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Casa Castelo:

Quebrando o paradigma semiótico dos


imóveis residenciais de Vilhena

Análise Semiótica à luz da Fenomenologia Peirciana

Faculdade Santo André


Programa de Pós Graduação
Comunicação Empresarial e Assessoria de Imprensa
Disciplina: Semiótica – para uma análise jornalística
Profª. Dra. Aparecida Zuin
Pós graduando: José Ribamar Araújo de Sousa

Vilhena, 22 de maio de 2012


Casa Castelo:
Quebrando o paradigma semiótico dos imóveis residenciais de Vilhena

Análise Semiótica à luz da Fenomenologia Peirciana

Resumo: A proposta deste trabalho é analisar a imagem de uma casa residencial da cidade
de Vilhena/Rondônia que possui o formato característico de um castelo medieval. A análise
alude ao pragmatismo pós-modernista dos arquitetos adeptos ao Desconstrutivismo dentro de
uma abordagem peirciana enfatizando os seus signos à luz das categorias fenomenológicas
de Charles Sanders Peirce.

Palvras-Chaves: Casa. Castelo Medieval. Desconstrutivismo. Semiose. Peirce.


Fenomenologia.

A Casa castelo

Nem rei, nem rainha, muito menos principe encantado mora em uma casa castelo construida
há 12 anos em Vilhena.
A Casa Castelo de Vilhena é uma construção residencial na rua Floriano Peixoto, bairro 5º
BEC. O formato de sua fachada lembra um castelo medieval, daqueles predominantes na
época dos reis, príncipes e contos de fada. O imóvel teve sua construção iniciada em 1996 e
concluída em 1999.
A obra é de autoria do ex mestre de obras e proprietário da casa, Sidney Vieira de Oliveira,
53. Na residência, ele mora com a esposa e mais dois filhos.

O visual da casa nos arremete aos conceitos de poder, imponência, ludicidade, aventura,
fantasia, criatividade, entre outros, possibilitando uma viagem ao mundo imaginário dos
contos de fadas, reis e príncipes medievais. Nesse contexto, a análise busca identificar, a
partir da semiótica peirceana, a significação da arquitetura adaptativa aos moldes dos imóveis
residenciais de Vilhena, que em um primeiro momento provoca contraste visual comparativo
às arquiteturas da cidade, ou seja, a uma quebra de paradigma até então predominante nas
construções residenciais de Vilhena.
O uso de imagens em edificações associadas a monumentos históricos de épocas passadas,
como a Idade Média, tem como objetivo agregar um tipo de desconstrutivismo visual de
valores em oposição aos prédios residenciais comumente levantados em Vilhena, Rondônia
e Brasil. A obra em si sugere uma intenção do desconstrutivismo como um todo que é o de
libertar a arquitetura do que seus seguidores vêem como as "regras" constritivas do
modernismo, tais como a "forma segue a função", "pureza da forma" e a "verdade dos
materiais". O padrão imobiliário deixa de ser regra e dá espaço à criatividade com base em
elementos paradoxais de épocas remotas da sociedade moderna e até mesmo pós moderna,
dependendo da visão aplicada pelo arquiteto desconstrutivista.

O que é a Arquitetura Desconstrutivista?

De acordo com a Wikipédia, a Arquitetura Desconstrutivista, também chamada movimento


desconstrutivista ou simplesmente desconstrutivismo ou desconstrução, é uma linha de
produção arquitetônica pós-moderna que começou no fim dos anos 80. Ela é caracterizada
pela fragmentação, pelo processo de desenho não linear, por um interesse pela manipulação
das idéias da superfície das estruturas ou da aparência, pelas formas não-retilíneas que servem
para distorcer e deslocar alguns dos princípios elementares da arquitetura, como a estrutura e
o envoltório (paredes, piso, cobertura e aberturas) do edifício. A aparência visual final dos
edifícios da escola desconstrutivista caracteriza-se por um caos controlado e por uma
estimulante imprevisibilidade. Tem sua base no movimento literário chamado desconstrução.
O nome também deriva do construtivismo russo que existiu durante a década de 1920 de onde
retoma alguma de sua inspiração formal.

Construção Desconstrutivista :colisão de estilos anteriores e a adoção de assimetria e formas


geométricas não-lineares.

Anáilse Peirciana

A partir do princípio da Fenomenologia podemos considerar que a casa construída no 5º BEC


é uma simbologia da idéia que temos em nossa mente do que seja um castelo medieval. O
próprio construtor do imóvel nos leva a pensar assim ao modelar a casa em um formato
diferenciado do tradicional, num modelo desconstrutivista do padrão imobiliário local e
regional. Desta forma e com base na análise da Casa Castelo, a fenomenologia nos apresenta
as categorias formais e universais dos modos como os fenômenos são apreendidos pela mente.

Considerando a teoria Peirciana desenvolvida à luz da fenomenologia, ela propõe fazermos


uma analise com base nas três categorias universais nominadas de primeiridade (espécie de
primeira impressão que recebemos das coisas, algo livre, espontâneo); secundidade (categoria
do relacionamento direto de um fenômeno de primeiridade com outro, algo determinado,
correlativo); e terceiridade (categoria de interconexão de dois fenômenos em direção a uma
síntese, o meio, o desenvolvimento). São essas as categorias fenomenológicas, sendo que a
terceira corresponde exatamente à noção de signo. Peirce afirma que a manifestação mais
simples de terceiridade está na noção de signo.

A terceiridade não é apenas a consciência de algo,


mas também a sua força ou capacidade
sancionadora. [...] Sendo cognitiva, torna possível
a mediação entre primeiridades e secundidades.
Em tudo, sempre haverá algo considerado como
começo (primeiro) e algo que pode ser considerado
como fim (segundo), mas para conhecer a
totalidade precisamos conhecer a relação entre
começo e fim – o processo (terceiridade)
(PIGNATARI, 2004, p. 45).

Essa classificação triádica das coisas do mundo alicerça a base da Semiótica de Peirce. Aqui,
a análise dos signos procura compreender a Casa Castelo do 5º BEC. O que caracteriza todo
signo é a repetição. E é justamente essa característica que faz com que seja essencial para o
signo que ele contribua à determinação de um outro signo, diferente do primeiro. Um signo
deve ser capaz de determinar um signo diferente. Quando um signo é determinado por outro
signo, Peirce o chama de interpretante deste último.

Segundo Pierce, o interpretante é determinado pelo signo, que o transforma em seguida em


signo. O interpretante é um mediador, servindo de intermediário entre o signo antecedente e
o objeto que tem em comum com este último. Portanto, um signo é algo determinado por
alguma outra coisa que ele representa, produzindo um efeito em uma mente, sendo esse efeito
chamado de interpretante. Logo, todo signo deve gerar outro novo signo em um processo
infinito de semiose.

Semiose é um fenômeno ancestral. Atividade


catalizadora, viabilizadora de todas as demais
faculdades da mente humana. É o ponto de partida
para uma ontologia da consciência - estado de ser
e estar consciente de si mesmo, das coisas à sua
volta e das relações entre tudo isso. Pretender
entender a semiose é pretender entender o
entendimento. É querer flagrar a si mesmo a sofrer
um fenômeno intermitente, pois que estar
consciente depende de "se entender" como vivo,
existente. Pensar sobre semiose é pensar sobre o
pensamento porque operar com signos precede a
própria reflexão sobre o fato de que somente
pensamos por meio de signos. Disse Descartes:
"penso, logo existo". Porém, nem tudo que existe,
pensa. Mas, se existo e digo "eu existo", e
represento para mim que existo, então com certeza,
isso é pensar. Digamos então: se sei que existo é
sinal de que penso!
(http://ligiacabus.sites.uol.com.br/semiotica/semio
se.htm)

Na definição peirceana, o signo (representâmen) é um primeiro que está em genuína relação


com um segundo (objeto), com o intuito de determinar que um terceiro (interpretante),
assuma a mesma relação triádica com o Objeto, que o signo mantém em relação ao mesmo
objeto. Assim, a imagem cinematográfica, quando analisada pela sua qualidade e tomada
como ponto de partida para qualquer reflexão, se constitui como signo. Vale dizer também
que a afirmação anterior é uma forma genuína de explicitação desta relação, visto que o signo,
considerado em si mesmo, pode ser classificado em qualissigno (qualidade que é o signo),
sinsigno (coisa ou evento realmente existente que envolve um ou mais qualissignos) e
legissigno (lei que é um signo), que correspondem, respectivamente, às categorias de
primeiridade, secundidade e terceiridade.

Quando apreendemos a imagem da Casa Castelo temos uma representação e passamos a


considerá-la como objeto, guardados as devidos cuidados que essa generalização pode
implicar. Ou seja, quando acreditamos que a realidade exibida está representando algo ou
alguma coisa, podemos considerar esta imagem como objeto.
De acordo com semiótica peirciana, há distinção entre um Objeto Imediato e um Objeto
Dinâmico. O Objeto Imediato é o objeto tal como está representado no signo, que depende
do modo como o signo o representa, ou seja, o objeto que é interno ao signo. Nesse sentido,
podemos apreender na Casa Castelo sua estrutura física como Objeto Imediato. O Objeto
Dinâmico é o objeto que, pela própria natureza das coisas, o signo não consegue expressar
inteiramente, podendo só indicá-lo, cabendo ao intérprete descobri-lo por experiência
colateral. O que o senhor Sidney fez ao construir o imóvel foi uma interpretação, ou seja,
apenas sugeriu a idéia de um Castelo medieval em um prédio residencial. O Objeto
Dinâmico, portanto, tem autonomia, enquanto que o Imediato só existe dentro do signo.
Temos então, a dicotomia entre a idéia pensada e a idéia realizada, onde esta última pode se
concretizar de acordo com o ser pensante a partir de sua experiência superficial.
Nesse sentido, assim como pode ser dada certa prerrogativa à análise da relação semiótica
entre o objeto imediato e o signo no objeto dinâmico (Castelo Medieval e Casa Castelo),
propõe-se privilegiar a relação entre o objeto dinâmico e o signo nos objetos dinâmicos.
Todavia, no interior do objeto, há outra relação triádica que envolve as demais categoriais
peirceanas. Em relação ao seu objeto o signo pode ser um ícone, um índice ou um símbolo;
sendo esta a principal tricotomia desenvolvida por Peirce.

Ícone é signo que tem alguma semelhança com o


objeto representado [...] Índice é um signo que se
refere ao objeto denotado em virtude de ser
diretamente afetado por esse objeto [...] Símbolo é
um signo que se refere ao objeto denotado em
virtude de uma associação de idéias produzida por
uma convenção. O signo é marcado pela
arbitrariedade
(COELHO NETTO, 2003, p. 58)

Conclusão

Desta forma podemos considerar que, segundo Peirce, na análise desse estudo sobre a Casa Castelo:
quebrando o paradigma semiótico dos imóveis residenciais de Vilhena o signo está representado
pelo:

Ícone
(Castelo medieval)
Primeiridade – o flash impactante.

Se o ícone participa da primeiridade por ser “um signo cuja qualidade significante provém meramente
da sua qualidade, então o ícone é, ao mesmo tempo, um quali-signo icônico, também chamado de ícone
puro.

Índice
(Casa Castelo – versão desconstrutivista do padrão convencional das residências de Vilhena)
Secundidade – a relação com o fenômeno impactante.
O índice participa da secundidade porque é um signo que representa relações diádicas entre
representamen e objeto. Por isso, o “indíce está fisicamente conectado com seu objeto; formam, ambos,
um par orgânico”.
Também tratado de sin-signo-indicial.

Símbolo
(Prédio residencial comumente encontrado em Vilhena)
Terceridade – interconexa os dois primeiros fenômenos em direção a uma síntese.

O símbolo participa da categoria da terceiridade. A relação entre representamen e objeto é arbitrária e


depende de convenções sociais. São, portanto, categorias da terceiridade: os hábitos, as regras, a lei e a
memória. Cada símbolo é, desta forma, um legi-signo.
Referências bibliográficas

ZUIN, Profª. Dra. Aparecida. Apontamentos e slides da aula de: Semiótica – para uma
análise jornalística. Escola Wilson Camargo. Abril/2012.

COSTA, Rafael Wagner dos Santos. A semiótica de Peirce em imagem-tempo.


http://jandre.wikispaces.com/file/view/RG9P+(6).pdf

WIKIPÉDIA – Semiótica

COELHO NETTO, José Teixeira. Semiótica, informação e comunicação. 6.


ed. São Paulo: Perspectiva, 2003.

PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica e filosofia. Tradução Octanny Silveira


da Mota e Leônidas Hegenberg. São Paulo: Cultrix, 1975.

NASCIMENTO, Lígia Cabus. Semiótica Fácil – Semiose.


http://ligiacabus.sites.uol.com.br/semiotica/semiose.htm

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