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Alunas: Maressa Larissa de Araújo Alencar

Vanessa Pena Sarquis

Disciplina: Teoria da Literatura II

Professor: Daniel C. Atroch

A CRISE DA REPRESENTAÇÃO E O CONTRATO DE VERIDICÇÃO NO ROMANCE

Teoria Clássica

A teoria clássica da representação pensa que a


linguagem está no lugar de outra coisa, uma “realidade”
extralinguística. Uma velha definição de signo dizia que
ele era “aliquid pro aliquo”. Assim, as palavras não são
consideradas signos no sentido moderno do termo,
união de um significante e um significado, mas são
representações das coisas do mundo, de suas qualidades,
das ações e dos acontecimentos reais.
Como a linguagem
vai ser vista

Essa teoria trabalha, então, com a noção de A linguagem é considerada transparente, as


referência e referente. Este é um ente do palavras são análogas ao mundo, há uma
mundo designado pelas palavras, enquanto identidade entre a ordem do mundo e a
aquela é a “[...] relação que vai de uma ordem da linguagem. Assim, a significação
grandeza semiótica a uma não semiótica (= não apresenta qualquer problema, pois ela é
referente), que depende do contexto a própria coisa. Entre os signos e as
extralinguístico” (GREIMAS; COURTÉS, coisas não há qualquer intermediação, eles
1979, p.310). são imagens das coisas.
O referente são objetos do mundo real O contrato de veridicção que O que se apresenta para o
designados pelas palavras. Assim, a se firma entre enunciador e enunciatário são significantes. A realidade do
linguagem convém às coisas, é um enunciatário é de que a obra realismo é apenas uma ilusão de
espelho da realidade, é semelhante às reflete, exatamente, o mundo, a realidade, uma ilusão referencial. No
coisas. Nessa concepção, não existe a realidade. A linguagem realismo, a obra é apenas um produto que
noção de arbitrariedade do signo. Ela existe para nos apresentar, de aspira a não guardar qualquer traço do
reproduz, de certa forma, os fundamentos maneira transparente, a processo de produção. Ao mostrar-se como
da linguagem adâmica. realidade. reflexo da realidade, apresenta, no texto,
objetos reconhecíveis. Não exibindo seu
processo de produção, a obra é mostrada no
estado de identidade com o real. A
evidência da identidade entre signo e
referente, que é a base do realismo,
naturaliza
O enredo é
o mundo, afasta-o da História, não vê os
construído segundo
acontecimentos em sua processualidade.
modelos científicos.

As personagens são tipos,


cada uma delas é a O campo discursivo literário mantém
Em primeiro lugar, o único narrador possível
figurativização de um tema, relações muito próximas com o
na obra realista é o chamado narrador em
é um caso que manifesta campo discursivo científico.
terceira pessoa, ou seja, o eu enunciador deve
uma ideia geral. Aspirando à “objetividade” do
ausentar-se do enunciado, não deixar
discurso científico, aspira ao
nele as marcas de pessoa. Nesse tipo de
As personagens não são enunciado. Por outro lado, pretende
contrato de veridicção, os fatos devem
idealizadas. Ao contrário, descobrir a verdade das personagens,
como que se narrar a si mesmos.
são mostradas em sua dissecar as razões de seu
dimensão corporal, são comportamento.
animalizadas.

Na medida em que as personagens


são tipos e não indivíduos,
constituem metonímias.
[...] nas descrições é As ações das personagens Esse contrato veridictório que se firma nos
preciso que a mimese do real não seja não são determinadas por períodos em que o realismo é
tingida pelos afetos do narrador. Daí, o leis cegas. Ao contrá- imperante pode ser chamado contrato
fato de haver, nas descrições, poucas rio, não sofrem elas objetivante. Nele, concebe-se que, na relação
comparações com elementos humanos e qualquer determinação. entre sujeito e objeto, isto é, homem e mundo,
de o léxico da descrição ser muito Suas razões são sempre o segundo elemento impõe-se sobre
preciso e concreto. Há nelas uma razões do o primeiro. Há, porém, outro contrato, que se
preocupação em coração (BOSI, 1975, poderia denominar subjetivante, em
encontrar a palavra adequada, o vocábulo p.154): orgulho, que se pensa que o mundo só é cognoscível
preciso para um determinado contexto. susceptibilidades, ciúmes, por meio da subjetividade humana,
etc. O compo- que o texto representa o mundo, mas essa
nente passional é sempre representação só pode ser feita pela
muito forte. Os temas são subjetividade humana. O grande momento
sempre subjetivizados. desse contrato foi o romantismo.

Como esse contrato pretende representar


o mundo, a partir da subjetividade
do narrador, a descrição tinge-se da
subjetividade do autor. Toda a mimese do
real é construída a partir do eu. Os signos são vistos como Há ainda um terceiro contrato veridictório, que
arbitrários e a linguagem dá parte do pressuposto de que
forma ao mundo. Poder- a relação homem/mundo não se faz diretamente,
se-ia denominar semiótico mas de que é mediada pela lin-
esse terceiro tipo de guagem. Assim, o signo não é representação das
contrato veridictório. Assim, coisas, das qualidades e dos pro-
Por isso, a linguagem não é a cessos do mundo, mas é a união de um plano do
representação transparente de uma obra de arte não se vê mais conteúdo e de um plano da
realidade, mas é como representação do expressão. O significado não é o referente, mas
criação de diferentes realidades, de mundo, mas como é um conteúdo linguístico. Os
diversos pontos de vista sobre o real. linguagem, como semiótica. conceitos são gerados por uma forma do
Mostra-nos, por conseguinte, a conteúdo e não preexistem à linguagem.
relatividade da verdade, a possibilidade
de que a realidade seja outra. Nada há
fixo, imutável, verdadeiro.
A verossimilhança, nesse tipo de Nesse contrato, o narrador
é sempre em primeira Na verdade, na linguagem podem-se
contrato, é uma construção interna à
pessoa. Quando ocorre o criar mundos, personagens, fatos. É o
obra e não uma adequação ao referente,
que a Teoria Literária chama que mostra esse contrato de
como
um narrador em terceira veridicção. Narrador e personagens
pretende o contrato veridictório
pessoa, isto é, um narrador não são pessoas
que não é personagem, o eu do mundo, mas criações da
não se ausenta do linguagem.

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