Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
“Somos capazes de pensar com base em imagens e são essas imagens que constituem a nossa mente. “
—António Damásio
“É na linguagem que o homem se constitui como sujeito porque só na linguagem é que se funda a realidade.”
Benveniste, Problèmes de linguistique générale, Paris: Gallimard, 1996, p. 259
… o próprio aparato da fotografia se oferece como uma metáfora das formas de ver – a câmera oferece um “ponto de vista”
Imagem: Gengiskanhg / GNU Free Documentation License
“O que é uma imagem?”, Martine Joly
Algumas questões preliminares
- Termo passepartout : imagem/representação mental: “imagem da mulher”,
“imagem da empresa”, “imagem de uma profissão”...
- servem para provocar associações mentais atribuindo algumas
características
- Como somos iniciados na compreensão das imagens?
- O que há de comum entre um desenho de uma criança, um filme, uma
pintura rupestre ou impressionista, graffitis, cartazes, uma imagem mental,
uma imagem de marca, falar por imagens?
- Remete para o visível, visual
- A imagem passa por alguém, que a produz ou a reconhece
- Imagem na língua: metáforas - falar por metáforas (relação analógica ou de
comparação) - “és o meu sol”
No domínio da arte, a noção de imagem está ligada à representação visual:
frescos, pinturas, iluminuras, ilustrações decorativas, desenho, gravura, filmes,
vídeo, fotografia, imagens compostas
Imago: designa a máscara mortuária levada nos funerais na antiguidade romana
Gregos: Instrumento de comunicação, divindade, a imagem assemelha-se ou
confunde-se com aquilo que ela representa.
Visualmente imitadora, pode tanto enganar como educar.
A imagem e a teoria semiótica
- uma abordagem teórica da imagem para entender a sua especificidade
- abordar a imagem sob o ponto de vista da significação - isto é, considerar o
modo de produção de sentido das imagens
- Como é que as imagens significam, suscitam significados, interpretações?
- Como é que elas são SIGNOS?
- Como seres socializados, tudo pode ser signo, seja alguma coisa do mundo
cultural ou natural.
- Qual o papel do semioticista em relação às imagens? - identificar categorias de
signos e as suas leis de organização.
Os signos possuem uma estrutura comum, significando algo diferente de si
próprios, mas isso não quer dizer que sejam idênticos:
- uma palavra não é a mesma coisa que uma fotografia ou um vestido
- um painel rodoviário, uma nuvem, uma postura, etc.
Signo - Peirce
“Defino um signo como qualquer coisa que, de um lado, é assim determinado por
um objeto e, de outro, assim determina uma ideia na mente de uma pessoa , esta
última determinação, que denomino interpretante do signo, é, desse modo,
mediatamente determinada por aquele objeto. Um signo tem assim uma relação
triádica com o seu objeto e com o seu interpretante.” (CP, 8,343)
O signo pode ser classificado em três modalidades
Todo o Signo é composto por significante e significado
Os signos dividem-se em Ícones, Índices e Símbolos
Índice: indica algo, tem uma conexão lógica com aquilo que representa, uma relação de
causa e efeito, como o fumo que indica a presença de fogo ou uma pegada a indicar que
alguém passou por ali; - contiguidade
Classe dos signos cujo significante possui uma relação de analogia com aquilo
que ele representa, ou seja, com o seu referente;
EXs: signos ditos naturais - a palidez para a fadiga, o fumo para o fogo, a nuvem
para a chuva, a pegada na areia, marca de pneu de um carro na lama.
SÍMBOLO
Classe de signos que mantém com o seu referente uma relação de convenção.
O signo é uma coisa que representa outra coisa, o seu objeto. O processo de significação
ocorre quando o signo representa o seu objeto para um intérprete e produz na mente
desse intérprete uma outra coisa que está relacionada ao objeto. A esse processo de
significação Peirce chama de semiose.
• Uma imagem que possui um intenso brilho e luminosidade, suas cores são
quentes, há o predomínio da cor amarelo/dourado;
• Frases em poucas linhas, na cor vermelho escuro, sendo que o formato da letra é
fino e arredondado, sem detalhes.
Para analisar a relação entre o fundamento do signo e seu o objeto é necessário, a partir das informações coletadas
do fundamento do signo, identificar as associações/relações realizadas com as experiências anteriores:
A forte iluminação e a cor amarelo/dourada predominante na imagem, principalmente nos cabelos e na pele da
modelo, remetempara:
1. nobreza e riqueza, por analogia a objetos que contém o ouro que possui cor dourada;
2. iluminação ou pessoa iluminada, por semelhança aos raios de luz como do sol; 3. sonho e fantasia, por associação
às miragens dos desertos;
•A representação de uma jovem mulher, saudável, pele bronzeada, olhos claros, cabelos compridos, bem cuidados,
ondulados e loiros.
• Na representação a modelo está supostamente nua, de costas, mas com o rosto delicadamente direcionado para a
câmera. O rosto da modelo apresenta a expressão de satisfação.
• O fato de a modelo estar supostamente nua, possuir olhos claros, cabelos compridos, ondulados e loiros num
ambiente aberto sugere que a modelo está totalmente exposta aos risco, desprotegida e propícia ao danos dos raios
solares. No entanto, sua expressão facial sugere despreocupação e calma, seu corpo apesar da exposição ao calor
parece saudável.
• Três produtos da linha “l’oréal paris/ elsève solar” organizados como um triângulo, sendo que um
produto está com a tampa aberta e há a presença de forte brilho, sugerindo a emissão de uma forte
iluminação, resultando em uma leve sombra ao lado direito dos produtos;
• O brilho tanto nos cabelos, quanto no rosto e inclusive nos lábios reforçam sua hidratação, por
analogia percebemos que o brilho tem sua origem nos produtos, pois é possível identificar o mesmo
tipo de brilho, porém mais intenso, em seus recipientes, inclusive naquele que está aberto.
• A presença de um forte brilho nos cabelos, no rosto, inclusive nos lábios da modelo, bem como a
presença de linhas brancas que se convergem envolvendo o corpo da modelo e podem ser
associadas a:
1. os raios ultravioletas, que deveriam atingir e danificar os cabelos, porém são desviados, sugerindo
que a modelo que usa o produto está protegida dos danos causados pelo calor e pelos raios solares;
2. uma rede protetora criada pelo produto do recipiente que está aberto, causador da iluminação e
proteção na modelo. •
A cor vermelho escuro nas frases remete ao efeito de bronzeamento que causa o sol
Neste anúncio, após analisar as associações entre o fundamento do signo e o
objeto, o conjunto dos elementos apresentados ao serem analisados, a sua
composição, sugere a apresentação de um sonho, como se a modelo e os
produtos fossem uma miragem no meio de tanta areia, sol e calor em um deserto.
A modelo, nesta miragem, é apresentada como uma deusa do verão, feminina,
sensível e delicada, porém protegida, segura e livre. Ao associar as qualidades da
modelo com os produtos, o anúncio sugere que são os produtos os responsáveis
por essa proteção que propicia um momento único de liberdade, segurança e
beleza.
A IMAGEM COMO SIGNO
Diferentes tipos de analogia, i. e., diferentes tipos de ícones
- imagem: ícones que mantêm uma relação de analogia qualitativa entre o significante e o referente
Ex: desenho, uma foto, uma pintura figurativa: retomam as qualidades formais do seu referente:
formas, cores e proporções que permitem o seu reconhecimento
Ex: “és o meu sol” - colocar em paralelo as qualidades de brilho do sol e da pessoa a quem se diz
Semiologia das imagens
- Cf. Roland Barthes “A retórica das imagens”
- Estudo das mensagens visuais
- Imagem = representação visual
“Se sim, qual é ela, por que unidades é constituída, em que medida é diferente da
linguagem verbal?”
O que é IMAGEM?
algo de heterogéneo que reúne diferentes categorias de signos
- signos icónicos, analógicos
- signos plásticos: cores, formas, composição interna ou textura
- signos linguísticos, da linguagem verbal
É a sua relação, a sua interação, que produz o sentido que aprendemos mais ou
menos conscientemente a decifrar e que uma observação mais sistemática nos
ajudará a compreender melhor
IMAGEM
- imagens visuais
- imagens mentais
- imagens virtuais
Concluindo:
● Material ou imaterial, visual ou não, natural ou fabricada, uma imagem é antes
de mais algo que se assemelha a qualquer outra coisa
● Mesmo quando não se trata de imagem concreta mas mental, apenas o critério
da semelhança a define: quer ela se assemelhe à visão natural das coisas (o
sonho, o fantasma) quer ela se construa a partir de um paralelismo qualitativo
(metáfora verbal, imagem de si, imagem de marca)
IMAGEM - como funciona?
Signo
A sua função é a de evocar, a de significar outra coisa que não ela própria
utilizando o processo da semelhança
Atenção: a imagem pode tornar-se perigosa tanto por excesso (confusão entre a
imagem e a coisa, o representado, provocando o esquecimento do seu caráter
representativo - opacidade) como por falta de semelhança (ilegibilidade)
Diferentes tipos de imagem: imitação / vestígio / convenção
Imitam com tanta perfeição que se podem tornar virtuais e dar a ilusão da própria
realidade, sem todavia o serem. Elas são então análogos perfeitos do real.
Ícones perfeitos
Imagens manifestas
Assemelham-se frequentemente àquilo que representam. A fotografia, o vídeo ou
filme são considerados como imagens perfeitamente semelhantes, puros ícones,
fiáveis porque se trata de registos efetuados, a partir de ondas emitidas pelas
próprias coisas
São vestígios, indícios antes de serem ícones, o que as distingue das imagens
fabricadas.
- aprendemos a ler imagens: de tal forma que esquecemos que elas não têm dimensão,
profundidade, movimento, cheiro, temperatura
Nesta imagem temos como mensagem conotadora a ideia de regresso do mercado que
“implica por si mesmo dois valores eufóricos: o da frescura dos produtos e o da
preparação puramente caseira a que são destinados. O seu significante é o saco de
rede entreaberto que deixa as provisões espalharem-se em cima da mesa.
A Interpretação Visual
Denotação visual:
Plano de denotação : tudo o que a imagem apresenta, o “óbvio”
segundo Barthes
CONOTAÇÃO
Conjunto de características compreendidas na
significação de um termo, conceito.
- Por semelhança
Metáfora : associação de dois elementos por meio dos seus significados imagísticos,
causando o efeito de atribuição “inesperada” ou improvável de significados de um termo a outro.
O texto irá auxiliar na comunicação da imagem tentando eliminar essa ambiguidade de interpretação.
Essa interrelação entre o texto e a imagem é dividida por Barthes em duas formas principais de referência:
1. Ancoragem ou Fixação: o texto leva o leitor a considerar alguns significados da imagem deixando
de fora outro significado. Com isso a imagem consegue direcionar o leitor para o significado que o texto
aponta.
revezamento entre si. Um exemplo consistente deste revezamento está nas histórias em quadrinhos
onde a palavra é um trecho de um diálogo, assim a relação entre o texto e a imagem acontece no nível
da história.
Complementariedade
A imagem publicitária
Complementaridade entre
imagem e linguagem: a
linguagem não só participa
na construção da
mensagem visual mas
transmite-a, completando-a
Permutação - linguagem verbal
Maça
Taça
Baça
Faça
Raça
Caça
Oposição e segmentação
Linguagem verbal: descontínua, constituída por unidades discretas que diferem e se opõem
entre si
Linguagem visual
Linguagem contínua
A função dita expressiva (ou emotiva) centra-se no emissor da mensagem e será mais manifestamente
subjetiva.
A função fática concentra a mensagem no contato. Ela manifesta-se através de fórmulas ritualizadas como o
“está lá?” telefónico ou as bengalas na conversação aparentemente vazia de informações, tais como então,
“tudo bem?”, ah, sim?, etc., as quais servem essencialmente para manter o contato entre os participantes.
A função poética trabalha sobre a própria mensagem ao manipular o seu lado palpável e percetível,
como as sonoridades ou o ritmo no caso da língua.
A imagem não pode ter função metalinguística, devido à sua falta de capacidade
assertiva.
A imagem não pode afirmar nem negar nada, tal como não se pode concentrar
em si própria.
Horizonte de expectativa de uma obra - Hans Robert Jauss
Receção das obra literárias: a interpretação de um texto não pressupõe apenas a interação de leis
internas e externas ao texto (como as da sua produção e as da sua receção), mas também o contexto
de experiência anterior no qual se inscreve a perceção estética.
Assim, uma obra nunca se apresenta como uma novidade absoluta que surge num vazio de
informação; devido a um vasto jogo de anúncios, de sinais – manifestos ou latentes –, de referências
implícitas, de características já familiares, o seu público está predisposto a um certo modo de receção.
Que horizonte de expectativa os sistemas de referência de uma imagem evocam no leitor como
resultado das convenções relativas ao género, à forma ou ao estilo, para em seguida romper
gradualmente com esta expectativa através de uma criação nova, da crítica, da paródia, etc?
A análise de imagens pressupõe um jogo de associações mentais, a interpretação dos diferentes tipos
de signos joga com o saber cultural e sociocultural do espectador.
Sendo a função da mensagem publicitária essencialmente apelativa (isto é,
centrada no destinatário) é lógico que nela encontremos em ação processos de
implicação plásticos tais como a composição, a paginação ou a grafia, tanto
retórica — como a elipse — como linguística (nós/vós).
Descontextualização
Consiste em deslocar o sentido de um domínio para outro, brincando com o
nosso saber e as nossas expectativas - deslizamento de sentido
Colocar uma roda de bicicleta num museu elevando-a assim ao nível de obra de
arte;