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18 de Jan de 2019

Efeitos da cor: insights da neuroarquitetura

Por Andréa de Paiva

Qual a cor das paredes da sua casa? Ou do seu sofa? E do logotipo da sua empresa? Na maioria das
vezes atribuímos às cores um valor cultural e estético. Qual é sua cor favorita? Ou porque ainda hoje
associamos azul a meninos e rosa a meninas? Os efeitos das cores no nosso cérebro vão muito além de
preferências pessoais ou até de valores culturas. No artigo de hoje vamos discutir alguns insights da
NeuroArquitetura sobre este tema tão relevante!

Fonte: Wallperio.com

Antes de mais nada, é preciso entender que o assunto é muito mais complexo do que parece. Os
impactos da escolha de uma cor para a decoração de um ambiente vão muito além da estética ou de
gosto pessoal. Por isso as descobertas da NeuroArquitetura são tão importantes: finalmente
começamos a entender como o cérebro é afetado pelas cores ao nosso redor.

A cor é um elemento fundamental do ambiente natural no qual nossa espécie surgiu. As cores das
plantas, por exemplo, podiam ajudar a perceber se elas eram comestíveis. A cor do céu podia indicar o
momento de procurar abrigo de uma tempestade antes que ela começasse. Ou o vermelho do sangue
em meio a vegetação podia indicar a presença de uma vítima e, consequentemente, de um predador. Ou
seja, a identificação das cores está diretamente ligada à sobrevivência da nossa espécie. Por isso, nosso
organismo evoluiu de forma a gerar respostas padronizadas para algumas cores, herdadas da
experiência dos nossos antepassados.

Por outro lado, conforme nós passamos a viver em sociedades com culturas próprias, as cores foram
ganhando outras dimensões em nossas vidas. Significados foram sendo atribuídos a elas: vermelho é a
cor da paixão; preto é a cor do luto. Contudo, esses significados mudam de cultura para cultura. Em
muitos lugares, o vermelho é associado à ideologia comunista, por exemplo. Ou, em algumas regiões
orientais, o branco é a cor do luto.

Sendo assim, podemos perceber que os impactos gerados pelas cores podem ser divididos em pelo
menos dois grandes grupos: impactos herdados e impactos aprendidos [1]. Já faz tempo que cientistas e
psicólogos buscam compreender esses impactos. Atualmente, a NeuroArquitetura veio contribuir com
essa busca.

Após estudos com macacos realizados há


algumas décadas, os cientistas concluíram
que nosso cérebro dedicava uma área
específica ao processamento das cores. Essa
área, conhecida como o centro das cores (ou
V4), fica no lobo occipital, próxima aos outros
centros de visão do cérebro [2].

Porém, com os exames de ressonância


magnética, os neurocientistas perceberam
que o processamento de cor no cérebro
humano é bem mais complexo e envolve o
trabalho de diversas áreas distintas. Além
disso, ele está diretamente ligado às áreas
responsáveis pelo processamento de
Áreas responsáveis pelo processamento da visão. emoções e da memória.

Em uma pesquisa de 2002, um teste foi usado para entender a influência da cor na memória visual de
cenas naturais. Os participantes tiveram resultados de 5 a 10% melhores quando eram mostradas
imagens coloridas do que quando viam imagens em preto e branco, independente do tempo de
exposição da imagem. Vale destacar que essa melhora só acontecia para as imagens que apresentavam
cores que estavam de acordo com os padrões das imagens (por exemplo o céu azul e árvores verdes).
Assim, os pesquisadores concluíram que o processo de memorização e de reconhecimento está
diretamente ligado à nossa habilidade de perceber cores e iluminação [3] .

Apenas a imagem com cores semelhantes às da natureza tinha o efeito de melhorar a memorização
Mas as cores foram tão importantes na nossa
evolução que sua conexão com nossa
memória vai ainda mais além. Um outro
grupo de cientistas descobriu que, quando
olhamos para imagens de objetos conhecidos,
nosso cérebro completa sua cor, mesmo que
ela não esteja lá [4]. Esse estudo foi realizado
com a imagem de uma banana. Os
participantes percebiam que viam a imagem
em preto e branco. Mas o cérebro agia como
se estivesse vendo a banana como ela é na
vida real: amarela. Isso significa que o cérebro
acessou a memória completa da banana,
incluindo sua cor, mesmo quando esta não
estava lá..

E como os arquitetos podem aplicar esses


conhecimentos da NeuroArquitetura para
utilizar mais cor em seus projetos? Um bom
começo é levar em consideração essa forte
ligação das cores com nossa memória.
Mesmo numa construção completamente
artificial (sem elementos de biofilia), o uso da cor pode levar nosso cérebro a fazer associações
automáticas com paisagens de natureza. Um piso areia ou verde ativará muito mais memórias
relacionadas à natureza do que um piso branco ou vermelho. Uma parede pintada em tons de azul,
variando do mais escuro em cima para o mais claro em baixo vai ativar a memória do céu muito mais do
que uma pintura de azul chapado.

As contribuições da NeuroArquitetura para o uso da cor não se esgotam por aqui. Por isso, em breve
voltaremos a discutir outros aspectos sobre esse tema!

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Referências:

[1] Elliot, A. (2015) Color and psychological functioning: A review of theoretical and empirical work.
Frontiers in Psychology 6(368):368.
[2] Roe, A. W., Chelazzi, L., Connor, C. E., Conway, B. R., Fujita, I., Gallant, J. L., Lu, H., … Vanduffel, W.
(2012). Toward a unified theory of visual area V4. Neuron, 74(1), 12-29.
[3] Gegenfurtner, K., Wichmann, F., Sharpe, L. (2002) The Contributions of Color to Recognition Memory
for Natural Scenes. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition 2002, Vol. 28,
No. 3, 509–520
[4] Bannert, M., Bartels, A. (2013) Decoding the yellow of a gray banana.

Curr Biol. 2013 Nov 18;23(22):2268-2272. Current Biology 23, 2268–2272, November 18, 2013 ª2013
Elsevier Ltd All rights reserved http://dx.doi.org/10.1016/j.cub.2013.09.016

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