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IFCH – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Campinas, 29 de junho de 2023


HZ 358 B – Sociologia de Weber
Professor Fábio Querido
Aluna Thayssa de Lima Trancozo
RA 157 395
Reflexão sobre a tensão fundamental do pensamento weberiano

Weber é considerado uma contradição. Ele era protestante, burguês, “liberal-


nacionalista” e alemão, nascido no século XIX, e partia desse lugar para suas
escritas. Ele não se posicionava politicamente em seus escritos por acreditar que
não é papel do cientista falar sobre política, ou interferir na sociedade propondo
soluções. Existem leituras dele à direita e à esquerda.
Em seu livro mais famoso, “Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”,
Weber demonstra uma relação entre os movimentos protestantes, surgidos no
século XVI, e o desenvolvimento do capitalismo. Segundo ele, o protestantismo seria
responsável pelo desencantamento do mundo, ou seja, o novo formato de
cristianismo trouxe uma perspectiva menos mágica de interpretação do mundo. Para
Weber isso era importante porque o mundo da época (o que ele entendia como
“mundo” era a Europa) era explicado pela religião e se a religião passou a ser
expressa de outra forma, isso mudaria também a maneira que o restante do mundo
era organizado.
Segundo Weber, o protestantismo altera a forma de se alcançar a Deus, pois
entende que isso se dá a partir de um “modo de fazer”. Deus não é mais um ser
inalcançável, que decide sozinho o seu destino final, mas é alguém que pode ser
alcançado a partir de uma série de práticas dos seres humanos. Essas práticas, em
geral, estavam ligadas à noção moral do dever do trabalho e isso é o que conecta o
protestantismo ao capitalismo, já que, segundo o protestantismo do século XVI
defendia que o trabalho era uma das principais formas de manter o contato cotidiano
com o divino. Além disso, a mesma moral que defende o trabalho e a acumulação
que advém dele, se opõe ao luxo e à ostentação que estava ligada ao acúmulo de
riquezas, principalmente entre a nobreza.
Apesar da defesa da modernidade capitalista e protestante, menos mágica e
mais ordenada, proposta por Weber, ele também se questiona em relação ao
desenvolvimento do capitalismo, porque, segundo ele, apesar de o capitalismo ter
surgido como algo que leva o ser humano ao desenvolvimento moderno, ele
também entende que essa estrutura se desenvolveu para uma forma que ele chama
de “jaula de aço”, pois ninguém conseguiria se livrar dela.
Não é incomum que Weber seja considerado um intelectual trágico porque,
mesmo apresentando críticas ao capitalismo e à modernidade, ele não apresenta
uma saída desse sistema e considera que todos os seres humanos estão presos a
ele. Entretanto, mesmo não expressando isso abertamente, é possível perceber que
Weber acredita que a possível solução para os problemas do mundo está na ciência.
Ele não defende isso abertamente, muito pelo contrário, afirma ser contra o cientista
que deseja dar direcionamentos para o mundo (muitas das suas críticas ao
marxismo estão nesse ponto). Porém, segundo ele, cabe ao cientista fazer análises
complexas e bem estruturadas, de forma que aqueles que são responsáveis pelas
propostas de mudança tenham maiores condições de decidir o que é melhor.
Apesar da “suposta” falta de posicionamento de Weber, não é possível dizê-lo
imparcial. Ele afirma que, como cientista, não deve ter juízo de valor e que a sua
busca deve ser pelo conhecimento objetivo que mais se aproxime da realidade, mas
admite que a decisão pelo objeto de pesquisa é escolhido pelos valores do cientista.
Além disso, ele também demonstra em seus textos a sua posição de homem,
branco, europeu, imperialista e a favor da democracia capitalista presente na Europa
do início do século XX. Isso se dá principalmente nos momentos em que ele afirma
que determinados princípios são universais, ou quando ele diz que a modernidade
europeia, capitalista e protestante foi uma evolução para a humanidade.
Se por um lado Weber defende, não abertamente, uma série de princípios de
seu tempo, por outro ele também lhes parece crítico. Essa tentativa de
imparcialidade que ele apresenta faz com que diversos autores discutam suas
posições, mas ao fim, essa que vos fala, entende que ele demarca sua posição,
alinhada com as questões de seu tempo e espaço no mundo e, mesmo que muitas
vezes seja crítico, não o faz com a intenção de uma transformação, mas sim
entendendo as contradições que existem na estrutura em que está inserido.
Bibliografia
Weber, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Companhia
das Letras, 2004.
Sell, Carlos Eduardo. “Em busca do centro democrático-progressista: o liberalismo
agonístico de Max Weber”. In: Estudos avançados, n.100, 2020.

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