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GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL

SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE


SUBSECRETARIA DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE COMISSÃO
PERMANENTE DE PROTOCOLOS DE ATENÇÃO À SAÚDE

Protocolo de Atenção à Saúde

PROTOCOLO CLÍNICO PARA TRATAMENTO DO DÉFICIT


ANDROGÊNICO DO ENVELHECIMENTO MASCULINO
(HIPOGONADISMO MASCULINO)

Área(s): Andrologia; Urologia


Portaria SES-DF Nº0000 dedata , publicada no DODF Nº 0000 de data

1- Metodologia de Busca da Literatura

1.1 Bases de dados consultadas


Medline/Pubmed

1.2 Palavra(s) chaves(s)


Testosterone replacement; erectile dysfunction; andropause

1.3 Período referenciado e quantidade de artigos relevantes


2011 – 2018. 50 artigos

2- Introdução

A Deficiência Androgênica do Envelhecimento Masculino (DAEM), termo estabelecido


pela Sociedade Brasileira de Urologia, é definida como um declínio nos níveis de hormônios
androgênicos masculinos e, paralelamente, ocorre com o envelhecimento. Tem sido descrita
uma queda nos níveis de testosterona sérica numa taxa de até 3% ao ano após os 40 anos de
idade, acarretando uma incidência de cerca de 480.000 novos casos ao ano nos Estados
Unidos. Contudo, quedas a partir da terceira década de vida já foram aventadas. Foram ainda
reportados baixos níveis de testosterona compatíveis com hipogonadismo laboratorial em
cerca de 20% dos homens de uma população militar brasileira saudável. Baixos níveis de
testosterona estão relacionados a uma série de sintomas, notadamente diminuição nos níveis
de energia e libido, DE, dislipidemia, síndrome metabólica, quadro depressivo, redução na
massa muscular e óssea. Em investigação inicial, pudemos constatar a importância de tais
sintomas em nossa região, sendo encontradas queixas de Disfunção Erétil (DE) em cerca de
60% da população e de sintomas do trato urinário inferior (LUTS) em cerca de 68%.1,2

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3- Justificativa
Considerando que o “acesso da população masculina aos serviços de saúde
hierarquizados nos diferentes níveis de atenção e organizados em rede, possibilitando
melhoria do grau de resolutividade dos problemas e acompanhamento do usuário pela equipe
de saúde” e que há prevalência e a associação do hipogonadismo masculino a uma série de
comorbidades, como obesidade, síndrome metabólica, alterações no metabolismo ósseo,
sarcopenia, alterações na libido e queda na qualidade de vida, torna- se imperativa a
abordagem dos pacientes usuários do SUS, para correção do déficit androgênico.1

4- Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à


Saúde (CID-10)
E29.1 – Hipofunção testicular
N50 – outros transtornos dos órgãos genitais masculinos.

5- Diagnóstico Clínico ou Situacional


Critérios clínicos:

A - presença de sinais/sintomas compatíveis com déficit androgênico do


envelhecimento masculino, tais como: redução na resistência física; degeneração
composição corporal (elevação de massa gorda e redução na massa magra); elevação na
gordura abdominal/ circunferência abdominal (>94cm); osteopenia/ osteoporose; queda na
libido; disfunção erétil.3,4,5
B – Associação a comorbidades, notadamente, hipertensão arterial, diabetes mellitus
tipo 2, obesidade, resistência periférica à insulina, dislipidemia.5,6
C – Exames laboratoriais: pacientes deverão apresentar ao menos uma dosagem de
Testosterona Total com valor igual ou inferior a 350ng/dl e/ou Testosterona Livre com valor
igual ou inferior a 100pg/ml. Casos com níveis próximos a este limite serão analisados
isoladamente e considerada a associação a fatores de risco e sinais/sintomas, como os
descritos acima. Deverão ainda constar, no perfil hormonal de avaliação, dosagens de FSH,
LH, SHBG e prolactina.7,8

6- Critérios de Inclusão

O tratamento poderá ser oferecido a pacientes do sexo masculino com idade igual ou
superior a 35 anos, com presença de sinais ou sintomas de hipogonadismo associados a
dosagem de Testosterona Total com valor igual ou inferior a 350ng/dl e/ou Testosterona Livre
com valor igual ou inferior a 100pg/ml. Casos com níveis próximos a este limite serão analisados
isoladamente e considerada a associação a fatores de risco e sinais/sintomas, como os
descritos acima, ficando a critério médico a indicação ou não do tratamento.8,9,10
Pacientes portadores de síndrome metabólica/ diabetes mellitus tipo 2 serão avaliados
quanto aos sintomas clínicos de hipogonadismo, além da presença de disfunção erétil, tendo
em vista a maior incidência destas afecções nesta população.

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7- Critérios de Exclusão

- Câncer de próstata em atividade;


- Câncer de próstata submetido a tratamento (cirurgia ou radioterapia) há menos
de um ano;
- Câncer de próstata metastático;
- Elevação do hematócrito acima de 54%;
- Insuficiência cardíaca grave, hepática ou renal;
- Câncer de mama. 8,9,10

8- Conduta

Na presença de tais achados clínicos e laboratoriais, na ausência de contra-indicações,


estará indicado o tratamento pela equipe do Ambulatório de Andrologia do HRAN. 11,12 A equipe
é composta por dois médicos urologistas especializados em Andrologia; um endocrinologista e
um nutricionista. O paciente deverá ser primeiramente avaliado pelo médico urologista que
solicitará os exames complementares quando ausentes e encaminhará para avaliação e
acompanhamento conjunto pelo endocrinologista e pelo nutricionista.
A indicação e prescrição do fármaco (undecilato de testosterona), ficará a cargo do
médico urologista, após avaliação clínico-laboratorial.
O medicamento será dispensado pela farmácia do Hospital Regional da Asa Norte para o
Ambulatório, após envio de receituário de controle especial preenchido pelo médico urologista,
de forma adequada, nominalmente a cada paciente.

8.1 Conduta Preventiva


Não se aplica.

8.2 Tratamento Não Farmacológico


Correção de hábitos do estilo de vida, como dieta adequada, por
acompanhamento nutricional realizado no próprio serviço por nutricionista habilitado.

8.3 Tratamento Farmacológico


Terapia de reposição de testosterona.

8.3.1 Fármaco(s)
Undecilato de testosterona.

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8.3.2 Esquema de Administração
Solução oleosa injetável 250 mg/ml em embalagem com 1 ampola de 4 ml. Aplicar
1 ampola via intra-muscular, profunda e lentamente, no glúteo, a cada 8 a 12 semana.

8.3.3 Tempo de Tratamento – Critérios de Interrupção

O uso prolongado ou dosagens excessivas de testosterona podem acarretar no


surgimento de oligospermia. Em caso de surgimento de alguns dos efeitos citados
anteriormente, deve-se interromper o tratamento.6,7,8
Todos os pacientes serão orientados quanto aos efeitos da terapia de reposição de
testosterona sobre a espermatogênese, devendo-se evitar seu emprego naqueles que ainda
possuem desejo de paternidade. A indicação deverá ser realizada caso a caso pelo médico
andrologista assistente, analisando-se os riscos e benefícios do tratamento.
O tratamento deverá ser descontinuado caso o paciente apresente, durante seu
tratamento, quaisquer dos critérios de exclusão (Câncer de próstata; Elevação do hematócrito
acima de 54%; Insuficiência cardíaca grave, hepática ou renal; Câncer de mama).5,6,7
No caso de elevação do hematócrito acima de 54%, o tratamento deverá ser suspenso,
e realizada avaliação mensal dos referidos níveis. O tratamento poderá ser reiniciado após os
valores de hematócrito se normalizarem.
Deverá ser preenchido formulário específico (IIEF-5 e IPSS) com dados referentes ao
paciente e exames laboratoriais, bem como durante seu acompanhamento. Tais formulários
deverão ser encaminhados e centralizados em banco de dados no ambulatório de Andrologia
do Hospital Regional da Asa Norte.

9- Benefícios Esperados
Como resultado da terapia de reposição de testosterona são esperados alguns
resultados, com melhora na libido e desempenho sexual; melhor controle dos níveis glicêmicos
e lipídicos; redução na gordura corporal total e cintura abdominal; melhora no metabolismo
muscular e ósseo, dentre outros.5,6,7,8,9,10,13,14

10- Monitorização
Os pacientes serão reavaliados em caráter ambulatorial com avaliação clínica e
laboratorial a cada 3 meses no primeiro ano e semestralmente a partir do segundo ano do início
do tratamento. A avaliação clínica deverá investigar melhoras nas queixas apresentadas
anteriormente, assim como exames laboratoriais que demonstrem elevação progressiva e
estável nos níveis de testosterona total e livre.

11- Acompanhamento Pós-tratamento


Avaliação clínico-laboratorial conforme descrito no item anterior.

12- Termo de Esclarecimento e Responsabilidade – TER


Em anexo

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13- Regulação/Controle/Avaliação pelo Gestor
Avaliação pelo RTD da especialidade, coordenador do Serviço e Gestores da área
responsável a cada 2 anos. Será realizada uma avaliação inicial após 1 ano do início dos
atendimentos, contados a partir do terceiro trimestre de 2021, analisando resultados clínicos e
laboratoriais.

14- Referências Bibliográficas


1. Política nacional de atenção integral à saúde do
homem.http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_atencao_saude
_homem.pdf
2. Epaminondas Wa, Martinez Cat. Prevalência de LUTS e Disfunção Erétil e
suaimportância na implantação de ambulatório de Andrologia em Serviços Públicos.
XXXVI Congresso Brasileiro de Urologia, de 26 a 29 de agosto de 2017.
3. Nardozza Júnior A, Szelbracikowski SS, Nardi AC, Almeida JC. Age-related
testosterone decline in a Brazilian cohort of healthy military men. Int Braz J Urol
2011;37(5):591-597.
4. Morales A. Androgen replacement therapy and prostate safety. Eur Urol 2002;41:113
5. Wu FC, Tajar A, Beynon M, et al. Identification of late-onset hypogonadism in middle-
ageds and elderly men. N Engl J Med 2010;36(2):123-135.
6. Dutkiewicz S, Skawinski D, Duda W, Duda M. Assessing the influence of benign
prostatic hyperplasia (BPH) on erectile dysfunction (ED) among patients in Poland.
Cent European J Urol. 2012 65(3):135-138.
7. Normalization of testosterone level is associated with reduced incidence of myocardial
infarction and mortality in men. Rishi Sharma Olurinde A. Oni Kamal Gupta Guoqing
Chen Mukut SharmaBuddhadeb Dawn Ram Sharma Deepak Parashara Virginia J.
Savin John A. Ambrose . European Heart Journal, Volume 36, Issue 40, 21 October
2015, Pages 2706–2715.
8. Haider KS, Haider A, Doros G, Traish A. Long-Term Testosterone Therapy Improves
Urinary and Sexual Function, and Quality of Life in Men with Hypogonadism: Results
from a Propensity Matched Subgroup of a Controlled Registry Study. J Urol 2018;199,
257-265.
9. Stanworth RD et al. testosterone in obesity, metabolic syndrome and type 2 diabetes.
Front Horm. Res. 2009;37:74-90.
10. Kapoor et al. Androgen deficiency as a predictor of metabolic syndrome in aging
men: an opportunity for intervention? Drugs aging 2008;25(5):357-69.
11. Pearl JA, Berhanu D, François N, Masson P, Zargaroff S, cashy j, McVary kt.
Testosterone. supplementation does not worsen lower urinary tract symptons. J Urol
2013; 190:1828-1833.

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12. Hackett G, Kirby M, Edwards D, Jones TH, Wylie K, Ossei-Gerning N, David J,
Munir A. british Society for Sexual Medicine Guidelines on adult testosterone
deficiency, with statements for UK practice. J Sex Med 2017;14:1504e1523.
13. Kapoor D e col. Testosterone replacement therapy improves insulin resistance,
glycaemic control, visceral adiposity and hypercolesterolaemia in hypogonadal men
with type 2 diabetes. Eur J Endocrinol 2006;154(6):899-906.
14. Haider KS, Haider A, Doros G, Traish A. Long-Term Testosterone Therapy
Improves Urinary and Sexual Function, and Quality of Life in Men with Hypogonadism:
Results from a Propensity Matched Subgroup of a Controlled Registry Study. J Urol
2018;199, 257-265.

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ANEXO
Termo de Consentimento Informado para Terapia de reposição de testosterona como
tratamento para o Hipogonadismo masculino.
O objetivo da terapia de reposição de testosterona visa estabelecer níveis fisiológicos deste
hormônio. O(a) senhor(a) receberá todos os esclarecimentos necessários.
O seu tratamento consistirá em consultas especializadas no ambulatório de Andrologia e
Saúde do Homem do Hospital Regional da Asa Norte, de acordo com os períodos especificados pelo
seu médico assistente.
Embora a Terapia de Reposição de Testosterona (“TRT”) tenha sido utilizada com
segurança e eficácia, é necessário discutir os riscos potenciais.
Você também deve estar ciente das alternativas ao TRT, incluindo não receber o
tratamento. É importante que você considere a informações que lhe fornecemos. Certifique-se de que
está fazendo o que é certo para você. Se você não tiver certeza, então talvez você deva tomar algum
tempo para avaliar suas opções ou consultar outro profissional de saúde.
Por favor, revise os itens a seguir, que discutem o consentimento informado. Seu médico
tentará responder a todas as suas perguntas para sua satisfação. Rubrica ao lado de cada afirmação
que você leu, entendeu e concorda:
1. Este é o meu consentimento para o Serviço de Andrologia e Saúde do Homem – HRAN/SES - para
iniciar o tratamento para TRT em forma de injeção ou gel/ creme transdérmico.
2. Foi-me explicado, e compreendo perfeitamente, que ocasionalmente há complicações com este
tratamento, como ginecomastia, acne, perda de gordura e aumento de estrogênios.
3. Entendo que posso reter líquidos extras no corpo – Isso pode causar problemas para pacientes
com doenças cardíacas, renais ou hepáticas.
4. TRT pode fazer com que seus níveis de LH e FSH sejam severamente limitados, afetando sua
fertilidade. Os pacientes não devem estar em TRT se tentando gerar um filho.
5. TRT pode causar alterações nos níveis de colesterol, níveis de glóbulos vermelhos, níveis de PSA,
alteração na produção de espermatozóides, enzimas da função hepática e outros hormônios níveis
que serão monitorados com exames de sangue periódicos.
6. Eu entendo que é minha responsabilidade estar ciente das complicações acima e informar meu
médico quando eu tiver uma interesse.
7. Entendo que farei exames de sangue periódicos para monitorar meus níveis sanguíneos.
8. Entendo que não há garantia quanto ao resultado e que se eu interromper o tratamento, minha
condição pode retornar ou piorar.
9. Forneci ao meu provedor clínico meu histórico médico e de saúde completo. Tive a oportunidade
de discutir com meu provedor clínico meu histórico médico e de saúde completo. Todas as minhas
perguntas sobre os riscos, benefícios e alternativas foram respondidas. Estou satisfeito com as
respostas.
10. Concordo que a TRT funciona melhor quando mudo os hábitos de vida, como limitar o consumo
de álcool, parar de fumar, fazer exercícios e comer corretamente.
Todas as minhas dúvidas e preocupações sobre o tratamento foram respondidas com
satisfação. Reconheço ainda que os riscos e os benefícios deste tratamento foram explicados para
mim. Tenho a mente sã, não estou sob influência indevida e sou competente para tomar esta decisão
e fazê-lo por minha própria vontade. Não tenho mais perguntas.
Eu concordo em realizar a Terapia de Reposição de Testosterona conforme proposto pelo
meu médico. Tenho total compreensão e concordo em seguir as termos deste Consentimento
Informado. Foi-me entregue uma cópia deste documento.
Assinatura do Paciente: _____________________________________
Nome do Paciente (Impresso): __________________________________
Data:_____________________

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