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Boletim Farmacoterapêutico Nº 30

Informativo da Comissão de Farmácia e Terapêutica


Secretaria Municipal da Saúde de Ribeirão Preto

Tratamento da Hiperplasia Prostática Benigna


DOXAZOSINA e FINASTERIDA

A Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) é uma das doenças mais comuns no homem idoso, e quando associada aos sintomas do
trato urinário inferior (STUI) tem importante impacto na qualidade de vida, por interferir diretamente nas atividades diárias e no
padrão do sono. A HPB é considerada um processo normal do envelhecimento do homem e é hormonal dependente ligada à
produção de testosterona e diidrotestosterona. Estima-se que 50% dos homens apresentam HPB aos 60 anos, sendo que esse
número aumenta para 90% aos 85 anos.
Os três principais aspectos que determinam o quadro clínico dos pacientes com HPB são a sintomatologia, o crescimento
prostático e a obstrução intravesical. Sua relação é variável de um paciente para outro. Para a avaliação inicial de todos os
pacientes que apresentam sintomas do trato urinário inferior, potencialmente relacionadas à HPB, deve-se coletar uma história
clínica, procurando identificar morbidades agregadas que possam promover anormalidades no esvaziamento vesical. A
Organização Mundial de Saúde estabeleceu para o diagnóstico da HPB uma avaliação clínica inicial mínima que quantifica os
sintomas urinários, o exame de urina tipo 1, a determinação do antígeno prostático específico (PSA) e o toque retal.

Tratamento Medicamentoso
O objetivo do tratamento da HPB é o rápido controle dos sintomas irritativos e melhora da qualidade de vida. Isso implica na
redução da hipertrofia vesical e complicações como retenção urinária aguda, hematúria e infecções urinárias.
O tratamento clínico se baseia em dois grupos de medicamentos, os derivados hormonais e os alfa-bloqueadores, cuja eficácia é
comprovada em estudos clínicos prospectivos, randomizados e controlados com placebo.
Estudo sobre o uso combinado de inibidores da 5-alfa-redutase e alfa-bloqueadores, mostraram uma redução do risco de
progressão clínica em comparação com o placebo de 39% para a doxazosina, 34% para a finasterida e 67% para a combinação. A
associação é particularmente indicada para pacientes de alto risco (próstata grande, PSA elevado, IPSS severo, resíduo pós-
miccional elevado e baixo fluxo urinário). Nesses pacientes, além do tratamento ser bem tolerado, previne o crescimento da
glândula, reduz o risco de retenção urinária aguda e do tratamento cirúrgico.

Alfa-Bloqueadores- Doxazosina
A obstrução do fluxo urinário tem um componente mecânico, representado pelo volume e conformação da próstata e outro
dinâmico representado pelo estroma e tônus de sua musculatura lisa. Esse tônus é mediado pela atividade alfa-adrenérgica. Os
receptores alfa1 predominam no tecido prostático e no colo vesical. Estes são o alvo dos medicamentos desse grupo, denominados
alfa-bloqueadores. As drogas são chamadas urosseletivas pela alta afinidade que têm com esses receptores, com isso diminuindo
os efeitos colaterais determinados pela ação em outros tipos de receptores alfa do organismo. A ação dos alfa-bloqueadores não
depende do tamanho da próstata.

Medicamento padronizado: Mesilato de Doxazosina 2 mg.


Posologia: a dose inicial de mesilato de doxazosina é de 1 mg (meio comprimido de 2 mg), via oral, administrado em dose única
diária. Conforme a resposta sintomatológica de HPB e urodinâmica individual do paciente a dose pode ser aumentada após 1 ou 2
semanas de tratamento para 2 mg, e assim a intervalos similares para 4 mg e 8 mg, sendo esta a dose máxima recomendada. O
intervalo de dose usualmente recomendado é de 2 a 4 mg diários.
Interações medicamentosas: Sildenafila aumenta os efeitos da doxazosina por sinergismo farmacodinâmico.

Inibidores da 5-Alfa Redutase – Finasterida


É um potente inibidor da 5-alfa redutase tipo 2, enzima intracelular que converte testosterona em dihidrotestosterona (DHT). Sua
ação promove redução de 80 a 90% da DHT prostática. Estudos clínicos mostraram a redução do volume da próstata após dois
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DOXAZOSINA e FINASTERIDA

anos, melhora do fluxo urinário, menor índice de retenção urinária e diminuição da necessidade de cirurgia. O efeito desta droga é
maior em próstatas volumosas (acima de 40-50g) e nos pacientes com PSA acima de 2,5 ng/mL. O principal efeito colateral da
finasterida é a disfunção erectil, seguida da redução do volume ejaculado. Entretanto, são temporários, ocorrendo durante o uso do
medicamento. É muito importante lembrar que os inibidores da 5-alfa-redutase causam redução do valor do PSA de
aproximadamente 50%, desta maneira o PSA deve ser solicitado sempre antes de ser iniciado o tratamento com finasterida.
Medicamento padronizado: Finasterida 5 mg
Posologia: 5 mg, via oral, administrada em dose única diária, com ou sem alimentos.
Pacientes com insuficiência renal: Não é necessário ajuste posológico em pacientes com graus variados de insuficiência renal
(depuração de creatinina de até 9 mL/min), pois os estudos de farmacocinética não indicaram qualquer alteração da
biodisponibilidade da finasterida.
Pacientes idosos: Não é necessário ajuste posológico, embora estudos de farmacocinética tenham demonstrado que a eliminação
da finasterida é diminuída em pacientes com mais de 70 anos de idade.
Interações medicamentosas: a finasterida sofre metabolismo hepático pela enzima CYP3A4, desta maneira os indutores ou
inibidores desta enzima alteram de maneira significante seus níveis (ou efeitos).

Indutores da CYP3A4 - diminuem os níveis da finasterida: carbamazepina, nevirapina, rifabutina e rifampicina.

Inibidores da CYP3A4 – aumentam os níveis da finasterida: cimetidina, claritromicina, eritromicina, isoniazida, itraconazol,
cetoconazol e nefazodona.

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