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NOEMA / DIANOIA - Pensamento do autor Mesmo se a escrita começou por transcrever O leitor ocupa o lugar do interlocutor; como a independente

como a independente e solitária quanto uma obra de


AEDOS E RAPSODOS ION graficamente os signos da fala. esta libertação escrita ocupa o lugar da locução e do locutor. arte.
Transmitir, diz ser indispensável a ele “se da escrita que a coloca no lugar da fala é o ato Jakobson: Lingüística e poética:
tornar intérprete do pensamento do poeta aos de nascimento do texto. 1. Locutor com a escrita a relação da 5. A situação
ouvintes” (530c). mensagem com o locutor é alterada. Não é mais FALA A referência ou a coisa referida é um
Filósofos e sofista são herdeiros das musas Caráter mais marcante: o discurso conserva e uma relação auditiva, mas observável, transição membro da situação comum ao locutor e ao
faz dele um arquivo disponível para a para os olhos. Por isso, no texto, A ouvinte. Indicadores ostensivos:
É óbvio que o rapsodo deve ser um exímio memória individual. INTENÇÃO DO AUTOR E O SIGNIFICADO demonstrativos, advérbios de tempo e de
formalista, pois também costura os versos DO TEXTO deixam de coincidir, dissociação lugar e tempo verbal. Todas as referencias
dos outros, mas o noema é o principal foco A libertação do texto em relação a entre a intenção mental do autor . Isso gera uma são determinadas pelas situações do discurso.
quando temos a hermenêutica como oralidade arrasta uma verdadeira AUTONOMIA SEMANTICA DO TEXTO: ESCRITA: surge um hiato entre a
horizonte. Deve-se compreender o que o transformação tanto das relações entre SENTIDO AUTONOMO. Autônomo. Não se identificação e a mostração, a situação
poeta diz e não somente a forma de como ele linguagem e o mundo como da relação trata mais de uma psicologia do autor. comum está ausente, o momento não é
diz para poder representar/interpretar. mesmo entre o escritor e o leitor, a autonomia
entre linguagem e as diversas
DOIS ERROS e Duas falácias: FALÁCIA semântica do texto abre um âmbito
Ricoeur Teoria da Interpretação subjetividades envolvidas, a do autor e a INTENCIONAL que sustenta a intenção do indefinido de leitores e de leituras.
A interpretação é impossível se ela não se do leitor. autor como critério para qualquer interpretação
preocupar com a escrita. válida do texto. Graças a escrit, o homem e só o homem
A escrita é a plena manifestação do discurso. Função referencial da linguagem: diz alguma FALÁCIA DO TEXTO ABSOLUTO: que tem um mundo e não apenas uma situação.
coisa sobre alguma coisa, isso de que ele fala é coloca o texto como uma entidade (quase
TREMENDAS REALIZAÇÕES o referente do discurso. natural / como se não tivesse sido produzido Ricoeur. 142 Leitura / diálogo
PROVOCADAS PELA ESCRITA: por ninguém). A leitura não é um diálogo vivo, a relação é
Transmissão de ordens à distância sem De que a linguagem fala? A que ela se refere? de uma natureza completamente diferente. Já
sérias distorções, o estado exerce seu A imagem e aquilo de que ela é imagem. A 2. Ouvinte Universalização do auditório, que o diálogo é uma troca de perguntas e de
pode à distancia. linguagem e aquilo de que ela é linguagem. enquanto o diálogo torna-se mais restrito. Se respostas, não há trocas deste tipo entre
Implicação política da escrita liberta da relação face-a-face. escritor e leitor. O leitor está ausente da
Regras de cálculo, surgem os mercados, Caráter ostensivo: próprio para mostrar, O “ouvinte” de um texto torna-se mais amplo e escrita. O escritor está ausente da leitura.
e nasce a economia para indicar: “assim, na fala viva, o sentido a interpretação dele também se tornará mais
ideal do que se diz inclina-se para a ampla. Ler um livro é considerar o autor como
Com a formação de arquivo, nasce a
história. referência real, a saber, aquilo sobre que se Esta abertura a diversas interpretações é a morto e o livro como póstumo.
fala; no limite, esta referência real tende a contrapartida da autonomia semântica do texto.
Com a fixação do direito enquanto
confundir-se com uma designação ostensiva O que é um texto?
padrão de decisões, independentes da
em que a a fala se junta ao gesto de mostrar, 3. O meio: esta é a mudança mais evidente que Duas atitudes diante de um texto:
opinião e de determinado juiz, o
de fazer ver. Exibição. ocorre da fala à escrita. O meio é a grande Explicar: modelo vindo da Ciência da
nascimento da justiça e dos códigos
jurídicos. revolução ocorrida entre os homens, pois a natureza / explicação
A TAREFA DA INTERPRETAÇÃO É escrita apaga seu autor. O homem desaparece e factos a leis universais
EFETUAR A REFERÊNCIA. a escrita carrega a mensagem. ideal metódico do conhecer e ter certezas
O que é um texto? Tudo fixado pela escrita,
Quase-mundo dos textos, mundo grego, Mas a escrita não é só a fixação material de provadas por alguma demonstração
tendo anteriormente existido na fala. É a
bizantino, é um mundo imaginário, algo, ela é muito mais que isso. Alargado e projetado pelo positivismo nas
fixação em um grafismo linear das
presentificado pelo escrito, no lugar em que o ciências históricas
articulações da fala.
mundo era apresentado como fala. 4. Código
Uma inscrição que assegura à fala sua
Sócrates / Jesus / Tróia gêneros literários: poesia, narrativa e ensaio. Compreensão Ciências do espírito /
durabilidade graças ao caráter, subsistente da
Quando o texto toma o lugar da falar, é mais Entidades mais longas que a frase, estilo. compreensão noção psicológica
gravura.
difícil falar em locutor, mas em autor, uma Não se trata mais de uma dualidade entre falar
A escrita substitui a fala, se coloca no lugar
relação complexa do autor com o texto, o texto e escrever, mas escrever como se fosse um HOJE EM DIA: a hermenêutica não se deriva
em que poderia ter nascido. (p. 142).
é o lugar onde o autor sobrevive. artesanato. Autor faz essa obra, uma obra tão mais da física, mas da lingüística
Escrever-Ler (42-57).
escritas possuem mais valor do que apenas um Inscrição gramatical (os modos da linguagem, 3) REFERÊNCIA Enquanto os signos da
RICOEUR conciliação P. 146 lembrete (275-276) indicativo, imperativo, conjuntivo e etc). língua remetem apenas para outros
O objectivo de Ricoeur compreensão (da signos no interior do próprio sistema, e
escola hermenêutica) + a explicação (da 2) Agricultor que semeia sem seriedade 2) força ilocucionária: o que fazemos enquanto a língua dispensa o mundo
escola da filosofia da ciência). Se ele fosse sério, não escrevia, mas quando falamos. Prosódia, entonação da fala como dispensa o mundo como dispensa
Para mostrar uma NOÇÃO DE TEXTO plantaria num terreno fértil as suas sementes a temporalidade e a subjetividade, o
MENOS ANTINOMICA. (palavras) utilizando o verbo falado (276). 3) ato perlocucionário: o que geramos no discurso é sempre acerca de qualquer
EXPLICAÇÃO: desde Galileu, Neste caso, as sementes seriam a de outro quando falamos. Trata-se do discurso coisa. Refere um mundo que
matematização, e desde Mill lógica indutiva um lavrador do bem, do justo e do belo, enquanto estímulo. pretende descrever, exprimir,
Ciências dos espíritos, ciência dos conforme a crença de Sócrates: representar. É no discurso que se
indivíduos: “compreensão é o processo pelo É uma ordem decrescente de intencionalidade. atualiza a função simbólica da
qual conhecermos alguma coisa de acho muito mais bela a discussão dessas coisas O efeito que gera um discurso é o menos se linguagem.
psiquismo com a ajuda de signos sensíveis quando alguém semeia palavras de acordo com pode controlar no discurso enquanto tal. O discurso não pode deixar de se referir a
que são a sua manifestação”. a arte dialética, depois de ter encontrado uma São três elementos importantes. alguma coisa. Ao dizer isso, CRITICO A
p. 147 São signos manifestos a serem alma digna para recebê-las; quando esse FALÁCIO DO TEXTO ABSOLUTO.
interpretados e interpretá-los é a arte de alguém planta discursos que são frutos da razão, 2) ESCRITA E AUTOR. Segunda,
compreender aplicada a esses testemunhos, que são capazes de se defender por si mesmos e enquanto a língua não requere nenhum Do mesmo modo que o liberta a sua
monumentos, dos quais a escrita é a ao seu cultivador, discursos que não são sujeito – no sentido da questão de ”quem significação da tutela da intenção mental, o
principal característica. estéreis mas que contém dentro de si sementes fala” não se aplica a este nível – o texto liberta a sua referência dos limites da
É possível o conhecimento por signos do que produzem outras sementes em outras almas, discurso remete para o seu locutor referência ostensiva, mostração. É assim que
psiquismo alheio, tendo inclusive permitindo assim que elas se tornem imortais. A intenção daquilo que um sujeito fala coincide falamos do “mundo” da Grécia, não para
objetividade nisso que faz. (277 [grifo nosso]). com aquilo que ele fala, tanto que é o mesmo designar o que eram as situações para
perguntar: o que vc quer dizer? e o que isto aquelas que as viviam, mas para designar
p. 186 O que é o discurso? Descontextualização quer dizer? as referencias não situacionais que
O discurso é o acontecimento da linguagem. O alfabeto foi uma tecnologia e a técnica passa Na escrita o dito não coincide com a intenção sobrevivem ao desaparecimento dos
Lingüística da frase: a ter autonomia do homem que a criou, como a do autor. CONTRA FALÁCIA precedentes. P.190
1) TEMPO primeira característica o filha sem pai. INTENCIONAL
discurso realiza-se sempre O elo entre autor e leitor é complicado. 4) COMUNICAÇÃO Enquanto a língua é
temporalmente e no presente, enquanto Mito da técnica / fogo p. 189 A dissociação da significação e da apenas uma condição de comunicação
o sistema da língua é virtual e estranho Manthanein: aprender intenção permanece uma aventura da para a qual fornece código, é no
ao tempo. Epimeteu epi: após, aquele que pensa após devolução do discurso ao sujeito falante. discurso que são trocadas todas as
Promete: aquele que pensa antes Mas a carreira do texto escapa ao horizonte mensagens. Neste sentido, só o
A fala é diferente do discurso. Aquela Vai distribuindo poderes aos animais, a todos, e finito vivido por seu autor. O que diz o texto discurso tem um interlocutor a quem se
aparece e desaparece. Só o discurso é se esquece dos homens, daí Prometeu ter importa mais do que aquilo que o autor quis dirige.
fixado roubado o fogo e dado aos homens, para se dizer; doravante, toda a exegese desenvolve
MITO DA ESCRITA defenderem dos outros animais. os seus processos no seio da circunscrição de Isso fundamenta a comunicação e a escrita
Escrita como pharmákon: Mas mesmo assim os homens estão morrendo, significação que rompeu as suas amarras universaliza para quem sabe ler. A
Remédio para a memória e para a apenas com o domínio rudimentar da fala e com a psicologia do seu autor. espiritualidade do discurso é escrever para
aprendizagem Zeus fornece-lhe as sabedoria política ou a um auditório e um leitor imaginários.
Veneno não auxilia na aprendizagem, caso capacidade humana fundamental do discurso, Platão: a escrita não pode ser socorrida com Já não há ouvinte visível. Um leitor
dos logógrafos por ter logos o homem é um animal político. gestos, mímicas, explicações. desconhecido, invisível, tornou-se o
destinatário não privilegiado do discurso.
1) Filha sem pai para lhe defender Atos da linguagem Não há nem presença física e nem psicológica
Os discursos escritos, para Sócrates, não “falar é como fazer algo / praticar algo” do autor.
exprimem uma doutrina clara e profunda e é 1) locucionário: o ato de dizer e expressar.
tolo o homem que acredita que as coisas

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