HZ 358 B – Sociologia de Weber Professor Fábio Querido Aluna Thayssa de Lima Trancozo RA 157 395 Reflexão sobre a tensão fundamental do pensamento weberiano
Weber é considerado uma contradição. Ele era protestante, burguês, “liberal-
nacionalista” e alemão, nascido no século XIX, e partia desse lugar para suas escritas. Ele não se posicionava politicamente em seus escritos por acreditar que não é papel do cientista falar sobre política, ou interferir na sociedade propondo soluções. Existem leituras dele à direita e à esquerda. Em seu livro mais famoso, “Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, Weber demonstra uma relação entre os movimentos protestantes, surgidos no século XVI, e o desenvolvimento do capitalismo. Segundo ele, o protestantismo seria responsável pelo desencantamento do mundo, ou seja, o novo formato de cristianismo trouxe uma perspectiva menos mágica de interpretação do mundo. Para Weber isso era importante porque o mundo da época (o que ele entendia como “mundo” era a Europa) era explicado pela religião e se a religião passou a ser expressa de outra forma, isso mudaria também a maneira que o restante do mundo era organizado. Segundo Weber, o protestantismo altera a forma de se alcançar a Deus, pois entende que isso se dá a partir de um “modo de fazer”. Deus não é mais um ser inalcançável, que decide sozinho o seu destino final, mas é alguém que pode ser alcançado a partir de uma série de práticas dos seres humanos. Essas práticas, em geral, estavam ligadas à noção moral do dever do trabalho e isso é o que conecta o protestantismo ao capitalismo, já que, segundo o protestantismo do século XVI defendia que o trabalho era uma das principais formas de manter o contato cotidiano com o divino. Além disso, a mesma moral que defende o trabalho e a acumulação que advém dele, se opõe ao luxo e à ostentação que estava ligada ao acúmulo de riquezas, principalmente entre a nobreza. Apesar da defesa da modernidade capitalista e protestante, menos mágica e mais ordenada, proposta por Weber, ele também se questiona em relação ao desenvolvimento do capitalismo, porque, segundo ele, apesar de o capitalismo ter surgido como algo que leva o ser humano ao desenvolvimento moderno, ele também entende que essa estrutura se desenvolveu para uma forma que ele chama de “jaula de aço”, pois ninguém conseguiria se livrar dela. Não é incomum que Weber seja considerado um intelectual trágico porque, mesmo apresentando críticas ao capitalismo e à modernidade, ele não apresenta uma saída desse sistema e considera que todos os seres humanos estão presos a ele. Entretanto, mesmo não expressando isso abertamente, é possível perceber que Weber acredita que a possível solução para os problemas do mundo está na ciência. Ele não defende isso abertamente, muito pelo contrário, afirma ser contra o cientista que deseja dar direcionamentos para o mundo (muitas das suas críticas ao marxismo estão nesse ponto). Porém, segundo ele, cabe ao cientista fazer análises complexas e bem estruturadas, de forma que aqueles que são responsáveis pelas propostas de mudança tenham maiores condições de decidir o que é melhor. Apesar da “suposta” falta de posicionamento de Weber, não é possível dizê-lo imparcial. Ele afirma que, como cientista, não deve ter juízo de valor e que a sua busca deve ser pelo conhecimento objetivo que mais se aproxime da realidade, mas admite que a decisão pelo objeto de pesquisa é escolhido pelos valores do cientista. Além disso, ele também demonstra em seus textos a sua posição de homem, branco, europeu, imperialista e a favor da democracia capitalista presente na Europa do início do século XX. Isso se dá principalmente nos momentos em que ele afirma que determinados princípios são universais, ou quando ele diz que a modernidade europeia, capitalista e protestante foi uma evolução para a humanidade. Se por um lado Weber defende, não abertamente, uma série de princípios de seu tempo, por outro ele também lhes parece crítico. Essa tentativa de imparcialidade que ele apresenta faz com que diversos autores discutam suas posições, mas ao fim, essa que vos fala, entende que ele demarca sua posição, alinhada com as questões de seu tempo e espaço no mundo e, mesmo que muitas vezes seja crítico, não o faz com a intenção de uma transformação, mas sim entendendo as contradições que existem na estrutura em que está inserido. Bibliografia Weber, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. Sell, Carlos Eduardo. “Em busca do centro democrático-progressista: o liberalismo agonístico de Max Weber”. In: Estudos avançados, n.100, 2020.