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Semiótica da imagem

Metodologias de Análise da Imagem


Mas, o que é um Signo?
(...) signos são entidades em que sons ou sequências de sons - ou as suas correspondências gráficas -
estão ligados com significados ou conteúdos. (...) Os signos são assim instrumentos de comunicação e representação,
na medida em que, com eles, configuramos linguisticamente a realidade e distinguimos os objetos entre si.
—Ingedore Koch

“Somos capazes de pensar com base em imagens e são essas imagens que constituem a nossa mente. “
—António Damásio

“É na linguagem que o homem se constitui como sujeito porque só na linguagem é que se funda a realidade.”
Benveniste, Problèmes de linguistique générale, Paris: Gallimard, 1996, p. 259

… o próprio aparato da fotografia se oferece como uma metáfora das formas de ver – a câmera oferece um “ponto de vista”
Imagem: Gengiskanhg / GNU Free Documentation License
“O que é uma imagem?”, Martine Joly
Algumas questões preliminares
- Termo passepartout : imagem/representação mental: “imagem da mulher”,
“imagem da empresa”, “imagem de uma profissão”...
- servem para provocar associações mentais atribuindo algumas
características
- Como somos iniciados na compreensão das imagens?
- O que há de comum entre um desenho de uma criança, um filme, uma
pintura rupestre ou impressionista, graffitis, cartazes, uma imagem mental,
uma imagem de marca, falar por imagens?
- Remete para o visível, visual
- A imagem passa por alguém, que a produz ou a reconhece
- Imagem na língua: metáforas - falar por metáforas (relação analógica ou de
comparação) - “és o meu sol”
No domínio da arte, a noção de imagem está ligada à representação visual:
frescos, pinturas, iluminuras, ilustrações decorativas, desenho, gravura, filmes,
vídeo, fotografia, imagens compostas
Imago: designa a máscara mortuária levada nos funerais na antiguidade romana
Gregos: Instrumento de comunicação, divindade, a imagem assemelha-se ou
confunde-se com aquilo que ela representa.
Visualmente imitadora, pode tanto enganar como educar.
A imagem e a teoria semiótica
- uma abordagem teórica da imagem para entender a sua especificidade
- abordar a imagem sob o ponto de vista da significação - isto é, considerar o
modo de produção de sentido das imagens
- Como é que as imagens significam, suscitam significados, interpretações?
- Como é que elas são SIGNOS?
- Como seres socializados, tudo pode ser signo, seja alguma coisa do mundo
cultural ou natural.
- Qual o papel do semioticista em relação às imagens? - identificar categorias de
signos e as suas leis de organização.
Os signos possuem uma estrutura comum, significando algo diferente de si
próprios, mas isso não quer dizer que sejam idênticos:
- uma palavra não é a mesma coisa que uma fotografia ou um vestido
- um painel rodoviário, uma nuvem, uma postura, etc.
Signo - Peirce
“Defino um signo como qualquer coisa que, de um lado, é assim determinado por
um objeto e, de outro, assim determina uma ideia na mente de uma pessoa , esta
última determinação, que denomino interpretante do signo, é, desse modo,
mediatamente determinada por aquele objeto. Um signo tem assim uma relação
triádica com o seu objeto e com o seu interpretante.” (CP, 8,343)
O signo pode ser classificado em três modalidades
Todo o Signo é composto por significante e significado
Os signos dividem-se em Ícones, Índices e Símbolos

Ícone: assemelha-se às imagens que representa- representa por analogia

Índice: indica algo, tem uma conexão lógica com aquilo que representa, uma relação de
causa e efeito, como o fumo que indica a presença de fogo ou uma pegada a indicar que
alguém passou por ali; - contiguidade

Símbolo: não há ligação natural entre o significante e o significado


Exs: as cores do semáforo - nós concordamos que cada cor indica uma determinada ação por
consenso, num determinado momento foi definido que vermelho indica pare e verde avançar,
porém não existe uma ligação natural entre a cor e a ação, mas sim uma convenção cultural.
ÍCONE

Classe dos signos cujo significante possui uma relação de analogia com aquilo
que ele representa, ou seja, com o seu referente;

Ex: desenho figurativo, uma fotografia, uma imagem de síntese representando


uma árvore ou uma casa assemelham-se a uma árvore ou a uma casa.

Atenção: a semelhança pode não ser visual.

A imitação do galope de um cavalo pode ser considerado também como um


ícone, do mesmo modo que qualquer signo imitativo.
ÍNDICE

Corresponde à classe dos signos que mantém uma relação causal de


contiguidade física com aquilo que eles representam.

EXs: signos ditos naturais - a palidez para a fadiga, o fumo para o fogo, a nuvem
para a chuva, a pegada na areia, marca de pneu de um carro na lama.
SÍMBOLO

Classe de signos que mantém com o seu referente uma relação de convenção.

Exs: bandeiras para os países, pomba para a paz, a linguagem (sistema de


signos convencionais)
Ícones, índices ou signos?
Ícone, se considerarmos
que há existência concreta
de duas pessoas.
Índice, se considerarmos
que os elementos da
imagem permitem a
suspeita de que as “figuras”
estão a beijar-se.
Símbolo, o título do
quadro (Os amantes)
René Magritte / Colección privada, Bruselas, Bélgica /
funciona como uma regra http://revistaatticus.es/2010/03/23/los-amantes-de-rene-magritte-un-amargo-beso

superior para quem


Signos, índices ou símbolos?

Independente da vontade do artista,


esses signos visuais já possuem um
entendimento pré-determinado em nossa
sociedade.
Trata-se de Símbolos, pois há uma regra
convencionalizada que determina o uso
de um desses símbolos para designar
O Ícone é um signo que
“mulher”, e outro para designar “homem”.
renuncia a existência de um
O Símbolo é um signo que existe através
de uma regra, convencional ou não. O objeto, pois pode significar o
Símbolo refere-se ao que possa objeto.
concretizar a ideia ligada à palavra. O Ícone é assemelhado ao
objeto, existe sem a
necessidade direta.
O PROCESSO DE SIGNIFICAÇÃO DO SIGNO

O signo é uma coisa que representa outra coisa, o seu objeto. O processo de significação
ocorre quando o signo representa o seu objeto para um intérprete e produz na mente
desse intérprete uma outra coisa que está relacionada ao objeto. A esse processo de
significação Peirce chama de semiose.

A semiose refere-se ao processo dinâmico da relação solidária entre três pólos:

1. a face imediatamente perceptível do signo, que se refere a primeiridade, seu


fundamento;

2. o que o signo representa, que se refere a secundidade, o objeto;

3. o que o signo significa, que se refere a terceiridade, o interpretante(JOLY, 1996, p. 33).


“Escrevo um e-mail para minha irmã. O e-mail é um signo daquilo que desejo
transmitir-lhe, que é o objeto do signo. O efeito que a mensagem produz em
minha irmã é o interpretante do e-mail que, ao fim e ao cabo, é um mediador
entre aquilo que desejo transmitir a minha irmã e o efeito que esse desejo nela
produz através da carta.” (Santaella, 2002, p.09)

o signo funciona como mediador entre o objeto e o interpretante


A obra Guernica (1937), de Pablo
Picasso (figura 17), retrata o
bombardeio sofrido pela cidade
espanhola Guernica.
A pintura é o signo, os elementos
que despertam sensações e
sentimentos, o modo como foram
trabalhadas as cores, as formas e as
texturas é seu fundamento.
O bombardeio da pequena cidade
espanhola é seu objeto, os efeitos
interpretativos que a obra produz nos
seus espectadores, seja indignação ou
desespero, são o interpretante do
signo.
Para observar o fundamento do signo é necessário identificar no anúncio o conjunto
de elementos que despertam a emoção, sensação e sentimento, observadas nas
meras qualidades dos elementos compositivos em si mesmos – como uma cor ou
um som, um odor ou um sabor – de modo puro, sem se perguntar a qual objeto
essas qualidades se referem, se são reais ou se de fato existem. Sem julgamento,
apenas as qualidades puras. Os elementos do fundamento do signo identificados
nesse anúncio são:

• Uma imagem que possui um intenso brilho e luminosidade, suas cores são
quentes, há o predomínio da cor amarelo/dourado;

• O fundo da fotografia é composto por um degradé de cor amarelo;

• Frases em poucas linhas, na cor vermelho escuro, sendo que o formato da letra é
fino e arredondado, sem detalhes.
Para analisar a relação entre o fundamento do signo e seu o objeto é necessário, a partir das informações coletadas
do fundamento do signo, identificar as associações/relações realizadas com as experiências anteriores:

A forte iluminação e a cor amarelo/dourada predominante na imagem, principalmente nos cabelos e na pele da
modelo, remetempara:

1. nobreza e riqueza, por analogia a objetos que contém o ouro que possui cor dourada;

2. iluminação ou pessoa iluminada, por semelhança aos raios de luz como do sol; 3. sonho e fantasia, por associação
às miragens dos desertos;

3. férias e verão por analogia a sensação de calor como observados em praias.

•A representação de uma jovem mulher, saudável, pele bronzeada, olhos claros, cabelos compridos, bem cuidados,
ondulados e loiros.

• Na representação a modelo está supostamente nua, de costas, mas com o rosto delicadamente direcionado para a
câmera. O rosto da modelo apresenta a expressão de satisfação.

• O fato de a modelo estar supostamente nua, possuir olhos claros, cabelos compridos, ondulados e loiros num
ambiente aberto sugere que a modelo está totalmente exposta aos risco, desprotegida e propícia ao danos dos raios
solares. No entanto, sua expressão facial sugere despreocupação e calma, seu corpo apesar da exposição ao calor
parece saudável.
• Três produtos da linha “l’oréal paris/ elsève solar” organizados como um triângulo, sendo que um
produto está com a tampa aberta e há a presença de forte brilho, sugerindo a emissão de uma forte
iluminação, resultando em uma leve sombra ao lado direito dos produtos;

• O brilho tanto nos cabelos, quanto no rosto e inclusive nos lábios reforçam sua hidratação, por
analogia percebemos que o brilho tem sua origem nos produtos, pois é possível identificar o mesmo
tipo de brilho, porém mais intenso, em seus recipientes, inclusive naquele que está aberto.

• A presença de um forte brilho nos cabelos, no rosto, inclusive nos lábios da modelo, bem como a
presença de linhas brancas que se convergem envolvendo o corpo da modelo e podem ser
associadas a:

1. os raios ultravioletas, que deveriam atingir e danificar os cabelos, porém são desviados, sugerindo
que a modelo que usa o produto está protegida dos danos causados pelo calor e pelos raios solares;

2. uma rede protetora criada pelo produto do recipiente que está aberto, causador da iluminação e
proteção na modelo. •

A cor vermelho escuro nas frases remete ao efeito de bronzeamento que causa o sol
Neste anúncio, após analisar as associações entre o fundamento do signo e o
objeto, o conjunto dos elementos apresentados ao serem analisados, a sua
composição, sugere a apresentação de um sonho, como se a modelo e os
produtos fossem uma miragem no meio de tanta areia, sol e calor em um deserto.
A modelo, nesta miragem, é apresentada como uma deusa do verão, feminina,
sensível e delicada, porém protegida, segura e livre. Ao associar as qualidades da
modelo com os produtos, o anúncio sugere que são os produtos os responsáveis
por essa proteção que propicia um momento único de liberdade, segurança e
beleza.
A IMAGEM COMO SIGNO
Diferentes tipos de analogia, i. e., diferentes tipos de ícones

- imagem: ícones que mantêm uma relação de analogia qualitativa entre o significante e o referente

Ex: desenho, uma foto, uma pintura figurativa: retomam as qualidades formais do seu referente:
formas, cores e proporções que permitem o seu reconhecimento

- diagrama: analogia racional, interior ao objeto

Ex: organograma de uma empresa representa a sua organização hierárquica, os planos de um


motor a interação das diferentes peças

- metáfora: ícone que trabalha o paralelismo qualitativo

Ex: “és o meu sol” - colocar em paralelo as qualidades de brilho do sol e da pessoa a quem se diz
Semiologia das imagens
- Cf. Roland Barthes “A retórica das imagens”
- Estudo das mensagens visuais
- Imagem = representação visual

Questão de Barthes: “Como é que o sentido vem até às imagens?”

“As mensagens visuais utilizam uma linguagem específica?”.

“Se sim, qual é ela, por que unidades é constituída, em que medida é diferente da
linguagem verbal?”
O que é IMAGEM?
algo de heterogéneo que reúne diferentes categorias de signos
- signos icónicos, analógicos
- signos plásticos: cores, formas, composição interna ou textura
- signos linguísticos, da linguagem verbal

É a sua relação, a sua interação, que produz o sentido que aprendemos mais ou
menos conscientemente a decifrar e que uma observação mais sistemática nos
ajudará a compreender melhor
IMAGEM
- imagens visuais
- imagens mentais
- imagens virtuais

Qual é o ponto comum? ANALOGIA

Concluindo:
● Material ou imaterial, visual ou não, natural ou fabricada, uma imagem é antes
de mais algo que se assemelha a qualquer outra coisa
● Mesmo quando não se trata de imagem concreta mas mental, apenas o critério
da semelhança a define: quer ela se assemelhe à visão natural das coisas (o
sonho, o fantasma) quer ela se construa a partir de um paralelismo qualitativo
(metáfora verbal, imagem de si, imagem de marca)
IMAGEM - como funciona?

Signo

1º Representação : não é a própria coisa, assemelha-se a ela

A sua função é a de evocar, a de significar outra coisa que não ela própria
utilizando o processo da semelhança

2º Signo analógico (ícone): a semelhança é o seu princípio de funcionamento

Atenção: a imagem pode tornar-se perigosa tanto por excesso (confusão entre a
imagem e a coisa, o representado, provocando o esquecimento do seu caráter
representativo - opacidade) como por falta de semelhança (ilegibilidade)
Diferentes tipos de imagem: imitação / vestígio / convenção

Imagens fabricadas: imitam mais ou menos corretamente um modelo ou, como


no caso das imagens científicas de síntese, propõem-no

Imitam com tanta perfeição que se podem tornar virtuais e dar a ilusão da própria
realidade, sem todavia o serem. Elas são então análogos perfeitos do real.
Ícones perfeitos
Imagens manifestas
Assemelham-se frequentemente àquilo que representam. A fotografia, o vídeo ou
filme são considerados como imagens perfeitamente semelhantes, puros ícones,
fiáveis porque se trata de registos efetuados, a partir de ondas emitidas pelas
próprias coisas

São vestígios, indícios antes de serem ícones, o que as distingue das imagens
fabricadas.

Atenção: toda a imagem é representação, utiliza, portanto, regras de construção.


Por isso, se as representações são compreendidas por outros, é porque
funcionam por convenção sociocultural, logo, como símbolos
Legibilidade das imagens como “linguagem universal”
- Imagens lidas como “naturais” - imagem figurativa - simultaneidade do reconhecimento do
conteúdo e da interpretação
- Universalidade das imagens: em todas as épocas e culturas há imagens

Confusão entre perceção e interpretação:


- as imagens não são lidas da mesma maneira em todas as culturas

- reconhecer um aspeto da imagem não significa reconhecer a mensagem da imagem

- aprendemos a ler imagens: de tal forma que esquecemos que elas não têm dimensão,
profundidade, movimento, cheiro, temperatura

Resumindo: uma imagem é construção, é o resultado de muitas transposições. Apenas a


aprendizagem permite reconhecer nela a realidade, fazendo-nos esquecer as diferenças em relação
ao equivalente real.

Então, o que se torna “natural” é a aprendizagem e não a imagem


Interpretar imagens - estudo da receção das imagens
- Não significa adivinhar o que determinado autor quis dizer, encontrar uma
mensagem pré-existente, antes compreender que significações determinada
mensagem provoca aqui e agora, em determinada situação ou contexto

- É necessário conhecer as circunstâncias históricas da produção de uma


obra
- Compreender que a imagem é uma linguagem específica e heterogénea que
se distingue do mundo real e que propõe, por meio de significados
particulares, uma representação orientada
Roland Barthes - A retórica da imagem
A metodologia de Barthes: mostrar que os signos encontrados numa imagem são semelhantes aos
signos linguísticos

A análise de Barthes baseia-se numa mensagem publicitária de um anúncio de massas

Porquê analisar a imagem de uma mensagem publicitária?

- a sua significação é intencional, direcionada para que determinado público identifique a


mensagem
Barthes encontra três tipos de mensagens na análise do anúncio:

1. Mensagem linguística: a legenda, o slogan e os rótulos. Para


ser decifrada, esta mensagem não exige mais do
que o conhecimento da escrita e do francês. Pode ser lida através
do código da escrita diretamente.

2. Mensagem icónica: a partir da representação direta das imagens


do anúncio, tais como o tomate, o saco de rede e o pacote de massa.
Tudo o que não depende de um código para a sua compreensão. Essa
mensagem parte de uma denotação da própria representação da
imagem, já que a imagem de um tomate representa o próprio tomate.
É uma mensagem direta, denotada;

3. Mensagem simbólica: que depende de conotação, implica a


interpretação cultural de quem observa. Essa mensagem dá-se
através de um sistema que adota signos de outros sistemas fazendo
deles seus significantes, criando uma cadeia de significados. Acréscimo
de significado ao signo, levando à crítica semiológica variável de
indivíduo para indivíduo, de acordo com a cultura, experiência,
conhecimento, tempo, entre outros.
Signos conotadores

Todas as coisas essenciais numa imagem para transmitir determinado significado.


Têm o propósito de alcançar uma leitura imediata e para isso normalmente partem de
estereótipos que existem numa sociedade, conseguindo utilizar a retórica para dar
essa ideia como garantida.

Nesta imagem temos como mensagem conotadora a ideia de regresso do mercado que
“implica por si mesmo dois valores eufóricos: o da frescura dos produtos e o da
preparação puramente caseira a que são destinados. O seu significante é o saco de
rede entreaberto que deixa as provisões espalharem-se em cima da mesa.
A Interpretação Visual

O que é interpretar? ………………..Construir significados

Denotação: o objeto a que o termo se refere. A palavra tem valor


referencial ou denotativo quando é tomada no seu sentido usual;
designa um objeto. É a forma de linguagem que lemos em jornais,
manuais de instruções, etc…

Denotação visual:
Plano de denotação : tudo o que a imagem apresenta, o “óbvio”
segundo Barthes
CONOTAÇÃO
Conjunto de características compreendidas na
significação de um termo, conceito.

Além do sentido literal, cada palavra remete a inúmeros


sentidos, virtuais, conotativos, que são apenas
sugeridos, evocando outras ideias associadas, de ordem
abstrata.
Conotação visual
Plano da conotação : toda a informação implícita na imagem, o “obtuso” segundo
Barthes

Plano das evocações : cada elemento da imagem percecionada é suscetível de


evocar vários domínios cognitivos; associamos o que vemos a outras coisas.

O plano da conotação permite compreender que a imagem não é só semelhança,


analogia, também é símbolo.

Quando elaboramos o significado de uma imagem recorremos a mecanismos


associativos (operações cognitivas que ocasionam “mudanças de visão”).
CONOTAÇÃO VISUAL
O que melhor caracteriza a conotação é a possibilidade de associação de ideias, através de dois
mecanismos associativos:

- Evocação de um contexto (associação por contiguidade semântica / campo semântico):

Metonímia : substituição de um termo por outro, dada a relação de semelhança ou a


possibilidade de associação entre eles (a parte pelo todo, o todo pela parte, a marca
pelo produto, o continente pelo conteúdo, a consequência pela causa, o autor pela
obra).

- Por semelhança
Metáfora : associação de dois elementos por meio dos seus significados imagísticos,
causando o efeito de atribuição “inesperada” ou improvável de significados de um termo a outro.

Comparação : estabelecer paralelismos entre as imagens de dois ou mais cenários.


As diferentes figuras de estilos são exemplos de mecanismos associativos (hipérbole, elipse,
personificação).
A retórica da imagem
Se a mensagem for ambígua, i.e., se prestar a várias interpretações dependendo de quem observa o anúncio, é
necessário colocar um texto para direcionar o entendimento do leitor para o objetivo do anúncio que o criador da
peça de publicidade quer comunicar.

O texto irá auxiliar na comunicação da imagem tentando eliminar essa ambiguidade de interpretação.

Essa interrelação entre o texto e a imagem é dividida por Barthes em duas formas principais de referência:

1. Ancoragem ou Fixação: o texto leva o leitor a considerar alguns significados da imagem deixando

de fora outro significado. Com isso a imagem consegue direcionar o leitor para o significado que o texto

aponta.

2. Relais ou Revezamento: o texto e a imagem se encontram numa forma complementar, de

revezamento entre si. Um exemplo consistente deste revezamento está nas histórias em quadrinhos

onde a palavra é um trecho de um diálogo, assim a relação entre o texto e a imagem acontece no nível

da história.
Complementariedade

A imagem publicitária

Complementaridade entre
imagem e linguagem: a
linguagem não só participa
na construção da
mensagem visual mas
transmite-a, completando-a
Permutação - linguagem verbal
Maça

Taça

Baça

Faça

Raça

Caça

Oposição e segmentação

Linguagem verbal: descontínua, constituída por unidades discretas que diferem e se opõem
entre si
Linguagem visual
Linguagem contínua

A permutação revela-se eficaz na análise de imagens: presença vs ausência de


uma pessoa

lei semiológica, portanto: a da dupla axialidade da linguagem: ver um círculo e


não um triângulo, etc.
Imagem e comunicação
Roman Jakobson: “A linguagem deve ser estudada em toda a variedade das suas
funções (26)”. - fatores da comunicação verbal mas também visual
Funções da linguagem
A função denotativa (ou cognitiva, ou referencial) concentra o conteúdo da mensagem naquilo sobre o qual
falamos; ela é dominante em muitas mensagens, mas nenhuma mensagem pode ser absolutamente
denotativa, mesmo que o pretenda, como a linguagem jornalística ou científica.

A função dita expressiva (ou emotiva) centra-se no emissor da mensagem e será mais manifestamente
subjetiva.

A função conativa ou apelativa da linguagem serve para manifestar a implicação do destinatário no


discurso e manifesta-a através de toda a espécie de processos, tais como a interpelação, o imperativo ou a
interrogação.

A função fática concentra a mensagem no contato. Ela manifesta-se através de fórmulas ritualizadas como o
“está lá?” telefónico ou as bengalas na conversação aparentemente vazia de informações, tais como então,
“tudo bem?”, ah, sim?, etc., as quais servem essencialmente para manter o contato entre os participantes.

A função metalinguística tem por objeto o exame do código empregue.

A função poética trabalha sobre a própria mensagem ao manipular o seu lado palpável e percetível,
como as sonoridades ou o ritmo no caso da língua.
A imagem não pode ter função metalinguística, devido à sua falta de capacidade
assertiva.

A imagem não pode afirmar nem negar nada, tal como não se pode concentrar
em si própria.
Horizonte de expectativa de uma obra - Hans Robert Jauss

Receção das obra literárias: a interpretação de um texto não pressupõe apenas a interação de leis
internas e externas ao texto (como as da sua produção e as da sua receção), mas também o contexto
de experiência anterior no qual se inscreve a perceção estética.

Assim, uma obra nunca se apresenta como uma novidade absoluta que surge num vazio de
informação; devido a um vasto jogo de anúncios, de sinais – manifestos ou latentes –, de referências
implícitas, de características já familiares, o seu público está predisposto a um certo modo de receção.

Que horizonte de expectativa os sistemas de referência de uma imagem evocam no leitor como
resultado das convenções relativas ao género, à forma ou ao estilo, para em seguida romper
gradualmente com esta expectativa através de uma criação nova, da crítica, da paródia, etc?

A análise de imagens pressupõe um jogo de associações mentais, a interpretação dos diferentes tipos
de signos joga com o saber cultural e sociocultural do espectador.
Sendo a função da mensagem publicitária essencialmente apelativa (isto é,
centrada no destinatário) é lógico que nela encontremos em ação processos de
implicação plásticos tais como a composição, a paginação ou a grafia, tanto
retórica — como a elipse — como linguística (nós/vós).
Descontextualização
Consiste em deslocar o sentido de um domínio para outro, brincando com o
nosso saber e as nossas expectativas - deslizamento de sentido

Colocar uma roda de bicicleta num museu elevando-a assim ao nível de obra de
arte;

promover a imagem de um político com os mesmos instrumentos do lançamento


de uma nova lixívia;

colocar personagens nobres em situações burguesas;


- processos de descontextualização que nos são familiares
Verdade / Falsidade
Quer seja mediática ou artística, uma imagem não é verdadeira nem falsa, tal
como afirmou Ernst Gombrich a propósito da pintura. É a conformidade ou a não-
conformidade entre o tipo de relação imagem/texto e a expectativa do recetor que
dão à obra um caráter de verdade ou de falsidade. Trata-se mais de expressão do
que de informação. É a relação entre linguagem verbal e imagem.

Arthive Felix Vallotton La mentira, 1898, 33×24 cm:


Descripción de la obra | Arthive

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