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INTRODUÇÃO
O modelo de desenvolvimento dominante - que visa maximizar ganhos de curto prazo, gerando
desigualdade e marginalização e destruição ambiental acelerada - é claramente insustentável.
Operacionalizar o conceito de sustentabilidade, partindo de um quadro conceitualmente robusto
e de uma metodologia aplicável a diferentes contextos, resultando em recomendações claras e
práticas para melhorar os sistemas de produção existentes é uma prioridade.
Conceitualmente, a teoria dos sistemas complexos e dos sistemas socioecológicos fornece uma
estrutura coerente para estudar a sustentabilidade dos sistemas de gestão de recursos naturais.
De fato, na literatura científica, é cada vez mais reconhecido que as atividades humanas (sociais,
econômicas, etc.) e o meio ambiente são sistemas acoplados e mutuamente determinados
(GALLOPÍN et al 2001). Um sistema socioecológico (SSE) inclui o componente ecológico (e
biofísico) e o humano, e pode ir da escala doméstica ao planeta (GALLOPÍN et al. 1989).
Recentemente, o papel crítico que a tecnologia desempenha como um mediador universal entre a
sociedade e a natureza começou a ser tratado explicitamente por meio da noção de sistemas
sócio-tecno-ecológicos (STES). Os SSE ou STES são concebidos como todos auto-organizados
(GARCÍA, 1994); acoplado em escalas espaço-temporais hierárquicas e em um processo contínuo
de regulação-transformação (HOLLING 2001, GUNDERSON & HOLLING, 2002). Da mesma forma,
os SSEs são dinâmicos, complexos e estão sujeitos a constantes transformações produtivas e
mudanças nas relações entre os atores sociais envolvidos em sua gestão. Argumenta-se que os
SES acoplados em diferentes escalas representam a unidade fundamental de análise (GALLOPÍN et
al. 2001).
Na última década, importantes avanços teóricos foram feitos para entender a SES (HOLLING 2001,
GUNDERSON & HOLLING, 2002). Esses estudos permitiram o desenvolvimento de noções mais
sofisticadas sobre sustentabilidade, nas quais a ESS é concebida como sistemas auto-reflexivos
complexos; entidades sujeitas a processos contínuos de transformação, dinâmicas não lineares e
processos de mediação e relações de poder entre múltiplos atores sociais (GARCÍA-BARRIOS et al.,
2008).
Além disso, os esforços internacionais para avaliar a sustentabilidade (SE) se multiplicaram. Isso
porque a SE, quando vista como um instrumento estratégico que permite uma abordagem
holística e de longo prazo, representa um suporte fundamental para a gestão política e a escolha e
implementação de futuras prioridades de desenvolvimento. Os resultados dos processos de ES
são muito mais relevantes e poderosos quando atores sociais de múltiplas origens estão
envolvidos (PARTIDARIO et al., 2009). Ficamos impressionados, por exemplo, com o trabalho
sobre irrigação comunal no Marrocos relatado por Dionnet et al (2008), onde a modelagem e a
dramatização foram elementos pedagógicos estratégicos para realizar este projeto. Nesse sentido,
ainda identificamos uma lacuna nos esforços para o ES em ESS: ainda sendo experiências de
decisão hierárquica e com muito pouca validação em Estudos de Caso (CE) concretos com desafios
reais. Defendemos que, para tornar o conceito de sustentabilidade verdadeiramente operacional,
é necessário: 1) que existam abordagens sistémicas / abrangentes que nos permitam abordar e
compreender melhor como funciona a ESS e como resolver os problemas da ESS; 2) gerar
processos de acompanhamento (ferramentas pedagógicas) para entender tanto o conceito de
sustentabilidade quanto todas as etapas envolvidas no exercício da ES e, 3) que a lacuna entre
discurso e ação seja eliminada. Recomendações concretas são necessárias para melhorar os
sistemas de gestão em nível local que tenham um impacto global. Essa abordagem tornará muito
mais fácil pousar e colocar o discurso da sustentabilidade em prática. A pesquisa pode, portanto,
ser direcionada simultaneamente para uma melhor compreensão dos problemas e da
transformação dos sistemas atuais - ou seja, processos de pesquisa-ação (ou pesquisa-
transformação).
2. O Programa MESMIS
O Programa MESMIS começou em 1995 no México. É desenvolvido por um grupo de investigação
interdisciplinar constituído por várias instituições académicas1 que procuram contribuir para a
resolução de vários dos problemas associados ao ES que foram apontados na secção anterior. A
Figura 1 descreve os componentes mais importantes do programa, que consistem em: a) Pesquisa
sobre questões emergentes em sustentabilidade, e a geração de um Marco Teórico que é a base
conceitual que serve de referência para as outras três; b) O Quadro Operacional, ou Quadro
MESMIS, que é o protocolo metodológico que vem sendo validado ao longo dos anos por meio de
sua aplicação em inúmeras ICs no setor rural e a posterior sistematização e análise crítica do
conjunto de experiências geradas (SPEELMAN et al. , 2007; ASTIER et al., 2012). O Framework
MESMIS serve para avaliar, por meio de comparação, o funcionamento socioecológico de sistemas
produtivos de referência e alternativos por meio de um conjunto de indicadores gerados nas
primeiras etapas metodológicas. O verdadeiro objetivo da avaliação é o processo de
aprendizagem gerado no exercício e não o resultado final dele. Portanto, a participação do
usuário em todas as etapas é essencial. c) Os ICs são impulsionados por projetos de
desenvolvimento que visam a promoção de SES alternativos na escala da comunidade agrícola em
diferentes partes do mundo e em diferentes contextos socioeconômicos. d) A componente
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Formação do programa serve para trazer o quadro teórico e o quadro operacional para os
diferentes atores sociais que participam na CE, bem como para outros grupos sociais (estudantes,
membros de ONGs e agências governamentais) envolvidos no ES . Ênfase especial é dada à
geração de ferramentas pedagógicas destinadas a facilitar a participação e compreensão dos
diferentes atores sociais no processo de ES - desde a definição do conceito, a seleção de
indicadores e sua medição e monitoramento, até o discussão de resultados e alternativas - para
que possam compreender melhor as consequências de diferentes decisões de gestão. Por
exemplo, o tutorial LINDISSIMA ilustra cenários de gestão de recursos naturais onde existem
vários atores sociais em conflito (GARCÍA-BARRIOS & PIMM, 2008).
O framework MESMIS propõe quatro premissas metodológicas básicas e uma avaliação cíclica
feita a partir de seis etapas. As premissas são que: (1) a sustentabilidade dos sistemas de gestão
de recursos naturais (SMRN) é definida a partir de pelo menos sete atributos sistêmicos que são:
produtividade, estabilidade, confiabilidade, resiliência, equidade, adaptabilidade e
autodeterminação. (2) é realizado em um contexto específico e que está restrito a uma escala
espacial e temporal específica; (3) a avaliação é pensada como um processo participativo dos
diferentes atores envolvidos e, portanto, requer uma equipe interdisciplinar; e (4) a
sustentabilidade não é determinada per se, mas sim em termos relativos: por meio da
comparação de um ou mais SMRN (avaliação transversal) ou pelo monitoramento de um SMRN ao
longo do tempo (avaliação longitudinal) (ASTIER et al., 2012; MASERA et al., 1999, LÓPEZ-
RIDAURA et al., 2002).
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publicados na forma de teses de mestrado e doutorado, relatórios de projetos e relatórios de
várias organizações.
Conforme mencionado acima, quando a estrutura MESMIS é aplicada, dois objetivos são
perseguidos ao mesmo tempo (1) para analisar os aspectos ou variáveis que afastam o SES de ou
mais perto de ser mais produtivo, resiliente, confiável, estável, adaptável, equitativo e sistemas de
empoderamento e (2) identificar os aspectos da metodologia e da gestão na ESS que precisam ser
melhorados. Ou seja, o objetivo central não é a avaliação em si, mas sim gerar um processo de
monitoramento contínuo que permita ao grupo de gestores e tomadores de decisão planejar a
melhoria do SES.
Os principais desafios encontrados nas múltiplas ICs são: a aplicação do SE por uma única pessoa
ou por uma equipe não multidisciplinar, o que faz com que o avaliador não tenha a visão completa
do sistema e suas implicações; a participação não ativa dos beneficiários; o curto prazo e a não
incorporação do monitoramento constante nos projetos de desenvolvimento e a pouca vinculação
com os programas e políticas locais. Embora esses estudos tenham ajudado a documentar as
vantagens socioeconômicas e ambientais oferecidas por muitas dessas experiências (por exemplo,
sistemas agroflorestais comunitários, sistemas agroflorestais orgânicos e / ou agroecológicos ou
de baixo insumo, sistemas alimentares locais, mercados de agricultores), programas ou iniciativas
raramente são implementados para promovê-los e dimensioná-los.
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Por isso, é fundamental a revisão contínua das diferentes experiências e casos que estão
colocando a metodologia em prática, que fornecem um retorno sobre a teoria e operacionalização
da sustentabilidade, aplicada ao contexto da agricultura familiar e indígena.
Torna-se cada vez mais necessário sistematizar experiências. Prova disso são as diversas iniciativas
que surgiram recentemente em inúmeros países ibero-americanos. Por exemplo, o projeto Buena
Milpa nas Terras Altas Ocidentais da Guatemala, no qual avaliações de sustentabilidade estão
sendo realizadas em 5 estudos de caso, liderados por diferentes ONGs locais e internacionais.
4. O MESMIS no Brasil
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como instrumento de gestão ambiental em contexto de Rede, que se articula com a metodologia
do Sistema de Gestão Ambiental (SGA).
Silva e outros também fazem uma análise e reflexão, com base nas experiências de aplicação do
arcabouço MESMIS (observando seus pontos positivos e negativos) no estado do Pará. Outros,
como no caso de Martínez et al., Utilizam o MESMIS como método norteador para gerar
indicadores e avaliar os serviços ambientais dos agroecossistemas familiares estudados no Rio
Grande do Sul. Aqui são formulados indicadores ambientais que têm a ver com o estado do solo e
da biodiversidade, além do fornecimento de alimentos e medicamentos.
Carvalho e Silva fazem uma comparação entre os diferentes tipos de sistemas familiares
agroextrativistas do município de Curralinho, no estado do Pará, que, segundo os autores,
passaram por profundas transformações. Resque e Silva realizam pesquisa em uma comunidade
camponesa do município de Cametá, no estado do Pará, onde são avaliados 11 sistemas
camponeses com diferentes níveis de intervenção externa.
Sistemas com menor intervenção apresentaram melhores níveis de sustentabilidade nos
indicadores ambientais e econômicos, porém, não foram observadas diferenças nos indicadores
sociais.
A variedade de maneiras pelas quais a estrutura do MESMIS tem sido adotada e adaptada no
Brasil é impressionante. É interessante como, a partir das diferentes experiências, os atores se
apropriaram e se apropriaram do conceito de sustentabilidade. Vários desses autores sabiamente
confirmam que não existem indicadores universais para fazer avaliações de sustentabilidade. Eles
identificaram os aspectos que o MESMIS pode contribuir e como ele complementa outras
metodologias utilizadas pelos atores locais. Destaca-se também o grau de maturidade alcançado
em alguns dos casos, podendo saltar da escala de análise do agroecossistema para a da região ou
rede de produtores. Não só o framework MESMIS, suas etapas e suas premissas são aplicados,
mas também é usado de forma mais ampla, aproveitando todo o seu potencial para a integração e
interpretação dos resultados. Alguns exemplos são: como o conceito de sustentabilidade pode ser
construído a partir de um coletivo; como os indicadores ambientais podem ser usados para
entender outros aspectos da discussão da sustentabilidade, quais serviços ambientais podem ser
oferecidos pelos agroecossistemas e o que é importante monitorar; bem como a análise das
relações de concorrência ou sinergia entre indicadores ou entre dimensões.
Finalmente, deve-se notar que a maioria dos estudos de caso incluídos nesta edição especial usou
o MESMIS em combinação com outras metodologias de avaliação ou estruturas conceituais. Isso
reflete a multiplicidade de abordagens recentemente desenvolvidas para os processos de
concepção, gestão, gestão e avaliação de ESS, com o objetivo de melhorar seu nível de
sustentabilidade. Ao partilhar os resultados da avaliação, a análise dos estudos de caso permitirá
reforçar os aspectos metodológicos que facilitam a sua aplicação a longo prazo. Assim, a avaliação
da sustentabilidade consolida-se como ferramenta permanente de tomada de decisão que
engloba as diferentes abordagens de inovação-transformação da ESS.
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