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MAPA DE PROPRIEDADE: UM INSTRUMENTO DE DIAGNÓSTICO E

PLANEJAMENTO PARA AGRICULTORES FAMILIARES EM UNIDADES DE


CONSERVAÇÃO NO LITORAL PARANAENSE

Valdir Frigo Denardin


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ
valdirfd@ufpr.br

Camila A. Alves de Lima


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ
cahalveslima@gmail.com

Franciele Ortis dos Santos


Universidade Federal do Paraná – UFPR
franciele_ortiz@hotmail.com

Priscila Cristina dos Santos


Universidade Federal do Paraná – UFPR
priscilacristina.santos@hotmail.com

Resumo
O Litoral do Paraná apresenta os remanescentes de floresta atlântica mais bem conservados do
país. Guaraqueçaba, maior município e com população eminentemente rural, se destaca ao
possuir 98,76% de seu território coberto por unidades de conservação. No município, a
agricultura familiar é representativa, produzindo principalmente banana, mandioca e,
atualmente, palmáceas. O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados da
elaboração de mapas de propriedade como instrumento para auxiliar o diagnóstico e o
planejamento das atividades produtivas de pequenos agricultores familiares na comunidade do
Açungui, Guaraqueçaba - PR.

Palavras chave: Diagnóstico. Planejamento. Agricultura Familiar.

Introdução
O litoral do Paraná foi a primeira região do estado a ser colonizada. Porém, o fato de ter
sido colonizada há séculos, não significa que a região se desenvolveu. Pelo contrário, o
litoral paranaense é tido como uma região deprimida economicamente e que apresenta
sérios problemas socioeconômicos. Andriguetto Filho & Marchioro (2002) e Estades
(2003) afirmam que o litoral do Paraná é uma das regiões mais pobres do estado e
paradoxalmente, a região vem se apresentando como a última fronteira de
desenvolvimento econômico do Estado. Possui uma área física de 6.057 Km² entre o
Oceano Atlântico e a Serra do Mar, distribuídos em sete municípios (Figura 01), sendo

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Guaraqueçaba o maior, com área de 2.019 Km² e Matinhos o menor, com área de 117
Km². Em termos de população, o Litoral possui 265.392 habitantes, sendo Paranaguá o
município mais populoso, com 140.469 habitantes e Guaraqueçaba o município que
apresenta menor contingente populacional, 7.871 habitantes (Tabela 01).

Tabela 01 – População e área dos municípios do litoral paranaense


Municípios População (2010) 2
Área (Km )
Antonina 18.891 882
Guaraqueçaba 7.871 2.019
Guaratuba 32.095 1.326
Matinhos 29.428 117
Morretes 15.718 685
Paranaguá 140.469 827
Pontal do Paraná 20.920 201
Total 265.392 6.057
Fonte: IBGE – Contagem populacional 2010 e Scortegana (2005, p. 66)

Para Andriguetto Filho e Marchioro (2002) e Raynaut et al. (2002) as heterogeneidades


ambientais e sócio-econômicas da zona costeira paranaense são marcantes e de grande
complexidade, podendo, resumidamente, serem caracterizadas como: i) uma grande
variedade de ecossistemas, dos ambientes marinhos aos refúgios vegetacionais de
altitude; ii) existência de pelo menos 11 atividades agropecuárias ou extrativistas
geradoras de renda, além de atividades de transformação como agroindústrias caseiras;
iii) uma variedade de situações culturais, no meio urbano e rural; iv) diferentes situações
de acesso aos recursos, condicionadas pela posse da terra, capital, complexa legislação
ambiental e grau de participação no mercado; e v) forte polarização industrial e urbana,
com a presença do complexo portuário de Paranaguá e das áreas urbano-turísticas da
orla sul.

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Figura 1. Divisão Geográfica do Litoral Paranaense

Fonte: (SEMA; IPARDES, 2007).

A complexidade e heterogeneidade apresentada no Litoral dão origem a duas fortes


contradições: de um lado, o valor da Região como patrimônio natural e para a proteção
da biodiversidade e, de outro, um quadro de subdesenvolvimento que não corresponde
aos potenciais regionais e ao sucesso de algumas atividades (ESTADES et al., 2006).
Para o ano de 2006, segundo Denardin et al. (2009), o litoral possuía 82,48% de seu
território coberto por Unidades de Conservação (UCs) e/ou áreas protegidas. Entre os
municípios que o compõem, merece destaque Guaraqueçaba com 98,76% de seu
território coberto por UCs e/ou áreas protegidas. Para Rodrigues et. al .(2002) existe na
região um paradoxo de subdesenvolvimento e conservação ambiental no qual a maioria
das famílias de pequenos agricultores vivem em situação inviável economicamente,
uma vez que a agricultura de pequena escala não prove sua reprodução social, sendo
obrigadas a adotar atividades não agrícolas e/ou migrarem para municípios vizinhos,
principalmente Paranaguá.
Entre os produtos cultivados pelos agricultores familiares no litoral paranaense, pode-se
afirmar que a produção de mandioca atua como uma “atividade amortecedora” em dois

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aspectos: i) contribui para a segurança alimentar das famílias no meio rural; e ii)
apresenta-se como atividade com potencial para gerar renda, podendo ser
comercializada in natura ou industrializada (farinha, mandioca chips etc.).
O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados da elaboração de mapas de
propriedade como instrumento para auxiliar o diagnóstico e planejamento das atividades
produtivas de pequenos agricultores familiares na comunidade do Açungui,
Guaraqueçaba – PR.

Mapas de Propriedade: Diagnóstico e Planejamento

O mapa de propriedade é uma das ferramentas do Diagnóstico Rural Participativo


(DRP). Segundo Habermeier (1995) o DRP consiste em um conjunto de técnicas e
ferramentas que auxilia na construção e consolidação do planejamento produtivo e
organização social da comunidade, visando melhorar a qualidade de vida dos
agricultores familiares de forma a valorizar o que eles têm no local e aperfeiçoar e/ou
potencializar as experiências vividas por eles, tendo como fundamental no processo, a
participação das pessoas para que essas sejam protagonistas do mesmo.
Diante desse contexto, o Diagnóstico Rural Participativo surge como uma ferramenta
metodológica que permite que a comunidade faça seu próprio diagnóstico e a partir daí
comece a auto-gerenciar o seu sistema e compartilhar as experiências para melhorar as
suas habilidades de planejamento e ação (VERDEJO, 2006).
No DRP os técnicos envolvidos são animadores e/ou agentes de desenvolvimento,
fazendo com que os participantes mostrem as principais dificuldades existentes no local
e em seguida consensuam como resolver os problemas encontrados de acordo com as
condições locais. Os instrumentos mais utilizados em um DRP são: observação
participante, entrevistas semi-estruturadas, mapas e maquetes, travessia, calendários,
diagramas, matrizes e análise de gênero (PETERSEN & ROMANO, 1999; VERDEJO,
2006).
Para este trabalho foi priorizado o uso de mapas das propriedades como ferramenta de
diagnóstico e planejamento. O mapa de propriedade mostra todos os detalhes produtivos
e de infra-estrutura social de uma propriedade, possibilitando, com isso, um melhor
planejamento das atividades produtivas da propriedade rural (VERDEJO, 2006).
Em geral, o mapa, costuma ser feito na mesma propriedade do produtor com a presença
e a participação de todas as pessoas que trabalham nela (família, empregados,

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trabalhadores temporários, etc.). Costuma-se começar o mapa com a casa do agricultor e
estende-se o mapa das áreas ou terras mais próximas até as mais distantes. A travessia
na propriedade permite obter informação sobre os diversos componentes dos recursos
naturais, a vida econômica, as moradias, as características de solos, etc. É realizada por
meio de uma caminhada linear, que percorre um espaço geográfico com várias áreas de
uso e recursos diferentes. Ao longo da caminhada se anotam todos os aspectos que
surgem pela observação e dialogo dos participantes em cada uma das diferentes zonas
que se cruzam (idem, 2006).
Em conjunto a elaboração do mapa da propriedade e a respectiva caminhada fez
interessante aplicar uma entrevista semi-estruturada, que segundo Bailey (1982) é
aquela que combina perguntas fechadas e abertas, e que permite ao entrevistado
discorrer sobre o tema sugerido sem que o entrevistador fixe a priori determinadas
respostas ou condições. Tais informações auxiliam uma melhor compreensão das
atividades produtivas dos agricultores, bem como suas dificuldades.

Metodologia
Os dados que subsidiaram a pesquisa foram coletados em três fases, a primeira com a
aplicação de um questionário socioeconômico em todas as residências da comunidade
de Açungui, em Guaraqueçaba – PR, e a segunda com a visita in loco a 19 propriedades
para a elaboração dos mapas e aplicação simultânea de entrevista semi-estruturada.
Referente ao questionário, foram entrevistadas 50 famílias entre os meses de novembro
de 2009 á janeiro de 2010. Para aplicação do questionário, a equipe se dividiu em
duplas, inicialmente indo aos lugares mais distantes e em seguida aos locais mais
centrais da comunidade. Os questionários possuíam 77 questões abordando as
dimensões social (cultura, educação, saúde, instituições, etc.), econômica e ambiental.
Os mapas de propriedade, por sua vez, foram realizados nos meses de janeiro e
fevereiro de 2011, tendo como principal objetivo complementar o diagnóstico já
realizado, principalmente com informações referentes às dimensões econômica e
ambiental mais específicas das propriedades. Buscou-se levantar informações sobre a
delimitação da propriedade, infra-estrutura (casas, galpões, farinheiras particulares,
etc.), estradas, principais cultivos, possíveis cursos d’água, entre outras informações. A
metodologia que norteou a atividade foi apresentada por Verdejo (2006).
Ao chegar às propriedades havia uma breve conversa com os agricultores explicando o
trabalho, iniciava-se então a travessia pelo entorno de sua área produtiva. Durante a

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caminhada, um dos bolsistas aplicava uma entrevista semi-estruturada que
complementava as informações contidas no primeiro questionário. Ao retornar a casa do
agricultor, o mesmo fazia o desenho de sua propriedade mencionando os aspectos mais
relevantes da mesma.
A atividade foi realizada com 17 agricultores que manifestaram interesse na elaboração
dos mapas, sendo que 2 deles possuíam duas áreas distintas, totalizando assim 19 mapas
de propriedades. Para a tabulação dos dados optou-se por somar as áreas dos
agricultores que possuíam mais de uma área a fim de facilitar a contabilização de
resultados. Optou-se, também, por ocultar o nome dos agricultores, sendo tratados no
presente trabalho como: agricultor 1, agricultor 2, agricultor 3 e assim respectivamente
até o agricultor 17.
Como complemento da metodologia foi adotado a utilização de um GPS para coleta de
pontos no entorno da propriedade, possibilitando assim um trabalho posterior de
criaçãode mapas temáticos da comunidade com a ajuda do Software ArcGIS 9.21.

Mapas de Propriedade: Subsidiando o Diagnóstico e o Planejamento da


Comunidade

Levando em consideração as particularidades da comunidade de Açungui, a realização


dos mapas de propriedade permitiu a obtenção de um diagnóstico da comunidade e
também um posterior planejamento dos agricultores para o uso da farinheira
comunitária, tendo em vista que esta atividade permite verificar variáveis como área
utilizada, quantidade de produção, insumos utilizados, nichos de mercados já existentes
e mão de obra utilizada em todo o processo da cadeia produtiva de farinha de mandioca,
facilitando uma visualização de gargalos e potencialidades, auxiliando a comunidade no
estabelecimento de suas metas, por exemplo, a produção com certificação orgânica.
Na aplicação do questionário sócio-econômico e ambiental na comunidade do Açungui
foram visitadas cinqüenta residências, com total de 168 moradores. Destes 19,6%
apresentam mais de 60 anos, 18,4% entre 11 e 20 anos e 25% entre 21 e 40 anos. Foi
constatado que 92% da população gosta de morar na comunidade, pois podem plantar
seu alimento e desfrutam da tranqüilidade e segurança que se tem ao morar longe de
grandes aglomerações.
A principal fonte de renda da comunidade é a agricultura (47%) seguida de outras fontes
de renda (35%) provenientes do comércio, aposentadoria, pensões, servidores públicos e

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construção civil. No entanto, para muitos destes (35%) a agricultura apresenta-se como
fonte de renda secundária.
Por Guaraqueçaba estar inserida em um mosaico de Unidades de Conservação
verificou-se a necessidade de questionar a comunidade quanto ao seu conhecimento em
relação ao tema. Apesar de 46% dos entrevistados terem conhecimento sobre as
restrições as atividades produtivas na área, 50% afirmou não saber que residiam dentro
de uma Área de Proteção Ambiental (APA). A falta de informação justifica-se quando
78% dos entrevistados mencionam que nunca foram convidados para esclarecimentos
em relação APA.
O mapa de propriedade (Figura 02) possibilitou um maior conhecimento da realidade
dos agricultores, bem como permitiu estreitar a relação da equipe do projeto de
extensão/pesquisa e a comunidade. A atividade permitiu identificar, por exemplo, a área
total de cada agricultor, a área produtiva e o percentual de uso de sua área produtiva
(Quadro 01). Permitiu, também, identificar as características físicas da área, principais
cultivos, insumos utilizados, preços recebidos pelos produtos, mão de obra e tempo de
dedicação, e as principais dificuldades de cada agricultor.
Os dados coletados permitem concluir que a maioria dos agricultores (13) possui área
entre um e dez alqueires. Constatou-se, também, que apenas três agricultores utilizam
100% de sua área produtiva.
.
Figura 02 – Mapas de propriedade desenhados por agricultores.

Referente às características físicas das propriedades, foi levantado dados sobre relevo,
qualidade do solo, clima e cursos d’água nas limitações da propriedade. Na região
predominam os solos com baixa aptidão agrícola, devido às limitações topográficas
decorrentes do relevo montanhoso de serra que é dominante em 40% da área total e

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ainda à baixa fertilidade natural e ao hidromorfismo (encharcamento do solo)
característicos da região litorânea (IPARDES, 1995). Nas propriedades visitadas, 3
delas apresentam relevo íngreme (morro), 8 relevo plaino e 6 relevo misto (morro e
várzea), foi relatado que em vários períodos ocorrem chuvas de maior intensidade,
ocasionando enchentes nas áreas de várzea, e o apodrecimento de raízes da mandioca,
cultura presente em 12 agricultores.

Quadro 01 – Área total, produtiva e utilizada pelos agricultores do Açungui.


Agricultor Área Total Área Produtiva (alq.) Área Produtiva
(alqueires) Utilizada (%)
Agricultor 1 5 5 100
Agricultor 2 Não soube informar Não soube informar --
Agricultor 3 50 10 20
Agricultor 4 8 2 25
Agricultor 5 8 3 37,5
Agricultor 6 5 3,5 70
Agricultor 7 2 0,3 15
Agricultor 8 120 4 3,33
Agricultor 9 7 Menos de um --
Agricultor 10 2 2 100
Agricultor 11 4 3 75
Agricultor 12 10 5 50
Agricultor 13 40 10 25
Agricultor 14 1 Não soube informar --
Agricultor 15 10 3 30
Agricultor 16 1 1 100
Agricultor 17 8 4 50
Fonte: elaborado pelos autores.

A umidade média anual é de 84,8%, sendo fevereiro o mês de maiores chuvas e julho o
mês mais seco (média anual de 2.400 mm e 207 dias de chuva por ano). O clima
configura-se como subtropical úmido, do tipo Cfa, segundo a classificação de Koeppen.
A temperatura média anual gira em torno de 20° C (KASSEBOEHMER, 2007).
Abaixo se observa dois mapas elaborados com dados georreferenciados das
propriedades, onde se podem verificar elementos como relevo, hidrografia, estradas e
área produtiva, em destaque.

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Figura 03 - Mapa de propriedade georreferenciado.

As entrevistas semi-estruturadas realizadas no momento da caminhada permitiram


identificar as principais culturas e sua importância na geração de renda (Quadro 02). A
produção de banana, mandioca e pupunha são as mais significativas, sendo relatadas
também outras culturas como palmeira real, abacaxi, maná, araçá, jambo, chuchu,
couve, cebola, feijão, entre outras, muitas destinadas para o auto-consumo da família.
O cultivo da banana é realizado por 14 dos 17 agricultores, o preço de venda gira em
torno de R$ 4,50 a caixa com 20kg, tendo como principais compradores a fábrica de
bala de banana de Morretes, escolas, Ceasa de Curitiba e a Associação Pró-Horta,
fundada com o apoio da EMATER. Alguns agricultores possuem o bananal com mais
de 60 anos, sem necessidade de realizar novos plantios, empregando um sistema que
pode ser caracterizado como extrativista.

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Quadro 02- Principais culturas geradoras de renda na comunidade do Açungui
Agricultor Banana Mandioca Pupunha
1 X X -
2 X X -
3 X X -
4 X X X
5 X - -
6 X X -
7 - X X
8 X - -
9 - - X
10 X X X
11 X - -
12 X X X
13 X X X
14 X - -
15 X X -
16 - X X
17 X X X
Fonte: elaborada pelos autores.

O cultivo da banana é realizado por 14 dos 17 agricultores, o preço de venda gira em


torno de R$ 4,50 a caixa com 20kg, tendo como principais compradores a fábrica de
bala de banana de Morretes, escolas, Ceasa de Curitiba e a Associação Pró-Horta,
fundada com o apoio da EMATER. Alguns agricultores possuem o bananal com mais
de 60 anos, sem necessidade de realizar novos plantios, empregando um sistema que
pode ser caracterizado como extrativista.
A cultura da mandioca está entre os produtos mais cultivados pelos agricultores
familiares no litoral paranaense, por contribuir para a segurança alimentar das famílias
no meio rural e apresentar-se como atividade potencial para gerar renda. Na
comunidade do Açungui parte da produção é transformada em farinha de mandioca que
é comercializada em circuitos curtos, ou seja, entre vizinhos, feiras e mercearias no
município.
A farinha de mandioca do litoral apresenta muitas vantagens competitivas: é produzida
sem a remoção do amido, o que lhe dá um sabor único, e a matéria-prima é produzida
quase em sua totalidade sem adição de produtos químicos. Além disso, é um produto da
agricultura familiar, produzido artesanalmente e com uma forte identidade cultural
(DENARDIN et al., 2009).

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A época ideal para plantar rama, quando o solo e as condições climáticas estão mais
propicias para o cultivo, é de agosto a novembro. Os agricultores têm por tradição
colher a mandioca para a produção da farinha após um ano e meio, alegando que o
rendimento é maior. Diante desta especificidade, é importante que o agricultor planeje
sua atividade com cuidado, o planejamento, neste caso, é essencial para quem quer
produzir todos os anos e manter a frequência no fornecimento para seus clientes.
A comunidade do Açungui conta com uma farinheira comunitária que possui alvará e
licença de funcionamento da Vigilância Sanitária. As informações coletadas junto ao
mapa de propriedade permitem que a comunidade planeje o uso da farinheira, ou seja, a
comunidade tem estimativas de quanto será sua produção de mandioca (Quadro 3). Para
o ano de 2012 e 2013 os agricultores estimam uma produção de 10.140Kg de farinha.

Quadro 3- Previsão de produção de mandioca na comunidade do Açungui


Agricultor Quantidade (pés) Plantio Colheita
1 8.000 Agosto 2011 Novembro 2012
2 1.600 Setembro 2010 Março 2012
3 8.000 Agosto 2009 Novembro 2011
4 4.000 Agosto 2011 Novembro 2012
5 Não produz - -
6 10.000 Agosto 2011 Novembro 2012
7 Não produz - -
8 Não produz - -
9 20.000 Agosto 2011 Novembro 2012
10 10.000 Agosto 2011 Novembro 2012
11 5.500 Agosto 2010 Novembro 2011
12 8.000 Agosto 2010 Novembro 2011
13 Não produz - -
14 2.000 Agosto 2011 Novembro 2012
15 10.000 Setembro 2009 Novembro 2011
16 Não produz - -
17 Não produz - -
Fonte: elaborada pelos autores.

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O cultivo de pupunha vem ganhando espaço entre as principais culturas geradoras de
renda na comunidade, por ser uma espécie de fácil manejo, podendo ser realizado o
corte de 2 a 4 vezes por ano. A quantidade de pés cultivados por agricultor varia entre
600 a 5 mil e foram plantados entre os anos de 2007 a 2009. Na região existe facilidade
para a compra de mudas e/ou sementes da pupunha através de financiamentos por
bancos. Constatou-se que 8 agricultores cultivam a pupunha e vendem a um preço
médio de R$ 2,50 a cabeça, tendo como principais compradores as fábricas de conserva
de Antonina e Guaraqueçaba.
A maioria dos agricultores não utiliza insumos químicos em seus cultivos. Para
melhorar a qualidade do solo utilizam calcário agrícola (dolomítico) e matéria orgânica
e para o controle de pragas e formigas os agricultores utilizam iscas para formiga
(marca desconhecida) e a mandiquera ou manipueira (líquido proveniente do
processamento da mandioca nas farinheiras).
Nas fases de preparação da terra, plantio, colheita e capina, até a elaboração da farinha
de mandioca predomina a utilização exclusiva de mão-de-obra familiar, na qual a
mulher desempenha um papel fundamental para a atividade. Apenas 4 agricultores
relataram a necessidade de contratação de mão-de-obra temporária, contratando entre 1
a 3 pessoas. Os mutirões ou guajus (trabalho em grupo) ainda são praticados, porém
com menos intensidade.
As principais dificuldades relatadas pelos agricultores são os conflitos com os órgãos
ambientais. A comunidade se encontrar inserida em uma APA (Área de Preservação
Ambiental), implicando em restrições quanto ao uso da terra para cortes
(desmatamentos) e novas roçadas para abertura de áreas para o plantio. Segundo
Kasseboehmer (2007), por não se exigir a desapropriação das terras, o proprietário deve
se adequar às novas regras de uso do solo instituídas pelo Plano de Manejo da Unidade.
Devido a esse fato, a APA acaba se tornando a categoria de manejo mais problemática
dentre as Unidades de Conservação previstas no Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), sofrendo sérias resistências de ordem sócio-econômica e cultural
pelas populações residentes.
Outro item citado como dificuldade é a precariedade da estrada, rodovia PR 405. Por
não ser asfaltada dificulta o escoamento da produção e o deslocamento da população
para escolas, postos de saúde, etc.

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Considerações Finais

Os mapas de propriedade se mostraram uma importante ferramenta de diagnóstico e


planejamento das atividades, pois além de proporcionarem maior interação entre
universidade e comunidade, geraram dados e percepções sobre a forma de organização
dos agricultores em suas propriedades. Ao ter conhecimento desta realidade torna-se
possível levantar discussões sobre problemáticas existentes, e abordar com a
comunidade temas pertinentes as suas realidades e dificuldades. Acredita-se que esta
ferramenta auxiliou não só a equipe de bolsistas a desenvolverem suas atividades, mas
procurou despertar nos agricultores o hábito de captar e refletir informações para
auxiliar no planejamento de sua produção.
Através do diagnóstico realizado na comunidade do Açungui conclui-se que a pressão
exercida pelos compradores de banana (principal produto da comunidade) sob os
produtores os leva a buscar alternativas, com atividades não agrícolas, agricultura de
subsistência e venda em pequena escala de produtos beneficiados, como a farinha de
mandioca, doces e compotas. Apesar de 92% das famílias entrevistadas afirmarem que
gostam de morar na comunidade, a falta de infra-estrutura e condições de trabalho leva
muitos moradores a migrarem para centros urbanos, o que limita ainda mais a
capacidade produtiva das propriedades. Esse quadro gera um ciclo no qual a diminuição
do espaço produtivo leva a diminuição da mão de obra que volta a causar a diminuição
do espaço produtivo. Assim, existe uma ambigüidade nas falas dos agricultores,
desejam o aumento de sua área para plantio, entretanto, sofrem com a falta de mão de
obra.
Na atividade dos mapas de propriedades foram identificados vários empecilhos,
principalmente no que diz respeito à coleta de dados, otimização de tempo, divisão de
tarefas e no desenho dos mapas pelos agricultores. Quanto à coleta de dados a maior
dificuldade foi às unidades de medidas utilizadas pelos agricultores, entre elas:
quilograma, caixa, pé, saco, cacho, entre outros, dificultando assim a tabulação dos
dados. Além dos problemas com a coleta de dados ocorreu a dificuldade em chegar a
algumas áreas produtivas, pois as mesmas eram de difícil acesso e as condições
climáticas não se encontravam favoráveis.

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Referências

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para a pesquisa. In: Raynaut, C. et al. (ed.). Desenvolvimento e meio ambiente: em
busca da interdisciplinaridade. Curitiba: ed. da UFPR, 2002, cap. 2, p. 159-194.

BAILEY, Kenneth D. Methods of social research. New York: The Free Press, 1982.

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histórica. Curitiba: Scientia Agraria, 2007, v.8, n.4, p. 421-430.

DENARDIN, V. F. et al. Farinha de mandioca no litoral paranaense: um produto com


potencial agroecológico. Revista Brasileira de Agroecologia, Curitiba, v.4, n.2, 2009.

ESTADES, Naína P. O litoral do Paraná: entre a riqueza natural e a pobreza social.


Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba, 2003, n. 8, p. 25-41.

FARIA, Andréa Alice C. O uso do diagnóstico rural participativo em processos de


desenvolvimento local: um estudo de caso. Viçosa: UFV, 2000, p. 111.

HABERMEIER, K. Como fazer diagnóstico rápido e participativo da pequena


produção rural. (Série Metodologias Participativas) Recife: SACTES/Centro Sabiá,
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KASSEBOEHMER, Ana L . Restrições e impactos da legislação ambiental aplicada


no município de Guaraqueçaba – Paraná. 2007. 144 p. Dissertação (Mestrado em
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RODRIGUES, Aníbal S. A sustentabilidade da agricultura em Guaraqueçaba: o


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Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2002, p. 227.

UFPR. Estudo da Cadeia Produtiva da Mandioca Como Estratégia Para o


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PROEC. Matinhos, 2011. Não publicado.

VERDEJO, Miguel E. Diagnóstico Rural Participativo: Guia prático DRP. Secretaria


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