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DE ENTE ET ESSENTIA

Comitê Editorial da

 Agnaldo Cuoco Portugal, UNB, Brasil


 Alexandre Franco Sá, Universidade de Coimbra, Portugal
 Christian Iber, Alemanha
 Claudio Goncalves de Almeida, PUCRS, Brasil
 Cleide Calgaro, UCS, Brasil
 Danilo Marcondes Souza Filho, PUCRJ, Brasil
 Danilo Vaz C. R. M. Costa, UNICAP/PE, Brasil
 Delamar José Volpato Dutra, UFSC, Brasil
 Draiton Gonzaga de Souza, PUCRS, Brasil
 Eduardo Luft, PUCRS, Brasil
 Ernildo Jacob Stein, PUCRS, Brasil
 Felipe de Matos Muller, PUCRS, Brasil
 Jean-François Kervégan, Université Paris I, França
 João F. Hobuss, UFPEL, Brasil
 José Pinheiro Pertille, UFRGS, Brasil
 Karl Heinz Efken, UNICAP/PE, Brasil
 Konrad Utz, UFC, Brasil
 Lauro Valentim Stoll Nardi, UFRGS, Brasil
 Marcia Andrea Bühring, PUCRS, Brasil
 Michael Quante, Westfälische Wilhelms-Universität, Alemanha
 Migule Giusti, PUC Lima, Peru
 Norman Roland Madarasz, PUCRS, Brasil
 Nythamar H. F. de Oliveira Jr., PUCRS, Brasil
 Reynner Franco, Universidade de Salamanca, Espanha
 Ricardo Timm de Souza, PUCRS, Brasil
 Robert Brandom, University of Pittsburgh, EUA
 Roberto Hofmeister Pich, PUCRS, Brasil
 Tarcílio Ciotta, UNIOESTE, Brasil
 Thadeu Weber, PUCRS, Brasil
Theodoricus Teutonicus de Vribergh
Dietrich von Freiburg

DE ENTE ET ESSENTIA
(Quid e Quididade – Quod e Quodidade)

T RACTAT V S M AGISTRI T HEODORICI


O RDINIS F RATR V M P RAEDICATOR V M

Tradução Anotada e Comentada de


Antonio A. Minghetti

Apresentação e revisão
Prof. Dr Roberto Hofmeister Pich

φ
Direção editorial: Agemir Bavaresco
Diagramação e capa: Lucas Fontella Margoni
A regra ortográfica usada foi prerrogativa do autor.

Todos os livros publicados pela


Editora Fi estão sob os direitos da
Creative Commons 4.0

https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR

Série Filosofia e Interdisciplinaridade - 50

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


VRIBERG, Theodoricus Teutonicus de.

De Ente et Essentia. [recurso eletrônico] / Theodoricus


Teutonicus de Vriberg [tradução, organização, introdução e notas
Antonio A. Minghetti] -- Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2016.
88 p.

ISBN - 978-85-5696-035-1

Disponível em: http://www.editorafi.org

1. Dietrich of Freiberg. 2. Renascimento. 3. Humanismo 4.


Tradução. 5. Comentário. I. Título. II. Série.

CDD-100

Índices para catálogo sistemático:


1. Filosofia 100
Apresentação . 7

Comentos do Tradutor . 9

Preâmbulo . 26

Parte Primeira . 29

Parte Segunda . 63

Bibliografia . 78

Notas de Fim . 79
APRESENTAÇÃO

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Dr. Roberto Hofmeister Pich


COMENTOS DO TRADUTOR
Do corpus objetivado nesta tradução constam duas
partes produzidas em Paris em 1297. O Tractatus de Ente
et Essentia de Theodoricus Teutonicus de Vribergh.
Textus - c a . 1 3 0 0 , faz parte do acervo do Edidit Ruedi
Imbach, Hamburg 1980. Novam editionem curavit
Burkhard Mojsisch 2009 (Pro textu digitalizato Burchardo
Mojsisch magnas gratias ago. U.H.).
Segundo Alain de Libera (1998), Theodoricus
Teutonicus de Vriberg, anglicizado como Dietrich von
Freiberg e processado em francês como Thierry de Fribourg
(1250-1320), é junto com Eckhart, o primeiro representante
do idealismo especulativo alemão. Estudante em Paris de
1272 a 1274, em plena crise averroísta, leitor em Trier em
1280, bacharel setenciário em Paris entre 1291 e 1293 e,
provincial de Teutonia de 1293 a 1296. Mestre em teologia
da Universidade de Paris em 1296 a 1297, ele é o segundo
alemão (depois de Alberto Magno) a conquistar esse título.
A partir de 1303 ele alterna pesquisa científica e
administração da ordem dominicana. A sua obra científica é
importante (teoria do arco-íris, De iride, trabalhos sobre a luz,
De luce, e as cores, De coloribus). Em filosofia, Dietrich é o
primeiro grande adversário da ontoteologia tomista (De esse
et essentia, De quididatibus entium, De animatione caeli, De
intelligentiis et, De motoribus caelorum). Pioneiro do idealismo,
ele desenvolve uma teoria da função constitutiva do
intelecto (notadamente a respeito do tempo, concebido
como realidade ideal), que antecipacertos aspectos da
filosofia transcendental (De origine rerum praedicamentalium),
mas, sobretudo, ele formula uma teoria da autoconstituição
do intelecto (ou espírito) que supera a oposição entre
nominalismo e realismo (De intellectu ET intelligibili, De visione
beatifica). Vigorosamente combatido pelos tomistas alemães,
o pensamento de Dietrich de Freiburg sobreviveu
10 | De Ente et Essentia

parcialmente devido a Bertoldo de Moosburg e, por meio


dele, graças a Nicolau de Cusa.
Enraizada ao mesmo tempo em Aristóteles, no
Livro das Causas e, em Proclo, Aristotélica e Platônica, a
especulação filosófica de Dietrich tem por objeto
principalmente a questão do estatuto do intelecto e do
pensamento. Ele estuda a parte da atividade mental na
constituição de realidades distintas das coisas singulares,
como o tempo, realidade não constiuída pelo intelecto.
Sobre essa base, ele desrealiza a noética ao mostrar que as
noções de coisa ou de substância são incapazes de dar conta
do pensamento como dinamismo autoconstituinte.
Contrariamente ao que sustenta os nominalistas (que nisso
não fazem mais que levar ao limite a representaçaõ ingênua
do psíquico), o espírito não é uma coisa portadora de
qualidades ou de afeições. Ele e ao mesmo tempo uma
substância e uma atividade, não um fato (o que Fichte
chamará de Tatsache), mas uma ação autoprodutiva
(Tathandlung). Identificado ao “fundo secreto da alma”
(abditum mentis de Agostinho), o intelecto agente de
Aristóteles se vê assim redefinido (em termos que Dietrich
julga autenticamente aristotélicos) como uma substância
dinâmica, isto é, uma substância que é substância na medida
em que age ou opera, que tenha por objeto a sua atividade –
uma operação, portanto, que é idêntica ao pensamento
enquanto substância. Por seu lado, o pensamento ou o ato
de conhecimento veem-se caracterizados como uma
processão ou um processo nos quais o objeto pensado é a
própria processão. Redefinindo o intelecto agente como
princípio causal da essência da alma. Dietrich completa a sua
teoria da autoconstituição do pensamento humano
demonstrando que o objeto do intelecto agente é triplo – é
seu Pincípio (Deus), sua própria essência e o ente em sua
totalidade, mas que seu ato de pensamento permanece uno
e, único no momento em que os conhece. Nesse sentido, o
intelecto do homem não e uma coisa singular, creada por
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 11

Deus a partir de uma ideia singular: seu próprio ser creado é


sua autoconstituição, que não e diferente do conhecimento
que ele tem do Princípio do qual ele emana ou procede. Por
sua vez, essa processão pode ser definida como um retorno
a si-mesma na medida em que o intelecto faz-se a si-mesmo
e faz-se intelecto conhecendo seu Princípio. Tal como o
pensa Dietrich, o Absoluto, portanto, não sai jamais de si-
mesmo e não conhece nada fora de si (LIBERA, 1998, p.
423-424).
Vriberg assimilou influências de Aurelii Augustini
(354-430), o que significa por extensão, da filosofia de Platão
e do neoplatônico Plotinus; além recebeu defluxos de
Proclus Lycaeus (412-485) e, do Gramático romano
Priscianus Caesariensis, que viveu entre o final do século V
e início do VI d.C., célebre pelas obras Instituitionum
grammaticarum librie “De constructione”. Vriberg
acompanha Agostinho ao subescrever o conceito de
atividade mental como um poder autoconstituinte, que em
tese desrealizaria a noésis. O bispo de Hipona estudou o Ser
de Deus, onde Ele é causa do Ser das coisas, porque é o Ser
por essência e, nestes termos a Existência e a Essência são
“inseparáveis em Deus”; consequentemente também negou
a distinção entre a alma e suas faculdades. A essência de
Deus é compreendida através da revelação, onde Deus se
revela e se dá conhecer aos homens, assim as ideias tinham
sua origem no divino, portanto o caminho para a verdade
estaria na fé, conquanto a razão constituísse o melhor meio
para provar a validade das verdades. Influenciado pelo
pensamento de Plotino, para quem a essência era a de que a
alma estaria aprisionada no mundo sensível, Agostinho
elaborou a doutrina da iluminação divina, pela qual a
percepção da verdade tem por causa a luz emanada de Deus,
só encontrada através do agenciamento do intelecto em o
abditum mentis, uma instância correspondente à interpretação
medieval, o locus onde o homem teria uma reserva de
conteúdos que não viria de suas memórias armazenadas,
12 | De Ente et Essentia

seria uma reserva de conhecimento na mente humana, as


quais nasceriam com ele, que caracteriza a conhecida
doutrina das rationes aeternae. Esta luz propicia o capturar do
inteligível ao abstrair dados sensíveis e, propicia uma visão
do eterno, posto seja o segredo da Verdade imutável
disposta na alma, disponibilizada ao homem como uma
graça do Creador1.
Do filósofo grego neo-platônico Proclus, Vriberg
assimilou principalmente sua interpretação do Liber de causis
e, a ideia de inspiração neoplatônica de participação de todos
os seres no Uno, por isso denominado o Ser Primeiro,
conceito também constituinte das obras do Pseudo Dionísio
e de João Escoto Erígena. O ser elementar se faz medida
para os outros seres; é o summo de todos os predicados
auspiciosos relativo ao intelecto, o que estabelece uma
relação quântico-qualitativa de descendência escalar aos
graus menores. O fenômeno da processão implica vários
conceitos como quando com o sentido em que o efeito
procede da causa, ou quando se lhe concebe no sentido em
que a causa se manifesta no efeito e o põe em movimento;
o que todos esses conceitos têm em comum é o fato do
movimento da processão se dar sempre em uma moção cuja
ação tende para uma matéria exterior, não obstante continue
existindo e permaneça interiormente no agente mocional.
A partir desse conceito de processão, se retornamos
ao agenciamento do intelecto de Agostinho em o abditum
mentis, constatar-se-á que a ação promovida no inteligidor,
nele permanecerá em face de moções promovidas
internamente a si, oriundas do conhecimento auferido do
fenômeno. Assim, a processão agostiniana não deve ser
concebida como uma ação exterior que infere um efeito
também exterior, mas sim uma ação procedente de uma
emanação inteligível oriundo, portanto de um processo pelo
qual uma coisa é causada por outra, que a determina ou a
contém de princípio.
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 13

A Doutrina das Emanações, alargada por Plotino


para sugerir a creação2 do mundo, foi um dos conceitos-
chave do começo da era cristã, da qual a pluralidade dos
seres não colocaria em risco a absoluta unicidade divina;
Deus, pensando-se a si próprio, engendraria uma intelecção;
seria Ele o princípio supremo, o Uno que excluiria qualquer
multiplicidade de si, apenas sugeriria ao que Vriberg chama
de processão.
Assim, tanto em Agostinho quanto em Vriberg,
aquilo que decorre por processão exterior deve
necessariamente ser diverso daquilo de donde procede; mas
o que por processão procede ao interior por processo
intelectível, não seria essencialmente diverso; ao contrario,
melhor se consubstancia com a fonte originaria, posto que
o próprio processo de intelecção é fator de uma visceral
unificação entre receptor e emissor e, nesse sentido para
Agostinho inteligir o artífice Creador, primeiro princípio das
coisas é a culminancia do homem via a perfeição.
Especialmente no século treze, o de Vriberg, muito
se discutiu sobre o que seria o ente, definindo-o como aquilo
que é ou o ser que é. Tomás de Aquino já havia intentado
esclarecer o que significaria o ser que é, ao afirmar que o ente
é aquilo que o intelecto concebe primeiro. Para Aquino ente
seria aquilo que tem uma essência real, mas a essência do ente
é exatamente o ser e, este é o nó górdio que se apresenta
àqueles que pretendem estudar filosofia. O conceito de ente
implica, pois uma cabal abstração, posto seja um conceito
universal e, para os escolásticos seria o mais universal deles;
perceba-se que se ente é aquilo que existe realmente, então
ele deveria conter algo, a res (alguma coisa) e, assim teria uma
existência real.
John Duns Scotus (1265-1308), contemporâneo de
Theodoricus Teutonicus de Vriberg e, conhecido como o
"Doutor sutil", teólogo e filósofo escocês, um dos
fundadores da chamada escola escolástica, enveredou pela
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busca de uma definição para ente. Scotus fez uma distinção


entre o ens anima in e o ens anima extra; este último se
subdivide em ens actum in e ens potentiam in, ambos agentes na
essência e na existência. Para Scotus o ens anima extra é o ente
real e externo ao ser, conquanto que o ens animam in é o ente
racional e interno ao ser, ocorre no intelecto. Em Scotus,
para o ente, ainda temos uma outra subdivisão: a primeira é
o ens infinitum ou ente increado, um ente em si-mesmo e
em si por essência; a segunda é o ens finitum ou o ente
creado, um ente de participação e ab alio. Ambos, ens
infinitum e ens finitum, cindem-se nas categorias
aristotélicas.
Para melhor entender De Ente et Essentia de Vribergh,
é recomendável ler antes seu Tratado sobre a Origem das Coisas
Categoriais, no qual comenta Luís M. Augusto (2012), que o
dominicano aborda questões eminentemente metafísicas
para a distinção entre ente e não-ente e da unidade e ordem das
formas, com esta segunda questão subordinada à primeira.
Vribergh faz a defesa da unidade da forma substancial contra
os Franciscanos e, em particular, contra Henrique de
Gandavo que, como ele, foi discípulo de Alberto Magno.
Para Vribergh, seria de acordo com a forma una que um ente
se classificaria num gênero próprio.
Segundo Vriberg, em primeiro lugar o ente difere do
não-ente ou do nada pelo seu ato completo, e isto quer se
considere o ente em termos das suas causas, no que respeita
à geração, quer seja considerado em termos da sua quididade e
essência absoluta, ou seja, enquanto ente. Esta tese é de difícil
argumentação na medida em que entre o nada e o ato
completo se interpõem a potência ou os diferentes graus de
atualidade.
Juan Fernando Sellés (2011), em seu artigo De
substantiis spiritualibus et corporibus futurae ressurrectionis, Vriberg
procede a seus conceitos a partir de um conselho de
Agostinho: “melius est dubitare de occultis quam litigare de
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 15

incertis”. Por isso, Vriberg distingue quatro categorías de


entes reais: 1ª) Existe somente um primeiro principío
(primam causam - quod Deus est); 2ª) As substâncias intelectuais,
quanto às substâncias e sua operação (quas vocant intelligentias),
são intelectos por essência, as primeiras entre todas as
creaturas; 3ª) Os entes espirituais, quanto a sua substânia e
operação, são espíritos por essência, ou seja são corpos
espirituais ressucitados; 4ª) Refere a universalidade dos
corpos deste mundo.
Segundo Augusto (2012), Vriberg apela à teoria
aristotélica da anterioridade lógica (segundo a noção) e no
tempo do ato em relação à potência (cf. Met. IX, 8): a partir
do momento em que existe o ato, existe o ente. Quanto ao
argumento contrário da privação, ou seja, que o ente em
potência se encontra mais próximo do não-ente que do ente,
ocorre pela noção da privação que importa; Vriberg contra-
argumenta que, uma vez eliminada esta noção, o ente em
potência e o ente em ato têm uma única noção: nem diferem em
número nem existe entre eles uma composição, ou seja, são
um e o mesmo ente. Além disso, a própria noção pela qual
uma coisa tende ao seu ato completo fá-lo desde logo
distinguir do nada: segundo Aristóteles, “o ato separa” (cf.
Met. VII, 13, 1039a7); ou seja, se uma mesma coisa é em
potência qualquer um dos contrários, em ato ela é
necessariamente um ou o outro deles, pois que segundo o
ato (em termos de realização) a simultaneidade dos
contrários é impossível.
Augusto (2012) enfatiza que, posteriormente,
Vriberg se debruça sobre a questão da passagem da potência
ao ato, à geração e ao ente tomado enquanto ente. Para ele,
o ente se define de acordo com a conclusão do processo de
geração, sua última forma; a potência e o ato são os dois
extremos da geração, distinguindo o nada do ente enquanto
ente, ou a última forma, pela qual um ente é uma substância e
tem uma existência específica. Mas, na medida em que esta
perspectiva implica uma sucessão de formas intermediárias e
16 | De Ente et Essentia

um agente natural que efetue a passagem da potência ao


acto, surgem obstáculos. Numa argumentação complexa,
bem característica da técnica dita escolástica, refutam-se as
opiniões que propõem que a sucessão de formas
intermediárias implica a presença de várias formas num ente
e a sua respectiva classificação em diferentes gêneros
subordinados ao mais geral de todos, ao qual pertence o ente
em ato. Vriberg concorda que esses intermediários sejam
entes intencionados pela natureza, pois que esta nada crea
ou intenciona em vão ou por mero acaso, mas a sua
concepção é radical: tal como abaixo do ente em potência não
exista mais nada pelo qual uma coisa possa pertencer a um
gênero e possuir a natureza de ente, do mesmo modo em que
acima do ente em ato não se encontra nada pelo qual uma
coisa estando sob esse ato possa ser formalmente creada sob
um ato posterior.
Para Augusto (2012), a radicalidade desta
perspectiva reside precisamente nisto: que para Vriberg a
classificação de um ente num género depende daquilo pelo
qual esse ente seja um ente; entre o ente e o nada não existe
realmentequalquer distância. O ente enquanto ente é
imediatamente ente. Existe, com efeito, entre o género
generalíssimo ou mais geral (a substância) e, a espécie
especialíssima ou mais específica (ex.: homem), gêneros
subalternos (cf. a Árvore de Porfírio, figura que ilustra a capa
deste opúsculo), mas é pela última forma (por exemplo, a
alma no caso do homem), pela qual um ente tem um esse
specificum, uma existência específica e, assim, um ente se
inclui simultaneamente numa espécie especialíssima e num
género generalíssimo.
Segundo Augusto (2012), para Vriberg, alguns entes
de intenção primeira e, classificáveis num gênero são
constituídos pelo intelecto; na medida em que só existam
dois princípios para a totalidade dos entes, a natureza ou o
intelecto, se o princípio de um ente não é a natureza, então
necessariamente é o intelecto. Assim, Vriberg mostra que as
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categorias são entes de intenção primeira, ainda que entia


rationis. Ou seja, o dominicano rejeita que as coisas
categoriais, enquanto coisas de razão, que de facto também
são num sentido restrito, sejam necessariamente coisas de
intenção segunda. As diversas intenções formais existentes
numa forma substancial única constituem um ente de fato,
uma coisa de intenção primeira; o mesmo se pode dizer da
última forma e da definição. Assim, as categorias surgem
como entes de intenção primeira em igualdade ontológica
com os entes naturais, de fato existentes na natureza. Para
Augusto, uma das muitas dificuldades apresentadas no
conceito de Vriberg, é precisamente a problemática de que
entes de intenção segunda não sejam meros entes de razão.
Vriberg fala de aliqua entia, alguns entes, e para além das
coisas categoriais aponta ainda os números, mas a verdade é
que a argumentação por ele levada a cabo parece querer
concluir que todos os entes de razão são entes de intenção
primeira. Gênero e espécie, por exemplo: a distinção se faz
por uma classificação do intelecto, o modo como este
classifique os entes naturais, donde que é pelo intelecto que um
cavalo é um cavalo e não um homem (espécie) e ambos são
animais e não, por exemplo, pedras (género). O género e a
espécie são por excelência exemplos dos entes dos entes, entia
entium, dos quais Vriberg afirma repetidamente que são entes
de facto.
Vriberg apela para a autoridade dos peripatéticos
mais propriamente neoplatónicos, segundo os quais os
números e a categoria do tempo não são coisas naturais, pelo
que serão entes criados pelo intelecto, como convém,
sobretudo se o intuito for defender teses de Aristóteles, de
Averróis, de Agostinho de Hipona, de Boécio, e do Livro dos
Seis Princípios, de autor anônimo. Ora, se estas autoridades
parecem confirmar a tese de Vriberg, existiria quem
argumentasse contra ela?
Vriberch (2003-c) considerou na metafísica
enquanto história do ser, o caracterizar da oposição entre ser
18 | De Ente et Essentia

e ente, representada respectivamente por quididade e


quodidade. Em filosofia quididade significa, portanto a
qualidade essencial de algo. Para os escolásticos, seria aquilo
essencial de alguma coisa, considerado independentemente
da sua existência.
De esse et essentia, apresenta em sua primeira parte,
genericamente, seu conceito de ontologia3, na qual inclui a
categoria de quididade e por oposição a de quodidade, para
superar uma possível ambiguidade entre sua concepção de
existência e essência, a qual deriva do conceito agostiniano.
Para Vriberch (1300) ser e essência não se distinguem entre si
realmente, apenas segundo a noção e a forma como são
denotados; para tanto, definiu como quididade, o que deriva
por abstracção de o que, a essência ou forma de uma coisa,
aquilo que ela seria em si, significa o seu princípio formal,
aquilo que faz com que uma coisa seja essencialmente
qualquer coisa. E, diferentemente, nomeou de quid (o quê
é?) tanto para a substância quanto para o acidente (predicado).
Por isso, à máxima agostiniana Vriberch acrescentou: “No
entanto, um juízo se faz ao ser conveniente à substância e,
outro quando compete ao acidente” 4 (m.t.) (VRIBERCH,
1300, 2.4).
Juan Fernando Sellés cita: “En el breve opúsculo De
quiditatibus entium, Theodoricus de Vriberch, además de
abundar en la distinción entre sustancia y accidentes ya
atendida en De accidentibus, estudia la diferencia entre el ens y
el quid ” (2011-b, p. 48).
Obviamente, esta distinción alude a la distinción
real. “El ente, en eso que es, es la primera y
simplicísima de todas las intenciones formales, por
las que la cosa, primero por la esencia, segundo por
qué sea esencia, dista de la nada”. “El mismo quid en
eso, quod quid, seu quiditas in eo, quod quiditas, conlleva
sobre la razón de ente cierta información de la cosa,
al menos en cuanto al modo de entender, por la que
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la cosa se determina a tal o cual esencia y naturaleza,


de tal modo que tal cosa no sólo sea ente por su
distancia a la nada, sino que también sea esto o lo
otro según alguna información” (SELLÉS, 2011-b,
p. 49).

Dessa forma, a quididade acorre a todos os entes


existentes, em que indica algum princípio intrínseco da
coisa, segundo o ato pelo qual se lhe toma tanto segundo a
razão de ser quanto a de aparecer e, a de se dar a conhecer:

Es principio intrínseco y es acto, lo cual indica que “en


todo eso que es algún ente según el acto está la
quididad, por la que es eso que es según el acto”. En
esto parece seguir a Avicena, al que cita.
Obviamente, de entender el quid como acto,
concreción existente, sobra el actus essendi tomista.
Este quid se parece a la haecceitas formulada por
Escoto. “En todo lo que tiene quididad y es quid, es
necesario encontrar alguna multitud real… en la que
subyazca algo como subjetiva y materialmente, en lo
que se origina la sustancia de la cosa. Pero el quod
quid se perfecciona y completa, para que haya ente
en él, por algún otro acto formal, el cual por él
mismo la quididad es tal ente”. Dietrich parece
distinguir el ente del quid en que éste añade al ente el
que sea activamente concreto: “todo quid conlleva
según su propia razón aliquid” (SELLÉS, 2011-b, p.
50).

Libera (2004-f) ao tratar da Filosofia Medieval cita


que a Alfarabi devemos uma formulação da distinção entre
essência e existência que, por intermédio de Avicena,
influenciou toda a Idade Média:
A essência não é a existência e não implica sua
compreensão. Se a essência do homem implicasse
sua existência, o conceito de sua essência seria
20 | De Ente et Essentia

também o de sua existência, e bastaria conhecer o


que o homem é para saber que o homem existe [...].
Além disso, a existência não está compreendida na
essência das coisas (ALAIN DE LIBERA, 2004-f,
113)

Nos entes de razão também ocorre a quididade;


primeiro naqueles que designam uma substância e em
segundo naqueles que designam acidentes. Entende Sellés,
que a substância real significa hoc aliquid 5, enquanto é
particular e a substância lógica significa quale quid 6. Assim, a
perfeita razão da quididade se atribui às substâncias
compostas, onde o quid significaria uma parte da coisa
(substância e predicado). Disto se pode concluir que a quididade
é a forma substancial e, nos acidentes a quididade se toma por
referência à substância, dado que neles não esteja
propriamente.
Para Platão (2005-a) no mundo do Eidos, cada ideia
prevalece única, imutável e invariável independente de
opiniões outras. Assim, ser e quid se diferem; o ser seria o
espaço aonde se aloca a essência da coisa (quididade), a qual
ascende um ente concreto. A essência designa o ser, a
consistência ou quididade de um ente, considerado
independentemente da sua existência; afirmar o que é algo
seria, pois declarar a sua essência. Nos compostos de matéria
e de forma, apenas a forma, ou seja, a eidologia7 seria a
quididade.
Luis Alberto de Boni define quididade àquilo que
pertence à coisa e com a qual é possível responder à questão:
“que coisa é esta?”. Para De Boni o existente é a totalidade,
e esta é a própria essência da quididade, do que se conclui a
existência se fazer quididade detalhada dessa coisa. Assim,
todo o verdadeiro possui certa quididade fora da alma se, e
somente se representado na alma onde adquire seu sentido
de verdade; o existente fora da alma que tenha certa
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quididade, esta seria potência ou existência em ato (2000,


p.86).
A segunda parte De esse et essentia é composta de
argumentos contra os opositores de sua tese na obra, àqueles
que defendiam ou defendem a altercação real entre ser e
essência. Esta presuposta altercação se deu, primordialmente
na Escolástica, movimento que produziu um pensamento
crítico, dominante no ensino nas universidades medievais
europeias nos anos de 1100 a 1500; especialmente a partir
de conceitos derivados de teorias de Tomás de Aquino, onde
a cada ser corresponderia uma essência e uma existência que
ela poderia ou não admitir.
No dicionário de filosofia de Japiassú e Marcondes,
para a definição do vocábulo essência no período da
Escolástica:

Para a escolástica, é uma das grandes divisões do ser:


é o ser mesmo das coisas, aquilo que a coisa é ou que
faz dela aquilo que ela ó. Para cada ser distinguimos
uma essência e uma existência que ela pode ou não
comportar. A essência repousa na tradição platônica
das idéias, retomada na teoria aristotélica das
"formas inteligíveis". Platão distingue um mundo
invisível, permanente e sempre idêntico a si mesmo
(o mundo das essências) e um mundo visivel e
flutuante (o mundo sensível): o primeiro é a garantia
da realidade do segundo. Aristóteles retoma a noção
de essência no contexto do problema da linguagem.
Se tudo é mutante, se tudo é acidente (como
queriam os sofistas), não há discussão possível.
Distinguindo a essência dos acidentes, ele resolve o
problema dos sofistas: "Instruir Clínías é matá-lo,
pois suprimir Clínías ignorante também é suprimir
Clínias". Asim é a essência de Sócrates que se
mantém através de seus diversos acidentes
(JAPIASSÚ e MARCONDES, 2001, p.67).
22 | De Ente et Essentia

A depender do contexto, a palavra essência pode


representar a ideia principal de uma obra ou tema, dado que
este vocábulo se assenta na tradição platônica das ideias.
Platão distingue um mundo invisível, permanente e sempre
idêntico a si-mesmo, o mundo das essências e, um mundo visivel
e instável, o mundo sensível, onde o primeiro garante a
realidade do segundo.
Segundo Ferrater Mora (1977-d), a partir de
Aristóteles se obtém uma ideia apropriada de essência, ao
considera-la como o quê de uma coisa, não aquilo que uma
coisa seja ou o fato de ser da coisa, mas o que ela é, onde ela
se constiui como algo de real; e, por outro lado dela se
predica algo através do qual se diz o que a coisa é, ou se
define como algo de lógico ou conceptual.
Esse conceito aristotélico sobre a essência constitui
um tema importante às pretensões de Agostinho, dado
colidir com o conceito agostiniano de Deus, um Ser
predicado como absoluto e eterno e que, como tal, só
poderia existir atemporalmente; logo, sua essência não
poderia ser pensada independentemente de sua existência.
Em Agostinho, as substâncias recebem a existência do
Creador, a causa essendi, plenitude de todas as essências de um
ser subsistente em si-mesmo. Aí a prova da existência de Deus
pela contingência da realidade humana, dado seja Ele a causa
de ser das coisas, exatamente porque é o Ser por essência;
assim, Nele, existência e essência são impartíveis, do que
resultam na creação ente e essência que não obstante distintos,
se identificam inteiramente.
No dicionário de filosofia de Japiassú e Marcondes,
para o vocábulo acidente encontraremos:

1. Tudo aquilo que não pertence à essência ou


natureza de uma coisa, não existindo em si mesmo,
mas somente em outra coisa. Ex.: a forma ou a cor
pertencem a uma coisa que subsiste em si mesma: a
substância.
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 23

2. E acidental tudo aquilo que pode ser mudado ou


supresso sem que a coisa mesma mude de natureza
ou desapareça. Na metafísica clássica, o acidente se
opõe à substância e à essência: todo acidente só
existe na substância (JAPIASSÚ e MARCONDES,
2001, p.8).

Nesse contexto de linguagem, Aristóteles em seu


enfrentamento com os sofistas, já tinha distinguido a
essência dos acidentes; para o filósofo de Estagira, se tudo
estivesse em um processo de mutação e se tudo fôsse
acidente, não existiria o que obsecrar. Tomemos como
exemplo o triângulo: Sua essência está representada no
Teorema de Pitágoras, que afirma ser um polígono com o
menor número de lados, apenas três e, a soma dos seus
ângulos internos deve ser igual a 180o. Por sua vez considerá-
lo como triângulo equilátero; triângulo isósceles; triângulo
escaleno; triângulo acutângulo; triângulo obtusângulo;
triângulo retângulo, já implica a descrição de seus acidentes.
Com relação a sua existência, ela pode ser real, existir
fisicamente ou representada de alguma forma e, pode ocupar
o campo das ideias.
Em Ferrater Mora se encontra que Aristóteles na
Metafísica definiu o acidente como: “[...] aquilo que pode
pertencer a uma só e mesma coisa, qualquer que ela seja [...].
O acidente é aquilo que pertence a um ser e pode ser
afirmado dele em verdade, mas não sendo por isso nem
necessário nem constante”. No entanto, Mora acresce que
correntes da filosofia moderna, sobretudo da metafísica do
século XVIII, não aceitaram a distinção real entre acidente e
substância, posto o acidente se lhes apresentar um aspecto
de substância e, ao se identificarem anulariam quaisquer
distinções possíveis (FERRATER MORA, 1977, p. 19).
O conceito de Vriberch se fundamenta em
Agostinho, ao distinguir a substância do acidente, embora
denomine a ambos de entes:
24 | De Ente et Essentia

Ainda que de fato falássemos de significação quanto


à essência para a coisa significada, falso seria quando
se assume evidentemente que “toda essência se pode
discernir” e quanto ao demais. Quando penso o
homem, penso o homem segundo o seu ato de ser
entre as coisas da natureza, conforme a máxima de
Agostinho in DE IMMORTALITATE ANIMAE
Liber Unus 12. 19: “não por acaso, que toda essência
seja essência, a não ser pelo que é (existir)” 8. Logo,
segundo esta, não posso discernir a essência do
homem, a não ser que pense o seu atual ser 9 (m.t.)
(VRIBERCH, 1300, 2.4).

O acidente filosófico em Agostinho surge como


uma qualidade casual e fortuita que poderia ou não pertencer
a um determinado ente e, inteiramente estranha à essência
necessária (à substância) de este ser; uma determinação ainda
não pertencente à essência de um ente específico, que com
ela se relaciona e dela necessariamente deriva ao integrar sua
definição; seria qualquer predicação de um ente quer
pertença ou não a sua substância.
Para Ferrater Mora, o acidental se distingue do
essencial e também do necessário, tal que seja fortuito e
contingente, pode existir ou não. Do ponto de vista lógico,
o acidente é o predicável, ou seja, o modo pelo qual algo
inere a um sujeito. Do ponto de vista ontológico, o acidente
é predicamental ou real, expressa o modo pelo qual o ente
existe e, assim se diz que naturalmente não é em si, mas
noutro, pelo qual o acidente possui metafisicamente uma
espécie de alteridade.
Após todo esse circunlóquio, segue a tradução de
Ente e Essentia de Theodoricus Teutonicus de Vriberg, cujo
objetivo, conceitualmente, foi conduzir prováveis legentes à
época da obra, na intenção de obsequiar criteriosamente o
que essa tem de peculiar e genuíno. Se à luz do
desenvolvimento filosófico hodierno, quaisquer críticas
adversas se fizerem à teoria de Vriberg, correr-se-á o risco
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 25

de incidir em uma iniquidade filosófica, dado a reverência


que demanda toda obra, dever ser impecavelmente avaliada
em seu tempo e espaço.
T RACTAT V S MAGISTRI
T HEODORICI
ORDINIS FRATR V M
PRAEDICATOR V M

P RO O E MI U M P R E Â MB U LO

(1) Quam necessarium sit (1) Quão necessário seja


non ignorare communia não ignorar o desejo
volentibus habere notitiam comum de ter
propriorum, ostendit conhecimento próprio,
Philosophus in suis Elenchis, ostenta o Filósofo em seu
ubi dicit, quod ignoratis Elenchis10, como afirmou
communibus necessarium àquele que ignora o que é
est in scientia propriorum comum dispersa o que é
deficere. Est autem necessário à própria
secundum eundem ciência. Ainda, segundo o
Philosophum maxime mesmo Filósofo, o que
commune ens et quae sunt existe de mais comum é o
entis per se, sive tamquam ente e aquilo que per si dele
partes sive tamquam dependa, quer como parte
proprietates, sive ou enquanto propriedade;
praedicentur de ipso ente quer como predicado do
inquantum ens, sive próprio ente enquanto
secundum denominationem ente, ou segundo a
reducantur in ipsum sicut denominação de si
essentia et esse et quod est restaurada, assim como a
et quo est et similia, ut essência existe se tomada
entitas et quiditas et cetera pelo ser que é e,
talia. semelhantes outros como a
entidade, a quididade e,
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 27

quanto ao resto da
natureza.

(2) Istorum ergo (2) Logo, daqui estendo


speculationi tamquam maior e estensiva
maxime necessariae especulação, para não recair
intendendum est, ne em um conhecimento
contingat in notitia propriamente infido, caso
propriorum deficere, si ista seja ignorado, o que seria
ignorentur, quem defectum uma falha em
iam dudum experientia conformidade com aquilo
docuit. Ex malo enim que há pouco aprendemos.
intellectu dictorum Provém do mau entender
communium concluduntur do desejo que nos acerca e,
nonnulla falsa circa propria, que leva a concluir
ut de simplicitate vel erroneamente sobre a
compositione rerum composição das coisas
creatarum et de processu creadas, em sua
rerum particularium a Deo simplicidade mesma do
et de conversione processio11 e, em particular de
earundem et reditu in Deus e da conversio a Ele de
Deum et similia. seus semelhantes.

(3) Primo autem exponenda (3) Primeiro é preciso


sunt quantum ad expor às intenções dos
intentiones nominum dicta nomes ditos comuns, pelos
communia, de quibus quais se age, sem
agendum est, ne equívocos, o que é comum
aequivocatio aliqua habeat nessa incumbência, onde a
hic locum, quae in eficácia se faz necessária.
huiusmodi efficaciter fallere Por segundo, refutar as
solet. Secundo solvendae razões daqueles que a
sunt rationes contradizem. Do tratado
contradicentium. Et sic iste constam duas partes, cada
tractatus habet duas partes
28 | De Ente et Essentia

et quaelibet partium sua qual com seus respectivos


capitula. capítulos.
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 29

P R I MA PARS P A RT E P R I ME I RA

I. De significatione entis I. A significação de Ente


et entitatis e Entidade

1. Ens igitur, quod est 1. Ente, portanto é o que


generalissimum et suo de mais geral existe e seu
ambitu omnia in se âmbito seria tudo pelo que
comprehendens et re et se compreende pela coisa e
significatione, de por sua significação e, de
quocumque praedicatum qualquer coisa que
significat essentiam eius, de predique, quer de uma
quo praedicatur, sive sit substância quer de um
substantia sive accidens, de acidente, segundo
quo praedicatur, secundum Aristóteles no início do
Philosophum in principio livro IV de sua Metafísica.
IVMetaphysicae. Quamvis Por outro lado, tanto
autem praedicetur de quanto se queira, o
substantia et accidente predicado de substância e
indicans essentiam eius, de de acidente indica a
quo praedicatur, hoc tamen essência daquilo que
non est inconveniens, quia predicam, no que não
secundum aliam et aliam existe nenhum
rationem praedicatur de inconveniente, dado sejam
substantia et accidente, et predicados por razões
hoc, quia substantia et outras; substância e
accidens sunt alterius acidente, enquanto entes
rationis, inquantum sunt são predicados por razões
entia. distintas.

2. Utrumque enim illorum 2. Acaso de fato a eles se


dicitur ens, inquantum dizem entes, enquanto
habet essentiam aliquam. tenham alguma essência.
Alia autem ratione habet Ora, por determinada razão
30 | De Ente et Essentia

essentiam substantia, alia a essência se faz à


autem ratione habet substância e, por outra se
essentiam suam accidens, faz aos acidentes, como
quod sic patet secundum está exposto por Agostinho
Augustinum in libro De no capítulo XVI do livro
immortalitate animae c. 16: De Immortalitate Animae:
«Omnis enim essentia non “não por acaso, que toda
ob aliud essentia est, nisi essência seja essência, a não
quia est.» Alterius autem ser pelo que é”. Por outro
rationis est esse conveniens lado, o ser convém à
substantiae, alterius autem, substância por uma razão e,
inquantum competit por outra enquanto
accidenti. compete ao acidente.

3. Substantiae enim 3. Por outro lado, o ser


convenit esse secundum convém à substância12,
propriam naturae suae segundo a quididade
quiditatem absolute non própria de sua natureza
concernens aliquam absoluta, não concernente
extraneam naturam, qua àquilo extranho à sua
formaliter seu qualitative sit natureza, quer seja formal
id, quod est secundum ou qualitativa, no que é
suam substantialem segundo sua existência
existentiam. Quod patet substancial. Donde consiste
non modo in simplicibus não só no modo de simples
substantiis, verum etiam in substancia, mas também
compositis, quae, como composta, que
inquantum substantiae sunt, enquanto são substâncias,
nihil habent sibi admixtum, nada existem em si mesmas
quo formaliter seu de acrescências, quer sejam
qualitative substantiae sint. formais ou qualitativas, que
as façam ser substâncias.

4. Idem patet etiam in 4. Igualmente, também


principiis substantiae consistem aos princípios
compositae. Forma enim das substâncias compostas.
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 31

substantialis nullo alio est De fato, a forma


forma et talis essentia, qua substancial não é outra
est substantia et principium coisa que não forma e
substantiae compositae, natureza da essência, que é
quam se ipsa. Similiter tanto substância e princípio
materia, quae est altera pars da substância composta,
compositi, ex nulla alia quanto de si mesma.
extranea natura est id, quod Similarmente, a matéria,
est, quo etiam est substantia que é a outra parte do
et substantiae principium, composto, derivada de
nisi se ipsa. nenhuma outra natureza
estranha é ela, que é o quê é
e, também é substância e
princípio da substância, a
não ser por si mesma.

5. Et per istum modum 5. E, por este modo, o ser


convenit esse substantiae, convém à substância,
scilicet secundum propriam sabidamente segundo a
intraneam naturam própria natureza intrínseca,
formaliter vel potius formalizada
qualitative. Et dico ‹potius preferivelmente pela opção
qualitative› propter qualitativa. Reafirmo
materiam, videlicet “opção qualitativa”, por
inquantum enti in potentia causa da matéria, que por si
potest convenire esse só, enquanto ente em
qualitativum distinguendo potência pode convir à
ipsum contra alias causas qualidade, distinguindo-a
essendi. de outras causas do ser13.

6. Esse autem convenit 6. Contudo, o ser que


accidenti secundum aliam convém ao acidente em
rationem, quam sit illa, quae função do que ele seja,
dicta est de substantia. Non segue outra razão14, diversa
enim accidens habet esse da forma como se diz de
secundum absolutam uma substância15. Antes, o
32 | De Ente et Essentia

intraneam suae naturae acidente segundo sua


rationem seu quiditatem; natureza intrínseca, não
nullam enim talem habet. tem o ser à razão ou à
Sed totum esse suum est, ut quididade absoluta; nele,
sit quaedam dispositio nada disso existe. Mas,
substantiae secundum todo o seu ser é, se assim
Commentatorem super queiramos uma disposição
principium IVMetaphysicae. da substância, segundo
Et sic accidens est ens, quia comentários de Aristóteles
est entis, et hoc essentialiter no princípio do capítulo IV
secundum Philosophum in da Metafísica. Acidente é,
principio VII Metaphysicae. pois ente, porque condiz
Et ex hoc elicit et essencialmente, segundo o
determinat de accidente que diz o filósofo no
multas condiciones et princípio do capítulo VII
proprietates in multis locis, da Metafísica. Alí ele
quas impossibile est aliter elucida e determina de
salvari nisi attribuendo acidente inúmeras
accidenti dictum modum condições e propriedades
essendi, sicut late et clare em seus vários aspectos, os
ostensum est in tractatu quais impossíveis dicernir a
nostro De tribus difficilibus não ser atribuindo ao
quaestionibus in passu, qui est acidente um modo de ser,
ibi De accidentibus. como ampla e claramente
demonstra nosso tratado
De tribus difficilibus
quaestionibus, na parte que
trata o que seriam De
accidentibus.

7. Quia igitur, sicut supra 7. Nestas circunstâncias,


inductum est de Augustino, como supraindicado em
essentia dicitur, inquantum Agostinho, da essência se
est, est etiam manifestum diz enquanto é e, também é
ex iam dictis, quod esse manifesto que o ser
secundum aliam rationem convém à substância
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 33

convenit substantiae, segundo determinada razão


secundum aliam autem e, por outra ao acidente.
accidenti. Ex hoc sequitur, Daí segue intencionar que
quod ens praedicatum de ente se predica da
substantia et accidente substância e do acidente,
significans essentiam no que significa as
utriusque secundum aliam essências de cada um; que
rationem praedicatur de por algumas razões se
substantia, secundum aliam predicam a substância e,
autem de accidente, quod segundo outras ao
est propositum. acidente16.

8. Et sic apparet de 8. Assim surge a


significatione huius nominis significação do nome
‹ens›. Importat enim in sua “ente”; que inclui toda a
significatione totam sua essência, pela qual é
essentiam eius, de quo predicado, quer seja
praedicatur, sive sit substância quer acidente,
substantia sive accidens, tanto quanto se queira, sob
quamvis sub diversa ratione diversas razões de sua
de ipsis praedicetur, sicut et própria predicação; da
diversa ratione convenit eis mesma forma pela qual por
esse, et hoc essentialiter, diversas razões o ser
utrique modo sibi proprio convém à substância e ao
essentiali. acidente sob noções
diversas e, isto
essencialmente, de uma e
outro em seu próprio
modo essencial.

9. Ex hoc autem iam 9. Disto agora segue ao que


elicimus propriam propriamente evocamos
significationem huius com a significação de
nominis ‹entitas›, cui “entidade”, que lhe
competunt idem modi compete o mesmo modo
considerandi, qui dicti sunt considerado ao dizermos
34 | De Ente et Essentia

de ente, sive accipiatur in ser “ente”, quer tomado da


substantialibus sive in substância quer do
accidentalibus, nisi quod ea, acidente; a não ser quando
quae sunt dicta de ente se diz “ente” em sentido
sumendo ipsum in concreto17, quando ao
concreto, eadem mesmo tempo é
conveniunt dici de entitate conveniente se afirmar
in abstracto, id est sumendo “entidade” em abstrato,
ipsam entitatem sub modo isto é, a entidade mesma
significandi in abstracto, tomada sob a significação
sicut etiam ipsum nomen abstrata como o próprio
indicat. nome indica.

II. De quid et quiditate II Quid (O quê é) e a


Quididade

1. Aliter enim se habent ad 1. De fato, diversamente se


invicem ipsum quid et tem por sua vez o mesmo
quiditas quam ens et entitas. para “quid” e “quididade”
Totam enim essentiam rei, quanto “ente” e
quam importat ens in “entidade”. Assim, toda a
concreto in sua essência da coisa, que
significatione, sicut dictum infere o “ente” concreto
est, eandem importat in sua em sua significação, a
significatione entitas in “entidade em abstrato”.
abstracto. Sed sic non se Mas não se tem a
habet quiditas ad ipsum “quididade” como da
quid, quod apparet mesma ordem que o “quid”,
considerando o que é claro ao
significationem utriusque, considerarmos a
videlicet et ipsius, quod significação de ambos, que
quid est inquantum por si só, a de “quid”
huiusmodi, et ipsius enquanto seu próprio
quiditatis proprie sumendo modo e, de “quididade” ao
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 35

intentionem seu rationem tomar a intenção em seu


quiditatis. sentido próprio.

2. Ipsum enim quid, 2. Quid se considera aos


quamvis sit de numero nomes em geral, posto que
generalium nominum, quae sua significação pertença ao
sua significatione ambiunt âmbito de toda a
totam universitatem entium universidade de entes
secundum subiecta seu segundo tanto os sujeitos
quantum ad rem quanto às coisas
significatam, circa eadem significadas, em torno de
tamen diversas nomes gerais que
significationes important, ut comportam diversas e
verbi gratia: Ens significat importantes significações,
unamquamque rerum, sed para reconhecimento da
sub prima omnium palavra: Ente significa a
intentionum, qua res primo harmonia quanto às coisas,
distat a nihilo, et sicut hoc mas sob a primeira de
significat ens concretive, todas as intenções, que
idem significat entitas in primeiro dista coisas do
abstracto, sic, inquam, de nada, e do mesmo modo
numero talium nominum àquilo que significa o ente
generalium est ipsum quid. concretivo, e da mesma
forma a entidade em
abstrato, correlacionado à
natureza do nome em geral,
o próprio quid.

3. Secundum rem enim 3. De fato, (quid) significa o


significat idem quod ens, mesmo que ente, mas
sed secundum proprietatem segundo a propriedade da
significationis addit in significação, adiciona ao
significato suo modum significado o modo
essentialem, quo existit, essencial, pelo qual se
modum, inquam, manifesta, digo do que é
essentialem in generali, quo essencial em geral, de onde
36 | De Ente et Essentia

formaliter vel qualitative formal e qualitativamente


existit essentialiter. Et ita permite existir
ipsum quid in sua essencialmente. E, assim o
significatione importat quid por si-mesmo inclui
totam essentiam rei, et hoc em sua significação, toda a
in concreto. essência das coisas, e isto
concretamente.

4. Quiditas autem, quod 4. Quididade por outro


secundum abstractionem lado, descende a si por
descendit ab eo, quod est abstração segundo aquilo
quid, solum significat illud que é o quid, apenas
formale, quo res est quid significa aquilo formal,
essentialiter. Et hoc est, quando a coisa é o quid
quod communiter dicitur et essencialmente. E, isto é,
bene, scilicet quod in aquilo que bem se diz
simplicibus idem est comumente e, que se
quiditas et id, quod est conhece como no simples a
quid. Non sic in compositis quididade e o mesmo que
ex materia et forma, quia ibi quid. Não ocorre em
sola forma est quiditas. In compostos de matéria e
simplicibus autem ipsum forma, quando aqui só
simplex se toto est id, quod existe a forma que é a
formaliter est, secundum quididade. Nos simples, ele
quod dicit Philosophus in próprio e o todo em si
VIII Metaphysicae, quod, si mesmo, o que formalmente
animal esset sola anima, in é segundo a afirmação de
ipso animali quiditas et id, Aristóteles no capítulo VIII
cuius est quiditas, essent da Metafísica; se o animal
idem. Nunc autem, quia fosse só a alma, neste a
animal compositum est ex quididade animal e o quid
corpore et anima, quae est seriam uma mesma coisa.
forma eius et altera pars Agora, posto que animal
compositi, differt in eo seja um composto de corpo
quiditas et id, cuius est e alma, que é a forma das
quiditas, quia sola forma est partes que lhe compõe,
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 37

quiditas et ipsa non est difere a quididade do quid,


totum compositum. pois só a forma é quididade
e não o total do composto.

III. Ponitur quaedam III. Apõem-se uma


dubitatio cum sua dúvida e sua solução
solutione

1. Sed hic est quaestio non 1. Mas aqui existe uma


dissimulanda et ad maiorem questão antiga e ocrusa, à
veritatis indagationem qual se investigará a
movenda et solvenda. Et verdade no revelá-la e
est dubitatio in hoc, resolvê-la. A dúvida
videlicet quod, sicut se consiste por assim dizer se
habet albedo ad album, sic a relação entre a brancura e
se habere videtur quiditas o branco é da mesma
ad quid. Sed albedo et ordem do que existe entre a
album non differunt in quididade e o quid? Mas
significatione quantum ad brancura e branco não
rem significatam. Ergo diferem na significação
similiter quiditas et quid quanto à coisa significada.
non differunt in Logo, similarmente
significatione quantum ad quididade e quid não
rem significatam. diferem em suas
significações quanto à coisa
que significam.

2. Probatio assumpti est, 2. A prova é tomada


quod Philosophus dicit in daquilo que Aristóteles
Praedicamentis, quod album afirma em suas Categorias,
solam qualitatem significat. que o branco só significa
Sed constat de albedine, uma qualidade. Mas é certo
quod solam qualitatem que a brancura somente a
significat. Ergo albedo et qualidade significa. Logo,
album non differunt in brancura e branco não
38 | De Ente et Essentia

significatione quoad rem diferem em significação


significatam. Ergo, quod quanto à coisa que
dictum est, non videtur significam. Logo, aquela
verum, scilicet quod quid afirmação anterior, por si é
significat id, quod ens, inverídica; que aquilo que o
videlicet totam essentiam quid significa é o ente, toda
rei, quiditas autem solam a essência da coisa e, que
formam in rebus quididade significaria a
compositis. Ex quo quiditas forma das coisas
et quid non differunt in compostas. Donde que a
significatione quantum ad quididade e o quid não
rem significatam, ut difeririam em suas
concludit obiectio. significações quanto à coisa
significada, do que se
concluiu uma objeção.

3. Sed dicendum ad istam 3. Mas, a partir daqui,


distinguendo de discerniremos sentido e
significatione. Significare significação. Significar se diz
enim dicitur dupliciter: Uno em duplo sentido: Um
modo significare dicitur primeiro modo de
proprie, videlicet rem aliqua significar se diz próprio,
voce ad hoc deputata indicar aguma coisa por um
principaliter et per se et vocábulo qualquer,
immediate designare principalmente por si-
quantum ad substantiam mesmo para de imediato
vocis salvis variis modis designá-la quanto a sua
significandi, primo videlicet substância; primeiro ao
quantum ad speciem partis, identificar os vocábulos em
ut scilicet vel significet seus vários modos de
nominaliter seu verbaliter significandos, dispostos em
vel etiam adverbialiter, suas devidas funções
secundum quod diversi dentro de uma oração, para
modi significandi depois ensejar significar
essentiales ponunt eandem nominalmente como a um
vocem secundum verbo ou advérbio,
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 39

substantiam in alia et alia segundo os diversos modos


specie partis, ut simile, de significandos segundo a
quod est secundum substância, que
speciem partis nomen, essencialmente se
similare verbum, similiter disponibilizam
adverbium, sive etiam identicamente ao vocábulo
quoad alios modos em outra ou, outras
significandi accidentales, funções, como o verbo e o
puta significare per modum advérbio, para igualmente,
concreti vel abstracti in identificar outros modos de
eadem parte orationis, ut significandos acidentais18,
albedo et album, vel para adverbialmente
secundum nominativum significar pelo modo
casum vel genitivum et sic concreto ou abstrato em
de aliis modis significandi. cada parte da oração, à
Et sic sumendo significare brancura e ao branco, ou
proprie, sicut supra dictum segundo o caso nominativo
est, album solam qualitatem ou genitivo e assim dispor
significat secundum de outro modo significar.
Philosophum, et album et Dessa forma, tomando
albedo in significando non significar em sentido
differunt. Et sic potest dici, próprio, com dito acima,
quod quid et quiditas non segundo Aristóteles, branco
differunt in significando significa somente a
sumendo significationem qualidade e, branco e
proprie quantum ad brancura na significação
substantiam vocis, quae não diferem. Por isso se
imposita est ad pode afirmar que o quid e a
significandum. quididade não difere em
suas significações, ao tomar
significação quanto a
substância do vocábulo
imposto para significar.

4. Alio modo dicitur 4. No segundo modo de


significare communiter et significar comumente e
40 | De Ente et Essentia

magis extenso nomine com uma forma mais


significationis, ut scilicet extensa de significar, se
dicatur etiam significari id, conhece ao afirmar que
quod clauditur et também significa a si, por
importatur in intellectu aquilo oculto e retirado do
vocis et rei dicto modo entendimento do vocábulo
significatae, et sic id, quod e da coisa dita na forma de
dicto modo principaliter et significá-la, como foi
primo significatum fuit, afirmado principalmente
nunc sit secundarium et sub no modo primeiro (a
natura et proprietate qualidade); agora,
denominationis designans secundariamente, se faz sob
seu significans illud, quod a natureza e a propriedade
importatur in intellectu da denominação que
vocis et rei primo et designa seu significante
principaliter et proprie através de um
significatae, quod iam demonstrativo anafórico19,
secundum istum modum que reporta de um
erit primum et principale, vocábulo intelectivo da
quod designatur in coisa primeira e
huiusmodi significatione. principalmente significada,
que segundo tal modo foi
primeira e principalmente
designada em seu modo de
significação.

5. Et ista varietas, scilicet 5. Do mesmo modo esta


quod de principali et variedade, conhecida como
primario fiat secundarium principal e primária se faz
et denominativum, habet secundaria e denominativa,
locum in significantibus in ao ocupar seu lugar naquilo
concreto, quod que significa em concreto,
significabatur in abstracto. quanto ao que significou
Sunt etiam omnia talia in em abstrato. Compõe ainda
specie partis quantum ad toda a natureza das partes
substantiam vocis adiuncto das funções quanto à
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 41

sibi aliquo modo substância do vocábulo


significandi essentiali, qui adjunto a sim por aquele
proprie reponit talia in modo essencial de
specie partis, id est nominis significar, o qual
vel verbi vel alicuius alterius propriamente repõe a
partis orationis. natureza em seu modo
particular, isto é nome ou
vocábulo ou alguma outra
parte da oração.

6. Unde quia omnia verba 6. De onde que todos os


personalia id, quod verbos pessoais significam
significant, significant in tudo aquilo que se encontra
concreto et est illud, quod em concreto, e os
impersonalia significant impessoais
quasi in abstracto, et haec semelhantemente façam o
omnia significant per mesmo em abstrato, dado
modum actus, qui est que todos signifiquem no
modus significandi modo de ato, que é o modo
essentialis, qui reponit sic essencial de significar ao
significantia in specie partis, repor tudo o que é
quod est verbum, hinc est, significado em seu modo
quod tam personalia quam particular, decorre que o
impersonalia quantum ad verbo, quer pessoal quer
substantiam vocis propter impessoais, pertença à
adiunctum sibi dictum substância do vocábulo, em
modum essentialem face à associação de referir
significandi sunt in hac o modo essencial àquele
specie partis, quae est que é parte da oração, o
verbum. verbo20.

7. Sic de pronominibus 7. Da mesma maneira, os


primitivis et pronominibus pronomes21 primitivos e os
possessivis agendum est. possessivos também devem
Primitiva enim pronomina consentir. De fato os
significant quasi in primitivos pronominam,
42 | De Ente et Essentia

abstracto. Derivativa vero por assim dizer, ao


seu possessiva hoc, quod significar em abstrato,
significant, significant quasi conquanto os derivados,
in concreto sub modo verdadeiros possessivos,
significandi essentiali, qui significam em concreto,
est significare per modum sob o modo de significação
merae substantiae, qui essencial, que é significar
reponit in specie huius pelo modo de mera
partis, quae est pronomen. substância, que repõe a
Haec ratione exempli natureza daquela parte, que
inducta sufficiant in é o pronome. Por estas
proposito. razões os exemplos
atendem ao propósito.

8. Secundum hunc 8. Conforme este segundo


secundum modum modo de significação,
significationis communiter tomado comumente,
acceptum patet, quod brancura e branco diferem
albedo et album differunt in em seus significandos. A
significando. Albedo enim brancura seguramente só
solam qualitatem significat, significa a qualidade,
album autem significat enquanto o branco significa
aggregatum ex subiecto et o agregado de qualidade à
qualitate. Et sic potest dici coisa. Assim, nas coisas
de quiditate et eo, quod est simples se pode afirmar o
quid, videlicet quod quiditas mesmo de quid e de
solam formam significat, quididade; o quid 22
ipsum autem quid etiam in incorpora em sua
rebus compositis totam rei significação as coisas
essentiam, id est simples, por isso se
aggregatum ex materia et identifica com o ser; a
forma. Et sic supra dictum quididade23 significa
est, quod quid significat somente a forma
totum illud, quod ens significada; enquanto quod
24
importat in sua , nas coisas compostas
significatione. significa todas as partes
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 43

pelas quais um composto


se faz; aquelas que
compõem o agregado de
matéria e forma. Por isso,
acima se afirmou que o quid
significa tudo o que ente25
incorpora em sua
significação.

IV. Inducitur alia IV. Induz-se a uma


quaestio cum sua questão outra e a sua
solutione solução

1. Sed est hic quaestio, 1. Mas ainda se faz


quare videlicet distinctio presente outra questão, que
praemissa, quae attenditur por si se distingue da
inter quiditatem et ipsum anterior, entre quididade e
quid quantum ad o quid quanto à
significationem, non cadit significação, que não
inter ens et entitatem, sed compete entre ente e
simpliciter dictum est ibi, entidade, mas
quod quidquid significat simplesmente se busca
ens in concreto, significat nesse momento, quando
entitas in abstracto. tudo aquilo que o ente
significa em concreto, a
entidade significa em
abstrato.

2. Ad quod patet responsio, 2. A resposta é acessível,


quia ens et entitas porque ente e entidade
significant res sub prima significam a coisa sob a
omnium intentione, qua res primeira de todas as
primo distat a nihilo. Sed intenções, pela qual
extra primum nihil est, distancia a coisa do nada.
quod non claudatur seu Mas, alem dessa primeira
44 | De Ente et Essentia

comprehendatur in ipso. nada existe que não esteja


Secundum hoc ergo ens et contido na compreensão de
entitas, utrumque istorum si. Logo, por isso, ambos,
in significando ente e entidade,
comprehendit totam compreendem em sua
essentiam rei. significação toda a
essência26 de uma coisa.

3. Quiditas autem in 3. Por outro lado, temos a


significando se habet ex quididade significando
additione ad significationem como um adendo à
entis. Significat enim significação de ente. A
quiditas aliquid, quo quididade significa, de fato,
secundum actum formalem aquilo segundo o ato
existit res, quod potest esse formal pelo qual uma coisa
aliquid praeter aggregatum existe e, que pode exceder
in rebus compositis. aquilo agregado às coisas
compostas.

V. De essentia et esse V. A essência27 e o ser


quoad ipsorum como derivações de si-
derivationem mesmas.

1. Nunc de essentia et esse 1. Agora, ao consideremos


considerandum, et circa ea a respeito da essência e do
notandum, quod idem ser, que em suas
important in sua significações importam o
significatione et idem mesmo que ente e entidade,
significant, quod ens et e por isso toda a essência
entitas, videlicet totam rei de uma coisa, quer em
essentiam sive in substantiis substâncias quer em
sive in accidentibus, sicut acidentes, como afirmado
dictum est supra de entitate antes para a entidade e o
et ente, quamvis differant in ente, diferem em seus
modis significandi, ut modos de significação,
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 45

videlicet esse significet per quando o ser é significado


modum actus, idem autem pelo modo de ato, significa
significant ens et entitas per o mesmo que ente e, que
modum habitus et quietis. entidade pelo modo
Et sic etiam differunt habitual e neutro. E, assim,
essentia et esse. também diferem essência e
ser.

2. Sed est advertendum, 2. Mas que se note que


quod secundum conforme a diferença entre
differentiam abstracti et abstrato e concreto,
concreti non differt essentia essência e ser não diferem,
ab esse et e converso, quia posto que aquilo que
utrumque eorum hoc, quod ambos significam, o fazem
significat, significat in em abstrato, ao
abstracto, sicut per se evidenciarem em si o nome
notum est in nomine de essência. Da mesma
essentiae. Idem etiam patet forma também é evidente
de esse, quod est de genere de ser, que implica o
verborum impersonalium, gênero das palavras
quia est infinitivi modi. De impessoais em seu modo
impersonalibus autem infinitivo. Dos vocábulos
dictum est supra, quod impessoais se afirmou
significant rem suam in significarem as coisas
abstracto. Utrumque autem abstratamente. Mas, disto
istorum, scilicet tam esse ambos ser e essência
quam essentia, descendit a derivam de “eu sou, tu és,
‹sum›, ‹es›, ‹est›, quod est ele é”, que é um verbo
verbum personale pessoal que significa
significans rem suam in concretamente. Mas ser,
concreto. Sed esse dele (o verbo) descende em
descendit ab eo significans abstrato pelo modo em ato.
idem in abstracto per E, essência significa o
modum actus. Essentia mesmo pelo modo de
autem significat idem per substância com uma
modum substantiae cum qualidade, que é seu modo
46 | De Ente et Essentia

qualitate, qui modus essencial de significar, de


significandi essentialis acordo com a natureza que
reponit in specie partis, lhe compete, que segundo
quae est nomen secundum Priscianum é o nome.
Priscianum.

3. Si autem alicui placuerit 3. No entanto, se a alguém


dicere, quod essentia venit agradar afirmar que
ab esse, dicendum, quod essência provém de ser,
hoc contingit secundum isso ocorre segundo
communem derivationis derivações comuns, que
rationem, quae non semper nem sempre suscita a
importat hanc differentiam, diferença, entre o abstrato
quae est secundum e o concreto, posto que por
abstractum et concretum, múltiplas razões, um
quia multiplici alia ratione vocábulo pode derivar de
potest una vox derivari ab outros.
alia.

VI. De essentia et esse VI. A essência e o ser


quantum ad ipsorum quanto às próprias
significationem, significações, as quais
et primo proceditur procedem primeiramente
ratione das razões.

1. Quod autem esse 1. Quando, por outro lado,


significet totam essentiam ser significa toda a essência
rei, de qua praedicatur, da coisa, pela qual é
ostenditur et ratione et predicada, mostra-se a
auctoritate. razão e a autoridade.

2. Ratione sic: Quia esse 2. Em correlação à razão:


significat rem suam sub ser significa a coisa sob a
prima omnium intentione, primeira intenção de todas
qua res distat a nihilo as possíveis, que distancia a
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 47

inquantum huiusmodi – coisa do nada enquando


«prima enim rerum seu modo de ser: “a
creatarum est esse», De primeira de todas as coisas
causis propositione 4 –, creadas é o ser”, Livro das
quaelibet autem res Causas, em sua quarta
secundum totam essentiam proposição e, por outro
suam distat a nihilo et non lado, qualquer que seja a
secundum aliquod accidens coisa segundo toda a sua
sibi, sed modo essentiali seu essência se distancia do
essentialiter distat, ergo esse nada e não em face de
significat totam rei algum de seus acidentes,
essentiam, sive de mas se afasta em seu modo
substantia sive de accidente essencial28 ou
simpliciter praedicetur, et essencialmente; logo ser
non secundum aliquod significa toda a essência da
adiunctum, ut ‹homo est coisa, quer seja predicado
albus› – in tali enim da substância, quer
praedicatione non sic simplesmente do acidente
significat, sicut dictum est – e, não segundo o que lhe
, sed, si absolute et acresce ao afirmar: “este
simpliciter dicatur ‹homo homem branco”. Dessa
est›, importat in sua forma, em tal natureza,
significatione totam seguramente a predicação não
hominis essentiam. significa o que se intenciona ao
afirmar “é”, mas, ao
afirmar absoluta e
simplesmente “o homem
é”, incluso em sua
significação está toda a
essência do homem.

3. Secundo patet idem 3. Por segundo se expõe o


ratione sumpta ab intimitate mesmo por razões que
eius. Nihil enim est intimius revelam a sua intimidade.
essentiae rei quam ipsum Nada mais certo que o
esse. Sed inter omnia, quae íntimo tomado à essência
48 | De Ente et Essentia

sunt aliquid essentiae, nihil de uma coisa quanto seu


tam intimum sicut ipsa próprio ser. Mas entre tudo
essentia sibi ipsi est. Ergo o que seria essência, nada
esse est idem, quod essentia tão íntimo assim como a
rei. própria essência o é para si
própria. Logo, ser é
idêntico à essência da coisa.

4. Nec potest dici, quod 4. Nem se poderia afirmar


essentia est aliquid in se, cui que a essência fosse algo
influitur ipsum esse et em si, derivada do próprio
intimatur ei. Aut enim ser em seu íntimo. Ou
secundum hoc ipsum esse então segundo ela própria
sic influxum est substantia assim fosse um influxo de
vel accidens: si substantia, substância29 ou acidente: se
non est ibi alia substantia substância for, não existiria
quam essentia rei; si autem na coisa outra substância
dicas, quod est accidens, senão a própria essência; se
hoc non potest stare, quia por outro lado, se afirmar
nullum accidens potest esse que é um acidente, isso não
magis intimum, quam é sustentável30, porque
essentia sibi ipsi est. nenhum acidente poderia
ser mais intimo que a
essência em si-mesma.

5. Tertio arguitur ratione 5. O terceiro argumento da


sumpta ex simplicitate eius. razão se toma da
Simplicissimum enim simplicidade do ser. Tudo o
omnium eorum, quae sunt que de mais simples existe
in re, est ipsum esse. Unde e que está em uma coisa, é
ipsum potissime convenit o próprio ser. Donde por
simplicissimis entibus, puta si, dos entes convém
intelligentiis, si sunt, sed simplesmente ao considerar
prae omnibus ipsi primae o intelecto, se existente,
causae. Unde et eius mas antes de todas à
nobilissimae actionis, quae própria causa primeira.
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 49

est creatio, nobilissimus et Donde que de sua


primus est effectus, ut nobilíssima ação, que é a
dicitur 4 propositione Libri creação, o nobilíssimo e
de causis: «Prima rerum primeiro efeito, como
creatarum est esse.» Et alibi afirmado na proposição
in eodem in commento, quarta do Livro das Causas:
quod soli Deo competit “A primeira das coisas
creare. Sed nobilissima creadas é o ser”. E, algures
actio inquantum huiusmodi em comentos desta obra,
terminatur ad nobilissimum que afirma só a Deus
effectum. Nihil autem competir o crear. Mas,
pertinens ad rei essentiam nobilíssima ação enquanto
est nobilius ipsa essentia seu modo de ser finaliza
neque aeque nobile. Ergo em nobilíssimo efeito. Ora,
actio Dei nobilissima, quae nada mais pertinente à
est creatio, non terminatur essência e a nobreza da
nisi ad essentiam. Sed coisa que sua própria
terminatur ad esse. Ergo nobreza. Logo o
esse est idem, quod nobilíssimo ato de Deus,
essentia. que se faz creação, não
termina a não ser na
essência. Mas a terminação
se dá no ser. Logo ser é o
mesmo que essência.

6. Praeterea necessarium 6. Além disso, necessário


esset secundum dictam segundo essa posição, que
positionem, si esse esset se o ser acidente fosse, a
accidens, quod prima primeira essência derivaria
essentiarum haberet aliud de outro princípio quão
principium quam Deum, Deus, ou se afirmar que as
vel oporteret dicere, quod coisas de Deus
res procederent a Deo procedessem a partir
mediante aliquo accidente, daquele acidente, que seria
quod esset formaliter a causa formal do mesmo
causale principium ipsis princípio das coisas, que de
50 | De Ente et Essentia

rebus sic procedentibus a Deus procedem, como se


Deo, quia «prima rerum diz “a primeira das coisas
creatarum est esse», sicut creadas foi o ser”.
dictum est.

7. Praeterea idem arguitur 7. Demais, se prova pela


ex causalitate ipsius esse. causalidade do próprio ser.
Ipsum enim esse est Em si o ser é
maxime causale in genere absolutamente causal no
causarum formalium et est gênero das causas formais e
causativum substantiae é creador da substância
secundum auctorem Libri de segundo o autor do Livro
causis in commento, qui sic das Causas em seus
ordinat: esse, vivum, comentos, que assim
rationale, homo, qui est orienta: o ser, o vivo, o
substantia. Huius autem racional e, o homem, são
substantiae, videlicet substâncias. Daí, destas, o
hominis, inter dictas formas homem ser a causa
maxime est causa et máxima, que nele
vehementioris impressionis vivamente impregnada se
ipsum esse, sicut ibi dicitur. faz seu próprio ser. Logo,
Ergo necessario ipsum esse por necessário, o próprio
est substantia significans ser é a substância que
substantiam et eam totam, significa em sua totalidade,
cuius ipsum est causa e por si é causa segundo o
secundum modum modo das formas, que
formarum, quae sunt correspondem a um todo.
formae totius. Tales enim Assim, naturalmente são
sunt formae praedictae. Et formas predicadas. E, do
sicut dictum est de esse mesmo modo que se diz de
respectu hominis, sic se ser a respeito do homem,
habet esse ad omnem se diz de todas as outras
rerum universitatem, sicut coisas em sua
dicitur 4 propositione De universalidade, conforme a
causis in commento sic: «Et proposição quarta do Livro
non est post primam das Causas em seu
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 51

causam latius neque prius comento: “Após a causa


causatum ipso. Propter illud primeira, nenhuma ação
ergo factum est superius existe que não seja por essa
rebus creatis omnibus et causada e, tampouco existe
vehementius unitum.» Ex alguma causada antes; ele
his ergo arguitur, quod esse (o homem) foi creado
significat totam essentiam vivamente sobre todas as
cuiuscumque rei. outras creações, não
obstante a elas estar
unido”. Daqui se conclui
que o ser significa toda a
essência que envolva
coisas.

8. Praeterea ista 8. Ainda, esta


universalitas et latitudo universalidade e extensão
ipsius esse est per essentiam do próprio ser ocorre por
suam. Sed intra istam sua essência. Mas nesta
latitudinem et extensão e universalidade
universalitatem compreendida como o
comprehendit etiam intelecto, na qual não cabe
intelligentias, in quibus non nenhum acidente. Logo
cadit aliquod accidens. Ergo esse predicado de
esse praedicatum de intelectual não significa a
intelligentiis non significat não ser a mesma substância
nisi ipsarum substantiam et e essência. E, ainda a razão
essentiam. Et eadem pela qual o predicado não
ratione de quocumque significa a não ser a
praedicatum non significat essência, daquilo que
nisi essentiam eius, de quo predica.
praedicatur.

9. Ergo patet ratione, quod 9. Logo fica claro que ser


esse significat totam significa toda a sua essênca,
essentiam eius, de quo pela qual é predicado.
praedicatur.
52 | De Ente et Essentia

VII. Proceditur ad VII. Procedendo a


propositum auctoritate propósito da autoridade

1. Idem ostenditur 1. O mesmo se mostra pela


auctoritate Libri de causis autoridade do Livro das
propositione 2: «Omne esse causas, na proposição dois:
superius aut est superius “Todo o ser superior ou é
aeternitate et ante ipsam aut pela autoridade suprema e
est cum aeternitate aut est ante si-próprio, ou é com a
post aeternitatem et supra eternidade, ou é após a
tempus.» Primum istorum eternidade e supra o
est Deus secundum tempo”. Segundo o
commentum, secundum comento, primeiro é Deus,
intelligentia, tertium est por segundo é o intelecto e,
anima. Et ita est hic por terceiro a alma. E
distinctio essentiarum sub assim é o que se distingue
nomine ipsius esse. Ergo de essência sob o próprio
esse significat essentiam nome ser. Logo ser
rerum. significa a essência das
coisas.

2. Praeterea in eodem libro 2. A seguir na quarta


propositione 4: «Prima proposição do mesmo livro
rerum creatarum est esse.» temos: “A primeira das
Sed esse non importat nisi coisas creadas foi o ser”.
actum essendi. Ergo nihil Mas o ser não implica a
aliud est dicere ‹prima não ser o ato de ser. Logo
rerum creatarum est esse› nada diverso seria dizer: “a
quam ‹prima rerum primeira coisa creada foi o
creatarum est aliqua ser”; tanto como “a
essentia secundum actum›. primeira das coisas creadas
Et hoc est, quod dicitur in foi aquela essência segundo
commento eiusdem o ato”. É exatamente isto
propositionis: «Et esse que afirma o comento
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 53

quidem causatum primum dessa proposição: “E, o ser


est intelligentia.» Ergo esse causado primeiramente foi
significat rei essentiam. o intelecto”. Logo o ser
significa a essência da coisa.

3. Praeterea Boethius libro 3. Da mesma forma,


De Trinitate: «Omne esse ex asseverou Boecius no livro
forma est», id est omnis De Trinitate: “Todo ser é
essentia secundum actum derivado de uma forma”,
habens suam speciem est ex isto significa que toda a
forma. Quod iste sit sensus essência segundo o ato tem
inductae auctoritatis, sua natureza provinda da
ostendit Boethius ibidem, et forma. Sentido este
ista sunt verba sua: «Statua induzido da autoridade,
enim non secundum aes, ainda no mesmo local
quod est eius materia, sed ostenta Boecius em suas
secundum formam, quae in próprias palavras: “Não é
ea insignita est, effigies pela matéria do bronze, que
animalis dicitur. Ipsum em si se diz notável, que
quoque aes non secundum uma escultura se faça
terram, quae est eius esfingíe de um animal, mas
materia, sed dicitur segundo a sua forma
secundum aeris figuram. singular. E o bronze não é
Terra quoque ipsa non matéria segundo a terra,
secundum informem mas pela forma do ser que
materiam dicitur, sed nele se imprime. A própria
secundum siccitatem terra31 em si não é
gravitatemque, quae sunt denominada pelo que
formae. Nihil ergo informa, mas em face de
secundum materiam esse sua sequidão e seu peso,
dicitur, sed secundum que se lhe determina uma
propriam formam.» forma. Logo, nada se diz
Hucusque verba Boethii. segundo a matéria, mas sim
pela própria forma”. Aqui,
palavras de Boecius.
54 | De Ente et Essentia

4. Manifestum est igitur ex 4. Por conseguinte,


his exemplis, quorum manifesto é destes
primum est de genere exemplos que, o primeiro
artificialium, reliqua sunt in pertence ao gênero dos
naturalibus, quod esse artefatos e, o restante à
significat essentiam rei, natureza, quando ser
quae est aliquid secundum significa a essência da coisa,
actum, quod est que é conforme o ato, a
propositum. que se propõe.

5. Et in hoc differt esse a 5. E, aqui se difere ser e


quod est, quia esse designat quod (pelo que); ser designa
totam rei essentiam, quod toda a essência da coisa,
est autem significat aliquam enquanto quod por outro
partem rei in rebus lado significa as partes
compositis. In simplicibus pelas quais um composto
autem, quia non est ibi pars se faz. Nas coisas simples
et pars, idem est ibi esse et não existe a matéria
quod est. Unde Boethius fracionada; o ser e o quid se
loquens ibi de simplici identificam. Daí Boecius ao
divina substantia dicit: «Sed definir a substância divina,
divina substantia sine ter afirmado: “A substância
materia forma est, atque divina é forma sem matéria,
ideo unum est, et est id, por isso é uno e, é o quê é
quod est. Reliqua enim non (quid)”. O restante não
sunt id, quod sunt. consiste daquilo que são.
Unumquodque enim habet Quaisquer sejam, tem seu
esse suum ex his, ex quibus ser a partir daquilo
est, id est ex partibus suis, constituído por suas partes;
et est hoc atque hoc, id est portanto derivados de uma
partes suae coniunctae, sed porção conjunta, mas nesta
non hoc vel hoc não residem
singulariter.» Et ponit singularmente”. Assim deu
exemplum de homine, qui o exemplo do homem, que
non est solum anima vel não é apenas alma ou
solum corpus, sed corpo, mas a sua
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 55

coniunctum, ut dicit. Et conjunção, como afirmou.


ideo differt in homine esse Por isso, no homem, o ser
32
et quod est. Et subdit ibi e o quod diferem. Na
sic: «Quod vero non est ex sequência afirmou: “O que
hoc atque hoc, sed tantum não consiste disso ou
est hoc, illud vere est id, daquilo e, é tão-só isto, é
quod est.» Ex his ergo realmente o quid”. Logo
patet, quod esse significat fica evidente que o ser
essentiam rei. significa a essência da coisa.

6. Et hoc est, quod dicit 6. Da mesma forma,


idem Boethius in libro De Boecius reafirma em sua
hebdomadibus propositione 2: obra De hebdomadibus, na
«Diversum est esse et id, proposição segunda: “Ser e
quod est; ipsum enim esse o quod diferem porque o ser
nondum est; at vero quod está no porvir, conquanto o
est accepta essendi forma quod ao incorporar sua
est atque consistit.» forma de ser já consiste”.
Comparat hic esse et quod Compara, pois o ser e o
est, id est totum et partem, quod, isto é o todo e a parte,
et dicit, quod «id, quod est», para afirmar: “aquilo que é
id est pars, «accepta essendi o quod” é uma parte “após
forma», id est inquantum concebida sua forma de
stat sub formalitate totius, ser”, significa que está
quod vere est esse, «est subssumida na formalidade
atque consistit», ut manus do todo, que é o verdadeiro
et pes et ceterae partes, ser, ou seja “existe e
quae in eo, quod sunt, stant consiste”, tal como as mãos
sub formalitate totius. Et e os pés e outras partes do
hoc est participatio, qua id, corpo existem e se
quod est aliquid, participat subsumem no todo. Essa
formalitatem totius ad hoc, participação na forma do
quod sit. todo, permite que o quod
exista.
56 | De Ente et Essentia

7. Ipsum autem esse, id est 7. No entanto, no próprio


totum, ut homo, nullo ser, isto é do todo, o
modo participat, sed homem de nenhum modo
secundum suam propriam participa, mas existe
formam est id, quod est, ut segundo sua própria forma,
dicit in sequenti proxima o quid, como afirma na
propositione. Item in illa, proposição que segue: “O
quae sequitur, dicit: «Id, quod pode até ter mais além
quod est, habere aliquid, daquilo pelo qual ele é,
praeterquam quod ipsum enquanto o ser nada mais
est, potest; ipsum vero esse tem miscuído em si-
nihil aliud praeter se habet mesmo”. Se nesta
admixtum.» Si in hac proposição entendermos o
propositione intelligamus quod como uma parte, fica
per «id, quod est» partem, evidente aquilo que
planum est, quod dicit, quia Boecius intenciona ao
pars habet sibi adiunctam afirmar que a parte está
aliam partem in eodem misturada a outras partes
toto. Ipsum autem totum dentro de um mesmo todo,
nihil habet sibi adiunctum, enquanto o todo não tenha
quo habeat esse suum, sed qualquer amalga para ser,
sua formalitas sibi sufficit pois lhe é suficiente sua
ad hoc, quod habeat esse. formalidade.

8. Si autem secundum 8. Segundo Aristóteles,


commentatorem in eodem retomemos àquilo que
loco accipiamus «id, quod representa o quod no acima
est» aliquam determinatam abeirado, como algo que
naturam seu aliquam rem designa uma definida
secundum determinatam natureza para o corpo,
suam quiditatem, ut corpus, conforme sua quididade
tunc potest habere aliquid determinada; nesta
sibi adiunctum, ut colorem. condição ao quid se lhe
Ipsum autem esse pode acrescentar episódios,
secundum suam como a cor. Porém, ao
universalitatem acceptum, próprio ser em sua acpeção
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 57

quia claudit in se totam de universalidade, dado


rerum universitatem, nihil encerrar todo o universo de
potest habere adiunctum coisas, nada se poderia
seu permixtum. acrescentar ou sobrepor.

9. Praeterea 5 propositione 9. Posteriormente, na


dicit: «Diversum est tantum proposição quinta,
esse aliquid et esse aliquid Aristóteles afirma: “É
in eo, quod est. Illic enim diverso ser alguma coisa e, ser
accidens, hic substantia alguma coisa no quid. A
significatur.» Secundum primeira espressão aponta
commentatorem super para o acidente, enquanto a
istam propositionem haec segunda para a substância”.
dictio exclusiva «tantum» Segundo o filósofo, o
excludit istam vocábulo “simplesmente” é
determinationem, scilicet restritivo da determinação
«in eo, quod est», ut si de quod. Quando se diz que
dicatur aliquid esse aquilo é um triângulo, ou é
triangulare vel album, non branco, não é possível
potest ei addi ista adicionar esta determinação
determinatio, scilicet «in eo, àquilo que se denomina de
quod est». Et dicitur hic quid, se ele tiver uma
esse aliquid secundum determinação acidental. Por
aliquod accidens secundum isso, Aristóteles comenta:
commentatorem, qui dicit: “Nestes só subsistem
«Hoc loco solum subsistens aquilo que é pelos
solis accidentibus dicitur acidentes”. Esta proposição
esse aliquid.» Hoc, quod é muito clara, tanto que
sequitur in propositione, Boecius a entende como
planum est. Et ista de suficiente.
Boethio inducta sufficiant.

10. Praeterea secundum 10. Mais que isso, segundo


Philosophum in IV Aristóteles em sua
Metaphysicae unaquaeque res proposição quarta da
dicitur ens et unum per Metafísica, de uma coisa
58 | De Ente et Essentia

suam essentiam, non per qualquer se diz ser ente e


aliquam dispositionem ao mesmo tempo una por
superadditam essentiae. Sed sua essência. Porém ser e
esse et ens sunt eiusdem ente derivam de uma
rationis et ordinis. mesma razão e ordem.
Quantum ad hoc ergo Logo, quanto a isso, de
unaquaeque res dicitur esse uma coisa qualquer se
per suam essentiam. Et sic afirma ser por sua essência.
esse significat essentiam Assim, ser significa a
uniuscuiusque rei. Probatio essência de qualquer coisa
consequentiae: Sicut se que seja. Por consequência
habet currere ad currens, sic se prova que: assim como
se habet esse ad ens. Sed se tem o verbo correr para
impossibile est, quod uma corrida, se tem ser
currere dicat aliquam para o ente. Mas é
dispositionem circa impossível, quando à
substantiam currentem et corrida se tenta afirmar
currens nec importet uma disposição da
eandem dispositionem. substância, conquanto
Ergo eadem ratione, si esse correr não implica igual
importat aliquod additum disposição. Logo, pelas
rei, de qua dicitur, mesmas razões, se ser
impossibile est, quod ens importa o adicionado à
non importet eandem coisa da qual se refere, é
dispositionem circa rem. Et impossível que o ente não
ita res non dicetur ens et implique essa mesma
unum per suam essentiam, intenção sobre a coisa.
quod est contra Dessa forma, não se diz de
Philosophum. uma coisa ser ente e uno
por sua essência, o que
contradiz Aristóteles.

11. Praeterea Augustinus 11. Finalmente temos


libro De immortalitate animae Agostinho, que afirmou no
c.16 dicit: «Omnis essentia capítulo XVI do livro De
non ob aliud essentia est, Immortalitate Animae: “não
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 59

nisi quia est.» Ergo essentia por acaso, que toda


re et nomine non differt ab essência seja essência, a não
esse. Alias ratio Augustini ser pelo que é”. Logo, a
in loco illo non concluderet essência de uma coisa não
ad suam intentionem: Si difere do ser tampouco
enim esse differt ab pelo nome. De Agostinho,
essentia, quid haec ad uma razão para que seu
essentiam, quod esse non conceito não fosse
habet contrarium nisi non concludente: se de fato ser
esse et quod ex hoc diferisse de essência, como
concludatur, quod essentia poderia o estatuto da
non habet contrarium? essência inferir a lógica de
Ergo esse significat que o ser nada mais tivesse
essentiam rei, de qua que não, o não-ser? Logo,
praedicatur simpliciter et o ser significa a essência da
absolute, ut ‹homo est›, coisa, da qual se predica
‹albedo est›, et sic de aliis. simples e absolutamente,
como: “homem é...”;
“brancura é...” e assim,
outros.

12. Patet igitur, quod esse 12. Por conseguinte fica


significat essentiam. Iuxta claro que ser significa a
hoc etiam ostensum est de essência. Daí aqui se
significatione eius ‹quod est› mostrar qual a significação
tam in rebus simplicibus de quid quer nas substâncias
quam in compositis. simples quer nas
compostas.

VIII. De quo est VIII. No que consiste o


quod

1. Si autem loquamur de 1. Se de outra forma,


quo est quantum ad eius falarmos sobre o que seria
significationem, sciendum, o quod quanto a sua
60 | De Ente et Essentia

quod dupliciter possumus significação,


loqui de quo est secundum encontraríamos duas
duplicem ipsius possibilidades de fazê-lo;
comparationem, quia vel ao comparar o próprio
comparamus ipsum quo est quod e o ser mesmo e, ao
ad esse vel comparamus tentar defini-lo a partir do
ipsum ad quod est. que ele consta.

2. Si fiat comparatio ad 2. Ao se fazer a


esse, tunc esse et quo est comparação de quod com
differunt sicut principium ser, se verá que são
et principiatum in genere divergentes como o
causae formalis, et istud, princípio de origem e, o
quod importat modum princípio dominante33 do
principii in proposito, est gênero da causa formal;
esse, et hoc dupliciter, quia isto importa ao ser, pois
vel importat formam, quae dessa proposição surge dois
est altera pars compositi, modos de princípio, um
sicut supra inductum est, que importa a forma, que é
scilicet inquantum nihil a outra parte do composto,
secundum materiam esse como acima se asseverou
dicitur, sed secundum que nada se poderia afirmar
formam suam, qua aliquid de ser em face de sua
est, vel designat matéria, mas sim segundo a
formalitatem totius, quam sua forma, pela qual é, ou
participant partes, ut sint, ao designar a formalidade
sicut dictum est supra. do todo, onde as partes
completam a essência,
como também já se
afirmou.

3. Si autem quo est et quod 3. Se por outro lado


est ad invicem compararmos o quod e o
comparentur, secundum quid, segundo aquilo que se
hoc quo est dupliciter pode significar duplamente
significare potest, e, segundo o que quod é em
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 61

secundum quod ipsum suas múltiplas significações,


quod est in sua isto é, partes da
significatione variatur, composição da coisa;
quoniam, si ipsum quod est portanto o quod existe ao
significet partem rei in significar o azado ser e,
compositis, ipsum quo est assim quod significa tanto a
significando importat ipsum formalidade do todo,
esse, quod significat quanto as próprias partes
formalitatem totius, quam de que participa e que
ipsa pars participat ad hoc, constitui; disto, se lhe
quod sit; si autem quod est afirmar subsistir segundo o
dicat aliquod suppositum ato de ser; quer seja toda a
sive in simplicibus sive in substãncia nas coisas
compositis, tunc ipsum quo simples, quer seja na forma,
est significat aliquid quer nas coisas compostas,
formale, quo secundum quando se faz pelas partes
actum essendi subsistat id, do composto, para que ele
de quo dicitur, sive hoc sit seja, o que também é
tota substantia in rebus sgundo o ato.
simplicibus, sive sit forma,
quae est altera pars
compositi, qua compositum
est id, quod est secundum
actum.

4. Sed haec hactenus de 4. Isso basta acerca do ser e


esse et quo est et de esse et do quod, tanto como do ser
quod est. e do quid.

IX. De existentia et IX. A existência e a


subsistentia subsistência

1. Ceterum de existentia et 1. Ademais, a respeito da


subsistentia entium, quae existência e subsistência
etiam videntur esse de dos entes, os quais parecem
62 | De Ente et Essentia

numero generalium se incluir nos nomes gerais,


nominum, non oportet não carece de muito se
multum intendere, estender, pois que assim
quoniam, sicut se habet como se tem a essência
essentia ad esse, sic se habet para o ser, e existência para
existentia ad existere et o existir, tem-se a
subsistentia ad subsistere. subsistência para o
subsistir.

2. Sed dicit Augustinus et 2. Mas de Agostinho


supra inductum est, quod temos, o que aqui já foi
«omnis essentia non ob mencionado, que: “não por
aliud essentia est, nisi quia acaso, que toda essência
est.» Et sic essentia non seja essência, a não ser pelo
differt ab esse. Sic que é”. Disso resulta a
dicendum est de existentia essência não diferir do ser
et existere et subsistentia et e, a mesma coisa para a
subsistere. existência e existir e, a
subsistência e o subsistir.
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 63

S E C UN D A PARS P A RT E S E G U N D A

I. Praemissa intentione I. Premissa intencionada


contradicentium ponitur como dissolução de
prima ratio cum contraditos às razões
solutione sua anteriores

1. Sed sunt nonnulli, qui 1. Mas, existem aqueles que


praehabitis contrarium avessamente entendem o
dicunt et docent innitentes que acima foi dito e, ao se
quibusdam sophisticis estenderem em
rationibus, quibus non sine ensinamentos estribados
periculo et gravi iactura em razões sofísticas, que
verae doctrinae decipiuntur. não só enganam a si como
Dicunt enim, quod in também se fazem ameaças
omnibus entibus creatis graves à verdadeira
differunt essentia doutrina, ao caírem nessa
uniuscuiusque a suo esse armadilha. Estes amparam
reali differentia, et quod a essência como diversa
sint idem, solum est hoc dos entes34, por terem seu
possibile in prima causa, ser por uma diferença real
quae Deus est. e, que a identidade da
essênia só é possível na
causa primeira, Deus.

2. Rationes autem, quibus 2. As razões pelas quais eles


hoc nituntur probare, non se apoiam para provar o
est difficile solvere, quarum que estimam, não são
una fundatur super modum difíceis de serem
intelligendi, quae talis est: contraditas; a primeira
«Quidquid non est de fundamentada pelo modo
intellectu essentiae vel de inteligir, quanto a sua
quiditatis, hoc est adveniens natureza: “Aquilo que não
extra essentiam et faciens procede da essência ou
compositionem cum quididade do intelecto,
essentia, quia nulla essentia provém de fora da essência
64 | De Ente et Essentia

sive quiditas sine his, quae para constituir a essência


sunt partes eius, intelligi do composto, dado que
potest. Omnis autem nenhuma essência seja
essentia potest intelligi sine quididade sem esta, pela
hoc, quod intelligatur qual entende aquilo que
aliquid de esse suo actuali. envolve o seu ser atual.
Possum enim intelligere, Posso pensar o que é o
quid est homo vel phoenix, homem ou a fênix e, ainda
et tamen ignoro, utrum esse assim ignorar se existem
habeat in rerum natura.» estas coisas na natureza”.
Patet ergo, quod in Logo, é patente que, neste
huiusmodi aliud est esse, modo, aquilo que é o ser
aliud essentia. diverge da essência.

3. Sed ista ratio deficit in 3. Mas esta razão é


suo fundamento, quod deficiente em seu
assumit, scilicet quod fundamento, quando
«omnis essentia potest assume o conhecimento
intelligi sine hoc, quod pelo qual: “toda a essência
intelligatur aliquid de suo pode ser inteligível sem
esse actuali. Possum enim aquilo, que nada se saiba de
intelligere, quid est homo» seu ser atual. Posso de fato
et cetera. Istud assumptum pensar o que seria o
est causa deceptionis in homem e outras coisas”.
dicta ratione. Esta presunção é a causa da
decepção em dita razão.

4. Si enim loquamur de 4. Se falarmos da


significatione essentiae significação da essência
quantum ad rem quanto à coisa significada,
significatam, falsum est, de fato seria falso o pelo
quod assumitur, scilicet que se assumir: “que toda a
quod «omnis essentia potest essênciia pode ser inteligida
intelligi» et cetera. Quando e outras coisas”. Quando
enim intelligo hominem, de fato penso o homem,
intelligo hominem penso segundo seu ser em
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 65

secundum actum suum ato dentre outras coisas da


essendi in rerum natura, natureza; segundo o que
secundum quod supra afirmou Agostinho em
dictum est de sententia citação anterior: “não por
Augustini, scilicet quod acaso, que toda essência
«omnis essentia non ob seja essência, a não ser pelo
aliud essentia est, nisi quia que é”. Assim, não posso
est.» Secundum hoc ergo pensar a essência do
non possum intelligere homem, a não ser em seu
essentiam hominis, nisi ser em ato.
intelligam esse actuale eius.

5. Sed quod coassumitur, 5. Mas, aquilo coassumido,


quod ignoro, utrum homo o ignorar se porventura o
sit in rerum natura, hoc non homem existe na natureza
est inconveniens, quia entre as coisas, isso não
intelligendo essentiam seria algo censurável, pois
hominis intelligo tamquam ao inteligir a essência do
quoddam incomplexum, in homem, da mesma forma a
quo nec est veritas nec entendo em sua
falsitas. Intelligendo autem simplicidade, na qual não
ipsum hominem esse iam existe verdade tampouco
intelligo illud idem, sed per falsidade. Porém, ao
modum complexi, in quo inteligir o que o próprio
attenditur veritas vel homem seria, o faço em
falsitas. Unde non est seu modo de
inconveniens aliquid complexidade,
intelligere per modum acrescentado de verdades e
incomplexi non intelligendo falsidades. Disto resulta
ipsum per modum não existir qualquer
complexi. inconveniente pensá-lo em
seu modo de simplicidade.

6. Sic enim posset etiam 6. Assim, da mesma forma,


dici de intellectu huius posso dizer do
nominis ‹Deus›, quod entendimento35 do nome
66 | De Ente et Essentia

potest intelligi absque hoc, “Deus”, que pode ser


quod intelligam hanc ‹Deus entendido sem que se
est›. Possum etiam aliquid pense na proposição “Deus
intelligere nominaliter non é”. Posso também entender
intelligendo illud idem como algo nominal e, não
verbaliter, etiamsi idem de entender pelo modo verbal,
se praedicatur, qua ainda que agora eu
secundum Boethium nulla predique na forma como
propositio verior est, ut si Boecius o percebeu, isto é
fiat sermo non solum de nenhuma proposição ser
ista ‹homo est›, sed etiam de uma verdade absoluta,
ista ‹homo est homo›. como o fez ao afirmar que
não somente o “homem é”,
mas ainda “o homem é
homem”.

7. Sed circa hoc notandum, 7. Porém, a esse respeito


quod verbum importat poderíamos acrescentar que
quandam compositionem, uma afirmação implica uma
quam sine compositis non ordenação, da qual nada se
est intelligere, ut dicit pode avaliar sem seus
Philosophus in Peri compostos, como o fez
Hermeneias, quam Aristóteles em seu tratado
compositionem dicimus Peri Hermeneias (A
copulam verbalem, quae Interpretação), composição
dupliciter potest cadere in que predicamos de “cópula
locutione: uno modo, ut verbal”, a qual é possível
teneat omnino medium considerar duplamente
locum et voce et verbal: um primeiro ao ter
significatione, et tunc em geral uma posição
ponitur in locutione semper intermediária entre o
explicite dicendo sic: Homo vocábulo e sua significação,
est homo. Et sic idem ao surgir sempre
inquantum idem explicitado como ao se
praedicatur de se. Et per afirmar “O homem é
istum modum nulla homem”; ou seja, enquanto
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 67

propositio verior est illa, in predica a si-mesmo. E, por


qua idem praedicatur de se. este modo nenhum
propósito é mais
verdadeiro que aquele pelo
qual a si se predica.

8. Alio modo dicta copula 8. O segundo modo de dita


verbalis potest cadere in cópula verbal pode ocorrer
locutione, ut teneat se ex na locução, ao ter em si a
parte praedicati. Et hoc parte predicada. Isto é claro
planum est, si implicite se implicitamente estiver
ponatur in praedicato, ut alocado no predicado
‹homo currit› et ‹homo est›; como em “O homem
vel etiam, si ponatur corre” e “O homem é”; ou
explicite, potest intelligi se ainda, se estiver explicitado,
tenere ex parte praedicati, é possível inteligir se tem
ut ‹homo est homo›. Tunc uma parte predicada como
non intelligitur simpliciter “O homem é homem”. Daí
idem praedicari de se, quia não entender simplesmente
ex vi et proprietate a mesma predicação de si,
locutionis terminus positus que pela força e
ex parte subiecti accipitur propriedade do termo
sub modo potentiae, sed posto ao lado da locução
terminus positus ex parte para definir o sujeito, é
praedicati designat modum tomado sob o modo de
actus. Et propter hoc potência, mas se posto no
homine non existente ista lado do predicado indica o
est falsa ‹homo est homo›, modo em ato. Por isso, ao
et non solum illa ‹homo não existir o homem, a
est›, sed etiam ista ‹homo proposição “O homem é
est homo›, sicut ista est homem” é falsa, como o é
falsa ‹homo ratiocinatur› a outra proposição “O
homine non existente, sicut homem é”, e qualquer
etiam ista, si sic liceret hanc, outra semelhante como “O
scilicet ‹homo est homo›, homem raciocina” e, da
resolvere in istam ‹homo mesma forma, o homem
68 | De Ente et Essentia

hominat›, esset falsa não existindo, seria falsa a


homine non existente. proposição “O homem
hominati eritis”.

9. Sed tu dices: Non 9. Mas se tu afirmares não


possum intelligere Deum, poder inteligir Deus sem
quin intelligam ipsum esse que o faça em seu Ser
in rerum natura. mesmo em meio à
Respondeo, quod hoc nec natureza, responderei que
est ex vi huius termini tal não ocorre em face de
‹Deus›, qui significat rem que a força do termo
suam absolute non “Deus”, que o significa em
implicans verbalem sua absolutidade não
copulam in sua implica a cópula verbal, em
significatione, sicut dictum sua significação, como se
est supra. afirmou acima.

10. Sed si necessarium est 10. Mas se imperativo for


te ipsum intelligere esse in inteligi-lo como um Ser
rerum natura, hoc contingit entre as coisas da natureza,
vel experientia aliqua vel ex por uma contingência ou
aliquo habitu, puta ex por aquela experiência do
habitu fidei, vel etiam ex hábito, como a que provém
aliqua conclusione da fé ou de alguma outra
demonstrative conclusa, consumação demonstrativa
propter quam non potes já conclusa, propriamente
dubitare de tali veritate, sed não poderias duvidar de tal
habes de ea certitudinem verdade, mas dela tens uma
infallibilem. certeza indubitável.
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 69

II. Inducitur alia ratio II. Induz-se


ipsorum cum sua consideração outrem
solutione para a mesma ação e,
consequente análise

1. Est et alia ratio, cui 1. Existe outra razão pela


innituntur volentes qual se estribam aqueles
ostendere, quod omnis ostentam ser toda essência
essentia creata differt a suo creada diversa de seu ser,
esse, quae talis est: Omne como: tudo aquilo que
participans aliquid differt ab participa de alguma coisa,
ea re, quam participat. Sed dela difere. Mas, toda a
omne creatum participat creatura participa do ser
esse ab eo, qui est esse que dele deriva, que seria o
purum, scilicet Deo. Ergo ser em sua pureza absoluta,
omne creatum differt a suo Deus. Logo todo o creado
esse. difere de seu originario.

2. Dicendum ad hoc, quod 2. Para responder a isso é


participare aliquid tripliciter possível fazê-lo sob três
potest intelligi: uno modo, maneiras de entendimento:
ut intelligatur aliqua res um primeiro modo ao
habere aliquid et recipere ab entender que uma coisa
extrinseco. Et sic omnis possui e recebe algo
creatura participat esse exterior a si. Toda a
suum a primo et puro esse, creatura tem em si a
quod est Deus. Et non participação de seu ser
solum esse suum sic originário e puro, que é
participat, sed totam Deus. Não apenas isso,
essentiam suam mas também toda a sua
indifferentem ab esse suo. Essência, indistintamente,
Unde dicitur in Libro de emana ao ser creado.
causispropositione 20: «Res Donde no Livro das
omnes sunt entia propter Causas, de sua proposição
ens primum et omnes res vigésima, consta: “Todas as
vivae propter vitam coisas que são entes,
70 | De Ente et Essentia

primam» et cetera. derivam do Ente primeiro e


Secundum hunc modum todas as coisas viventes
participandi, sicut dicitur, derivam da Vida primeira”.
quod, quia participant esse, Segundo seu modo de
ideo differt in eis essentia et participação, se pode
esse, ita potest dici, quia afirmar que, conquanto
participant essentiam dicto participem do Ser, essência
modo, ideo differunt e ser diferem em todas as
huiusmodi a sua essentia, creaturas, mas também se
quod patet esse falsum. pode afirmar que, de outro
modo, entre si diferem em
suas essências, o que se
manifesta infido.

3. Alio modo potest intelligi 3. Outra forma de


participatio, ut videlicet entendimento é possível ao
supposita essentia rei entender a participação,
recipiat aliquid aliunde, quando se observa a
quod cum essentia faciat essência daquilo derivado
aliquam compositionem. Et d`outra parte, se faz assaz
si hoc intendant, da composição. Se esta for
respondendum est per uma pretensão, a resposta é
interemptionem, quod nulla por sua cessação, posto que
creatura sic participat esse. nenhuma creatura assim
participe do Ser.

4. Tertio modo potest 4. O terceiro modo se pode


intelligi participatio, ut entender pela participação
participare dicatur quasi da qual se diz tomar parte
partem capere. Et sic omnis em...
creatura participat suum Assim, toda a creatura
esse quasi partem capiens participa de seu ser ao
illius summi et puri esse, participar do Ser supremo e
quod est in Deo, quia in puro, Deus, porque na
creatura est esse creatura o ser é
determinatum et limitatum determinado, limitado e
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 71

et sic quasi contractum in contraído como uma parte,


partem, quod in prima condquanto que na
causa est secundum Primeira Causa é segundo
totalitatem suam et sua totalidade e, de todo
omnimodam simplicitatem modo, a simplicidade e a
et amplitudinem omnia amplitude que abarca todo
circumplectens. Ex hoc o cingido. Daqui não se
autem non sequitur, quod segue que a essência da
essentia creaturae differat a creatura difira de seu Ser,
suo esse, immo e converso, pelo contrário e ao inverso,
quia esse non trahitur sic in que ser não se retrai em
partem, sicut dictum est, uma parte, como se diz, a
nisi per aliquid sibi não ser por aquilo que a si
essentiale, quod non é essencial; é, pois senão a
invenitur aliud quam essência da coisa na qual e
essentia rei, in qua et per pela qual se contrai e se
quam contrahitur et determina esencialmente.
determinatur essentialiter.

5. Circa hoc autem, quod 5. Quanto ao que se diz


dicitur, quod in Deo est que em Deus existe o ser
purum esse, notandum, puro, notadamente, é uma
quod hoc, quod dicitur referência ao predicativo
purum, potest intelligi “puro”, pelo qual se pode
habere vim dictionis entender a força de uma
exclusivae sub hoc sensu, ut expressão exclusiva sob o
intelligatur ibi purum esse, sentido em que aqui se
id est causatum esse, cum intelege Ser puro e, Ser
exclusione aliarum causal, com exclusão de
quarumlibet perfectionum, quaisquer outras perfeições,
scilicet bonitatis et como a bondade, a
sapientiae et aliorum sabedoria e demais
attributorum. Et sic falsum atributos. Assim é falso que
est in Deo esse purum esse. em Deus exista o ser puro.
72 | De Ente et Essentia

6. Alio modo potest intelligi 6. Outro modo de


et vere, quod in Deo est entendimento e,
purum esse, id est esse non verdadeiro, é que em Deus
limitatum, non contractum exista o Ser puro e, não
per aliquam limitado, não adstrito por
determinationem aquela determinação
supervenientem. Et sicut in superveniente. Assim em
Deo est purum esse, ita in Deus existe a pureza do
eo est pura bonitas et pura Ser, como também a pura
sapientia, et sic de aliis bondade e sapiência, e
attributis non contractis, outros atributos não
non limitatis. Et tale esse constritos e limitados. Esse
non invenitur in creaturis, Ser não é encontrado entre
sed ipsae habent esse as creaturas, posto elas
limitatum et contractum per tenham o ser limitado e
indifferentiam essentiae restrito pela indiferença
suae et ipsius sui esse. ente sua essência e seu
próprio ser.

III. Inducitur tertia ratio III. Induz-se a terceira


ipsorum cum sua consideração para a
solutione mesma ação e, sua
análise

1. Est et alia ratio, cui 1. Assim surge outra razão,


innituntur, scilicet ex estribada de argumento
auctoritate Hilarii, qui dicit, retirado da autoridade de
quod esse non est accidens Hilario36, o qual afirma não
Deo, sed subsistens veritas, ser não existir em Deus
quasi in aliis rebus sit esse como acidente, mas como
sicut accidens, sed non in verdade subsistente; em
Deo. outras coisas o ser é
acidente, mas não em
Deus.
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 73

2. Sed dicendum ad hoc, 2. Mas, para tanto, de


quod accidens multipliciter acidente se diz em várias
accipitur: Uno modo dicitur acepções: De um modo se
accidens, secundum quod diz acidente segundo o que
distinguitur contra o distingue de suibstância.
substantiam. Et sic in nulla E assim, o ser não é
substantia creata esse est acidente em nenhuma
accidens. substância creada.

3. Alio modo dicitur 3. Em outro modo,


accidens quasi per accidens, dizemos “acidente” da
secundum quod distinguitur mesma forma como “por
contra id, quod est per se. acidente”, segundo o que o
Et sic nulli creaturae distingue daquilo que é por
supposita essentia sua in si. E, de nenhuma creatura
esse esse est accidens, sed se pode supor que sua
convenit unicuique esse per essência seja o acidente,
se tertio modo dicendi per mas sim que convém a um
se, secundum quod ser qualquer pelo terceiro
Philosophus enumerat modo de aprendê-lo por si,
modos dicendi per se in segundo Aristóteles
libro Posteriorum. enumerou nos modos de
apreensão de seu livro
Posteriorum.

4. Alio modo dicitur 4. Existe outro modo de


accidens, secundum quod dizer acidente, segundo
distinguitur contra habere aquilo que o distinguiria
absolute et simpliciter contra a absoluta e
necessariam causam simplesmente necessária
essendi. Et sic omni enti causa essencial. Assim,
creato quodammodo accidit todo o ente creado, de
esse per istum modum, certo modo, acede o ser
quia, quamvis in entibus por este modo, que, como
inveniatur necessitas in se vê no ente que por um
quibusdam, in quibusdam lado se encontra a
74 | De Ente et Essentia

autem contingentia, necessidade e, por outro a


utriusque tamen istius contingência, a causa
primaria causa est Deus, Primeira que é Deus, não
non per necessitatem pela necessidade natural,
naturae, sed per liberam mas pela sua livre vontade.
voluntatem suam. Et per E, por este modo, que se
istum modum, quamvis mostra menos apropriado,
minus proprie, dicitur esse ao ser de toda a creatura se
omnis creaturae sibi atribui acidentes, dado que
accidens, quia Deus potuit Deus não pudesse crear
non creare entia, si entes, sem que o desejasse.
voluisset. Et secundum hoc Isso é o que se entende
sane intelligitur verbum daquilo que afirmou
Hilarii. Hilario.

IV. Inducitur quarta ratio IV. Induz-se a quarta


ipsorum cum sua consideração para a
solutione mesma ação e, sua
análise

1. Est et quarta ratio, quam 1. Esta é quarta questão,


adducunt ad suum que conduz a sua
propositum: Quaecumque proposição: Qualquer seja a
sunt idem, sic se habent, identificação, que possa
quod unum eorum non existir entre si, uma não
potest intelligi sub opposito pode ser pensada em
alterius. Sed omnem oposição à outra. Mas, toda
essentiam creatam potest essência creada pode
quis intelligere sub opposito quando inteligida sob a
ipsius esse, scilicet sub non oposição do próprio ser,
esse. Ergo essentia conhecida como o não ser.
cuiuslibet creati differt a Logo, a essência creada da
suo esse. Vontade difere de seu ser.

2. Respondeo dicendum, 2. A isso respondo ao


quod, quando essentia afirmar que, quando a
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 75

creata est, suum esse est, et essência é creada, seu ser


quando essentia non est, também o é e, quando a
nec suum esse est. Ergo, essência não é, nenhum ser
sicut possum intelligere existe. Logo, segundo
essentiam sub non esse, ita posso inteligir a essência
etiam possum intelligere sob o não ser, especifica
ipsum esse sub non esse. ainda poder inteligir o
Ergo eadem ratione mesmo ser sob o não ser.
sequeretur, quod tale esse Logo, pela mesma razão
differret ab esse. Et de illo seguida, que tal ser difere
iterum quaeremus, et sic in do ser. E, dele segue se
infinitum. desejarmos assim segue até
o infinito.

3. Ista ergo sufficiant de 3. Logo, é suficiente isto


essentia et esse et eorum ad para a essência, para o ser
invicem comparatione ad e, sua relação recíproca,
honorem Domini et nostri para a comparação ao
Dei Iesu Christi, qui est Senhor nosso Deus, Jesus
benedictus in saecula Cristo, que é bendito pelos
saeculorum. Amen. séculos dos séculos.
Amém.
RELAÇÃO DE OBRAS DE DIETRICH DE
FREIBERG:

De accidentibus.
De animatione coeli.
De causis.
De cognitione entium separatorum et maxime animarum separatarum.
De coloribus.
De corpore Christi in sacramento.
De corpore Christi mortuo.
De corporibus caelestibus quoad naturam eorum corporales.
De defensione privilegium ordinis.
De dotibus corporum gloriosorum.
De efficientia Dei.
De elementis corporum naturalium.
De ente et essentia.
De habitibus.
De incarnalitate angelorum.
De intellectu et intelligibili.
De intelligentiis et motoribus caelorum.
De iride et de radialibus impressionibus.
De luce et eius origine.
De magis et minus.
De mensuris durationis rerum.
De miscibilibus et mixto.
De natura contrariorum.
De natura et proprietate continuorum.
De origine rerum praedicamentalium.
De quidditatibus entium.
De ratione potentiae.
De subiecto theologiae.
De substantia orbis.
De substantiis spiritualibus et corporibus futurae resurrectionis sive de
corporibus gloriosis.
De tempore.
De theologia, quod est scientia secundum perfectam rationem scientiae.
De tribus dificultatibus quaestionibus. Prologus generalis.
De universitate entium.
De viribus inferioribus intellectu in angelis.
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 77

De visione beatifica.
De voluntate.
Epistula domino Ioanni Bucamatio, Tusculano episcopo cardenali.
Epistula fratri Alberto, priori Argentinensi.
Epistula fratri Matthaeo de Aquasparta, Sedis apostolicae summo
poenitentiario.
Litterae fraternitatis abbatissae conventuique in Valle Gratiae.
Litterae fraternitatis magistrae conventuique in Hacheborn.
Quaestio utrum aliquid, quod sit in potentia, possit se ipsum facere in actu.
Quaestio utrum Christus ascenderit super omnes caelos.
Quaestio utrum Christus secundum humanam naturam defecisset senio, si diu
vixisset et non fuisset violenter occisus.
Quaestio utrum in Deo sit aliqua vis cognitiva inferior intellectu.
Quaestio utrum motus maris sit naturalis.
BIBLIOGRAFIA
AUGUSTO, Luís M. Tratado sobre a Origem das Coisas
Categoriais. In Revista Filosófica de Coimba, 21:41 e
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DE BONI, Luis Alberto. Filosofia Medieval – Textos. 2ª.


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(THEODORICUS EL TEUTÓNICO). CLAVES
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Tractatus de ente et essentia. Editionem curavit
Burkhard Mojsisch. Edidit Ruedi Imbach - Hamburg.
Paris: 1300.
NOTAS DE FIM
1
Observação contida na contra capa de todos os livros de
Huberto Rohden: Creador com “e”, do latim credere,
significando crear a partir do nada, o que diferencia do
creador em português, onde o criar tem a conotação de
transformação, ou seja, criar algo a partir de outra
substância. Essa pesquisa procurou ser fiel a esse
conceituado filósofo brasileiro e catarinense, que em suas
obras utiliza o termo Creador, até porque nenhuma das
línguas neolatinas, fora do português moderno, tampouco o
inglês, aceita a grafia Criar/Creador no lugar de
Crear/Creador. Do latim credere, crear indica a transição do
Todo Universal para alguma parcela individual, ao passo que
criar é a transição de uma parte finita para outra parte finita.
Crear pressupõe fazer algo aparecer do nada, enquanto criar
é apenas a transformação de algo já existente em outra
substância. Segundo Rohden, Deus é creador, e um
fazendeiro seria um creador. (in ROHDEN, prefácio de
Filosofia da Arte, Ed Martin Claret, 2007).
2
Observação contida na contra capa de todos os livros de
Huberto Rohden: Creador com “e”, do latim credere,
significando crear a partir do nada, o que diferencia do
criador em português, onde o criar tem a conotação de
transformação, criar algo a partir de outra substância. (in
ROHDEN, prefácio de Filosofia da Arte, Ed Martin Claret,
2007).
3
A Ontologia estuda o ser, sua natureza, sua existência e sua
realidade, a eidologia significa o estudo da forma ou da ideia.
Assim, a essência ou o Eidos platônico tem a conotação
característica daquilo que, em algo se faz permanente e
fundamental, em oposição ao transitório e acidental. Platão
entendia que a verdadeira realidade estaria na essência de
80 | De Ente et Essentia

algo, em sua forma pura, subtraída ao aparente pano de


fundo da existência.
4
[...] Alterius autem rationis est esse conveniens substantiae,
alterius autem, inquantum competit accidenti.
5
Palavra composta: Aliquid com o significado de alguem,
algum, alguma coisa existente e hoc com o sentido de este (sentido
neutro), como indicativo de movimento por aqui, por este lugar,
a este ponto.
6
Significa simultaneamente “o que é” de uma coisa.
7
Platão distinguiu o mundo sensível do mundo das ideias.
Do Eidos faz parte as ideias, as formas, as constatações, as
percepções fundidas nas opiniões e nos conhecimentos de
cada ser racional. Grosso modo, pode ser considerado como
a essência das coisas! Platão usa o vocábulo para superar a
dicotomia entre Heráclito e Parmênides, de dois mundos a
interagirem entre si; o mundo "real" sensível, mutável e, o
mundo das ideias, o mundo do eidos, no qual segundo o
filosofo cada ideia prevalece única, imutável e independente.
De Heráclito, Platão considerou as percepções do mundo
material e sensível, das imagens e opiniões. Para ele, a
matéria era algo imperfeito, em constante estado de
mudança. De Parmênides concluiu que também estava certo
ao exigir que a Filosofia se afastasse desse mundo sensível,
para ocupar-se do mundo verdadeiro, visível apenas ao puro
pensamento. Assim, supera a oposição de Heráclito à
mutabilidade essencial do ser e, a posição de Parmênides,
para o qual o ser é imóvel, relacionando o mundo das ideias
ao ser parmenídeo e o mundo dos fenômenos ao devir
heraclitiano. Platão afirma haver dois mundos diferentes e
separados: um primeiro, de um mundo sensível, dos
fenômenos e acessível aos sentidos; e um segundo, de um
mundo das ideias gerais (inteligível). Portanto, a eidologia
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 81

corresponde às essências imutáveis, que o homem atinge


pela contemplação e pela depuração dos enganos dos
sentidos.
8
Omnis enim essentia non ob aliud essentia est, nisi quia
est.
9
Si enim loquamur de significatione essentiae quantum ad
rem significatam, falsum est, quod assumitur, scilicet quod
«omnis essentia potest intelligi» et cetera. Quando enim
intelligo hominem, intelligo hominem secundum actum
suum essendi in rerum natura, secundum quod supra dictum
est de sententia Augustini, scilicet quod «omnis essentia non
ob aliud essentia est, nisi quia est.» Secundum hoc ergo non
possum intelligere essentiam hominis, nisi intelligam esse
actuale eius.
10
Aristóteles em Refutações Sofísticas.
11
Vriberg retoma o conceito neoplatônico de processão, que
confere uma distinção especial ao intelecto humano e, que
se dá já no ato do conhecer. Considera que o intelecto é
autoconstituído em face do Princípio divino de onde
promana (processio) e, seu consequente regresso (conversio)
no ato de pensar a si-mesmo gerado por sua essência, o que o
faz deparar todo o seu ente.
12
Prisciano introduz, em sua análise, as noções de substantia
e accidentia ou qualitas. Resta ver se através desses têrmos ele
repõe as noções de sujeito e predicado. Verifica-se que isto
não ocorre, pois o autor não coloca tais noções no nível da
oração, mas desloca-as para o nível do constituinte da
oração, a palavra. Deste modo, as noções de substância e
acidente não determinam uma relação sintática de
equivalência entre sujeito e predicado. Trata-se apenas de
uma questão semântica (aquilo que se deixa perceber). O
termo substância é ambíguo em Prisciano. Primeiramente,
82 | De Ente et Essentia

vem empregado no nível da oração, onde coincide com a


noção de sujeito, mas não constitui objeto de preocupação
de sua análise. A seguir, vem empregado no interior da
categoria nominal. A substância, um conceito semântico
definido por Aristóteles como o que é, é próprio dos nomes;
cada nome expressa uma substância. No entanto, há uma
diferença entre os nomes. Esta diferença se define pela
palavra qualitas / accidentia. Assim Plato e homo são nomes,
portanto, portadores de substância, mas Plato difere de homo
em razão de ser este nome comum e aquele, próprio. Aos
nomes cabe determinar a substância e os acidentes. O
pronome, cuja substância não resulta de categorias
semânticas especificas, expressa somente a substância. Com
efeito, os nomes exprimem os acidentes que diferenciam
uma substância da outra. Desta forma, a classe nominal
comporta quatro classificações: substantia, qualitas, quantitas,
numerus. O que se observa é que Prisciano não põe as noções
de substância e acidente restritas à oração; ao contrário,
desloca-as para o nível dos constituintes, a fim de
caracterizar a classe nominal e a classe pronominal. Com
isso, qualquer unidade linguística pode ser analisada com
base na concepção de substância e acidente, o que faz com
que a análise se pulverize. Se a oração minimamente
constituída comporta um nome e um verbo e não vem
analisada com base nas noções de sujeito e predicado nem
nas de substância e acidente, qual é então a especificidade de
sua análise da oração? (MONTAGNER, 2004, p.02).
13
Ao ser existem várias interpretações possíveis, como a
tomista apoiada na concepção aristotélica segundo a qual o
ser é tomado em várias acepções. No entanto, em cada
acepção toda a denominação se faz por relação a um
princípio único, a tese da analogia do ser: “o ser se diz de
várias maneiras”. Alguns escolásticos (século IX até o final
do século XVI), sem deixarem de ser aristotélicos,
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 83

devendiam a inivocidade do ser (FERRATER MORA, 1077,


p.363)
14
Já que a ratio não dá conta das análises de todos os usos,
Prisciano propõe uma posição original entre dois tipos de
ratio: a ratio dictionum (o sistema das palavras) e a ratio sensus
(o sistema do sentido). Admite, pois, uma dupla
gramaticalidade. A primeira, a ratio dictionum, consiste num
conjunto de restrições impostas pelos constituintes da
oração, através dos quais é possível traçar os limites com
precisão (através dos accidentia de que provêm as formas,
tornando possível determinar a congruência ou
incongruência das combinações). A segunda, a ratio sensus, é
agramatical, baseia-se na inteligibilidade, no sentido,
adotado em relação à primeira pelo princípio da variação.
Ambas são interdependentes, mas a segunda sobrepõe-se à
primeira (MONTAGNER, 2004, p.05).
15
Às possíveis dúvidas com relação ao ser que conviria à
substância ter dada noção e, enquanto pertencente ao
acidente ter noção diversa, convém ouvir Mora quando este
acresce que somente a partir do século XVIII, é que
correntes da filosofia moderna, sobretudo da metafísica, não
aceitaram a distinção real entre acidente e substância, posto
o acidente se lhes apresentar um aspecto de substância e, ao
se identificarem anulariam quaisquer distinções possíveis
(FERRATER MORA, 1977, p. 19).
16
Se entendermos por ser o existir, a mesma noção de existir
se aplica à substância, forma estável do ente e, ao acidente
enquanto forma efêmera e adjacente do ente. Do ponto de
vista da lógica o acidente é o predicável, ou seja, o modo
pelo qual algo inere a um sujeito ou uma coisa. Do ponto de
vista ontológico, o acidente é predicamental ou real, isto é
expressa o modo pelo qual o ente existe. Dele se diz que não
é em si, mas noutro pelo qual passa a incluir a alteridade. Os
84 | De Ente et Essentia

escolásticos, como São Thomas, viram no acidente algo


realmente distinto da substância, algo que precisa de um
sujeito. Outras correntes da filosofia, sobretudo da
metafísica do século XVIII não aceitaram a distinção real
entre acidente e substância, pois o acidente se lhes apresenta
como um aspecto da substância e, nesse caso se chama modo,
como ocorre com Espinosa, que o considera como uma
afecção da substância. Ao ser colocado dentro da substância
o acidente tende a se identificar com ela e a se anular quanto
a qualquer distinção possível (FERRATER MORA, 1077,
p.19).
17
Ente é uma tradução do alemão Seiende, de sein = ser.
Empregado para traduzir o termo grego to on e o alemão das
Seiende, particípios presentes do verbo ser. O termo "ente"
aparece na filofosia de Heidegger, para designar o ser que
existe, o ser concreto. Há uma confusão entre o existente,
designando o homem e o ente, "designando tudo o que nos
encontra e nos cerca, nos conduz e nos constrange, nos
enfeitiça e nos preenche, nos exalta e nos decepciona"
(Heidegger), sem nos apresentar o ser em si, o ser absoluto.
Esse ente geral se distingue dos entes particulares (objetos,
astros, pedras, etc.) por seu caráter de totalidade (JAPIASSÚ
e MARCONDES, 2001, p.62).
18
Referência ao conceito de palavra em Prisciano, que
consta da tradição latina, a qual estuda por categoria
morfossintática (nome, verbo, particípio...) e pela
apresentação dos seus accidentia (acidentes), isto é, traços que
a caracterizam (gênero, número, caso, tempo etc.). Ou seja,
a palavra é vista como um feixe de determinações. Ela é um
conjunto, um todo significativo (MONTAGNER, 2004,
p.01).
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 85

19
Palavra ou expressão que serve para retomar um termo já
expresso no texto, ou também para antecipar termos que
virão depois.
20
Esta combinatória (nome e verbo) já se encontra em
Platão, no entanto em Aristóteles é que ela se aproxima da
noção que hoje temos de sujeito e predicado. Prisciano,
seguindo Apolônio e a concepção estóica, centra sua análise
sobre o predicado, mais especificamente sobre o verbo, sem
confundir um e outro. O autor vê as partes da oração não
como uma oposição entre sujeito e predicado, como, a
princípio, podemos crer, mas, leva em conta cada uma delas,
como consignificantia, o que significa com. Cada uma das
partes não é uma oração completa, mas é uma oração, ainda
que incompleta, pois é inteligível, ainda que parcialmente. As
noções de sujeito e predicado não são levadas em conta e se
diluem sob outra noção: a congruência (MONTAGNER,
2004, p.01).
21
Prisciano estabelece ainda uma distinção entre orações
autônomas e orações dependentes, quando estas vêm
construídas com pronomes; concentra-se na oração
construída com os pronomes, pois estes fazem parte
efetivamente da oração minimamente constituída
(MONTAGNER, 2004, p.02).
22
O quid no dicionário Torrinha (1942) refere o interrogativo
(que?; Que coisa?; Alguma coisa?; Aquilo que?; O que?);
significa nas coisas simples tudo o que ente incorpora em
sua significação. Por isso o ser e o quid, por vezes, se
identificarem, ao significar a essência da coisa. No exemplo
da escultura de bronze utilizado por Vriberch, o quid não
representa o bronze utilizado, mas a forma pela qual o
escultor imprimiu a imagem. Para Juan Fernando Sellés, a
chave para a distinção parece radicar em que o segundo
implica uma concreção do primeiro. Não obstante de certo
86 | De Ente et Essentia

modo o ente e o quid se converterem entre si, para Vriberch,


sem embargo, divergem enquanto suas próprias razões; o
filósofo ainda distingue em seus livros posteriores a questão
ser da questão o quê é (quid) (SELLÉS, 2011-b, p. 49).
23
Quididade do latim eclesiástico quidditas, -atis, no dicionário
Torrinha (1942), provém de quid (o quê é) por abstração,
significa tão somente o princípio formal que faz com que
uma coisa seja essencialmente qualquer coisa; nas coisas
simples a quididade e o quid se identificam. Dessa forma, a
quididade acorre a todos os entes existentes, em que indica
algum princípio intrínseco da coisa, segundo o ato pelo qual
se lhe toma tanto segundo a razão de ser quanto a de aparecer
e, a de se dar a conhecer. Para Sellés (2011-b), a quididade não
seria o quid, a não ser que algo fosse o quid pela mesma
quididade.
24
O quod, por outro lado, significa todas as partes pelas quais
um composto se faz; ele não existe nas coisas simples.
Ainda, a Quodidade dá ensejo ao quod; o ente
abstractamente considerado, como algo existente, sem
forma determinada; o neutro de qui tomado como
conjunção (donde, por causa de que, por que, em que e,
quanto a, quanto ao mais, pelo que). Faz-se por aquilo que é
sem a necessidade de explicitar suas qualificações.
25
Vribergh é coerente com o conceito aristotélico ao afirmar
que o quid configura o envoltório de algo, todo o agregado
de matéria e forma. Sem esta última, se apenas a matéria, a
definição seria quod, o ente abstratamente avaliado como
algo existente sem forma determinada.
26
O termo essência designa o ser, a consistência ou
quididade de um ente, considerado independentemente da
sua existência. Dizer o que é uma coisa é declarar a sua
essência
Theodoricus Teutonicus de Vriberg | 87

27
A reflexão sobre a essência se constituiu abstrusa para a
filosofia medieval, na medida em que seu conceito
aristotélico colidia com o conceito cristão de Deus: o Ser
absoluto, onisciente, onipresente e onipotente, que só
poderia ser concebido como existente; assim sua essência
não poderia ser pensada independentemente de sua
existência. Portanto, o termo essência Nele, não significava
a mesma coisa quando aplicado as suas creações.
28
Aqui, Vribergh rememora Platão, para quem a essência é
permanente e natural, em oposição ao transitório e acidental;
constitui, pois a verdadeira realidade, na forma pura da coisa,
subtraída às aparências da existência, que Aristóteles
posteriormente denominou de forma essencial, algo
equivalente ao quid de Vribergh.
29
Aqui, Vribergh mostra não seguir os passos de Aristóteles,
cujo conceito de essência desina tão somente a definição de
uma substância que é a verdadeira realidade, dado que para
este filósofo o real exista apenas sob a forma de substâncias
individuais, ou entes singulares; conquanto que os conjuntos
de substâncias que contenham a mesma essência não seriam
irreais, mas constituiria uma forma derivada da realidade, a
substância segunda.
30
Observar que Vribergh não considera o acidental como
essência.
31
A terra como mencionada é dispersa ou informe, uma
não-forma.
32
Ao consultar as funções do verbo “sum” em língua latina,
encontraremos o verbo esse em seu infinito presente e imperfeito
com o sentido de ser/estar; dele encontraremos em seu
particípio presente no nominativo ens com o sentido de aquilo que
é, implicado o estar existindo, o estar manifesto e, ainda o
genitivo ent-is, com o significado de ente. Para Aristóteles, ente
88 | De Ente et Essentia

constituiria tudo o que é manifesto, enquanto Ser seria aquilo


que faz com que um ente seja ele mesmo e, não outro ente
qualquer. Assim, ente tem em quaisquer de seus significados
existenciais o fato de ser, no entanto ocorre raramente dessa
palavra ente ser usada apenas para designar o Creador, em
face do conceito de que o ente crea o existente. É o caso de
entender o ente Creador como o ser necessário e, o existente
como coisas creadas.
33
Significado em linguagem filosófica.
34
Dietrich argumenta que a essência é equivalente ao ente.
Esta é uma referência clara de oposição a aqueles que
seguem Tomás de Aquino, que em sua obra de mesmo título
De ente et essentia, afirma a distinção real (SÉLLES, 2011,
p.44).
35
Dietrich sugere que se distingua o modo de pensar algo
daquilo que se pensa recorrentemente e, daquilo que se
pensa em uma concretude. O modo de pensar a essência não
é igual ao modo de pensar a existência. Pensa-se a essência
segundo seu ato de ser por meio de um vocábulo que não é
verdadeiro tampouco falso; assim a essência em seu ato de
ser mediante uma proposição pode ser verdadeira ou falsa.
Nestes dois casos nada se lhe acrescenta o ser em ato. A
proposição só se presta a afirmar ou a negar de uma essência
o que lhe é concebido em seu ato de ser (SÉLLES, 2011,
p.46).
36
Referência a Hilarius Pictaviensis, bispo na cidade romana
de Pictavius e um dos Doutores da Igreja.

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