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Apontamentos de Semiologia

Semiologia  estudo sistematizado dos signos

Conceitos introdutórios
• Signos 

a) Substituto de algo que está ausente e fora do nosso alcance sensorial; trata-se da
representação de uma coisa e não da própria coisa (pode ser traiçoeiro e mentiroso ao
trazer para a nossa consciência, a ideia de um objeto – consequentemente, tornamo-
nos proprietários desse objeto, ou seja, este vive na nossa mente, apesar de não o
termos fisicamente).
b) É necessário para toda a comunicação;
c) É no signo que reside a significação.

• Códigos linguísticos  Palavras, pintura, cinema, linguagem musical, etc.

• Significação  Processo composto por emissor, que transmite os conteúdos, e recetor, que
os descodifica e interpreta.

• Mensagem visual  Pode ser icónica, linguística e plástica.

Exemplo:

Estamos perante uma representação linguística (“Ceci


n’est pas une pipe”) e icónica (ícone do cachimbo).
Existem 3 dimensões: visual, sensorial e cognitiva/
concetual/ percetual (no campo das ideias).

“Ceci n’est pas une pipe”  o autor afirma isto uma vez que se trata da representação de um
cachimbo, de uma imagem do mesmo, e não o objeto em si (“Ele é apenas uma representação.
Portanto, se eu tivesse escrito sob o meu quadro: "Isto é um cachimbo", eu teria mentido.”).

A significação que é feita depende da representação que sugere a cada um, portanto a
significação depende do intérprete. Ex: esta imagem pode 1. para algumas pessoas, remeter a
lembranças, 2. para outros, pode remeter a uma associação a um homem rico, etc.

Existem 3 planos:

• 1º plano: plano do objeto, da existência, da realidade; passa por identificar e descodificar

O objeto existe e conseguimos identificá-lo. Ex: Existe um cachimbo e nós identificamo-lo.


Tudo o que pode ser capturado pela compreensão humana (coisas, objetos, realidade), deve-
se à nossa capacidade de associar aquilo que observamos em ideias, e o mundo real à
realidade.
• 2º plano: plano da representação visual; processo de pensamento

As representações são essencialmente humanas. Ao comunicar, se quisermos transmitir a ideia


de um cachimbo, temos de representar essa ideia.

Ícone  Faz parte da realidade e não exige processo de aprendizagem porque houve
socialização visual de um objeto (por exemplo do cachimbo). Assim, a representação como
está na imagem assume a forma de significante.

Por outro lado, as palavras já exigem aprendizagem, pelo que quem não domina uma certa
língua, não a consegue compreender.

• 3º plano: Plano da significação (domínio das interpretações e significados)

Permite manusear representações com utilidade.

Exemplo: Imagem de um ponto negro

Para a analisar, temos de inserir as interpretações deste, num contexto cultural:

 Antes de nascermos vemos tudo preto, portanto podemos associar à vida;


 Isolamento, solidão, vazio, visto ser um ponto pequeno num grande universo
 Associar ao simbolismo das cores;
 Associar às vivências;
 Se fosse um ponto verde num fundo azul, pareceria uma ilha.

O ser humano enquanto sujeito intérprete, traz muita riqueza interpretativa para aquilo que
observa, que sente e que os sentidos lhe trazem. Quando se interpreta uma imagem através
do imediatismo do senso comum, costuma-se esquecer a superfície e a envolvência branca
que rodeia o ponto negro  esta superfície branca é igualmente importante ao ponto negro.

Origens da palavra Semiologia/ Semiótica


No séc. XVII, Henry Stubbes aplica o termo sēmeiōtikos para se referir a um campo da ciência
médica, encarregue de interpretar signos/ sintomas (sintomatologia). Sintomas = indícios,
sinais, significantes de um paciente, que merecem uma leitura, uma significação, um
entendimento, uma interpretação por parte de um médico, de modo a realizar um
diagnóstico. O mesmo acontece nos nossos processos de significação – chega-nos um conjunto
de sinais e nós interpretamos.

No mesmo século, John Locke usa o termo semeiotike para se referir à ciência que estuda os
signos/significação. Do seu ponto de vista, a ciência divide-se em: 1º o Homem capta a
natureza das coisas, através da compreensão humana; 2º o Homem traduz o mundo em ideias,
os conceitos em significados; 3º o Homem exterioriza e comunica esse conhecimento a Outro.
Signo numa perspetiva diacrónica (evolução do signo)
• Período Clássico

a) Platão

“Os signos verbais, naturais ou convencionais, são representações incompletas da verdadeira


natureza das coisas”  Ex: Se disser “miar”, dá para perceber que se trata da representação
da fala de um gato, no entanto não é facultada informação sobre as caraterísticas do miar (se é
dócil, rouco, prolongado).

Os signos verbais, associados às palavras, podem ser naturais ou convencionais:

Naturais  palavras que têm tendência para se aproximarem da realidade e da natureza, e


que têm vestígios da tentativa de se enquadrarem e corresponderem à ideia a que estão
associadas (ex: cacarejar, zumbido) – mais apoiado por Saussure.

Convencionais  Fazem parte a maioria das palavras/ signos verbais que incorporam uma
língua, um código linguístico. Não há relação lógica, ou seja, não se consegue explicar porque é
que uma palavra está associada àquela ideia ou objeto – simplesmente, há um acordo numa
sociedade, de atribuir determinada palavra a uma ideia. – mais apoiado por Peirce.

“O estudo das ideias nada revela sobre a verdadeira natureza das coisas, uma vez que a
realidade das ideias é independente das representações sob a forma de palavras”  Ex:
“gato”; é impossível não associar esta palavra à ideia e imagem que temos de gato, no
entanto, esta palavra nada revela sobre a sua natureza uma vez que não especifica se é um
gato pequeno, grande, bebé, velho,… É de acrescentar que a ideia é independente da palavra,
visto que a ideia de gato nada tem a ver com a palavra gato (que também pode ser cat, chat,…)
– diferentes palavras correspondem à mesma ideia.

“O conhecimento mediado por signos é indireto e inferior ao conhecimento imediato, e a


verdade sobre as coisas através das palavras é inferior ao conhecimento da verdade em si.”
Ex: eu posso descrever a minha casa ao detalhe, no entanto, o conhecimento seria superior se
víssemos a casa ao vivo. Platão acrescenta que, aquilo que está na nossa mente sem
contaminação de nomenclaturas, é superior à verdade que conhecemos através das palavras.

b) Aristóteles

“Um nome é um som falado, significante por convenção. Eu digo por convenção, porque
nenhum nome é natural, mas apenas quando se torna um símbolo.” um nome é
estabelecido por convenção, ou seja, a língua é estabelecida como norma dentro de uma
comunidade, que se fixou e normalizou. Nenhum nome é natural porque, apesar do processo
de traduzir pensamentos em palavras ser feito de forma natural, a criação das palavras
atribuindo-lhes ideias, é convencional.

Signos: marcas escritas referentes a sons falados  sons falados são signos e símbolos de
impressões mentais  impressões mentais (ideias) são cópias das coisas.

O que distingue o símbolo do signo? O símbolo é mais natural, espontâneo, mecânico (ex:
cacarejar – flui com naturalidade porque lembra o som produzido por um animal; ex:
heteróclito NÃO é um símbolo). O signo é mais convencional (ex: cadeira).
A partir do momento em que um nome passa a viver em nós e quase que flui naturalmente na
nossa expressão oral, este transita de signo para símbolo.

c) Estoicos

O signo liga 3 componentes: o significante material (reprodução física, a palavra, a fotografia, a


pintura); o significado ou sentido (só existe na nossa mente); e o objeto externo referente (a
realidade). Deste modo, constata-se que a sua composição do signo é muito semelhante à de
Pierce.

• Período medieval
Segundo Santo Agostinho, o signo é composto por 2 planos:
Plano semântico  “Um signo é o que se mostra a si mesmo ao sentido (por via sensorial,
função de significante), e que, para além de si, mostra ainda alguma coisa ao espírito (mostra
uma ideia/significado, só assim é considerado um signo)”.

Plano comunicacional  “A palavra é o signo de uma coisa que pode ser compreendida pelo
auditor quando é proferida pelo locutor.” Ao dizer que a palavra é o signo de uma coisa, estou
automaticamente a referir o significante e significado, porque o signo é composto por estes.
Antes de conhecer o significado de uma palavra, esta é apenas ruído ou um mero som, não
sendo percetível nem inteligível. A partir do momento em que lhe atribuo um significado,
consigo decifrá-la e descodificá-la, tornando-se um signo.

• Racionalismo

a) Descartes

Baseia-se em observações científicas, excluindo a subjetividade. O racionalismo carateriza-se


por: negação de zoosemiótica (significação nos animais) - os animais caraterizam-se pela
ausência de razão; axioma das ideias inatas - pressupõe a prioridade do conhecimento
intelectual; variabilidade dos sons e constância das ideias (remete a Aristóteles) – afirma que
os sons e as línguas são variáveis, mas as ideias mantêm-se.

b) Leibniz

Defende a visão pansemiótica: inclui, nos signos, palavras, letras, símbolos químicos e
astronómicos, carateres chineses, hieróglifos, marcas musicais, algébricas e aritméticas e
outros signos que usamos, em vez das coisas quando pensamos.

Ex: se disser “A” surge um “A” na nossa mente; no caso dos caracteres chineses, para os
ocidentais são só significantes e não chegam a signos, mas para quem compreende a língua
chinesa são signos porque conseguem atribuir um significado aos significantes (caracteres).

“Um signo é aquilo que percecionamos e, por outro lado, consideramos conectado com outra
coisa, em virtude da nossa ou da experiência de outrem” – O que percecionamos deixa de ser
só uma mera sensação/ruido, e ganha entendimento (deixa de ser só significante e passa a ter
também significado). A partir do momento em que atribuímos significado a uma
representação, conectamo-la com o objeto que existe na realidade.
Os signos são ferramentas úteis e necessárias que servem de abreviatura a conceções
semânticas mais complexas que representam. Ex: mala da GUESS composta por várias
fotografias e pelo logotipo da marca - o signo é a representação das imagens e, a partir deste,
tenho competências interpretativas para gerar processos de raciocínio, tais como, o logotipo
remete-me para o nome e ideia da marca, o próprio nome “GUESS” é tradução de “adivinha”,
como que numa maneira de espicaçar o sujeito intérprete, etc.

• Empirismo britânico

Segundo John Locke, há 2 tipos de signos:

- Ideias  só podemos falar em signo quando uma ideia está associada na nossa mente com
uma palavra, caso contrário não temos signo – neste caso, apenas está presente a
componente do signo que é a ideia = conceito = significado.

- Palavras  o mesmo sucede com as palavras, em significantes; ex: “heteróclito” é uma


palavra que foi exteriorizada, ou seja, está presente o significante, porém, desconheço o seu
significado e, como tal, esta não é considerada um signo.

Signo = Significante + Significado. Os 2 são mutuamente necessários para a existência de signo.

Rejeita o axioma das ideias inatas: “as ideias provêm das sensações dos objetos externos” por
reflexão. A mente perceciona e reflete  conhecemos o mundo através das experiências e das
sensações, e não através do intelecto como Descartes defende.

• Iluminismo francês

Diderot estuda a:

- Distinção entre signos linguísticos e não linguísticos

- Superioridade da linguagem não verbal: a linguagem dos gestos, não só é mais expressiva,
como também é mais lógica que a linguagem verbal (no caso da linguagem verbal, se não
cumprirmos uma sequência lógica de palavras é muito provável que o recetor não entenda,
distorcendo a realidade).

• A partir do séc. XX – Semiologia/Semiótica

Os pais da Semiótica são Saussure, Peirce e Morris.

Ferdinand de Saussure reivindica a ciência que “estudaria em que consistem os signos, que leis
os regem” e propõe a designação “Semiologia”. Este estuda a presença dos signos na vida
social, ou seja, dá uma socialização aos signos. Estrutura o seu pensamento em binómios: o
conceito e a imagem acústica que, mais tarde, passam a ser denominados de significado e
significante, respetivamente.

Charles Sanders Peirce entendia a Semiótica, como apenas um outro nome da ciência da
Lógica. Peirce estrutura o seu pensamento em sistemas triádicos: 1º a composição do signo
(próprio signo – equivalente ao significante de Saussure -, referendo/objeto, e interpretante);
2º tipos de signo (índice, ícone e símbolo).

Charles Morris, considera que a Semiótica “tem uma dupla relação com as ciências: ela é
simultaneamente uma ciência entre as ciências e um instrumento das ciências” (“meta-
ciência”).

Peirce e Morris concebem a Semiótica como a ciência das ciências, porque todas precisam de
um corpo de conhecimentos que só pode ser transmitido através da sua materialização em
palavras. De um modo geral, todos os teóricos dizem que a Semiologia é uma ciência por si
própria, mas que todas as demais também dependem dela.

Composição do signo – Saussure VS Peirce


- Perspetiva de Ferdinand de Saussure  significado e significante

O significante é entendido como a imagem acústica de uma palavra, isto é, a representação


sonora de uma palavra - é a “forma”, o “corpo” que se vê ou que se ouve da palavra. Já o
significado é o conceito que se tem da palavra, ou seja, a realidade que a palavra representa -
o significado corresponde ao conteúdo, ao que o conjunto de sons/letras que constituem essa
palavra representa. O significante e o significado formam um signo, que se une a outros signos,
compondo um sistema.

- Perspetiva de Charles Sanders Peirce  objeto externo referente, próprio signo


(representamen) e o interpretante.

O objeto é a realidade em si que está a ser analisada, o referente, a coisa. O próprio signo é o
modo como essa determinada realidade é representada e materializada, seja por meio de
ícones ou de mensagem linguística – também designado de “veículo sígnico” porque conduz a
realidade ao interpretante. Com base na maneira como a realidade é representada, o
interpretante faz as suas próprias conclusões e interpretações – este interpreta que o que
observa não é uma coisa em si, mas uma coisa que representa outra coisa, criando assim, um
signo na sua mente.

Significante + Interpretante = Objeto

O signo liga-se ao objeto através do interpretante. ??

Semiose: criação infindável e ininterrupta de significados associados ao signo inicial.

Ex: Mar  Água  Praia  Areia  Toalha  …

Neste processo, criam-se relações associativas.

Ferdinand de Saussure – O Signo


Para Ferdinand de Saussure, o signo é uma “entidade psíquica de duas faces” – psíquica
porque a associação entre ideias e códigos ocorre na mente (uma palavra que não se associe a
uma ideia, é apenas ruído. Essas duas faces são a “combinação do conceito (significado) e da
imagem acústica (significante)”.

Conceito  parte psíquica, imagem mental, é mais abstrato que a imagem acústica.
Imagem acústica  parte sensível, sensorial (apela ao sentido da audição) e é só, neste
sentido, que é material – ao haver expressão oral de uma ideia, esta materializa-se e cria-se
uma representação mental; Ex: ouço alguém falar russo, no entanto, para mim apenas está a
ser transacionado ruído estéreo, uma vez que não consigo associar ao som uma imagem
acústica, ou seja, não consigo entender a ideia que me está a ser transmitida e materializá-la.

As imagens acústicas são variáveis


consoante as línguas; os conceitos
são universais (Aristóteles).

No circuito da fala, segundo Saussure, há, pelo menos, 2 sujeitos que estabelecem uma
comunicação entre si: o emissor, que tem uma atitude ativa e transmite a informação, e o
recetor que a recebe e descodifica, tendo uma atitude passiva. Este intercâmbio carateriza-se
por:

1. Parte exterior (vibração dos sons no seu trajeto boca-ouvido) / Parte interior (tudo o resto);

2. Parte psíquica (cérebro e processos a ele associados) / Parte não psíquica (factos fisiológicos
com sede nos órgãos: fonação e audição, e factos físicos exteriores ao sujeito, possibilitados
através das ondas sonoras);

3. Parte ativa (centro de associação do sujeito emissor ao ouvido do outro) / Parte passiva (o
que se processa do ouvido deste ao seu centro de associação);

4. Cérebro: parte executiva (ativa)/ parte recetiva (passiva).

Valor linguístico – Saussure ??


Para que haja signo é necessário haver:

- Troca de ideias dissemelhantes – troca de significantes e significados.

- Troca de coisas similares – ato de comparação; as coisas são signos mais eficientes por terem
uma imagem mental mais próxima da realidade (Ex: morrer/ falecer).

O sentido só fica verdadeiramente fixado, depois desta dupla determinação: significação e


valor. O valor não é a significação: ele provém “da situação recíproca das peças da língua”; este
é mais importante do que a significação.

Peirce e os seus Sistemas Triádicos (divisão da Semiótica)


• Pragmática  estuda o sujeito falante independentemente do código empregue (pintor,
poeta, cineasta, jornalista, etc.);

• Semântica  estuda a relação entre os signos e as coisas significadas;

• Sintaxe  estuda as relações formais entre os signos.

Princípios que assistem o signo


• Arbitrariedade

O traço que une o significante ao significado é arbitrário, ou seja, não assenta numa relação
lógica, racional, motivada nem natural. Ex.: a ideia de pé não está ligada por nenhuma relação
à cadeia de sons “p” + “é”. Podia ser perfeitamente representada por outra cadeia de sons,
dependendo das línguas (foot, pie, pied). Apesar da relação entre a palavra e o que ela
representa ser arbitrária, isso não significa que o significante fica à livre escolha do sujeito
falantes.

Objeções: onomatopeias (seguem um raciocínio lógico, Ex: criação da palavra “zumbido” com
base no som “zzzz”, exclamações, exemplos de composição e derivação vocabular (palavras
são formadas com base num determinado raciocínio).

“Um sistema é arbitrário quando os seus signos são estabelecidos, não por contrato, mas por
decisão unilateral.” – Roland Barthes

• Linearidade do significante

O significante, por de natureza auditiva, desenvolve-se no tempo e, a este vai buscar os seus
atributos. Representa uma extensão e esta é mensurável numa linha – todo o mecanismo da
língua, para deter sentido, deve seguir este princípio.

Se escrever uma série de palavras soltas por uma folha – ou seja, se não houver linearidade/
sequencialidade -, não conseguimos identificar as ideias e o sentido que estão a ser
transmitidos.

• Imutabilidade

O signo é imutável porque resiste a qualquer substituição arbitrária. A massa social não é
consultada e o significante, escolhido pela língua, não pode ser substituído por qualquer outro
– a comunidade linguística não tem soberania sobre uma palavra.

Neste caso, invoca-se o caráter arbitrário do signo, que coloca a língua ao abrigo de qualquer
tentativa de mutação; o caráter demasiado complexo do sistema (a língua é um sistema,
havendo impotência da comunidade para o alterar totalmente); e o fator de conservação (a
língua é um sistema de que muitos indivíduos se servem, daí haver pouca margem para
iniciativas e alterações.

• Mutabilidade
Complementa o conceito de imutabilidade. Apesar de haver um esfrço por garantir a
estabilidade do signo e assegurar a sua continuidade da língua (como referido no ponto
anterior), o tempo acaba sempre por provocar alterações no signo linguístico – daí ser possível
conciliar a imutabilidade com a mutabilidade.

Alterações gramaticais e semânticas que vão ocorrendo com o tempo, impactam a língua,
afastando o significado do significante (Ex: queer, em tempos era utilizado como ofensa à
comunidade LGBT e, nos dias de hoje, serve para designar membros dessa mesma
comunidade, mas sem uma conotação pejorativa atribuída). Apesar de serem poucos os casos
de mutação na língua, os mesmos existem – como na elaboração do novo acordo ortográfico.

Signo – Conceção de Pierre Guiraud


O signo “é um estímulo – isto é, uma substância sensível – cuja imagem mental está associada
no nosso espírito à de um outro estímulo que ele tem por função evocar com vista a uma
comunicação.” - Pierre Guiraud

Princípios que o assistem:

• Comunicação  O signo tem sempre a intenção de comunicar um sentido e exclui os índices


naturais;

• Codificação  A relação entre o significante e o significado é convencional, ou seja, resulta


de um acordo entre os seus utentes, que a reconhecem e a respeitam no emprego do signo;

• Motivação  Relação natural entre o significante e o significado, parte da sua natureza. A


motivação não exclui a convenção;

• Monossemia (um significante faz-se corresponder a um significado e vice-versa) e polissemia


(um significante pode combinar-se com vários significados – cor vermelha pode significar
paixão, proibição, inferno - e um significado com vários significantes – querer negar algo pode
ter como significante “não”, “no”, “nein”);

• Denotação (constituída pelo significado concebido objetivamente e apenas como tal; Ex:
texto jornalístico) e conotação (expressa por valores subjetivos ligados ao signo, resultantes da
sua forma e função; associado a juízos de valor). – Um uniforme denota o grau e função de um
indivíduo e conota o prestígio e autoridade que lhe estão associados.

• Matéria (veículo sensível = significante), substância (ideia, conceito = significado) e forma


(valor). Saussure dá mais importância à forma do que ao restante.

Tipologia dos signos


• Índice  Quando a relação entre o signo e o objeto é de transitoriedade, em que se observa
a passagem de um estado para outro. Ex.: nuvens que anunciam chuva.

• Ícone  A relação estabelecida entre o signo e o objeto assenta na semelhança. Dispensa,


por isso, a aprendizagem de um código. Ex.: foto de um gato.

• Símbolo  A relação entre o signo e o objeto está convencionada, exigindo, para a sua
descodificação, uma aprendizagem. Ex.: linguagem.
“O Homem é mais um ser simbólico do que racional” (Charles Morris), ou seja, o Homem
socorre-se de convenções linguísticas para comunicar.

O índice antecede o signo, o ícone está presente no signo (análise icónica) e o símbolo
representa-o. Somos seres visuais, que veem o mundo e o ícone é uma representação próxima
do mundo – logo, nós temos as componentes visuais necessárias para compreender os ícones.

Semiologia e Semiótica - Comparação


Discussão iniciada por Eduardo Prado Coelho, e contaminada pelos pais da Semiologia.

a) Ponto de partida  Saussure parte do ato sémico entendido como facto social que,
por via do circuito da fala, estabelece uma relação entre, pelo menos, dois
interlocutores;
 Peirce parte da ideia de semiosis, e afirma que existe uma cadeira interrupta de signos
e este processo protagoniza-se pelo intérprete;

b) Limite das Ciências  Saussure percebe que a Semiologia se confronta com limites e
existem objetos exteriores ao seu âmbito, ou seja, não semiotizáveis (Ex.: signos
naturais, como o céu carregado de nuvens, não são semiotizáveis.
 Peirce entende que tudo é semiotizável, pelo que a Semiótica não tem freios.

c) Conceção de signos  Saussure perspetiva o signo como entidade psíquica de duas


faces – significante e significado – que se condicionam mutuamente (pág. 6).
 Para Peirce, o signo é sobretudo um processo de mediação, que tende para a
infinitude.

Linguagem
A linguagem não é uniforme e é considerada heteróclita (extravagante) – Saussure. Esta não é
uma ciência autónoma, concreta ou objetiva. Passa por diversas manifestações (música,
gestos, cinema, pintura, …).

“É uma atividade simultaneamente cognitiva (semelhante ao significado) e manifestativa


(passa pela exteriorização e objetificação, semelhante ao significante)”.

Sistema de duplos sinais- tem a ver com o significado e com o significante

A língua, conforme a observamos, é um elemento de formação e manutenção da sociedade. É


o seu elemento identificativo e fator de coesão social. É importante não a confundir com
linguagem – a língua é um produto social da linguagem e constitui um conjunto de convenções
da mesma.

Dimensões da linguagem (José Herculano de Carvalho)

• Capacidade e necessidade inatas do Homem, para comunicar com o seu semelhante

É um instinto, que já nasce com o Homem, no sentido de comunicar. Somos seres sociais e a
linguagem é uma resposta à nossa necessidade de estar com o outro.
• Forma efetiva de comunicar

- Linguagem verbal  vocal e discurso humano vocalizado;

- Outras linguagens  teatro, cinema, pintura,…

• Fenómeno cultural de 2 dimensões

- Sentido antropológico: A língua é produto de uma convenção (acordo entre as partes


interessadas), logo, faz parte integrante de uma comunidade e constitui um fenómeno
cultural. Para além disso, a língua atribuí uma certa identidade cultural aos indivíduos e
carateriza-os.

- Cultura erudita: Quanto maior o exercício da língua, mais esta enriquece.

• Pensamento, potenciador de conhecimento

A linguagem permite-nos conhecer e guardar esse conhecimento no nosso “arquivo mental”;


define-nos como seres pensantes e capazes de conhecer; através da linguagem o Homem
consegue ordenar toda a informação caótica recebida pelos órgãos sensoriais – a linguagem
serve o pensamento e, só por ele, existe.

Funções da linguagem:

• Função interna  de pensar e conhecer

• Função externa  exteriorização para si próprio (monólogo) e para outrem (diálogo)

Conteúdos manifestados pela linguagem – presentes tanto no monólogo (M) como no


diálogo (D) – Herculano de Carvalho

• Informação  transmissão de juízos de facto, foca na essência do objeto (aquilo de que


falamos); informação objetiva, neutra (M – eu constato que uma superfície é quente/ D – um
prof dá informação aos alunos);

• Emoção – transmissão de juízos de valor, foca no valor do objeto (recurso à adjetivação);


depende do estado de espírito do sujeito (M - eu sinto algo a partir da minha própria
experiência, ex: tropeçar e sentir dor/ D - alguém partilha um sentimento com outrem);

• Apelo – transmissão de conteúdos que se propõe a convencer, persuadir ou até manipular.


Têm como objetivo levar o interlocutor a agir de determinado modo (M - eu motivo-me a
levantar-me da cama; D - alguém motiva outrem a comportar-se de determinada maneira).

Normas para todas as outras manifestações da língua

Tudo o que fazemos/observamos é traduzido em palavras. A língua só existe devido à soma


dos utentes da mesma (ou seja, só existe porque muita gente a domina).
É importante não a confundir com fala, que se trata de uma manifestação individual
personalizada, ou seja, diz respeito à forma como cada um usa a língua – a fala é a
exteriorização da língua. Como tal, tem caráter natural e cerebral.

Dicotomia língua-fala

• Língua  Parte essencial e social da linguagem. Todos nós somos utentes da mesma e, por
isso, somos todos uma massa falante. É um sistema de valores porque atribuímos valor às
palavras e signos, e a partir daí, escolhemos as palavras q transmitem melhor as nossas ideias.
É também uma instituição social porque perdura e é transmitida - o indivíduo não tem o poder
de, por si só, alterar a língua.

É uma entidade puramente abstrata, na medida em que é mental, e é considerada superior


aos indivíduos, uma vez que estes não têm o poder de a modificar e impõe-se sobre o seu
processo de comunicação.

• Fala  Parte acessória (não é tao importante como a língua) e individual da linguagem (cada
sujeito tem a sua própria fala). Trata-se de um ato de seleção (cada indivíduo tem a liberdade
de selecionar as palavras que irá utilizar) e de atualização (estamos constantemente a
aprender palavras novas através das interações sociais e de meios de comunicação social).

É constituída por combinações, que permitem ao sujeito falante expressar o que quiser, dando
uso ao código da língua, e estão envolvidos mecanismos psicofísicos (tudo o que ocorre no
cérebro) e fisiológicos (transmissão de estímulos dado pelo cérebro aos órgãos) que lhe
permitem exteriorizar essas combinações.

A fala precisa de algo que lhe dê vida (substrato) e a língua consegue fazê-lo; por sua vez, a fala
também dá vida à própria língua – relação de simbiose (a fala seria oca sem língua, a língua
precisa da fala para se manifestar exteriormente). A língua é produto e instrumento da fala.

Estruturas equivalentes à dicotomia língua-fala

Perspetiva de Noam Chomsky:

• Competência  Capacidade de compreender, captar e emitir um número infinito de frases,


inclusive discursos que nunca tinha ouvido ou emitido;

• Performance  Modo como a competência se concretiza em cada indivíduo.

Perspetiva de Eugenio Coşeriu:

• Sistema  Conjunto de potencialidades próprias de falantes integrados na mesma


comunidade linguística. O sujeito que está no domínio tem uma infinitude de possibilidades
para manusear essa língua, apesar de haver alguns limites fechados – norma (restrições). No
sistema, desde que não se perca compreensão, TUDO é possível.

• Norma  Conjunto de imposições e forma de restrição à liberdade que o sistema


implementa. Pode ser de 3 tipos:

- Norma padrão  A norma modelo/idealizada, que não se deixa vandalizar pela normalidade
e pela adulteração das palavras ao longo do tempo - escrever sem erros ortográficos, frases
pouco longas. Aplica-se à língua e à fala (ex: a forma mais correta de falar a língua portuguesa
é a de Lisboa)

- Norma regional  Hábitos linguísticos próprios de uma certa região – dialetos. Cada um tem
formas de concretizar a língua de forma diferente, seja na pronunciação ou nas gírias
regionais.

- Norma individual  Forma como cada indivíduo pratica o sistema.

• Fala  Trata-se da manifestação de como cada indivíduo realiza o sistema, com as suas
peculiaridades, vícios, distinções.

Nota: Desvios à norma podem ser: voluntários (o infrator está consciente do desvio, não o
pratica por ignorância; fazem evoluir a língua – ex: impressionismo, não seguiram a norma da
pintura que até aí procurava representar a realidade de forma fidedigna, revolucionando a
forma de pintar) OU involuntários (o infrator fá-lo por ignorância, degenerando o uso correto
da língua – ex: erros ortográficos, construções frásicas sem sujeito…)

Perspetiva de Louis Hjelmslev:

• Esquema  É a língua considerada na sua forma pura; ideias sem a contaminação da


socialização e dos rótulos linguísticos.

• Norma  É a língua considerada na sua forma material; dá-se a associação entre imagens
acústicas e conceitos.

• Uso  É a língua considerada na sua forma social; dá-se a exteriorização das imagens
acústicas com intenção comunicacional.

Idioleto  “Linguagem enquanto falado por um só individuo” (André Martinet) – esta


afirmação pode ser questionada, porque a linguagem é socializada, uma vez que pretendemos
ser entendidos. Assim, o idioleto é uma conceção ilusória, mas útil em alguns casos:

- Linguagem do afásico (linguagem da pessoa que não é compreendida pelos outros, mas há de
haver sempre alguém que entenda; não é uma linguagem extremamente individualizada).

- Estilo de um escritor (para ser lido e partilhado pelo público, deve procurar fazer-se entender
por vários indivíduos; pode haver algumas exceções como José Saramago).

- Linguagem de uma comunidade linguística (muitos indivíduos entendem).

Sintagma e relações associativas


Sintagma  Segundo Saussure, é uma combinação das unidades linguísticas (fenómenos de
derivação e sufixação). Para Roland Barthes, é uma combinação de signos linguísticos. Exige
uma ordem determinada e está presente dentro do discurso.

Relações associativas  Associações feitas na mente de um sujeito de forma livre e aleatória.


Ex: O signo “ensinado” pode provocar diferentes associações: “ensinar, ensino” são palavras
da mesma família vocabular; “abusado, enjoado, parado” também são palavras derivadas por
sufixação; “chiado, fado, soldado” rimam; “aprendido, sabido, doutrinado, instruído,
lecionado” pertencem ao mesmo campo semântico, ou sejam, são sinónimos. Não exige uma
ordem específica e está fora do discurso.

O sintagma pertence à fala ou à língua? À língua, porque a fala só dá liberdade de combinar


mediante certas regras e recorre, por vezes, a estruturas sintagmáticas já concebidas. Na
língua há vários tipos de sintagmas:

• Sintagmas congeladas  que estiveram sempre presentes no nosso discurso ao longo da


vida, sem capacidade de alteração (pois é!, vá lá!, relativamente a)

• Expressões não improvisadas (perder a cabeça, agarrar-me com unhas e dentes, engolir
sapos, dar o braço a torcer)

• Sintagmas segundo formas regulares  com prefixação e sufixação (habitualmente,


irresponsável, destravar…)

Análise sémica
Sema  partícula de sentido que reside em unidades materiais, como o ícone e a palavra.

Análise sémica  Descobrir o sentido emanente (semas), contido em entidades/unidades


manifestativas (lexemas e ícones). Trata-se de elevar, para um plano superior, a significação
latente.

Funções da linguagem – Karl Buhler

• Função informativa  objetiva, compromete-se a informar juízos de facto;

• Função expressiva  subjetiva e expressiva; centra-se no emissor e nas suas emoções;

• Função apelativa  incide no recetor; procura influenciar e persuadir sobre as suas opiniões
e comportamentos.

Componentes do processo de comunicação - Roman Jakobson (cada uma destas


componentes, relaciona-se com uma determinada função)

• Contexto/ Referente  aquilo que a mensagem reporta/ o seu conteúdo; função


informativa/referencial

• Emissor  aquele que emite e codifica a mensagem; função emotiva

• Recetor  aquele que recebe e descodifica a mensagem do emissor; função apelativa/


conativa

• Canal  meio pelo qual circula a mensagem; função fática

• Mensagem  forma do conteúdo transmitido pelo emissor; função poética


• Código  conjunto de signos usados na transmissão e receção da mensagem; se o código
não for comum, a mensagem não será entendível pelo recetor; função metalinguística

Funções da linguagem

• Função referencial/ informativa/ denotativa  Descreve a realidade como ela é, de modo


imparcial, objetivo e direto; tece juízos de facto, sem recorrer a valoração;

• Função emotiva/ expressiva/ conotativa  Foca-se no emissor, e nas suas opiniões e


emoções. Pode fazer juízos de valor livremente, distinguindo-se da função anterior;

• Função apelativa/ injuntiva/ conativa  Foca-se no recetor; o emissor procura mobilizar e


influenciar o comportamento do recetor (muito usada em campanhas de sensibilização,
anúncios publicitários, discursos políticos e religiosos, …)

• Função fática  Intriga o espectador, chama a atenção e faz o observador questionar-se

• Função poética  Foca-se na mensagem, revelando recursos imaginativos criados pelo


emissor; é sugestiva e metafórica; valorizam-se as palavras e as suas combinações

• Função metalinguística  Retém-se no código (Ex: Lancôme = maquilhagem + elegância +


beleza + bem-estar + “Paris”)

Modelo actancial

Modelo de ação composto por:

• Destinador  emana a mensagem; é quem representa a marca;

• Destinatário  recetor abstrato e efetivo;

• Objeto  o que o produto representa (o que o conteúdo significa), ambiente em que é


projetado o sujeito;

• Adjuvante  tudo o que contribui para a aproximação entre o sujeito e o objeto, (Ex:
anúncio para bolhas nos pés, o adjuvante será um calçado novo, bonito e confortável);

• Oponente  tudo o que contribui para o afastamento entre o sujeito e o objeto, (Ex:
anúncio para bolhas nos pés, como eu nunca tive bolhas este anúncio não me interessa).

• Sujeito ativo  possui o produto e o objeto;

• Sujeito passivo  identifica o sujeito ativo e a sua inclusão num ambiente graças à posse do
objeto; pode tornar-se o sujeito ativo se adquirir o objeto em questão (no fundo, este sujeito é
qualquer pessoa que tenha acesso ao anúncio)

• Objeto-valor  quando o sujeito passivo anseia rever-se no mesmo papel que o sujeito ativo
e, assim, gozar do objeto.

• Ator  o protagonista, sobre o qual incidem os olhares, e que faz evoluir a ação;

• Actante  conjunto de predicados qualificativos (fisionómicos) e funcionais


(comportamentais) ostentados pelo ator e que o definem;
• Papel actancial  função desempenhada pelo ator e sintetizada a partir da sua inclusão na
narrativa.

• Competência  concretização que assiste a qualquer sujeito e que lhe permite alcançar os
seus objetivos:

1. Descodificação – competência do código (um sujeito só é capaz de manusear o código, se o


conhecer);

2. Acesso financeiro – competência financeira (na publicidade, são necessários recursos


financeiros para conseguir aceder aos produtos/serviços);

3. Identificação com o sujeito ativo e projeção no ambiente retratado (nos materiais


publicitários e campanhas de sensibilização, devemos identificar-nos e sentir-nos “vistos” pelas
mesmas para desenvolver empatia).

Assim, um sujeito que reúna estas 3 caraterísticas, é considerado competente.

• Performance  aquisição e consumo do produto

Semas

Sema  é a unidade de base, o elemento mínimo de significação. Tem função diferencial e,


como tal, só se revela quando está inserido num contexto/estrutura. Ex: pai VS mãe – possuem
um sema comum no eixo da procriação e um sema diferencial no eixo da sexualidade. Para
além disso, quando inserido num contexto diferente, o sema pode ganhar um novo sentido.
Ex: “latir” está associado ao som de um animal, no entanto se disser “o polícia está a latir”, o
contexto muda e a expressão é dita com um sentido pejorativo; “boa” está associada a algo
positivo, porém, “boa merda” atribui um sentido negativo.

• Sema nuclear  é invariável, não se alterando com o contexto;

• Sema comum  partilhado por dois ou mais lexemas e/ou ícones; (Ex: filho e filha –
partilham a componente de filiação e de serem seres humanos)

• Sema diferencial  foca a significação distintiva entre lexemas e/ou ícones; (Ex: homem e
mulher – diferenciam-se pela componente de género)
• Sema contextual ou classema  “manifestam-se em unidades sintáticas mais amplas que
comportam a junção de dois lexemas, pelo menos”, variável consoante o contexto; ??

• Núcleo sémico  mínimo sémico permanente; constituído por semas nucleares (dois no
mínimo) de lexemas e/ou ícones (Ex: mãe = fêmea + procriação + ser humano)

Mensagem publicitária
A mensagem visual pode ser: icónica, plástica ou linguística, e faz-se acompanhar por descrição
denotativa.

Mensagem icónica  Os ícones dão, de um modo codificado, uma impressão de semelhança


com a realidade utilizando a analogia percetiva e os códigos de representação, herdeiros da
tradição representativa.

Mensagem plástica  Os signos plásticos ganham identidade a partir da década de 1980, com
o Grupo Mu. Este demonstra que “os elementos plásticos das imagens (cores, formas,
composição, textura) eram signos plenos e integrais e não a simples matéria de expressão dos
signos icónicos (figurativos)” (Martine Joly).

 Análise da imagem – Uma possível metodologia (Martine Joly)

Os significantes plásticos são os seguintes:

• Moldura  Limites físicos de uma imagem;

Constitui uma restrição à imagem, e podemos desdobrá-la em: 1. Física (os limites estão
materializados); 2. Psíquica (não há moldura física, contudo, psiquicamente, há restrição sobre
aquilo que o observador pode imaginar para lá da imagem, aka “fora de campo”); 3. Ausência
de moldura (não tem física nem psíquica, ou seja, não há restrições à imaginação e somos
motivados a criar uma história fora daquilo que nos é dado pela imagem);

O cinema e a pintura também têm molduras na imagem, que fecham o espaço imaginativo:
são designadas de tradição cinematográfica e tradição pictórica.

• Enquadramento, dimensões  Corresponde à dimensão da imagem, resultado da distância


entre o tema pintado/fotografado e a objetiva/sujeito criador/codificador.

Pode ser estreito/próximo (foca no protagonista e está mais próximo do mesmo) ou


largo/distante (está mais distante e conseguimos ver mais elementos da imagem). Também
pode ser horizontal ou vertical.

• Ângulo do ponto de vista  Pode reforçar ou contradizer a impressão da realidade.

O picado provoca a impressão de esmagamento das personagens, dando ao espectador a


impressão de controlo e domínio (vejo como se estivesse em cima da personagem).

O contrapicado faculta uma sensação de engrandecimento e superioridade do objeto


retratado (vejo como se estivesse em baixo da personagem).

O frontal/normal dá a impressão de realidade e naturaliza a cena (vejo como se estivesse à


frente da personagem).
• Escolha da objetiva  Objetivas com uma focal curta - grandes angulares -, possuem uma
grande profundidade de campo (tudo é nítido desde o primeiro plano até ao horizonte em
fundo) aproximam da visão natural.

Objetivas com uma maior distância focal - tele-objetivas -, jogam mais com o contraste nitidez-
desfocagem e proporcionam representações mais expressivas.

• Composição, paginação  Conduz a visão do espectador, ou seja, o olho segue os caminhos


trilhados na imagem. Existem 4 configurações:

1.Construção focalizada: as linhas de força (traço, cores, iluminação, formas) convergem para
um ponto da imagem; 2. Construção axial: coloca o cerne no eixo do olhar, em geral
exatamente no centro da imagem (para por esta em prática, pode-se recorrer à regra dos
terços, que cria 4 pontos focais); 3. Construção em profundidade: a essência está integrada
num cenário em perspetiva, ocupando a frente da cena, no primeiro plano; 4. Construção
sequencial: convida o olhar a percorrer a imagem, de modo que, no final do seu trajeto, caia
sobre a essência. Na maior parte das vezes, está situada na parte inferior direita. O modelo
mais convencional deste tipo de construção é a construção em Z.

• Formas  São a aparência do corpo/objeto e os seus contornos. Possuem diferentes


significados: linhas curvas, formas redondas = feminidade e suavidade; linhas retas =
minimalismo, requinte…

• Cores  A sua interpretação é antropológica e cultural (isto porque, há cores que têm
significados diferentes, dependendo do país e cultura). Podem ser primárias, secundárias,
terciárias, complementares e neutras.

• Iluminação  Pode ser: 1. Difusa: não se foca em nenhum aspeto específico, ilumina tudo;
como é dispersa, acaba por esbater a realidade; 2. Orientada: foca em algo e orienta o olho do
observador; 3. Contraluz: contraste entre luz e sombra; 4. Luz natural; 5. Luz artificial:
proveniente de um ecrã.

• Textura  É uma qualidade da superfície e atribui caráter tátil a uma imagem bidimensional
(sem tocar no objeto apresentado, consigo ter a impressão do toque). A textura pode ser
suave, áspera, arenosa, pastosa; também pode ser térmica, como quente, frio, …

Mensagem linguística  Pode auxiliar na restrição polissémica de uma imagem. A


interpretação desta imagem poderá ser “orientada de modo diferente consoante se encontra
ou não relacionada com uma mensagem linguística (…)”. Pode ter a função de: âncora - a
“legenda” da imagem, mostra o que deve ser privilegiado na leitura da mesma, não traz
novidades ao observador – ou de substituição - quando a mensagem linguística vem
complementar as carências expressivas da imagem, tornando-se sua substituta, e trazendo
novidades ao observador (data da imagem, discursos das personagens).

Interpretação da imagem

• Transferência indiciária  descrever a realidade como a vejo, de modo objetivo e denotativo


• Transferência cultural  produção do significado no contexto cultural

• Transferência icónica  é dada uma nova vida a um modelo/ícone por se assemelhar a outro

• Transferência do motivo  fixação do tema predominante ??

Fotografia
A fotografia tem caráter conotativo (critica a realidade) e denotativo (representa-a tal como é).
Esta está sempre atrelada ao referente (ao objeto, realidade que representa) e para a ler
devidamente, é necessário reconstituir no tempo, o seu assunto, derivá-lo no passado e
conjugá-lo num futuro visual. A fotografia permite também, eternizar momentos.

Todas as fotografias são fabricadas (quando tiro uma fotografia, eu é que escolho em que
focar, o que omitir, que perspetiva utilizar, etc.), o que gera uma realidade adulterada e
reforça o caráter subjetivo da mesma.

Fotografia – Perspetiva de Roland Barthes

Não reproduz exatamente a realidade e pode representar uma determinada ideologia (Ex: a
fotografia foi utilizada como instrumento de propaganda no regime nazi). Reproduz
infinitamente um momento, congelando-o no tempo. É também polissémica (adotando
diferentes significados).

“Studium”  interesse humano (histórico, cultural, político) de uma fotografia; tem valor
informativo e documental, porém é impessoal e não tem impacto suficiente para nos
impressionar – valor humano.

“Punctum”  é importante e visceral; passa a viver dentro do sujeito descodificador e


fere/impacta de forma positiva – valor emocional.

“A Obra de Arte na Era da Reprodutibilidade Técnica” – Walter Benjamin

Defende que a fotografia não é dotada de exclusividade, visto que congela uma realidade que
pode ser replicada múltiplas vezes. Considera também que veio democratizar o acesso à
realidade – através da fotografia, posso ter acesso a belas paisagens de cidades, florestas ou
oceanos a que, noutro contexto, não teria acesso.

Elementos formais da imagem

• Elementos morfológicos  todos os que têm natureza espacial, ou seja, ocupam espaço

• Elementos dinâmicos  sugerem movimento

• Elementos escalares  dimensão, proporção, escala (tamanho dos elementos e a sua


relação com as medidas da fotografia e com os elementos que os rodeiam).

6 Processos de conotação – Roland Barthes (processos posteriores à captação da realidade)

• Truncagem – qualquer alteração feita na foto original (Photoshop)


• Pose – gestos do sujeito humano

• Objetos – os mais importantes são os seres humanos, mas os restantes elementos visuais
também são

• Fotogenia – aplicação de filtros; edição da foto (cor, saturação, grão)

• Esteticismo – técnica em que a fotografia procura assemelhar-se à pintura

• Sintaxe – relacionado com a articulação/ordenação dos elementos presentes na foto

Cinema
É uma linguagem porque veicula sentido e cada significante, tem um significado. Para além
disso, explora outros tipos de linguagem (verbal, escrita, cénica, musical, corporal). O cinema,
à semelhança da fotografia, permite a projeção do sujeito naquilo que assiste, ou seja, integra-
se na história. Este pode ser ficção ou uma representação da realidade.

“O cinema não reproduz coisas: manipula-as, organiza-as, estrutura-as” (Julia Kristeva) - a


realidade não é representada de forma objetiva, esta é editada e manipulada com cortes de
sequências, cenas, diferentes planos, …. O cinema pode ser comparado com a escrita
hieroglífica – cada plano só adquire sentido, quando integrado na estrutura total.

É possuidor de sintagma alternante – alternância entre cenas e subplots da narrativa – onde


ora a câmara se foca num personagem ora se foca noutra, como num diálogo (foco humano)
ou a câmara foca-se numa cena que decorre num quarto, depois na cozinha, depois na casa de
banho (foco cénico).

Há ainda montagem dos planos (colocar as imagens e áudio na ordem estabelecida pelo
diretor); alternância de cores e enfoques; pano-travelling, que é o oposto à montagem, não há
cortes e a câmara segue ininterruptamente a personagem, de forma demorada, provocando
cansaço ao espectador; utiliza primeiramente a palavra escrita (desde a génese do projeto) e
esta é usada como âncora (Ex: é escrito o nome de uma cidade ou o ano em que decorre a
ação).

Segundo Christian Metz, não é possível identificar unidades mínimas de significação no


cinema, dado que nada pode ser comparado com os fonemas (sons) ou com palavras. Há
quem defenda que imagem = palavra; sequência de imagens = fala, porém Metz discorda, e
considera a imagem como o equivalente a uma ou mais falas.

Metodologias do Cinema

Semiótica sintagmática  centra-se na sequência em que a história é contada; aquilo que é


visível/ reconhecido pelo sujeito.

Semiótica paradigmática  centra-se no impacto causado, nas significações mais profundas.

Cinema e Teatro

Pontos comuns  Exploram outras linguagens (cénica, gestual, musical); partem de um texto
(guião, argumento); há linearidade (para que as histórias sejam conhecidas pelo público, é
necessário serem projetadas numa linha no tempo); envolvem equipamento técnico de luz e
de som.

Pontos divergentes  O cinema permite repetir as cenas, quando necessário; o cinema


permite o recurso à montagem; o teatro carateriza se pela presentificação da história, ou seja,
a cena é representada no momento e não se pode repetir.

Análise fílmica - Como é que se faz a análise de um filme?

1º) Efetuam-se 2 etapas: desconstruir o filme e as personagens (decomposição das cenas) e


reconstrução das partes, atribuindo uma leitura ao filme (o analista faz a sua própria
personalização, visto que é graças a ele que o filme existe fora do ecrã).

2º) Podem-se adotar 3 posições:

- Sentido do autor/codificador – basear-me nas intenções e ideias do realizador, que é levada a


cabo com atores a representar as personagens e montagem de cenários;

- Sentido do texto – sentido do filme;

- Sentido do leitor/descodificador – basear-me na minha própria interpretação.

Nota: Dicotomia entre Christian Metz e Roland Barthes

Texto (CM) = obra (RB) (significante, o filme em si, o que é apreendido)

Sistema (CM) = texto (RB) (significado)

Elementos objeto de análise num filme

• Elementos visuais representados  personagens, cenário, contexto temporal, presença ou


ausência da cor, significantes plásticos, texto escrito, …

• Fragmentação

• Tratamento do tempo  omnipresente; psicológico, ou seja, a perceção de tempo de uma


personagem; futurísticos; slow motion, que dá ênfase a algum aspeto/ato; fast motion,
representa a passagem do tempo ou o quão envolvida a personagem está numa determinada
atividade; elipses)

• Escala dos planos  incidência angular, profundidade de campo, …

• Movimento de câmara  panorâmica vertical ou horizontal (a câmara roda sobre ela própria
e está fixada num eixo, facultado várias vezes por uma grua); travelling (acompanha a cena
através do movimento da câmara); tilt (movimento vertical, em sentido descendente ou
ascendente, usado para apresentar uma personagem); câmara na mão. Nota: o zoom não é
um movimento de câmara, mas sim uma técnica de enfoque.

• Passagem de um plano para outro

• Trilha sonora  não é só música, também são diálogos, ruídos e silêncios


• Relação som/imagem  sincronismo

Funções dos movimentos da câmara

- Descritivas: caraterizar a dar a conhecer uma personagem, um espaço ou uma ação;

- Dramáticas: expressiva, mais comprometida (Ex: afastamento/ saída da câmara quando uma
personagem morre).

Códigos

- Códigos antropológico-culturais – código percetivo de reconhecimentos; pouco técnico (Ex:


através do vestuário, consigo inferir a época em questão);

- Códigos cinematográficos – muito complexo e técnico, foca mais nos movimentos da câmara
e na essência da linguagem cinematográfica.

Roteiro para análise fílmica

1º) Diversas linguagens p/ codificar; focar no fluir das imagens; analisar o movimento da
câmara;

2º) Envolvimento na ambiência do filme – será medieval, contemporâneo?

3º) Trabalho interpretativo, de acordo com as várias significações

4º) Fazer pesquisa sobre o filme – atores, realizador, argumento, sinopse

5º) Escolher uma “chave hermenêutica” – qual o ponto específico, a chave, que nos irá fazer
compreender a ambiência do filme (Ex: psicanálise, identidade cultural)

Planos

• Plano geral  mais aberto; dá muita informação; semelhante a visão panorâmica (Ex:
imagem panorâmica do ISCSP)

• Plano de conjunto  sujeito surge de corpo inteiro e espaço que o circunda

• Plano de pé  sujeito é cortado nos pés e o limite superior é um pouco acima da cabeça

• Plano americano  sujeito é cortado nos joelhos e limite superior é um pouco acima da
cabeça

• Plano médio/ aproximado de tronco  sujeito cortado na cintura

• Grande plano  um pouco abaixo da linha do pescoço

• Muito grande plano  foca o rosto e corta um pouco a cabeça na parte superior

Tipos de estudo

• Qualitativo – refere-se a momentos específicos no filme; passa pela análise do discurso,


análise narrativa, enquadramento socio-histórico, etc.
- Sincrónico: momentos delimitados, que focam nas relações entre personagens e na sua
coexistência no espaço. (Ex: A personagem aparece sozinha no início, o que se passa? A meio
do filme tem um comportamento diferente, a que se deverá?)

- Diacrónico: forma como a narrativa evolui (cadeia de acontecimentos) e realização de uma


avaliação longitudinal e mais geral.

Podemos focar na narrativa e na sua fluidez e evolução sequencial (estudo diacrónico) ou focar
em fragmentos da narrativa (estudo sincrónico).

• Quantitativo – exige quantificação; Ex: analisar o nº de vezes que uma personagem interage
com outra, que faz uma determinada ação, …

Análise de conteúdo

• Análise textual das partes do filme

• Análise de conteúdo  forma de enunciação através da dimensão audiovisual;

• Análise poética  o ponto de partida são as reações do espectador e encontrar na tela os


motivos por detrás dessas reações;

• Análise da imagem e do som

• Escolha de fotografia

• Análise interna

• Chave hermenêutica

Linguagem da pintura
A pintura é perspetivada como uma representação do real, face ao qual se encontraria numa
situação de espelho – porém, reinventa-se. É criado o conceito de signo picturial – é um signo
icónico, que faz uma representação muito próxima da realidade.

A leitura do quadro passa por 3 níveis de observação:

- A organização interna dos elementos observáveis no quadro e circunscritos aos seus


respetivos limites: o código figurativo;

- O real espelhado e que serviu de modelo ao quadro;

- O discurso no qual se cruzam o código figurativo e o real, ou seja, o quadro não é mais do que
o texto que o analisa: “tornar-se texto” do quadro; “simulacro-entre-o-mundo-e-a-linguagem”.

A pintura clássica tinha uma estrutura fechada, ou seja, não havia muita liberdade para o
espectador imaginar para lá do que lhe era dado - o fora de campo. Porém, na pintura
moderna é possível haver um processo de liberdade criativa – é um processo que vai para lá do
objeto representado; que cria a oportunidade de, através de um código limitado (a tela),
derivar todo um processo significante -, criando-se, assim, múltiplas interpretações e
codificações.
Banda desenhada
É um tipo de arte sequencial, que conjuga texto com imagem - possui uma linguagem muito
própria e infantilizada. É composta por:

• Guião  história escrita, com todos os elementos que a integram

• Vinheta  um quadrado/retângulo de cena

• Tira  uma linha de vinhetas

• Prancha  uma folha repleta de tiras

No fundo, uma BD é um conjunto de pranchas.

Existem vários tipos de balões de fala e, cada um desempenha um papel diferente. Existem
ainda vários códigos de comunicação especialmente usados nas bandas desenhadas: signo
cinético (linhas que representam movimento); onomatopeia (representação de sons e ruídos);
legenda (falas do narrador) e metáfora (sinais gráficos que expressam o estado de espírito da
personagem).

Relativamente aos planos, existem: plano geral (descreve o ambiente onde se desenrola a
história); plano de conjunto (enquadra a personagem no cenário); plano americano
(personagens cortadas pelos joelhos); plano médio (personagens cortadas pela cintura); plano
próximo (personagens cortadas pelos ombros) e plano de pormenor (personagens com grande
aproximação). Quanto aos ângulos de visão, existem: ângulo picado (a cena é vista de cima
para baixo); contrapicado (a cena é vista de baixo para cima).

Os estilos gráficos podem ser:

• Linear  contornos das figuras bem recortados, e linha com espessura regular e constante

• Expressionista  as figuras e os espaços podem ser sujeitos a todas a espécie de


deformações visuais

• Realista  os traços do desenho procuram uma semelhança

• Gestual  os contornos das figuras apresentam uma linha com espessura variável

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