falta qualidade estética


das construções convencionais. Não há motivos para construções verdes serem
esteticamente diferentes das obras convencionais, sendo muitas vezes indistinguíveis de
uma construção tradicional. Em alguns casos as construções sustentáveis apresentam
um telhado verde ou placas solares, invisíveis ao nível do solo.

10
3. Sustentabilidade é apenas uma moda e em pouco tempo não será mais
necessária. Pelo contrário, tópicos de sustentabilidade vem ganhando uma crescente
força aos longos dos últimos anos e já faz parte do “mainstream” da indústria da
construção civil, sendo o método preferido de construção, uma vez que traz mais
economia ao setor e torna a obra um diferencial no mercado.

4. Construções verdes são essencialmente sobre a seleção de materiais eco


amigáveis. Este não é um fato correto. Construções verdes são principalmente
focadas em como será desenhado e orientada sua construção, seleção do espaço,
conservação da água e performance de energia, localização de janelas, entre outros.
No entanto, a seleção dos materiais eco amigáveis também faz parte do processo.

5. As taxas de aluguel ou capitais de construções verdes são mais baratas que


das estruturas convencionais. Na realidade, o que ocorre é o oposto. O mercado já
observou um aumento na demanda por edifícios verdes e isso resulta num alcance
de aluguéis e capitais muito mais altos como resultado da redução de custos
operacionais e maior produtividade dos funcionários.

6. Construções verdes não oferecem níveis de conforto demandados pelos


inquilinos. Ao contrário dessa informação, as construções verdes são mais confortáveis
e saudáveis que edifícios convencionais. É obtida uma melhor qualidade de vida e
redução de poluição do ar interno (como exposição a contaminantes como amianto,
radônio e chumbo) e evitam doenças relacionadas a edifícios, como respiratórias. Além
de apresentar um ótimo conforto de iluminação, umidade e temperatura.

7. Construções verdes utilizam ferramentas e técnicas tradicionais e não é


tecnologia de ponta. Nesse tipo de construção é utilizada a multidisciplinariedade
e integração de projeto, onde vários consultores e proprietários participam com uma
equipe na tomada de decisões a obra. Mais de 70% da pesquisa de construção verde
é focada em energia e atmosfera. As construções sustentáveis surgiram de uma
evolução da indústria da construção em direção a uma maior eficiência e harmonia
com a natureza e fazem uso de tecnologias avançadas para sua execução.

8. Construir verde é muito difícil e complicado. Construir sustentável é uma questão


de bom senso e não necessita de ciências de foguetes para sua implementação.
Obviamente é necessário um planejamento para sua realização, uma seleção de
materiais de qualidade e eficiência.

9. Não é possível construir um edifício verde alto. Conceitos de construção verde


não restringem o design de construção ou usabilidade de espaço. Toda técnica
moderna de construção convencional pode ser utilizada na construção verde. Um
exemplo para isso é o edifício “Condé Nast” em Manhattan, que apresenta 48 andares
e 246 metros de altura, é uma construção verde com resfriadores de absorção a
gás e uma parede de cortina de isolamento e sombreamento de alto desempenho
que mantém os custos de energia do edifício baixo por não querer aquecimento ou
resfriamento na maior parte do ano, além de utilizar tecnologia solar.

11
10. Não é possível convertes estruturas convencionais em edifícios de eficiência
energética. Não é muito difícil de transformar uma obra já pronta em uma construção
verde. Diversos trabalhos científicos apontam num redesign de obras tradicionais
em modernas construções verdes. Muitos sistemas de certificação como o LEED
encorajam tais conversões.

4 CONCEITOS VERDES
Embora a definição de projeto de construção sustentável esteja em constante
mudança, há uma série de princípios fundamentais que persistem. Com relação
à construção verde e à sustentabilidade, os arquitetos e a equipe do projeto devem
se concentrar em projetar e erguer edifícios que sejam eficientes em energia, usem
materiais naturais ou recuperados em sua construção e estejam mais em sintonia com
os ambientes em que existem (KUBBA, 2017).

Construir ecologicamente correto significa ser mais eficiente no uso de recursos


valiosos, como energia, água, materiais e terreno do que edifícios convencionais ou
edifícios que são tipicamente construídos de acordo com os códigos mais recentes. É por
isso que os edifícios verdes são mais adequados ao meio ambiente e oferecem espaços
internos que os ocupantes consideram mais saudáveis, confortáveis ​​e produtivos. No
Brasil, um dado chama a atenção: o país ocupa a quarta colocação mundial no ranking
global de construções sustentáveis com a certificação LEED (Leadership in Energy and
Environmental Design), que está presente em 165 países.

A certificação internacional LEED está mudando a maneira como os edifícios


e as comunidades são planejados, construídos e operados. Líderes, dos mais de 160
países que utilizam a certificação, fizeram o LEED ser a principal plataforma utilizada para
green buildings ou edifícios verdes, com mais de 170 mil m² certificados diariamente.

Esta certificação funciona para todos os edifícios e possui oito diferentes


tipologias: novas construções e grandes reformas, áreas comuns e envoltórias, interiores
comerciais, escolas, hospitais e setor de saúde, varejo, edifícios existentes – operação e
manutenção, casas, desenvolvimento de bairro.

Todas as tipologias possuem pré-requisitos (práticas obrigatórias) e créditos,


recomendações que quando atendidas garantem pontos a edificação. Os parâmetros
avaliados são: uso racional da água; eficiência energética; redução, reutilização e
reciclagem de materiais e recursos; qualidade dos ambientes internos da edificação;
espaço sustentável; inovação e tecnologia e atendimento a necessidades regionais. O
nível da certificação é definido, conforme a quantidade de pontos adquiridos nesses
quesitos, podendo variar de 40 pontos a 110 pontos.

12
INTERESSANTE
Os níveis da LEED são:

• Selo LEED, conferido a empreendimentos que tiveram mais de 40 pontos.


• Selo LEED Silver, para edificações com mais de 50 pontos.
• Selo LEED Gold, para empreendimentos com pontuação superior a 60.
• Selo LEED Platinum, para edificações que conquistaram mais de 80 pontos.

No Brasil, a certificação LEED é representada pelo Green Building Council Brasil


(GBC Brasil), entidade que completa 10 anos de atividades, com o objetivo de
desenvolver a indústria de construções sustentáveis no país.

Políticas emergentes estão levando à integração da comunidade e práticas


de construção e design ambientalmente responsáveis, que até recentemente eram
marginalizados. Essa tendência tem o potencial de levar a muitos mais projetos de
desenvolvimento que são simultaneamente mais eficientes e lucrativos, muito mais
socialmente responsável e muito menos prejudicial ao meio ambiente. A legislação
ainda é inadequada e deveria ser utilizada mais proativamente para beneficiar o bem-
estar e saúde dos usuários.

São as ações dos líderes da indústria, responsiva e buscando conhecimento


contemporâneo, que estão na vanguarda da mudança. Empresas e indivíduos estão
impulsionando melhorias no desempenho de sustentabilidade da prática de construção
convencional. Isso está gradualmente sendo traduzido em políticas emitidas por
governos, órgãos da indústria, instituições profissionais e empresas individuais e, em
última análise, definir as diretrizes para mudar a legislação. Como exemplo temos a
Europa centra, que já fornece as ferramentas adequadas, produtos e materiais para
impulsionar mudanças sustentáveis na construção (HALLIDAY, 2008).

As mudanças nas atitudes e consequentes mudanças nas políticas e legislação


devem ser motivadas por uma série de fatores, sendo eles (HALLIDAY, 2008):

• os resultados preocupantes das pesquisas sobre as mudanças climáticas, a destruição


da camada de ozônio e a poluição química generalizada do meio ambiente;
• o aumento da conscientização sobre essas e outras questões ambientais e sua
crescente presença e importância na agenda política – local, nacional e internacional
– especialmente a partir da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (1992) e sua declaração da Agenda 21;

13
• crescente preocupação com o impacto adverso da atividade típica de construção
nos vizinhos e no meio ambiente;
• a ação de indivíduos e grupos ambientais no questionamento de normas sobre
consumo de recursos, geração de resíduos e danos à biodiversidade;
• aumento da preocupação com a má qualidade do ar interno e outros fatores adversos
dentro dos edifícios;
• crescentes preocupações sobre o tipo de empreendimento que estão sendo
permitidos e a imposição de projetos de desenvolvimento nas comunidades,
resultando em insatisfação, ao invés de um desenvolvimento que atenda às
necessidades identificadas das comunidades;
• crescente reconhecimento de que a obtenção de um ambiente construído de alta
qualidade pode ser uma grande contribuição para melhorias em nossa qualidade de
vida, bem como proporcionar produtividade, saúde e benefícios financeiros;
• desafios aos argumentos convencionais sobre o custo de construção e abraçar o
custo das externalidades, levando a uma melhor compreensão da inter-relação
entre um meio ambiente, produtividade, educação e saúde, por sua vez, levando a
benefícios financeiros e melhorias na qualidade de vida e desempenho empresarial;
• aumentar o foco nas responsabilidades corporativas das empresas, levando a uma
maior ênfase nas boas práticas de negócios e no comércio justo.

Embora haja incerteza sobre a extensão da ação necessária, é claro que nos
últimos anos a legislação e a política, incluindo a política econômica, têm se movido
para reverter tendências insustentáveis.

5 CASOS DE ESTUDOS
Agora, veremos alguns casos de estudo de obras relevantes na área de
construções sustentáveis, veremos exemplos de obras de pequeno porte até arranha-
céus, de maneira a apresentar a você acadêmico que é possível trabalhar com edifícios
verdes em qualquer porte da indústria da construção civil.

• Pertamina Energy Tower

O Pertamina Energy Tower (Figura 3) é um arranha-céu de 99 andares e 523


metros de altura, localizado em Jakarta, na Indonésia, desenhado pela Skidmore, Owing
and Merril (SOM), considerado uma empresa premiada em designer na categoria de
arranha-céus. O projeto teve como foco um alto desempenho e sustentabilidade. É o
primeiro arranha-céu com energia líquida positiva, ou seja, a energia renovável fornece
mais de 100% da energia necessária para operar a construção, sendo a energia o
principal critério para medir o sucesso do empreendimento (KIBERT, 2016).

14
FIGURA 3 – PERTAMINA ENERGY TOWER

FONTE: <https://bit.ly/3Col3U5> Acesso em: 28 out. 2021.

Para atingir esse objetivo, foi realizado estratégias de combinação de design


passivo e ativo. Como estratégia de design passivo foram realizadas fachadas de
alto desempenho que permite a penetração da luz do dia, resfriamento por meio
de vidros otimizados e aletas de sombreamento especialmente projetadas, alta
eficiência luminária utilizando LED, sensores de ocupação que escurecem ou desligam
automaticamente as luminárias, sistema de ventilação controlado por demanda que
fornece a quantidade precisa de ar fresco externo para atender aos ocupantes, sistema
regenerativo que recupera energia durante ciclo de frenagem dos elevadores, rodas
com dupla entalpia em unidades externas de tratamento de ar que recuperam a energia
que seria desperdiçada.

NOTA
Design Passivo leva em conta conhecimentos relacionados ao clima
local em que a edificação será construída, os ventos incidentes, o
layout do projeto, a destinação dada aos ambientes, os materiais
utilizados e quaisquer outros fatores que visem sempre um
resultado energeticamente eficiente. Enquanto o design ativo é o que
permite à arquitetura interferir positivamente no comportamento e
na qualidade de vida das pessoas, desde a escala urbana até os
ambientes dentro de uma edificação.

A equipe do projeto usou um processo em cinco etapas para projetar a Torre


Pertamina. A etapa 1 foi projetar uma construção de linhas de base para servir de base
para o os testes de ideias e hipóteses. A etapa 2 foi integrar estratégias passivas para
reduzir a demanda energética no projeto. A etapa 3 focou em medidas para aumentar a
eficiência e reduzir a demanda de energia por meio de estratégias ativas integradas. Na
etapa 4, uma central de usina de energia foi projetada para atender às necessidades

15
de energia do edifício. A etapa 5 foi integrar energias renováveis no local do edifício. Por
fim foi realizada uma fase de manutenção operacional e avaliação pós ocupação para
otimizar o desempenho do edifício e reduzir ainda mais o consumo de energia do edifício.

O projeto passivo incluiu uma análise detalhada das oportunidades de aproveitar


a luz natural e reduzir as cargas solares por meio do projeto da fachada. O edifício está
localizado a cerca de seis graus ao sul do equador. Nesta zona, a trilha do sol diretamente
sobre o edifício é virtualmente simétrica ao longo do ano. Durante os solstícios de verão
e inverno, o sol está diretamente acima e não projeta sombra. A duração do dia não varia
muito durante o ano e é sempre cerca de 12 horas.

A localização do edifício gerou alguns desafios, mas também algumas


oportunidades para o design passivo. A equipe de design do SOM executou muitos
cálculos e simulações para determinar a melhor abordagem para resolver o problema
de brilho e minimizar a carga térmica solar. O resultado desse esforço foi um projeto
de aleta externa que envolve todo o edifício em cada andar, controlando o brilho e as
cargas solares (visto na Figura 4a), além disso, as aletas são combinadas com persianas
automáticas controladas por sensores que abrem e fecham conforme o sol atravessa
o edifício. As extremidades lestes e oeste do edifício foi equipada com aletas verticais
para conter a intensa radiação térmica solar conforme o sol se move no céu (visto na
Figura 4b).

FIGURA 4 – SISTEMA DE ALETAS EXTERNAS FIXAS PROJETADAS QUE ENVOLVEM CADA ANDAR DO EDIFÍCIO

FONTE: Adaptado de Kibert (2016, p. 30)

16
O ar de exaustão que sai do edifício é utilizado para resfriar e aquecer o ar fresco
por meio do uso de um sistema de recuperação de energia equipado com rodas de dupla
entalpia localizadas na unidade de tratamento de ar externo. Além de obter energia
geotermal, a Pertamina Energy Tower captura energia de outras duas fontes renováveis,
os ventos predominantes e o sol.

ATENÇÃO
Painéis solares fotovoltaicos que convertem radiação solar em eletricidade cobrem
uma faixa de 1.750 m² da faixa de pedestres com painéis monocristalinos de última
geração. Energia adicional é fornecida na coroa do prédio, a uma altura de 530 metros
para aproveitar o efeito Ventura nesta altitude. O projeto da coroa foi desenvolvido
usando um estudo computacional de dinâmica de fluidos abrangentes para analisar
completamente o comportamento do vento nesta elevação (ver figura a seguir). A
dinâmica de fluidos computacional foi utilizada para modelar o comportamento do
vento ao redor do edifício e projetar o sistema de energia eólica.

FIGURA – MODELAGEM DOS VENTOS NA TORRE DE ENERGIA


PREDOMINANTE NA COROA DA TORRE PERTAMINA. UMA
ABERTURA NA COROA CAPTURA A ENERGIA DO VENTO E
CONVERTE EM ELETRCIDADE

FONTE: Kibert (2016, p. 33)

• OWP 11 em Stuttgard, Alemanha

Na Alemanha diversas empresas apresentam comprometimento com uma


arquitetura integrada e sustentável. Dentre uma dessas empresas, a Drees e Sommer
(DS) é um grupo de engenharia de Stuttgard que trabalha com uma grande gama de
serviços em gestão de projetos, consultoria imobiliária e engenharia para setor público e
privado. O pátio e os jardins compartilhados são integrados como um elemento-chave
do projeto arquitetônico geral (KIBERT, 2016).

17
O OWP 11 é um prédio de escritórios com certificação de ouro pelo Conselho
Alemão de Construções Sustentáveis. A obra consiste na renovação e expansão de
um edifício existente localizado em um local de formato diferente (Figura 5). A obra
é constituída de um amplo salão no seu interior que liga dois edifícios, conforme
visto na Figura 6. O projeto do edifício maximiza a colocação dos escritórios ao longo
dos corredores de pedestres, ao mesmo tempo que fornece a oportunidade para os
trabalhadores trabalharem em áreas tranquilas no momento apropriado. O prédio foi
planejado para maximizar o potencial de interações entre os funcionários.

FIGURA 5 – FACHADA EXTERIOR DA OWP 11 EM STUTTGARD NA ALEMANHA, COMPOSTA POR UMA


FACHADA DE METAL CURVA ISOLADA COM UM SISTEMA DE PAREDE QUE REDUZ O AQUECIMENTO E
ESFRIAMENTO INTERNO

FONTE: Kibert (2016, p. 79)

FIGURA 6 – SALÃO INTERIOR DO OWP 11 COM CORREDORES CIRCULARES

FONTE: (KIBERT, 2016, p. 79)

18
O projeto foi divido em três etapas, em que, na etapa 1, para economizar
energia, foi minimizado as cargas de aquecimento e resfriamento. Para isso, foi realizado
isolamento térmico ideal e uma proteção solar externa do edifício, controlados por
demanda na forma de uma combinação de persianas externas computadorizadas e
persianas internas controladas manualmente. O edifício é fortemente isolado com uma
camada de isolamento de fibra mineral de 16 cm a 27 cm de espessura nas paredes.

INTERESSANTE
As janelas com caixilhos de alumínio têm vidros triplos de baixa
emissividade. Os caixilhos têm uma condutância térmica baixa,
cerca de 20% dos principais comercializados no mercado.
Durante as estações mais quentes, as janelas operáveis sob o
controle dos funcionários são usadas para ventilar os espaços
de trabalho. Durante a estação de aquecimento, o ar fresco
é bombeado para o edifício por um sistema de ventilação
mecânica com recuperação de calor.

Na etapa 2, elementos de aquecimento e resfriamento, foram integrados para


obter economia de energia para reduzir as perdas de temperaturas internas em climas
de calor ou frio. Como essa estratégia requer grandes superfícies de transferência
de calor, radiadores normais não podem ser usados. Em vez disso, o aquecimento e
resfriamento estrutural foram instalados nas áreas dos escritórios na forma de tubos,
que transportam água quente ou fria, dependendo da estação, através dos pisos de
concreto armado. Os pisos fornecem aquecimento extremamente eficaz e econômico
no inverno e resfriamento no verão. A única desvantagem desse arranjo é a inércia
térmica do sistema; devido à alta capacidade de armazenamento térmico da estrutura,
a temperatura ambiente não pode ser alterada rapidamente.

O aquecimento e resfriamento estruturais dentro dos tetos de concreto armado


cobrem as cargas básicas e são complementados por elementos de aquecimento
adicionais com um tempo de resposta rápido que permite a regulação individual da
temperatura ambiente. O sistema de resposta rápida é composto por uma placa pré-
fabricada de quatro centímetros de espessura com um design especial de mistura
de concreto altamente condutivo com isolamento térmico na parte superior. Esses
elementos de aquecimento de resposta rápida têm uma rede de abastecimento de
água separada; e são colocados paralelamente à fachada. Um controle simples permite
que os usuários regulem a temperatura ambiente para aquecimento ou resfriamento
individualizado e responsivo.

19
Na etapa 3, utilizou-se de fontes de energia alternativas possibilitadas pelas
baixas diferenças de temperatura necessárias para aquecimento e resfriamento. Uma
energia geotérmica é extraída da rocha sob o edifício usando trocadores de calor
acoplados ao solo. Dezoito orifícios, 20 cm de diâmetro, foram perfurados pelo menos
seis metros de distância a uma profundidade de 55 metros. Nesta profundidade, a
temperatura do solo durante todo o ano é de 11 °C a 12 °C. Tubos de plástico foram
inseridos nos furos e uma mistura de água e glicol circulou pelo sistema. Durante a
estação de inverno, a solução de glicol-água é primeira resfriada de 3 °C a 5 °C pelo
sistema de recuperação de calor e, em seguida, impulsionada por uma bomba de
calor elétrica para cerca de 32 °C. A carga de aquecimento requer energia primária de
aproximadamente 21 kWh/m²/ano. Um prédio de escritórios convencional na Alemanha
exigiria 130 kWh /m²/ano – seis vezes mais que o OWP 11.

Durante o verão, a solução de glicol-água, depois de passar pelos trocadores de


calor acoplados ao solo, é bombeada em uma temperatura de aproximadamente 12 °C a
15 °C e elevada a uma temperatura de cerca de 18 °C. A única energia elétrica necessária
para este processo de resfriamento é para bombear o fluido de troca de calor e a água
fria no circuito de resfriamento do edifício. Todo o edifício pode ser resfriado a um custo
entre 1,50 e 2,00 euros por dia em um dia extremamente quente de verão. O OWP 11 é
um dos edifícios mais eficientes da Alemanha com um gasto energético muito baixo
comparados aos de construções convencionais no país.

20
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A construção sustentável é baseada no tripé associado entre os aspectos econômico,


social e ambiental.

• O início mais expressivo da atuação política com relação ao desenvolvimento


sustentável iniciou com a Eco-92, onde foram debatidos e criados documentos
para estabilizar as primeiras medidas possíveis para uma sociedade igualitária e
sustentável.

• Obras verdes apresentam diversos venefícios para as presentes e futuras gerações,


melhoram a qualidade de vida e aumenta a eficiência energética dos edifícios. Apesar
dos mitos, estas obras são mais econômicas quando pensado no ciclo de vida do
edifício construído.

• Os estudos de caso apresentados neste tópico apresentam a amplas aplicações de


obras verdes, podendo ser realizada até em arranha-céus ou em obras de pequeno
porte, podendo reduzir em até seis vezes o gasto energético quando comparada com
construções convencionais.

21
AUTOATIVIDADE
1 Ao longo dos séculos, o meio ambiente sofreu com a interferência humana. Por conta
disso, o mundo precisa adquirir consciência sobre o Meio Ambiente e os Impactos
Ambientais. Sobre as práticas de sustentabilidade, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas,


químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria
ou energia resultante das atividades humanas que afetam a saúde, a segurança
e o bem-estar da população.
b) ( ) Manejo Sustentável é o uso dos recursos produzidos pelo homem, em um dado
local, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema.
c) ( ) A atividade de agropecuária não é responsável pela degradação das águas.
d) ( ) O uso intensivo do solo não é um problema ambiental já que não potencializa um
processo natural de erosão e assoreamento dos cursos de água.

2 A sustentabilidade é formada por um conjunto de ideias, estratégias e demais


atitudes ecologicamente corretas, economicamente viáveis, socialmente justas e
culturalmente diversas. Para se desenvolver de forma sustentável, é necessário atuar
de forma que os três pilares da sustentabilidade coexistam e interajam entre si de
forma plenamente harmoniosa. Sobre os considerados pilares da sustentabilidade,
analise as opções a seguir:

I- Social.
II- Político.
III- Econômico.
IV- Ambiental.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As opções I, II e III estão corretas.
b) ( ) As opções II, III e IV estão corretas.
c) ( ) As opções I, III e IV estão corretas.
d) ( ) As opções I, II e IV estão corretas.

3 Pode-se dizer que, até o início da década de 1970, o pensamento mundial dominante
era o de que o meio ambiente seria fonte inesgotável de recursos e qualquer ação de
aproveitamento da natureza fosse infinita. No entanto, fenômenos como secas, que
afetaram lagos e rios, chuva ácida e inversão térmica eliminada fez com que essa visão
ambiental do mundo começasse a ser questionada, com base em estudos científicos
que identificam problemas especialmente por conta da poluição atmosférica. De
acordo com as relações das Nações Unidas para o Meio Ambiente, classifique V para
as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

22
( ) A primeira grande conferência-marco na área de meio ambiente foi a Conferência
de Estocolmo, em 1972.
( ) Em 1992 ocorreram, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio 92).
( ) Em 2016, em decorrência da reunião Eco-92, a ONU propôs aos líderes mundiais
17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para que coletivamente,
a humanidade pudesse desassociar o crescimento econômico da pobreza, da
desigualdade e das mudanças climáticas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Políticas emergentes estão levando à integração da comunidade e práticas de


construção e design ambientalmente responsáveis, que até recentemente eram
marginalizados. Essa tendência tem o potencial de levar a muitos mais projetos
de desenvolvimento que são simultaneamente mais eficientes e lucrativos, muito
mais socialmente responsável e muito menos prejudicial ao meio ambiente. Nesse
contexto, disserte sobre os fatores que possibilitariam as principais mudanças nas
políticas e legislações sobre sustentabilidade.

5 A Pertamina Energy Tower é um arranha-céu proposto com 99 andares e 523 metros


em Jacarta, Indonésia. A torre foi proposta para ter um sistema estrutural duplo
composto por um núcleo central de concreto armado e um pórtico de momento
composto perimetral. Os dois sistemas são conectados em intervalos regulares ao
longo da altura usando estabilizadores de aço e treliças de correia. Sua principal
característica está na utilização de diversos processos sustentáveis, que, através de
design passivo e ativo, resultam em maior produção de energia do que consumo.
Neste contexto, disserte sobre o que é aplicar design passivo e ativo nas obras de
construção civil.

23
24
UNIDADE 1 TÓPICO 2 —
MATERIAIS PARA CONSTRUÇÕES
SUSTENTÁVEIS

1 INTRODUÇÃO
As consequências dos materiais no meio ambiente e na saúde humana são muitas
vezes ocultas no ambiente construído. Os impactos durante a fabricação, transporte,
instalação, uso e descarte de materiais de construção podem ser significativos. Os
materiais e produtos de construção podem ser fabricados a centenas e até milhares
de quilômetros de distância do local do projeto, afetando os ecossistemas nos locais
de extração e fabricação – sem serem vistos do local do projeto. Da mesma forma,
a extração de matérias-primas para esses produtos pode ocorrer longe do ponto de
fabricação, afetando aquele local.

O transporte em todas as fases consome combustível e contribui com poluentes


para a atmosfera. O descarte de resíduos de manufatura e materiais de construção
usados ​​afetará os ambientes em que serão depositados. Esses impactos são "invisíveis"
porque provavelmente estão distantes do local em construção e da localidade do projeto.
Por exemplo, o impacto da destruição de uma área úmida no local pode ser claramente
demonstrado e compreendido, no entanto, é difícil ver os efeitos do aquecimento global
resultante da liberação de CO2 durante a fabricação de concreto ou da destruição de
uma floresta tropical do outro lado do mundo pela mineração de bauxita para fabricação
do alumínio.

Apesar do fato de que não podemos ver seus impactos, os materiais usados ​​na
construção do ambiente construído estão danificando os ecossistemas do mundo em
uma taxa alarmante. A maioria dos materiais é feita de recursos não renováveis; ​​e sua
extração perturba habitats; impacta solo, ar e água; além de afetar a saúde humana
direta ou indiretamente por meio de danos ambientais.

Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos os desafios e a importância da seleção


dos materiais de construção civil adequados para uma construção verdes. Veremos
alguns materiais mais adequados para a sustentabilidade, como construções em
madeira e bambo, gestão e incorporação de resíduos da construção em misturas
utilizadas na própria construção civil e tecnologias de construção em terra. Além disso,
veremos materiais sustentáveis em base de cimento, para emprego em um ambiente
mais sustentável e com menor consumo de energia.

25
2 DESAFIO DA SELEÇÃO DOS MATERIAIS DE
CONSTRUÇÃO
A utilização dos materiais nos canteiros de obras evoluiu em resposta a
muitas tendências do século XX. Dentre elas temos mudança para utilização de mão
de obra mais qualificada para tornar a construção mais barata, crescente elaboração
de normas que não tratam especificamente de materiais ou das condições regionais,
que centralizam a produção para obter produtos mais baratos que não levam em
consideração os custos reais de destruição e poluição do ecossistema e o aumento do
uso de materiais compósitos, além de um enorme crescimento na indústria global de
materiais.

Como resultado, a indústria tem se tornado cada vez mais consumidora,


geradora de desperdícios e com uma paleta limitada de materiais para utilização no
canteiro de obra, fazendo uso geralmente de concretos, asfaltos e aço. Estruturas locais
de baixa energia incorporada, como construções em terra ou em pedra tem diminuído e
são quase inexistentes no dia de hoje no Brasil, isso se deve principalmente ao custo de
mão de obra elevado e escassez de trabalhadores qualificados nessa técnica.

Recursos abundantes, mão de obra barata e poucas regulamentações mudaram


a produção de muitos materiais de construção. Isso reduziu ainda mais a capacidade
dos projetistas de compreender os impactos da produção de material de construção, ou
mesmo de saber de onde eles vêm. O agregado pode ser transportado de uma pedreira
a 320 quilômetros do local, isso significa que, hoje, uma parte muito maior dos impactos
dos materiais de construção são aqueles relacionados ao consumo de energia incorrido
em caminhões, embarques e transporte ferroviário.

ATENÇÃO
Os materiais de construção no XXI devem responder a um conjunto
totalmente diferente de aspectos, como mudança climática global,
poluição do ar, aumento do custo do combustível, destruição
ecológica e perda de biodiversidade. Essas forças estão moldando
o local e a indústria de construção civil por meio do movimento de
desenvolvimento sustentável em rápido crescimento.

É necessário levar em consideração que apenas desviar um resíduo da


construção civil para aterros sanitários nem sempre é suficiente. Embora seja um
passo na direção certa, o que realmente é feito com o material determinará se é um
passo grande ou pequeno. Na conservação de recursos, como em outros aspectos de
projetos sustentáveis, existem tons de verde do claro – para uma um passo pequeno

26
de sustentabilidade – e tons escuros – para grandes passos sustentáveis). Por exemplo,
lascar uma viga de carvalho antiga recuperada e transformá-la em cobertura morta não
é o melhor uso do material e seria o tom ligeiramente verde. Em vez disso, reutilizá-la
de forma completa seria o tom verde escuro: por exemplo, se a viga se encontra em um
celeiro antigo sem uso, seria possível manter a viga no lugar e adaptar a estrutura para
que tenha uma outra função, sem custos de transporte ou demolição.

Materiais e produtos para locais sustentáveis ​​são aqueles que minimizam o uso
de recursos, têm baixo impacto ecológico, representam nenhum ou baixo risco para a
saúde humana e ambiental e auxiliam com estratégias locais sustentáveis. Dentro desta
definição, as características específicas dos materiais para locais sustentáveis ​​podem
ser separadas e são apresentadas nos subtópicos a seguir (CALKINS, 2009).

2.1 MATERIAIS QUE REDUZEM O USO DE RECURSOS


Reduzir o uso de recursos virgens na produção de materiais de construção
pode reduzir substancialmente seus impactos ambientais. Utilizar menos materiais
na construção, através da redução dos tamanhos das estruturas (ou por reformas
de estruturas existentes), além de economizar recursos virgens, também reduziria o
impacto de geração de resíduos. Reutilizar materiais no mesmo local também extingue
impactos de transportes, além de reduzir a destruição de habitat, energia e poluição de
ar e água.

Dentre algumas práticas para a seleção de materiais que reduzem o uso de


recursos, podemos elencar (CALKINS, 2009):

• Não usar novos materiais nem reconstruir: embora nem sempre viável ou
apropriado, esta é a melhor maneira de minimizar o uso de recursos. Isso pode ser
evitado projetando espaços adaptativos, com espaços abertos em planta.
• Reutilizar estruturas existentes no local: adaptar as estruturas existentes sem
desconstruir ou reconstruir pode dar uma nova vida aos materiais e revitalizar o
design dando uma nova identidade ao espaço.
• Reduzir o uso de materiais: com projetos de estruturas menores, como lajes e
paredes mais finas, com menos elementos de acabamento excessivos ou ornamentos.
Projetar estruturas de tamanhos modulares.
• Uso de materiais duráveis: projetar e detalhar estruturas com materiais que tenha
um tempo de vida maior reduz o uso de recursos virgens. Materiais com facilidade de
reparo também aumenta sua vida útil.
• Reutilizar materiais em sua forma completa: desconstruir ao invés de demolir
reduz o uso de recursos naturais e o gasto de energia de manufatura e poluição. Este
processo é mais bem concebido durante as etapas de construção.

27
• Utilizar materiais recuperados de outras fontes: o principal impacto de recuperar
materiais está no consumo de energia de seu transporte, retrabalho, acabamento
e instalação. Materiais recuperados podem ser obtidos de diversas fontes durante a
etapa de canteiro de obra.
• Uso de materiais reprocessados: a facilidade de utilizar materiais reprocessados
vem crescendo com o aumento de custo para depósito de materiais em aterros.
Concretos moídos, resíduos de pneu, asfalto, vidro e outros materiais podem ser
obtidos para a elaboração de agregados para concreto ou asfalto.

2.2 MATERIAIS QUE MINIMIZAM IMPACTOS AMBIENTAIS


Os materiais podem causar impactos negativos ao ecossistema e meio ambiente
durante todas as suas fases de ciclo de vida. Na fase de aquisição de materiais, o preparo
do terreno impacto no habitat quando remove a vegetação, através da modificação
do escoamento e retirada da camada superficial. Etapas de escavação podem resultar
na lixiviação de metais pesados, resultando em maiores emissões de resíduos e
impactando no ar e água presentes no ambiente. O transporte de materiais, entre todas
as fases de ciclo de vida, usa fontes de energia não renováveis e emitem poluentes
ao ar. O trabalho com materiais também pode envolver produtos contaminantes como
solventes, adesivos, seladores e compostos químicos.

Para reduzir os impactos ambientes algumas medidas podem ser adotadas


(CALKINS, 2009):

• Uso de materiais obtidos de forma sustentável: alguns fabricantes tomam


medidas para eliminar ou reduzir a poluição de ar, água e solo, através dos processos
de aquisição de matéria prima. Algumas empresas realizam medidas para reduzir os
impactos negativos de atividades de mineração.
• Uso de madeira certificada: como a madeira é renovável e tem energia incorporada
relativamente baixa, pode ser considerada uma matéria verde se vier de florestas
bem geridas; e se for desmatada de maneira sustentável. A gestão florestal ambiental
responsável inclui práticas que protegem a integridade e diversidade de povoamentos
de árvores, minimiza o corte raso, protege florestas antigas e reduz as técnicas de
colheita e moagem desperdiçadoras.
• Uso mínimo de materiais processados e de baixa energia incorporada:
materiais que são pouco processados, como pedras não cortadas, materiais terrosos,
madeira e bambu, representam baixo impacto ecológico. Utilizar esses materiais pode
conservar o uso de energia e emissão de resíduos perigosos. Energia incorporada
é a energia total necessária para produzir e instalar um material ou produto durante
todas as etapas do ciclo de vida.

28
• Especificar materiais produzidos com energia renovável: materiais produzidos
com energia renovável (solar, eólica, hidroelétrica, biocombustíveis, geotérmica)
podem ter impacto ambientais reduzidos. A queima de combustíveis fósseis é a
principal fonte de energia em uma alta porcentagem das atividades de manufatura.
• Uso de materiais locais: reduzem emissões devido ao transporte de materiais,
especialmente quando tratamos de materiais pesados. É necessário realizar um
estudo de viabilidade da manufatura dos materiais locais para extração. Além disso,
custos de transportes também são reduzidos.
• Especificar materiais de baixa poluição e baixa demanda de água: alguns
processos de extração, manufatura e construção produzem muito resíduo e
consomem muita água. Materiais como aço, de mineração e cimentos passam por
processos de elevada poluição e consumo de água.

2.3 MATERIAIS QUE NÃO POSSUEM RISCO A SAÚDE


HUMANA
Dentre os materiais que não possuem risco a saúde humana podemos
classificá-los entre materiais de baixa emissão, onde muitos adesivos, seladores e
outros compostos químicos podem gerar gases em seu uso, poluindo o ar ou lixiviando
material contaminante para o solo. Os trabalhadores de construção podem ficar
expostos a esses produtos químicos e serem afetados de diversas maneiras. Produtos
contendo conteúdo químico devem ser cuidadosamente examinados para efeitos
prejudiciais. Pode ser indicado materiais biodegradáveis ou facilmente degradáveis.
Além disso, pode ser especificado materiais que evitam produtos químicos, como
evitar o uso de materiais cancerígenos, como dioxina, que é liberado durante fabricação
e incineração de produtos de cloreto de polivinila (PVC). Também é possível realizar
inventário de liberação tóxica, apresentado pelo fabricante dos materiais sobre suas
liberações tóxicas do produto comercializado.

2.4 MATERIAIS DE EMPRESAS COM PRÁTICAS


SUSTENTÁVEIS, SOCIAIS E AMBIENTAIS
As práticas sociais, ambientais e corporativas de um fabricante ou distribuidor
de produto podem impactar na sustentabilidade deste produto. Os produtos devem
ser fornecidos por empresas que se responsabilizam pelos impactos ambientais e à
saúde humana de suas operações, além de proteger a saúde, segurança e bem-estar
de seus funcionários, fornece compensação justa e oportunidades iguais para todos os
trabalhadores, proteger a saúde e segurança do consumidor e contribuir positivamente
para a saúde e o bem-estar da comunidade. É importante pedir aos fabricantes
declarações de ética corporativa, declarações de trabalho justas e a localização (quando
possível) de aquisição e produção de matéria-prima.

29
3 CICLO DE VIDA DE UM MATERIAL DE CONSTRUÇÃO OU
PRODUTO
O ciclo de vida típico de materiais e produtos começa com a extração de
matérias primas da terra e termina com o descarte de produtos residuais de volta a terra
ou reciclados em outros materiais. A maioria dos fluxos do ciclo de vida dos materiais
são relativamente lineares (conforme apresentado na Figura 7), nos quais os materiais
se movem ao longo do clico onde são descartados, no entanto, alguns são circulares,
com reutilização de produtos, remanufatura de componentes e reciclagem de materiais.
O ciclo de vida ideal do material seria um fluxo circular de circuito fechado em que os
resíduos de um processo são fonte para outro e os resíduos lançados no meio ambiente
não existem (CALKINS, 2009).

FIGURA 7 – FASES TÍPICAS DO CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS, ONDE HÁ ENTRADA DE ENERGIA E SAÍDA
DE RESÍDUO PARA TODAS AS FASES E PODE ENVOLVER FASES DE REÚSO OU RECICLAGEM

FONTE: Calkins (2009, p. 24)

Os materiais de construção civil são produzidos por meio de vários processos


unitários com insumos da natureza e da indústria. Esses processos resultam em retornos
à natureza. Os insumos incluem matérias primas, tanto de recursos virgens quanto
reciclados, energia e água. As saídas de resíduos incluem emissões atmosféricas,
efluentes de água, lançamentos para a terra ou resíduos gerados de outra forma. O
material intermediário ou o produto também é uma saída.

Os fluxos de materiais são divididos em diretos e indiretos. Para fluxos diretos,


normalmente são contabilizadas as análises de materiais, combustíveis, minerais,
materiais biológicos, metais e água. Para fluxos indiretos, ou fluxos ocultos, são obtidos
os dados de erosão do solo, resíduos de minério, resíduos de vegetações, emissões e
efluentes lançados no ar, terra ou água. A maioria dos fluxos ocultos permanece na
terra, embora alguns entrem nos corpos d'água como sedimentos ou partículas.

30
INTERESSANTE
A maioria dos recursos usados ​​hoje não são renováveis, com
apenas 5% do nosso fluxo de materiais de recursos renováveis.
Se cada país usasse tantos recursos quanto os países ocidentais,
três Terras seriam necessárias para sustentar nossa sobrevivência
(Wackernagel; Rees, 1996).

O foco no consumo de recursos mudou das preocupações com a escassez


para incluir a degradação ambiental que ocorre com a extração, processamento, uso
e descarte da matéria-prima. À medida que aumenta o fluxo de materiais para atender
ao nosso consumo, os impactos no meio ambiente também aumentam. A mineração
de materiais geológicos altera os habitats, aumenta o escoamento e a erosão do solo
e perturba os processos ecológicos da terra onde ocorre a mineração. A redução da
cobertura florestal da mineração pode afetar negativamente a capacidade do planeta
de processar CO2 (CALKINS, 2009).

Em todas as fases, o crescimento das quantidades de resíduos intensifica os


encargos de sua disposição ou lançamento. Como a Terra é essencialmente um sistema
de circuito fechado, a capacidade dos ecossistemas de absorver essas cargas é limitada
(WAGNER, 2002).

A avaliação do ciclo de vida (ACV), também conhecida como análise do ciclo


de vida, é uma técnica qualitativa para avaliar os impactos no ambiente de materiais
de construção, serviços e processos. É a mais abrangente ferramenta para avaliar os
impactos na saúde humana pela utilização dos materiais na construção civil. O ACV
identifica e quantifica os impactos dos materiais no ambiente para um determinado
escopo, seja ele do berço ao fabricante ou até seu descarte ou reutilização. Todas as
entradas e saídas são quantificadas para que possa ser realizado de maneira correta
a avaliação.

Uma ACV é composta por quatro fases (ABNT, 2009a): definição de objetivo
e escopo, análise de inventário, avaliação de impactos e interpretação de resultados,
conforme apresentado na Figura 8. Os resultados obtidos pela ACV podem ser entradas
úteis para uma variedade de processos de tomada de decisão. Estudos de inventário
do ciclo de vida devem incluir a definição de objetivo e escopo, análise de inventário e
interpretação de resultados.

31
FIGURA 8 – FASES DE UMA ANÁLISE DE CICLO DE VIDA

FONTE: ABNT (2009a, p. 5)

O objetivo de um estudo da ACV deve declarar inequivocamente a aplicação


pretendida, as razões para conduzir o estudo e o público-alvo, isto é, para quem se
pretende comunicar os resultados do estudo.

Na definição do escopo de um estudo da ACV devem ser considerados e


claramente descritos os seguintes itens (ABNT, 2009a):

• as funções do sistema de produto ou, no caso de estudos comparativos, dos sistemas;


• a unidade funcional;
• o sistema de produto a ser estudado;
• as fronteiras do sistema de produto;
• procedimentos de alocação;
• tipos de impacto e metodologia de avaliação de impacto e interpretação subsequente
a ser usada;
• requisitos dos dados;
• suposições;
• limitações;
• requisitos da qualidade dos dados iniciais;
• tipo de análise crítica, se aplicável; e
• tipo e formato do relatório requerido para o estudo.

32
Análise do inventário envolve a coleta de dados e procedimentos de cálculo
para quantificar as entradas e saídas pertinentes de um sistema de produto. Essas
entradas e saídas podem incluir o uso de recursos e liberações no ar, na água e no solo
associados com o sistema. Podem ser feitas interpretações destes dados, dependendo
dos objetivos e do escopo da ACV. Esses dados também constituem a entrada para a
avaliação do impacto do ciclo de vida.

A fase de avaliação do impacto da ACV é dirigida à avaliação da significância


de impactos ambientais potenciais, usando os resultados da análise de inventário do
ciclo de vida. Em geral, esse processo envolve a associação de dados de inventário com
impactos ambientais específicos e a tentativa de compreender estes impactos. O nível
de detalhe, a escolha dos impactos avaliados e as metodologias usadas dependem do
objetivo e do escopo do estudo.

ATENÇÃO
Essa avaliação pode incluir o processo iterativo de análise crítica
do objetivo e do escopo do estudo da ACV, para determinar
quando os objetivos do estudo foram alcançados ou modificar o
objetivo e o escopo, se a avaliação indicar que eles não podem
ser alcançados. A fase de avaliação de impacto pode incluir, entre
outros, elementos como (ABNT, 2009a):

• correlação de dados de inventário por categorias de impacto


(classificação);
• modelagem dos dados de inventário dentro das categorias de
impacto (caracterização);
• possível agregação dos resultados em casos muito específicos
e somente quando significativos (ponderação).

Interpretação é a fase da ACV na qual as constatações da análise do inventário


e da avaliação de impacto ou, no caso de estudos de inventário do ciclo de vida, somente
os resultados da análise de inventário são combinados de forma consistente, com o
objetivo e o escopo definidos, visando alcançar conclusões e recomendações.

4 SUSTENTABILIDADE DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO


A crescente demanda por sustentabilidade atinge inúmeros setores da
indústria em escala global. O Brasil é um país promissor para liderar essa demanda e
com consumidores e empresários atentos e preocupados com a preservação ambiental.

33
O perfil do consumidor mudou muito nos últimos anos e ele está cada vez mais
exigente com aquilo que consome. Além de oferecer qualidade, as marcas agora devem
respeitar e até beneficiar o meio ambiente. A preservação ecológica tem aumentado seu
espaço e é natural que os consumidores criem esse comprometimento.

No entanto, a arquitetura sustentável ainda está atuando de maneira tímida.


O segmento da construção civil está entre os maiores poluidores do meio ambiente,
principalmente em função dos resíduos sólidos e detritos resultantes desse processo.
Acredita-se que o agente da transformação precisa ser o profissional da área,
apresentando alternativas ecológicas aos consumidores. Pensando nisso, neste tópico
serão abordadas algumas tecnologias sustentáveis utilizadas na construção civil.

4.1 TECNOLOGIA DE CONSTRUÇÃO EM TERRA


A construção com terra usa, como principal matéria-prima, a terra do local
que está disponível. Do ponto de vista prático, só podemos ajustar um pouco as
características dessa terra disponível, como remover o solo fértil e orgânico, mas o
objetivo principal é aprender a usar “o que você tem”.

Existem diferentes classificações de solos, a que é mais simples, para o caso


da construção civil, é derivada de aplicações rodoviárias, que classifica o solo de
acordo com critérios de tamanho de partícula e plasticidade. A principal consideração é
distinguir que existem três tipos principais:

• solo orgânico (fértil), que não pode ser usado na construção com terra;
• solo plástico, que podem ser moldados e manter sua coesão, tanto em condição
úmida como quando seca (caso de solos argilosos); e
• solos não plásticos, que podem parecer "coesos" quando molhados, mas que quando
secam, não retêm aquela coesão e esfarelam. Um exemplo disso é areia, que quando
molhada é coesa, mantendo sua forma, mas esta situação desaparece (a areia se
desintegra) quando a água se perde.

O tipo de terreno que temos determina os usos que podem dar como material de
construção e determina se é necessário um material que forneça coesão ou se a coesão
natural é suficiente. No primeiro caso, precisaremos de um aglutinante (cimento Portland,
cimento asfáltico, cal hidráulica); enquanto, no segundo, sua coesão natural é suficiente e
só é necessário evitar umedecimento excessivo que possa amolecer o material.

A outra característica dos solos (ou terrenos) é o tamanho das partículas e, no


caso de solos finos, são considerados areias se o tamanho for inferior a 2 mm (ABNT,
1995). Em tamanhos mais finos, seguem-se os lodos e, posteriormente, as argilas. Estes
últimos são aqueles que apresentam comportamento plástico, e suas características
laminar oferecem uma forte interação com a água. Esses materiais demoram muito para

34
hidratar; e secam com dificuldade. A água está presa entre as lamelas; e as variações
no teor de umidade se traduzem como principais mudanças dimensionais. Na prática,
as argilas são misturadas com fibras naturais (vegetais ou animais) para reduzir as
rachaduras típicas que ocorrem como consequência da redução de volume associada
à perda de umidade. Se um piso é plástico, você deve ser capaz de fazer alguns torrões
de solo úmido de 3 mm de diâmetro sem que ocorram rachaduras.

Luco (2021a), afirma que às vezes, e se houver disponibilidade local de mais


de um tipo de solo, é possível misturar solos não plásticos com solos plásticos para
a melhoria de suas propriedades. Caso o desejo seja de dispensar o uso de ligantes
do tipo cimento, é possível confinar um solo não plástico, seco e solto, em sacos ou
recipientes de formato adequado. Este recipiente flexível, preenchido com o solo não
plástico, mantém sua forma e volume e podem ser de maneira sucessiva para formar
paredes e telhados, como visto na Figura 9.

FIGURA 9 – EXEMPLO DE CONSTRUÇÃO COM SOLO SOLTO CONFINADO

FONTE: Luco (2021a, p. 10)

Finalmente, é importante destacar a importância da compactação granular


em o comportamento mecânico de solos não plásticos consolidados e, embora menos
importante, em solos finos. Por compactação granular entende-se a propriedade que
liga a porcentagem de vazios por unidade de volume aparente do solo. Quanto mais
vazios, menos resistente será a montagem e a demanda por pasta aglutinante (cimento
+ água, por exemplo) também é maior.

Deve-se notar que solos consolidados ou estabilizados não são materiais


densos; o volume de pasta de aglutinante (água + cimento) é menor que volume de
vazios intergranulares, ao contrário do que acontece no concreto convencional. Por
este motivo, seu comportamento mecânico é fortemente dependente da compactação;
quanto maior for a compactação, melhores serão as propriedades mecânicas. A
compactação que pode ser alcançada depende de duas variáveis:

35
• a energia disponível e o teor de umidade do solo (terra). É por isso que se determina a
umidade ótima correspondente a cada energia de compactação e o teor de umidade
é controlado, no momento da produção. A referência ao teor de umidade pode ser a
aparência da terra quando é cerrada com o punho.
• a estabilidade dimensional, isto é, se o volume não modificar a fim de induzir
rachaduras. O problema é mais severo em solos plásticos finos, porque sua natureza
microlaminar resulta com que incham quando molhados e encolhem quando secos.
Existem algumas estratégias, como evitar que se molhem, depois de secos, esperando
por secar antes de colocá-los, ou usar cal para estabilizar o material.

ATENÇÃO
Portanto, o processo de decisão de utilização de construções em
terra seria (LUCO, 2021a):

a) Identificar se o solo é coeso ou não coeso;


b) Se o solo for coeso, avaliar se contrai muito e se trinca ao
secar, e nesse caso, utilizar fibras como reforço. Se não for
coesivo, proceder para identificar a umidade que leva a máxima
compactação de energia disponível. Em ambos os casos,
para fazer alvenaria é necessário deixá-los curar e secar para
estabilizar suas mudanças volumétricas antes do uso.

4.2 CONSTRUÇÃO EM MADEIRA E BAMBU


A madeira, junto à pedra, é um dos materiais primários que se aplicam na
construção, podendo encontrar sua aplicação desde o período neolítico. A evolução da
construção com madeira, a partir dos métodos mais rudimentares, tem conduzido à
criação de diferentes técnicas, nas quais a madeira foi associada a outros materiais
para formar diferentes tipologias construtivas, muitas delas evoluindo juntamente com
a tecnologia do material até hoje.

Em todos os continentes encontramos madeira como material de construção,


assim como bambu em áreas onde este material cresce espontaneamente. Desde 1850,
ocorreram grandes mudanças na indústria da construção, nos materiais e nas formas
utilizadas para construir. Na Europa e na América no início do século XX, a madeira era
o material de construção dominante, especialmente no caso das casas mais modestas.
Três métodos principais de construção em madeira foram usados: com paredes em
enxaimel (uma estrutura quadrada de madeira que funciona como um esqueleto, com
a madeira posicionada horizontalmente, verticalmente e diagonalmente); com paredes
de toras verticais e com paredes de toras horizontais.

36
Como a madeira é um recurso natural renovável, ela tem sido explorada na
maioria dos países e amplamente utilizada de forma industrializada para a construção
de casas. Tem sido um importante material para a construção de edifícios ao longo da
história de todas as regiões do mundo. Nos Estados Unidos e Canadá, a produção de
casas unifamiliares de madeira constitui 90% do total construído. A madeira da árvore e
do bambu é um material sustentável por diferentes razões (NAVARRO; ELCORO, 1996):

• O uso da madeira contribui para a economia de energia.


• Os edifícios de madeira têm melhor isolamento térmico. Além disso, isso é alcançado
naturalmente. Na verdade, por ser um isolante natural, o isolamento é muito maior do
que nas construções feitas com materiais mais convencionais.
• A madeira na construção emite menos CO2.
• O CO2 permanece na madeira, ou seja, não é liberado. Por isso, as emissões são 30%
menores em um período de 50 anos. Isso também ajuda a economizar nos custos
de construção. Portanto, você não apenas economiza dinheiro, mas também ajuda o
meio ambiente.
• A madeira é um elemento facilmente reciclável.
• Por ser um elemento natural, a madeira pode ser reciclada com muita facilidade.
• A madeira é totalmente legal.
• Além de contribuir com a preservação do meio ambiente, a utilização de madeira
certificada na carpintaria torna-a madeira totalmente legal.

Existem diferentes certificações para madeira e bambu (Certificados FSC


e PEFC). Estas certificações promovem as práticas mais ecológicas e humanas na
exploração deste recurso natural e permitem garantir a sobrevivência das florestas, são
certificados que visam a exploração furtiva de áreas florestadas de todo planeta, como
a Amazônia e a África.

A tecnologia da madeira sofreu um grande desenvolvimento ao longo do


século XX, sobretudo devido ao aparecimento dos adesivos para a madeira e ao seu
aperfeiçoamento químico, o que permitiu dar o salto tecnológico com “materiais
inovadores” a partir da madeira de árvores e do bambu. Materiais industrializados
como placas, aglomerados e fibras de madeira, com diferentes orientações das fibras e
densidades e principalmente nos últimos tempos o que se denomina madeira laminada
e contra laminada (CLT), que retorna à madeira como um material a ser não aproveitado
apenas como revestimento, mas também como material estrutural.

Na última década, a madeira teve uma importante participação no mercado


de construção, competindo com o concreto e o aço, mesmo no caso de projetos de
grande porte. Arquitetos, engenheiros e pesquisadores apontam razões práticas para
construir com madeira, pois permite projetar e construir com velocidade e escala sem
precedentes, sendo está uma das qualidades mais apreciadas na construção. Na Figura
10 são mostrados alguns edifícios recentemente construídos, com bambu.

37
FIGURA 10 – CONSTRUÇÕES EM MADEIRA DE COBERTURAS EM TELHADO E DE UM EDIFÍCIO SOCIAL

FONTE: Adaptado de Oteiza (2021, p. 24-26)

4.3 RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO


Atualmente, a preocupação ambiental se faz necessária para a preservação
do planeta. Sabendo-se que os recursos naturais são finitos, a reciclagem de resíduos
se torna uma alternativa de redução de poluição ambiental, extração de recursos e
descarte incorreto. Desfazer de forma inadequada de resíduos sólidos acarreta severas
consequências para a saúde humana e o meio ambiente. É fundamental discutir a
respeito do tema sustentabilidade na área industrial, que é um dos setores que mais
geram resíduos e agridem o meio ambiente.

O volume de resíduo da construção civil (RCC) produzido nas cidades brasileiras


tem sido uma discussão de âmbito nacional em torno da reciclagem como uma
alternativa de disposição do resíduo, tão como cortar as despesas em aterros e criar uma
consciência da degradação ambiental, seguindo a tendência em países desenvolvidos.
Países em desenvolvimento cada vez mais tem usado fontes de resíduos de RCC, e uma
das várias propostas para sua utilização é em fins não estruturais como argamassas de
assentamento ou revestimento, como saída para a escassez de habitação popular em
vários países.

Além do reaproveitamento dos RCC em obras, também é necessário pensar


a remoção de poluentes devido efluentes industriais, para isso é possível pensar na
utilização de processos adsortivos. A água é pensada como um recurso inesgotável e
renovável, mas na realidade, devido ao uso indevido do homem, está se tornando um
recurso cada vez mais difícil de renovar. Além de o teor de água no planeta ser sempre
constante seguindo os ciclos da natureza, a ação do homem altera constantemente
a porcentagem de água disponível para consumo, ou seja, a água que os seres vivos
utilizam para cumprir funções biológicas.

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Existe, no mundo, uma ameaça crescente à sustentabilidade dos mananciais
superficiais e subterrâneos devido à alteração antrópica – que se dá ao uso do solo,
práticas agrícolas, desmatamento e uso de agroquímicos, entre outros. Atualmente,
existem muitos métodos desenvolvidos para atingir os valores permitidos, e muitos
deles não são usados ​​devido aos seus altos custos de instalação ou manutenção. Para
o caso de tratamento de metais em solução, os mais utilizados envolvem processos
físicos e químicos, e não processos biológicos, devido as suas enormes demandas
energéticas e territoriais.

Um método que pode ser aplicado para a remoção de poluentes de um curso


d'água que não requer grandes investimentos é aquele que se baseia no processo
de adsorção onde adsorventes de baixo custo e podem ser usados ​​para reduzir o
impacto econômico. Os adsorventes de baixo custo são considerados materiais que
são subprodutos de indústrias que possuem propriedades adsorventes úteis para o
propósito em questão, seus resíduos.

NOTA
Adsorção é um fenômeno de superfície que consiste no aumento da concentração de
uma substância entre a interface de uma camada condensada e uma camada líquida ou
gasosa devido às forças superficiais através de ligações físicas ou químicas. Adsorbato
é definido como a substância que é adsorvida na superfície e adsorvente como a
superfície em que ocorre a referida adsorção. É um processo pelo qual
átomos e/ou moléculas são retidos em uma superfície por meio de forças
intermoleculares de origem química, Van der Waals ou troca. O processo
reverso é chamado de dessorção, durante o qual as moléculas adsorvidas
são liberadas da superfície e transferidas de volta para a fase fluida.

No caso de haver afinidade do adsorbato pelo sólido, os seguintes tipos principais


de interações podem ser estabelecidos (VAZQUES, 2021):

• Adsorção de troca: ocorre quando os íons de uma substância estão concentrados


em uma superfície como resultado da atração eletrostática em locais carregados
com ela. Em um sistema multicomponente, sendo os demais fatores iguais, a carga
do adsorbato determinará o processo de troca, sendo aquele com a maior carga
o mais semelhante. Em concentrações molares iguais, para íons de carga igual, o
tamanho determina a atração, portanto, o menor íon é capaz de se transferir para a
zona de interface.
• Adsorção física ou fisissorção: é devido às forças de Van der Waals; as interações
são fracas, o adsorbato não se liga a locais específicos no adsorvente, mas permanece
livre na interface. A reação é considerada reversível e pode levar à adsorção em
multicamadas.

39
• Adsorção química ou quimiossorção: ocorre quando o adsorbato forma ligações
fortes nos centros ativos do adsorvente. Favorecido em altas temperaturas, é
específico devido à interação de íons em sítios ativos na superfície devido à alta
energia de ligação. É caracterizada por uma adsorção em monocamada.

Os metais como cobre, cromato, chumbo, níquel, prata e zinco por estarem
frequentemente presentes em efluentes industriais. Esses metais podem ser distribuídos
no meio ambiente como resultado de atividades humanas que muitas vezes encurtam
intencionalmente seu tempo de residência em depósitos minerais, podendo resultar na
formação de novos compostos metálicos, de origem não natural. A indústria realiza em
grande parte uma distribuição global de metais no meio ambiente por meio de descarte
na terra, na água e no ar.

5 MATERIAIS SUSTENTÁVEIS EM BASE DE CIMENTO


A geração de resíduos ocupa um aspecto fundamental em qualquer análise de
ciclo de vida, seja de resíduos gasosos, líquidos ou sólidos. Para o caso da construção
civil, sabe-se que o dióxido de carbono é emitido na produção de cal e cimento e na
produção de aço, através da geração de energia e na queima de combustíveis fósseis.

A construção é geradora de resíduos sólidos, em parte pela gestão do próprio


processo construtivo e, por outro lado, pelas frações “não úteis” na produção de matérias-
primas. Por exemplo, na mineração de rochas em pedreiras, podem ser extraídas frações
grossas e finas, mas sempre há um resíduo que, a priori, não atende aos requisitos
básicos estabelecidos. Na produção de ferro-gusa, a partir do minério de ferro, fica um
material secundário, a escória de alto-forno e na produção de energia a partir da queima
do carvão, surge um resíduo fino, que é coletado em filtros eletrostáticos, as cinzas
volantes (MEHTA; MONTEIRO, 2014).

Por outro lado, a construção tradicional produz quatro vezes mais volume de
resíduos sólidos do que a industrializada, justamente porque os processos são menos
padronizados e há menos controle sobre o uso dos materiais. Uma mudança de
comportamento, de emissor para receptor, muda a visão da construção, uma vez que
poucos processos são potencialmente capazes de incorporar volumes tão grandes de
resíduos, de diferentes tipos.

Nota-se que a indústria cimenteira incorpora grandes volumes de resíduos,


na forma de combustíveis alternativos (queima de óleos, resíduos de pneus e outros
materiais) mas também é comum a substituição parcial do clínquer Portland por resíduos
industriais, como granulados. escória de alto-forno, cinzas volantes, sílica ativa, resíduos
de produção de energia de biomassa, entre outros (LUCO, 2021b).

40
Essa substituição não só reduz o dióxido de carbono equivalente de cimentos,
argamassas e concretos, mas também melhora suas propriedades mecânicas e
duráveis, reduzindo o calor de hidratação, proporcionando resistência aos sulfatos e
produzindo um refinamento da estrutura dos poros. Além disso, o volume de clínquer
é reduzido e, portanto, o componente “não renovável” na produção de cimento. Neste
tópico, veremos algumas estratégias de concretos sustentáveis e aplicações de ponta
sustentáveis, como concretos e argamassas de altas prestações e materiais inteligentes.

5.1 ESTRATÉGIAS DE CONCRETOS SUSTENTÁVEIS


A inclusão de resíduos na matriz de concreto e argamassa é uma tecnologia
em desenvolvimento e com enorme potencial, tanto pelos volumes potencialmente
envolvidos, quanto pelas implicações ambientais e possíveis benefícios. Assim, por
exemplo, é comum a incorporação na América do Sul de empreendimentos tendentes
a incorporar fibras vegetais para a produção de materiais leves e isolantes, à base de
cimento.

O grande volume de concreto produzido, o aproveitamento potencial de


estruturas apoiadas (pavimentos e bases de pavimentos), sem risco de colapso,
possibilita a incorporação de grandes volumes de resíduos com baixos percentuais de
participação no volume de concreto ou argamassa.

Com estudos técnicos, pode-se comprovar que os resíduos finos da produção


de agregados (agregados) podem ser utilizados na produção de microconcretos para a
produção de blocos e pedras de pavimentação, com vantagens não apenas associadas
ao descarte dos resíduos, mas também com a redução do uso de matérias-primas
não renováveis ​​(areias) e até mesmo a redução do teor de cimento para benefícios
equivalentes (LUCO, 2021b).

Como exemplos de resíduos que poderiam ser imobilizados em matrizes


de cimento, existem diversas possibilidades, como uso de cinza pesadas provenientes de
usinas termoelétricas que geralmente são descartadas em aterros (WYRZYKOWSKI et al.,
2016), uso de resíduo do vidro laminado de para-brisa, uma vez recuperado o polímero
que constitui o laminado, também pode ser imobilizado em matrizes de cimento com
um pré-tratamento físico adequado (LUCO, 2021b).

NOTA
Dentre as principais características que afetam as resistências
mecânicas dos concretos temos: porosidade e distribuição do
tamanho de poro, relação água/cimento, conteúdo de cimento.

41
É importante, portanto, desenvolver um protocolo de avaliação da pré-viabilidade
de incorporação de resíduos em matrizes cimentícias, mas antes é necessário realizar outras
análises complementares, vinculadas aos aspectos primários do resíduo, sendo estas:

• A quantidade de resíduos e seu poder de poluição determinam a magnitude dos


estudos necessários; uma quantidade baixa não justifica estudos exaustivos, a menos
que se trate de um resíduo altamente poluente, que requer tratamentos específicos
que são justificados por essa condição.
• O tamanho da partícula, se for resíduo sólido, determina a fase que precisa ser
avaliada e não é uma questão menor.
• A importância do resíduo, seu poder de contaminação, toxicidade e os pré-
tratamentos necessários condicionam os estudos e determinam a "conveniência",
"possibilidade" ou "necessidade" de imobilização.
• Uma vez decidido que o estudo será realizado, deve-se analisar essencialmente a
estabilidade do resíduo no meio alcalino, a possível ocorrência de expansões e os
pré-tratamentos necessários para possibilitar sua incorporação.

A estratégia do concreto do ponto de vista de sustentabilidade leva em principal


consideração o aspecto de ciclo de vida deste material. No ano de 2006 foi calculado
um consumo mundial estimado entre 21 e 31 bilhões de toneladas de concreto, sendo,
depois da água, o segundo elemento mais consumindo na Terra (ECP, 2009).

ATENÇÃO
O conceito de sustentabilidade aplicado em concretos leva em
consideração três aspectos (CASTILLO, 2021):

• Durabilidade: vida útil sem custo de manutenção.


• Uso de materiais reciclados e subprodutos.
• Mínimo impacto ambiental durante produção e exploração.
• Otimização na produção e controle.

5.2 CONCRETOS E ARGAMASSAS DE ALTAS PRESTAÇÕES E


ESPECIAIS
O conceito de concretos e argamassas de alto desempenho foi modificado nos
últimos anos. Na década de 1970 do século passado, o conceito de alta performance
sempre foi assimilado à obtenção de alta resistência. Posteriormente, a partir da década
de 1980, também foi considerada a necessidade de desenvolver concretos de alta
durabilidade. O projeto desses concretos foi, portanto, focado na obtenção de concretos

42
com resistência adequada e alta durabilidade em ambientes agressivos, resultando
em estruturas com longa vida útil. Já no início deste século, com a incorporação do
conceito de sustentabilidade nos materiais à base de cimento e, mais recentemente,
com a introdução da nanotecnologia na concepção destes materiais, tem sido possível
dotar o concreto e a argamassa com desempenho e/ou funcionalidades avançadas
(GARCÍA-CALVO; PEREZ; CARBALLOSA, 2017).

Atualmente, os concretos de alto desempenho não são sinônimo de concretos


de alta resistência, pois oferecem algo mais ou diferente de altas resistências à
compressão. Os concretos de alta resistência são definidos que em geral como materiais
que apresentam uma resistência de dimensionamento característica (FCK) maior que
50MPa. Além disso, entende-se que um concreto é de altíssima resistência quando
apresenta valores superiores a 80MPa e ultra-alto desempenho para resistências à
compressão acima de 150MPa (GARCÍA-CALVO; PEREZ; CARBALLOSA, 2017).

NOTA
As particularidades a considerar no dimensionamento de um
concreto de alta resistência são (REVUELTA-CRESPO; CARBALLOSA
DE MIGUEL; GARCÍA-CALVO, 2017):

• Analisar os principais aspectos em cada uma das fases que


constituem um concreto, destacando a importância de refinar o
tamanho dos poros.
• Associar à obtenção de concretos de alta resistência, dando
importância na realização de um projeto de performance,
analisando as implicações desta abordagem.

O que se busca hoje no desenvolvimento de concretos e argamassas de alto


desempenho, nem sempre está voltado para o alcance de alta resistência mecânica.
Neste sentido, procuram desenvolver materiais mais sustentáveis ​​e económicos, com
elevada vida útil, e que melhorem a habitabilidade, o conforto e a eficiência energética
dos edifícios. Além disso, essa busca pela sustentabilidade no setor da construção e
junto com a incorporação da nanotecnologia no design desses materiais especiais, tem
sido um avanço fundamental (GARCÍA-CALVO; PEREZ; CARBALLOSA, 2017). Na figura 11
vemos um exemplo de construção que utilizou concretos de alto desempenho.

43
FIGURA 11 – TORRE ESPACIO EM MADRID FEITA COM CONRETO DE ALTO DESEMPENHO

FONTE: <https://bit.ly/3w05nUy> Acesso em: 30 out. 2021.

Os materiais à base de cimento passaram de materiais mais ou menos passivos, a


materiais inteligentes e ativos, capazes de reagir a estímulos externos, visto que estão a ser
dotados de características e funcionalidades que antes não possuíam. Mesmo tecnologias
concretas, que já foram utilizadas, estão sendo feitas em novas aplicações, aumentando
também a sustentabilidade do processo construtivo. Como exemplo desse tipo de tecnologia,
temos os concretos expansivos, geralmente utilizados na pavimentação, mas propondo
sua utilização na reabilitação e selagem de fissuras em estruturas de concreto (REVUELTA-
CRESPO; CARBALLOSA DE MIGUEL; GARCÍA-CALVO, 2017).

5.3 MATERIAIS INTELIGENTES: TERMOCRÔMICOS E


AUTORREPARÁVEIS
Os materiais cimentícios inteligentes são materiais de construção capazes
de responder aos estímulos ambientais com diferentes ações, sem necessidade de
intervenção externa. Existe atualmente uma grande atividade de investigação para o
desenvolvimento e otimização deste tipo de materiais como forma eficaz de melhorar a
sustentabilidade no setor da construção (PÉREZ, 2021).

Os materiais à base de cimento autorreparáveis são capazes de selar por si


próprios as fissuras que ocorrem nas diferentes fases da sua vida útil, quando são fissuras
incipientes e têm dimensão micrométrica. O objetivo é evitar que evoluam para fissuras
macroscópicas que comprometem o desempenho mecânico e a estanqueidade do material.
Desta forma, os materiais autorreparáveis ​​representam uma estratégia sustentável, que
aumenta a vida útil das infraestruturas e reduz a necessidade de manutenção e reparação
e os custos associados (GARCÍA-CALVO; PEREZ; CARBALLOSA, 2017).

44
Os materiais termocrômicos à base de cimento alteram a sua resposta óptica
com a temperatura e, portanto, permitem uma gestão eficiente da radiação solar quando
implementados na envolvente do edifício. Para os elementos opacos, o objetivo é que
o material apresente uma cor escura, relacionada a uma alta absorção de energia solar,
quando o ambiente externo é frio. Dessa forma, irá favorecer o aumento da temperatura
da envolvente e posteriormente do interior do edifício. O material muda de forma
autônoma e reversível para uma cor clara, com alto reflexo da radiação solar, quando o
ambiente externo está quente. Dessa forma, atenua o sobreaquecimento da envolvente
e do edifício (PÉREZ, 2021). Portanto, esse tipo de materiais dinâmicos nas envolventes
favorecem o menor consumo de energia para alcançar condições de conforto interior e
menos aquecimento do ambiente do edifício. Na figura 12 vemos ambos os processos
de concretos autorreparáveis e termocrômicos.

FIGURA 12 – MATERIAIS EM BASE DE CIMENTO INTELIGENTES

FONTE: Pérez (2021, p. 2)

45
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Materiais e produtos para locais sustentáveis são aqueles que minimizam o uso de
recursos, têm baixo impacto ecológico, representam nenhum ou baixo risco para a
saúde humana e ambiental e auxiliam com estratégias locais sustentáveis

• A avaliação do ciclo de vida (ACV) é a principal técnica qualitativa para avaliar os


impactos no ambiente de materiais de construção, serviços e processos. Onde todas
as entradas e saídas são quantificadas para que possa ser realizado de maneira
correta a avaliação.

• Na indústria da construção civil a aplicação de resíduos industriais em materiais


cimentícios vem tomando mais espaço, uma vez que traz benefícios pela redução de
custos como também reduzem as emissões de CO2 devido diminuição de parcela do
clínquer Portland.

• Sustentabilidade está alinhada a tópicos de desenvolvimento tecnológico, seja na


elaboração de materiais com maiores prestações de resistências mecânicas, ou em
materiais inteligentes com maior participação ativa, capazes de reagir a estímulos
externos.

46
AUTOATIVIDADE
1 A imagem mostra uma argamassa termocrômica em duas temperaturas diferentes. A
argamassa é fabricada a partir de um pigmento orgânico encapsulado disponível no
mercado, cuja temperatura de transição é de 31 ºC.

FONTE: O autor

Diante da temperatura em que a argamassa pode ser encontrada no lado direito da


imagem, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) 15 ºC.
b) ( ) 40 °C.
c) ( ) Não é possível saber com a informação obtida.
d) ( ) 50 °C.

2 Sustentabilidade pode e deve estar presenta nos materiais cimentícios, como


argamassas e concretos e podem fazer uso de resíduos ou ser de tecnologia de
ponta, como na utilização de concretos especiais. Com base nas definições de
sustentabilidade em materiais cimentícios, analise as sentenças a seguir:

I- Na década de 1970 um concreto de alto desempenho era considerado somente


aquele que tinha alta resistência à compressão.
II- A característica dos materiais em base de cimento autorreparáveis eliminam os
produtos de corrosão em armaduras.
III- Os cimentos com adição integram resíduos de outras indústrias com substituição
parcial do clínquer Portland.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

47
3 A durabilidade das estruturas de concreto depende de diferentes fatores ligados à
fase de projeto, produção e caracterização dos insumos, preparação do concreto,
execução da estrutura e manutenções preventiva e corretiva. De acordo com os
aspectos que influenciam na resistência à compressão de um concreto, classifique V
para as opções verdadeiras e F para as falsas:

(    ) Porosidade e distribuição do tamanho de poro. 


(    ) Relação água/cimento.
(    ) Conteúdo de cimento.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 O concreto de alta resistência é caracterizado por ter uma resistência maior que o
concreto convencional. A resistência à compressão de um concreto de alta resistência
é maior que 50 MPa, podendo, em alguns casos, chegar a até cerca de 100 MPa.
Para se ter uma ideia, a resistência do concreto mais utilizado no meio urbano é de
aproximadamente 30 MPa. Disserte as particularidades para o dimensionamento de
concreto de alta resistência inicial.

5 Materiais e produtos para locais sustentáveis são aqueles que minimizam o uso de
recursos, têm baixo impacto ecológico, representam nenhum ou baixo risco para a
saúde humana e ambiental e auxiliam com estratégias locais sustentáveis. Dentro
desta definição, as características específicas dos materiais para locais sustentáveis
podem ser separadas em materiais que reduzem o uso de recursos, que minimizam
impactos ambientais, que não possuem risco a saúde humana e de empresas com
práticas sustentáveis, sociais em ambientais. Com base nos materiais que reduzem o
uso de recursos, cite algumas práticas para a seleção que podem ser realizadas.

48
UNIDADE 1 TÓPICO 3 —
HABITABILIDADE E SALUBRIDADE:
COMO CONSTRUIR SUSTENTÁVEL

1 INTRODUÇÃO
O processo de geração de um habitat específico implica no conhecimento dos
padrões de conforto necessários e da técnica para serem atendidas. Pode-se dizer que
se trata de proporcionar ao usuário final de um edifício, condições adequadas de clima,
bem-estar e saúde em áreas de habitabilidade, como qualidade do ar, conforto térmico,
proteção contra ruídos e iluminação ambiente. Essas condições são obtidas fazendo
uso das ferramentas de desenho e aplicação de tecnologias.

Portanto, a busca de todos esses aspectos deve necessariamente contemplar


o ambiente em que se encontram. Proporcionar conforto térmico a uma casa localizada
no Canadá não é o mesmo que no Brasil, por exemplo. O estudo do ambiente, onde se
encontra determinada obra, é parte fundamental do processo de projeto arquitetônico,
seja para se proteger dele, seja para aproveitar seus recursos como radiação, ventos e
temperaturas.

Por outro lado, a palavra “meio ambiente” nos aproxima do que entendemos
como natureza, o planeta, o meio ambiente onde vivemos. Toda atividade realizada pelo
ser humano, como o processo arquitetônico, tem impacto no meio ambiente, e seu
conhecimento, no campo da sustentabilidade, nos ajuda a avaliá-los, antecipá-los e
minimizá-los.

Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos os aspectos básicos da habitabilidade e


saúde, ajudando o aluno a ter uma visão global do problema, e as formas e ferramentas
que permitem a sua avaliação e aplicação em conforto higrotérmico, acústico, lumínico,
químico e de espaços de acessibilidade.

2 CONFORTO HIGROTÉRMICO
A maioria das atividades das pessoas, atualmente, ocorre dentro de casa. Este
aspecto, aliado ao tempo de permanência no seu interior (mais de 90%), faz com que
o estudo da qualidade do ambiente interior (Qualidade Ambiental Interna, QAI) adquira
uma importância notável.

49
ATENÇÃO
Uma definição de qualidade ambiental interna QAI (Qualidade
Ambiental Interna), na qual a maioria das referências bibliográficas
coincidem, é: as propriedades físicas, químicas e biológicas que
o ambiente interior deve ter para não causar ou agravar doenças
nos ocupantes do edifício e para garantir um alto nível de conforto
aos ocupantes do edifício nas atividades de uso para as quais o
edifício foi projetado.

Uma das principais finalidades dos edifícios, para além da segurança estrutural,
é garantir saúde e um ambiente confortável para as pessoas que os habitam e/ou os
utilizam nas mais variadas atividades, sendo estes os verdadeiros objetivos do QAI.
Um bom QAI reduz o número de doenças e sintomas devido às síndromes de edifício
doente (SED ou do SBS do inglês, Sick Building Syndrome), melhorando o conforto e a
produtividade.

A qualidade ambiental é afetada pelos sistemas de aquecimento, ventilação


e ar-condicionado, pelos materiais de construção, pelo modo de operação e manutenção
do edifício, portanto, atingir um nível adequado de QAI é um dos objetivos mais
importantes, construção e manutenção de edifícios e suas instalações.

Um aspecto relevante que compõe o QAI é o conforto térmico das pessoas que
habitam os edifícios. Bem-estar térmico pode ser definido como a condição da mente
que expressa satisfação com o ambiente térmico. Para relacionar a percepção de bem-
estar com a resposta fisiológica, é necessário utilizar equações empíricas e recorrer à
estatística para prever o percentual de insatisfeitos. Os parâmetros que consideram as
variáveis dependentes do conforto em uma edificação são apresentados na Tabela 1.

50
TABELA 1 – PARÂMETROS DEPENDENTES DE CONFORTO

Temperatura do ar
Umidade relativa
Parâmetros Ambientais
Velocidade do ar
Temperatura radiante
Sexo
Idade
Peso (constituição corporal)
Taxa de metabolismo
Pessoal
Fator do usuário Vestimenta
Estado de saúde
Histórico térmico
Tempo de permanência
Sociocultural Expectativa de conforto
Adaptabilidade do espaço
Fatores Arquitetônicos
Contexto visual com exterior

FONTE: Martínez (2021, p. 3)

Existe um modelo físico matemático chamado Fanger que se pode obter os


parâmetros de sistemas de climatização. Quando analisamos as mudanças de um
indivíduo com o entorno há interações energéticas de troca de calor por radiação de
longitude curta e larga a conversão de vapor e respiração. Desta forma, foi estipulado
que as trocas de calor representam; 32% Radiação, 32% Convecção, 17% Respiração,
11% Difusão, 8% Condução (MARTÍNEZ, 2021).

Para umidades relativas, para conforto e bem-estar deve estar entre 30% e 70%,
enquanto para uma adequada saúde do usuário deve estar entre 40% e 60%. Para conforto
térmico, as temperaturas operativas em verão devem estar em aproximadamente 24,5 ºC
e no inverno 21 °C, enquanto a velocidade média do ar no verão deve estar entre 0,15 m/s
e no inverno 0,12 m/s.

51
3 CONTAMINAÇÃO ACÚSTICA E LUMÍNICA
Conforto acústico e lumínico são dois aspectos definidores de bem-estar e
habitabilidade. Eles são frequentemente interpretados como pouco relevantes em
comparação com outros, como conforto térmico ou qualidade do ar. No entanto, essas
são questões que acarretam sérios danos à saúde se não forem tratadas de maneira
adequada. Por exemplo, no campo acústico, um mau desenho de um espaço pode
causar desconforto aos ocupantes, desde simples incômodos que causam falta de
concentração, até sérios danos ao aparelho auditivo.

Cada vez mais empresas de engenharia estão se voltando para software


preditivo para serem capazes de realizar projetos apropriados de acordo com o tipo
de atividade a ser desenvolvida. Grandes avanços também foram feitos na teoria da
transmissão de som, o que levou a projetos com materiais e sistemas que proporcionam
ótimo isolamento com espessura reduzida.

No campo da iluminação, a relação entre as ciências da saúde e a física óptica


estabeleceu parâmetros de conforto claramente identificados. Os projetos de ambientes
devem atendê-los utilizando de elementos disponíveis, principalmente com o uso da luz
natural, e com a incorporação da iluminação artificial como complemento. A mais recente
legislação a nível internacional aponta para uma melhoria da eficiência energética dos
edifícios que inclui a utilização racional e estratégica da iluminação artificial. O uso
inteligente das lâmpadas pode ajudar a cumprir as diferentes regulamentações.

4 CONTAMINAÇÃO QUÍMICA
O termo “qualidade do ar interno” se aplica a ambientes internos não industriais:
edifícios de escritórios, edifícios públicos (escolas, locais de lazer, restaurantes etc.)
e residências particulares. Nos últimos anos, ganhou especial relevância por ser
associada ao termo "síndrome do edifício doente", que compreende um amplo conjunto
de sintomas ou doenças que as pessoas que trabalham ou vivem no referido edifício
atribuem ao próprio edifício.

É por isso que é necessário cuidar da qualidade do ar ou do ambiente interior, da


saúde das pessoas que vivem ou trabalham, enfim, que passam um tempo considerável
no interior do referido edifício. É também um dos fatores de saúde ambiental que tem
maior contribuição para a carga de doenças. De acordo com o relatório “Meio Ambiente e
Saúde” da Agência Europeia do Meio Ambiente, as infecções agudas do trato respiratório
inferior atribuíveis à poluição do ar interno são responsáveis ​​por 4,6% de todas as mortes
e 3,1% dos anos de vida ajustados por deficiência (EEA, 2005).

52
Como sinal da crescente preocupação com os efeitos que esses fatores têm
sobre a saúde, organizações internacionais como a Organização Mundial da Saúde,
a Comissão Europeia e organizações nacionais já possuem legislações, relatórios e
estudos relacionados à contaminação. em alguns casos, também incluem seções e
menções específicas ao ar interno, na ausência de outros desenvolvimentos legislativos
específicos sobre o assunto:

A Organização Mundial da Saúde estima em um de seus relatórios que a


poluição ambiental por partículas é responsável por 1,4% de todas as mortes no mundo.
A poluição do ar interior teria um efeito ainda maior, especialmente nos países em
desenvolvimento, devido ao uso de combustíveis fósseis nas residências para cozinhar
e aquecer. Nos países desenvolvidos, a poluição do ar interior não é tão grave como
pode ser nos países em desenvolvimento (devido ao baixo uso de combustíveis fósseis
nas residências); no entanto, a evidência sugere que contribui significativamente para o
risco de efeitos adversos à saúde respiratória em crianças.

Como os fatores ambientais constituem uma rede complexa que interage e


afeta a saúde de forma simultânea e sinérgica, é difícil estimar clara e separadamente
a carga de doenças devido exclusivamente à poluição do ar interno.

Nos países em desenvolvimento, a carga de doenças devido ao uso


generalizado de combustíveis fósseis nas residências foi estimada. No entanto, em
países desenvolvido, onde pouco se usa estes tipos de combustíveis, existem outros
tipos de contaminação, como uma grande variedade de produtos químicos, produtos
domésticos, pesticidas, desodorizantes, limpadores, além da fumaça do tabaco e
emissões de móveis e produtos usados ​​na construção. Porém essas estimativas ainda
são escassas (MARCOS; PULGARÍN, 2005).

ATENÇÃO
O ar interior contém uma mistura de poluentes de diferentes
fontes. A maior parte destas fontes encontra-se no interior, mas
é importante notar que o ar exterior que entra nas habitações
pode introduzir poluentes que não se originam neste ambiente,
razão pela qual o referido ar exterior está listado como uma das
fontes de poluição interior.

O ambiente interior em qualquer tipo de edifício, incluindo habitações, é o


resultado da interação entre o sistema de construção (projeto original e modificações
subsequentes na estrutura e sistemas mecânicos), técnicas de construção, fontes de
contaminação (materiais de construção e móveis, umidade, processos e atividades

53
dentro do edifício), ocupantes do edifício e fontes externas. A concentração resultante
depende de uma interação complexa de vários fatores que afetam a introdução,
dispersão e remoção de poluentes (FRANCHI et al., 2006).

Assim, os poluentes do ar interior podem ser classificados em agentes físicos


(conforto térmico, ruído, iluminação, campos eletromagnéticos e principalmente
eletricidade estática), agentes químicos (fontes primárias e secundárias) e agentes
biológicos (fungos, bactérias, vírus, pólen).

Particularmente para os agentes químicos, as fontes primárias são aquelas


que geram poluição devido ao seu uso ou presença no interior: uso de combustíveis,
fumaça de tabaco, bioefluentes de animais de estimação, revestimentos de pisos e
paredes, tintas sintéticas, colas, vernizes, ceras, pesticidas, materiais de construção,
ar vindo de fora (uma vez que uma parte substancial da poluição do ar externo migra
para dentro, afetando sua qualidade), entre outros. Em geral, qualquer produto químico
utilizado ou presente em seu interior é, a priori, fonte de contaminação. Por produto
químico, entende-se qualquer produto de uso doméstico, tal como os mencionados.

A taxa de troca do ar é atualmente 10 vezes menor do que há 30 anos, com


o consequente aumento da umidade e dos níveis de poluentes internos e alérgenos
transportados pelo ar (os edifícios tornaram-se mais eficientes na conservação de
energia em detrimento da diminuição da troca de ar com o exterior). Portanto, dentre
essas fontes, pode-se destacar:

• Fumaça de tabaco;
• Água e umidade, o que contribui para a presença de bolores, fungos, e, portanto, à
produção de alérgenos aéreos e à proliferação de bactérias;
• Materiais de construção e móveis;
• Uso de combustíveis fósseis;
• Uso de produtos químicos domésticos;
• Controle de pragas;
• Aquecimento, ventilação e ar-condicionado com manutenção ou instalação inadequada;
• Ar poluído de fora;
• Gases do solo (radônio);
• Atividades de redecoração, remodelação e reparo;
• Condições anti-higiênicas;
• Suprimentos;
• Indivíduos e eventos acidentais.

As fontes secundárias são os processos químicos que transformam os


poluentes emitidos pelas fontes primárias, dando origem a novos, que são conhecidos
como poluentes secundários, produtos de oxidação, partículas, entre outros. Esta
"química interior" pode ocorrer tanto na fase gasosa como em superfícies e é um

54
sumidouro de poluentes interiores e ao mesmo tempo uma fonte de novos poluentes
(MITCHELL et al., 2007). Na figura 13 é apresentado um esquema da qualidade do
ambiente interior e suas interrelações com diversos fatores.

FIGURA 13 – ESQUEMA DE QUALIDADE DE AMBIENTE INTERIOR

FONTE: Armero (2021, p. 3)

5 CONTAMINAÇÃO POR GÁS RÁDON


O isótopo de radônio (222Rn) aparece após o decaimento do rádio dentro da
cadeia de decaimento natural do isótopo de urânio (238U). Este gás inerte de origem
natural, derivado da decadência do rádio (226Ra) presente no solo, é capaz de viajar
entre os poros do solo até atingir a superfície, onde pode ser diluído entre os gases da
atmosfera, ou penetrar no interior de edifícios se não estiverem devidamente protegidos.
O gás é incolor, inodoro e muito difícil de identificar na natureza (FRUTOS, 2021).

A radiação produzida desse elemento é a alfa, com menor penetração e maior


dano, uma radiação muito energética e possuem muita agressividade de aderidas
a células do corpo, como respiratórias, como aparecimento de câncer de pulmão,
conforme informações da Organização Mundial da Saúde, cerca de 15% dos canceres
de pulmão são causadas pelo gás Rádon.

55
INTERESSANTE
Os níveis médios de exposição ao gás Rádon em interiores no
Brasil chegam a aproximadamente 81,95 Bq/m³ (UNSCEAR,
2006), relativamente altas quando comparadas a outros países.
Os limites recomendados para proteção de habitações exigem
exposição abaixo de 100 Bq/m³.

O rádon depende da quantidade de urânio que se encontra na composição do


solo. As rochas tipo graníticas são as que apresentam maior conteúdo médio de urânio,
necessitando atenção quando construído em ambientes com essa composição de solo.
Por outro lado, também podemos obter rádon de fontes de materiais de construção,
como cerâmicas, materiais arenosos, e concretos. É estimado que cerca de 80% do
rádon proveniente em um espaço é proveniente do terreno e 20% dos materiais da
construção. Além disso também é possível a presença de rádon em águas subterrâneas
(FRUTOS, 2021).

A mobilidade do rádon acontece pela difusão do solo, atravessando os


materiais de construção. Apesar de ser um processo lento, ocorre de maneira contínua.
Uma alternativa para evitar a contaminação por rádon no interior dos edifícios está na
elaboração de espaços vazios entre o terreno e o edifício, conforme visto na Figura 14.

FIGURA 14 – MANEIRAS DE REDUZIR DIFUSÃO DE RÁDON EM UMA CONSTRUÇÃO

FONTE: Frutos (2021, p. 11)

O primeiro caso apresenta três áreas de contato do edifício com o terro, tendo
maior exposição ao gás rádon, no segundo caso existem duas faces em contato com o
solo, no terceiro há redução de difusão de rádon, devido ter apenas uma superfície em
contato com o solo. O quarto caso, apresenta uma redução de ingresso de rádon, uma
vez que a estrutura está apoiada em pilares que possibilitam a passagem de ar abaixo,
dispersando o ingresso de rádon na estrutura.

56
6 ACESSIBILIDADE
As condições de acessibilidade são uma resposta às demandas de qualidade da
sociedade, que vêm se consolidando progressivamente ao longo do tempo. Eles estão
relacionados aos seguintes critérios:

• Redução de acidentes: consiste em reduzir a limites aceitáveis ​​o risco de que


qualquer usuário, independentemente de sua deficiência, sofra danos imediatos no
uso do ambiente físico em que opera. Esses danos podem ser causados ​​por quedas
devido a tropeços, escorregões, mudança de nível, falta de iluminação; impacto com
elementos fixos ou praticáveis; prisão em espaços fechados, entre outros;
• Proteção de direitos: consiste em facilitar o acesso, uso e compreensão não
discriminatórios e que proporcione a maior autonomia possível no desenvolvimento
desse ambiente a todos os utilizadores, incluindo pessoas com deficiência.

Embora estes tipos de acidentes causem uma menor percepção de risco se os


compararmos com riscos derivados de colapso estrutural ou incêndio (que geram maior
alarme social e costumam aparecer na mídia), sua frequência é muito maior, produzindo
um índice de acidentes muito alto e gerando altos custos econômicos anuais em
comparação, assim como mortes e problemas de deficiência. São também a principal
causa de morte de pessoas idosas, sem considerar casos de doenças. Deve-se ter em
mente que as sociedades atuais são capazes de atender a uma população cada vez mais
idosa que necessitará, se possível, de ambientes mais adaptados à acessibilidade.

Os regulamentos nacionais têm vindo a promulgar legislação e regulamentos


em conformidade com a defesa de direitos de acessibilidade a pessoas com deficiência,
como é o caso da norma 9050 da ABNT (2020), que devem atender critérios e técnicas
em projetos de construção, instalação e adaptação do meio rural e urbano de edificações
quanto às condições de acessibilidade.

• Acessibilidade universal: é a condição que ambientes, processos, bens, produtos


e serviços, bem como objetos, instrumentos, ferramentas e dispositivos devem
atender a fim de serem compreensíveis, utilizáveis ​​e praticáveis ​​por todas as pessoas
em condições de segurança e conforto e da forma mais autônoma e natural possível.
• Desenho universal ou desenho para todas as pessoas: é a atividade pela qual
são concebidas ou projetadas desde a origem e, sempre que possível, ambientes,
processos, bens, produtos, serviços, objetos, instrumentos, programas, dispositivos
ou ferramentas, em tal uma forma que podem ser utilizados por todas as pessoas, na
medida do possível, sem a necessidade de adaptação ou design especializado.
• Acomodações razoáveis: são as modificações e adaptações necessárias e adequadas
do ambiente físico, social e atitudinal existente às necessidades específicas das pessoas
com deficiência que não impõem uma carga desproporcional ou indevida, quando
necessário em um caso particular de forma eficaz e prática, para facilitar a acessibilidade
e a participação e para garantir às pessoas com deficiência o gozo ou exercício, em
igualdade de condições com as demais pessoas, de todos os direitos.

57
• Cadeia de acessibilidade: conjunto de elementos que, no processo de interação
do usuário com o ambiente, permitem a realização das atividades nele previstas,
sem produzir descontinuidade no cumprimento dos requisitos que possam afetar o
alcance da eficácia da acessibilidade.

NOTA
As medidas de acessibilidade estão vinculadas aos seguintes
perfis/capacidades funcionais:

• Físico: relacionado à destreza manual, manipulação de


objetos, formas de mobilidade, força etc.
• Sensorial: relacionado aos sentidos (visão, audição, tato,
paladar, olfato, equilíbrio, fala).
• Cognitivo: relacionado ao intelecto, memória, linguagem,
compreensão da linguagem e habilidades de leitura e escrita.

A acessibilidade requer inicialmente, condições funcionais, que consistem em


ligar todos os espaços que fazem parte do ambiente construído por meio de percursos
acessíveis. É imprescindível que essas rotas, além de atenderem a certas condições
que as tornam acessíveis, sejam seguras para todas as pessoas. Em segundo lugar,
é necessário dotar os espaços de certos elementos de acessibilidade (lugares de
estacionamento, instalações sanitárias, lugares reservados, bancos, entre outros.) que
permitam a todos usufruir do espaço público, do edifício e dos edifícios e diferentes
serviços prestados nessas configurações.

Por último, será fundamental incorporar a sinalética, tanto do ponto de vista


informativo como do ponto de vista da segurança. Desta forma, os espaços ficarão
seguros e os usuários poderão se orientar. Esta cadeia de acessibilidades deve ser
contínua, portanto, da casa para qualquer destino, um roteiro acessível deve ser traçado
levando em consideração que deve cruzar áreas comuns do edifício, áreas urbanas,
ou mesmo utilizar meios de transporte, até chegar a um determinado serviço público
dentro de um estabelecimento ou mesmo no local de trabalho.

58
ATENÇÃO
Um dos aspectos mais complexos que a acessibilidade enfrenta
é a adaptação dos espaços urbanos e edifícios existentes. Uma
parte importante desses ambientes foi construída antes que
esses tipos de medidas fossem obrigatórios e, portanto, carecem
delas. Embora o objetivo deva ser sempre o de cumprir as
mesmas condições de um edifício novo, é necessário dar alguma
flexibilidade e admitir que em muitos casos este nível não é
atingível, pois implica um custo inaceitável ou uma inviabilidade
técnica. Nesses casos, é melhor permitir pequenas melhorias de
acessibilidade que, embora não atinjam os níveis de construção
nova, representam passos na direção certa.

Uma abordagem mais exigente (conformidade total como opção) significaria


que muitos edifícios, que não conseguem atingir esses níveis, também não fazem outras
pequenas melhorias. Claro, essas melhorias nunca devem agravar outras condições
existentes que possam ser afetadas pelas obras. As condições de acessibilidade mais
importantes são as seguintes:

• Mobilidade horizontal

◦ Dimensões da rota e raios de viragem, principalmente para as condições de


mobilidade mais exigentes para os usuários de cadeira de rodas.
◦ Medidas de segurança para evitar impacto com elementos fixos e envidraçados
do edifício, incluindo pessoas com deficiência visual.
◦ Condições para as portas, incluindo suas dimensões, os dispositivos de abertura
(localização, forma de manobra, espaço, força de abertura), rotas alternativas para
portas giratórias.
◦ Condições de segurança nos pavimentos contra escorregamentos, risco de
tropeçar, existência de elementos soltos e deformável, grades etc.
◦ Adotar vagas de estacionamento acessíveis.
◦ Utilizar de lugares reservados em salas de eventos e salas de conferências,
considerando pelo menos os usuários de cadeiras de rodas e deficientes auditivos.
◦ Prestação e características de serviços sanitários acessíveis (sanitários, vestiários,
duchas).
◦ Adotar de outros elementos de acessibilidade (móveis, fontes públicas, balcões
de atendimento).

59
• Mobilidade vertical

◦ Recursos de segurança contra quedas e acessibilidade em escadas (projeto de


degraus, corrimãos, altura, sinalização tátil de segurança e orientação).
◦ Características das rampas acessíveis (dimensões, declives, comprimento,
características do corrimão).
◦ Características dos elevadores acessíveis (dimensões, teclados, abertura de porta,
dispositivos de alerta).
◦ Em edifícios existentes, características de plataformas verticais ou inclinadas
quando não é possível instalar rampa ou elevador.

60
LEITURA
COMPLEMENTAR
ACESSIBILIDADE E ADAPTAÇÃO DAS OBRAS PÚBLICAS À NBR 9050

Eduardo Nunes Quadros

INTRODUÇÃO

A acessibilidade é um direito de todos e os Portadores de necessidades especiais


(PNE) tem enfrentado muitos problemas nesse sentido, uma vez que nem todas as
obras são adaptadas levando em consideração a NBR 9050. Levando em consideração
o fato de que os órgãos governamentais, dentro de suas esferas legais, têm o dever
de garantir a promoção da cidadania, direito constitucional fundamental, sendo que a
acessibilidade é um de seus instrumentos, salienta-se a importância da atuação dos
Órgãos de Controle Externo na efetivação da acessibilidade.

Desde o ano de 2001, o TCE-RJ tem atuado nas áreas de obras e serviços
de engenharia, analisando os projetos básicos dos editais de concorrência pública e
verificando seus aspectos legais, legítimos e económicos quanto aos atos administrativos
dos gestores públicos (Ato Normativo TCE-RJ nº 58, de 15.03.2001).

O objetivo geral desse artigo é abordar a importância da acessibilidade das


Pessoas com necessidades especiais e a necessidade de adaptação das obras pública
à NBR 9050. Como objetivos específicos espera-se: descrever os elementos conceituais
e o panorama dos Portadores de Necessidades Especiais no Brasil e no Mundo; abordar
os Direitos das Pessoas com Necessidades Especiais no que diz respeito à acessibilidade
e descrever como as obras públicas podem se adaptar à NBR 9050.

Sua relevância consiste no fato de que a abordagem dessa temática contribuirá


para um melhor entendimento sobre a necessidade de adaptação das obras públicas
à NBR 9050, buscando propiciar maior acessibilidade aos Portadores de Necessidades
Especiais (PNE).

A pesquisa é descritiva e contou com um levantamento bibliográfico, onde


foram consultados livros, artigos e legislação sobre a temática objeto desse artigo.

61
OS DIREITOS DAS PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS (PNE)

A Constituição Federal de 1988 aborda os temas ligados às pessoas portadoras


de deficiência em várias passagens. Dito isso, no art. 7º § XXXI, a Constituição proíbe
qualquer distinção sobre o estabelecimento de critérios específicos de admissão, no
que diz respeito a discriminação salarial por se tratar de um trabalhador “portador de
deficiência”. Em seu art. 37 § VIII, determina que “a lei reservará percentual dos cargos e
empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de
sua admissão”; sendo ainda disposto por meio do art. 203 § II, que a Assistência Social
deve habilitar e reabilitar as pessoas “portadoras de deficiência”, promovendo também a
sua integração à vida comunitária (BRASIL, 1988).

Estabelece também, através do art. 227 § II, que é dever do Estado elaborar
programas comunitários as pessoas que apresentam necessidades especiais a partir
de um treinamento preparatório para o trabalho e a coexistência, e a facilitação da
afluência aos bens e serviços coletivos, extinguindo qualquer tipo de preconceitos e
obstáculos de acessibilidade. Além disso, o seu art. 244, remete à lei as disposições
acerca da transposição das ruas, dos prédios de utilização pública e dos veículos de
transporte coletivo, propiciando uma maior acessibilidade às pessoas com algum tipo
de deficiência (BRASIL, 1988).

Nesse sentido, a intenção dos constituintes foi dar efetividade a esses direitos e
não os transformar em letra morta. A leitura dos diversos incisos do art. 5º deixam clara
a existência de normas que definem os direitos das pessoas que apresentam algum tipo
de necessidade especial (FERREIRA FILHO, 2010).

Com o intuito de contornar as barreiras construídas pelo veto do art. 1º, IV, da Lei
n. 7.347/85 e de se antecipar à Lei n. 8.078/90, a criação da Lei n. 7.853/89 sancionou
a atuação civil pública como solução processual, de modo a apropriar a proteção dos
interesses coletivos ou difusos das pessoas que possuem algum tipo de necessidade
especial, assegurada tanto pelo Ministério Público quanto pelos indivíduos jurídicos
de Direitos Públicos; assim como pelas fundações, empresas públicas e associações,
“além de sociedades de economia mista (com a premissa que sejam incluídas, entre
seus objetivos institucionais, a proteção de pessoas com necessidades especiais)”
(QUADROS, 2020, s.p.).

A instituição do Código Civil de 2002 possibilitou a promoção de um tratamento


mais pertinente às pessoas com necessidades especiais. Contudo, no tocante às
nomenclaturas utilizadas para designar aqueles que apresentam algum tipo de
deficiência, verifica-se que os termos utilizados como “deficiência mental”, “enfermidade”
e “excepcional sem desenvolvimento mental completo”, ainda são insuficientes para
ilustrar o número significativo de casos, nesse ponto de vista. Neste contexto, são
notórios alguns pontos relacionados à classificação e, em específico, a nomenclatura,
que necessitam de uma maior apreciação por parte do legislador (ABREU, 2009).

62
Ao propor a nomenclatura “pessoa portadora de deficiência”, o legislador
objetivava dissociar a palavra deficiência do termo pessoa. Contudo, esse fim não foi
efetivado, uma vez que o foco se voltou não para a possível solução desta questão, mas
para o termo portador, indicando que se trata de alguma patologia. Nesse caso, o termo
mais usado passou a ser “pessoas com necessidades especiais” (FÁVERO, 2004).

No que tange à comparação do grupo dos relativamente incapazes, no Código


Civil de 2002 foram inseridos os que, “por deficiência mental, tenham o discernimento
reduzido” (art. 4º, II, segunda parte, CC/02 (Redação antiga)), assim como “os
excepcionais, sem desenvolvimento mental completo” (art. 4º, III, CC/02 (Redação
antiga)). Mudança essa que foi reconhecida como um progresso considerável no tocante
à redação anterior, uma vez que permitiu a indicação dos graus de incapacidade e,
assim, propiciou ao indivíduo a possibilidade de alcançar a capacidade relativa, fato este
que anteriormente não era possível. (REQUIÃO, 2016).

Diante disso, constata-se a valia da concessão da autonomia do indivíduo


como um grande avanço na manutenção da autonomia das pessoas com necessidades
especiais, permitindo que eles atinjam a capacidade relativa (SCHREIBER, 2018).

Oliveira (2016) relata que a exclusão das pessoas com deficiência mental ou
intelectual do conjunto que enumera as pessoas totalmente incapacitadas fomenta
relativamente a consideração deles em serem incapacitados, constatando um grande
equívoco (artigo 4º, III, do CC).

Os efeitos oriundos do Estatuto revigoram e atendem os critérios adotados


pela Convenção quanto aos Direitos das Pessoas com Deficiência. Este documento é
reconhecido como um grande avanço no que se refere à proteção da dignidade da
pessoa com deficiência. Essas inovações são oriundas de um processo intenso que teve
como objetivo incluir socialmente as pessoas com necessidades especiais, bem como
da garantia do seu direito à cidadania efetiva e plena (VORCARO; GONÇALVES, 2018).

A ACESSIBILIDADE COMO DIREITO FUNDAMENTAL DAS PESSOAS COM


NECESSIDADES ESPECIAIS (PNE)

Certamente, a acessibilidade é um dos instrumentos essenciais que garantem


a inclusão social, posto que a mesma busca assegurar o acesso das pessoas de
maneira imparcial aos outros direitos, ainda que compreendam um direito fundamental
(NISHIYAMA et al., 2016). Trata-se de um ato que está ligado à dignidade da pessoa
humana, visto que propicia liberdade quanto ao acesso à justiça, possibilitando o
exercício pleno dos seus direitos (SASSAKI, 2008).

A primeira previsão expressa no ordenamento jurídico do termo acessibilidade


ocorreu através da Emenda Constituição nº 12 promulgada em 1967. O texto de referida
emenda busca garantir às pessoas com necessidades especiais uma melhor qualidade

63
de vida tanto económica como social e econômica, principalmente em relação à
acessibilidade nas ruas e edifícios. Ainda que limitada, esta emenda é reconhecida
como um grande avanço na proteção dessa camada da população, pela qual foram
interpostas medidas judiciais relacionadas à implantação de rampas que facilitam o
acesso a locais privados ou públicos (ARAÚJO, 2001).

Contudo, somente no ano de 2006, este direito se tornou relevante através da


Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência em Nova Iorque. A princípio, a
acessibilidade aos locais ganhou a sua devida relevância, da mesma forma que o acesso
à saúde e à educação (NISHIYAMA et al., 2016).

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência se baseou,


principalmente, na acessibilidade. Fato este que se evidenciou através da formulação de
um artigo inteiro (artigo 9º) voltado aos aspectos ligados a essa questão (BARCELLOS;
CAMPANTE, 2012).

A amplitude do conceito de acessibilidade é bastante profunda, uma vez que


a sua abrangência compreende todas as esferas de interação social e não apenas as
barreiras de interação social. Desta forma, é possível definir acessibilidade como sendo:
“o mecanismo por meio do qual se vão eliminar as desvantagens sociais enfrentadas
pelas pessoas com deficiência, pois dela depende a realização dos seus demais direitos”
(BARCELLOS; CAMPANTE, 2012, p. 177).

Buscando a garantia da dignidade da pessoa com deficiência é necessário que


sejam respeitadas as condições para que sejam exercidos de forma plena seus direitos
fundamentais (SILVEIRA, 2010). A pessoa com deficiência tem sua dignidade humana
assegurada quando os seus direitos à individualidade e à integridade física e moral não
são tirados (NISHIYAMA et al., 2016).

O ápice da preocupação relacionada à necessidade de uma maior inclusão


das pessoas portadoras de deficiência se deu na década de 1970, quando diversos
segmentos organizados começaram a se mobilizar, promovendo campanhas em nível
global com o intuito de ressaltar a precisão de ações voltadas a remoção de barreiras de
acessibilidade no âmbito arquitetônico, que dificultam a locomoção e ao acesso dessas
pessoas à vida em sociedade (NISHIYAMA et al., 2016).

Embora essa preocupação tenha ocorrido nessa época, ainda são incipientes
o número de rampas tanto nas calçadas como nos edifícios, para cadeirantes, além de
pisos podotáteis e sonorização nos elevadores. A implementação dos mecanismos de
acesso começou a ser implantados a partir da década de 1990 (OHLWEILER, 2014).

64
OBRAS PÚBLICAS E ADEQUAÇÃO À NBR 9050

A NBR 9050 (Adequação das Edificações e do Mobiliário Urbano à Pessoa


Deficiente) foi elaborada em 1985, sendo a primeira norma técnica brasileira voltada
para a acessibilidade e contou com a participação de profissionais de áreas diversas,
em conjunto com pessoas com deficiência (IBAM, 1998).

Buscando uma ampliação do alcance e atualização da NBR 9050, a ABNT


instalou uma Comissão de estudos, e a referida norma em 1994 foi nomeada como
Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência às edificações e espaço, mobiliário
e equipamentos urbanos. Posteriormente, em 2004, a norma passou a estabelecer
critérios e parâmetros técnicos a serem analisados referentes ao projeto, a construção,
a instalação e a adaptação de edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos
às condições de acessibilidade (CALADO, 2006).

Para tornar possível o estabelecimento desses critérios e parâmetros técnicos


foram levados em consideração várias condições que envolve a mobilidade e a percepção
do ambiente, “com ou sem a ajuda de aparelhos específicos, como: próteses, aparelhos
de apoio, cadeiras de rodas, bengalas de rastreamento, sistemas assistivos de audição ou
qualquer outro que venha a complementar necessidades individuais (CALADO, 2006, p. 49)”.

Segundo o item 1.3.1 da NBR 9050/2004, todos os espaços, edificações,


mobiliário e equipamentos urbanos que forem projetados, construídos, montados ou
implantados, bem como as reformas e ampliações de edificações e equipamentos
urbanos, precisam atender o que ela estabelece para serem considerados acessíveis.

Como verificado no artigo 12 da Lei Federal nº 8.666/1993, o projeto básico de


uma construção ou reforma necessita cumprir com vários requisitos, principalmente
os relativos ao seu inciso II, que diz respeito à funcionalidade e sua adequação ao
interesse público. Para Justen Filho (2005) respeitar o interesse público seria atribuir
à Administração uma competência discricionária para determinar o modo concreto de
satisfação das necessidades coletivas.

Justen Filho (2005) deixa claro que o projeto básico não é destinado a
disciplinar a execução da obra ou do serviço, mas necessita demonstrar a viabilidade
e a conveniência de sua execução. Neste caso, não pode ser viável ou conveniente a
execução de obras públicas sem que todos possam delas usufruir.

A revisão mais atual da NBR 9050 ocorreu em 2015, sendo que seus objetivos
são diferentes das versões anteriores, uma vez que passou a abordar o meio rural e
não somente o meio urbano. Além disso, são apresentadas informações e ilustrações mais
detalhadas, como também as maneiras de fazer as devidas adaptações de acordo com
a característica de cada modelo (LIMA, 2016).

65
Salienta-se que o Decreto nº. 5296/2004, mencionado em parágrafos anteriores,
estabeleceu prazos para adequação de edifícios de uso coletivo do país às normas que
estabelecem critérios para a promoção da acessibilidade de pessoas com deficiência,
sendo o limite máximo de dezembro de 2008 para o cumprimento de tal determinação.
Perante o quadro normativo existente, é necessária a contratação de profissionais
qualificados buscando atender a tal demanda (NASCIMENTO, 2013).

CONCLUSÃO

Diante do exposto, conclui-se que a acessibilidade é direito de todos e


a observação dos parâmetros de acessibilidade previstos no Decreto Federal nº
5.296/2004 e na NBR 9050/2004, quando da análise dos projetos de obras pública,
garante o atendimento aos princípios da legitimidade e da economicidade. A verificação
da acessibilidade na análise de editais, à luz dos princípios constitucionais da legalidade,
legitimidade e economicidade, tem como objetivo contribuir para a eficiência da
Administração Pública, evitando desperdícios na aplicação de recursos destinados à
execução de obras.

Entretanto, a legislação vigente não tem garantido de forma ampla que


as cidades possam ser utilizadas por todos os seus cidadãos, uma vez que a
transformação de atitudes e de parâmetros ainda é lenta e poucos são os municípios
que estão transformando o direito à acessibilidade. Portanto, é necessária uma maior
conscientização e para tanto é necessária uma disseminação maior de informações
e conhecimentos técnicos específicos e da legislação vigente quanto a esta questão,
tanto ao corpo técnico dos Tribunais de Contas quanto aos seus jurisdicionados.

FONTE: <https://www.nucleodoconhecimento.com.br/engenharia-civil/acessibilidade-e-adaptacao>.
Acesso em: 18 jan. 2022.

66
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Os espaços interiores devem ter propriedades que evitem que seus ocupantes sejam
contaminados de maneira física, química ou biológica e assegurar um alto nível de
conforto dos ocupantes para realizar suas atividades.

• Dentre os contaminantes de ambientes interiores, podemos classificá-los como


agentes físicos, químicos e biológicos. Os agentes químicos podem ser de fontes
primarias, que geram contaminação devido a sua presença no interior e como
secundária, no qual são processos que transformam os contaminantes primários em
outros contaminantes.

• A contaminação por gás rádon, material relacionado ao surgimento de câncer de


pulmão, pode ser reduzida em espaços interiores, quando utilizado de sistemas que
evitam contato do edifício com o solo.

67
AUTOATIVIDADE
1 Mais que um projeto arquitetônico, a acessibilidade tem objetivo de propiciar uma
sociedade mais igualitária. É a garantia de transição a todos que possuem algum
tipo de necessidade especial ou mobilidade reduzida por espaços públicos ou
privados, sem a presença de nenhuma barreira arquitetônica. Sobre as condições de
acessibilidade nas construções civis, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Isolamento acústico entre ambientes.


b) ( ) Disposição de barras de apoio em banheiros.
c) ( ) Altura dos interruptores.
d) ( ) Declive de rampas.

2 O radônio é a segunda maior causa de morte de câncer de pulmão nos Estados Unidos,
atrás apenas do cigarro. É provado por estudos da EPA (Environmental Protection
Agency dos EUA) que em torno de 21 mil pessoas morrem por ano por causa desse
elemento químico, 2.900 das quais não são fumantes. Com base na contaminação de
interiores por rádon, analise as sentenças a seguir:

I- A principal fonte de entrada rádon na edificação vem devendo as águas subterrâneas.


II- Como estratégia para mitigar a entrada de rádon é necessário despressurizar o
terreno e eu haja ventilação.
III- A principal fonte de entrada rádon na edificação vem devido ao tereno abaixo do
edifício.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas.

3 A Qualidade do Ar Interno (QAI) surgiu como ciência a partir da década de 1970 com
a crise energética e a consequente construção dos edifícios selados (desprovidos
de ventilação natural), principalmente nos países desenvolvidos, e se destacou após
a descoberta de que a diminuição das taxas de troca de ar nesses ambientes era a
grande responsável pelo aumento da concentração de poluentes no ar interno. De
acordo com a contaminação de ar interior, classifique V para as sentenças verdadeiras
e F para as falsas:

68
(   ) O fumo de tabaco, a emissão de fibras a partir de materiais de construção, a utilização
de plásticos e produtos sintéticos (tintas e vernizes) são alguns exemplos de fontes
de poluição do ar.
(   ) A radioatividade é um fator de risco relativo ao ar interior.
(   ) Os animais domésticos, quando vivem no interior das casas, não influenciam a
qualidade do ar interior.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 os poluentes do ar interior podem ser classificados em agentes físicos (conforto


térmico, ruído, iluminação, campos eletromagnéticos e principalmente eletricidade
estática), agentes químicos (fontes primárias e secundárias) e agentes biológicos
(fungos, bactérias, vírus, pólen). Disserte sobre as fontes primárias e secundárias dos
agentes químicos.

5 A iluminação é, sem dúvida, um dos principais elementos dentro da arquitetura, isso


porque a luz, seja ela natural ou artificial, torna qualquer ambiente vivo e melhora
a qualidade de vida dos usuários. Neste contexto, disserte sobre os efeitos da
iluminação na construção civil.

69
70
REFERÊNCIAS
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estrutura. Rio de Janeiro: ABNT, 2009a.

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orientações. Rio de Janeiro: ABNT, 2009b.

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WYRZYKOWSKI, M. S. et al. Internal curing of high-performance mortars with bottom


ash. Cement and Concrete Composities, v. 71, p. 1-9, 2016.

73
74
UNIDADE 2 —

PROCESSOS SUSTENTÁVEIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar abordagens de construções sustentáveis com o entorno;

• contribuir para conhecimento de projetos de desenvolvimento de baixo impacto;

• utilizar de planejamento integrado de obra com práticas sustentáveis;

• aproveitar, da melhor maneira possível, recursos como iluminação e ventilação em


uma obra.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – PROCESSO DE DESIGN VERDE

TÓPICO 2 – PLANEJAMENTO INTEGRADO DE OBRA

TÓPICO 3 – APROVEITAMENTO DE RECURSOS

CHAMADA
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UNIDADE 2!

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76
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
PROCESSO DE DESIGN VERDE

1 INTRODUÇÃO
O movimento do edifício de alto desempenho está mudando a natureza do
ambiente construído e os sistemas de entrega, que são usados ​​para projetar e construir
a instalação de acordo com as necessidades do cliente. Pensar desta maneira resultou
no surgimento de sistema de entrega de construção verde de alto desempenho. Novas
ferramentas, como modelagem de informações de construção (BIM), que produzem
representações tridimensionais do modelo que estão vinculadas à energia software
de modelagem, iluminação natural e avaliação do ciclo de vida estão aumentando a
qualidade da colaboração e reduzindo os custos de construção verde.

Este sistema de entrega é distinguível da prática convencional pela seleção de


membros da equipe do projeto com base em sua experiência em construção verde, maior
colaboração entre os membros da equipe do projeto, maior foco no desempenho de
construção integrado do que em sistemas de construção convencional, grande ênfase
na proteção ambiental durante o processo de construção, consideração cuidadosa da
saúde do ocupante e do trabalhador em todas as fases, análise de todas as decisões
para seus recursos e implicações no ciclo de vida e ênfase na redução dos resíduos de
construção e demolição. Algumas dessas diferenças são motivadas por requisitos de
certificação, enquanto outras fazem parte da cultura em evolução de construção verde.

Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos mais detalhadamente as diferenças entre


a prática convencional e o processo de construção verde, prestando atenção especial
ao processo de planejamento altamente colaborativo, provavelmente uma das marcas
mais distintas da construção ecológica contemporânea. Além disso, abordaremos as
práticas para uso da terra e gestão de águas pluviais. Esses procedimentos têm como
intuído reduzir o impacto no desenvolvimento de cidades sustentáveis.

2 SISTEMAS DE ENTREGA DE EDIFÍCIOS


CONVENCIONAIS X ECOLÓGICOS
Existem quatro principais tipos de sistemas de entrega de projeto de
construção contemporânea, sendo eles: “Design-Bid-Build” (DBB), “Design-Build”
(DB), gerenciamento de riscos na construção e “Integrated Project Delivery” (IPD).
Neste tópico, serão brevemente discutidos esses quatro sistemas comparados com os
sistemas de entrega de edifícios ecológicos de alto desempenho.

77
NOTA
O método de entrega de projeto é um sistema usado por uma
agência ou proprietário para organizar e financiar serviços de
design (projeto), construção, operações e manutenção de uma
estrutura ou instalação, celebrando acordos legais com uma ou
mais entidades ou partes.

2.1 “DESIGN-BID-BUILD”
A forma de contratação “Design-Bid-Build” (DBB) consiste no gerenciamento
integral e contratação separada de serviços de engenharia, aquisição de equipamentos
e materiais e a construção propriamente dita. O principal objetivo é a entrega de baixo
custo do projeto ao proprietário pelo empreiteiro. As empresas projetistas e construtoras
não agem de maneira integrada. Após a conclusão da obra, a operação e manutenção são
responsabilidade exclusiva do proprietário (KIBERT, 2016).

O benefício dos contratos DBB está no projeto iniciar a partir de um relatório de


viabilidade, com realização de orçamento e projeto básico, além do projeto executivo
durante a execução da obra. Este método de entrega é típico das obras licitadas pelos
órgãos governamentais brasileiros – federais, estaduais ou municipais, conforme a Lei
nº 8.666 de 1993 (BRASIL, 1993) – cujo vencedor é aquele que apresenta o menor ou o
melhor preço, conforme o tipo de licitação.

Nessa modalidade de negócio, o maior risco está para o proprietário do


empreendimento, que também deve assumir a responsabilidade de definir e executar
o conjunto de técnicas e procedimentos de engenharia aplicados de forma integrada à
planta, para torná-la operacional, dentro dos requisitos de desempenho especificados
em projeto. O objetivo do proprietário é assegurar a transferência da obra pronta,
do construtor para o operador de forma ordenada e segura. É responsabilidade do
proprietário certificar que a obra esteja segura – e que funcione corretamente.

Esse sistema de entrega pode ter vários problemas, como o tempo de


implantação do empreendimento e a possibilidade de aquisição de qualificação mais
barata, que pode comprometer a qualidade e, acarretando prejuízos futuros, resultar em
maiores custos de manutenção e operação. Deve-se notar que a análise de preços deve
ser feita para todo um ciclo de utilização da infraestrutura disponibilizada, considerando
os custos de operação e manutenção do empreendimento (RIBAS, 2012).

78
2.2 “DESIGN-BUILD”
Embora o trabalho negociado reduza a frequência e a intensidade dos conflitos
presentes em um sistema de entrega de construção complicado, a tensão clássica entre
a equipe de projeto e o gerente de construção ainda existe, embora em menor grau.
O “design build” (DB) é um método de entrega do projeto no qual uma entidade (o
designer-construtor) firma um único contrato com o proprietário para fornecer serviços
de projeto de arquitetura ou engenharia e serviços de construção (FMI, 2018). “Design-
build” também é conhecido como construção do projeto e fornece o proprietário com
responsabilidade de fonte única.

No projeto típico de “Design-Bid-Build”, o proprietário contrata um arquiteto


ou engenheiro para preparar desenhos e especificações sob um contrato de projeto e,
então, seleciona um empreiteiro de construção por licitação para construir a instalação.
Em contraste, o sistema de entrega de “design build” fornece ao proprietário uma relação
contratual única com uma entidade que combina serviços de projeto e construção.

Essa entidade pode ser uma empresa que possui recursos internos de projeto
e construção ou uma parceria entre uma empresa de projeto e uma empresa de
construção. Assim, é mais provável que o sistema de entrega de “design-build” reduza
os conflitos típicos de “design-bid-build”, forneça um preço mais baixo para o proprietário,
melhore a qualidade, acelere a conclusão do projeto e facilite a comunicação aprimorada
entre os membros da equipe do projeto (KIBERT, 2016). O sistema de entrega de design-
construção é muito compatível com o conceito de construção verde. Além de sua ênfase
em alto grau de colaboração entre as fases de projeto e construção, é muito consistente
com a abordagem de projeto necessária para produzir edifícios de alto desempenho.

2.3 GERENCIAMENTO DE CONSTRUÇÃO COM ENTREGA DE


RISCO
No sistema de gerenciamento de construção com entrega de risco, o
proprietário contrata separadamente a equipe de projeto e o empreiteiro, ou gerente de
construção, que trabalhará em nome do proprietário. Este sistema também é conhecido
como obra negociada, uma vez que o gerente da construção negocia com o proprietário
uma taxa pelos serviços de gerenciamento.

No início do processo de projeto, o gerente de construção geralmente é obrigado a


garantir que o custo total de construção não excederá um preço máximo, conhecido como
preço máximo garantido. Idealmente, tanto o gerente de construção quanto a equipe de
design são selecionados no início do projeto. Em seguida, o gerente de construção pode
fornecer serviços de pré-construção, como análise de custo, análise de construtibilidade,
engenharia e programação do projeto, para facilitar um processo de projeto eficiente e
eficaz seguido por uma fase de construção sem conflitos (KIBERT, 2016).

79
As partes trabalham em conjunto e produzem documentos de construção
que atendem aos requisitos, cronograma e orçamento do proprietário e assim evitam
conflitos físicos entre sistemas, informações ausentes e outros produtos de falta de
comunicação, frequentemente encontrados nos documentos de construção produzidos
para projetos de “Design-Bid-Build”. Por meio de um processo de licitação, o gerente de
construção seleciona os subcontratados com base em suas capacidades e na qualidade
de seu trabalho, não apenas na menor oferta. Por esse motivo, o nível de conflito no
trabalho negociado é muito menor devido às relações de trabalho mais estreitas entre
as partes do contrato. Além disso, as empresas de gerenciamento de construção que
empreendem trabalhos negociados entendem que os clientes atuais e anteriores são a
principal fonte de projetos futuros. Consequentemente, a satisfação do cliente torna-se
o objetivo principal.

2.4 “INTEGRATED PROJECT DELIVERY”


“Integrated Project Delivery” (IPD) – ou, em português, entrega de projeto
integrado – é um sistema de entrega de construção relativamente novo, que se originou
em meados da década de 1990, quando um grupo de empresas de construção em
Orlando, Flórida, tentava aumentar a produtividade e a velocidade de entrega do projeto
sem os conflitos e estresse típicos da construção projetos. Em 2007, o grupo composto
por uma variedade de partes interessadas, como proprietários, arquitetos, empreiteiros,
engenheiros e advogados, colaborou para definir o sistema IPD. Este sistema de entrega
de construção emergente tira proveito de várias outras ideias relativamente novas,
como processo integrado, construção enxuta, BIM e outras tecnologias, que fornecem
o potencial para uma boa colaboração em projetos de construção (KIBERT, 2016).

INTERESSANTE
BIM (ou Building Information Modeling), que significa Modelagem
da Informação da Construção ou Modelo da Informação da
Construção, é um conjunto de informações geradas e mantidas
durante todo o ciclo de vida de um edifício.

É um modelo virtual, que não é constituído apenas de geometria


e texturas para efeito de visualização. Trata-se de uma
construção virtual equivalente a uma edificação real, possuindo,
assim, muitos detalhes no tocante à composição dos materiais
de cada elemento, como portas, janelas, entre outros. Isso
permite simular a edificação e entender seu comportamento
antes de sua construção real ter sido iniciada. O modelo BIM
pode ser utilizado para visualização tridimensional, para auxiliar
nas decisões de projeto e comparar as várias alternativas de
design e a “vender” seu design para o cliente.

80
O IPD é definido como uma abordagem de acordos e processos de design e
construção, concebida para acomodar a intensa colaboração intelectual que os edifícios do
século XXI exigem (ILINCP, 2012). A visão inspiradora do IPD é a de uma equipe de projeto
integrada, não dividida por interesse próprio econômico ou contratos de responsabilidade,
mas um conjunto de empresas com a responsabilidade mútua de ajudar umas às outras
a cumprir os objetivos do proprietário. Para apoiar essa visão, arquitetos, engenheiros,
gerentes de construção e advogados elaboram processos de gestão e termos contratuais
com o objetivo de alinhar os interesses da equipe-chave do projeto com a missão de
aumentar a eficiência, reduzir o desperdício e fazer edifícios melhores.

2.5 SISTEMAS DE ENTREGA DE EDIFÍCIOS VERDES DE ALTO


DESEMPENHO
O sistema de entrega de construção verde de alto desempenho é semelhante
a outros sistemas de entrega de construção, como o IDP e o “design-build”, mas com
responsabilidades adicionais para a equipe do projeto. Mais notavelmente, requer uma
comunicação muito maior entre os membros da equipe do projeto. Consequentemente,
a formação inicial da equipe, que envolve o maior número possível de partes interessadas,
garante que todos entendam os objetivos do projeto e as especificações exclusivas.
Esse sistema de entrega também exige qualificações especiais de seus participantes,
especialmente um entendimento e compromisso com o conceito de edifício verde e,
no caso de projetos a serem certificados usando LEED, ou outro selo de qualidade,
necessitam uma forte familiaridade com os sistemas de avaliação e seus requisitos
(KIBERT, 2016).

Os membros da equipe também devem ter experiência com o processo e estar


especialmente dispostos a envolver uma ampla gama de interessados, incluindo alguns
que tradicionalmente não são incluídos em projetos de construção. Um exemplo seria
a inclusão de membros da comunidade para o projeto de uma instalação corporativa.
Alguns projetos recentes incluíram funcionários de construção locais que, em última
análise, terão que aprovar qualquer solução inovadora e pronta para uso que uma equipe
de construção de alto desempenho possa propor.

O sistema de entrega “design-bid-build” é excepcionalmente difícil de empregar


para um projeto de construção verde. O espírito colaborativo necessário para um
projeto de construção verde de alto desempenho bem-sucedido é difícil de desenvolver
nestas condições. O “design-build” tem potencial significativo para entregar edifícios
verdes porque é projetado para minimizar relacionamentos adversos e simplificar as
transações entre as partes. No entanto, ao contrário da construção convencional, os
freios e contrapesos fornecidos pela interação transparente entre a equipe de projeto e
a entidade de construção estão virtualmente ausentes.

81
Como acontece com outros aspectos do desenvolvimento sustentável, a
transparência é uma característica importante dos projetos de construção verde. Apesar
deste problema potencial, vários projetos de construção verde bem-sucedidos foram
executados usando “design-build”. O IPD é um sistema de entrega relativamente novo,
mas com grande ênfase na colaboração, que parece ser uma abordagem altamente
compatível com a entrega de edifícios verdes.

A Figura 1 apresenta os métodos mais utilizados em sistemas de entrega em


construções norte americanas. Observa-se uma grande tendência de ainda utilizar o
modelo mais simples de “design-bid-build” por ser mais tradicional e simples. No entanto,
há um crescimento de utilização de “design-build” e gerenciamento de construção
com entrega de risco (apresentado na figura como CMAR/CMGC), estes modelos estão
crescendo justamente por apresentarem redução nos custos para o proprietário e
melhorar a qualidade e velocidade de conclusão dos projetos. Já com relação ao IPD,
sua aplicação ainda é baixa, sendo utilizada principalmente em indústrias pesadas.

FIGURA 1 – ESCOLHA DE SISTEMAS DE ENTREGA UTILIZADOS POR EMPRESAS NOS ESTADOS UNIDOS

O proprietário tem tradicionalmente empregado o


design-bid-build como o método de entrega do
projeto de escolha. Conforme as necessidades do
proprietário e as demandas do projeto mudaram,
os proprietários estão cada vez mais propensos a
empregar um método de entrega alternativo.

Métodos alternativos de entrega de projetos tornaram-se uma


opção mais frequente para proprietários públicos e privados.
Do lado público, a legislação foi posta em prática para facilitar o
aumento do uso. Esses métodos permitem que os proprietários
atendam às necessidades específicas do projeto ou programa.
Os proprietários indicaram que, nos próximos cinco anos, o uso
desses métodos continuará.

O uso de métodos de entrega IPD e EPC são mais específicos para selecionar segmentos. O IPD foi
indicado para ser utilizado em maior escala no mercado de saúde, enquanto o EPC é consistentemente
empregado no mercado da indústria pesada. As partes interessadas acreditam que essa continuará a ser
a norma no futuro. O IPD em específico não ganhou a tração originalmente assumida.

FONTE: FMI (2018, p. 29)

82
NOTA
Conforme STA (2019), o “Engineer-Procure-Construct” (EPC), apresentado como uma opção
para aplicar em sistemas de entrega na Figura 1, é um método de entrega de projetos que
surgiu como uma escolha preferida para algumas entidades industriais e está começando
a ganhar apoio no negócio de manufatura. Com o contrato EPC, o proprietário tem como
único propósito de contato o empreendimento. Sob o modelo, a empresa EPC lida com
o plano de design, obtém todo o hardware e materiais de desenvolvimento e serviços
de construção para transporte, na maior parte a um custo único. Este modelo auxilia os
trabalhadores para executar o empreendimento e diminui os perigos de risco para o
proprietário.

O procedimento EPC começa com um esforço de reconstrução que


inclui algum planejamento e projeto de primeira mão para caracterizar
o escopo, o cronograma e as despesas do empreendimento. A
aprovação é regularmente supervisionada especificamente pelo
cliente ou por uma empresa de validação diferente para garantir
que essa ação básica seja transmitida de forma eficaz.

A empresa EPC desenvolve o escopo e as estimativas do projeto.


O cronograma do projeto e o orçamento são conhecidos antes
que a tarefa entre na estrutura de detalhes ou nos estágios de
desenvolvimento. Todo plano, grau de desenvolvimento e perigos
de gastos são repassados para
​​ o trabalhador contratado.

3 EXECUÇÃO DE PROJETOS DE CONSTRUÇÃO


SUSTENTÁVEIS
Embora seja verdade que qualquer projeto de construção exija um excelente
trabalho em equipe, o nível de interação e comunicação necessário para garantir o
sucesso de um projeto de construção verde é significativamente maior.

ATENÇÃO
Edifícios verdes são um conceito relativamente novo para a indústria. Para realizar essas
obras é necessário orientar todos os membros da equipe do projeto quanto às metas
e objetivos do projeto que estão relacionados a questões como eficiência de recursos,
sustentabilidade, certificação e saúde da construção.

Essa orientação pode servir a três propósitos:

1º Cumprir seu objetivo principal de informar a equipe do projeto sobre


todos os requisitos do projeto.
2º Familiarizar a equipe do projeto com as prioridades do proprietário
para os aspectos de construção verde de alto desempenho do projeto.
3º Fornecer uma oportunidade para realizar a construção de equipes na
forma de exercícios de grupo para familiarizar o grupo com o edifício, o
programa de construção e as questões de construção verde do edifício.

83
Projeto de construção integrado ou projeto integrado é o nome dado aos altos
níveis de colaboração e trabalho em equipe que ajudam a diferenciar um projeto de
construção ecológico do processo de projeto encontrado em um projeto convencional.

Conforme a ISO 50001 (ABNT, 2018), o projeto integrado é o processo no qual


várias disciplinas e aspectos aparentemente não relacionados do projeto são integrados
de uma maneira que permitem que benefícios sejam obtidos. O objetivo é alcançar
alto desempenho e benefícios múltiplos a um custo menor do que o total de todos os
componentes combinados.

Esse processo geralmente inclui a integração de estratégias de design


ecológico em critérios convencionais de design para a forma, função, desempenho e
custo de construção. Uma chave para um projeto de construção integrado de sucesso
é a participação de pessoas de diferentes especialidades de projeto: arquitetura geral,
aquecimento, ventilação e ar-condicionado, iluminação, elétrica, design de interiores
e paisagismo. Trabalhando juntos em pontos-chave no processo de design, esses
participantes podem frequentemente identificar soluções altamente atraentes para
as necessidades de design que de outra forma não seriam encontradas. Em uma
abordagem de projeto integrado, o engenheiro mecânico calculará o uso e o custo da
energia logo no início do projeto, informando os projetistas sobre as implicações do uso
de energia da orientação, configuração, fenestração, sistemas mecânicos e opções de
iluminação do edifício.

NOTA
Empregar o conceito de Arquitetura Bioclimática em projetos de
edificações é uma das grandes soluções e tendências sustentáveis
deste setor. Esta vertente nada mais é do que a relação que se
faz dos fatores climáticos com o desempenho sustentável que o
edifício pode atingir, de acordo com a sua localização geográfica.

84
FIGURA 2 – ESQUEMA DO DESIGN SUSTENTÁVEL

FONTE: Kibert (2016, p. 224)

85
A execução de projetos de construção sustentáveis é caracterizada pela
colaboração inicial significativa do processo de projeto. No projeto convencional, os
membros da equipe começam seu esforço conjunto no início do projeto esquemático;
em um projeto de construção verde que emprega design integrado, a colaboração
começa no início do projeto e todos os membros da equipe têm entrada nas decisões
de design durante todo o ciclo de projeto, conforme visto na Figura 2.

Quanto mais cedo o projeto integrado for implementado, maiores serão os


benefícios. Existem inúmeras áreas potenciais para o design integrado em qualquer
projeto de construção: a envolvente do edifício, o esquema de iluminação natural, os
telhados verdes, a minimização da poluição luminosa, a qualidade do ambiente interior
e o ciclo hidrológico do edifício, entre outros (KIBERT, 2016).

A execução de projetos de construção sustentáveis é um método para construir


edifícios de alto desempenho que contribuem para comunidades sustentáveis. É um
processo colaborativo que se concentra no projeto, construção, operação e ocupação
de um edifício ao longo de seu ciclo de vida completo. Este método é projetado para
permitir que o cliente e outras partes interessadas desenvolvam e realizem metas e
objetivos funcionais, ambientais e econômicos claramente definidos e desafiadores.
Além disso, requer uma equipe multidisciplinar de projeto que inclua ou adquira as
habilidades necessárias para lidar com todos os problemas decorrentes dos objetivos.
Portanto, a execução de projetos de construção sustentáveis parte de estratégias
de todo o sistema de construção, trabalhando através de níveis crescentes de
especificidade, para realizar soluções integradas de forma mais otimizada (GREEN
BUILDING INITIATIVE, 2018).

Além desta ampla definição, os principais elementos da execução de projetos de


construção sustentáveis foram identificados como (KIBERT, 2016):

• Trabalho interdisciplinar entre arquitetos, engenheiros, especialistas em custos, pessoal


de operações e outros atores relevantes desde o início do processo de projeto.
• Discussão da importância relativa de várias questões de desempenho e o
estabelecimento de um consenso sobre este assunto entre o cliente e os projetistas.
• A adição de um especialista em energia para testar várias suposições de projeto
por meio do uso de simulações de energia ao longo do processo e para fornecer
informações relativamente objetivas sobre um aspecto-chave do desempenho.
• A adição de especialistas no assunto (por exemplo, para iluminação natural,
armazenamento térmico, entre outros) para consultas curtas com a equipe de projeto.
• Articulação clara de metas e estratégias de desempenho, a serem atualizadas ao
longo do processo pela equipe de projeto.
• Em alguns casos, um facilitador de projeto pode ser adicionado à equipe, para levantar
questões de desempenho ao longo do processo e trazer conhecimento especializado
para a mesa.

86
4 CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS E O ENTORNO
O uso da terra e o projeto paisagístico estão intimamente ligados e oferecem
talvez a melhor oportunidade de inovação na aplicação dos recursos necessários para
criar o ambiente construído. Os edifícios, embora alterem o ecossistema local, podem
contribuir para o ecossistema e funcionar sinergicamente com a natureza. Projetado
com cuidado, executou trabalhos de arquitetos, arquitetos paisagistas, engenheiros
civis e gerentes, obrigados a produzir um edifício que (KIBERT, 2016):

• Otimiza o uso do terreno.


• É altamente integrado com o ecossistema local.
• Considere cuidadosamente a geologia do local, topografia, insolação solar, hidrologia,
e padrões de vento.
• Minimiza os impactos durante a construção e operação.
• Emprega paisagismo como um complemento poderoso para seus sistemas técnicos.

Outros membros da equipe do projeto também devem contribuir nas decisões


tomadas sobre a terra. A colaboração entre todos os membros da equipe do projeto
marca os edifícios verdes de alto desempenho como um sistema de entrega distinto e
é essencial para fazer o melhor uso do terreno e panorama.

A localização da instalação no local, o tipo e a cor dos acabamentos externos


e os materiais usados ​​no estacionamento e pavimentação afetam a carga térmica no
edifício e, portanto, o projeto dos sistemas de aquecimento e resfriamento. Minimizar o
impacto da poluição luminosa exige que o engenheiro projete sistemas de iluminação
externa com cuidado para eliminar a iluminação desnecessária de arredores do edifício.
Uma alternativa para garantir um edifício mais verde está em fornecer acesso ao
transporte coletivo, incentivando veículos de bicicleta e de combustível alternativo.

O local e a paisagem também oferecem a oportunidade para a potencial


restauração do terreno como parte integrante do projeto de construção. Até o
surgimento do movimento de construção verde, pouca atenção foi dada aos impactos
de construção sobre o meio ambiente, em particular sobre o terreno. Edifícios alteram
a ecologia, biodiversidade, fecundidade e hidrologia do local, deixando-o em estado
de degradação. As abordagens contemporâneas de construção ecológica exigem o
reaproveitamento da terra e sua limpeza no caso de terra contaminada, aumentando a
densidade para minimizar a necessidade de desenvolvimento greenfield.

No contexto de edifícios verdes, o papel do arquiteto paisagista talvez deva ser


redefinido, porque eles são provavelmente os membros mais bem equipados do projeto
para lidar com os sistemas naturais. Os arquitetos paisagistas também devem fornecer
conhecimentos para o resto da equipe de projeto sobre a relação entre edifícios e
sistemas naturais.

87
INTERESSANTE
Carvalho e Castro (2016) informam que as definições de greenfield, brownfield, yellowfield
e greyfield são associadas a projetos de infraestrutura, referindo-se ao estágio em que o
parceiro privado encontrará sua implantação física pré-existente. Geralmente, são citados
em casos de Parcerias Público-Privadas (PPP) ou concessões públicas.

Greenfield: trata-se daquela situação em que ainda não existe nenhuma estrutura pré-
existente, tudo ainda precisa ser feito do zero. O termo green (verde) vem da referência à
vegetação existente no local.

Quando já existe uma estrutura instalada, o parceiro privado assumirá serviços de


operação e manutenção, incluindo a possibilidade de expansões e melhorias, o projeto é
classificado como brownfield.

Há uma variante do brownfield em que as exigências de expansão do capital físico


instalado são elevadas com relação ao existente, como se houvesse também uma porção
de greenfield, significativo em relação ao total, envolvido no mesmo projeto. Esta situação
pode vir a ser classificada como yellowfield.

FIGURA – DIFERENCIAÇÃO DE TIPOS DE PROJETOS

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/31cqTKL> Acesso em: 21 nov. 2021.

Alguns projetos são desenvolvidos para adequar ou levar


novos usos a instalações que, apesar de estarem apoiadas por
estruturas existentes, estão em desuso, vazias, degradadas,
decadentes ou até em algum uso improvisado que não
aproveite seu real potencial: são os greyfield numa referência
(cinza) a concreto, pavimento ou asfalto deteriorado.

88
4.1 ABORDAGENS DE TERRENO E PAISAGEM PARA EDIFICÍOS
SUSTENTÁVEIS
Kibert (2016) afirma que os edifícios requerem várias categorias de recursos para
sua criação e operação como materiais, energia, água e terreno. O terreno, obviamente, é
um recurso essencial e valioso, por isso seu uso adequado é uma consideração primordial
no desenvolvimento de uma construção de alto desempenho. Várias abordagens gerais
para o uso da terra se enquadram no conceito de edifícios verdes de alto desempenho:

• Construir em terrenos que foram utilizados anteriormente, em vez de em terrenos


valiosos do ponto de vista ecológico.
• Proteção e preservação de pântanos e outras características que são elementos-
chave dos ecossistemas existentes.
• Uso de plantas, árvores e grama nativas e adaptadas e tolerantes à seca para o
paisagismo.
• Usando brownfields, propriedades que são contaminadas ou percebidas como
contaminadas.
• Desenvolvimento de greyfields, áreas que já foram canteiros de obras em áreas
urbanas.
• Reutilização edifícios existentes em vez de construir novos.
• Proteção os principais recursos naturais e integrando-os ao projeto de construção
para amenidades e funções.
• Minimização dos impactos da construção no local, minimizando a pegada da
construção e planejando cuidadosamente as operações de construção.
• Minimização da movimentação de terra e compactação do solo durante a construção.
• Aproveitamento totalmente o sol, os ventos predominantes e a folhagem no local no
esquema de projeto solar passivo.
• Manter o máximo possível o hidroperíodo natural do local.
• Minimização das áreas impermeáveis ​​no local através da localização adequada do
edifício, estacionamento e outros pavimentos.
• Uso de tecnologias alternativas de gerenciamento de águas pluviais, como telhados
verdes, pavimentação permeável, bioretenção, jardins de água da chuva e outros,
que auxiliam na recarga de aquíferos e águas subterrâneas locais ou regionais.
• Minimização dos efeitos da ilha de calor no local usando pavimentação e telhados de
cor clara, sombreamento e telhados verdes.
• Eliminação da poluição luminosa por meio do projeto cuidadoso dos sistemas de
iluminação externa.
• Uso de áreas úmidas naturais o máximo possível no esquema de gestão de águas
pluviais e minimização do uso de tanques de retenção do tipo seco.
• Uso de tecnologias alternativas de gerenciamento de águas pluviais, como concreto
permeável e asfalto para superfícies pavimentadas.

Essas abordagens cobrem uma ampla gama de possibilidades. Seu objetivo


geral é integrar a natureza e as edificações, reaproveitar locais já impactados pelas
atividades antrópicas e minimizar os distúrbios causados ​​pelo projeto de construção.

89
4.2 USO DA TERRA
A seleção de um local de construção geralmente é da competência do proprietário,
mas muitas vezes pode ser afetada por contribuições de membros da equipe do projeto.
Por exemplo, um edifício verde da Universidade da Flórida, originalmente estava
programado para ser construído em um espaço aberto no campus que anteriormente
fornecia áreas ambientais e de recreação. No entanto, após a interação entre o grupo de
usuários do projeto e os administradores da universidade, o prédio foi realocado para um
terreno usado, neste caso, um estacionamento. A população em geral da universidade
se beneficiou com esta mudança na medida em que não perdeu o espaço aberto. No
final das contas, a nova localização era um local muito mais proeminente do que sua
localização original (KIBERT, 2016).

Uma das medidas ecológicas mais importantes na localização de um novo edifício


é colocá-lo onde a necessidade de automóveis seja minimizada, preservando o espaço
aberto e as áreas verdes. Consequentemente, localizações urbanas razoavelmente
próximas ao transporte de massa são altamente desejáveis. Em alguns casos, pode ser
necessária uma discussão adicional com o governo local e a autoridade de trânsito local
para articular a necessidade de serviço de transporte para que seria um bom local para
a instalação.

Dentre algumas restrições de usos de terra para edifícios verdes, temos algumas
considerações para sua aplicação, sendo elas: a perda de terras agrícolas; construção
em zonas de inundação; uso de habitat para espécies ameaçadas de extinção; e causas
de erosão do solo. A seguir, veremos alguns pontos de cada uma destas restrições.

Terras agrícolas nobres são importantes para a preservação, sendo


consideradas as terras onde as safras podem ser produzidas com menor custo e com
o mínimo de danos para a obtenção de recursos. Essas áreas já devem ter suprimentos e
capacidade de umidade ou irrigação adequados. Se uma área é considerada como terra
agrícola, é necessário a sua preservação durante os processos de implementação de
construções sustentáveis.

Outro fator a ser considerado é que nenhuma obra deve ser construída em
áreas propensas a inundações, pois podem causar desastres que impactam na vida
e economia da população devido ao ciclo de destruição e reconstrução de moradias.
Essas áreas devem ser identificadas através de mapas e restringidas para minimizar as
pedras de construções nestes espaços.

Muitas certificações não são dadas a construções que estiverem em terrenos


identificados como habitat para espécies que estão em listas governamentais de
espécies ameaçadas ou em perigo de extinção, sejam elas animais ou plantas. Portanto,
deve-se consultar essas áreas para que não sejam realizadas obras que interfiram na
qualidade de vida destas espécies.

90
Por último, os edifícios sustentáveis devem tomar cuidado para garantir
que o solo apresentará perda mínima devido à erosão causada pelo transporte ou
movimentação de água ou do vento. Para isso, o gerente da obra ou os contratados
devem prestar atenção à perda de solo transportado pelo ar e escoada por águas
pluviais. Muitas certificações pedem um plano de controle de erosão e sedimentação
para considerar uma construção como sendo verde. Para isso, as melhores práticas de
controle de sedimentação e erosão são (KIBERT, 2016):

• Elaborar um projeto que se ajusta ao contexto local, levando em consideração a


topografia, solos, padrões de drenagem e vegetação.
• Minimizar as áreas de perturbação da construção e seus limites de cobertura vegetal.
• Remover o solo para um armazenamento temporariamente, para possibilitar sua
reutilização quando realizado o paisagismo da obra.
• Reduzir a duração da exposição de área descoberta, programando a construção de
forma que as áreas e os locais fiquem expostos apenas durante e estação seca (ou
pelo menor período possível).
• Proteger o solo do impacto da chuva ou escoamento, usando vegetação temporária
ou coberturas de áreas expostas.
• Inspecionar e manter as práticas de controle de erosão e sedimentação planejadas
em projeto.
• Em locais com ventos fortes, utilizar areia ou muros para gerar uma barreira da
movimentação do solo.
• Quando necessitar restaurar ou substituir solo, utilizar solo nativo próximo com
características compatíveis com a região da obra.

4.3 GESTÃO DE ÁGUAS PLUVIAIS


Halliday (2008) afirma que a gestão da água da chuva pode ser mais
problemática do que o esgoto em obras de engenharia civil, devido aos altos fluxos
de pico. As superfícies impermeáveis que dominam o ambiente construído tornam a
água da chuva um incômodo em vez de um recurso, podendo aumentar a propensão
de inundações. Nos Estados Unidos, algumas empresas de água oferecem tarifas
reduzidas se comprovarem que a obra não descarrega água de telhado ou de superfície
diretamente para o esgoto.

A crescente atenção à drenagem da água da chuva nos últimos anos se deve


em parte ao fato de soluções relativamente fáceis terem sido identificadas para mitigar os
problemas a jusante de enchentes repentinas e sobrecarga de estações de tratamento
que recebem fluxos de esgoto combinados.

Os problemas com águas pluviais geralmente são causados ​​pelo uso de


superfícies impermeáveis ​​para telhados, caminhos, estradas e estacionamento, e a
tendência de mover a água rapidamente para longe dessas áreas por meio de sistemas
de canalização. Isso evita que a água da chuva se filtre naturalmente para o solo e, em

91
vez disso, cria um escoamento rápido poluído com materiais orgânicos, combustível de
veículo e óleo. A solução contemporânea para lidar com a água da chuva é conhecida
como Sistemas de Drenagem Sustentáveis ​​(SuDS). Esses sistemas têm como objetivo
(HALLIDAY, 2008):

• Controlar as inundações.
• Previna a poluição.
• Aumentar a quantidade das águas subterrâneas.
• Reduzir a carga nas estações de tratamento de esgoto.

A abordagem do SuDS tem como objetivo devolver a água ao ambiente natural


a uma taxa e qualidade adequadas. Os sistemas típicos usam superfícies permeáveis,
valas e tiras de filtro para capturar e transportar o escoamento, removendo poluentes
e tamponando simultaneamente os fluxos de pico. Se o local for adequado, a infiltração
é incentivada. Alguns sistemas incluem armazenamento para irrigação ou descarga do
banheiro.

O tratamento local e a reutilização de águas residuais (incluindo água da chuva)


para descargas de vasos sanitários (conforme apresentado no esquema em uma
casa, visto na Figura 3) e outros usos não potáveis, como irrigação, são cada vez mais
populares. Um caso óbvio para reciclagem ou reutilização, por exemplo, seria aquele em
que uma grande área de telhado é projetada para coletar água da chuva e é destinada
a uma grande demanda por água não potável (por exemplo, para lavagem de veículos
ou descarga de vasos sanitários). Da mesma forma, muitos processos industriais ou
agrícolas usam água limpa para resfriamento ou enxágue, que pode então ser reutilizada
sem tratamento para limpeza.

FIGURA 3 – SISTEMA DE REUSO DE ÁGUA PLUVIAL EM SANITÁRIO PARA UMA CASA

FONTE: <https://bit.ly/3ljOy2W>. Acesso em: 21 nov. 2021.

92
5 DESENVOLVIMENTO DE BAIXO IMPACTO
O desenvolvimento de baixo impacto (LID, do inglês Low Impact Development)
é uma estratégia relativamente nova que integra sistemas ecológicos com projeto
paisagístico para gerenciar o escoamento de águas pluviais com eficácia. As técnicas
de LID minimizam o escoamento para evitar que os poluentes afetem negativamente a
qualidade da água e podem diminuir o tamanho necessário das bacias tradicionais de
retenção e detenção, resultando em economia de custos em relação aos mecanismos
convencionais de controle de águas pluviais (KIBERT, 2016).

O LID pode ser aplicado a uma variedade de usos do solo e de ambientes urbanos
de alta densidade a empreendimentos de baixa densidade. Em geral, os termos LID
e infraestrutura verde referem-se a sistemas e práticas de desenvolvimento de terras
que usam processos naturais para se infiltrar, evapotranspirar (devolver água à atmosfera
por evaporação ou por plantas) ou reutilizar escoamento de águas pluviais no local onde
é gerada.

O desenvolvimento de baixo impacto emprega princípios como preservação e


recriação das características naturais da paisagem, minimização da impermeabilidade,
criação de drenagem funcional e atraente do local e tratamento das águas pluviais
como um recurso em vez de um produto residual. Muitas práticas podem ser usadas
para implementar o LID, incluindo instalações de bioretenção, jardins pluviais, telhados
com vegetação, barris de chuva e pavimentos permeáveis. Ao implementar os princípios
e práticas do LID, a água pode ser gerenciada de forma a reduzir o impacto das áreas
construídas e promover o movimento natural da água dentro do sistema ou bacia
hidrográfica. Aplicado em escala urbana, o LID pode manter ou restaurar as funções
hidrológicas e ecológicas da bacia hidrográfica.

Outro conceito de LID no ambiente urbano é o design artístico da água da


chuva. Essa ideia baseia-se na premissa de que as técnicas de gestão de águas pluviais
concebidas em conjunto com sistemas naturais podem fornecer amenidades ao local
com uma forte qualidade estética e até obrigar a interação humana. A abordagem LID
para o gerenciamento de águas pluviais é uma mudança enorme com relação às práticas
convencionais, que historicamente desviam as águas pluviais por meio de sistemas
de conduítes projetados para corpos d'água naturais ou plantas de tratamento caras.
A abordagem LID considera cuidadosamente a taxa, volume, frequência, duração e
qualidade da descarga de modo a permitir a recarga das águas subterrâneas e aquíferos
e a saúde geral dos sistemas ecológicos.

Temos seis princípios para uma LID bem-sucedida. Eles são declarados a seguir
e devem ser usados ​​para orientar o projeto de um sistema LID (KIBERT, 2016):

93
1. Usar recursos valiosos e existentes. Identificar e trabalhar com todas as características
culturais e naturais que irão agregar valor imediatamente ao desenvolvimento: árvores
maduras, habitats de vida selvagem, riachos, caráter rural/arquitetônico e características
de patrimônio.
2. Deixe os recursos naturais trabalharem para o projeto. Usar a drenagem natural,
imitando os sistemas e padrões existentes. Minimizar os distúrbios na construção e
as mudanças na bacia hidrográfica irá beneficiar o meio ambiente e reduzirá custos.
3. Aumente o valor do local com espaços abertos. Agrupar casas ou edifícios no
desenvolvimento permite a provisão de espaços abertos e vistas panorâmicas. As
conexões com espaços abertos dentro de uma rede de cidade podem fornecer
amenidades naturais, resultando em valores de propriedade mais elevados.
4. Reduza o tamanho das necessidades de gerenciamento de água no local. Ao
limitar as superfícies impermeáveis, a quantidade de infraestrutura de águas pluviais
pode ser bastante reduzida. Edifícios com telhados verdes, pavimento permeável
e estradas estreitas tornam o gerenciamento de águas pluviais administrável.
5. Trate as águas pluviais perto da fonte. Em vez de infraestrutura subterrânea
cara, bacias de captação, encanamentos e lagoas de águas pluviais, é indicado usar
jardins pluviais não estruturais e de baixo custo, de baixa manutenção, para infiltrar o
escoamento.
6. O paisagismo inteligente pode economizar dinheiro. Não há dúvida de que um
bom paisagismo aumenta o valor das propriedades e que um paisagismo inteligente
também pode economizar dinheiro. Dinheiro é desperdiçado em técnicas como corte,
nivelamento e lagoas de águas pluviais, que tratam apenas de um problema. Com uma
paisagem multifuncional, é possível gerenciar o escoamento, melhorar a qualidade da
água, reduzir a conta de luz, aumentar o valor da propriedade e economizar dinheiro.

94
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Dentre os sistemas de entrega de edifícios, o método de Design-Bid-Build é uma


abordagem mais tradicional e apesar de trazer um preço mais competitivo, é mais
complexa de realizar em construções sustentáveis. Em contrapartida, o método
Design-Build busca escolher os insumos e mão de obra de acordo com as qualificações
e qualidades.

• O sistema de entrega de projeto integrado (Integrated Project Delivery, IPD), consiste


num novo sistema de entrega que utiliza de ideias relativamente novas, como
processo integrado, construção enxuta, BIM e outras tecnologias, que fornecem o
potencial para uma boa colaboração em projetos de construção.

• Para elaborar uma construção sustentável, é necessário ter algumas práticas verdes,
sendo elas: otimizar o uso do terreno integrando com o ecossistema local, considerar
a geologia do, topografia, insolação solar, hidrologia, e padrões de ventilação natural
ou forçada, minimizar os impactos durante a construção e operação.

• Um bom projeto de águas pluviais tem como objetivo reduzir e controlar as


inundações em áreas de comunidade, prevenir a poluição de rios e terrenos, aumentar
a quantidade das águas subterrâneas e reduzir a carga nas estações de tratamento
de esgoto.

95
AUTOATIVIDADE
1 A necessidade da preservação ambiental é hoje uma realidade. Os efeitos da
degradação do meio natural mobilizam os fóruns mundiais, onde se debatem
opções para garantir sustentabilidade, desenvolvimento e qualidade de vida no
mundo contemporâneo. Sobre a contribuição do projeto de arquitetura para o
desenvolvimento de construções sustentáveis, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Observa aspectos específicos para uso de fontes alternativas de energia, como


promoção de ventilação natural e cruzada, reflexão da radiação solar com o uso
de elementos de proteção e sombreamento, utilização de recursos de isolamento
térmico e aberturas para captação de iluminação natural.
b) ( ) Aplica o conceito de arquitetura bioclimática, que se refere à utilização das
modernas tecnologias de climatização artificial em edifícios denominados
inteligentes, sem a necessidade de integrar o ecossistema com o local construído.
c) ( ) Utilizar de design-bid-build para projetar uma construção com reaproveitamento
de águas pluviais em sanitários e para evitar a inundação de comunidades em
que já tenham sido alocadas, assim, evitando o intenso trabalho de demolição e
reconstrução de construções.
d) ( ) Aplica o conceito de arquitetura bioclimática, que se refere à utilização das
modernas tecnologias de climatização artificial em edifícios denominados
inteligentes, com o objetivo de, por meio de equipamentos, reproduzir condições
ideais de conforto termoacústico e de iluminação, reduzindo-se, assim, o
consumo de energia.

2 Durante o processo de seleção de um terreno para ser construído, deve-se considerar


decidir em construir em um terreno greenfield ou brownfield. Dentre as áreas, existe
um terreno greenfield, que é mais limpo, mas mais longe da cidade e um local
brownfield dentro dos limites da cidade com maior custo de problemas ambientais.
Com base em ambos os terenos, analise as sentenças a seguir:

I- Construir em locais de brownfield resulta em redesenvolvimento de locais para


transformação em áreas mais sustentáveis. Essas construções podem dar uma
vida nova a bairros e facilitar o crescimento de empregos no local. No entanto, há
maiores riscos de custo, processos como limpeza, gastos com demolição e prazos
de construção mais longos.
II- Greenfields devem ser protegidos para evitar os efeitos devastadores sobre a vida
selvagem e os campos. As vantagens dessa área estão na redução de quantidade
de desobstrução necessária, evitando demolição ou remoção de entulhos.

96
III- Os custos elevados e os tempos de construção mais longos associados a
locais brownfield podem representar grandes ameaças aos desenvolvedores;
especialmente aqueles que se esforçam para construir casas e escritórios, o que
poderia beneficiar a economia a longo prazo.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto (uma tradução livre de LID) surgiu na


década de 1980, como uma estratégia de manejo de águas (pluviais e servidas) (USEPA,
2000) por meio do emprego de planejamento multidisciplinar integrado a práticas
de tratamento e controle em pequena-escala para mimetizar o comportamento
hidrológico natural em configurações residenciais, comerciais e industriais. De acordo
com os princípios do LID, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Preservação de vegetação e solo nativos, minimizando o emprego de áreas


impermeáveis e permitindo a manutenção de caminhos naturais de drenagem.
( ) Aumentar o valor de propriedades devido à criação de espaços abertos com
ambientes confortáveis e atrativos ambientalmente.
( ) Criar espaços amplos e sustentáveis com o menor custo e uso de recursos possíveis.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – V – F.
c) ( ) F – F – V.
d) ( ) V – V – F.

4 Edifícios verdes são um conceito relativamente novo para a indústria. Essas obras
são constituídas de  prédios totalmente sustentáveis, voltados para a preservação
ambiental e economia de recursos naturais, construídos para causar o menor impacto
possível na natureza. Disserte sobre os três principais propósitos dos edifícios verdes:

5 É extremamente complexo o controle dos efeitos provocados pela urbanização no


meio ambiente, levando-se em conta: o aumento significativo no volume total de
efluentes produzidos pela população residente, seu tratamento e “descarte” correto;
a ocupação distribuída ou adensada insuficientemente o que acarreta a necessidade
de ampliação da infraestrutura; a diminuição considerável das áreas verdes para
acomodar multirresidenciais, estacionamentos, centros comerciais e a consequente
impermeabilização do território. A solução contemporânea para lidar com a água da
chuva é conhecida como Sistemas de Drenagem Sustentáveis (SuDS). Disserte sobre
algumas abordagens para SuDS em áreas urbanas.

97
98
UNIDADE 2 TÓPICO 2 —
PLANEJAMENTO INTEGRADO DE OBRA

1 INTRODUÇÃO
Quando pensamos em um planejamento integrado de obra voltado para
construções sustentáveis, é necessário inicialmente identificar as atividades a serem
consideradas para compor o cronograma geral do projeto. Dessa maneira, o projeto
inteiro é particionado em menores atividades que devem seguir uma sequência que vai
desde a definição dos problemas a serem enfrentados até a última atividade para que a
obra seja entregue ao usuário.

Para que o planejamento seja adequado, é necessária a participação e


contribuição de diversas partes envolvidas no projeto. Devemos ter em mente que
se uma atividade não for pensada durante a etapa de planejamento, haverá um
alargamento nos prazos de cronograma e no custo final do empreendimento. Portanto,
para a realização certeira do roteiro da obra é necessário fazer uso da estrutura analítica
de projeto, conhecida como EAP. Com a EAP é possível fazer um detalhamento do
escopo do projeto, definindo todas as atividades que farão parte do cronograma geral
do projeto (MATTOS, 2010).

Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos as propriedades e benefícios provenientes


da utilização de estrutura analítica de projeto em um planejamento de obra e como
ela pode contribuir para as construções sustentáveis. Além disso, estudaremos a
realização de orçamento durante o planejamento, o uso de ferramentas para auxiliar na
execução de uma construção enxuta e quais são as melhores práticas para realizar um
planejamento sustentável do canteiro de obras.

2 ESTRUTURA ANALÍTICA DE PROJETO (EAP)


Antes de iniciarmos sobre o tópico de Estrutura Analítica de Projeto (EAP)
precisamos definir o que é o como devemos iniciar o planejamento do projeto. Quando
falamos no escopo de projeto, estamos nos referindo a um conjunto de componentes
que irão detalhar o trabalho. Nele, deve constar informações como descrição, objetivos,
quais as entregas, quem são os responsáveis, os custos e prazos para a realização de
atividades, entre outras informações. Portanto, o escopo tem como função dar luz a
condução do projeto, facilitando sua execução e gerenciamento (JUSTO, 2019).

É necessário considerar que durante a definição do escopo do projeto, é comum


que alguns elementos ainda não estejam completamente especificados e detalhados,
impedido que as atividades sejam divididas em tarefas menores. Nessas situações,

99
o fato de ainda não haver nível de detalhe suficiente não é justificativa para que o
elemento não componha o planejamento. Esse elemento pode ser desmembrado em
períodos futuros. Um exemplo típico é o paisagismo, que muitas vezes não está ainda
plenamente definido no início da obra, mas que pode provisoriamente ser incluído no
cronograma como uma tarefa genérica, sendo dividida posteriormente em plantio de
grama, plantio de árvores, construção de espelho d'água, iluminação direcionada, entre
outros (MATTOS, 2010).

NOTA
Quando realizamos o a subdivisão das atividades a serem realizadas
em um escopo, denominamos essas menores atividades de pacotes
de trabalho.
O processo de desmembrar uma atividade em um período mais
avançado do projeto chama-se planejamento em ondas sucessivas,
essa prática faz com que o grau de informação aumente à medida que
o pacote de trabalho se aproxima, aumentando seu detalhamento.

O gerenciamento do escopo do projeto inclui diversos processos necessários


para assegurar que o projeto inclua todos os trabalhos necessários para a execução da
obra. Sendo os processos de gerenciamento do escopo vistos na Figura 4. Dentre os
processos temos (PMBOK, 2017):

• Planejar o gerenciamento do escopo: o processo de criar um plano de


gerenciamento do escopo que documenta como os escopos do projeto e do produto
serão definidos, validados e controlados.
• Coletar os requisitos: o processo de determinar, documentar e gerenciar as
necessidades e requisitos das partes interessadas a fim de atender aos objetivos do
projeto.
• Definir o escopo: o processo de desenvolver uma descrição detalhada do projeto e
do produto.
• Criar a EAP: o processo de subdividir as entregas e o trabalho do projeto em
componentes menores e mais facilmente gerenciáveis.
• Validar o escopo: o processo de formalizar a aceitação das entregas concluídas do
projeto.
• Controlar o escopo: o processo de monitorar o status do escopo do projeto e do
produto e gerenciar as mudanças feitas na linha de base do escopo.

100
FIGURA 4 – VISÃO GERAL DO GERENCIAMENTO DO ESCOPO DO PROJETO

Visão geral do Gerenciamento


do Escopo do Projeto

5.1 Planejar o
5.2 Coletar os Requisitos 5.3 Definir o Escopo
Gerenciamento do Escopo

.1 Entradas .1 Entradas .1 Entradas


.1 Termo de abertura do projeto .1 Termo de abertura do projeto .1 Termo de abertura do projeto
.2 Plano de gerenciamento do .2 Plano de gerenciamento do .2 Plano de gerenciamento do
projeto projeto projeto
.3 Fatores ambientais da empresa .3 Documentos do projeto .3 Documentos do projeto
.4 Ativos de processos .4 Documentos de negócios .4 Fatores ambientais da empresa
organizacionais .5 Acordos .5 Ativos de processos
.6 Fatores ambientais da empresa organizacionais
.2 Ferramentas e técnicas .7 Ativos de processos
.1 Opinião especializada organizacionais .2 Ferramentas e técnicas
.2 Análise de dados .1 Opinião especializada
.3 Reuniões .2 Ferramentas e técnicas .2 Análise de dados
.1 Opinião especializada .3 Tomada de decisões
.3 Saídas .2 Coleta de dados .4 Habilidades interpessoais e de
.1 Plano de gerenciamento do .3 Análise de dados equipe
escopo .4 Tomada de decisões .5 Análise de produto
.2 Plano de gerenciamento dos .5 Representação de dados
requisitos .6 Habilidades interpessoais e de .3 Saídas
equipe .1 Especificação do escopo do
.7 Diagramas de contexto projeto
.8 Protótipos .2 Atualizações de documentos
5.4 Criar a EAP do projeto
.3 Saidas
.1 Documentação dos requisitos
.1 Entradas .2 Matriz de rastreabilidade dos
.1 Plano de gerenciamento do requisitos
projeto 5.6 Controlar o Escopo
.2 Documentos do projeto
.3 Fatores ambientais da empresa
.4 Ativos de processos .1 Entradas
organizacionais 5.5 Validar o Escopo .1 Plano de gerenciamento do
projeto
.2 Ferramentas e técnicas .2 Documentos do projeto
.1 Entradas .3 Dados de desempenho do
.1 Opinião especializada .1 Plano de gerenciamento do
.2 Decomposição trabalho
projeto .4 Ativos de processos
.2 Documentos do projeto organizacionais
.3 Saídas .3 Entregas verificadas
.1 linha de base do escopo .4 Dados de desempenho do
.2 Atualizações de documentos .2 Ferramentas e técnicas
trabalho .1 Análise de dados
do projeto
.2 Ferramentas e técnicas .3 Saidas
.1 Inspeção .1 Informações sobre o
.2 Tomada de decisões desempenho do trabalho
.2 Solicitações de mudança
.3 Saidas .3 Atualizações do plano de
.1 Entregas aceitas gerenciamento do projeto
.2 Informações sobre o .4 Atualizações de documentos
desempenho do trabalho do projeto
.3 Solicitações de mudança
.4 Atualizações de documentos
do projeto

FONTE: PMBOK (2017, p. 71)

101
Portanto, vimos até agora que para termos sucesso no planejamento de
uma obra, precisamos subdividi-la em partes menores. Esse processo é chamado
decomposição. A estrutura hierarquizada que a decomposição gera é chamada de
Estrutura Analítica do Projeto (EAP). Basta pensar em uma árvore genealógica, com
diversas ramificações. Esse tipo de modelo deve ser aplicado em qualquer modelo de
construção, pois auxilia no gerenciamento da obra.

No entanto, a Estrutura Analítica de Projeto também pode ser potencialmente


aplicada em projetos de desenvolvimento sustentável, a fim de ser capaz de definir
o objetivo de sustentabilidade do projeto, assim como potenciais subobjetivos. Isso
também pode ser aplicado quando sistemas de certificação são usados. Por exemplo,
o LEED tem diferentes modelos de avaliação para novos edifícios e para reformas,
para diferentes tipos de edifícios e para desenvolvimentos urbanos. A seguir, veremos
algumas propriedades e benefícios das EAPs.

2.1 PROPRIEDADES
Como vimos anteriormente, a configuração da EAP é uma árvore com
ramificações, o nível superior da EAP representa o escopo total. Nesse nível, há apenas
um item, o projeto como um todo. A partir desse nível, a EAP começa a se ramificar
em tantos galhos quantos forem necessários para representar as grandes feições do
projeto. Em seguida, cada bloco do segundo nível é desdobrado em seus componentes
menores no terceiro nível e assim sucessivamente (MATTOS, 2010).

Cada nível representa um aprimoramento de detalhes do nível imediatamente


superior. À medida que a EAP se desenrola, os pacotes de trabalho se tornam menores e
mais bem definidos. Assim, torna-se mais fácil atribuir uma duração e identificar a tarefa
no campo para controlar seu avanço.

INTERESSANTE
Mattos (2010) afirma que não há uma regra definida para
construirá EAP. Dois planejadores podem perfeitamente chegara
duas EAP bastante diferentes para o mesmo projeto. O critério
de decomposição é responsabilidade de quem planeja. Qualquer
que tenha sido a lógica de decomposição, todos os trabalhos
constituintes do projeto precisam estar identificados ao final. O
importante é que a EAP represente a totalidade do escopo.

102
A Figura 5 apresenta um exemplo de uma EAP para a construção de uma casa
com diversos tipos de decomposição. O escopo total é representado pelo primeiro
nível da EAP, representado pelo projeto da casa nova. No segundo nível, vemos seis
blocos, constituído de projetos, licitação, mobilização, construção, desmobilização e
gerenciamento do projeto. Já no terceiro nível estão apresentados os últimos níveis das
ramificações da EAP.

FIGURA 5 – MODELO DE EAP PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA CASA NOVA

Projeto Casa Nova

Projeto (Design) Licitação Mobilização Construção Desmobilização Gerenciamento


do Projeto
Definição de Preparação de Preparação Fundações Retirada de
Requisitos Lista de de Canteiro Material Planejamento
Fornecedores Estrutura do Projeto
Projeto de Armazenagem de Retirada de
Arquitetura Solicitação de Equipamentos Laje Equipamentos Gerenciamento
Propostas de Contratos
Projeto Estrutural Alvenaria Limpeza
Análise de Gerenciamento das
Projeto de Propostas Comunicações
Instalações
Instalações
Seleção de
Fornecedores Acabamentos
Projeto do Telhado
Telhado

FONTE: <https://s3.amazonaws.com/nerit-cms/robsoncamargo/text-editor/projeto_
constru%C3%A7%C3%A3o_casa_nova_1_.png>. Acesso em: 24 nov. 2021.

ATENÇÃO
As EAPs não têm limitação de nível de pacotes de trabalho, no
entanto, é necessário definir bem a ramificação das atividades,
uma vez que planejamentos com extensa ramificação pode ser
confuso e causar maior custo de controle. No entanto, EAPs com
pouco detalhe podem ter um controle muito baixo e resultar em
maiores custos posteriores.

Conforme visto na Figura 5, vemos que cada nível da EAP representa um


refinamento do nível superior e que as subatividades devem representar 100% do escopo
do projeto. Além disso, a soma dos custos dos elementos de cada nível deve representar
100% do custo do nível imediatamente superior, portanto, uma mesma atividade não
pode estar em mais de uma ramificação (MATTOS, 2010).

103
2.2 BENEFÍCIOS
Com base no que vimos, a realização de uma EAP fornece muitos benefícios
para a execução de uma obra. Dentre eles, temos (MATTOS, 2010):

• Ordena o pensamento e cria uma matriz de trabalho lógica e organizada.


• Individualiza as atividades que seriam as unidades de elaboração do cronograma.
• Permite o agrupamento das atividades em famílias correlatas.
• Facilita o entendimento das atividades consideradas e do raciocínio utilizado na
decomposição dos pacotes de trabalho.
• Facilita a verificação final por outras pessoas.
• Facilita a localização de uma atividade dentro de um cronograma extenso.
• Facilita a introdução de novas atividades.
• Facilita o trabalho de orçamentação porque usa atividades mais precisas e palpáveis.
• Permite a atribuição de códigos de controle que servem para alocação dos custos
incorridos no projeto.
• Evita que uma atividade seja criada em duplicidade.

3 ORÇAMENTO NO PLANEJAMENTO
Os objetivos principais de qualquer projeto são garantir que seja concluído no
prazo, dentro do orçamento e de acordo com as especificações. O gerenciamento de
projetos é definido como a arte de dirigir e coordenar recursos humanos e materiais ao
longo da vida de um projeto, usando técnicas de gerenciamento modernas para atingir
objetivos predeterminados de escopo, custo, tempo, qualidade e objetivos participativos
(KUBBA, 2017).

A orçamentação é o ato de elaborar orçamentos, também conhecido como


“levantamento de custos/preços”. Nessa etapa, é estimado o custo antes da execução
da obra. Os orçamentos têm finalidades diversa. Os casos mais comuns acontecem
primeiro na fase de planejamento da obra, antes de se ter os projetos definitivos. É o
caso dos estudos de viabilidade técnico-econômica, quando dos estudos preliminares
ou projetos básicos, para análise da legislação de uso dos solos, para estudo prévio de
comercialização de obras e outros casos (TISAKA, 2003).

Quando analisamos os tipos de orçamento quanto ao seu grau de precisão,


é possível dividir em dois tipos principais: os orçamentos estimados (aproximados,
estimativos ou inexatos) utilizados para projetos ainda em fase de planejamento,
quando ainda não se tem projetos completos, quando não se necessita ou deseja
custos/preços exatos e os orçamentos firmes (precisos ou exatos) para os casos de
propostas concretas.

104
Dentre os orçamentos estimados, os orçamentos baseados no CUB (Custo
Unitário Básico) trata-se de um método de obter o custo de metro quadrado de obra
pronta, é a metodologia mais simplificada que se dispõe para o cálculo aproximado dos
custos de obras. O custo global é o resultado do produto da área total a construir pelo
CUB. A área total é definida pelo projeto de arquitetura, e o custo unitário básico de
construção é fornecido por diversas fontes, entre elas o boletim mensal do SINDUSCON
(Sindicato das Indústrias da Construção Civil), e revistas técnicas especializadas.
Normalmente, são publicados custos mensais, segundo o padrão de acabamento da
obra (alto, normal e baixo), para regiões diferentes do país, por natureza de obra, número
de pavimentos e outras características.

Custo total = área total de construção x CUB (da região e do padrão da obra)

Custo total = (Área padrão + Áreas equivalentes à padrão) x CUB

Já com relação aos orçamentos firmes, é necessário realizar duas


grandes etapas na sua elaboração (LIMMER, 1996):

I. São, primeiramente, calculados todos os custos unitários, parciais e totais,


procedendo-se, ao final, ao seu fechamento para fins de verificação se os custos/
preços calculados estão compatíveis com os valores de mercado para a categoria
da obra. O documento do memorial, porém, deve apresentar uma forma organizada
e compreensível por parte de outros profissionais interessados e que necessitem
consultá-lo para dirimir possíveis dúvidas na condução de seus trabalhos. O memorial de
cálculo é composto de cálculos explícitos e completos, croquis, anotações justificativas
diversas, documentação de tomadas de preço, prospectos, catálogos consultados,
propostas, referências de equipamentos e outros componentes, referências de
prestadores de serviços, entre outros.
II. Após o fechamento e verificações, com eventuais correções, revisões e acertos
pontuais, passa-se então à elaboração das planilhas orçamentárias, que contêm
os resultados de custos unitários, parciais e totais, e que são destinadas ao cliente,
uma vez que este, obviamente, não terá acesso ao total de informações contidas nas
memórias de cálculo. As planilhas não são usadas para se fazer quaisquer cálculos,
mas para se apresentar os resultados dos custos/preços já calculados.

105
4 CONSTRUÇÃO ENXUTA
O termo construção enxuta vem do inglês “lean construction”, que é uma
adaptação do princípio de Lean Production, que foi introduzido por James Womack, Daniel
Jones e Daniel Ross através do livro ‘The machine that changed the world’ (A máquina
que mudou o mundo) de 1990, em que descreve o novo paradigma de manufatura
estabelecido pelo Sistema Toyota de Produção (BERTANI, 2012). A construção enxuta
surge como princípio para eliminar desperdícios que ocorrem na obra. No que tange à
construção civil, nove tipos de desperdícios são encontrados: espera, movimentação,
processos desnecessários, área não utilizada, transporte, estoque, superprodução,
defeitos e atrasos.

A aplicação de princípios de construção enxuta na construção cria um ambiente


cultural e organizacional favorável para a diminuição de desperdícios e prevenção
da poluição. Em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, o conceito de Lean
Construction já é bastante difundido e, portanto, várias construtoras trabalham com
esta filosofia, no entanto, aqui Brasil esta prática ainda anda pouco difusa, o que resulta
em grandes desperdícios e baixa responsabilidade sustentável.

O setor da construção civil é bem diversificado e complexo e para utilizar


do princípio de construção enxuta é necessário dividir em cinco fluxos as empresas
associadas ao ramo, sendo estes (PICCHI, 2003):

I. Fluxo de negócio: compreende desde a identificação de necessidades, planejamento


geral do empreendimento, licenciamentos, obtenção de financiamento, contratações,
monitorização do projeto e construção, fechamento da construção e entrega ao
usuário final;
II. Fluxo de projeto: em geral, liderado pelo arquiteto, envolve os empreendedores
e os demais projetistas como principais participantes;
III. Fluxo de obra: liderado pela empresa construtora, geralmente utilizando um
elevado grau de subcontratação;
IV. Fluxo de fornecimentos: liderado pela empresa construtora, envolve todos os
fornecedores de materiais e serviços e os seus subfornecedores;
V. Fluxo de uso e manutenção: começa após a entrega, este fluxo compreende
uso, operação e manutenção, assim como reparação, reabilitação e demolição. As
empresas envolvidas neste fluxo são, em geral, diferentes das envolvidas nos fluxos
anteriores à entrega da obra.

A Figura 6 apresenta um modelo de processo de construção enxuta. Nesse


processo é obtido um fluxo de atividades de transporte, espera, processamento e
inspeção. As atividades de transporte, espera e inspeção não acrescentam valor ao
produto, sendo por isso denominadas de atividades de fluxo (ARANTES, 2008). Este
processo de fluxos leva à percepção das causas que originam os problemas e permite
objetivas planos para melhorar os processos.

106
FIGURA 6 – MODELO DE PROCESSO DE CONSTRUÇÃO ENXUTA

FONTE: Arantes (2008, p. 59)

Com o intuito de aplicar a filosofia de construção enxuta, deve-se levar em


consideração três pontos principais, que devem ser adaptadas no contexto da construção
civil, mesmo com resistência devido ao pensamento conservador dos profissionais do
setor. Os pontos são (ANDRADE, 2008):

1. Abandono do conceito de processo como transformação de entras em saídas,


passando a designar um fluxo de materiais e informações.
2. Análise do processo de produção através de um sistema de dois eixos ortogonais: um
representando o fluxo de materiais (processo) e outro o fluxo de operários (operação).
3. Consideração do valor acrescentado sob o ponto de vista dos clientes internos e
externos, tendo como consequência a reformulação do conceito de perdas que
passa a incluir também as atividades que não acrescentam valor ao produto.

4.1 CONTRIBUIÇÃO NO USO DE FERRAMENTAS


A contribuição da construção enxuta no meio de obras é obtida através de 11
princípios propostos por Koskela (1992), sendo eles apresentados a seguir:

I. Reduzir a parcela de atividades que não acrescentem valor: deve-se reduzir as


atividades que consomem tempo, recurso e espaço, mas que não contribuam para
atender aos pedidos dos clientes. Para isso, é fundamental explicitar as atividades
de fluxo, por exemplo, através da representação do fluxo do processo. Por exemplo,
utilizar um vibrador portátil em substituição ao convencional para a realização de
concretagem, permitindo reduzir o número de funcionários a executar o processo.
II. Aumentar o valor do produto através da consideração das necessidades
dos clientes: assim se estabelece a identificação das necessidades dos clientes,
devendo ser considerado no projeto do produto e na gestão da produção, uma vez
que o valor é gerado por consequência da satisfação dos clientes.
III. Reduzir a variabilidade: para isso, é necessário realizar uma padronização dos
processos. Isso também auxilia na melhora da qualidade do produto, na duração
das atividades e no consumo de recursos.

107
IV. Reduzir o tempo de ciclo: os tempos de ciclo são definidos com a soma de todos
os tempos necessários de transporte, espera, processamento e inspeção de um
produto. Dentre as vantagens deste princípio temos uma entrega mais rápida ao
cliente, gestão de processos mais fácil, aumento de aprendizagem e redução de
vulnerabilidade do sistema.
V. Simplificar através da redução do número de passos ou partes: deve-se
reduzir o número de componentes ou estágios de fluxo de um processo. Assim, é
possível eliminar atividades que não agreguem valor ao processo.
VI. Aumentar a flexibilidade de saída: possibilita alterar característica dos produtos
entregues aos clientes, sem aumentar substancialmente os seus custos. Embora
este princípio pareça reduzir a eficiência, pode-se aumentar a flexibilidade e manter
uma alta produtividade. Esse princípio pode auxiliar na finalização detalhada do
produto no tempo mais tarde possível, permitindo a flexibilidade do produto sem
grandes prejuízos para a produção.
VII. Aumentar a transparência dos processos: torna os erros mais fáceis de serem
identificados no sistema de produção e aumenta a disponibilidade de informações
necessárias para executar as tarefas.
VIII. Focar o controle no processo global: possibilita identificar e corrigir possíveis
desvios que venham a interferir de forma acentuada no prazo de entrega da obra.
IX. Introduzir melhoria contínua no processo: esta medida feita de maneira
permanente no processo, esses esforços reduzem perdas e aumentam a organização
da equipe.
X. Manter equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões: em geral, quanto
maior a complexidade do processo de produção, maior é o impacto das melhorias e
quanto maiores os desperdícios inerentes ao processo, mais proveitosos os benefícios
nas melhorias de fluxo, em comparação com as melhorias de conversão.
XI. Fazer Benchmarking: consiste num processo de aprendizagem a partir de práticas
adotadas em outras empresas, tipicamente consideradas líderes no segmento. Isso
estimula a competitividade da empresa e tem como resultado combinar os pontos
fortes desenvolvidos internamente com o de práticas de outras empresas para uma
melhoria contínua.

5 PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL DO CANTEIRO DE OBRA


Segundo a NR18 – condições de segurança e saúde no trabalho na indústria da
construção (BRASIL, 2020) –, o canteiro de obras é definido como uma área de trabalho
que pode ser temporária ou fixa onde são realizadas operações de apoio e execução a uma
obra. Essa norma tem como objetivo estabelecer diretrizes de ordem administrativa, de
planejamento e de organização para implementar controle de segurança nos processos,
nas condições e no meio ambiente de trabalho da obra.

108
Os canteiros de obras podem ser divididos entre: restritos; longos e estreitos;
e amplos. Os terrenos restritos são caracterizados como construções reformas ou
ampliações em áreas urbanas, em que a construção ocupa a maior parte do terreno,
quando não o terreno completo. Os terrenos longos e estreitos são construções
de estradas de ferro e rodagem, redes de gás e petróleo, entre outros, onde é terreno
é restrito em um dos cantos e possibilita poucos pontos de acesso. Já os terrenos
amplos são construções de plantas industriais ou conjuntos habitacionais, geralmente
presentes em obras grandes. Nesse terreno, as construções ocupam uma pequena parte
do terreno, com amplo espaço para armazenamento, estacionamento ou paisagismo.

Para obter redução de impactos no canteiro de obras, é preciso conhecer os


aspectos ambientais (elementos originados das atividades realizadas no canteiro),
sendo estes importantes elementos que interagem em todas as fases da execução da
construção. As etapas e serviços presentes nos canteiros são apresentados na Tabela 1.

TABELA 1 – FASES DE UMA OBRA

Etapa Serviços
Serviços técnicos (levantamento topográfico, projetos, especificações).
Serviços
preliminares e gerais Instalações provisórias (tapumes, barracão, água, luz, esgoto e placas).
Limpeza da obra.
Trabalhos em terra (demolições, limpezas do terreno, escavações
mecânicas, escavações manuais, aterro e apiloamento, locação da
obra e desmonte em rocha).
Infraestrutura
Fundações e outros serviços (escoramento do terreno, rebaixamento
do lençol freático, fundações profundas, fundações superficiais, vigas,
baldrames e alavancas).
Concreto armado.
Supraestrutura
Pré-moldados.
Alvenarias.
Esquadrias.
Paredes e painéis
Ferragens.
Vidros.
Telhados.
Coberturas e
Impermeabilizações.
proteções
Tratamentos.
Revestimentos internos.
Revestimentos, Azulejos.
elementos Revestimentos externos.
decorativos e Forros.
pinturas Pinturas.
Revestimentos especiais.

109
Madeira.
Cerâmica.
Carpete.
Pavimentação
Cimentado.
Rodapés, soleiras e peitoris.
Pavimentações especiais.
Elétricas e telefônica.
Hidráulicas.
Instalações e
Esgoto.
aparelhos
Instalações mecânicas.
Aparelhos.

FONTE: Araújo (2009, p. 20)

5.1 PRÁTICAS PARA UMA BOA GESTÃO


Para melhorar a performance das atividades e ter um canteiro de obra
classificado como sustentável, sem prejudicar o meio ambiente, algumas práticas de
boa gestão devem ser utilizadas, sendo elas (ARAÚJO, 2009):

• Separar os resíduos em categorias diferentes.


• Utilizar detectores de presença, conhecido como iluminação inteligente.
• Ter cuidado com a água, evitar desperdícios e contaminação com resíduos tóxicos.
• Definir o orçamento na fase do planejamento.
• Instalar tubos metálicos ligados a caçambas para evitar poluição e otimizar a limpeza.
• Proteger as instalações do calor instalando película as de controle solar nos vidros e
pintando as telhas de branco.

A seguir, serão apresentadas algumas metodologias para práticas de boa gestão


em canteiros de obras, sendo elas (ARAÚJO, 2009):

• BREEAM: metodologia utilizada para edifícios de escritórios e reformas. A avaliação


desta metodologia é feita através de pontos, no entanto, a atenção aos canteiros
de obras corresponde a aproximadamente 12% da pontuação dessa avaliação. As
tarefas a serem monitoradas são gestão e ecologia, que avalia a triagem e reciclagem
de resíduos dos canteiros de obras, práticas a minimização de riscos de poluição do
ar, solo e cursos de água e de redes públicas de infraestrutura, além da preservação
de arvores com troncos de diâmetro acida de 100 mm, de lagoas e de córregos.
• HQE (Hayte Qualité Environnementale): metodologia que avalia a otimização
da gestão dos resíduos do canteiro e redução dos incômodos, poluição e consumo
gerados.
• Green Building GBToll: método que avalia três pontos diferentes no canteiro de
obras, os resíduos sólidos, impactos no terreno e aspectos sociais da obra. Dentre
os critérios de resíduos há uma exigência de minimização de sua geração pela
implementação de um plano de gestão de resíduos, com medidas de segregação, reuso

110
e reciclagem, fixando as porcentagens mínimas em peso, do resíduo da construção
a ser reciclado. Outro critério é o impacto no terreno, que exige a elaboração de um
plano de minimização dos impactos a cursos de água e outras características naturais
do terreno, como impactos erosivos devido a obras ou ao paisagismo realizado. Já
com relação aos aspectos sociais da obra, é objetivado minimizar os acidentes que
causem ferimentos ou mortes.
• LEED (Leadership in Energy and Environmental Design): esta metodologia
avalia por pontos o projeto. Duas exigências são necessárias para o canteiro de obras,
o controle de erosão e assoreamento tem por objetivo monitorar a erosão, reduzindo
possíveis impactos negativos na qualidade de água e do ar. Para isso, é necessário
elaborar um plano do controle de assoreamento e de erosão, específico para cada
obra. O outro ponto é relacionado à gestão dos resíduos do canteiro, direcionando os
resíduos de construção e a terra escavada para destinos que não sejam aterros.

5.2 GESTÃO DE RESÍDUOS


Como vimos anteriormente, a preocupação de geração de resíduos da
construção é um ponto muito forte dentro de um canteiro de obra sustentável. Embora
a geração de resíduos em canteiro de obras é inevitável, a Resolução CONAMA 307
de 2002 (CONAMA, 2002), estipula que em primeiro lugar deve-se priorizar a sua não
geração, para depois reduzir, reutilizar e reciclar na sua destinação final.

ATENÇÃO
A Lei nº 12.305 de 2 de agosto de 2010 (BRASIL, 2010), institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos no Brasil, e conforme seu Art 15, a União elaborará, sob a coordenação
do Ministério do Meio Ambiente, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, com vigência por
prazo indeterminado e horizonte de vinte anos, a ser atualizado a cada quatro anos, tendo
como conteúdo mínimo:

I- Diagnóstico da situação atual dos resíduos sólidos.


II- Proposição de cenários, incluindo tendências internacionais e macroeconômicas.
III- Metas de redução, reutilização, reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir a
quantidade de resíduos e rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente
adequada.
IV- Metas para o aproveitamento energético dos gases gerados nas
unidades de disposição final de resíduos sólidos.
V- Metas para a eliminação e recuperação de lixões, associadas à
inclusão social e à emancipação econômica de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis.
VI- Programas, projetos e ações para o atendimento das metas previstas.
VII- Normas e condicionantes técnicas para o acesso a recursos da
União, para a obtenção de seu aval ou para o acesso a recursos
administrados, direta ou indiretamente, por entidade federal, quando
destinados a ações e programas de interesse dos resíduos sólidos.
(Letra D)

111
VIII- Medidas para incentivar e viabilizar a gestão regionalizada dos resíduos sólidos.
IX- Diretrizes para o planejamento e demais atividades de gestão de resíduos sólidos das
regiões integradas de desenvolvimento instituídas por lei complementar, bem como
para as áreas de especial interesse turístico.
X- Normas e diretrizes para a disposição final de rejeitos e, quando couber, de resíduos.
XI- Meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito nacional, de sua
implementação e operacionalização, assegurado o controle social.

Os recursos de concreto reciclado são abundantes e os mais propícios a ocorrer


durante a etapa de canteiro de obras. A reciclagem de estruturas de concreto no local
é o uso mais eficiente em termos de energia e custo-benefício do agregado de concreto
reciclado, pois o gasto com transporte é eliminado. O equipamento de britagem de
pedra pode ser trazido para o local com medidas recentemente desenvolvidas para
reduzir o ruído e a poeira. O procedimento para reciclagem de concreto no local envolve
(CALKINS, 2009):

1) quebrar e remover o concreto antigo;


2) britagem em britadores primários e secundários;
3) remover reforço de aço, tela de arame e outros itens embutidos;
4) realizar a classificação e lavagem;
5) armazenar os agregados grosseiros e finos resultantes. Durante este processo, deve-
se tomar cuidado para evitar a contaminação do agregado com sujeira, placa de
gesso, asfalto, madeira e outros materiais estranhos.

Outra fonte comum de RCA é o concreto fresco que retorna à planta de concreto
de origem por motivos de excesso de oferta ou rejeição. Algumas plantas permitem a
cura para seguir com a trituram e reutilização como base agregada em outros empregos.
Um benefício econômico da reciclagem do concreto é o valor da armadura de aço
que é removida durante o processo de reciclagem do concreto. Quando o concreto é
depositado em aterro, o aço geralmente não é removido, mas quando o concreto é
reciclado, o aço removido pode ser vendido como sucata, agregando valor econômico
aos esforços de reciclagem.

5.3 POLÍTICAS DE QUALIDADE


O gerenciamento de qualidade do projeto inclui os processos e as atividades
da organização executora que determinam as políticas de qualidade, os objetivos e as
responsabilidades, de modo que o projeto satisfaça as necessidades para as quais foi
empreendido. É apropriado implementar o sistema de gerenciamento da qualidade por
meio de políticas e procedimentos com atividades de melhoria contínua de processos
realizadas durante todo o projeto (PMBOK, 2017).

112
O gerenciamento de qualidade de um projeto deve incluir os seguintes itens:

1. Planejar a qualidade – processo de identificar os requisitos e/ou padrões de qualidade


do projeto e do produto, bem como documentar de que modo o projeto demonstrará a
conformidade.
2. Realizar a garantia da qualidade – processo de auditoria dos requisitos de
qualidade e dos resultados das medições de controle de qualidade para garantir que
sejam usados os padrões de qualidade e as definições operacionais apropriadas.
3. Realizar o controle da qualidade – processo de monitoramento e registro dos
resultados da execução das atividades de qualidade para avaliar o desempenho e
recomendar as mudanças necessárias.

O gerenciamento moderno da qualidade complementa o gerenciamento de


projetos. Ambas atividades reconhecem a importância da:

• Satisfação do cliente: entender, avaliar, definir e gerenciar as expectativas para que


os requisitos do cliente sejam atendidos. Para isso, é necessária uma combinação
de conformidade com os requisitos (para garantir que o projeto produza o que ele foi
criado para produzir) e adequação ao uso (o produto ou serviço devem satisfazer as
necessidades reais).
• Prevenção ao invés de inspeção: um dos princípios fundamentais do moderno
gerenciamento da qualidade determina que a qualidade deve ser planejada, projetada
e incorporada – em vez de inspecionada. O custo de prevenir os erros geralmente é
muito menor do que o custo de corrigi-los quando são encontrados pela inspeção.
• Melhoria contínua: o ciclo PDCA (planejar-fazer-verificar-agir) é a base para a melhoria
da qualidade. Além disso, as iniciativas de melhoria da qualidade empreendidas pela
organização executora devem aprimorar a qualidade do gerenciamento do projeto e
a qualidade do produto do projeto.
• Responsabilidade de gerência: o sucesso exige a participação de todos os
membros da equipe do projeto, mas continua sendo a responsabilidade da gerência
fornecer os recursos necessários ao êxito.

Dentre as ferramentas utilizadas para gerenciar as políticas de qualidades


temos (PMBOK, 2017):

• Análise custo benefício: os principais benefícios de cumprir os requisitos de


qualidade podem incluir menos retrabalho, maior produtividade, custos mais baixos e
aumento da satisfação das partes interessadas. Um business case de cada atividade
de qualidade compara o custo da etapa de qualidade com o benefício esperado.
• Custo de qualidade (CDQ): o custo de qualidade inclui todos os custos incorridos
durante a vida do produto por investimentos na prevenção do não cumprimento dos
requisitos, na avaliação do produto ou serviço quanto ao cumprimento dos requisitos
e ao não cumprimento dos requisitos (Retrabalho). Os custos de falhas geralmente são
categorizados como internos (encontrados pelo projeto) e externos (encontrados pelo
cliente). Os custos de falhas também são chamados de custos de má qualidade.

113
• Benchmarking: envolve a comparação de práticas de projetos reais ou planejados
com as de projetos, comparáveis para identificar as melhores práticas, gerar ideias
para melhorias e fornece uma base para medir o desempenho. Esses outros projetos
podem estar na organização executora ou fora dela e podem estar dentro da mesma
área de aplicação ou em outra.
• Projeto e experimento: é um método estatístico para identificar os fatores
que podem influenciar variáveis especificas de um produto ou processo em
desenvolvimento ou em produção. O método DOE deve ser usado durante o processo
de planejar a qualidade para determinar o número e tipos de testes e seu impacto
no custo da qualidade. Também desempenha papel na otimização de produtos ou
processos. Pode ser usado para reduzir a sensibilidade do desempenho do produto a
fontes de variações causadas por diferenças ambientais ou de fabricação.

NOTA
Além dessas ferramentas, ainda é possível realizar outras, como
brainstorming, diagrama de afinidade, análise do campo de força,
técnicas de grupos nominais, amostragem estatística, fluxogramas,
matrizes de priorização e diagramas matriciais. Para mais informações,
consulte o livro: Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento
de Projetos (Guia PMBOK).

114
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A filosofia da manufatura enxuta está baseada no respeito pelas pessoas e nos


princípios de pensamento enxuto, que tem como prioridade a eliminação de qualquer
atividade humana que absorve recursos sem a criação de valor. De maneira simples,
melhorar um sistema baseando-se em princípios Lean significa identificar todos os
desperdícios a fim de eliminá-los.

• É possível utilizar diversas certificações para adequar uma obra como sendo uma
construção sustentável. Dentre alguns exemplos, temos as utilizações da certificação
LEED, que surge com intuito de promover e estimular práticas de construções
sustentáveis, satisfazendo critérios para uma construção verde.

• Dentre as boas práticas para uma gestão sustentável, temos: separar os resíduos em
categorias diferentes, utilizar detectores de presença, conhecido como iluminação
inteligente, ter cuidado com a água, evitar desperdícios e contaminação com resíduos
tóxicos, definir o orçamento na fase do planejamento, entre outras medidas.

115
AUTOATIVIDADE
1 O Plano Nacional de Resíduos Sólidos, elaborado mediante processo de mobilização e
participação social, incluindo a realização de audiências e consultas públicas, possui
como conteúdo mínimo, além de um diagnóstico da situação atual dos resíduos
sólidos. Sobre esses conteúdos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Proposição de cenários, incluindo tendências internacionais e macroeconômicas.


b) ( ) Planos de descarte controlado dos gases gerados nas unidades de disposição
final de resíduos sólidos.
c) ( ) Normas e condicionantes técnicas para o acesso a recursos de fundos privados,
nacionais ou internacionais, destinados a ações e programas de interesse no
trato dos resíduos sólidos.
d) ( ) Programa de captação de recursos no setor privado visando o desenvolvimento
de metodologias para reciclagens, aproveitamento energético e outros elementos
fundamentais à execução.

2 Dentro da área de conhecimento de gerenciamento de escopo, temos cinco


processos. A Estrutura Analítica de Projetos (EAP) é considerada a principal saída
do processo “Criar a EAP”. Com relação às melhores práticas na elaboração da EAP,
analise as sentenças a seguir:

I- O último nível de uma EAP é chamado de pacote de trabalho.


II- A declaração do escopo do projeto e os ativos de processos organizacionais são
entradas deste processo.
III- A decomposição é uma das técnicas utilizadas neste processo.
IV- Dentre as saídas deste processo, temos o dicionário da EAP e a linha de base do
escopo.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.

3 O selo LEED, a certificação internacional mais conhecida no Brasil (e uma das mais
populares no mundo), leva em conta em seu processo algumas dimensões, como:
eficiência energética, uso de materiais e recursos e qualidade dos ambientes internos
da edificação. Sobre o selo LEED, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:

116
( ) Os níveis de certificação LEED são classificados em LEED, LEED prata, LEED ouro e
LEED bronze.
( ) Os benefícios do LEED são econômicos, sociais e ambientais, tais como aumento da
retenção, redução do consumo de água e energia, capacitação profissional, entre
outros.
( ) As etapas para a certificação LEED são: escolha de tipologia, registro do projeto,
auditoria documental do projeto e da obra e certificação.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) F – V – F.
c) ( ) F – F – V.
d) ( ) V – V – F.

4 Dentre as ferramentas que temos para realizar gerenciamento de qualidade em obras


é possível a utilização de diversos métodos, sendo eles: análise custo benefício, custo
de qualidade (CDQ), Benchmarking, projeto de experimento, entre outros observados
dentro do PMBOK. Descreva como funciona o gerenciamento de qualidade através do
Benchmarking.

5 A construção enxuta é a análise do sistema de produção com foco no fluxo de


produção em vez da otimização parcial de apenas alguns dos seus aspectos. Ela está
enraizada na indústria automotiva japonesa, sobretudo na Toyota, que adotou um
sistema de produção sem perdas (lean production ou lean manufacturing) no final
dos anos 1980. Descreva alguns dos princípios obtidos pela construção enxuta:

117
118
UNIDADE 2 TÓPICO 3 —
APROVEITAMENTO DE RECURSOS

1 INTRODUÇÃO
Um dos princípios básicos da sustentabilidade é a preservação de recursos
naturais – como água, energia, luz ou vento, fazendo o uso consciente deles e evitando
o consumo exacerbado e desnecessário. Quando é possível aproveitar esses recursos
de forma inteligente e eficiente, realizando uma integração entre construção e meio
ambiente, consegue-se um impacto positivo ainda maior e completo.

A importância de projetar edifícios capazes de melhor aproveitar a luz natural vai


muito além da economia gerada pela redução no consumo de energia com iluminação
artificial. Morar ou trabalhar em ambientes que recebem pouca ou nenhuma quantidade
de luz solar pode ser prejudicial à saúde das pessoas, causando problemas como
depressão.

Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos os temas de aproveitamento de recursos


de iluminação, recursos hídricos, ventilação forçada e natural e de projetos de instalação
em obras de construção sustentáveis.

2 ILUMINAÇÃO
A iluminação é um fator importante para determinar a maneira como as pessoas
vivenciam o ambiente interno, como vivenciam os edifícios e como são capazes de
responder a certas tarefas. As pessoas gostam da luz do dia e a sua contribuição para a
qualidade dos espaços interiores está cada vez mais reintegrada em edifícios, após um
período em que foi largamente desvalorizada por alternativas artificiais. Agora é aceito
que a luz do dia, quando disponível, deve ser a forma predominante de iluminação na
maioria dos tipos de edifícios.

Se adequadamente projetado e integrado, pode contribuir significativamente


para uma arquitetura distinta e atraente e para a sensação de bem-estar dos ocupantes.
Existem evidências de que a luz natural tem um papel importante na saúde e no
desenvolvimento mental. A luz do dia, se devidamente projetada em um edifício e bem
controlada, também compensa o consumo de energia associado à iluminação artificial.
Esta é, muitas vezes, uma proporção muito significativa do total de consumo de energia
dos edifícios. Portanto, precisamos explorar melhor a prática de iluminação, dentro e ao
redor de edifícios, que economiza a energia e otimiza o uso da iluminação natural.

119
É necessário cuidado para garantir que a iluminação natural ou seu controle
inadequado não dê origem a desconforto térmico e aumente a necessidade de
aquecimento ou resfriamento para compensá-lo. Além disso, as aberturas de janelas
são mais caras do que paredes e telhados sólidos; e, qualquer custo de ciclo de vida,
benefícios ambientais, de qualidade e de comodidade precisam ser comunicados aos
clientes e financiadores. Por último, mas não menos importante, um bom controle
é absolutamente essencial para que os benefícios de custo sejam alcançados
(HALLIDAY, 2008).

Uma boa iluminação melhora a qualidade de um espaço e contribui


significativamente para a criação de uma atmosfera apropriada. Tanto a luz artificial
quanto a natural deve ser de alto padrão para que os ocupantes fiquem satisfeitos.
A cor e o brilho da iluminação, sua interação com as cores da superfície, padrões e
refletâncias são aspectos importantes. As pessoas gostam de luz do dia em particular,
mas apenas se ela não desviar a atenção do que estão fazendo.

ATENÇÃO
A luz do dia pode complementar a iluminação artificial para adicionar
qualidade e, se controlada adequadamente, pode substituir a iluminação
artificial com economia de custo e energia.

Quando a luz do dia é bem projetada, ela torna-se uma ajuda para trabalhar
e aproveitar um espaço de forma eficaz; e suas qualidades direcionais podem ajudar
os ocupantes a discernir os detalhes. No entanto, é necessário cuidado, pois pode ser
um incômodo se for intrusivo e os ocupantes se sentirem incapazes de controlá-lo.
Em particular, o brilho do céu, iluminação artificial e reflexos, por exemplo, de telas de
computador, devem ser evitados, pois isso pode causar cansaço visual ou desconforto.
Luzes piscando são uma fonte de desconforto e agora são comumente evitadas pelo
uso de reatores de alta frequência em sistemas de iluminação fluorescente.

Um estudo descobriu que em salas de aula com os níveis mais altos de luz
natural, a aprendizagem dos alunos progrediu 20% mais rápido em matemática e 26%
mais rápido em leitura do que alunos semelhantes em salas de aula com menos luz
natural. A aparente importância da qualidade da luz natural surpreendeu com seus
resultados (KATS, 2003).

A iluminação com eficiência energética depende da interação de muitos


efeitos. Isso inclui: disponibilidade de luz natural utilizável; como um edifício é usado
e administrado; escolha de lâmpada e luminária; regimes de manutenção e limpeza
de lâmpadas, luminárias e superfícies; ganhos e perdas de calor através das áreas

120
envidraçadas; e a extensão do controle pessoal e o gerenciamento de reflexos. É
importante notar que bons controles estão entre as medidas de energia mais econômicas
e são vitais para a eficiência energética e comodidade.

O método de iluminação e térmico é uma ferramenta simples que pode


auxiliar no desenho da forma do edifício e na distribuição dos vidros para minimizar
o consumo de energia pelo aquecimento e iluminação. Além disso, vários métodos
de computador permitem a experimentação com diferentes tipos de iluminação. Este
método traz muitos ganhos para uma área em que é realizada a observação de edifícios,
através da combinação de experimentação com ferramentas de design e instalações de
modelação.

INTERESSANTE
Os estudos na fase de projeto devem comparar as estratégias com
base no ciclo de vida. A eletricidade é mais cara durante o dia e,
portanto, a economia durante o dia é particularmente importante.
No entanto, os custos de capital para incorporar a iluminação natural
podem ser de duas a três vezes maiores do que uma parede plana
ou telhado.

A qualidade da construção e os custos de manutenção precisam


ser considerados. A iluminação natural pode, portanto, ser difícil
de justificar puramente com base na economia de energia. No
entanto, há evidências significativas emergentes dos benefícios das
amenidades, incluindo satisfação do ocupante e produtividade, que
adicionam peso aos argumentos para a eficiência energética.

A iluminância de projeto (ou iluminância mantida) é o mínimo que deve estar


disponível para uma tarefa específica. A iluminação artificial precisa fornecer isso. Por
exemplo (HALLIDAY, 2008):

• Corredores e vestiários – 100 lux.


• Bibliotecas e pavilhões esportivos – 300 lux.
• Cadeias de lojas e escritórios de desenho – 750 lux.
• Microeletrônica – 2.000 lux.

NOTA
Lux é a unidade derivada do Sistema Internacional de Unidades
usada para medição do fluxo luminoso por unidade de área, ou seja,
da densidade de intensidade luminosa conhecida por iluminância.
Corresponde à incidência perpendicular de um fluxo luminoso de 1
lúmen sobre uma superfície com 1 metro quadrado.

121
3 RECURSOS HÍDRICOS
O objetivo da gestão sustentável da água é garantir que o seu uso seja eficiente
e a poluição minimizada, para que a água retorne ao meio ambiente sem prejudicá-
lo. A gestão sustentável da água é relativamente fácil de alcançar. A maior parte da
água entra em nossos edifícios com qualidade potável e sai pelo esgoto. A extensão do
nosso uso de água afeta a infraestrutura, os requisitos de armazenamento e a energia
necessária para uso. Ainda assim, em geral, nós a usamos de forma muito ineficiente,
como no caso do uso em banheiros.

ATENÇÃO
A medida em que poluímos a água, afetamos negativamente os
sistemas ecológicos, nossa saúde e, em última análise, nossa
qualidade de vida, mas não somos muito cuidadosos com relação
à poluição química e bacteriana.

A água residual pode ser um recurso se for purificada para usos não potáveis,
como descarga de vasos sanitários. Se administrados adequadamente, alguns nutrientes
valiosos podem ser devolvidos à terra. A água da chuva pode ser usada como substituto
da água tratada para alguns usos domésticos, mas raramente esse projeto é executado
em construções.

Existem muitas oportunidades para a conservação da água e o descarte benigno,


mas a complexidade de conexões de água encanada, esgoto e drenagem de águas
pluviais significa que as questões hídricas raramente são consideradas em projetos de
construção. No entanto, há benefícios em tais considerações nos estágios iniciais de
projeto e reforma, e são cada vez mais uma exigência por parte dos planejadores.

Um bom projeto de construção responde ao ambiente local. A gestão sustentável


da água é particularmente sensível ao contexto. Medidas de boas práticas de eficiência
hídrica devem ser consideradas para todos os projetos, mas sempre terão que ser
equilibradas junto a outras questões de projeto. Há uma tendência de presumir que
soluções como canaviais, áreas de compostagem, reciclagem de água cinza e sistemas
de água da chuva são inerentemente sustentáveis, independentemente do contexto.
Este não é o caso. A análise é sempre necessária para determinar uma solução de
design apropriada (HALLIDAY, 2008).

A conservação da água é o principal problema em edifícios que já estão ligados


à rede eléctrica. Soluções como banheiros secos podem não ser apenas uma opção
sustentável, mas a única prática para os locais mais restritos: como locais com banheiros
públicos em locais remotos e edifícios em rocha ou argila pesada. Na verdade, esses
podem ser os mais fáceis de avaliar, pois as opções limitadas determinam as soluções.

122
NOTA
Banheiro seco é uma versão de vaso sanitário que funciona sem o
uso de descarga de água. Esse modelo de vaso é mais sustentável
do que a privada comum, pois reduz o gasto de água e energia,
além de possibilitar o aproveitamento dos dejetos como adubo
para as plantas ornamentais.

Em muitas situações, o projetista é confrontado com escolhas complexas e a


motivação, impacto, gestão e custo influenciarão a solução mais sustentável. Dentre as
principais considerações para recursos hídricos, temos:

• Conservação: uso de água com mais eficiência para reduzir o desperdício.


• Prazer: uso de água para criar uma energia dinâmica dentro e ao redor dos edifícios
– apoiando a biodiversidade e a diversão.
• Poluição: minimizar o lixo orgânico para aterro. Considerar o impacto do tratamento
e descarga de esgoto e considerar as opções de tratamento.
• Drenagem da água da chuva: minimizar o impacto do ambiente construído no fluxo
da água da chuva de volta ao ambiente natural.
• Impactos ambientais: os benefícios da economia de água ou das medidas de
tratamento de águas residuais não devem ser anulados, por exemplo, pelo aumento
da energia ou do uso de produtos químicos.
• Educação: os benefícios ambientais podem ser multiplicados se o contexto for
inspirador e a técnica replicável.
• Economia: a economia sustentável leva em consideração uma ampla gama de
custos e benefícios ao longo da vida útil da instalação, mas muitas abordagens
"sustentáveis" são mais baratas, mesmo em termos de custo de capital bruto.

4 VENTILAÇÃO
Já existem muitas orientações sobre ventilação e refrigeração em edifícios.
Indiscutivelmente, nenhum outro problema de design foi sujeito a tanta controvérsia
como consequência dos requisitos de construção sustentável. No entanto, muitos
edifícios permanecem menos confortáveis e menos saudáveis do que deveriam ser e
consomem energia desnecessária para sua ventilação e refrigeração (HALLIDAY, 2008).

Uma estratégia de projeto clara, onde a capacidade de gerenciamento e o


controle de ventilação têm sido considerados, produzem os melhores resultados. Dentre
as possibilidades de utilização de ventilação, temos a ventilação natural e a forçada,
que serão melhor vistas neste tópico. A ventilação é uma combinação de processos
destinados a fornecer ar fresco e extrair o ar viciado de um espaço ocupado.

123
A ventilação em construções é utilizada para diversas finalidades, seja para
remover o excesso de calor de pessoas e equipamentos, remover odores e poluentes
gerado por pessoas, animais ou devido atividades na cozinha, remover emissão de
gases de materiais, móveis, agentes de limpeza ou produtos de radon, para providenciar
oxigênio para respirar, entre outros.

ATENÇÃO
A ventilação tende a ser cotada em três conjuntos de unidades:

• litros / segundo / pessoa (l/s/pessoa).


• litros / segundo / m² de área útil (l/s/m²).
• mudanças de ar / hora (ac/h).

Eles podem ser convertidos um no outro se as densidades de ocupação


e as alturas da sala forem conhecidas. Por exemplo, fornecimento típico
de escritório de 15 l/s/pessoa:

• a uma densidade de ocupante de 10m2 / pessoa é igual a 1,5 l / s / m2


(ou seja, 15 l / s / pessoa dividido por 10m2 / pessoa);
• a uma altura da sala de 2,7 m é igual a 2 ac / h (ou seja, 15 l / s / pessoa
– 3600 s / h dividido por 27m3 / pessoa).

4.1 NATURAL
A ventilação natural é a admissão e extração de ar de um edifício por meio
de aberturas intencionais na envolvente (janelas, grelhas de arejamento, chaminés) e
sob pressão das forças naturais do vento e das pressões derivadas de diferenças de
temperatura.

AUTOATIVIDADE
(ARAUJO, 2009) Qual deve ser a área das janelas capaz de assegurar a ventilação de
um espaço ocupado por cinco pessoas, a 500 litros/min/pessoa quando a velocidade do
vento for de 2 m/s e a sua incidência se fizer perpendicularmente à parede de entrada
(coeficiente = 0,5)?

124
Como visto, a renovação do ar do recinto era auxiliada pela força do vento que
originava uma corrente de ar através de janelas abertas em paredes sujeitas a pressões
diferentes.

Neste caso, a renovação de ar faz-se com certa facilidade e esta é maior


conforme maior for a força do vento.

• Quando não houver vento, a renovação do ar só pode fazer-se com base na diferença
de densidade do ar, ao nível dos eixos das janelas de ventilação.
• A corrente de renovação é tanto maior conforme maior for o desnível entre as janelas
e a diferença de temperaturas dentro e fora do recinto.

4.2 FORÇADA
A ventilação forçada consiste em utilizar dispositivos próprios (ventiladores,
exaustores, extratores, entre outros) que provocam o movimento do ar entre o interior
e o exterior do recinto. A seguir, veremos alguns exemplos de sistemas para realização
de ventilação forçada.

Os ventiladores centrífugos expulsam o ar em direção radial ao eixo, que tem


sua aplicação geralmente em instalações industriais, ou ao eixo do ventilador, que é
utilizado em locais com poluição reduzida, pois é um sistema econômico com nível de
ruído baixo (ARAÚJO, 2009). Os dois tipos de ventiladores centrífugos são apresentados
na Figura 7.

FIGURA 7 – (A) VENTILADOR CENTRÍFUGO EM DIREÇÃO RADIAL AO EIXO E


(B) EM DIREÇÃO AO EIXO DO VENTILADOR

FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3xzzqDg>; <https://bit.ly/3ouYY0T>. Acesso em: 22 nov. 2021.

125
O ar deve ser renovado um determinado número de vezes por hora, conforme a
natureza e características do local. Por exemplo, uma cozinha doméstica deve ter 10 a
15 renovações de ar por hora. O caudal mínimo de saída do ventilador para uma cozinha
de 60 m3 seria:

Caudal (m3/h) = nº de renovações/hora x Volume do local.


Caudal = 15 x 60.
Caudal = 900 m3/h.

Para além do caudal, há outras características importantes a ter em conta:

• Pressão de saída do ar.


• Tensão nominal do motor (monofásico ou trifásico).
• Velocidade do motor.
• Potência nominal do motor.

Quando a ventilação natural não possibilitar manter a temperatura almejada


no local, é necessário utilizar de ventilação forçada, que pode ser realizada por três
métodos: insuflação foçada com exaustão natural, insuflação natural e extração forçada
e insuflação e exaustão forçadas.

O insuflador é um equipamento que capta o ar de um ambiente externo


(aberto) e o direciona para o espaço confinado por meio de um duto ou uma mangueira,
garantindo nível aceitável de oxigenação no local. Já o exaustor faz o caminho inverso e
capta o ar contaminado na área confinada e o descarrega no ambiente externo. No caso
da exaustão, como o ambiente precisa de ar limpo, é necessário que haja alguma outra
entrada de ar no local, o que é dispensável no caso do insuflador.

5 PROJETO DE INSTALAÇÃO
Quando realizamos uma instalação sustentável, vieos que é necessário otimizar
os recursos naturais disponíveis, para que ocorra uma adequada circulação de ar e
presença de iluminação natural. Para que isso ocorra, é necessário realizar estudos
prévios a fim de garantir que os elementos naturais sejam realmente aproveitados e
aplicados na elaboração do projeto.

Neste subtópico, veremos projetos de instalação, especificamente da instalação


elétrica em obras sustentáveis. Praticamente todo projetista está familiarizado com a
ideia de que a energia é um problema e que, de alguma forma, precisamos controlar
a forma como usamos para cumprir os limites de poluição ambiental que estamos
proporcionando.

126
Há uma preocupação real sobre a taxa em que estamos utilizando recursos de
combustíveis fósseis não renováveis ​​para atender às nossas necessidades elétricas,
onde acabamos gerando poluição. Também existem preocupações sobre as alternativas,
os riscos e custos inaceitáveis ​​de energia nuclear (representando apenas 3% da energia
brasileira, mas que gera muito resíduo tóxico) e nossa capacidade de desenvolver fontes
adequadas de tecnologias limpas e renováveis.

A maneira mais comum para utilização de instalações elétricas mais sustentáveis


está na utilização de placas solares nos telhados de casas. No entanto, esta medida é
considerada como uma possibilidade de alto custo, inviável para a maioria das pessoas,
restringindo a sustentabilidade a uma classe social, embora existam algumas maneiras
de financiamento para instalar soluções de placas solares.

No entanto, também existem algumas possibilidades de materiais para promover


uma economia de energia. Dentre eles temos (SUSTENTARQUI, 2017):

• A utilização de fios elétricos sustentáveis, com material isolante. Há comercialização


de fios revestidos com material biodegradável proveniente da cana-de-açúcar.
• As lâmpadas solares que recebem e armazenam energia solar são acionadas
automaticamente à noite. São as melhores alternativas para manter os ambientes
externos iluminados. O equipamento não possui nenhum tipo de fio e não tem nem
a possibilidade de ser conectado à energia elétrica, evitando qualquer de desvio de
corrente elétrica.
• Utilizar filtros de energia elétrica, que são conectados as tomadas e os aparelhos
puxam exatamente a quantia de energia mínima para o aparelho funcionar de melhor
maneira possível, possibilita a redução de até 20% do valor de energia da empresa ou
residência.

127
LEITURA
COMPLEMENTAR
ANÁLISE ESPACIAL DO MICROCLIMA EM GALPÕES FREE-STALL COM SISTEMA
DE VENTILAÇÃO CRUZADA E VENTILIAÇÃO FORÇADA

Paulo Garcia
Guilherme Tavares
Iran Silva
Djair Frade

INTRODUÇÃO

Na bovinocultura leiteira, uma das grandes preocupações que aflige os


produtores é o efeito do ambiente térmico sob as vacas em lactação. Em países de clima
tropical e subtropical, como o Brasil, os elevados valores de temperatura e umidade do ar,
especialmente no verão, incluem se entre os principais fatores estressantes que afetam
negativamente o desempenho da produção animal, principalmente, quando se trata de
animais de alta produção, geneticamente desenvolvidos em clima temperado. Assim,
o confinamento de bovino leiteiro holandês de alto padrão genético em instalações
climatizadas do tipo free-stall é uma das alternativas adotadas pelos produtores com a
finalidade de driblar o efeito do estresse térmico.

O galpão do tipo free-stall com ventilação cruzada (FVC) é a mais nova opção
de instalação para confinamento de bovinos leiteiros no país. O primeiro galpão foi
construído na Dakota do Norte (EUA), em dezembro de 2005, e, agora, esta nova
tecnologia de instalação está começando a ser adotada pelos produtores brasileiros.
O galpão FVC, em inglês, low-profile cross-ventilated free-stall, é uma instalação
totalmente fechada. A denominação “low-profile” resulta da baixa inclinação do telhado,
e “cross-ventilated” devido ao sistema de ventilação mecânica, no qual o ar é insuflado
através de painéis evaporativos que revestem uma das laterais longitudinais do galpão,
e exaurido por exaustores, na lateral oposta. Além disso, utilizam-se defletores que
garantem a movimentação contínua e direcionada do ar refrigerado.

Objetivou-se neste trabalho avaliar as condições térmicas de dois galpões


de confinamento para vacas em lactação, com diferentes sistemas de climatização e
tipologia, em região de clima quente e úmido, por meio da geoestatística.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido em uma propriedade leiteira comercial localizada no


estado de São Paulo, em uma altitude de 580 m. O clima da região é do tipo Cwa da
classificação Köppen. O free-stall com laterais abertas, climatizado por ventiladores e

128
aspersores (FVA) apresentava orientação leste-oeste, 80 m de comprimento e 29 m de
largura, dividido em duas seções com 114 baias cada, ou seja, capacidade de alojar 228
animais, caracterizando 8,6 m2 por animal. A instalação possui cobertura de telha de
barro, constituída de duas águas e abertura na cumieira. Pé-direito de 4,5 m, no ponto
mais baixo, e 8,5 m, no ponto mais alto. O sistema de ventilação é composto por 18
ventiladores, oito ventiladores distribuídos sobre as baias e dez sobre a linha de cocho.
O sistema de aspersão localizava-se a 1,90 m do piso, sobre a linha de cocho, com
espaçamento entre bicos de 1 m.

O free-stall com laterais fechadas, climatizado por sistema de ventilação


cruzada (FVC) apresentava orientação Leste-Oeste, 60 m de comprimento e 63
m de largura, dividido em quatro seções com capacidade de alojar 320 vacas em
lactação, caracterizando 8,8 m2 por animal. O sistema de ventilação cruzada era
constituído por placas evaporativas instaladas por toda a extensão de uma lateral, 32
exaustores distribuídos por toda a lateral oposta, nove defletores metálicos instalados
longitudinalmente. A altura interna do galpão era de, aproximadamente, quatro metros,
devido à presença de forro plástico, para isolamento térmico e melhor direcionamento
do vento.

Registro das variáveis microclimáticas dos galpões de confinamento

As variáveis microclimáticas foram registradas em 20 dias não consecutivos


entre outubro de 2014 e fevereiro de 2015, compreendo as estações Primavera e Verão.
Os registros foram realizados no período da manhã (08h00min às 09h30min) e da tarde
(13h30min às 15h00min). A temperatura (Tar, ºC) e umidade relativa do ar (UR, %) do
ambiente interno dos galpões FVA e FVC foram registradas manualmente através de
uma malha de pontos regular (88 e 126 pontos, respectivamente), conforme Figura.

FIGURA – MALHA DE PONTOS PARA AMOSTRAGEM DA TEMPERATURA E UMIDADE DO AR DE DOIS GAL-


PÕES PARA ALOJAMENTO DE VACAS EM LACTAÇÃO. (A) FREE-STALL ABERTO COM LATERAIS ABERTAS,
88 PONTOS; (B) FREE-STALL FECHADO COM SISTEMA DE VENTILAÇÃO CRUZADA, 126 PONTOS.

FONTE: Os autores

129
Para determinação do desempenho térmico das instalações, foi determinado o
índice de temperatura e umidade (ITU), proposto por Kendall et al. (2008):

em que T é a temperatura do ar (ºC) e UR a umidade relativa do ar (%).

Análise geoestatística

A dependência espacial foi verificada por meio de ajustes de semivariogramas


(VIEIRA, 2000), com base na pressuposição de estacionariedade da hipótese intrínseca,
a qual é estimada por:

em que N(h) é o número de pares experimentais de observações Z(xi) e Z(xi +


h) separados por uma distância h. Ao semivariograma experimental gerado por essa
função deve-se ajustar um modelo teórico que forneça os parâmetros Co(efeito pepita),
Co+C1(patamar) e ‘a’ (alcance).

Os modelos de semivariogramas considerados foram o esférico, o exponencial, e


o gaussiano. Posteriormente, tais modelos foram usados no desenvolvimento de mapas
de isolinhas (krigagem). Para análise e escolha do modelo matemático que melhor se
ajustou ao semivariograma, foram utilizados o grau de dependência espacial (GD) e a
validação cruzada. Para analisar o GD, utilizou-se a classificação de Mello (2004), que
para valores abaixo de 25%, o semivariograma é considerado fraco; valores entre 25% e
75%, é considerado moderado; e acima de 75%, é considerado forte. Todas as análises
estatísticas e geoestatísticas foram desenvolvidas pelo software R, utilizando-se o
pacote geoR (RIBEIRO JÚNIOR; DIGGLE, 2001).

Monitoramento do ambiente externo – na área externa, um registrador


automático (HOBO U10) foi programado para mensurar os valores das variáveis Tar e UR,
de hora em hora, durante todo o período experimental.

130
RESULTADOS E DISCUSSÃO

O ITU apresentou dependência espacial, caracterizada pelo ajuste dos modelos


teóricos de semivariogramas. Os valores de R2 para FVC foram maiores do que para
FVA, o que torna a estimativa dos parâmetros do modelo e a interpolação dos dados
mais confiáveis. O grau de dependência espacial para todas as condições foi classificado
como forte (GD > 75%), conforme Tabela.

TABELA – MODELOS E PARÂMETROS ESTIMADOS DOS SEMIVARIOGRAMAS EXPERIMENTAIS PARA OS


ATRIBUTOS OS ÍNDICES DE TEMPERATURA E UMIDADE (ITU), EM GALPÕES DE CONFINAMENTO DE
BOVINO LEITEIRO

FONTE: Os autores

A Figura 1 apresenta a distribuição do ITU para os dois galpões de confinamento


bovino leiteiro. Observou-se para o FVC que os maiores valores de ITU ocorreram na
lateral direita, próximas aos exautores (Figura a seguir). Esses resultados apontam que
a massa de ar resfriada na lateral oposta, por meio das placas evaporativas, ganha calor
conforme percorre o galpão, indicando que o sistema de climatização não promoveu
homogeneidade no interior do galpão fechado (60 m de largura). Enquanto o FVA não
indicou direção preferencial (Figura a seguir), o que é esperado, uma vez que apresenta
29 m de largura e laterais abertas.

Armstrong (1994) classificou o estresse térmico de acordo com a variação de ITU


em ameno ou brando (72 a 78), moderado (79 a 88) e severo (89 a 98). O galpão FVA,
no período da tarde, apresentou uma situação de estresse moderado, tanto na estação
Primavera quanto no Verão. Observou-se, também, um estresse brando no período da
manhã durante a estação Verão.

No ambiente interno do FVC, observou-se uma situação de estresse térmico


brando, no período da tarde, para ambas as estações.

131
FIGURA – DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO ITU PARA OS GALPÕES DE CONFINAMENTO, FREE-STALL COM
LATERAIS ABERTAS, CLIMATIZADO POR VENTILADORES E ASPERSORES (FVA) E FREE-STALL COM
LATERAIS FECHADAS, CLIMATIZADO POR SISTEMA DE VENTILAÇÃO CRUZADA (FVC), NAS ESTAÇÕES
PRIMAVERA E VERÃO, NO PERÍODO DA MANHÃ E TARDE

FONTE: Os autores

CONCLUSÕES

O galpão fechado com sistema de ventilação cruzada (FVC) utilizado não garantiu
a homogeneização do ambiente, uma vez que os valores de ITU se elevam quanto mais
próximos dos exaustores. Durante o período da tarde nas estações Primavera e Verão,
o ambiente térmico dos galpões não se enquadraram em condição considerada como
de conforto para os animais. Verificou-se situações de estresse térmico brando no FVC
e estresse moderado no FVA.

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3xmfLXa>. Acesso em: 24 nov. 2021.

132
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Para critérios de saúde humana e eficiência na qualidade de atividades, recomenda-


se fazer combinação de luz natural com luz artificial. Os projetos devem visar que a
iluminação natural seja a forma predominante de iluminação na maioria dos tipos de
edifícios.

• Soluções mais sustentáveis para recursos hídricos envolvem considerar práticas de


conservação, prazer, minimização de poluição, do impacto de águas da chuva e de
impactos ambientais, além de aplicar técnicas replicáveis para utilização em projetos
futuros.

• A ventilação em construções pode ser feita de duas formas: natural e forçada. Sua
principal finalidade está em remover o excesso de calor de pessoas e equipamentos,
remover odores e poluentes gerado por pessoas, animais ou devido a atividades na
cozinha, remover emissão de gases de produtos ou do solo, entre outros.

• Dentre possibilidade de materiais de trazerem alguma economia de energia podem


ser utilizados fios elétricos sustentáveis, lâmpadas solares que recebem e armazenam
energia solar com acionamento automático noturno, uso de filtros de energia elétrica
conectados as tomadas.

133
AUTOATIVIDADE
1 As condições climáticas regionais são um dos principais condicionantes de um
projeto arquitetônico, influenciando a partir dos critérios a implantação da edificação.
Com relação à ventilação como condicionante para um melhor aproveitamento
energético, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Nas regiões de clima quente úmido e semiúmido, se for o caso, dispor o conjunto
dos blocos do edifício, de modo a permitir uma menor circulação de ar entre eles.
b) ( ) Nas regiões de clima semiárido deve-se utilizar aberturas de pequenas
dimensões, o suficiente para ventilação e iluminação.
c) ( ) Nas regiões tropicais as menores superfícies de aberturas deverão estar voltadas
para a direção das brisas e dos ventos frequentes.
d) ( ) As janelas devem estar localizadas na direção do vento dominante favorável
(condição de estação fria) e protegidas do vento desfavorável (condição de
estação quente).

2 O ambiente interno em qualquer tipo de edifício, incluindo residências, é o resultado


da interação entre as características do edifício, fontes internas de contaminação,
atividades dentro do edifício e fontes externas. Com relação ao aproveitamento de
recursos de ventilação, analise as sentenças a seguir:

I- Uma instalação de ventilação pode ser classificada em natural ou forçada.


II- Insuflação é adição de ar renovado ou resfriado ao ambiente desejado.
III- No processo de ventilação por insuflação, o ar viciado é retirado do ambiente pela
força exercida pelo exaustor.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças II e III estão corretas.
d) ( ) As sentenças I e III estão corretas.

3 A iluminação também é um componente essencial em termos de criar o clima e a


funcionalidade de um ambiente, por isso, é vital alcançar o efeito correto desde o
início. A iluminação de um ambiente permite que ele se torne seguro e confortável,
além de garantir qualidade de vida. De acordo com a iluminação em interiores,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

134
( ) A luz do sol e luz florescente são exemplos de luz natural.
( ) A luz infravermelha e luz incandescente são exemplos de luz artificial.
( ) A luz da lua e de mercúrio são exemplos de luz natural.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V – F
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Projetos sustentáveis são aqueles criados com o objetivo de causar menor impacto
ao meio ambiente. Com o desenvolvimento da tecnologia, cada vez mais surgem
soluções e materiais que ajudam na economia de energia e água, além de diminuir
a emissão de gases poluentes. Uma área importante para estar englobada neste
aspecto é a instalação de projetos elétricos. Disserte sobre alguns materiais que
auxiliam na redução de consumo de energia elétrica em projetos de instalação.

5 A racionalização do uso dos recursos hídricos passa pela redução do consumo, a


reutilização e a reciclagem. A redução do consumo diz respeito à simples economia de
água, por meio da eliminação de vazamentos e da diminuição do gasto em atividades
domiciliares, industriais e agrícolas, entre outras. Disserte sobre as principais
considerações que projetistas devem ter quando precisam planejar recursos hídricos
sustentáveis.

135
136
REFERÊNCIAS
ABNT. NBR ISO 50001:2018 Sistemas de gestão da energia – Requisitos com
orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.

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JUSTO, A. S. Como fazer uma EAP para o seu projeto em 4 passos. 2019. Dispo­
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KIBERT, C. J. Sustainable construction: green building design and delivery. 4. ed.


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LIMMER, C. V. Planejamento, Orçamentação e Controle de Projetos e Obras. LTC,


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MATTOS, A. D. Planejamento e controle de obras. São Paulo: Pini, 2010.

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National Center for Environmental Assessment, Office of Research & Development,
Washington, DC. 51 FR 34014. 2000.

139
140
UNIDADE 3 —

DESEMPENHO E QUALIDADE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar as técnicas não destrutivas para avaliar o patrimônio de estruturas;

• avaliar a eficiência energética necessária de um edifício para obter condições de


conforto;

• conhecer o panorama de utilização de resíduos da construção civil em obras;

• determinar as propriedades dos resíduos de construção civil e sua valoração;

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – DURABILIDADE

TÓPICO 2 – EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

TÓPICO 3 – RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL (RCC)

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

141
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A TRILHA DA
UNIDADE 3!

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142
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
DURABILIDADE

1 INTRODUÇÃO
Problemas de durabilidade em estruturas de construção civil podem estar
relacionados a deficiências nos inventários realizados durante o projeto, a elevados
desgates de materiais utilizados, à deterioração ambiental, ao aumento de demandas de
cargas, ao detalhamento insuficiente de projeto, ao uso de materiais abaixo do padrão,
entre outras coisas.

Materiais como aço, concreto e madeira apresentam diversas vantagens na


execução de obras, podendo apresentar um custo relativamente baixo. No entanto,
esses materiais convencionais podem apresentar uma reduzida longevidade, sendo mais
suscetíveis a rápidas deteriorações. Além disso, execuções de projeto mal elaboradas
podem contribuir para a redução da durabilidade da estrutura.

Caro acadêmico, no Tópico 1, abordaremos as patologias encontradas na


construção civil e as técnicas de inspeção do patrimônio, onde veremos técnicas
eletroquímicas, eletromagnéticas e termografia infravermelha. Além disso, veremos a
utilização de mateirais mais recentes que tendem a ampliar a vida útil de estruturas da
construção civil.

2 PATOLOGIAS NA EDIFICAÇÃO
Uma patologia na construção civil ocorre quando uma construção apresenta
defeito ou não atende mais aos requisitos básicos de uma obra, ou seja, este termo
está consolidado no setor de reabilitação e conservação de edifícios. Se algum edifício
apresentar imperfeições e não cumprir adequadamente algumas de suas funções, é
necessário realizar uma reparação. Assim, o reparo de uma patologia tem por objetivo
recuperar sua utilidade inicial.

INTERESSANTE
O termo patologia vem do grego em que pathos significa doença
e logos conhecimento, portanto, sua definição é dada como a
ciência que estuda os problemas construtivos que aparecem em
edifícios desde sua execução.

143
Realizar vistorias, avaliar estruturas e diagnosticar patologias na construção civil
são tarefas que precisam ser realizadas periodicamente. Desta forma, os resultados e
ações de manutenção devem cumprir com eficácia a recuperação da construção. Uma
patologia de construção geralmente ocorre devido a uma série de fatores.

ATENÇÃO
O agente que atua como origem do processo patológico pode
ser definido como ativo ou passivo. As degradações que podem
atingir um edifício são basicamente (HELENE, 1992):

• erosões;
• reações químicas;
• variações de temperatura;
• vibrações e corrosão;
• má execução de projeto;
• uso de materiais inadequados para estrutra.

A Associação de especialistas europeus na edificação e da construção


(AEEBC,1994) aponta três pontos principais para a avaliação de patologias na construção
civil:

1. Identificação, pesquisa e diagnóstico dos defeitos existentes na edificação.


2. Prognóstico do defeito diagnosticado e recomendações das ações mais adequadas,
considerando a construção no futuro e os recursos disponíveis.
3. Concepção, especificação, implementação e supervisão dos programas adequados
de reparação, com o acompanhamento e avaliação das obras após reparação, isso
em termos do seu desempenho funcional, técnico e econômico.

Dentre as consequências do surgimento de patologias na construção civil,


temos: prejuízos financeiros, atrasos na realização de cronogramas de obra, insatisfação
do cliente e em situações mais graves, acidentes sérios como desabamentos ou
comprometimento estrutural da construção.

Os processos patológicos são processos evolutivos do problema que estamos


estudando em uma obra, sendo ele composto pela sua origem e causas, sua evolução
ao longo do tempo, os sintomas que manifesta e o estado atual no momento do estudo.
Os estudos patológicos têm como objetivo:

• Identificar a “doença” do edifício através de observações de seus sintomas e sinais.


• Fornecer as informações complementares necessárias para se chegar a uma opinião
que estabeleça a necessidade de intervenção com base no prognóstico de evolução
futura e em critérios funcionais ou de segurança.

144
A Figura 1 apresenta um esqueme de representação do estabelecimento de
hipóteses sobre a os sinais, os danos e as causas observadas em estudos patológicos.
Os principais sintomas são: deformações, fissuras, degredações e descolorações; e
as principais causas são os agentes agressivos, a deficiência de material e as ações
causadas na estrutura, além da presença de vícios de origem e vícios adquiridos durante
a execução da obra (PIÑERO, 2021).

FIGURA 1 – HIPÓTESES DE ESTUDO PATOLÓGICO EM EDIFICAÇÕES

FONTE: Piñero (2021, p. 25)

NOTA
Algumas orientações para você, acadêmico:

• Qualquer interveção na estrutura está associada a uma realidade


construída já existente.
• Não é possível desenvolver uma intervenção sem o conhecimento
suficiente desta realidade.
• Uma boa parte das intervenções malsucedidas foram realizadas
por razões funcionais ou estéticas, sem conhecimento suficiente da
realidade.

Os processos patológicos em edifícios podem ser classificados em função de


duas diferentes causas: as diretas e indiretas (PIÑERO, 2021). As causas diretas são:

145
• Causas mecânicas: que são todas as ações, prevista ou não, que atuam sobre os
materiais e sistemas construtivos.
• Causas físicas: que relaciona as propriedades físicas de cada material e o conjunto
de agentes atmosféricos que podem chegar a atuar sobre o edifício e em especial,
sobre a envolvente (chuva, vento, sol, oscilações térmicas, entre outras). O nível de
influência dos diferentes agentes varia em função das condições singulares de cada
edificações (orientação das fachadas ou altura dos edifícios).
• Causas químicas: referidas à composição química dos materiais e suas reações,
que podem já atuar de maneira acidental ou que estejam presentes no ambiente.
• Causas biológicas: são de origem animal ou vegetal ou fungos.

As causas indiretas são:

• Causas de projeto: conjunto de omissão de estimativa de requisitos ou erros


cometidos na hora de escolher os materiais aptos para executar a obra, assim como
aqueles referetes a um mal projeto das unidades construtivas.
• Causas de material: todos aqueles materiais de construção que chegam a
obra defeituosos ou em condições não adequadas para serem postos em obra. É
necessário prática de controle de qualidade para verificar estes aspectos.
• Causas de execução: ações que tem como desencadear uma incorreta colocação
em obra apesar das instruções de projeto adequadas; em geral, se deve a uma má
escolhja de técnica de execução da unidade construtiva ou a sua deficiente execução
material.
• Causas de manutenção: incorreta manutenção dos materiais por parte do usuário
e o não cumprimento dos diferentes requisitos referentes a revisão do edifício e as
determinações reconhecidas na bibliografia. Utilização do edifício para funções para
a qual no se havia concebido inicialmente no projeto.

Com relação ao estudo dos prejuízos gerados pelas patologias da construção


civil, temos definidos seis parâmetros básicos:

• Tipo de classe da patologia: desprendimento, mancha de umidade, fissura, entre


outros.
• Localização: onde aparece situada a lesão da obra.
• Forma: manifestação fenomenológica.
• Extensão: superfície ou comprimento afetado.
• Intesidade: grau de comprometimento da lesão ao elemento construtivo. Amplitude
de uma fissura, teor de umidade de uma mancha, profundidade da frente de
carbonatação, entre outros.
• Cronologia: a evolução temporal da manifestação.

Dentre as lesões físicas temos: umidade (conforme visto na Figura 2), efeitos
reológicos no concreto armado ou argamassas, dilatação por temperatura ou fogo,
erosão atmosférica, desagregação devido gelo-desgelo, e sujeira.

146
FIGURA 2 – PATOLOGIAS FÍSICAS DE UMIDADE

FONTE: Piñero (2021, p. 10)

Dentre as lesões mecânicas temos deformações, fissuração, deslocamento ou


desprendimento e erosão mecânica, conforme visto na Figura 3.

FIGURA 3 – PATOLOGÍA MECÂNICA DE A) FISSURAÇÃO, B) DESPRENDIMENTO E C) EROSÃO MECÂNICA

FONTE: Piñero (2021, p. 18)

Dentre as lesões química temos: eflorescência, carbonatação, ataque por


sulfatos, ataque por álcalis, oxidação e corrosão, lixiviação, ataque por ácidos e águas
agressivas. Vemos alguns exemplos de lesões químicas na Figura 4.

147
FIGURA 4 – EXEMPLOS DE PATOLOGÍAS QUÍMICAS DE A) EFLORESCÊNCIA, B) CARBONATAÇÃO,
C) CORROSÃO, D) ATAQUE POR ÁLCALIS E E) ATAQUE POR ÁCIDOS

FONTE: Piñero (2021, p. 22)

Por fim, as lesões biológicas são classificadas em vegetação, musgos, líquens,


fungos e insetos xilófagos, alguns exemplos são vistos na Figura 5.

FIGURA 5 – EXEMPLOS DE PATOLOGIAS BIOLÓGICAS

FONTE: Piñero (2021, p. 24)

148
3 TÉCNICAS DE INSPEÇÃO NÃO DESTRUTIVA DO
PATRIMÔNIO
Ensaios não destrutivos são técnicas utilizadas na inspeção de materiais e
equipamentos sem danificá-los, sendo executadas nas etapas de fabricação, construção,
montagem e manutenção. Esses ensaios incluem métodos capazes de proporcionar
informações a respeito do teor de defeitos e características de determinados materiais,
ou utilizado como monitoração de degradação de componentes e estruturas.

Como se sabe, a corrosão das armaduras é uma das causas que mais afetam
a durabilidade das estruturas. A vida útil da estrutura termina quando o dano por
corrosão impede seu uso com segurança, momento em que deve ser reparada. Neste
tópico, dentro das estratégias de inspeção e manutenção de estruturas, são discutidas
as técnicas eletromagnéticas e eletroquímicas não destrutivas mais destacadas para
avaliar o estado das armaduras.

3.1 TÉCNICAS ELETROQUÍMICAS


As técnicas eletroquímicas não destrutivas visam avaliar periodicamente
o nível de corrosão da armadura por meio de diversos parâmetros padronizados,
especificamente a resistividade elétrica do concreto, o potencial de corrosão elétrica
e a velocidade de corrosão da armadura. As medições de resistividade e potencial de
corrosão são qualitativas, ou seja, permitem apenas estimar o risco ou probabilidade de
corrosão. Na prática, eles são muito úteis para mapeamento de estruturas em grande
escala, pois são técnicas rápidas.

Zamora (2021) descreve que a resistividade (geralmente expressa em kΩ.cm)


está relacionada à capacidade da rede porosa do concreto em facilitar a passagem dos
agentes agressivos. Um dos métodos mais usados ​​para determinar a resistividade é
o método de Wenner – ou o método de quatro pontos. O sensor é usado com quatro
pontas de metal que se apoiam no elemento de concreto, conforme visto na Figura 6.
Uma corrente (I) é aplicada entre as duas pontas externas e a tensão resultante (V) é
medida nas duas pontas internas. Conhecendo o espaçamento entre as pontas (a), é
aplicada a equação 1 para determinar a resistividade (ρ).

(Eq. 1)

149
FIGURA 6 – MÉTODO DE WENNER OU QUATRO PONTAS DE INSPEÇÃO IN-SITU DE TÉCNICA ELETROQUÍMICA

FONTE: Adaptado de Zamora (2021, p. 14)

Na Figura 6 também vemos os níveis de risco de corrosão de acordo com a


resistividade obtida através do ensaio de Wenner, para valores superiores a 50 kΩ.cm
é obtido padrões de baixo risco de corrosão, enquanto para valores abaixo deste nível
aumentam o risco de corrosão da estrutura.

Outro método para medir a resistividade é o método de Newman ou método de


disco. Neste caso, a resistência elétrica (R) é medida entre a barra e um disco de metal,
que é superficialmente colocado nele. Sabendo o diâmetro do disco (𝜙), a resistividade
é facilmente obtida aplicando-se à equação (2):

(Eq. 2)

150
FIGURA 7 – MÉTODO DE NEWMAN OU DE DISCO

FONTE: Zamora (2021, p. 15)

A outra técnica eletroquímica qualitativa é a do potencial de corrosão.


Nele, é analisado o potencial elétrico da armadura, uma vez que este potencial torna-
se mais negativo quando o processo de corrosão é mais ativo. Para isso, é realizada
uma medição da diferença de potencial, com um voltímetro, entre a armadura e um
eletrodo de potencial estável (conhecido como eletrodo de referência) que repousa
superficialmente sobre a área a ser avaliada.

A taxa de corrosão é o parâmetro que permite quantificar o processo de corrosão,


uma vez que expressa a perda de seção da armadura (geralmente em μm / ano). Este
parâmetro é de grande importância, uma vez que diferentes modelos de durabilidade
o utilizam para estimar o fim da vida útil das estruturas. Na prática, a taxa de corrosão
é determinada por meio de seu equivalente em densidade de corrosão (iCORR), expresso
em μA/cm².

151
Para obter o parâmetro iCORR, a armadura deve ser polarizada ou perturbada por
meio de uma célula de três eletrodos; composto por:

I. a armadura a ser avaliada que atua como um eletrodo de trabalho (ET);


II. um eletrodo de referência (ER); e
III. um contraeletrodo (CE). O método mais comum de perturbar a armadura ou eletrodo
de trabalho é o método de resistência à polarização de pulso galvanostático.

Um pulso de corrente é aplicado entre o eletrodo de trabalho e o contraeletrodo.


A partir da resposta potencial-tempo registrada pelo eletrodo de referência, obtém-
se a resistência de polarização (RP), parâmetro utilizado para calcular a densidade de
corrosão (iCORR) de acordo com a equação (3):

(Eq. 3)

FIGURA 8 – MÉTODO DE POTENCIAL DE CORROSÃO

FONTE: Zamora (2021, p. 16)

152
O maior problema nas medidas de taxa de corrosão in situ reside em ser capaz
de delimitar a Área de Armadura avaliada com confiabilidade. Por este motivo, recorre-
se ao uso de corrosímetros portáteis com sistema de confinamento do sinal aplicado.
Esses dispositivos (Figura 9) incorporam um anel de proteção ao redor do CE, através
do qual o sinal aplicado é confinado a uma área de blindagem conhecida e controlada.
Desta forma, é possível realizar o cálculo do iCORR de forma confiável.

FIGURA 9 – UTILIZAÇÃO DE CORROSÍMETRO PORTÁTIL

FONTE: Zamora (2021, p. 21)

Outra alternativa são os sensores baseados no método de Atenuação do


potencial da armadura após a aplicação de um pulso potenciostático. Este tipo de
sensor possui três eletrodos de referência adicionais, através dos quais é detectado o
comprimento crítico no qual a armadura é efetivamente polarizada. Desta forma, o valor
de iCORR pode ser calculado com garantias. Esses tipos de sensores são muito úteis para
avaliar concreto muito úmido e até mesmo submerso.

Existem instrumentos portáteis para inspeção no local que integram diferentes


tipos de sensores para determinar a taxa de corrosão junto com o resto dos parâmetros
qualitativos, como resistividade e potencial de corrosão.

153
3.2 TÉCNICAS ELETROMAGNÉTICAS
Neste tópico, veremos as técnicas eletromagnéticas do Paquômetro e do
Georadar, pois são muito úteis para identificar a posição das armaduras e avaliar a
camada de cobertura de concreto.

Georadar é o método eletromagnético mais avançado para inspecionar


o interior oculto de estruturas de concreto. Para isso, o equipamento possui duas
antenas, o transmissor e o receptor, ambos colocados em um sensor móvel rolante que
se move na superfície do elemento a ser avaliado. A antena transmissora gera uma
onda de rádio que viaja pelo material até chegar a uma interface entre dois materiais
com características elétricas diferentes. Então, parte do sinal é refletido e captado pela
antena receptora. O sinal é armazenado e representado no que é conhecido como
radargrama: um gráfico que mostra a profundidade e a distância em que a onda foi
refletida. Analisando o radargrama, pode-se identificar a posição das armaduras, além de
poder avaliar a camada de cobertura de concreto, tanto para determinar sua espessura
como para detectar possíveis heterogeneidades ou defeitos.

FIGURA 10 – MÉTODO DO GEORADAR

FONTE: Zamora (2021, p. 11)

O paquômetro é um método eletromagnético comum e simples para


localizar barras de reforço e medir a cobertura de concreto. Esta técnica baseia-se na
análise das alterações produzidas pelas correntes de Focault, que são induzidas em
elementos metálicos, como as armaduras embutidas, conforme apresentado na Figura
11. Isso permite que você identifique de forma rápida e não destrutiva sua posição e
profundidade.

154
FIGURA 11 – MÉTODO DE PAQUÔMETRO

FONTE: Zamora (2021, p. 9)

3.3 TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA


Hoje em dia existem várias técnicas que oferecem ótimos resultados para
serem utilizadas no diagnóstico de edifícios ou estruturas. Técnicas que “ouvem o que
as edificações nos dizem”, registrando informações sobre deterioração do material,
diagnóstico de umidade, perdas de material, tensões estruturais, utilizando técnicas
destrutivas e não destrutivas. É neste último grupo que se situam as chamadas técnicas
fotônicas, por envolverem radiação luminosa

A termografia infravermelha dentro destes é a mais utilizada para o diagnóstico


de edifícios. O uso de câmeras "que vêem" no infravermelho e a relação que a imagem
obtida (gráfico) tem com o calor emitido ou irradiado (térmico) pelo objeto a ser observado.

O calor é a energia térmica total de uma substância ou corpo, por outro lado, sua
temperatura é uma medida da energia térmica média. Temperatura não é energia, mas
uma medida dela. Uma câmera infravermelha mede a radiação que um objeto emite ou
absorve em direção ao seu entorno porque tem mais ou menos energia térmica do que ele
mesmo.

A termografia infravermelha é a técnica de produzir uma imagem visível como


consequência da luz infravermelha (não visível ao olho humano) emitida por objetos de
acordo com sua condição térmica em uma cena. Com ele, cada uma das imagens
ou termogramas são "fotografias do calor" emitido pelos objetos. A sua origem remonta
ao início do século XIX graças às experiências de W. Herschel (1738-1822), mas foi na
década de 1960 (1960-1979) que se tentou aplicá-lo à medição da transferência de calor. A

155
temperatura do objeto pode ser determinada medindo o calor emitido em uma porção
do infravermelho e aplicando o processamento correspondente. Portanto, é necessário
considerar três aspectos fundamentais: a superfície do objeto, a transmissão da
radiação entre o objeto e o instrumento sensor e o próprio instrumento de medição
(CARLOMAGNO; LUCA, 1989).

O uso de imagens permite inspecionar áreas em vez de medidas específicas,


ou seja, representa um sistema de medição bidimensional, em comparação com
pirômetros e outros tipos de sensores que dão uma medição específica (ou média no
espaço), limitando assim as informações oferecidas de forma unidimensional.

Em resumo, usando a termografia infravermelha obtemos o benefício


de capturar imagens (maior conteúdo de informação) mantendo a velocidade,
confiabilidade e segurança nas medições. Os sistemas infravermelhos portáteis
convertem instantaneamente a radiação térmica em mapas de calor visíveis que podem
ser visualizados para análises quantitativas de temperatura. As aplicações nas quais a
termografia é muito útil são muito variadas. Muitos equipamentos que conduzem ou
geram calor ou frio são candidatos à inspeção com esses métodos termográficos. O
mesmo são testes, processos e componentes em que a temperatura é uma quantidade
a ser controlada. É o caso na identificação de vazamentos, intrusões e delaminações de
líquidos, desdimensionamento ou bolhas de ar em materiais de nova geração. Só para
citar um exemplo, ao possibilitar a detecção de anomalias que muitas vezes se tornam
invisíveis a olho nu, a termografia permite detectar e desencadear as ações corretivas
pertinentes.

FIGURA 12 – EXEMPLO DE APLICAÇÃO DE TERMOGRAFIA INFRAVERMELHA EM EDIFICAÇÃO

FONTE: Mariscotti (2021, p. 22)

Cada caso particular requer um conhecimento a priori do processo ou


componente, tornando-o indispensável para a realização de uma análise quantitativa.
Os mecanismos de transferência de calor por condução, radiação e convecção são

156
afetados pelas características do material (calor específico, densidade, condutividade
térmica, difusividade térmica, coeficiente de convecção, emissividade, entre outros) e a
inspeção térmica depende das variações locais dessas características. Para estabelecer
uma diferença de temperatura mensurável. Por esse motivo, é necessário conhecer
os melhores mecanismos de transferência de calor possíveis para se obter a maior
sensibilidade na análise de sequências térmicas (MARISCOTTI, 2021).

ATENÇÃO
Um edifício é feito de diferentes partes de diferentes materiais
e a termografia infravermelha é muito eficaz na inspeção de
problemas subjacentes de forma não destrutiva e sem contato.
Fornece informações sobre vazamentos de ar, umidade, pontes
térmicas, isolamento em paredes, juntas parede-janela e parede-
teto e qualidade das janelas. Com a termografia é possível
identificar a falta de isolamento, o isolamento em paredes que
criam bolsas de frio, os vazamentos em torno de janelas, portas
e outros, o isolamento de janelas e umidade em tetos e paredes,
bem como efeitos capilares nas paredes.

A identificação termográfica infravermelha é baseada em três mecanismos de


transferência de calor que são comumente usados ​​na inspeção de edifícios: diferenças
de condutividade, mudança de estado (evaporação) e o fenômeno do transporte de massa.

A diferença de condutividade serve para identificar as pontes térmicas e a


umidade, pois tem uma condutividade térmica mais alta do que a parede de isolamento.
A água presa faz com que a evaporação desperdice energia e as paredes fiquem
mais frias. O transporte da massa de ar por filtração em fissuras gera um processo de
aquecimento ou resfriamento por convecção.

Esses mecanismos, portanto, requerem um gradiente de temperatura entre os


dois lados da parede. Quando o gradiente pode ser alcançado naturalmente, seja pelo
efeito do aquecimento solar, seja pelo efeito do uso regular do aquecimento na edificação,
falaremos sobre o uso da termografia passiva. Se, por outro lado, o gradiente é obtido
por efeitos forçados como aquecimento com fontes infravermelhas ou halógenas, entre
outros, onde estamos falando de termografia ativa. A termografia ativa não está
sujeita a efeitos externos ou dependências que limitam o uso da termografia passiva a
situações climáticas específicas. No entanto, na construção é necessária uma grande
quantidade de energia para obter as diferenças necessárias, por isso, a sua aplicação
se limita ao estudo de materiais para construção em laboratórios (MARISCOTTI, 2021).

157
INTERESSANTE
Expostos os fundamentos físicos ou termodinâmicos a serem
usados ​​para entender a termografia infravermelha e sua
aplicabilidade, surge pelo menos uma questão: qual é o momento
certo para fazer termografia em edifícios? Será sempre buscado
o momento de maior gradiente térmico entre o ambiente e o
objeto a ser medido. Momento em que a transferência térmica
será máxima entre edifício e arredores.

Portanto, se as condições ambientais externas forem frias


(inverno), fontes internas de calor são necessárias e as medições
devem ser feitas do lado de fora com o aquecimento ligado pelo
menos nas duas horas anteriores e sempre após o pôr do sol.

Pelo contrário, se o ambiente for quente, pode-se inspecionar


cerca de duas horas após o nascer do sol pelo lado de dentro
e entre duas e quatro horas após o pôr do sol pelo lado de fora.

Normalmente, uma inspeção do edifício pode ser feita tanto por fora quanto por
dentro. De acordo com as condições climáticas, decide-se obter os melhores resultados.
Eles normalmente são feitos em ambientes internos para auditorias de energia, pois o
calor raramente escapa em linha reta pelas paredes. E o ponto de detecção do lado de
fora pode ser diferente de onde ocorreu originalmente. Além disso, o vento, a chuva
e os raios solares podem interferir na medição por perturbar o gradiente máximo de
transferência térmica entre o edifício e as redondezas. As inspecções exteriores só são
recomendadas nos dias de verão, pois são possíveis noites muito quentes e sem nuvens.

A termografia também pode ser complementada com outras técnicas, como


infiltrometria, para detectar vazamentos de ar e obter a estanqueidade de um edifício.
Baseia-se na geração contínua de uma diferença de pressão entre o interior e o exterior
de forma que uma área mais fria seja observada através de uma câmera termográfica
devido ao fluxo de ar que passa por essa filtração, uma vez que a energia é transferida
daquela área para o ar pelo fenômeno de convecção.

Uma câmera de imagem térmica é muito semelhante a uma câmera normal.


Suas principais características são dadas pelas características do sensor que carregam.
Normalmente, as câmeras utilizadas nessas aplicações possuem um sensor denominado
microbolômetro, cuja faixa espectral de captura de radiação de um microbolômetro está
entre 7,5 e 14 µm.

158
4 NOVOS MATERIAIS PARA AMPLIAR A VIDA ÚTIL DE
ESTRUTURAS
Os materiais compósitos poliméricos, constituídos por fibras contínuas de grande
resistência e rigidez incorporadas a um material polimérico, são cada vez mais utilizados
na construção civil devido as suas excelentes propriedades (elevada resistência específica
e rigidez e resistência à corrosão). O reforço de estruturas de concreto é um dos campos
de aplicação mais interessantes para este tipo de materiais. Os materiais e sistemas de
reforço utilizados e suas principais aplicações são descritos a seguir.

Os materiais compósitos usados ​​no reforço de estruturas são formados por


fibras longas e contínuas embebidas em uma matriz polimérica. Eles são comumente
chamados de polímeros reforçados com fibra ou PRFs (polímeros reforçados com fibra).

São usados ​​principalmente quatro tipos de fibra: carbono, vidro, aramida e


basalto. Recentemente, o uso de fibras naturais vem despertando interesse. As fibras
de carbono são as mais utilizadas em aplicações de reforço estrutural, devido as suas
melhores propriedades, e também a sua maior desvantagem, que é o alto custo, não é
um fator determinante, pois a quantidade de material utilizada é pequena.

Existem diferentes sistemas para reforçar estruturas com materiais PRF. O


sistema mais difundido, e que foi desenvolvido em primeiro lugar, é a aplicação do
reforço de PRF colando-o externamente na superfície da estrutura a ser reforçada.
Este sistema, conhecido como EBR (Externally Bonded Reinforcement), possui dois
métodos principais de aplicação: moldagem manual a úmido e colagem de elementos
pré-fabricados de PRF (VILLALÓN, 2021).

Os sistemas de reforço por moldagem manual úmida consistem em tecidos de


fibra seca que são aplicados no elemento a ser reforçado juntamente com uma resina de
baixa viscosidade que é utilizada para saturar a fibra e aderir à superfície do concreto. A
cura da resina e a formação do PRF ocorrem in situ, geralmente à temperatura ambiente.

O reforço EBR, com elementos pré-fabricados, usa laminados de PRF rígidos,


que são colados à superfície do concreto, usando um adesivo estrutural, conforme
apresentado na Figura 13. Os mais comuns são os laminados formados por fibra de
carbono unidirecional e resina epóxi que são fabricados por pultrusão, geralmente
possuem espessuras da ordem de 1 a 2 mm e larguras diferentes, entre 50 e 150 mm
(VILLALÓN, 2021).

159
FIGURA 13 – EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DE EBR

FONTE: Villalón (2021, p. 9)

Como uma variante do sistema anterior, o sistema de reforço foi posteriormente


desenvolvido por meio de elementos pré-fabricados de PRFV pultrusados ​​(barras ou
laminados) que ao invés de estarem aderidos externamente à superfície de concreto, são
inseridos na cobertura. Os entalhes superficiais são feitos no concreto, são preenchidos
com resina e é introduzida a barra ou laminado de PRF. Desta forma, melhora-se
a aderência entre o concreto e a armadura, que também fica mais protegida contra
possíveis danos. Esses sistemas são comumente conhecidos como NSM, que significa
Near Surface Mounted (VILLALÓN, 2021).

Os sistemas de reforço acima têm sido objeto de muitas pesquisas e aplicações


em todo o mundo e agora são técnicas bem estabelecidas. Embora na maioria dos países
ainda não haja regulamentação para o cálculo dessas armaduras, muitas diretrizes e
recomendações foram publicadas.

O reforço de estruturas é a área da construção onde os materiais compósitos


poliméricos estão a ser aplicados de forma mais rápida e com maior sucesso, principalmente
devido a sua resistência à corrosão. A corrosão e sua leveza que se traduz em facilidade
e economia no transporte e comissionamento, reduzindo os transtornos causados ​​aos
usuários e permitindo em alguns casos manter a estrutura em serviço durante o reparo. Eles
também reduzem o peso morto na estrutura e, dada a espessura reduzida dos materiais,
a perda de folga é mínima.

Com relação à aplicação, é necessário atentar para o preparo da superfície


onde a armadura adere para que fique sã, limpa e seca. Nas armaduras de flexão e
cisalhamento, em que possa ocorrer rompimento por desprendimento da chapa de
PRFV, deve ser realizado um tratamento, por exemplo, com jato de areia, para eliminar o
rejuntamento superficial do concreto. Arredondar os cantos e bordas existentes antes
de aplicar reforços também é essencial.

160
ATENÇÃO
O reforço pode ser aplicado em elementos horizontais (vigas, pisos
ou tabuleiros de pontes) contra tensões de flexão (momentos
positivos ou negativos) ou cisalhamento; ou a elementos verticais
(pilares) predominantemente sujeitos à compressão.

Os reforços de flexão são dispostos com a direção das fibras paralela àquela
de maiores tensões de tração. Podem ser usados ​​laminados pré-fabricados e tecidos
unidirecionais e NSM. O procedimento de cálculo é baseado nos mesmos princípios que
para os reforços de placa de aço, considerando o comportamento linear elástico do P e
analisando todos os modos de ruptura possíveis da estrutura reforçada. O modo de falha
mais característico origina-se completamente repentinamente pelo desprendimento
do laminado de PRF. Estão a ser investigados e desenvolvidos sistemas de protensão
do laminado de reforço, bem como sistemas de ancoragem, para além da já referida
técnica NSM de forma a atrasar ou evitar este modo de ruptura e tirar maior partido das
excelentes propriedades do material de reforço (VILLALÓN, 2021).

Nos reforços de cisalhamento, geralmente são utilizados tecidos fibrosos, uma


vez que, por serem flexíveis, se adaptam facilmente à forma da seção a ser reforçada.
A técnica NSM e a colagem de laminados pré-moldados em forma de L também podem
ser utilizadas.

Em reforços de cisalhamento, o PRF pode ser aplicado de acordo com diferentes


configurações. O reforço envolvendo completamente a seção é o mais eficaz, mas na
maioria dos casos é complicado de executar, portanto, o reforço nas três faces em
forma de U é o mais comum. O reforço apenas nas faces laterais deve ser evitado tanto
quanto possível.

O cálculo da armadura de cisalhamento requer a verificação do modo de ruptura,


que em geral também será ocasionado pelo destacamento do PRF, pois, além disso, nas
armaduras de cisalhamento o comprimento da âncora costuma ser muito limitado.

Os PRFs também são usados ​​na armadura de compressão de pilares de pontes


e edifícios, confinando a seção de concreto. Nestes casos, a armadura consiste na
disposição de uma camisa de PRFV, com as fibras perpendiculares ao eixo, que submete
o núcleo de concreto a um estado de tensão triaxial que melhora suas propriedades
de resistência. O modo usual de falha, desde que um comprimento suficiente de
sobreposição tenha sido fornecido, ocorre como consequência do rompimento da
bainha. Em colunas quadradas ou retangulares, os cantos devem ser arredondados e o
reforço demonstrou ser consideravelmente menos eficaz do que em seções circulares.

161
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Para problemas patológicos em estruturas de construção civil não é possível


desenvolver uma intervenção sem o conhecimento suficiente das lesões da obra,
necessitando identificar as causas e sintomas que originam a patologia.

• É possível identificar a intensidade de corrosão de armaduras em estruturas de


construção civil através de métodos não destrutivos de inspeção, seja a partir de
técnicas eletroquímicas ou eletromagnéticas.

• Reforços podem ser aplicados em elementos horizontais, contra tensões de flexão ou


cisalhamentos; ou a elementos verticais, predominantemente sujeitos à compressão.

• Os materiais compósitos usados no reforço de estruturas são formados por fibras


longas e contínuas embebidas em uma matriz polimérica, estes materiais são
comumente utilizados para melhorar a durabilidade das estruturas de construção.

162
AUTOATIVIDADE
1 Para avaliar a durabilidade e capacidade de um concreto armado é possível fazer uso
de métodos de ensaio não destrutivos para a qualidade do concreto. Sobre a medida
de resistividade, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) De tipo eletroquímico, que determina o risco de corrosão em consequência da


porosidade e do grau de saturação do concreto, ou seja, em consequência da
sua capacidade de facilitar a difusão de agentes agressivos para a armadura.
b) ( ) Tipo eletromagnético, que permite identificar a profundidade e a posição dos
reforços.
c) ( ) Muito complexa que não se utiliza na prática.
d) ( ) Do tipo eletroquímica, que quantifica a perda de seção das armaduras.

2 A corrosão das armaduras é uma das principais patologias que atingem o concreto.
Fatores como porosidade, exposição a agentes agressivos promovem a despassivação
da armadura, aliados a presença de um eletrólito, ddp e oxigênio, permitem com que
ocorra a degradação da mesma. Com relação à velocidade de corrosão da armadura,
analise as sentenças a seguir:

I- É o parâmetro eletroquímico de maior interesse, já que se emprega em modelos de


durabilidade para estimar o fim da vida útil das estruturas.
II- Para sua medida in situ, deve utilizar de sensores portáteis capazes de determinara
a área de armadura avaliada.
III- Resulta de grande interesse sua monitorização de forma contínua e exaustiva
mediante sensores embebidos.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) Somente a sentença III está correta.
d) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.

3 Em função dos crescentes problemas de degradação precoce observados nas


estruturas, das novas necessidades competitivas e das exigências de sustentabilidade
no setor da Construção Civil, observa-se, nas últimas duas décadas, uma tendência
mundial no sentido de privilegiar os aspectos de projeto voltados à durabilidade
e à extensão da vida útil das estruturas de concreto. De acordo com os materiais
de reforço para ampliar a vida útil de estruturas, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

163
(   ) Os materiais compósitos do tipo PRF mais utilizados no reforço de estruturas de
concreto são constituídos por fibra de carbono e resina epóxi.
(   ) As propriedades mecânicas do material de PRF dependem da orientação das fibras
dentro da matriz.
(   ) Para fazer uma armadura com a técnica NSM (inserida no revestimento), antes
de fazer a ranhura onde vai ser colocado o elemento de armadura, é necessário
preparar o suporte de concreto com aplicação de jato de areia.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A termografia pode ser definida como uma técnica sensorial remota, realizada por meio
de câmeras e sensores infravermelhos que medem a temperatura e a distribuição de
calor. O objetivo desse processo é identificar possíveis falhas térmicas e desgastes.
Descreva qual é o momento ideal para fazer análise de termografia em edifícios.

5 Os reforços de materiais podem ser utilizados para ampliar a vida útil e durabilidade
de estruturas de concreto. Descreva quais são os materiais utilizados para reforços
de cisalhamento.

164
UNIDADE 3 TÓPICO 2 —
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

1 INTRODUÇÃO
Os edifícios são grandes consumidores de energia. Eles consomem um terço
da energia final global e são responsáveis ​​por 40% das emissões de CO2, tanto diretas
quanto indiretas. Este enorme impacto ambiental tem consequências importantes nos
ecossistemas e, juntamente com a crescente escassez de recursos, torna necessária
uma ação de melhoria energética, tanto nos edifícios existentes como nas novas
construções.

O monitoramento permite analisar os indicadores de energia nos edifícios que


estão em uso. Com os dados recolhidos de consumo de energia e qualidade do ambiente
interior, podem ser analisados ​​edifícios e possíveis melhorias. Este monitoramento é
também uma importante fonte de informação para caracterizar o comportamento de
uso, que normalmente é tipificado ou simplificado, aumentando as diferenças com
os modelos teóricos, como é o caso de domicílios que se encontram em situação de
pobreza energética.

Há 50 anos, a demanda de energia dos edifícios (residenciais e comerciais)


cresceu 1,8% ao ano, e prevê-se que continue crescendo para mais de 4400 Mtep
em 2050, com a maior representatividade vindo de países em desenvolvimento. Três quartos
do consumo total de energia no setor da construção são residenciais, onde existe um
grande potencial para melhorar a eficiência energética. Há uma ideia e necessidade de
que esses requisitos sejam aplicados não apenas aos novos edifícios, mas também aos
existentes (DELGADO, 2021).

Há pouco tempo, esse objetivo era considerado um sonho muito distante.


Nos dias de hoje, com os materiais emergentes para a gestão de energia térmica,
com redução de custos através do use de paineis fotovoltaicos e o desenvolvimento
de tecnologias de armazenamento eletroquímico (baterias) e de simulação, a redução
de consumo energético teve um potencial desenvolvimento entre pesquisadores e
investidores, levando ao interesse político de iniciar estes tipos de investimento.

A melhoria da eficiência energética, do conforto, do comportamento higrotérmico


e da saúde em edifícios baseia-se na aplicação dos princípios da física de edifícios. A
construção da eficiência da indústria é alcançada por meio da melhoria de processos,
avaliação do ciclo de vida e gerenciamento e manutenção inteligentes.

165
Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos procedimentos para melhorar a eficiência
energética de edifícios, seja através do uso de desenho de solar passivo e de reabilitação
energética. Além disso, veremos os aspectos sociais envolventes em construções pobres
energeticamente. Por fim, veremos um estudo de caso de sistemas de aquecimento e
esfriamento de uma construção.

2 DESENHO SOLAR PASSIVO


O projeto bioclimático busca garantir o conforto no interior das edificações por
meio do uso e controle dos recursos naturais. No projeto solar, o fator que analisamos é
a radiação solar e sua relação com o conforto térmico interno (tanto no inverno quanto
no verão) e conforto visual (iluminação).

A utilização deste recurso permite reduzir a demanda de energia para


aquecimento, refrigeração e iluminação. Esta redução na demanda irá, portanto,
reduzir a potência e o tamanho do equipamento utilizado, reduzir a infraestrutura de
abastecimento e favorecer a incorporação de energias renováveis.

Os fatores a levar em consideração serão (ALONSO, 2021):

• O meio ambiente: tanto as condições climáticas locais quanto as características do


ambiente próximo, detectando, por exemplo, possíveis obstáculos.
• O projeto do edifício: a disposição dos volumes, lacunas ou elementos da construção
definirá as estratégias de captura e proteção.
• Sistemas construtivos: as propriedades dos materiais e sua localização irão
permitir o aprimoramento das estratégias de projeto de construção.
• Uso: os hábitos de uso do edifício irão determinar as faixas de conforto necessário
para um design adaptado para uso.

A radiação solar é um recurso abundante em nosso planeta, mas para um design


adaptado, as condições locais devem ser estudadas, como o espectro solar, a posição
diário e sazonal, número de dias claros ou nublados, obstruções, entre outros. Isso
permitirá conheça o impacto nos sistemas construtivos, dependendo da sua posição.
Na Figura 14 vemos a irradiação global solar horizontal.

166
FIGURA 14 – IRRADIAÇÃO SOLAR HORIZONTAL GLOBAL

FONTE: <https://bit.ly/3h2c1D7>. Acesso em: 15 dez. 2021.

Normalmente, uma diferenciação é feita entre estratégias passivas e ativas,


dependendo se há um consumo de energia externa, mas as relações também podem
ser estabelecidas com alto ou baixa tecnologia, mesmo incorporando algum tipo de
energia renovável que se integra a sistemas de construção.

As estratégias solares de inverno se concentram em limitar as perdas e tirar


proveito dos lucros e, no verão, limitam os lucros e favorecem as perdas. Alguns
exemplos das estratégias são (ALONSO, 2021):

• Captação solar: como ocorre em estufas ou paredes de trombe.


• Ventilação induzida: como a encontrada em chaminés solares, em que favorece o
fluxo de ar à medida que a parte superior da chaminé se aquece, dissipando o calor,
conforme esquematizado na Figura 15.

FIGURA 15 – RESFRIAMENTO PASSIVO POR CHAMINÉ SOLAR

FONTE: <https://bit.ly/3EKY31R> Acesso em: 17 dez. 2021.

167
• Proteção solar: com elementos de sombra ou telhados e fachadas ventiladas.
• Resfriamento por evaporação: em elementos com presença de umidade.
• Acumulação: usada em conjunto com a coleta solar, para mover o aproveitando
temporariamente

Em todos eles também é importante conhecer as propriedades dos materiais,


uma vez que eles também determinarão a eficácia da estratégia. Materiais de mudança
de fase, materiais termocrômicos ou reflexivos são alguns exemplos inovadores.

ATENÇÃO
A chave para um bom design estará na combinação e integração
dessas estratégias adaptado ao clima local.

Devemos levar em consideração que um desenho solar passivo adequado deve


considerar a classificação climática em que a obra está sendo realizada. Para isso, a
classificação climática de Köppen-Geiger, mais conhecida por classificação climática
de Köppen, é o sistema de classificação global dos tipos climáticos mais utilizado em
geografia, climatologia e ecologia.

A classificação é baseada no pressuposto, com origem na fitossociologia e na


ecologia, de que a vegetação natural de cada grande região da Terra é essencialmente
uma expressão do clima nela prevalecente. Assim, as fronteiras entre regiões climáticas
foram selecionadas para corresponder, tanto quanto possível, às áreas de predominância
de cada tipo de vegetação, razão pela qual a distribuição global dos tipos climáticos e a
distribuição dos biomas apresenta elevada correlação.

Na determinação dos tipos climáticos de Köppen-Geiger são considerados


a sazonalidade e os valores médios anuais e mensais da temperatura do ar e da
precipitação. Cada grande tipo climático é denotado por um código, constituído por letras
maiúsculas e minúsculas, cuja combinação denota os tipos e subtipos considerados,
conforme apresentada na Figura 16. Na Tabela 1 vemos a nomenclatura da classificação
de Köppen-Geiger.

168
FIGURA 16 – CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA DE KÖPPEN-GEIGER

FONTE: <https://bit.ly/3pGu1YR> Acesso em: 16 dez. 2021.

TABELA 1 – NOMENCLATURA DA CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA DE KÖPPEN-GEIGER

Grupo Tipo Subtipo


f Equatorial - -
m De monção - -
A Tropical
w - -
De savana
s - -
h Quente
W Árido
k Frio
B Seco
h Quente
S Semiárdio
k Frio
a Verão quente
f Sem estação seca b Verão fresco
c Verão frio
a Verão quente
C Temperado w Inverno seco b Verão fresco
c Verão frio
a Verão quente
s Verão seco b Verão fresco
c Verão frio

169
a Verão quente
b Verão fresco
f Sem estação seca
c Verão frio
d Invero muito frio
a Verão quente
b Verão fresco
D Continental w Inverno seco
c Verão frio
d Invero muito frio
a Verão quente
b Verão fresco
s Verão seco
c Verão frio
d Invero muito frio
T Tundra - -
E Polar
F Glacial (calota de gelo) - -

FONTE: Alonso (2021, p. 2)

3 REABILITAÇÃO ENERGÉTICA
A reabilitação de edifícios é uma atividade que, geralmente, é mais sustentável
do que a execução de novas construções (GARCÍA DE DIEGO; GÓMEZ MUÑOZ; ROMÁN
LÓPEZ, 2015). Consiste no redesenho de um edifício para adaptá-lo às necessidades e
níveis de desempenho atuais, definidos por:

• Os critérios de sustentabilidade social, ambiental e econômica em todas as etapas


do ciclo de vida do edifício.
• Os padrões de qualidade dos regulamentos atuais.

Na reabilitação não é possível apresentar soluções padronizadas, sendo sempre


necessário um estudo particular que responda à problemática específica a abordar.

O projeto de reabilitação energética consistirá em duas etapas:

• FASE 1: ESTUDOS ANTERIORES. AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO DE INICIALIZAÇÃO

Alguns métodos eficazes para coletar informações sobre o desempenho


energético dos edifícios são:

◦ Monitoramento: em um edifício existente é possível fazer um diagnóstico a partir


de dados operacionais reais. O monitoramento da qualidade do ambiente interno
e do consumo de energia nos permite deduzir empiricamente sua eficiência
energética (ALONSO et al., 2017).

170
◦ Estudos baseados em amostras: a análise do edifício existente pode ser
abordada a partir da recolha de dados in situ de um número significativo de casos,
o que permite tirar conclusões sobre as suas características (OTEIZA et al., 2018).
◦ Modelos de energia: por meio de simulação, podem-se obter dados precisos sobre
as necessidades das edificações e as benfeitorias a serem aplicadas (MARTÍN-
CONSUEGRA et al., 2014).

• FASE 2: REABILITAÇÃO DE ENERGIA. PROPOSTAS DE MELHORIA

Feito o diagnóstico, é possível definir um projeto de reabilitação que visa


resolver os problemas específicos do caso a reabilitar. A reabilitação de envelopes é
uma prioridade para a redução da demanda de energia, base da pirâmide da eficiência.
Dependendo do clima, será necessário propor medidas destinadas a reduzir a procura
de aquecimento ou de refrigeração. Uma vez realizada a reabilitação, é necessário
realizar uma avaliação do resultado que fundamenta as futuras intervenções (MARTÍN-
CONSUEGRA et al., 2021).

4 ASPECTOS SOCIAIS: POBREZA ENERGÉTICA


A pobreza energética é um dos problemas sociais mais graves causados ​​pela
ineficiência energética dos edifícios. É desencadeada pelo aumento do preço do petróleo
após a crise energética dos anos 1970 e é identificada por Boardman pela primeira vez
no Reino Unido. Há já alguns anos que está presente na União Europeia, que criou um
observatório para analisar a sua evolução (EPOV, 2017).

As definições do termo variaram ao longo do tempo, evoluindo em direção ao


conceito de direito à energia:

• Uma situação de pobreza energética é sofrida quando mais de 10% da renda é


investida em manter a casa em níveis adequados de temperatura (BOARDMAN, 1991);
• Dificuldade ou incapacidade de manter a casa em condições de temperatura adequadas,
bem como de ter outros serviços essenciais de energia a um preço razoável;
• Incapacidade de uma família de atingir um nível social e materialmente necessário de
serviços domésticos de energia (BOUZAROVSKI; PETROVA, 2015);
• Situação em que existe um domicílio em que as necessidades básicas de
abastecimento de energia não podem ser atendidas, em decorrência de um nível
de renda insuficiente e que, se for caso disso, pode ser agravada por possuir uma
residência ineficiente em energia .

A análise do consumo de energia deve ser realizada de forma abrangente,


levando em consideração as características socioeconômicas da população. A pobreza
energética é considerada causada pela influência de três vetores:

171
• Altos preços de energia.
• Renda insuficiente em casa.
• A ineficiência energética do edifício.

As consequências podem ser graves e causar problemas de saúde,


endividamento familiar, cortes no abastecimento que podem por vezes levar a
despejos, deterioração de edifícios e agravamento das alterações climáticas devido
ao uso ineficiente de energia. O Observatório Europeu da Pobreza Energética propõe uma
série de indicadores para identificar o problema, analisá-lo e harmonizar a análise em todo
o território da união (EPOV, 2017). Alguns estudos alertam sobre a lacuna de gênero que
afeta o problema (SÁNCHEZ-GUEVARA SÁNCHEZ et al., 2020).

5 ESTUDO DE CASO: SISTEMAS DE AQUECIMENTO E


ESFRIAMENTO
O objetivo deste estudo de caso é apresentar um novo “sistema de aquecimento
e resfriamento capacitivo-radiante” (RC-HCS) com baixo consumo de energia. O sistema
é composto por um módulo capacitivo radiante (RCM) alimentado por um radiador
ou coletor (SR-SCM) e um reservatório de energia (TES) (Figura 17a), operando com
fontes naturais de energia. O sistema é complementado por um conjunto de tubagens,
válvulas, ligações, sensores e uma pequena bomba que permitem o escoamento da
água entre os três componentes. O sistema foi avaliado em módulos experimentais de
tamanho reduzido e será aplicado em breve em uma Câmara Bioclimática (CBBC) (Figura
17b), destinada a estudos de conforto térmico e componentes prediais, localizada na
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, em Curitiba, Brasil.

FIGURA 17 – EXEMPLIFICAÇÃO DE SISTEMA DE AQECIMENTO E RESFRIAMENTE


CAPACITIVO-RADIANTE (RC-HCS)

172
FONTE: Adaptado de González e González (2013)

O conceito básico do sistema parte da ideia de ter dentro de um ambiente, como


um teto falso e de forma modular, uma determinada quantidade de massa térmica (água)
que pode ser acionada por um fluxo controlado de água quente ou fria (trocador de calor
no MRC – Figura 17a) e, assim, ter uma superfície para aquecimento ou resfriamento
radiante e, ao mesmo tempo, aumentar a capacidade térmica efetiva do espaço. O RCM
é um tipo de painel ou “módulo radiador” que devido à quantidade de água contida, com
uma espessura de 6,5 cm, tem uma capacidade térmica de 272 kJ / m2K, equivalente a
um piso de concreto com 13 cm de espessura (GONZALEZ; GONZALEZ, 2013).

No modo de resfriamento, a água armazenada no sistema é resfriada durante


a noite ao passar pelo radiador exposto ao céu e circular entre os três componentes.
Dessa forma, a água contida no RCM é resfriada e preparada para um novo ciclo diário.
Durante o dia, a água resfriada durante a noite e armazenada no TES pode ser circulada
entre ela e o RCM, se necessário, para compensar o ganho de calor sensível nessas
horas (CRUZ, 2021).

No modo aquecimento, a água do sistema aumenta sua temperatura à medida


que passa pelo radiador ou coletor exposto à radiação solar, circula pelo trocador de
calor aquecendo a água no RCM e volta para o TES aumentando gradativamente sua
temperatura. A água quente armazenada pode ser usada de forma controlada para
fornecer calor ao RCM durante o dia ou mesmo à noite, se aplicável.

Embora se trate de um sistema que visa um baixíssimo consumo energético,


recorrendo à refrigeração noturna ou ao aquecimento solar, existe a possibilidade de ser
complementado com um sistema de bomba de calor como reserva em determinadas
aplicações para garantir o desempenho térmico com alta eficiência energética.

173
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• No projeto solar, o fator que analisamos é a radiação solar e sua relação com o
conforto térmico interno e conforto visual.

• Os fatores a levar em consideração para a realização de projeto solar são: o meio


ambiente, o projeto do edifício, os sistemas construtivos e o seu uso.

• A pobreza energética é um problema social muito forte em famílias e é definida quando


mais de 10% da renda é investida para manter a estrutura em níveis adequados de
temperatura, quando há dificuldade ou incapacidade de manter a casa em condições
de temperatura adequadas, entre outros fatores.

• Alternativas apara aumentar a eficiência energética de uma habitação podem ser


obtidas através de sistemas de aquecimento e esfriamento capacitivo-radiante.

• O sistema de aquecimento e esfriamento capacitivo-radiante possui internamente


um teto falso e de forma modular, contendo uma determinada quantidade de massa
térmica composta por água que pode ser acionada por um fluxo controlado de água
quente ou fria.

174
AUTOATIVIDADE
1 Os sistemas de aquecimento residencial aumentam a temperatura térmica da parte
interna da casa, proporcionando conforto e comodidade nos dias mais frios. Sobre
os principais componentes que integram o sistema de aquecimento e esfriamento
radiante-capacitivo (RC-HCS), assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O teto da edificação, um tanque de armazenamento de energia e módulos


radiante-capacitivos.
b) ( ) Um radiador/coletor, um tanque de armazenamento de energia e módulos
radiante-capacitivos.
c) ( ) O teto da edificação, um radiador/coletor, módulos radiante-capacitivos e um
sistema de bombeamento de água.
d) ( ) Um radiador/coletor, o teto da edificação e os módulos radiante-capacitivos.

2 Embora no Brasil a produção de energia elétrica ainda seja em grande parte


renovável, essa parcela vem caindo lentamente nos últimos anos, sendo relevante
qualquer iniciativa que contribua para a redução do consumo de energia
em condicionamento artificial. Como exemplo, temos os sistemas de aquecimento
e resfriamento-capacitivo (RC-HCS). Com relação às vantagens que apresenta a
utilização de um sistema como o RC-HCS, analise as sentenças a seguir:

I- Tem consumo de energia muito baixo.


II- Melhora as condições de conforto e m comparação com sistemas convencionais.
III- Pode ser utilizado para esfriamento ou aquecimento dos edifícios
IV- Requer pouco consumo de água para seu funcionamento.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas.
b) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I e II e IV estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença I está correta.

3 Fazer uso de chaminés solares pode ajudar a refrescar habitantes de regiões que
vivem em áreas mais quentes. A chaminé solar adota para estimular a ventilação
natural em residências ou escritório. De acordo com as chaminés solares passivas,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

175
( ) Em chaminé solar passiva o ar quente desce, permitindo a entrada de ar fresco.
( ) O sol aquece a parte superior da chaminé, fozçando o movimento ascendente do ar.
( ) A chaminé solar é um processo de ventilação provocado por diferenças de
temperatura e de pressão, sendo muito eficiente para promover conforto térmico
nas horas quentes do dia.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) F – V – V.
d) ( ) F – F – V.

4 A pobreza energética é um dos problemas sociais mais graves causados pela


ineficiência energética dos edifícios. Descreva quais são os conceitos de pobreza
energética e quais são as influências que causa.

5 No projeto solar, o fator que analisamos é a radiação solar e sua relação com o
conforto térmico interno e conforto visual. Descreva quais são os fatores pensados
para um projeto solar.

176
UNIDADE 3 TÓPICO 3 —
RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL (RCC)

1 INTRODUÇÃO
Para a produção de novos materiais, como os concretos, tem-se utilizado
diversos resíduos oriundos da construção civil (RCC), que têm mostrado promissores
resultados, como substitutos de agregados graúdos ou miúdos. A indústria sabe que
ao fazer uso de resíduos é necessário obter um “backgroud” do resíduo utilizado,
conhecendo seu conteúdo, grau de toxidade e condições de tratamentos que tragam
melhores respostas ao seu uso.

Os RCCs, também conhecidos como entulhos, são os resíduos gerados nas


atividades da construção, reforma, reparos e demolições de obras de construção civil.
Também são considerados como resíduos de construção civil o materiail recolhido
de preparação e escavação de terrenos (CONAMA, 2002). Diversos são os RCCs que
podem ser reutilizados em obras, sendo eles, tijos e blocos cerâmicos, gesso, cimento,
argamassas e concretos, vidros, plásticos, madeiras, meais, azulejos, solo, entre outros.

Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos o panorama de reutilização de resíduos da


construção civil na indústria, quais são as principais propriedades, tipos e composições
de RCC e algumas técnicas de valoração dos mesmos. Por fim, veremos os principais
aspectos de análise de ciclo de vida e a utilização de ecoeficiência para análise de
sustentabilidade dos resíduos da construção civil.

2 PANORAMA DE REUTILIZAÇÃO NA INDÚSTRIA


Na construção civil, diversas são as maneiras de contaminação ambiental.
Um dos principais impactos está na emissão de gás carbônico. A emissão deste gás
ocorre de diversas maneiras, seja durante o processos de produção de cal, produção e
hidratação de cimentos, argamassas e concretos, produção do aço e devido a queima de
combustíveis fósseis para fornecer energia para todos estes processos mencionados.

A geração de resíduos sólidos, por sua vez, ocorre devido ao processo de gestão
construtiva, ou por presença de parcelas indesejáveis durante a produção de matérias-
primas. Como exemplo de parcelas indesejáveis, temos a geração de escória de alto-
forno, que é formada durante a produção de ferro-gusa, formação de cinzas volantes
ou cinzas pesadas durante a produção de energia de queima de carvão, processos de
extração de rochas em pedreiras em que acaba-se por não utilizar algumas frações que
são consideradas resíduos. Na Figura 18, vemos o motivo do benefício de utilizar cinzas
volantes em cimentos, suas partículas são esféricas e muito pequenas o que facilitam
na distribuição granulométrica de pastas, argamassas ou concretos.

177
FIGURA 18 – IMAGEM DE CINZAS VOLANTES OBTIDAS POR MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA

FONTE: Canul et al. (2016, p. 240)

Já com relação à gestão dos processos construtivos, temos na construção


tradicional uma geração de quatro vezes mais resíduos sólidos do que as obras
industrializadas. Isto ocorre devido a uma falta de planejamento, padronização e
controle de todos processos que ocorrem durante as etapas construtivas, além disso
há uma menor atenção ao controle e qualidade dos materiais utilizados. Na Figura 19
vemos um exemplo de geração de resíduos devido demolição na construção civil.

FIGURA 19 – GERAÇÃO DE RESÍDUOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

FONTE: <https://bit.ly/34Qx0pX>. Acesso em: 20 dez. 2021.

Podemos dizer que a indústria cimenteira brasileira trabalha com um apelo


altamente sustentável, onde é possível incorporar elevados volumes de resíduos na
fabricação de cimentos, como fazer grandes substituições de clínquer Portland por
resíduos como cinzas volantes, sílicas, escória de alto-forne, entre outros. Além disso,
as cimenteiras também fazem uso de combustíveis alternativos, como queima de óleos,
resíduos de pneus e outros materiais.

178
Ao fazer uso dessas substituições há diversos ganhos sustentáveis: reduzir a
porcentagem do clínquer resulta numa diminuição de materiais não renováveis, ocorre a
redução da emissão de dióxido de carbono equivalente dos materiais cimentícios (pastas,
argamassas e concretos), além de trazer benefícios mecânicos e de durabilidade, devido a
efeitos pozolânicos que podem ocorrer durante a hidratação destes tipos de cimentos.

Além de substituições na indústria cimenteira, também existem diversos traços


de matrizes de concreto ou argamassa que podem fazer uso de resíduos sólidos em
sua matriz, principalmente em substituição a agregados (finos ou grossos), seja em
estruturas convencionais ou especiais, como concreto autoadensável, permeável, entre
outros (SILVA, 2019; SOUZA; PAES; BARBOZA, 2020). Estes resíduos são normalmente
descartados em aterros ou similares, gerando um grande volume de resíduos sem
valorização, resultando num grande aproveitamento potencial de estruturas apoiadas
(pavimentos e bases do pavimento), sem risco de colapso.

Com estudos técnicos, pode-se comprovar que os resíduos finos da produção


de agregados (agregados) podem ser utilizados na produção de microconcretos para a
elaboração de blocos e pavimentadores, com vantagens não só associadas ao descarte
do resíduo, mas também com a redução do uso de matérias-primas não renováveis ​​
(areias) e ainda, a redução do teor de cimento para benefícios equivalentes. Esses
finos também podem ser utilizados para a produção de recheios fluidos de densidade
controlada, com vantagens para a estabilidade da mistura. Esses são apenas alguns
exemplos de resíduos que poderiam ser imobilizados em matrizes de cimento, mas não
esgotam as possibilidades.

ATENÇÃO
É importante desenvolver um protocolo de avaliação da pré-viabilidade de incorporação
de resíduos em matrizes cimentícias, mas antes é necessário realizar outras análises
complementares, relacionadas com os aspectos primários do resíduo, sendo:

• A quantidade de resíduos e seu poder poluidor determinam a magnitude dos estudos


necessários; uma quantidade baixa não justifica estudos exaustivos, a menos que se
trate de um resíduo altamente poluente, que requer tratamentos específicos que são
justificados por essa condição.
• O tamanho da partícula, se for resíduo sólido, determina a fase que precisa ser avaliada e
não é um problema menor. Consideremos que, em uma jornada de trabalho, poderiam
ser produzidos dois tipos de concreto, 15 tipos de argamassas e mais de 30 pastas
diferentes.
• A importância do resíduo, seu poder de contaminação, toxidade e os
pré-tratamentos necessários condicionam os estudos e determinam a
"conveniência" "possibilidade" ou "exigência" de imobilização.
• Uma vez decidido que o estudo será realizado, deve-se analisar
essencialmente a estabilidade do resíduo em meio alcalino, a possível
ocorrência de expansões e os pré-tratamentos necessários para
possibilitar sua incorporação.

179
Cunha e Lima (2012) afirmam que a reciclagem dos RCC no Brasil ainda é baixa
em volume, chegando a menos de 10% do total gerado, sendo que as empresas que a
realizam, na sua maioria, pertencem ao serviço público de coleta dos resíduos sólidos
das cidades, que têm como objetivos o saneamento ambiental e aspectos sociais, como
o trabalho em conjunto com as cooperativas de catadores.

3 PROPRIEDADES DOS RCC


De acordo com a Resolução nº 307/2002 do CONAMA (CONAMA, 2002), os
resíduos de construção civil são classificados como:

• Classe A: são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:


◦ de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras
de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
◦ de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos
(tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;
◦ de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto
(blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;
• Classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos,
papel, papelão, metais, vidros, madeiras;
• Classe C: são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou
aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação;
• Classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como
tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados oriundos de demolições,
reformas de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como objetos
e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde.

INTERESSANTE
No Brasil, estima-se que é gerado anualmente algo em torno de
68,5 x 106 t de RCC (ANGULO, 2005). Todo esse volume gerado é
responsável pelos altos custos socioeconômicos e ambientais nas
cidades em função das deposições irregulares.

3.1 TIPOS E COMPOSIÇÕES


Os resíduos de construção civil são em sua maioria, materiais semelhantes aos
agregados naturais e solo (BRASIL, 2011). Os RCCs são constituídos em aproximadamente
90% de massa por frações de natureza mineral (concretos, argamassas, rochas naturais,
solos e cerâmicas), tanto no Brasil como na Europa.

180
Angulo (2005) ainda estima a composição química do RCC brasileiro, em óxidos,
no qual predominam respectivamente a sílica, seguida de alumina e óxido de cálcio, ou
seja, fração similar àquela estipulada por Angulo et al. (2011), com 91% de RCD sendo
Classe A.

Com esses dados, pode-se assumir que os resíduos de construção e demolição


apresentam maior parcela de resíduos Classe A, independentemente de se considerar
apenas a fase de construção das edificações.

3.2 VALORAÇÃO DE RCC


Existem algumas técnicas de valoração dos RCC que são aplicadas a depender
do fim pretendido. Os construtores, em geral, têm o papel mais importante pois muitas
de suas escolhas determinarão as opções de gerenciamento sustentável disponíveis
para cada caso.

Primeiramente, independentemente do fim pretendido, é realizada a coleta do


resíduo para ser encaminhada a uma triagem, na qual será separada toda a parte do
resíduo que não seja enquadrada na Classe A, segundo a Resolução nº 307/2002 do
CONAMA (CONAMA, 2002), como papel, papelão, madeira, plástico, PVC, metal, vidro,
resíduos orgânicos etc.

Após a triagem, o RCC já enquadrado na Classe A deverá ser, sempre que


possível, reutilizado ou reciclado e, quando não, deverá ser encaminhado para um
Aterro Classe A, que, por sua vez, possua licenciamento ambiental e requisitos
ambientalmente seguros para a acomodação legal desse resíduo que será reservado
por tempo indeterminado para ser usado eventualmente no futuro como estabelece
a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (BRASIL, 2011).

A reutilização dos RCCs pode ser feita no próprio canteiro de obras, como
agregado para concretagem não estrutural, ou, ainda, a parte mais grosseira pode
servir como agregado na substituição de pedras e areia para construção de barragens,
aterramento, recobrimento de falhas em rodovias ou para pavimentação. No entanto, em
algumas ocasiões, não é possível reutilizar o resíduo após a sua geração, de modo que
o mais usual é o encaminhamento para uma estação de tratamento e reciclagem a
fim de transformá-lo em matéria-prima secundária para um novo produto.

Os resíduos resultantes da construção civil podem ser triados também ao


chegar a uma recicladora de RCC. Depois disso, ele é encaminhado para o britador de
impacto, onde a sua granulometria é reduzida até o fim pretendido (LEVY, 2001).

181
NOTA
Acesse a leitura complementar para ver a influência dos métodos
de britagem nas propriedades de agregados de concreto reciclado.

Ao se aproximar do tamanho de partícula pretendido, o RCC passa pelo separador


magnético a fim de eliminar resíduos metálicos menores que por ventura ainda restem.
Em sequência, ele é peneirado, gerando frações granulométricas diferentes e ainda
pode ser submetido a ensaios geotécnicos e análises químicas. Tais operações de
redução são conhecidas como cominuição.

O uso de agregados reciclados em concretos demanda uma grande


confiabilidade nas características dos agregados. Certamente o desenvolvimento deste
mercado requererá melhorias na gestão do processo de reciclagem, nas ferramentas de
controle de qualidade e na tecnologia de beneficiamento (LEVY, 2001).

No Brasil, grande parte das atividades de reciclagem de RCC mineral é gerida pelo
setor público com a finalidade de produzir agregados que são utilizados em atividades de
pavimentação. Já um processo de reciclagem para os RCC só pode ser considerado
vantajoso ambientalmente após análises específicas por meio de metodologias como a
Análise de Ciclo de Vida.

4 ANÁLISE DE CICLO DE VIDA


Na Reciclagem, as contribuições ambientais podem ser facilmente visíveis, como
a preservação dos recursos naturais que são subsidiados pelos resíduos, reduzindo,
assim, a destruição paisagística, fauna e flora. Esta contribuição se faz importante
também em lugares em que ocorre a abundância de recursos naturais, como no caso
da argila ou calcário, porque, desse modo, sua extração pode prejudicar a paisagem e
assim ecossistema local.

A análise do ciclo de vida é um tipo de estudo que calcula os aspectos ambientais


e os impactos potenciais ao longo de todo o ciclo de vida de um produto ou atividade.
Portanto, permite saber onde estão as etapas ou elementos mais críticos do processo
e assim focar neles e buscar soluções alternativas. A análise do ciclo de vida contribui
para a promoção de uma produção mais sustentável do ponto de vista ambiental.

A Análise do Ciclo de Vida de um produto permite identificar os principais
impactos ambientais (descargas, resíduos, emissões para a atmosfera, consumo de
matérias-primas e energia) tendo em consideração todas as etapas do seu ciclo de

182
vida, desde a sua origem, ou seja, a extração e beneficiamento de matérias-primas, por
meio da produção, transporte e distribuição, para uso, manutenção, reaproveitamento,
reciclagem e disposição em aterro sanitário em final de vida útil. Uma vez identificados
os principais impactos ao longo do seu ciclo de vida, permite a análise de alternativas
nos processos produtivos e a implementação de critérios ambientais nas estratégias
(ALONSO, 2021b).

ATENÇÃO
A classificação de uma Análise do Ciclo de Vida depende fundamentalmente do nível de
detalhe de cada uma delas. Dependendo do objetivo que tivermos, vamos nos concentrar
mais ou menos em certas etapas do processo. Por esse motivo, até três tipos de Análise
do Ciclo de Vida de LCA podem ser diferenciados:

• ACV conceitual: trata-se de um estudo qualitativo para


identificar os impactos potenciais mais significativos, os
pontos mais críticos, portanto os dados utilizados são
muito gerais, mas permitem conhecer as etapas mais
significativas de todo o ciclo de vida.
• ACV Simplificado: esta análise leva em consideração
apenas dados genéricos e cobre o Ciclo de Vida de forma
superficial, seguida de uma simplificação, onde enfoca as
etapas mais importantes, e uma análise de confiabilidade
dos resultados.
• ACV completa: consiste numa análise detalhada a nível
qualitativo e quantitativo, tendo em consideração todas
as etapas e todos os dados disponíveis.

A ACV também pode ser desenvolvida para utilização de RCC em diferentes


perspectivas. O uso de RCC como substituto de argregado natural pr produção de
pavimentos urbanos, diversos estudos prévios comprovam sua eficiencia, permitindo
reduzir demandas financeiras e resolvendo problemas mbientais de descartes irregulares
(SCHAUFHAUSER, 2019).

A autora observou que estudos de ACV mostraram que esta técnica é eficaz
para avaliar quali-quantitativamente a reciclagem de recursos para a indústria da
construção civil. Ela também é capaz de apoiar o fundamento de que este processo
é ambientalmente sustentável em comparação com a extração de pedreiras e que os
agregados reciclados podem desempenhar um papel positivo de oferta sustentável
para a indústria de construção de pavimentos.

183
5 ECOEFICIÊNCIA
A avaliação de Ecoeficiência é um instrumento para a análise de sustentabilidade,
o qual envolve uma relação empírica entre dois pilares da sustentabilidade, que
são dispêndios econômicos e impactos ambientais. No que se refere a dispêndios
econômicos, existem três abordagens básicas baseadas em ACV para avaliação de
ecoeficiência:

• Valores relacionados ao custo de mercado: como na contabilidade, gestão e


análise de custos para orçamento.
• Análise Custo-Benefício: como os custos e os lucros relacionados ao mercado.
• Estado Estacionário de Custo: conceitualmente está mais ligado a modelos de
estado estacionário para a análise ambiental como ACV neste estudo.

Independentemente da abordagem escolhida, chegar a um indicador de


ecoeficiência não é algo simples, e é mais fácil compreendida quando comparada em
sistemas isoladamente.

O método empregado por Berkel (SUBTIL, 2015), destaca a proximidade


dos conceitos de produção mais limpa e ecoeficiência, definido-os como conceitos
complementares, com ecoeficiência focando no lado estratégico no negócio e e
produção mais limpa no lado operacional do negócio.

FIGURA 20 – ECOEFICIÊNCIA EM RELAÇÃO A OUTROS CONCEITOS DE GERENCIMENTO AMBIENTAL

cura prevenção
Único Meio de
comunicação
Dirigidos por
regulamentações

Redução
Controle de Minimização
do Uso de
Poluição de Resíduos
Reutilizar, Tóxicos
Reduzir e
Reciclar

Prevenção
da Poluição
Design para o
meio ambiente

Produção
Mais Limpa
Diversos Meios Dirigidos por
de comunicação empresas
Eco Eficiência

Foco em Foco processo Foco em ciclo de


poluentes e serviços vida / sistema

FONTE: Subtil (2015, p. 19)

184
LEITURA
COMPLEMENTAR
INFLUÊNCIA DOS MÉTODOS DE BRITAGEM NAS PROPRIEDADES
DO AGREGADO RECICLADO DE CONCRETO

Paula Oliveira Figueiredo


Thammiris Mohamad El Hajj
Rafael dos Santos Macedo
Carina Ulsen

INTRODUÇÃO

A reciclagem dos resíduos de construção e demolição (RCD) é encorajada dentro


dos novos preceitos de sustentabilidade e economia circular (UNITED, 2015), em que
os benefícios se estendem ao aumento da vida útil de jazidas minerais, à conservação
dos recursos naturais e à eliminação da deposição ilegal desses resíduos nas cidades.
Entretanto, para produzir agregados reciclados (AR) com propriedades adequadas às
aplicações, é necessário o controle das operações de cominuição no beneficiamento
do RCD.

A britagem é a primeira etapa de cominuição no beneficiamento mineral,


sendo o principal objetivo promover a liberação entre as fases minerais constituintes
(WILLS; NAPIER-MUNN, 2006); essa separação física pode ser realizada por cinética de
fragmentação à compressão, impacto ou abrasão. Na reciclagem de resíduo de concreto
(RC), espera-se que a britagem promova a liberação (desagregação), principalmente,
do agregado natural e da pasta de cimento residual (KIM; CHO; AHN, 2012). Para que
essa liberação seja eficaz, recomenda-se analisar a granulometria do resíduo a ser
beneficiado, o produto desejável (WILSON, 1996) e a eficiência energética na cominuição
(QUATTRONE; ANGULO; JOHN, 2014). No entanto, essas condições são raramente
avaliadas, de modo que a escolha do equipamento está prioritariamente relacionada
ao custo de aquisição (normalmente de segunda-mão), à capacidade de produção e à
facilidade de manutenção.

Adicionalmente, são escassos na literatura científica trabalhos que ofereçam


uma análise comparativa entre os diferentes mecanismos de cominuição aplicados na
reciclagem de RCD (BRAYMAND et al., 2017). Desse modo, o presente estudo tem como
objetivo contribuir para a mudança nesse cenário ao avaliar a influência dos britadores de
mandíbulas e de impacto nas propriedades do agregado reciclado de concreto (ARC).

185
REFERENCIAL TEÓRICO: INFLUÊNCIA DOS BRITADORES DE MANDÍBULAS E DE
IMPACTO NA RECICLAGEM DE RCD

Na reciclagem de RCD, não há consenso em relação à influência da cinética


de fragmentação sobre as propriedades dos AR. Segundo Hansen (1986), o britador
de mandíbulas tem baixa relação de redução e fragmenta uma parcela dos agregados
naturais presentes no concreto, o que resulta em um produto com distribuição
granulométrica mais grossa, enquanto na britagem por impacto a fragmentação dos
resíduos de argamassas e de agregados naturais ocorre uniformemente, gerando AR de
baixa qualidade. Essa conclusão do autor não é confirmada por dados de experimentos
apresentados no trabalho.

De acordo com Momber (2002), ao cominuir o RC em britador de mandíbulas,


uma zona de ruptura é formada e está diretamente correlacionada à granulometria do
agregado natural presente no resíduo. Essa desagregação depende da resistência do
resíduo à fragmentação, que, por consequência, influencia na eficiência energética do
processo, de modo que o consumo de energia para fragmentar os resíduos de concreto
é maior quando comparado aos resíduos mistos ou de alvenaria.

Além disso, há diversos autores que concluem que a fragmentação no britador


de mandíbulas ocorre nos limites entre partículas, isto é, ao longo das fraquezas, o que
permite alta relação de redução do tamanho do material e, portanto, gera agregados
reciclados com baixo teor de pasta de cimento e porcentagem de finos consideráveis
(FLEISCHER, 1996; LIMA, 1999; ETXEBERRIA et al., 2007). Por outro lado, segundo Gress,
Snyder e Sturtevant (2009), o britador de mandíbulas, ante os britadores de impacto e
cônico, tende a deixar maiores teores de pasta de cimento aderidos nos AR; entretanto,
os autores obtiveram essa conclusão sem apresentar resultados de caracterização que
a fundamentem.

Para Etxeberria et al. (2007), o RC beneficiado em britador de impacto gera um


produto com maior liberação de argamassa, porém a análise não demonstra dados
comparativos com outros métodos de britagem.

Em estudo recente, Ulsen et al. (2018) fizeram uma comparação entre o britador
de mandíbulas e o de impacto em britagem secundária para RC de diferentes origens
e resistências. O resultado foi um produto similar em relação ao conteúdo de pasta de
cimento remanescente de construções anteriores, densidade, porosidade e distribuição
de tamanho de partículas em ambas as rotas de britagem. Os autores destacaram que a
britagem em granulações menores e mais próximas da granulação de liberação das fases
poderia gerar resultados divergentes, o que motivou a continuidade dos estudos.

186
CARACTERIZAÇÃO DO AGREGADO RECICLADO DE CONCRETO: DISTRIBUIÇÃO
GRANULOMÉTRICA E MORFOLÓGICA

A distribuição granulométrica das partículas possibilita analisar as proporções


granulométricas em massa do produto; em outras palavras, quanto do RC processado
se concentra no intervalo granulométrico desejável. A técnica a ser utilizada deve estar
de acordo com a distribuição do tamanho das partículas, a possibilidade de operação
em meio aquoso ou a seco, e se há intenção de fracionar a amostra. Entre os métodos
conhecidos, o peneiramento é o mais antigo (WILLS; NAPIER-MUNN, 2006) e usual na
indústria mineral. No entanto, estudos têm avaliado a automatização desse método
mediante análise dinâmica de imagens, que, além da distribuição granulométrica,
também permite determinar diferentes parâmetros de forma das partículas, tais como
esfericidade (SPHT) e relação de aspecto (b/l), o que pode interferir nas propriedades
reológicas de misturas cimentícias (HAWLITSCHEK, 2000).

Na caracterização morfológica, a relação de aspecto refere-se à razão entre o


menor e o maior diâmetro das partículas, com valores variando entre zero e um; dessa
forma, quanto mais próximo de um, mais alongada será a partícula. Já a esfericidade um
considera a irregularidade de seu perímetro projetado; quanto mais próximo de 1, mais
regular será a superfície da partícula. Essas propriedades podem ser influenciadas pela
cinética de cominuição aplicada às partículas, e os agregados submetidos ao impacto,
como em britador de impacto, tendem a ter aspecto cúbico (KELLY; SPOTTISWOOD,
1982), enquanto a compressão, como em britador de mandíbulas, inclina-se para a
geometria lamelar (MEHTA; MONTEIRO, 2014). As partículas alongadas e lamelares
devem ser evitadas ou limitadas a no máximo 15%, em massa, em agregados (MEHTA;
MONTEIRO, 2014).

COMPOSIÇÃO QUÍMICA E MINERALÓGICA

O RCD possui elevado grau de heterogeneidade (ANGULO, 2000), o que dificulta


sua gestão, processamento e controle de qualidade. Para a identificação dos minerais,
técnicas analíticas são comumente conjugadas (SANT’AGOSTINO; KAHN, 1997), e, nesse
caso, as análises química e mineralógica auxiliam na avaliação da qualidade do agregado
reciclado, proporcionando uma utilização confiável dele (LIMBACHIYA; MARROCCHINO;
KOULOURIS, 2007).

Segundo Angulo et al. (2009), em agregados ausentes de carbonatos a


composição química permite a quantificação do teor de pasta de cimento. Já a
caracterização mineralógica possibilita a quantificação dos minerais, portanto
propicia a determinação da composição e do grau de liberação das fases de interesse
(SANT'A’GOSTINO; KAHN, 1997); no AR, os principais minerais são quartzo, feldspato,
calcita e mica (BIANCHINI et al., 2005; LIMBACHIYA; MARROCCHINO; KOULOURIS, 2007;
ULSEN, 2011).

187
MATERIAIS E MÉTODOS

O procedimento experimental é esquematizado na Figura 1 e detalhado na


sequência.

FIGURA 1 – FLUXOGRAMA DO PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

FONTE: Os autores

AMOSTRAGEM, PREPARAÇÃO E PROCESSAMENTO DAS ALÍQUOTAS DE RC

As amostras de resíduos de concreto (RC) utilizadas no presente trabalho foram


coletadas em um aterro de materiais inertes da Região Metropolitana de São Paulo.
Cerca de 750 kg de RC depositados no aterro foram amostrados e transportados para
estudos laboratoriais.

Tendo em vista a elevada granulação da amostra, a amostragem foi realizada


por pilha alongada, sendo as extremidades retomadas e redistribuídas, conforme as
melhores práticas laboratoriais de obtenção de alíquotas representativas (PETERSEN;
MINKKINEN; ESBENSEN, 2005). Para minimizar a heterogeneidade das alíquotas, a pilha
foi dividida em seis partes, sendo as alíquotas opostas entre si novamente agrupadas,
tornando-se, assim, três alíquotas: (1+1 arquivo) arquivada como contraparte da amostra
inicial; (2+2 BM) direcionada para britagem em mandíbulas; e (3+3 BI) para teste no
britador de impacto, como demonstrado na Figura 2.

188
FIGURA 2 – PROCEDIMENTO DE AMOSTRAGEM

FONTE: Os autores

Para avaliar a influência dos mecanismos de britagem nas propriedades dos


agregados reciclados, os britadores foram configurados de acordo com o resultado da
análise textural da amostra, isto é, conforme a granulação de liberação das fases. Desse
modo, adotou-se que 80% em massa seria passante em 4,8 mm (P80 = 4,8 mm), como
demonstra a Figura 3.

FIGURA 3 – ANÁLISE TEXTURAL PARA CONFIGURAÇÃO DE BRITADORES

FONTE: Os autores

Na sequência, o produto obtido por cada britador foi disposto em uma pilha
alongada e amostrada novamente em duplicata, em que os lados opostos foram
denominados de A e B, como exemplificado na Figura 2. As alíquotas A e B, de ambos
os britadores, passaram pela mesma sequência de caracterização para posterior
comparação.

189
Caracterização do agregado reciclado

A distribuição granulométrica foi determinada por dois métodos: peneiramento


e análise de imagens dinâmica (AID). O peneiramento foi realizado a úmido em peneiras
de abertura quadrada nas malhas da série Tyler com aberturas nominais de 12,5 mm,
9,5 mm, 4,8 mm, 2,4 mm, 1,2 mm, 0,6 mm, 0,3 mm e 0,15 mm. A AID foi realizada
segundo procedimento descrito pela norma ISO 13322-2:2006 (INTERNATIONAL, 2006),
no equipamento Camsizer, da marca Retsch Technology, tendo sido considerado o
parâmetro x_min2 na determinação do diâmetro da partícula. Ainda no Camsizer foi
realizada a análise morfológica das partículas por parâmetros de esfericidade (SPHT) e
relação de aspecto (b/l).

A determinação da composição química e mineralógica foi realizada nas frações


granulométricas obtidas no peneiramento. Para isso, as amostras de cada fração foram
previamente cominuídas em moinho de rolos até a dimensão média de partícula na
ordem de 1 mm para posterior amostragem e pulverização até tamanho de partículas
inferiores a 0,037 mm; destaca-se o cuidado de redução de massa (amostragem) apenas
após a redução do tamanho máximo das partículas.

A composição química foi determinada em amostra fundida com tetraborato


de lítio anidro, por comparação com materiais certificados de referência na calibração
“Rochas" (10 maiores elementos), em espectrômetro de fluorescência de raios X (FRX), a
perda ao fogo (PF) foi efetuada por gravimetria a 1.050 ºC por 2 h.

A composição mineralógica por difração de raios X (DRX) foi efetuada pelo


método do pó, em difratômetro em arranjo geométrico Bragg-Brentano Bruker, modelo
D8 Endeavor, com tubo de cobre (Kα- 1,5406 Å), 40 kV de tensão, corrente de 50 mA,
faixa de varredura de 2θ-2-70º e detector Lynxeye XE sensível à posição, passo de 0,02º
e tempo de aquisição de 1 h. As fases presentes foram identificadas por comparação
do difratograma da amostra com os bancos de dados PDF2 do International Centre
for Diffraction Data (ICDD) e do Inorganic Crystal Structure Database (ICSD); a análise
semiquantitativa da proporção das fases constituintes foi efetuada pelo método
Reference Ratio Intesity (RIR).

A estimativa do teor de pasta de cimento residual foi determinada pela soma


dos teores de CaO com a PF (ANGULO et al., 2009), e a quantificação por lixiviação em
ácido clorídrico (HCl), em que o agregado reciclado reage com a solução, sendo a pasta
de cimento o resíduo solúvel, e a parte insolúvel as rochas, cerâmicas, argilominerais
e micas, de acordo com o procedimento de Quarcioni e Cincotto (2006). O ensaio
de absorção de água para agregados miúdos foi realizado conforme a norma NM30
(ABNT, 2001).

A avaliação comparativa da influência dos britadores de mandíbulas e de


impacto sobre as propriedades do agregado reciclado de concreto foi regida em

190
concordância com os conceitos estatísticos baseados na hipótese nula, de modo a
analisar a similaridade das propriedades do produto de cada britador. O teste de hipótese
foi realizado por “distribuição T de Student" em um nível de confiança equivalente a 95%.

RESULTADOS E DISCUSSÕES: DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA E


MORFOLÓGICA DE PARTÍCULAS

O Gráfico 1 apresenta as distribuições granulométricas comparativas das


alíquotas A e B dos britadores de mandíbulas (BM) e de impacto (BI), obtidas por
peneiramento úmido (Pen) e análise de imagens dinâmica.

GRÁFICO 1 – ANÁLISE COMPARATIVA DA DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA ENTRE AS ALÍQUOTAS A E B


DOS BI E BM OBTIDAS POR DIFERENTES TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO

FONTE: Os autores

Os britadores de mandíbulas e de impacto foram configurados para gerar um


produto com P80 = 4,8 mm, no entanto houve um deslocamento entre as curvas do
BI e do BM, conforme demonstram as Gráficos 4a e 4b, possivelmente associado à
heterogeneidade das alíquotas, mesmo após as sucessivas etapas de homogeneização.
Em testes preliminares com amostra de massa reduzida, os equipamentos foram
ajustados de modo que as curvas fossem sobrepostas, entretanto, na realização da
britagem de todo o material, as curvas divergiram, o que foi atribuído à heterogeneidade
da alíquota inicial usada nos testes preliminares. Isso ressalta a importância da
amostragem em estudos de AR. O deslocamento das curvas ocorreu de forma paralela,
o que endossa a provável sobreposição caso a configuração de top-size fosse atingida.

191
Na literatura, afirma-se que o peneiramento a úmido resulta em um
fracionamento de partículas mais eficiente quando comparado ao peneiramento a seco
(KELLY; SPOTTISWOOD, 1982). No entanto, a análise dinâmica de imagens apresenta
resultados de distribuição de tamanho de partículas similares aos do peneiramento
a úmido, como apresentam os gráficos 4c e 4d, especialmente nas frações acima de
0,60 mm, devido ao fato de as partículas terem maior facilidade de dispersão em meio
seco. Além disso, as curvas de distribuição granulométrica A e B, de mesma técnica e
britagem, são similares entre si, e essa semelhança é mais evidente na análise dinâmica
de imagem (Gráfico 4a).

Em paralelo aos resultados granulométricos, a AID reporta os dados referentes à


morfologia das partículas, relação de aspecto e esfericidade, sendo estes apresentados
na Gráfico 2 em termos de distribuição granulométrica.

GRÁFICO 2 – ANÁLISE MORFOLÓGICA COMPARATIVA DO PRODUTO DE BI E DE BM

FONTE: Os autores

Os resultados de esfericidade demonstram que o britador de impacto (BI) gera


partículas com valores mais próximos de 1 quando comparado a partículas do britador de
mandíbulas (BM); já na relação de aspecto os resultados se mostram uniformes. Estudos
anteriores demonstraram que pequenas variações nos parâmetros de forma (inferiores
a 0,1) geram impactos expressivos na dosagem de argamassas com agregados miúdos
reciclados (HAWLITSCHEK, 2014).

COMPOSIÇÃO QUÍMICA

Os principais óxidos constituintes nas quatro amostras sem fracionamento são


sílica (SiO2), alumina (Al2O3) e óxido de cálcio (CaO), que, somados com a perda ao fogo
(PF), ultrapassam 90% dos teores; e em menores proporções, óxido de ferro (Fe2O3),
óxido de potássio (K2O) e óxido de sódio (Na2O).

192
Ao se compararem os produtos dos britadores de mandíbulas e de impacto,
percebem-se sutis variações de teores entre os óxidos constituintes, bem como a
composição granuloquímica das alíquotas A e B de mesmo método de britagem, que,
por sua vez, indica que o procedimento de homogeneização realizado após a britagem
possibilitou a mitigação da heterogeneidade na amostra. Desse modo, é necessário
reiterar a importância da amostragem durante todas as etapas do processamento para
não enviesar os resultados.

De acordo com Angulo et al. (2009), em amostras de RC sem agregados


calcários, a soma dos teores de sílica, alumina e óxido de ferro está relacionada aos
silicatos presentes nas rochas e areia, ao passo que a soma dos teores de CaO com a
perda ao fogo corresponde à pasta de cimento remanescente de construções anteriores.
Nesse contexto, verifica-se que há maior enriquecimento de silicatos em 2,4-0,15 mm e
resíduos de pasta de cimento abaixo de 0,15 mm, fato observado nas quatro alíquotas
estudadas.

CONCLUSÃO

A influência da britagem na reciclagem de resíduo de concreto foi realizada


de forma comparativa com foco nas propriedades dos agregados reciclados.
Entretanto, tendo em vista a elevada granulação e massa da amostra, anterior à análise
comparativa, foram necessários etapas de processamento e caracterização a fim de
mitigar possíveis problemas de heterogeneidade. Assim, pode-se notar que a qualidade
e representatividade das alíquotas para os estudos subsequentes foi alcançada, fator
de suma importância para não enviesar os resultados.

Na sequência, as condições operacionais dos equipamentos de britagem


foram estabelecidas conforme a análise textural do resíduo de concreto. O resultado
da caracterização do agregado reciclado de concreto tanto do britador de mandíbulas
quanto do de impacto indicou similaridade em composição química e mineralógica,
relação de aspecto e liberação da pasta de cimento residual em ambas rotas de britagem.
Essa semelhança entre as propriedades refuta os estudos que os britadores de impacto
geram um produto com menor teor de pasta de cimento e finos excessivos.

A geração de resíduos de construção no meio urbano é contínua, portanto,


identificar os equipamentos mais adequados para gerar produtos com propriedades
que elevarão a circularidade dos recursos naturais destinados ao setor construtivo
colabora com a preservação ambiental e com a qualidade de vida urbana da população
ao eliminar a deposição ilegal desses resíduos nas cidades.

FONTE: <https://www.scielo.br/j/ac/a/Pxt5wX7wdCDd94Jxrt8BsYh/?lang=pt>. Acesso em: 20 dez. 2021.

193
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• É relevante desenvolver protocolos de avaliação da pré-viabilidade de incorporação


de resíduos em matrizes cimentícias, considerando a quantidade de resíduos e seu
poder poluidor, o tamanho da partícula, seu poder de contaminação, toxidade e os
pré-tratamentos necessários.

• A classificação de uma Análise do Ciclo de Vida depende fundamentalmente do nível


de detalhe de cada uma delas. Dependendo do objetivo que tivermos, devemos nos
concentrar mais ou menos em certas etapas do processo; sendo elas classificadas
em ACV conceitual, simplificada e completa.

• Os resíduos de construção civil são majoritariamente classificados como resíduo


da classe A, que são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados em
concretos ou pavimentos.

194
AUTOATIVIDADE
1 A fabricação de cimento não é simples e requer muita energia e diferentes
mecanismos. Utilizado como agente aglomerante, as principais matérias-primas
presentes em sua composição são o calcário e a argila. Ambos encontrados, ainda
em excesso, e extraídos da natureza. Sobre a produção internacional sustentável de
cimentos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Utiliza resíduos industriais como substituto parcial do clínquer e também queima


combustíveis alternativos oriundos dos resíduos.
b) ( ) Utiliza resíduo industrial como substituto de matéria-prima, reprocessando-o
nos fornos sem necessidade de tratamento prévio.
c) ( ) Não utiliza de resíduos industriais pois pode afetar negativamente nas propriedades
do cimento.
d) ( ) Utiliza de queima de combustíveis fosseis como recurso para reduzir as emissões
de CO2.

2 A classificação dos resíduos sólidos é realizada de acordo com suas características ou


propriedades. A classificação é relevante para a escolha da destinação ambientalmente
adequada. Os resíduos podem ser classificados quanto: à natureza física, a composição
química, aos riscos potenciais ao meio ambiente e ainda quanto à origem. Com relação à
classificação dos resíduos, analise as sentenças a seguir:

I- Classe A: são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados.


II- Classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos,
papel, papelão, metais, vidros, madeiras.
III- Classe C: são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou
aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação.
IV- Classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como
tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados oriundos de demolições.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Somente a sentença I está correta.
b) ( ) Somente a sentença II está correta..
c) ( ) Somente a sentença IV está correta..
d) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.

195
3 A classificação de uma análise do Ciclo de Vida depende fundamentalmente do nível
de detalhe de cada uma delas. Dependendo do objetivo que tivermos, vamos nos
concentrar mais ou menos em certas etapas do processo. De acordo com os diferentes
tipos de Análise do Ciclo de Vida, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para
as falsas:

( ) ACV conceitual: Esta análise leva em consideração apenas dados genéricos e cobre
o Ciclo de Vida de forma superficial, seguida de uma simplificação, onde enfoca as
etapas mais importantes, e uma análise de confiabilidade dos resultados.
( ) ACV Simplificado: trata-se de um estudo qualitativo para identificar os impactos
potenciais mais significativos, os pontos mais críticos, portanto os dados utilizados
são muito gerais, mas permitem conhecer as etapas mais significativas de todo o
ciclo de vida.
( ) ACV completa: consiste numa análise detalhada a nível qualitativo e quantitativo,
tendo em consideração todas as etapas e todos os dados disponíveis

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – V – F.
c) ( ) F – F – V.
d) ( ) F – V – V.

4 O ciclo de vida de um produto é uma análise que avalia os impactos ambientais


gerados desde a produção da matéria prima para o produto, passando pelo processo
de fabricação, transporte, uso, manutenção até o destino final. Descreva quais são
as abordagens básicas de avaliação de ecoeficiecia baseados em análise de ciclos
de vida.

5 O ato de submeter um resíduo a operações e/ou processos que tenham por objetivo
dotá-los de condições que permitam que sejam utilizados como matéria-prima ou
produto é conhecido como beneficiamento.Descreve quais são os aspectos primários
dos resíduos para o desenvolvimento de protocolos de avaliação de pré-viabilidade
em matrizes cimentícias.

196
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