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Doutor, quero usar testosterona para ganhar massa magra, o que você acha?
Essa pergunta ocorre praticamente quase todos os dias no nosso consultório, assim como no
de vários amigos nutrólogos, endocrinologistas e até nutricionistas.
Você vai se perguntar, depende de que ? - Depende claro de você, se você tem ou não
deficiência !
Qualquer coisa fora disso, aumenta os riscos de desfechos arriscados e nada agradáveis
(efeitos adversos, principalmente quando utilizada por quem não tem deficiência). Os
efeitos adversos da terapia com testosterona é o que mais temos visto no consultório, fruto
de iatrogenia de diversos médicos.
Indivíduos portadores de doenças que cursam com BAIXOS níveis de testosterona, talvez
necessitem da terapia de reposição de testosterona (TRT). Muitos deles possuem falha na
produção da testosterona, podendo essa falha ser primária, secundária a outras causas ou
mista.
MANEJO DA DEFICIÊNCIA
Nas causas acima, sempre que possível, deve se remover a causa base e verificar se os
níveis de testosterona total elevam. Caso não ocorra a elevação dos níveis, pode-se postular
a terapia de reposição hormonal com testosterona, principalmente se o paciente apresentar
clínica. Ou tentar uma indução, ou seja, estimular o corpo a voltar a produzir, seja através
de citrato de clomifeno ou gonadotrofina coriônica (HCG).
No nosso meio a causa mais comum de déficit de testosterona é o processo que leva ao
hipogonadismo parcial no envelhecimento masculino, também conhecido como andropausa
ou, mais apropriadamente, hipogonadismo masculino tardio ou DAEM (Distúrbio
Androgênico do Envelhecimento Masculino).
Suponhamos que você é jovem, mas acha que tem deficiência de testosterona. Como saber
se você apresenta sintomas de déficit de testosterona? Os sintomas são variáveis e podem
incluir:
1. Variações no humor, irritabilidade, depressão
2. Sudorese ( principalmente à noite )
3. Déficit de memória e diminuição da concentração
4. Queda da libido, disfunção erétil, diminuição do volume espermático, diminuição
da dos episódios de ereção matinal
5. Queda de pêlos na genitália
6. Diminuição do turgor e elasticidade cutânea
7. Aumento da gordura abdominal
8. Diminuição da massa muscular, e/ou da força muscular
9. Redução do volume testicular
O problema é que vários dos sintomas supracitados podem ter outras causas, não ligadas
somente ao déficit de testosterona. Com isso, muita gente acaba utilizando testosterona sem
necessidade.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Com relação ao estilo de vida do paciente, inúmeras variáveis podem ser detectadas à
anamnese e o nutrólogo deve corrigi-las. Verificar se:
É comum pacientes obesos apresentarem uma diminuição dos níveis de testosterona, sendo
esta deficiência multifatorial.
Na obesidade os pulsos de LH (hormônio que estimula o testículo a produzir testosterona)
estão diminuídos, ou seja, há uma menor produção de LH e com isso uma diminuição na
produção de testosterona. Associa-se a isso uma aumento da quantidade de insulina no
corpo (comum em obesos, como já citado) e que leva a alterações nos níveis da SHBG
(aquela globulina que carrega a testosterona). A Insulina inibe a produção da SHBG. Os
estudos mostram que quando o obeso perde peso ocorre um aumento da produção de LH,
aumento da SHBG, diminuição da Insulina e com isso uma elevação nos níveis de
testosterona.
Associa-se a isso uma maior prevalência de Apnéia obstrutiva do sono e é sabido que a
apnéia leva a uma diminuição dos pulsos de LH, consequentemente diminuição dos níveis
de testosterona. Também favorece aumento da pressão arterial, aumento da glicemia, do
cortisol e dos níveis de insulina. O que fomenta um ciclo. Mais apnéia, menos testosterona.
É importante salientar isso pois temos visto muitos médicos prescrevendo testosterona para
obesos, com a finalidade de emagrecimento (sim, a testosterona favorece a perda de gordura
abdominal e ganho de massa magra). O problema central nesse caso não é a falta de
testosterona e sim o excesso de peso. O indicado é correção da causa base (Obesidade), já
que naturalmente essa perda de peso, associada à prática de atividade física, levará a um
restabelecimento dos níveis de testosterona.
Uma vez certificada uma deficiência de testosterona e mesmo após a adoção de mudanças
no estilo de vida ou remoção da causa base, os níveis não se elevaram, postula-se a
prescrição de testosterona. Podendo esta ser:
1. via oral,
2. intramuscular,
3. implantes (chips),
4. tabletes bucais,
5. adesivos,
6. gel transdérmico (sendo este também denominada erroneamente por alguns de testosterona
bioidêntica, o que é uma falácia da indústria de manipulação, já que todas são formas
bioidênticas, ou seja, todas se ligam aos receptores de testosterona. Sendo que a única
diferença é que algumas formas podem gerar mais efeitos adversos, principalmente a via
oral).
1) Via Oral: As testosteronas ingeridas via oral são rapidamente metabolizadas no fígado,
podendo não atingir e manter níveis séricos satisfatórios de andrógeno. As fórmulas
disponíveis no mercado são altamente hepatotóxicas. Além disso, esses andrógenos
alquilados podem causar aumento de LDL e diminuição de HDL, reconhecidos fatores de
risco para doenças cardiovasculares. O undecanoato de testosterona não é hepatotóxico e é
eficaz para manter níveis sorológicos de testosterona dentro dos limites fisiológicos. Porém,
tem curta duração e pode resultar em níveis suprafisiológicos de di-hidrotestosterona e,
embora de forma rara, efeitos colaterais gastrointestinais (náusea, vômito e diarréia). A
metiltestosterona é uma medicação oral sintética não hepatotóxica, mas raramente usada
devido à necessidade de múltiplas doses diárias, conhecimento farmacológico insuficiente e
potência limitada. A administração oral de hormônios esteroidais (como a testosterona)
juntamente com alimentos pode aumentar em até 500% sua absorção.
2) Gel Transdérmico: Alguns consideram a melhor via de administração da testosterona,
alegando ser a via em que não há problemas de hepatotoxicidade, visto que não há a
primeira passagem do hormônio pelo fígado. O gel reproduz as variações circadianas de
testosterona observadas em homens sadios. A absorção de testosterona para a corrente
sanguínea se dá em um intervalo de até 2 horas, e se aproxima da concentração sérica
estável em 2 a 3 dias de tratamento. Quando o tratamento com o gel de testosterona é
interrompido após atingir um nível estável, a testosterona sorológica mantém-se nos níveis
normais durante 24 a 48h, mas retorna a níveis pré-tratamento após 50 dias, contados a
partir da última aplicação. A dose inicial recomendada de gel de testosterona é de 1% a 10%
no homem, e 0,5% a 1% na mulher, aplicado uma vez por dia na pele limpa e seca dos
ombros, braços e/ou abdome (áreas sem pêlos), não devendo ser aplicada nos genitais.
3) Injetável: As fórmulas injetáveis são feitas de base oleosa, permitindo assim liberação
lenta de testosterona, e a base de éster, que permite rápida liberação de testosterona livre na
circulação. O cipionato de testosterona deve ser administrado a cada 10 a 21 dias para
manter níveis adequados. Níveis suprafisiológicos são alcançados, aproximadamente, 72h
após a administração dessas fórmulas. A queda de testosterona continua por 14 a 21 dias,
alcançando o nível basal, aproximadamente, no dia 21. A apresentação na forma de
undecilato de testosterona (Nebido) dura de 10 a 14 semanas no organismo, portanto a
aplicação é de 3 em 3 meses.
4) Adesivo Transdérmico: A terapia com adesivo transdérmico (ainda não está disponível
no Brasil) é a mais cara. Requer aplicação diária e aumenta desproporcionalmente os níveis
sanguíneos de di-hidrotestosterona. Os adesivos transdérmicos não devem ser aplicados na
pele escrotal, pois estes podem ser potencialmente irritantes. Além disso, se aplicados no
escroto, haverá formação de altos níveis de di-hidrotestosterona, como resultado da alta
concentração de 5-alfa-redutase na pele escrotal.
EFEITOS ADVERSOS
Também é importante frisar que a terapia pode levar a alguns efeitos adversos, muitas vezes
que não são dose-dependentes. O bom médico irá te detalhar todos esses possíveis adversos:
1) Aumento do hematócrito;
2) Acne e aumento da oleosidade da pele;
3) Aceleração do desenvolvimento de metástases do câncer de próstata e mama;
4) Crescimento de tumores Prostáticos;
5) Redução da produção de esperma e fertilidade (supressão de produção de
espermatozóides);
6) Ginecomastia;
7) Piora da alopecia androgenética;
8) Piora dos sintomas urinários decorrente da Hiperplasia prostática benigna;
9) Câncer de mama;
10) Aumento do clitóris;
11) Alteração no timbre da voz;
12) Pêlos em áreas indesejadas (crescimento de barba, bigode em mulheres);
13) Toxicidade hepática.
Um dos primeiros estudos foi o estudo TOM (Testosterone in Older Men with Mobility
Limitations) foi publicado em 2010 na renomada revista New England Journal of Medicine
e avaliou a reposição de testosterona tópica em 209 idosos, com baixos níveis de
testosterona sérica e com redução de mobilidade. O ensaio teve que ser interrompido
precocemente, pois foi observado aumento das taxas de eventos adversos cardiovasculares,
respiratórios e dermatológicos no grupo que recebeu tratamento, em comparação ao grupo
placebo. Problema do estudo? O número de pacientes foi pequeno.
Os resultados mostraram que dos 8.709 homens com um nível de testosterona total inferior
a 300 ng/dL, sendo que desse total, 1.223 pacientes fizeram a reposição de testosterona por
um período médio de 531 dias após a angiografia coronária.
Houveram nesses 1.223 pacientes: 67 mortes, 23 infartos, 33 AVCs. Dos 7.486 pacientes
que não receberam a terapia de testosterona: 681 morreram, 420 tiveram infarto, 486
AVCs.
Crítica ao trabalho: refere-se ao tipo de estudo utilizado: retrospectivo. Para os
endocrinologistas e cardiologistas, o que está faltando na literatura são dados de ensaios
clínicos randomizados com um número suficiente de homens para uma quantidade
adequada de tempo para avaliar os benefícios de longo prazo e os riscos da reposição de
testosterona.
Recentemente um estudo publicado na revista “Annals of Pharmacotherapy mostrou o
contrário. Os pesquisadores da Universidade do Texas em Galveston conduziram um estudo
de 8 anos envolvendo 25.420 homens com mais de 66 anos de idade que foram tratados
com testosterona. Durante o período do estudo, seu desenvolvimento médico foi comparado
ao do grupo controle, que envolvia participantes da mesma idade, etnia e com os mesmos
dados de saúde. Os resultados mostraram que a testosterona não estava relacionada a um
risco elevado de IAM. Muito pelo contrário: homens que tinham maior probabilidade de
problemas cardiovasculares devido a outros fatores tiveram uma menor taxa de problemas
cardíacos.
FITOTERÁPICOS
Por fim, deixo aqui uma opção utilizada por alguns médicos, que é a utilização de alguns
fitoterápicos que podem mimetizar a ação da testosterona. É importante ressaltar que ainda
temos poucos estudos com eles e as respostas são variáveis. Há pacientes que apresentam
melhoras e outros não. Porém é uma forma menos arriscada de mimetizar a testosterona,
principalmente em pacientes sem déficit laboratorial comprovado e que deseja ter melhor
rendimento no treino.
1) TRIBULUS TERRESTRIS
Mais conhecida no Oriente, tem grande tradição na Índia e Norte da África para melhora
dos problemas relacionados à reprodução e à libido.
Constituintes: Saponinas: protodioscina, protogracilina
Ações postuladas e baseadas em alguns estudos:
Aumento da produção de DHEA, testosterona e estrogênio
Melhora da libido e da ereção
Melhora da resistência física e da massa muscular
Melhora da espermatogênese e regulação da ovulação
Melhora dos sintomas da menopausa
Melhora da perfusão coronariana
Apresentações: Extrato padronizado a 40% de saponinas
Efeitos colaterais:
1)Tem sido utilizado por longos períodos
2) Nas doses usuais, não demonstrou efeitos importantes
3) Lesão hepática em pacientes sensíveis ou muito altas
4) Célculo renal (ratos)
Interações medicamentosas: Não há relato científico
Natural da Ásia (Japão, Coréia, China). Suas raízes lembram a forma humana, o que levou
os antigos a pensar que esta planta curaria todas as doenças. Os chineses o vê como o rei
das plantas, a qual trás longevidade, força e alegria.
Constituintes: Saponinas triterpênicas; Agliconas:ginsenosídeos, malonilginsenosídeos;
Polissacarídeos: panaxane A e U; Polienos: falcarinol, falcarintriol.
Ações postuladas mas que vários estudos falham ao tentar comprovar:
Melhora da função cognitiva e atividade cerebral (componentes não ginsenosídicos):
afinidade por receptores nicotínicos em neurônios centrais, inibe secreção de catecolaminas
dependentes de acetilcolina (stress, D. de Alzheimer, depressão)
Antitumoral: inibe proliferação de neoplasia pulmonar resistente a cisplatina, induz
apoptose em gliomas (produção de radicais livres), inibe hepatoma ( inibe proteína p53,
levando a apoptose)
Antioxidante: proteção de membranas e DNA (células hepáticas e cardíacas)
Antiagregante plaquetário: efeito do panaxinol
Antiviral: induz produção de interferon, aumenta atividade das células N-killer e produção e
ativividade de anticorpos (resfriados, gripe)
Diminui toxicidade do álcool: diminui absorção estomacal, aumenta atividade da
desidrogenase, aumenta excreção
Melhora da função respiratória: em pacientes com doença respiratória crônica
Diminui colesterol: ativam lípase, reduzindo colesterol e triglicerídeos (saponinas)
Melhora da fertilidade: aumenta a resistência dos gametas, aumento do número, motilidade
de espermatozóides e quantidade de esperma
Melhora da função erétil: fator de relaxamento endotelial, melhora da resposta
neuromuscular
Melhora dos sintomas da menopausa: diminui fadiga, mau humor, depressão
Melhora atividade cardíca: melhora atividade inotrópica, diminui freqüência cardíaca,
antiarrítimico (ginsenosídeos), diminui permeabilidade capilar
Hipoglicemiante: diminui glicose em diabetes tipo 2 por aumento da secreção de insulina e
aumento dos receptores celulares de insulina, aumento do metabolismo da glicose
( saponinas)
Apresentação: Extrato seco padronizado com 3,0% de ginsenosídeos
Efeitos colaterais: Relataram-se casos raros de reações gastrintestinais leves e transitórias
(como náusea, dor de estômago e diarréia matinal) e insônia, possivelmente relacionados ao
ginseng. Além disso, relataram-se raros casos de reações alérgicas.
Interações medicamentosas: Vacina contra influenza: efeito sinérgico. Anticoagulantes
(ticlopidina, warfarin): potencializa a ação. Hipoglicemiantes: potencializa a ação.
Inibidores da MAO: potencializa a ação, risco de crise hipertensiva. Diuréticos de alça:
diminui a ação (presença de germânio em grandes quantidades)
Encontrada em grandes altitudes nos monte andinos. Já era conhecida e cultivada pelos
incas há mais de 2000 anos. Conhecida e apreciada por suas propriedades adaptógenas e
nutritivas.
Constituintes: Alcalóides; Aminoácidos; Carboidratos; Esteróides: sitosterol, stigmasterol;
Taninos, Vitaminas.
Ações postuladas, mas que alguns estudos falharam ao tentar provar:
Antifadiga: aumenta a resistência física
Disfunção erétil: melhora o tempo e a qualidade da ereção
Infertilidade: melhora a produção de espermatozóides, regulariza fluxo menstrual
Imunoestimulante: melhora a resposta celular
Apresentações: Extrato padronizado a 0,6% de betasitosterol
Efeitos colaterais: Não há registros mas em doses altas pode apresentar irritação gástrica
Interações medicamentosas: Não há registro
REFERÊNCIAS
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Autores:
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