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capitalismo’?
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Para Weber, capitalismo era 'o poder mais fatídico de nossa vida moderna'
Essa “ética” moderna ou código de valores não se parecia com nada do que havia antes.
Weber supôs que todas as éticas anteriores – isto é, códigos socialmente aceitos de
comportamento em vez das proposições mais abstratas feitas por teólogos e filósofos
– eram religiosas. As religiões forneciam mensagens claras sobre como se comportar
em sociedade em termos humanos diretos, mensagens que eram tomadas como
princípios da moral compartilhados por todas as pessoas. No Ocidente, isso significava
o cristianismo. Sua prescrição social e ética mais importante veio da Bíblia: “Ame ao
próximo…” Weber não era contra o amor, mas sua ideia de amor era privada – um reino
de intimidade e sexualidade. Enquanto guia de comportamento social em locais
públicos, “ame ao próximo” era obviamente bobagem, e esse era um motivo importante
pelo qual os pedidos das igrejas de falar à sociedade moderna em termos
autenticamente religiosos eram marginais. Ele não teria se surpreendido com a longa
temporada desfrutada pelo slogan “Deus é amor” no Ocidente no século 20 – sua
carreira já estava lançada nos seus dias –, nem que suas consequências sociais
pudessem ser tão limitadas.
A ética ou código que dominavam a vida pública no mundo moderno era muito diferente.
Acima de tudo, era impessoal em vez de pessoal: na época de Weber, o consenso sobre
o que era certo e errado para o indivíduo estava entrando em colapso. As verdades da
religião – a base da ética – eram agora contestadas, e outras normas tradicionais – tais
como aquelas pertinentes à sexualidade, casamento e beleza – também estavam
entrando em colapso. (Aqui vai uma lembrança do passado: quem hoje pensaria em
sustentar uma ideia unificadora de beleza?) Valores eram cada vez mais propriedade do
indivíduo, não da sociedade. Então, em vez de caloroso contato humano, baseado em
um entendimento compartilhado e intuitivamente óbvio de certo e errado, o
comportamento público era frio, reservado, duro e sóbrio, governado por autocontrole
pessoal estrito. O comportamento correto estava na observância dos procedimentos
corretos. Mais obviamente, seguia a letra da lei (pois quem poderia dizer qual era o seu
espírito?) e era racional. Era lógico, consistente e coerente: ou senão obedecia as
realidades modernas inquestionáveis tais como o poder dos números, das forças do
mercado e da tecnologia.
Um dos clichês mais populares sobre o pensamento de Weber é dizer que ele
pregava uma ética do trabalho. Isso é um erro.
A análise é extremamente poderosa, o que nos diz bastante sobre o Ocidente no século
20 e um conjunto de ideias e prioridades ocidentais que o resto do mundo tem tido cada
vez mais satisfação em adotar desde 1945. Deriva seu poder não apenas do que diz,
mas porque Weber procurou colocar entendimento antes de julgamento, e de ver o
mundo como um todo. Se você deseja ir além dele, deve fazer o mesmo.
ESTAVA ERRADO: Na primeira versão deste texto, a expressão "século 20" foi
incorretamente grafada como "século 21". A correção foi feita às 13:20 de 17 de junho de
2018.
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