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Confraria de Artes Liberais


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CURSO DE LÓGICA

AULA VII

O TERMO.

§ 1. SITUAÇÃO DO ESTUDO DO TERMO NA LÓGICA CLÁSSICA.

1. Situação dos estudos das aulas anteriores. – Tratou-se já dos antepredicamentos, dos
predicáveis e das categorias, ou predicamentos. Todos esses problemas são relativos à lógica
material, porque não se subordinam diretamente ao problema da validade do discurso, mas ao
de sua certeza. Se eu raciocino:

O fim do parlamento é representar a vontade do povo.


Ora, o que move o parlamento é o seu fim.
Logo, o que move o parlamento é representar a vontade do povo.

esse raciocínio, com sua patente ingenuidade, é válido. No entanto, é certo que sua
conclusão é falsa. Por que é falso? Por causa da homonímia entre fins declarados (nominais,
institucionais) e fins intendidos.

Antepredicamentos, predicáveis, categorias servem todos para que eu tenha um discurso


mais certo, mas não dizem respeito diretamente à validade do discurso.

2. O estudo do termo pertence à lógica formal. –O termo, conforme a etimologia da


palavra, é otérmino da análise formal do discurso. O discurso analisa-se, decompõe-se em
proposições, e as proposições em termos em termos. O termo não se decompõe em nada
logicamente mais simples. Não é o termo (mental) que se analisa em sílabas, mas o termo
oral, isto é, o som que significa o termo mental.O termo pode ser decomposto em notas, mas
as notas são igualmente termos.

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Tome-se o raciocínio:

Alguns homens são mentirosos.


Luís é um homem.
Logo Luís é mentiroso.

O raciocínio é claramente inválido – a conclusão não se segue de suas premissas –,


mesmo que sua conclusão seja eventualmente verdadeira. É inválido, porque na primeira
proposição, o termo que é o sujeito (alguns homens) é particular, e não universal. Se fosse
universal (todos os homens), então poderia dizer que, sim, Luís é homem, logo é mentiroso.
Isso indica que um dos fatores da validade ou da invalidade do discurso é a quantidade dos
termos. Por essa razão, o estudo do termo, na medida em que suas propriedades são relevantes
para a validade do discurso, pertence à lógica formal.

§ 2. SIMPLES APREENSÃO, SIGNO E CONCEITO.

3. Simples Apreensão. – A simples apreensãoé o ato interior inadvertido pelo qual se


imprime em nós uma forma inteligível. Lendo um poema é evocada uma experiência análoga;
isso indica que, de algum modo, captei a forma universal da experiência descrita. Na simples
apreensão, ainda não há juízo – afirmação ou negação –, na medida em que a afirmação e a
negação dependem de uma tomada de consciência da representação e de sua comparação com
a realidade.

4. Definição de signo. –Para entender melhor a natureza da simples apreensão e do termo,


bem como de toda a lógica formal, é útil analisar a noção de signo. O termo “signo” hoje é
empregado vulgarmente exclusivamente com um sentido astrológico. Usa-se, porém, o termo
“sinal”, que é o adjetivo que deriva do substantivo “signo” – assim como “final” deriva de
“fim”.

Signo é o que representa algo distinto de si a um sujeito cognoscente. A fumaça é um


signo do fogo, o farol vermelho é um signo da proibição de avançar, as palavras são signos de
pensamentos, o busto é um signo da pessoa retratada, muitos guarda-chuvas na frente de uma

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casa são um signo de que há muita gente, um cão de guarda é símbolo da irascibilidade. Há
sempre um signo, um signatum, ou significado e uma relação entre ambos, que pode ser
natural, consuetudinária (costumeira) ou convencional. A relação natural pode ser de várias
espécies: causal, como no caso da fumaça, de semelhança, como no caso do busto, de
analogia, como no caso do cão.

Uma memória também é um signo. Tenho no meu interior como que imagens que
representam coisas distintas de si. A memória de um antigo professor não é o mesmo que o
próprio professor, no entanto ela o representa. Os conceitos também são signos. Uma
característica dos conceitos é que eles representam uma pluralidade de coisas materiais ao
mesmo tempo; por exemplo: o conceito de água se refere a um número infinito de porções, ou
volumes de água.

Outra característica, um pouco mais sutil, que distingue, de um lado, as memórias e os


conceitos, e, de outro, todas as outras espécies de signo que listei, é que, nestes, primeiro o
sujeito apreende o signo e depois o significado, enquanto nas memórias e nos conceitos,
primeiro o sujeito apreende o significado e, depois, por uma reflexão, apreende o signo.

Os primeiros são chamados de signos instrumentais ou ex quo, porque, a partir do signo,


tu apreendes o significado. Os outros são chamados de signos formais ou in quo, porque neles
mesmos tu apreendes o significado. São comparados ao espelho. Como uma pessoa sabe que
está diante de um espelho? Percebendo que aquilo que está representado diante dela não está
fisicamente diante dela. De modo semelhante, os fantasmas da memória e os conceitos: eu só
os conheço, por reflexão, depois de conhecer o seu representado.

O conceito é, pois, a imagem formada pela simples apreensão. A simples apreensão é o


ato originário do conceito.

5. Compreensão e extensão. – Duas propriedades relevante do conceito são a sua


compreensão e a sua extensão. A compreensão de um conceito é a pluralidade de notas que
ele significa. A extensão de um conceito é a pluralidade de entes concretos a que ele se refere.
A partir dessa distinção, formula-se a regra: quanto maior a compreensão de um conceito,

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menor a sua extensão, e vice-versa. Quanto mais notas se acrescenta à compreensão de um


conceito, menos entes concretos na realidade serão por ele adequadamente representados.

6. Termo mental, oral e escrito. – Termo mental não é senão outro nome para o conceito,
que releva o seu aspecto de término, ou elemento da análise lógica. O termo mental distingue-
se do termo oral, que é o som vocal que o significa. Assim, o termo oral “faca” e o termo oral
“cuchillo” são termos orais distintos que significam o mesmo termo mental. O termo escrito,
por sua vez, é, ao menos na escrita alfabética, um signo do termo oral.

§ 3. VÁRIAS DIVISÕES DO TERMO.

7. Divisão do termo em razão da extensão. – Em razão da extensão, o termo divide-se


em universal e em singular, enquanto se refere a vários indivíduos ou apenas a um. Assim, o
conceito de homem é universal, e o conceito que se possa ter de Luís é singular. Os termos
universais subdividem-se em irrestritos e restritos (ou particular), enquanto se referem à
totalidade dos entes cujas notas são significadas pelo conceito ou só a alguns. Assim, “todos
os homens” é um termo universal irrestrito, enquanto “alguns homens” é um termo particular.
Os termos universais irrestritos subdividem-se em distributivos ou coletivos, enquanto
referem-se à totalidade distributivamente ou coletivamente. Assim, o termo “todos os
homens” é universal distributivo, enquanto o termo “a humanidade” (= a totalidade dos
homens) é universal coletivo. Os termos universais distributivos subdividem-se em análogos
(por analogia de proporcionalidade própria) e unívocos. Assim, o conceito de homem é
unívoco, enquanto o conceito de uno é análogo.

8. Divisão do termo em razão da perfeição. – Em razão da perfeição, os termos dividem-


se em infinitos ou finitos, enquanto significam o que a coisa não é ou o que é. Assim, o termo
não-animal é infinito, enquanto o termo animal é finito. Os conceitos finitos subdividem-se
em comuns e próprios, enquanto significam uma forma comum à coisa referida e a outras, ou
uma forma própria, distinguindo-a de todas as demais. Assim, o conceito de peixe como
animal aquático é comum, enquanto o conceito de pintura como a arte praticada por
Caravaggio é próprio. Os conceitos próprios dividem-se em qüiditativos e não qüiditativos,
enquanto distinguem a coisa de todas as demais por predicados essenciais ou por outros

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predicados. Assim o conceito do homem como animal racional é qüiditativo, enquanto o


conceito do homem como animal que narra histórias é não qüiditativo.

9. Divisão do termo em razão do fim. – Em razão do fim, os conceitos dividem-se em


práticos e teoréticos, enquanto visam a orientar uma ação ou a representar adequadamente a
realidade. A perfeição de um conceito prático mede-se por sua utilidade, enquanto a perfeição
de um conceito mede-se por sua verdade.

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