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Capítulo 1 – diário.

Era tarde em Dunsmuir, o sol já estava baixo, a ponto de dar início a noite, Maio acabara de
voltar de sua psicóloga, dona Tereza. Ele estava cansado por ter que lidar com isso
semanalmente. O mesmo sobe as escadas acima até chegar em seu quarto. O garoto se deita
em sua cama com a maior “delicadeza” do mundo. Maio não ligava se aquilo era por sua mãe
chamado de “ maus modos”. Ele estava estressado, e só conseguia pensar no diálogo que
teve com sua mãe no carro voltando pra casa

– Fala sério- Maio dizia antes de toda consulta- eu já estou bem. Poxa eu mudei, eu não
preciso... de uma psicóloga- E sua mãe Ana, sempre usava o mesmo argumento contra o filho.
–VOCÊ sabe – diz ela com ênfase- que você precisa trabalhar no seu temperamento. Mas... se
isso te faz feliz, eu deixo você ficar sem ir semana que vem. Os olhos do garoto já se enchiam
de brilho ao escutar que não precisaria ir ao psicólogo na semana que vem.
-Entretanto toda via (como sua mãe sempre dizia) a psicóloga me pediu ontem para lhe
entregar esse caderninho. É pra ser um... Deixa eu lembrar a palavra... um diário. Ela quer que
você escreva nele, que você demonstre mais seus sentimentos e medos, mas com você
mesmo, entende o que eu quero dizer? Você é esperto, vai conseguir.
-Mas mãe, eu não quero ter um “diário idiota”, eu já te disse que estou bem.

O carro havia acabado de entrar na garagem de casa, e ali mesmo o assunto havia chegado ao
fim.

E ali estava Maio, jogado em sua cama, repassando esse momento em sua cabeça.

– Ah pai, porque você tinha que ir – diz Maio com voz serena a si mesmo em seu solitário
quarto. - você se foi faz três anos... Mas parece que nunca nos vimos, e um amargo enorme
paira sobre meu coração. Eu sinto sua falta.... Queria que estivesse aqui para me dizer o que
fazer.

Depois de alguns segundos de silêncio, a caneta que estava a ponto de se despachar da


escrivaninha de Maio, finalmente cai, chamando a atenção do garoto fazendo com que se
abaixasse para pegar a caneta fujona.

-Ai! – exclama Maio ao bater a cabeça na escrivaninha na tentativa de se levantar -Nossa,


quando foi que a minha mesa ficou mais larga- O garoto então percebe que derrubou mais
que apenas a caneta – Maio olha para o pequeno caderno e depois para o teto de seu quarto,
como se o pai pudesse o ouvir, e diz- é sério isso pai? Essa é minha resposta...- diz ele com o
caderno que a psicóloga dera para ele, e se levanta passando a mão em sua cabeça em busca
de amenizar o desconforto da pancada. – Hmm... Acho que posso dar uma chance. Então,
Maio coloca o caderno sobre a escrivaninha, e o encara por alguns segundos. O garoto o abre e
começa a folheá-lo, como se estive em busca de algo. Mas encontrou apenas folhas em
branco, como era de se esperar de um caderno novo em folha.

- Vamos nessa então, só... não sei por onde começar... Será que eu coloco -diz Maio em Tom
suave de voz, enquanto escreve em seu novo caderno- “querido diário”.... Não, isso é muito
clichê, ou até quem sabe um... “Eai como vai diário?” Meu nome é Maio e eu tenho 17 anos e
... Nossa, isso é mais difícil do que eu pensava. Mas que droga! Isso é apenas um caderno
estupido.

Depois de um tempo, Maio deixa o caderno de lado, apenas com que já havia escrito. Ele se
senta sobre sua cama, retira o cabo do carregador de seu celular. Ele checa suas mensagens
com tranquilidade, passa o dedo entre os contatos, até parar ... Em Jake, seu namorado. Os
dois estavam juntos a dois anos, mais especificamente depois que Maio se assumiu gay em seu
aniversário de 15 anos, depois do trágico acidente de seu pai, oque ainda deixa Maio com
algumas dúvidas na cabeça em relação a isso.

Será que o pai de Maio o aceitaria como ele realmente é? Será, que continuaria o amando do
mesmo jeito?

Ele afasta rapidamente os pensamentos conturbados e responde a si mesmo enquanto digita


para Jake. -É óbvio que ele te aceitaria, fique em paz- disse enquanto continuava a digitar.
Maio então manda uma mensagem ao namorado dizendo “Eai Jake, como vai? Eu só queria
saber se você tá livre amanhã á tarde, se estiver gostaria de tomar um sorvete?”

Maio e Jake moravam em cidades diferentes, Maio em Dunsmuir, e Jake em Malibu, onde
começou a morar devido seu primeiro ano na faculdade. Então, os dois mantinham uma
relação à distância a dois messes e meio. A última vez que os dois se encontraram, foi no final
de janeiro, mais especificamente no dia 25.... Então Maio achou que seria uma boa ideia rever
o namorado amanhã, já que era domingo o garoto pensou que o mesmo estaria livre para
encontrá-lo.

Maio abraça fortemente o travesseiro, como se o culpado pela demora do namorado de


responder a mensagem fosse do pobre coitado. Então, um rápido “bip”, soa em meio ao
silêncio.

- Ah meu Deus oi Ja-

-Fala- diz Jack do outro lado da linha, de um jeito meio seco e cansado, como de costume.

-Nossa, oi pra você também- diz Maio em tom de surpresa e sarcasmo.

- Ah... oi. Foi mal, eu ando meio ocupado ultimamente... Faculdade e tals.

- Hmm... Por isso está demorando pra responder minhas mensagens?

- Sobre isso.... Ah... me desculpa de verdade, as coisas então super corridas aqui.

-Oh... Eu que peço desculpas então- Maio pensa em algo para falar com Jake, sobre a
faculdade ou outro assunto que o deixe mais relaxado e menos estressado.

-Ehh... Então... Você fez algum amigo ou... Nada como da última vez?

- Ah sim, eu fiz sim. Foram dois apenas, mas é o bastante para me distrair disso tudo.

-Me conta mais sobre esses “amigos”- disse Maio com um tom explícito de ciúmes.

- Eles... São legais. A Lana faz o melhor café gelado da vida, e vai por mim, nunca queira
desafia- lá para uma partida de xadrez ou qualquer outro jogo de tabuleiro, essa menina é
doida. E tem o Zac, que é uma figura, ele sempre nos faz rir enquanto estudamos em nosso
grupo de estudos.
- Uau!?- diz Maio em um tom de sarcasmo- Jake Walisson tendo um grupo de estudos?? E
com... amigos? Hahahahah

- Cala a boca MaMaio- disse em um tom brincalhão, fazendo com que se escapasse um riso
casando

- Eii! Apelido de infância não vale haha- diz Maio encostando a cabeça em seu travesseiro e
ajustando o celular no ouvido – mas enfim, que bom que você tem seus amigos aí a seu lado...
Eu queria falar algo rapidinho com você, antes de voltar a estudar loucamente.

- Ah, em que posso te ajudar MaMaio? Hahaha.

- Ah que pena, eu não sei se você é a pessoa certa... Eu procuro o jackli-

- Tá bom, tá bom... parei... Maio.

- Aaata, que bom... Então você pode perguntar ao Jackliwes se ele tá livre para tomar um
sorvete com o Maio no domingo de tarde por gentileza?

- Jake solta um risinho do outro lado do telefone e diz -ah... Ele disse que... domingo tá bom...
Ele está livre pra ir tomar um sorvete com o Maio.

Maio então, antes de responder Jake, repara que sua mãe está o chamando lá em baixo...
-Maioooo!! O jantar está na mesa!!

- ...Jake, minha mãe está chamando, tenho que ir, fica bem ouviu mocinho? Eu te amo Jake.

-Eu... também te... Amo.

Maio então desliga o telefone, um pouco confuso porém feliz de ter escutado a voz de jake.

- Já tô descendo mãeee!!- berra Maio de seu quarto, na esperança de acalmar a mãe animada
o chamando para comer pizza da Nessa.

Maio então desce a enorme escadaria. Ele nunca gostou daquela escada, era muito comprida e
feia. Ele sempre dizia, que se aquela escada fosse uma pessoa, seria uma velhinha rabugenta
que joga tênis todo final de semana com as amigas Sarah e Clotilde.
Maio se arrepiava só de pensar nisso... O garoto finalmente chega ao fim da escadaria, e com
um grande “finalmente” comemora sua vitória sobre a escadaria rabugenta.

- Finalmente digo eu. Eu quase perdi a garganta menino!

- Foi mal mãe, estava falando com o Jake, ele estava me contando coisas da faculdade e tals...

- Ahh, que bom que vocês dois estavam conversando, já estava achando que meus bebês
tinham terminado.

- Não mãe, que isso mulher? A gente não terminou não, nossa relação está super de boa, vai
durar bastante haha. Eee... Ele é MEU, bebê. E eu sou só seu bebê.

- Ata haha, entendi bebê da mãe. Vai lá pegar seu pedaço de pizza – Ana diz apontando para
mesa, onde a caixa da pizza estava, e por sinal cinquenta por cento já devorada por seus
irmãos menores, Bianca e Pedro.
- Meu Deus! vocês estão com pouca fome hoje hein. Mãe – diz Maio em um tom brincalhão e
sarcástico- será que devemos devolver a pizza? Eles não estão com fome haha.

- Crianças, nós já falamos sobre “pegar leve” com a pizza!

- Desculpa mamãe- disseram os gêmeos em mesmo tom – a pizza chama nossos nomes
mamãe. Hahaha Ela diz que devemos come-la por completo. Não é divertido?

- Ae? Que divertido! Mas sabe o que seria mais divertido ainda?

- Jogar banco imobiliário!?- disseram as crianças felizes da vida.

- Não, você dois indo pra ca... -Ana para no meio da frase e para pra pensar no que os gêmeos
disseram. – Espera... vocês... estão jogando banco imobiliário?

- Ahh...? Sim!

- Uau... Nós não jogamos este jogo desde de que...- Ana se aproxima dos filhos com calma e
senta ao lado dos dois, enquanto Maio apenas os encara mordendo sua fatia de pizza de
queijo- desde de que...

- Desde que o papai morreu...- completa Maio com a voz baixa.

- Sério..? Esse jogo é tão divertido- disse Pedro olhando a mãe com uma cara meio confusa.

- Vocês não vão lembrar desses momentos, eram jovens de mais... Só tinham três anos de
idade.

- Eu consigo me lembrar – disse Maio- Eram os melhores momentos que tínhamos com ele. A
noite dos jogos em família... Este era o favorito dele, passávamos horas e horas jogando banco
imobiliário. Sinto falta disso.

Um silêncio enorme paira sobre a sala, demonstrando o luto de todos presentes ali. O pai
deixara muita saudade entre eles. Saudade essa... Que fez a família deixar de ter o dia do jogo
da família por um bom tempo...

- Bem... diz Ana segurando as lágrimas após lembrar dos bons momentos com o marido – acho
que eu tirei quatro casinhas- diz Ana, jogando os dados que tirara do chão ao lado de Bianca-
isso me leva ...para a “Indústria de laticínios Mab” hmmmm.... Interessante... – Ana começa a
fazer caretas analisando a carta, como se fosse ajuda-lá a entender os benefícios. As crianças a
olham começando a rir em voz baixa das caretas da mãe.

-Ei! Minha vez – disse Maio rindo pegando os dados da mão da mãe - vamos ver... Oque vai
ser- diz Maio jogando os pequenos cubos no tabuleiro - Qual é? Faltou uma insignificante
casinha para a indústria de petróleo- diz Maio bravo, fazendo cena para os irmãos rirem- Bem,
acho que eu fracassei crianças, agora é com vocês. Maio passa os dados para os gêmeos, como
se fossem tesouro antigos. Com direito a reverência e tudo.

Depois de um tempo jogando, e o relógio passando as horas, eles obtiveram um vendedor.

- Ganhei!!- gritou Bianca em sinal de vitória- ganhei, ganhei ganheiii.

- Nós somos gêmeos - disse Pedro- então suas vitórias também são minhas haha.

- Nãoo! Eu ganhei sozinha!


- Deixe de ser egoísta, vamos dividir a Vitória juntos, como irmãos de mesmo sangue devem
fazer sempre.

- Mãeee!! – exclamou Bianca.

- Tá bom, tá bom, já chega. Os dois- disse Ana apontando o dedo e fazendo cara feia para os
dois mais jovens- Aliás, está na hora de os dois irem dormir.

- Mas mãe, não quere-

- Sem mais! Já está tarde, os dois pra cama agora, e eu não quero saber que amanhã é
domingo- adianta Ana caso os filhos quisessem retrucar.

-Tá...- disseram com cabeça baixa em sinal de rendição.

- E não esqueçam de escovar os seus dentes, ouviram? – disse Maio enquanto olha para os
dois irmãos.

- Tá bom... MaMaio.

- Pera... Como... Vocês estavam me escutando atrás da porta do meu quarto?

- Boa noite MaMaioo- disseram os gêmeos rindo enquanto subiam as escadas rapidamente.

Maio sobe os primeiros 5 degraus rapidamente, ameaçando chutar o bumbum dos dois se eles
não subissem de pressa. Então o garoto desse a escada e vai ao encontro da mãe.

- Que história é essa de “MaMaio”?

-Ahh... É só um apelido bobo de infância que eu contei só pro Jake... Mas agora tem dois
pirralhinhos chamados Bianca e Pedro que sabem também- diz Maio elevando a voz para que
os mesmos o escutassem.

- E sua Mãe só está sabendo disso agora.... Espera... Será que isso era uma das coisas que te
deixaram nesse estado!!??

- Que estado dona Ana?- disse Maio de um jeito debochado.

- Não.... Sociável. Aí meu deus filho, por que você não me conta as coisas?

- Como assim “essas coisas”? Isso não foi nada... Só um apelido bobo de infância.

- Que você contou para o seu namorado mas não contou para sua mãe!

- Para de drama mãe hahaha. Eu só contei pra ele porque... Sei lá a gente chegou no assunto e
eu acabei dizendo a ele. Foi mal.

-Hmm... Aceito suas desculpas, só se me prometer que vai me contar mais coisas sobre você. E
eu quero saber mais sobre o Jake também....

-Bem, você pode perguntar isso pra ele pessoalmente amanhã...

- ELE ESTA VINDO PRA CÁ? – pergunta a mãe de Maio loucamente- e você só me diz isso agora
que são 23:30??? E onde ele vai ficar?

- Calma mãe, você vai acordar os gêmeos. E me desculpa, eu acabei não contando mais cedo
porque eu esqueci. Mas eu obviamente ia te contar se eu tivesse lembrado disso mais cedo
mamãe. O Jake vai ficar com os pais dele mesmo.
- Mamãe? Jura? Hahaha, só você mesmo Maio . Enfim, você quer me pedir alguma coisa?-
começa a dizer a mãe, em um jeito brincalhão- Dinheiro... As chave do carro pra sair com o
Jake pra algum lugar... Sei lá um mote-

- eu só quero o dinheiro!- diz Maio rapidamente antes que a mãe terminasse a frase- e aliás,
eu nem tenho carteira ainda, não posso dirigir e.... Eu não sei ainda... Sobre um ponto
específico... De ter um namorado... E de praticar certo atos... Mas eu não quero ter essa
conversa agora.

- hahahahah, tá aqui bebê da mãe- diz Ana entregando 50 pratas que tirou do bolço para pagar
o sorvete- ah, e que bom que você comentou sobre sua carteira de motorista, eu marquei seu
exame semana que vem. Era pra mim ter feito isso quando você completou 16... -Ana para e
olha para a parede fixamente, como se tivesse perdido algo lá – Bem, eu vou pra cama Maio.
Não vai dormi tão tarde rapazinho.

- Ok mãe... Ok. E sobre o exame de motorista.... Acho que eu estou pronto?

-Claro que está! E todas as vezes que deixei você treinar baliza no estacionamento do super
mercado? Hahaha

-... Ok mãe, vou passar!

- Esse é o espírito garoto! Boa noite Maio, mamãe te ama- diz Ana indo de encontro de Maio
para lhe dar um abraço de urso.

- Boa noite mãe, te amo.

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