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Substituição de
Metais por
Plásticos
Cinco passos para a conversão de peças metálicas
Não há material bom ou ruim
– há apenas o material mais
adequado para cada situação
Os materiais fazem parte da vida dos seres humanos desde as mais
remotas eras. Uma das características que nos diferencia como
espécie é a habilidade de construir utensílios. E a matéria prima
para construção de nossos utensílios são exatamente os diferentes
materiais à nossa disposição.
Não só para utensílios e ferramentas, vestuário, moradia,
armas...enfim, para cada necessidade humana, nossa espécie
sempre se apoiou nos materiais para, se aproveitando de suas
propriedades, conformá-los nas soluções de nossos problemas.
De fato, os materiais são tão importantes para os seres humanos,
que as eras históricas são, em grande parte, nomeadas em função
do material mais importante do período: Idade da Pedra, Idade do
Bronze etc.
Na Figura 1 você pode avaliar como cada grande família de
materiais evoluiu em importância ao longo das eras históricas.
Você pode perceber por exemplo, que nas eras mais remotas, os
polímeros tinham uma importância relativamente grande. Contudo
se tratavam de polímeros naturais como peles, madeira, lã. O
mesmo vale para os materiais compósitos e para as argilas. Isto se
deve ao fato de que, nessa época, éramos basicamente
extrativistas. Utilizávamos os materiais disponíveis na natureza
com pouco ou nenhum beneficiamento antes de transformá-lo em
utensílios.
Metais
Polímeros
Compósito
Cerâmicas
C
0A
AC
00
00
00
00
20
40
60
80
00
20
00
00
10
15
18
19
19
19
19
19
20
20
10
50
Uma percepção interessante diz respeito aos metais. Note que nas
eras mais remotas sua importância relativa era bem pequena. Isto
porque não havia tecnologia disponível que permitisse trabalhar os
metais de forma fácil. Apesar de já dominarmos o uso do fogo,
ainda não era possível atingir as altas temperaturas necessárias
para tornar os metais maleáveis o suficiente para moldá-los.
À medida que a tecnologia, em particular o domínio do fogo, se
aperfeiçoou, os metais passaram rapidamente a ganhar espaço.
Sua incrível maleabilidade, resistência e durabilidade fizeram com
que se tornasse uma das famílias de materiais mais importantes da
humanidade. As civilizações que dominavam a arte da metalurgia
também dominavam o mundo.
Em tempos mais recentes, talvez o pico na importância relativa dos
metais sobre os outros materiais tenha sido entre as décadas de 40
e 60 do século XX. Muito provavelmente impulsionado pelas
guerras e pela corrida espacial, os metais dominaram as
construções de engenharia humanas e seus diferentes tipos
proliferaram neste período.
Em minha opinião, uma consequência deste fenômeno, foi que
muitas aplicações, em todas as áreas da engenharia, foram
desenvolvidas em metais neste período. Devido à grande
abundância de tipos de metais e de um nível de conhecimento
acerca de seu comportamento – que por sinal é bastante estável e
previsível – muitas dessas aplicações aconteceram em metais de
diversos tipos.
Contudo, nessa mesma época e também devido à grande expansão
dos programas aero-espaciais, surgiu com muita força outra classe
de materiais revolucionários – os polímeros sintéticos. Em verdade,
os polímeros sintéticos apareceram décadas antes, porém a
tecnologia, diversidade de tipos e propriedades e expansão dos
métodos de fabricação em massa destes materiais explodiram mais
ou menos após a Segunda Guerra Mundial.
Atualmente, como você também pode avaliar na Figura 1, vivemos
numa era multimaterial, em que a importância relativa entre as
diferentes famílias é muito similar. Esta equalização de importância
entre as diferentes famílias de materiais trouxe uma outra
percepção – talvez, muitas das peças desenvolvidas décadas atrás,
se aproveitando da abundância e das propriedades dos metais,
possam ser fabricadas atualmente com outras classes de materiais,
como os polímeros, de forma mais eficiente e viável em termos
econômicos.
Engenheiros, projetistas e especialistas em materiais chegaram a
uma conclusão muito útil para a criação de peças de máxima
performance. Mas esta conclusão exige cada vez mais
conhecimento e pesquisa para a seleção de materiais: “Não existe
material bom ou material ruim. Existe apenas o material mais
adequado para uma dada situação” (Anônimo).
Por situação, entendemos o conjunto de material, geometria,
ambiente de utilização, função a ser realizada e retornos
esperados. Com isso, outro fenômeno ocorre: uma mesma peça
pode ser fabricada em materiais diferentes e ainda ser muito
eficiente caso as condições de uso e requisitos sejam diferentes em
situações diferentes.
Cabe, então, ao engenheiro de materiais, ao projetista, enfim à
equipe de desenvolvimento de um produto, selecionar o melhor
material com base em uma análise criteriosa das condições de uso
e selecionar materiais específicos para cada aplicação.
Um último dado muito importante e que pode representar uma
grande oportunidade para a substituição de peças metálicas por
peças plásticas - segundo um estudo conduzido pela indústria de
materiais plásticos de engenharia, de todas as peças metálicas que
têm potencial para conversão para plásticos, apenas 4% já
passaram por esta conversão! Ainda há muito trabalho a ser feito…
O processo de seleção de
materiais
É estimado que falhas catastróficas em aplicações de engenharia
tenham como causa raiz a seleção inadequada de materiais em
aproximadamente 40% dos casos! De acordo com o que vimos no
Capítulo 1, isto não significa que seja um material ruim ou de baixa
qualidade. Isto significa que, nestes casos, muito provavelmente o
material selecionado não é o mais adequado para a situação em
questão.
Existem inúmeros métodos desenvolvidos para a seleção eficiente
de materiais em aplicações de engenharia. Softwares
especialmente dedicados à seleção de materiais, comparação de
propriedades, avaliação de custo benefício etc, estão disponíveis e
são excelentes e poderosas ferramentas para o engenheiro de
materiais.
Contudo, apesar de fazer parte do processo proposto por estes
programas, um dos primeiros passos para assegurar o sucesso da
seleção de materiais depende em grande parte da habilidade do
ser humano conduzindo o processo.
Este passo é, especificamente, a identificação do “problema” a ser
solucionado pelo material que está sendo buscado. Sendo assim,
neste capítulo irei focar em um processo que pode auxiliar na
identificação deste “problema” e como conectá-lo com o processo
de seleção de materiais e guiar a escolha do material (ou materiais)
mais adequado para uma dada situação em particular.
Um fato interessante é que, a depender do “problema” em
questão, mais de uma solução pode ser possível e, por
consequência, mais de um material diferente pode ser selecionado.
Cada possível solução representa uma situação diferente de
abordar o “problema” e, portanto, materiais diferentes podem ser
mais adequados para cada uma destas abordagens.
c) d)
e)
Figura 13 - Peças com mesma resistência mecânica: Topo) sem nervuras; Centro) nervuras
propiciam 23 % menos material e ciclo 35 % menor; Embaixo) nervuras propiciam 57 % menos
material e ciclo 15 % menor
• Considere com cautela questões dimensionais como
tolerâncias. A estabilidade dimensional dos polímeros é
mais baixa do que a dos metais. Ainda que peças de
extrema precisão possam ser fabricadas com polímeros,
dificilmente você terá as mesmas tolerâncias que peças
metálicas usinadas. Lembre-se também que polímeros se
deformam mais facilmente do que os metais quando
sujeitos a esforços e, portanto, são mais fáceis de manusear
em processos de montagem posteriores o que pode
minimizar a necessidade de altíssima precisão.
• Apesar de não serem suscetíveis à corrosão, como já
mencionado, polímeros são suscetíveis a outros tipos de
ataque que podem levar à degradação (perda de
propriedades e funcionalidade). Um bom exemplo é a
radiação UV que praticamente não afeta os metais, mas
tem efeito devastador em materiais poliméricos que não
sejam devidamente protegidos. Leve em conta o ambiente
de aplicação e avalie todos os agentes que podem
potencialmente degradar os polímeros. Exemplos: radiação
UV, água quente (para materiais que sofrem hidrólise como
poliésteres), ácidos e bases fortes, solventes, alta
temperatura etc.
• Por falar em alta temperatura, também já foi mencionado
o fato de que os polímeros possuem um limite mais baixo
para exposição à temperatura quando comparado aos
metais. Polímeros podem apresentar comportamento
mecânico completamente diferente em uma faixa de
temperatura tão estreita quanto entre 25 °C e 100 °C. Por
este motivo considere as propriedades mecânicas do
material a ser selecionado na temperatura de uso real da
peça (Figura 14).
250 -20 °C
0 °C
23 °C
B 40 °C
60 °C
90 °C
200 120 °C
150 °C
B B - Break
B
B
100 B
B
B
B
50
0
0 1 2 3 4 5 6
Strain in %
ade
sid
Resistência ao impacto (kJ/m2)
visco
a
alt de
de s i da
M a visco
PO méd
i
d e
POM
Raio (mm)
Figura 15 - Influência do raio de transição na resistência ao impacto
• Evite acúmulos de massa em peças plásticas. Esta medida
está muito alinhada com a utilização de espessuras
uniformes ao longo da peça. Porém algumas regiões
pontuais como bases de nervuras, encontro de paredes,
raios de transição etc, podem apresentar acúmulo de massa
e passarem desapercebidos. Estas regiões de acúmulo de
massa podem levar a problemas como vazios internos
(bolhas), rechupes (depressões estéticas na superfície das
peças), elevação desnecessária do tempo de ciclo e
distorções nas peças.
• Isotropia e anisotropia. Em geral os materiais poliméricos
são mais anisotrópicos do que os metais e outros materiais.
Isto se deve ao fato de que são formados por longas
moléculas e em muitos casos isto é ainda mais pronunciado
devido à incorporação de reforços fibrosos (como fibras de
vidro por exemplo). Leve em conta este fator ao projetar
sua peça avaliando a orientação molecular do material e
das fibras de reforço para sempre trabalhar no eixo de
maior resistência do material (Figura 16).