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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE


(PPGAS)

EFEITOS DA EXPOSIÇÃO A FILAMENTOS DO TIPO ABS EM IMPRESSORAS 3D


E BUSCA POR ALTERNATIVAS

PROPOSTA DE PESQUISA
Tecnologias Sustentáveis para o Desenvolvimento

PROFESSORES INDICADOS PARA ORIENTADOR


Bárbara Estevão Clasen
Suzana Frighetto Ferrarini

INDHIRHA DECKMANN

SÃO FRANCISCO DE PAULA/ RS


MARÇO/2021
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 3
2. OBJETIVOS ......................................................................................................... 4
2.1. Objetivo geral ............................................................................................... 4
3. REVISÃO TEÓRICA............................................................................................. 4
3.1. Funcionamento da impressora 3D.............................................................. 5
4. METODOLOGIA ................................................................................................... 5
4.1. Participantes do estudo ............................................................................... 6
4.2. Variáveis do estudo ..................................................................................... 7
4.3. Proposta de filamento alternativo ............................................................... 8
4.4. Análise estatística ........................................................................................ 8
4.5. Preceitos éticos ............................................................................................ 8
5. CRONOGRAMA ................................................................................................... 9
6. REFERÊNCIAS .................................................................................................... 9
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, a impressão em três dimensões (3D) vem se tornando popular
devido à sua rentabilidade (Y. ZHOU, 2019), revolucionando a maneira com que
obtemos os mais diversos produtos. Dessa forma, esse tipo de impressão vem sendo
cada vez mais utilizado tanto nas residências quanto nas empresas, possibilitando a
criação de profissões, carreiras e até mesmo soluções nunca antes exploradas.
Essa alternativa permite a criação de objetos únicos, redução de perdas de
insumos, otimização dos processos e geração de uma série de benefícios para as
mais diversas aplicações (Y. ZHOU, 2019). A impressão 3D é uma das vertentes da
indústria 4.0, também conhecida como fabricação digital ou fabricação aditiva, que
está transformando a maneira de produzir. Próteses, peças de engenharia, guias
médicas, objetos de decoração são algumas das possibilidades de criação a partir de
uma impressora 3D (MEHRPOUYA, 2019).
A partir do exposto acima, surge o questionamento em relação à poluição
gerada por esse método, uma vez que o filamento mais barato encontrado no mercado
é produzido por derivados de petróleo. O filamento à base de acrilonitrila butadieno
estireno (ABS, do inglês acrylonitrile butadiene styrene) é um polímero termoplástico
de elevado custo-benefício na indústria sendo utilizado na construção de painéis e
ferragens automotiva, por ser um material resistente e durável.
Apesar de seu valor na indústria médica (LUPULESCU, 2019), o uso
prolongado de impressora 3D com filamento ABS já foi associado ao
desencadeamento de problemas respiratórios (HOUSE, 2017), hipertensão aguda e
disfunção microvascular (STEFANIAK, 2017), sendo assim, capaz de desencadear
um processo de intoxicação (STEPHENS, 2013). Considerando a exposição
prolongada de usuários a este equipamento por meio do filamento do tipo ABS, torna-
se essencial um estudo que avalie os possíveis efeitos da exposição a esse filamento
no Brasil. Através de exames toxicológicos é possível determinar o grau de
intoxicação por esta partícula sólida e, sendo necessário, interromper o uso do
equipamento e buscar tratamento com um especialista (STEPHENS, 2013).
Cabe ressaltar que a impressão 3D é um método inovador com amplo potencial
de crescimento em diversos setores. Para que todo esse potencial seja explorado da
forma mais rentável e sustentável possível, se faz necessária (além da confirmação
da contaminação por microplástico) a substituição do filamento do tipo ABS e a
utilização em maior escala de filamentos biodegradáveis. Já existem no mercado
algumas opções de filamentos alternativos criados a partir de biomassa (madeira,
cascas de arroz, laranjas); no entanto, por serem produtos inovadores, ainda
apresentam um alto custo de compra. Dessa forma, surge também a necessidade de
desenvolvimento de um filamento que alie tanto a questão ambiental quanto a questão
econômica, visando um ótimo custo-benefício de forma sustentável.
Considerando o atual cenário social e econômico, em que as impressoras 3D
estão cada vez mais inseridas na sociedade, gerando emprego, renda e melhora na
produção, e a problemática envolvida na utilização de derivados de petróleo no dia a
dia, o presente projeto se propõe a encontrar alternativas viáveis nesse contexto.

2. OBJETIVOS
Os objetivos deste projeto de pesquisa são a detecção de uma possível
intoxicação por microplástico em usuários de impressoras 3D que utilizam o filamento
do tipo ABS, além da elaboração de uma proposta de filamento alternativo que seja
mais rentável e menos poluente.

2.1. Objetivo geral


Identificar o nível de intoxicação em usuários de impressoras 3D que utilizam o
filamento ABS, bem como desenvolver uma proposta de um novo filamento alternativo
aos comumente comercializados.

2.2. Objetivos específicos


 Avaliar a possível intoxicação de usuários de impressora 3D por meio dos
exames de análise cromatográfica a partir de amostras sanguíneas;
 Criar e aprimorar uma proposta de um filamento alternativo para ser utilizado
em impressora 3D utilizando-se biomassa como matéria-prima;
 Buscar parcerias com empresas interessadas na proposta inovadora a fim de
obter financiamento para o seguimento do estudo.

3. REVISÃO TEÓRICA
A impressora 3D começou a ser desenvolvida na década de 80 utilizando o
conceito de produção aditiva. Nessa década, também foi desenvolvida a técnica de
endurecimento de polímeros líquidos sob a luz ultravioleta e criação de objetos sólidos
a partir da deposição (camada por camada) desse polímero. Desde então o processo
de fabricação que utiliza a modelagem por deposição fundida tornou-se a
dependência da maioria das impressoras de mesa. (SAVINI, 2015).

3.1. Funcionamento da impressora 3D


Primeiro, deve ser feito um modelo 3D do objeto que deseja criar em softwares
de edição capazes de projetar e modelar em três dimensões. Após a modelagem, o
objeto é enviado para um programa de fatiamento, responsável por definir os
parâmetros e configurações como resolução, temperatura, preenchimento entre
outras. Após, o modelo é dividido (fatiado digitalmente) em camadas horizontais e
gerando um código para a impressão.
Esta máquina utiliza uma cabeça de impressão semelhante a uma impressora
jato de tinta. Os filamentos de plástico são moldados, aquecidos e expulsos da cabeça
de impressão, formado por um pequeno injetor que se move vertical e horizontalmente
à medida que ocorre a impressão, colocando para baixo camadas do objeto. A cada
nova camada, a base da impressora sobe um pouquinho e começa a projetar uma
nova camada. O processo é contínuo até a finalização do objeto. Conforme o plástico
esfria, ele endurece, criando a forma final do objeto (HOY, 2013; MAWERE, 2014).
Existe uma grande variedade de filamentos disponíveis no mercado, porém o
mais utilizado é o filamento do tipo ABS. Esse filamento é derivado do petróleo,
altamente resistente às altas temperaturas e aos impactos, além de possuir dureza
superficial baixa (permitindo um acabamento fácil após a impressão devido à sua
solubilidade em acetona pura).
ABS é um copolímero composto por acrilonitrila (monômero sintético produzido
a partir da amoxidação catalítica do hidrocarboneto propileno e amoníaco), butadieno
(alceno obtido a partir da desidrogenação do butano), e estireno (produzido a partir da
desidrogenação do etilbenzeno) obtido através da polimerização da acrilonitrila e do
estireno na presença do polibutadieno. O resultado é uma longa cadeia de
polibutadieno interligada por cadeias curtas de acrilonitrila com estireno, poli(estireno-
co-acrilonitrila) (BESKO, 2017; FRANCISCO, 2016).

4. METODOLOGIA
Será realizado um estudo observacional de pelo menos 30 indivíduos adultos
divididos em diferentes grupos experimentais (conforme fluxograma simplificado
demonstrado na Figura 1). Os participantes deste trabalho serão esclarecidos sobre
os procedimentos e a importância do estudo durante a entrevista de seleção. O estudo
será realizado com amostra de sangue, tanto de usuários de impressora 3D quanto
de pessoas que não utilizam essa ferramenta.

4.1. Participantes do estudo


A amostragem será por conveniência e será proveniente de usuários que
demonstrarem interesse em participar a partir de questionários enviados por email.
Os participantes, após a concordância em participar do projeto e assinatura do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), terão as amostras sanguíneas
coletadas preferencialmente no mesmo dia de realização de outros exames
sanguíneos de rotina, a fim de minimizar o estresse. O procedimento será o mesmo
tanto os indivíduos do grupo controle quanto dos grupos usuários de impressora 3D.
A seleção da população de estudo se dará da seguinte forma:
1) Critérios de Seleção/Inclusão:
a) Utilização de impressora 3D por pelo menos 2 horas semanais
(embora este período de uso do equipamento pode não representar
completamente todos os cenários de exposição possíveis, esta pesquisa
espera que o filamento ABS possa induzir efeitos toxicológicos);
b) Idade entre 18 e 65 anos;
2) Critérios de não seleção/Exclusão:
a) Usuário que não cumprir os itens a) e b) dos critérios de inclusão;
b) Exposição direta a outros materiais derivados de petróleo;
c) Usuário que utilize equipamentos de proteção individual (EPI) durante
o uso da impressora 3D e/ou manuseio do filamento do tipo ABS;
d) Histórico prévio de doenças respiratórias;
e) Demais fatores não previstos.
Serão considerados aptos para o grupo controle os indivíduos dentro da mesma
faixa etária, que não tenham qualquer contato com impressora 3D, exposição direta a
outros materiais derivados de petróleo e histórico prévio de doenças respiratórias.
Figura 1. Fluxograma simplificado das etapas 1 e 2 do projeto envolvendo a seleção
do n amostral.

4.2. Variáveis do estudo


Neste estudo, será avaliada a presença de acrilonitrila, butadieno e estireno
(componentes do filamento ABS) a partir de plasma/soro obtido do sangue dos
voluntários utilizando a técnica de cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC, do
inglês high performance liquid chromatography) no laboratório coordenado por
Bárbara Estevão Clasen. Esta análise exige um volume relativamente baixo de
amostras (em torno de 10 µL), sendo possível empregá-la em amostras de alimentos,
água, solo, sangue, urina, e identificar amostras que contenham drogas, tecidos e até
mesmo micropartículas sólidas (CHERIYEDATH, 2019).
O HPLC é um método de separação de compostos químicos em solução
utilizado na identificação e quantificação de componentes específicos em uma
mistura. A amostra será preparada em meio específico a fim de precipitar as moléculas
presentes e posteriormente será injetada na coluna de HPLC no cromatógrafo líquido.
O equipamento irá fornecer um gráfico para cada amostra injetada, em que cada pico
mostrado representa uma molécula do detectada na amostra. Espera-se a
identificação de partículas sólidas de moléculas de acrilonitrila, butadieno e estireno
emitidas pelo filamento ABS nas amostras e interesse.
4.3. Proposta de filamento alternativo
Paralelamente ao recrutamento dos participantes, ocorrerá a busca por
parcerias com empresas a fim de realizar a confecção de um filamento para
impressora 3D à base de biomassa, podendo ser cascas de alimentos, restos
orgânicos, que seja biodegradável e não prejudicial ao ser humano, visando também
a rentabilidade do processo. Em conjunto, será escolhido o material para matéria-
prima e decidido todo processamento a fim de se obter um material com as
características o mais próximo possível do atualmente utilizado. De forma resumida,
o processo se dá da seguinte forma:
 Inicialmente, é necessário ter uma fonte de biomassa (como por exemplo,
lixo orgânico, casca de arroz, restos da produção de cerveja, etc);
 A biomassa então passa por processos enzimáticos a fim de ser enriquecida
em polímeros (que é a matriz do filamento) “naturais”;
o Atualmente, esse polímero pode ser à base de derivados de petróleo
(como no caso do filamento ABS) ou obtido de fontes naturais, como o
ácido poliláctico (PLA, do inglês polylactic acid). Porém, no caso do PLA,
a desvantagem é a baixa resistência a elevadas temperaturas e a
impactos, devido à alterações nas propriedades físicas e químicas
(AHMED, 2020). O objetivo do projeto é propor um filamento alternativo
(por exemplo, à base de biomassa) que seja tão resistente quanto o ABS
e biodegradável como o PLA;
 A biomassa rica em polímero é misturada ao pigmento para dar coloração;
 Após, passa por um processo de secagem, extrusão e resfriamento, para
formação do filamento final.

4.4. Análise estatística


A partir dos dados obtidos com as amostras sanguíneas dos voluntários será
feita a análise de distribuição dos dados, para a escolha do teste estatístico mais
adequado.

4.5. Preceitos éticos


Este projeto, caso necessário, será submetido ao Comitê de Ética da
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Os voluntários escolhidos serão todos
com idade superior a 18 anos e assinarão o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). O projeto de pesquisa seguirá todos os aspectos éticos previstos
pelo Comitê.

5. CRONOGRAMA
O presente projeto foi organizado em 8 trimestres, totalizando 24 meses de
tempo de execução. Foram consideradas tanto as etapas teóricas quanto práticas; no
entanto, o cronograma esperado pode ser modificado ao longo do tempo de acordo
com a necessidade da orientadora e da orientanda.

08/2021- 11/2021- 02/2022- 05/2022 - 08/2022- 11/2022- 02/2023 - 05/2023-


11/2021 02/2022 05/2022 08/2022 11/2022 02/2023 05/2023 08/2023

Versão estendida
X
do projeto

Disciplinas X X X X X

Levantamento
X X X X X X X X
bibliográfico

Seleção do n
X X X X
amostral

Proposta de
criação de
X X X X
filamentos
alternativos

Coleta dos dados


X X X X X
e amostras

Análise dos dados X X X X

Redação do
X X
trabalho

Entrega e
apresentação da X X
dissertação

6. REFERÊNCIAS
AHMED W, et al . Implementing FDM 3D Printing Strategies Using Natural Fibers
to Produce Biomass Composite. Materiais . 2020; 13 (18): 4065.
https://doi.org/10.3390/ma13184065
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technologies. 13th IEEE International Conference on BioInformatics and
BioEngineering , Chania, Grécia, 2013, pp. 1- 4, doi: 10.1109 / BIBE.2013.6701672.
BESKO, Marcos. Aspectos técnicos e nocivos dos principais filamentos usados
em impressão 3D. 2017. Gest. Tecnol. Inov. Vol.01 n.3 p. 12.
CHERIYEDATH, Susha. Vista geral da cromatografia. 2019. Revisado por
Afsaneh Khetrapal, BSc. Disponível em:
https://www.news-medical.net/life-sciences/Chromatography-Overview-
(Portuguese)..aspx. Acesso em: 23 fev. 2021.
FRANCISCO, Beatriz Martins. Simulação no processo de injeção utilizando o
software moldflow. 2016. 40 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Tecnologia em
Polímeros)- FACULDADE DE TECNOLOGIA DE SOROCABA, SOROCABA, 2016.
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