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Resumo
O Litoral do Paraná apresenta os remanescentes de floresta atlântica mais bem conservados do
país. Guaraqueçaba, maior município e com população eminentemente rural, se destaca ao
possuir 98,76% de seu território coberto por unidades de conservação. No município, a
agricultura familiar é representativa, produzindo principalmente banana, mandioca e,
atualmente, palmáceas. O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados da
elaboração de mapas de propriedade como instrumento para auxiliar o diagnóstico e o
planejamento das atividades produtivas de pequenos agricultores familiares na comunidade do
Açungui, Guaraqueçaba - PR.
Introdução
O litoral do Paraná foi a primeira região do estado a ser colonizada. Porém, o fato de ter
sido colonizada há séculos, não significa que a região se desenvolveu. Pelo contrário, o
litoral paranaense é tido como uma região deprimida economicamente e que apresenta
sérios problemas socioeconômicos. Andriguetto Filho & Marchioro (2002) e Estades
(2003) afirmam que o litoral do Paraná é uma das regiões mais pobres do estado e
paradoxalmente, a região vem se apresentando como a última fronteira de
desenvolvimento econômico do Estado. Possui uma área física de 6.057 Km² entre o
Oceano Atlântico e a Serra do Mar, distribuídos em sete municípios (Figura 01), sendo
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Guaraqueçaba o maior, com área de 2.019 Km² e Matinhos o menor, com área de 117
Km². Em termos de população, o Litoral possui 265.392 habitantes, sendo Paranaguá o
município mais populoso, com 140.469 habitantes e Guaraqueçaba o município que
apresenta menor contingente populacional, 7.871 habitantes (Tabela 01).
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Figura 1. Divisão Geográfica do Litoral Paranaense
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aspectos: i) contribui para a segurança alimentar das famílias no meio rural; e ii)
apresenta-se como atividade com potencial para gerar renda, podendo ser
comercializada in natura ou industrializada (farinha, mandioca chips etc.).
O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados da elaboração de mapas de
propriedade como instrumento para auxiliar o diagnóstico e planejamento das atividades
produtivas de pequenos agricultores familiares na comunidade do Açungui,
Guaraqueçaba – PR.
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trabalhadores temporários, etc.). Costuma-se começar o mapa com a casa do agricultor e
estende-se o mapa das áreas ou terras mais próximas até as mais distantes. A travessia
na propriedade permite obter informação sobre os diversos componentes dos recursos
naturais, a vida econômica, as moradias, as características de solos, etc. É realizada por
meio de uma caminhada linear, que percorre um espaço geográfico com várias áreas de
uso e recursos diferentes. Ao longo da caminhada se anotam todos os aspectos que
surgem pela observação e dialogo dos participantes em cada uma das diferentes zonas
que se cruzam (idem, 2006).
Em conjunto a elaboração do mapa da propriedade e a respectiva caminhada fez
interessante aplicar uma entrevista semi-estruturada, que segundo Bailey (1982) é
aquela que combina perguntas fechadas e abertas, e que permite ao entrevistado
discorrer sobre o tema sugerido sem que o entrevistador fixe a priori determinadas
respostas ou condições. Tais informações auxiliam uma melhor compreensão das
atividades produtivas dos agricultores, bem como suas dificuldades.
Metodologia
Os dados que subsidiaram a pesquisa foram coletados em três fases, a primeira com a
aplicação de um questionário socioeconômico em todas as residências da comunidade
de Açungui, em Guaraqueçaba – PR, e a segunda com a visita in loco a 19 propriedades
para a elaboração dos mapas e aplicação simultânea de entrevista semi-estruturada.
Referente ao questionário, foram entrevistadas 50 famílias entre os meses de novembro
de 2009 á janeiro de 2010. Para aplicação do questionário, a equipe se dividiu em
duplas, inicialmente indo aos lugares mais distantes e em seguida aos locais mais
centrais da comunidade. Os questionários possuíam 77 questões abordando as
dimensões social (cultura, educação, saúde, instituições, etc.), econômica e ambiental.
Os mapas de propriedade, por sua vez, foram realizados nos meses de janeiro e
fevereiro de 2011, tendo como principal objetivo complementar o diagnóstico já
realizado, principalmente com informações referentes às dimensões econômica e
ambiental mais específicas das propriedades. Buscou-se levantar informações sobre a
delimitação da propriedade, infra-estrutura (casas, galpões, farinheiras particulares,
etc.), estradas, principais cultivos, possíveis cursos d’água, entre outras informações. A
metodologia que norteou a atividade foi apresentada por Verdejo (2006).
Ao chegar às propriedades havia uma breve conversa com os agricultores explicando o
trabalho, iniciava-se então a travessia pelo entorno de sua área produtiva. Durante a
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caminhada, um dos bolsistas aplicava uma entrevista semi-estruturada que
complementava as informações contidas no primeiro questionário. Ao retornar a casa do
agricultor, o mesmo fazia o desenho de sua propriedade mencionando os aspectos mais
relevantes da mesma.
A atividade foi realizada com 17 agricultores que manifestaram interesse na elaboração
dos mapas, sendo que 2 deles possuíam duas áreas distintas, totalizando assim 19 mapas
de propriedades. Para a tabulação dos dados optou-se por somar as áreas dos
agricultores que possuíam mais de uma área a fim de facilitar a contabilização de
resultados. Optou-se, também, por ocultar o nome dos agricultores, sendo tratados no
presente trabalho como: agricultor 1, agricultor 2, agricultor 3 e assim respectivamente
até o agricultor 17.
Como complemento da metodologia foi adotado a utilização de um GPS para coleta de
pontos no entorno da propriedade, possibilitando assim um trabalho posterior de
criaçãode mapas temáticos da comunidade com a ajuda do Software ArcGIS 9.21.
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construção civil. No entanto, para muitos destes (35%) a agricultura apresenta-se como
fonte de renda secundária.
Por Guaraqueçaba estar inserida em um mosaico de Unidades de Conservação
verificou-se a necessidade de questionar a comunidade quanto ao seu conhecimento em
relação ao tema. Apesar de 46% dos entrevistados terem conhecimento sobre as
restrições as atividades produtivas na área, 50% afirmou não saber que residiam dentro
de uma Área de Proteção Ambiental (APA). A falta de informação justifica-se quando
78% dos entrevistados mencionam que nunca foram convidados para esclarecimentos
em relação APA.
O mapa de propriedade (Figura 02) possibilitou um maior conhecimento da realidade
dos agricultores, bem como permitiu estreitar a relação da equipe do projeto de
extensão/pesquisa e a comunidade. A atividade permitiu identificar, por exemplo, a área
total de cada agricultor, a área produtiva e o percentual de uso de sua área produtiva
(Quadro 01). Permitiu, também, identificar as características físicas da área, principais
cultivos, insumos utilizados, preços recebidos pelos produtos, mão de obra e tempo de
dedicação, e as principais dificuldades de cada agricultor.
Os dados coletados permitem concluir que a maioria dos agricultores (13) possui área
entre um e dez alqueires. Constatou-se, também, que apenas três agricultores utilizam
100% de sua área produtiva.
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Figura 02 – Mapas de propriedade desenhados por agricultores.
Referente às características físicas das propriedades, foi levantado dados sobre relevo,
qualidade do solo, clima e cursos d’água nas limitações da propriedade. Na região
predominam os solos com baixa aptidão agrícola, devido às limitações topográficas
decorrentes do relevo montanhoso de serra que é dominante em 40% da área total e
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ainda à baixa fertilidade natural e ao hidromorfismo (encharcamento do solo)
característicos da região litorânea (IPARDES, 1995). Nas propriedades visitadas, 3
delas apresentam relevo íngreme (morro), 8 relevo plaino e 6 relevo misto (morro e
várzea), foi relatado que em vários períodos ocorrem chuvas de maior intensidade,
ocasionando enchentes nas áreas de várzea, e o apodrecimento de raízes da mandioca,
cultura presente em 12 agricultores.
A umidade média anual é de 84,8%, sendo fevereiro o mês de maiores chuvas e julho o
mês mais seco (média anual de 2.400 mm e 207 dias de chuva por ano). O clima
configura-se como subtropical úmido, do tipo Cfa, segundo a classificação de Koeppen.
A temperatura média anual gira em torno de 20° C (KASSEBOEHMER, 2007).
Abaixo se observa dois mapas elaborados com dados georreferenciados das
propriedades, onde se podem verificar elementos como relevo, hidrografia, estradas e
área produtiva, em destaque.
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Figura 03 - Mapa de propriedade georreferenciado.
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Quadro 02- Principais culturas geradoras de renda na comunidade do Açungui
Agricultor Banana Mandioca Pupunha
1 X X -
2 X X -
3 X X -
4 X X X
5 X - -
6 X X -
7 - X X
8 X - -
9 - - X
10 X X X
11 X - -
12 X X X
13 X X X
14 X - -
15 X X -
16 - X X
17 X X X
Fonte: elaborada pelos autores.
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A época ideal para plantar rama, quando o solo e as condições climáticas estão mais
propicias para o cultivo, é de agosto a novembro. Os agricultores têm por tradição
colher a mandioca para a produção da farinha após um ano e meio, alegando que o
rendimento é maior. Diante desta especificidade, é importante que o agricultor planeje
sua atividade com cuidado, o planejamento, neste caso, é essencial para quem quer
produzir todos os anos e manter a frequência no fornecimento para seus clientes.
A comunidade do Açungui conta com uma farinheira comunitária que possui alvará e
licença de funcionamento da Vigilância Sanitária. As informações coletadas junto ao
mapa de propriedade permitem que a comunidade planeje o uso da farinheira, ou seja, a
comunidade tem estimativas de quanto será sua produção de mandioca (Quadro 3). Para
o ano de 2012 e 2013 os agricultores estimam uma produção de 10.140Kg de farinha.
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O cultivo de pupunha vem ganhando espaço entre as principais culturas geradoras de
renda na comunidade, por ser uma espécie de fácil manejo, podendo ser realizado o
corte de 2 a 4 vezes por ano. A quantidade de pés cultivados por agricultor varia entre
600 a 5 mil e foram plantados entre os anos de 2007 a 2009. Na região existe facilidade
para a compra de mudas e/ou sementes da pupunha através de financiamentos por
bancos. Constatou-se que 8 agricultores cultivam a pupunha e vendem a um preço
médio de R$ 2,50 a cabeça, tendo como principais compradores as fábricas de conserva
de Antonina e Guaraqueçaba.
A maioria dos agricultores não utiliza insumos químicos em seus cultivos. Para
melhorar a qualidade do solo utilizam calcário agrícola (dolomítico) e matéria orgânica
e para o controle de pragas e formigas os agricultores utilizam iscas para formiga
(marca desconhecida) e a mandiquera ou manipueira (líquido proveniente do
processamento da mandioca nas farinheiras).
Nas fases de preparação da terra, plantio, colheita e capina, até a elaboração da farinha
de mandioca predomina a utilização exclusiva de mão-de-obra familiar, na qual a
mulher desempenha um papel fundamental para a atividade. Apenas 4 agricultores
relataram a necessidade de contratação de mão-de-obra temporária, contratando entre 1
a 3 pessoas. Os mutirões ou guajus (trabalho em grupo) ainda são praticados, porém
com menos intensidade.
As principais dificuldades relatadas pelos agricultores são os conflitos com os órgãos
ambientais. A comunidade se encontrar inserida em uma APA (Área de Preservação
Ambiental), implicando em restrições quanto ao uso da terra para cortes
(desmatamentos) e novas roçadas para abertura de áreas para o plantio. Segundo
Kasseboehmer (2007), por não se exigir a desapropriação das terras, o proprietário deve
se adequar às novas regras de uso do solo instituídas pelo Plano de Manejo da Unidade.
Devido a esse fato, a APA acaba se tornando a categoria de manejo mais problemática
dentre as Unidades de Conservação previstas no Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), sofrendo sérias resistências de ordem sócio-econômica e cultural
pelas populações residentes.
Outro item citado como dificuldade é a precariedade da estrada, rodovia PR 405. Por
não ser asfaltada dificulta o escoamento da produção e o deslocamento da população
para escolas, postos de saúde, etc.
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Considerações Finais
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Referências
BAILEY, Kenneth D. Methods of social research. New York: The Free Press, 1982.
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