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LICENCIATURA EM RELAÇÕES LUSÓFONAS E LÍNGUA PORTUGUESA

(PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA)


Unidade Curricular – Técnicas de Expressão Escrita
Ano letivo: 2022/2023
ESE de Bragança
Professor Ilídio Arribada Cadime

3.5. Textos académicos (dissertação,


relatório de estágio)
3.5. TEXTOS ACADÉMICOS (DISSERTAÇÃO, RELATÓRIO DE
ESTÁGIO)
Tipos de Trabalhos de Investigação
Os trabalhos científicos refletem, na forma escrita, o processo de
investigação sistemático que leva à geração de conhecimento.
A redação desses trabalhos pode assumir diversas formas como,
por exemplo:
- os relatórios de investigação,
- as monografias (teses de doutoramento, dissertações de
mestrado, relatórios de estágio e projeto) e

- os artigos científicos.

2
DISSERTAÇÃO (lato Sensu)
A dissertação é um tipo de texto que pressupõe uma estruturação
de carácter expositivo-argumentativo. Assim, deve ter:
- uma introdução, em que se saliente a importância da questão
em causa e se ponha em relevo as premissas de que se parte;
- no desenvolvimento, devem ser apresentados argumentos
e/ou contra-argumentos fundamentados em exemplos;

- por fim, na conclusão, deve ficar claro o ponto de vista que é


defendido em função do raciocínio desenvolvido, confirmando ou
não uma posição inicial.

3
«Pode dizer-se que a televisão é prejudicial às crianças?»
Desenvolva o tema acima enunciado num texto expositivo-argumentativo.

O que se pretende, exatamente, observar com o exercício proposto? No


essencial:
• que mostremos possuir algumas ideias sobre o assunto,

mas, principalmente, que somos capazes:


• de refletir sobre ele;
• de registar essa informação num texto organizado e coerente.

Ou seja, espera-se que,


• A partir de dados de dispomos, vamos construindo
que
progressivamente uma opinião sobre o tema em causa; o leitor do
nosso texto deve poder assistir ao debate interior de ideias que
conduziu a essa opinião. 4
Assim, perante o tema proposto:
A televisão é prejudicial às crianças.
Sugerimos que sigas os passos a seguir.

 Começa por antecipar uma conclusão – que pode ou não ser


definitiva:
A televisão só é prejudicial se for vista em demasia.

Esta antecipação da conclusão é importante para definires a orientação


argumentativa global do teu texto, que se vai desenvolver no sentido de,
neste caso, apoiar determinado ponto de vista e afastar outros.

 A seguir, organiza um banco de dados, registo de ideias, de


conhecimentos sobre o tema. Nesta fase, não te preocupes em ordenar o
que te vai surgindo: limita-te a registar argumentos a favor e contra:
5
Argumentos a favor Argumentos contra
A criança pode contactar com realidades Ver televisão durante muitas horas é
que, de outro modo, desconheceria – intelectualmente desgastante.
espetáculos teatrais, costumes de
diversos países, programas de divulgação
científica…
A televisão é uma companhia. As crianças isolam-se e deixam de
conviver.
Há programas infantis interessantes que As crianças tornam-se passivas e pouco
estimulam o desenvolvimento afetivo e criativas.
intelectual da criança.
Os deveres da escola são esquecidos.
A leitura é posta de lado.

6
 No «banco de ideias» seleciona, agora, os tópicos que te parecerem
pertinentes para organizares o plano de desenvolvimento do
texto que vais escrever. Nesta fase, novas ideias podem surgir. Não te
esqueças de destacar os argumentos, contra-argumentos e
respetivos exemplos.

No plano esboçado, deverá haver já uma orientação para a conclusão


final, que vai no sentido de contrariar parcialmente o tema.
No teu plano, deves ainda prever como introduzir os aspetos que vais
desenvolver.

 Redige, finalmente, um primeiro rascunho, pondo em relevo:


• a introdução  onde destacas a importância que esta questão tem e
apresentas como premissas o facto de as crianças passarem muito tempo a
ver televisão e isso ser uma preocupação para pais e educadores.

7
• o desenvolvimento do raciocínio argumentativo, salientado, por
exemplo:
- pela segmentação do texto em parágrafos;
- pela presença de enunciados que assinalem alterações ou mudanças de
tema [argumentos, contra-argumentos, exemplos…];
- pela presença de enunciados que assinalem a orientação argumentativa
(e é aqui que assumem papel decisivo, por exemplo, os marcadores
discursivos, os enunciados que resumem, reformulam, parafraseiam
informação anterior ou asseguram a transição entre diferentes áreas
informativas do texto);

• a conclusão  onde vais exprimir a tua opinião, retomando a questão


apresentada inicialmente e relativizando o problema que só se coloca se o
tempo frente à televisão for excessivo.

Em alguns casos, podes concluir que o problema a analisar tem de ser


colocado noutros moldes. É então altura de reformulares o tema inicial.
8
Proposta textual
Pode dizer-se que a televisão é prejudicial às crianças?
[Introdução] O tempo passado em frente da televisão por grande
número de crianças constitui motivo de preocupação para pais e educadores.
Impõe-se uma reflexão sobre alguns prós e contras deste hábito.
[Argumentos] Não esqueçamos, antes de mais, ser graças à
televisão que, nas regiões isoladas, os mais pequenos podem contactar com
realidades que, de outro modo, desconheceriam.
[Exemplo] Vejamos, por exemplo, o que se passa com o Nuno: com
nove anos, vive a três quilómetros da pequena aldeia onde se situa a escola
que frequenta. Só de mês a mês vai à cidade com os pais. Durante meia hora
por dia, os pais autorizam-no a ver os programas de que mais gosta: alguns
desenhos animados, programas sobre a fauna e a flora de diversos cantos do
mundo. Não há dúvida que a televisão constitui para ele uma forma de se
libertar do isolamento e, ainda, de contactar com realidades que lhe despertam
a curiosidade e o enriquecem.
[Enunciação de transição] À vantagem enunciada poderíamos, é
claro, contrapor aspetos negativos. 9
[Contra-argumento] Vendo televisão, a criança isola-se das outras,
perde hábitos de convívio, esquece a leitura e, frequentemente, o estudo.
[Argumento-exemplo] Mas, não esqueçamos, o pequeno ecrã também
pode ser uma companhia importante: é o caso da Maria, há um mês de cama
por ter sofrido fraturas várias num acidente.
[Articulação com enunciados anteriores] A televisão tem, como
vemos, as suas vantagens. E os inconvenientes que existem relacionam-se
com um consumo exagerado.
[Conclusão] Para concluir, podemos, então, afirmar que a televisão
só será prejudicial se for vista em demasia.

10
Vejamos agora um tema da nossa literatura:
«Na poesia de Cesário, o quotidiano assume uma importância
decisiva. Podemos, assim, falar de uma poetização do real.»
Redige um texto expositivo-argumentativo em que reflitas sobre a
afirmação feita.

Um exercício deste tipo pressupõe que, no texto que vais redigir,


assumas as afirmações feitas como uma tese que deve ser confirmada na
conclusão, na sequência da argumentação e dos aspetos expostos ao longo
do desenvolvimento.

Proposta textual
A poesia de Cesário surge, essencialmente, a partir da observação da
realidade circundante, seja ela citadina ou rural.
Lisboa, a cidade onde vive e trabalha em determinada fase da sua
vida, constitui, assim, uma primeira fonte de inspiração. E, de facto, quem lê a
sua poesia, constata que é deambulando pelas ruas da capital, muitas vezes a
caminho do emprego, que o autor se inspira para escrever os seus versos. 11
O que acabou de ser afirmado verifica-se, por exemplo, em poemas
como «Num bairro moderno», «Cristalizações», «O sentimento dum ocidental»
ou «Nós», onde o espaço quotidiano – citadino ou rural, físico ou humano – é,
na sua vulgaridade, com sadia franqueza, transposto para a poesia. E é assim
que contactamos não só com o «bairro moderno» e os seus «transparentes» e
«ruas macadamizadas» ou os cais de Lisboa, mas também, com um leque de
gente humilde captada em plena atividade; a vendedeira de legumes, os
calceteiros, os «mestres carpinteiros», as varinas…
Ora a esta paisagem física e humana estão associados os objetos e
produtos mais prosaicos que o sujeito poético, frequentemente, e graças à sua
«visão de artista», imaginativamente transfigura: recordemos, a propósito, os
nabos que lembram ossos, os melões como ventres, os tomates como
corações, mas também os tamancos, as tascas, um parafuso…
Em conclusão, podemos dizer que o quotidiano mais comezinho
marca, de facto, presença na poesia de Cesário a, pelo menos, dois níveis:
numa linha realista, surge objetivamente captado; numa perspetiva
impressionista, constitui-se como matéria-prima para o processo de
transfiguração realizada pela subjetividade do poeta.
12
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO (stricto sensu)
Trabalho escrito de considerável extensão sobre um tema pré-
definido, normalmente para fins académicos. Originalmente, a
dissertação (do lat. dissertatione(m) dizia respeito a uma
discussão, debate ou tratado sobre um determinado tema.É ainda
a partir desta tradição que alguns escritores portugueses até ao
Romantismo escreveram dissertações. O árcade Correia Garção,
por exemplo, legou-nos três textos de reflexão que receberam o
nome de “dissertação”, sendo a “Dissertação Terceira” a mais
conhecida («Sobre ser o principal preceito para formar um bom
poeta procurar e seguir somente a imitação dos melhores autores
da antiguidade», 1757). Hoje, aceita-se que qualquer trabalho
escolar executado segundo princípios científicos de rigor de
investigação e de redação pode constituir uma dissertação,
trabalho que persegue sempre o objetivo de aprofundar uma ideia
precisa de que se partiu. 13
De acordo com a legislação em vigor (Decreto-Lei n.º 216/92, de
13 de outubro), “O grau de Mestre comprova nível aprofundado
de conhecimentos numa área científica específica e capacidade
para a prática da investigação.” De acordo também com
disposições internacionais e na tentativa de uniformização
terminológica, um trabalho de investigação que conduza ao grau
de mestre designa-se por dissertação enquanto um trabalho que
permita alcançar o grau de doutor se designa por tese.

Uma dissertação de mestrado exige uma pesquisa abrangente,


seletiva e crítica da revisão bibliográfica na área científica na qual
está inserida a problemática.

O contributo de uma dissertação de mestrado pode ser de


natureza incremental para uma determinada área do
conhecimento, baseando-se em trabalhos de investigação e 14
modelos desenvolvidos por outros investigadores, através de
testes empíricos e/ou aplicação de técnicas em áreas não
estudadas. Ao contrário ao trabalho subjacente a uma tese de
doutoramento o carácter inovador da problemática não é
impositivo.

Passamos a enumerar algumas características distintivas entre o


que é expectável de uma tese de doutoramento e de uma
dissertação de mestrado:

• Designação – Tese de doutoramento versus dissertação de


mestrado;
• Objetivo primordial – Formar especialistas autónomos em
áreas de conhecimento versus aprofundar conhecimentos e
desenvolver capacidade em áreas de investigação;
15
• Natureza da problemática – Problema ou questão de carácter
inovador, nunca antes investigado versus possibilidade de
problemáticas baseadas em trabalhos anteriormente
desenvolvidos;
• Abrangência da revisão bibliográfica – Pesquisa própria e
exaustiva da área científica versus pesquisa seletiva e analítica
da área relativa ao problema de investigação;
• Contribuição para o corpo de conhecimento – Contributo
claro, consistente e original para o avanço do conhecimento,
publicável em revistas científicas versus possibilidade de
contributo de natureza incremental;
• Extensão do trabalho – Teses na área das Humanidades e
Ciências Sociais têm tipicamente entre 80 000 e 100 000
palavras (ou seja, mais de 300 páginas), e as teses nas áreas
das Ciências Naturais têm metade dessa extensão. 16
• As dissertações variam muito na sua extensão, no entanto,
muitas situam-se entre as 10 000 e as 30 000 palavras (ou
seja, 100 ou mais páginas):
• Horizonte temporal de realização – Três a cinco anos (com
possibilidades de extensão dependendo da instituição
vinculatória e área de investigação) para uma tese e período
relativamente menor (tipicamente de um ano) para uma
dissertação.
Ambos os programas de doutoramento e de mestrado incluem,
normalmente, uma parte escolar – com cursos específicos para o
desenvolvimento de aptidões metodológicas e orientadas para a
área de conhecimento de eleição. Usualmente, existe a
possibilidade de concorrer a bolsas para apoio financeiro ao
desenvolvimento das tarefas inerentes a um trabalho de
investigação da envergadura de um doutoramento. 17
O termo confunde-se com outros familiares como tese e
monografia. Atualmente, a legislação portuguesa sobre
mestrados e doutoramentos (Decreto-Lei n.º 216/92, de 13 de
outubro) distingue entre dissertação de mestrado e tese de
doutoramento, porém sem esclarecer a terminologia.
Fica subentendido que a distinção entre dissertação e tese
reside sobretudo na extensão física e na profundidade da
investigação do texto a escrever: a dissertação de mestrado é,
norma geral, mais curta e não pretende tratar o assunto até à
exaustão; a tese é, norma geral, de grande extensão e procura
tratar um assunto de forma quase exaustiva.
Contudo, podemos naturalmente falar de dissertação para
trabalhos de reduzidas dimensões, desde um comentário de texto
a um trabalho de licenciatura (normalmente dentro do limite de
algumas dezenas de páginas). 18
A monografia tornou-se sinónima de tese e de dissertação,
neste sentido académico dos trabalhos universitários, embora a
sua semântica aponte também para outros caminhos.
Uma dissertação académica obedece a regras específicas,
existindo hoje uma imensa literatura de referência para ajudar à
redação e composição formal da dissertação.
Podemos sintetizar as regras de composição de uma
dissertação da seguinte forma:
1. O título. A escolha do título de uma dissertação ou tese, tal como a escolha
de um título de um livro, não deve ser menosprezada, pois pode contribuir para a
correta compreensão da obra em questão ou para o êxito do trabalho. Ao nível da
pesquisa bibliográfica, durante uma pesquisa específica, podemos ver a importância
que um título tem para a compreensão de uma dada obra. Analise-se, por exemplo, um
título como Os Lusíadas ou Auto da Barca do Inferno. Num ficheiro de biblioteca, é
possível não só encontrar um livro pelo seu índice de títulos mas também pelo índice de
autores e pelo índice de assuntos. 19
2. O prefácio. Uma dissertação ou tese académica é composta por várias
partes, umas obrigatórias (como o índice), outras facultativas. O prefácio é uma das
partes facultativas. Pode encerrar a história e as incidências da elaboração da
dissertação/tese, a motivação do autor para a investigação realizada, as condições em
que tal investigação foi desenvolvida e as etapas mais relevantes para a sua
consecução.

3. O preâmbulo. É uma parte facultativa da responsabilidade do autor da


dissertação ou tese. Se coexistir com a introdução, reserva-se para uma apresentação
sumária dos objetivos da obra e sua fundamentação.

4. O corpo principal. Trata-se do desenvolvimento da investigação e da


reflexão crítica sobre o tema que o autor se propõe tratar.

5. A conclusão. Todo o trabalho de natureza científica inclui as principais


conclusões da investigação realizada. Nelas se incluem não só as observações críticas
finais julgadas pertinentes como também uma eventual orientação do leitor para a
possibilidade de ulteriores investigações. 20
6. O posfácio. É uma parte facultativa pós-textual que pode servir para
acrescentar um dado novo na investigação realizada, quando e só quando as
circunstâncias não permitiram a sua inclusão no corpo principal do texto.

7. As notas. São complementos do texto principal. Podem constituir-se em


comentário, esclarecimento ou simples citação em pé de página (preferencialmente) ou
no final de um texto (prática habitual, sobretudo em livros de expressão inglesa).
Como comentário, introduzem ou complementam criticamente um aspeto
particular relevado no texto, mas cuja discussão é aí deixada em aberto.
Como esclarecimento, limitam-se a dar uma breve explicação sobre a natureza
do texto ou autor citado, informações úteis para uma pesquisa paralela ou posterior, ou
correções de pormenor.
Como citação, referem a obra ou obras que serviram de fonte ao autor.
São, portanto, partes facultativas, mas muitas vezes de leitura indispensável
para a total compreensão de uma dissertação ou tese. 21
8. As citações. Tanto quanto possível, não se deve evitar sobrecarregar um
texto com citações marginais. Como princípio geral, aconselha-se a trabalhar sempre os
textos em primeira mão, recusando a citação em segunda ou terceira mãos.

Escolher uma boa citação, saber quando é que é adequado inseri-la e que
extensão deve ter, pode ser mais difícil do que parece à primeira vista. As citações em
inglês, francês, espanhol ou italiano ocorrerem muitas vezes (e tal é aceitável) na língua
original, embora se possa optar por traduzi-las em nota. Parte-se do princípio universal
que quer o seu autor quer todos os potenciais leitores de um livro científico têm a
obrigação de ler qualquer texto nessas línguas.

É importante não deixar nunca uma citação incompleta (sem autor, sem fonte,
sem página, etc.). Todas as afirmações diretas devem ser documentadas, remetendo
para as fontes. Em nenhum caso se admite que o estudante omita as fontes que
utilizou, incorrendo, se o fizer, em fraude. Sobrecarregar o texto com citações alheias
pode vir a dar num texto incaracterístico. Um bom texto de análise literária, por
exemplo, não se mede pelo número de citações mas pela oportunidade e importância
das referências. 22
9. A bibliografia. Uma dissertação, uma tese universitária, um livro técnico
contêm (ou devem conter) sempre uma bibliografia, isto é, o conjunto de textos e/ou
livros que efetivamente contribuíram para a investigação que foi necessário realizar
para produzir uma obra.
Uma bibliografia é uma lista de obras ordenadas alfabeticamente pelos
apelidos dos autores ou então ordenadas cronologicamente por ano de edição (mais
raro). Uma referência bibliográfica é apenas um registo isolado de uma obra. Quando
fazemos um trabalho de investigação, quando estudamos a obra de um autor, quando
fazemos um comentário literário, consultamos livros de dois tipos: àqueles sobre os
quais trabalhamos diretamente, sobre os quais estamos a emitir uma opinião crítica e
que são a base do nosso estudo damos o nome de bibliografia ativa; àquelas obras que
nos ajudaram a fazer o nosso trabalho, damos o nome de bibliografia passiva
(geralmente de maior extensão em relação à anterior). Existem duas formas universais
de apresentar uma bibliografia: ou arrumamos os títulos por ordem cronológica, desde o
mais antigo até ao mais recente, ou por ordem alfabética do apelido dos autores. Em
bibliografias extensas é costume fazer-se uma divisão temática, de acordo com a
especificidade do trabalho científico desenvolvido. 23
10. O estilo. Quando procuramos educar o nosso próprio estilo de escrita, a
melhor solução não passa pelo armazenamento de palavras novas e/ou difíceis.
Geralmente, a procura de um estilo de grande erudição conduz a um trabalho só legível
pelo seu próprio autor.
Pelo contrário, a excessiva vulgarização e padronização do discurso pode
levar a um texto impessoal, incaracterístico e inaceitável para um estudante de Letras.
O uso de terminologia específica deve ser ponderado com rigor, adequado às
circunstâncias e devidamente justificado.

11. A expressão escrita. A correção do texto científico passa também pelo


estilo adotado e também pela correção ortográfica.

24
Apresentação e defesa da Tese/Dissertação
O processo de apresentação e arguência do trabalho de
investigação desenvolvido corresponde a uma prova pública, o
ato final, a que o candidato a Doutor ou Mestre se sujeita no
processo de atribuição do respetivo grau académico.

A atual legislação prevê uma apresentação oral da tese ou


dissertação por parte do candidato, seguido de uma arguência,
em que o trabalho científico é discutido, esmiuçado e analisado
por peritos da área de investigação, que constituem os elementos
do júri de avaliação.

25
Preparação e defesa da Tese/Dissertação
A defesa – quer seja da tese de doutoramento ou da dissertação
de mestrado – é a fase final do processo de investigação. As
principais diferenças entre a defesa de uma tese de
doutoramento e a de uma dissertação de mestrado é o tempo de
duração da prova (mais curto no mestrado) e a composição do
júri (mais numeroso no caso do doutoramento e exigindo reuniões
prévias de apreciação da tese).
A apresentação deve ter a duração de 20-25 minutos, com
informação sobre:
O problema de investigação;
As questões de investigação;
A metodologia;
Os resultados;
As conclusões;
26
Recomendações para estudos futuros.
Recomendações
Dez slides é o aconselhável para apresentar um tema
- 1.º diapositivo: título do trabalho, nome do candidato e da instituição;
- 2.º diapositivo: motivação, objetivos e problema da investigação;
- 3.º diapositivo: referencial teórico;
- 4.º diapositivo: metodologia da investigação;
a) tipo de investigação;
b) Contexto;
c) Amostra;
d) Instrumentos de recolha de dados.
- 5.º diapositivo: análise de dados;
- 6.º diapositivo: conclusões;
• A apresentação não deve ter mais de 20 minutos (calcule o tempo que irá falar,
faça algumas simulações);
• Deve-se começar por especificar a estrutura da apresentação e, logo de
seguida, o objetivo da investigação;
27
• É importante falar de maneira clara e articulada;
• Não se deve gesticular demais, mas também não convém assumir uma postura
estática;
• Quando terminar a apresentação, agradeça a atenção dos membros do júri.

Recomendação
É importante assistir a uma ou mais defesas de outras teses/dissertações para se
perceber como é que o sistema funciona e quais são as principais regras a seguir.

Depois da apresentação da tese/dissertação, inicia-se o processo


de arguência. O júri toma a palavra e inicia o leque de questões,
a que pretende que o candidato responda, sobre a investigação
realizada.

28
Estratégias de resposta às questões do júri:
• Aceitar outras perspetivas:
- Mantenha uma abordagem de aprendizagem, pois os
elementos do júri têm diferentes perspetivas sobre a
investigação. Quando fazem uma pergunta fora do âmbito do
que se consideram os limites da investigação, a forma de
contornar esta situação é respondendo: “Muito obrigado pela
sua ideia. É uma perspetiva que não tinha considerado nesta
investigação, mas importante para um estudo futuro, dentro do
âmbito deste tema”.
• Atitude não defensiva:
- Não procure defender de forma aguerrida todos os seus
pontos de vista como se fossem dogmas.
29
- O processo de defesa da sua tese/dissertação não deve ser
transformado numa batalha de ideias, mas num espaço de
análise de diferentes perspetivas sobre o tema investigado - a
sua e as dos elementos do júri -, não se procura um vencedor.
Deve defender os resultados e as conclusões a que se
chegou de forma consistente, mas com a flexibilidade
suficiente para aceitar outros pontos de vista.
O maior especialista sobre a tese/dissertação é o próprio autor,
uma vez que ninguém passou tanto tempo a investigar aquele
tema. Por isso, o candidato deve mostrar confiança no seu
trabalho e estar absolutamente seguro das suas ideias.

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Erros a evitar:
• Usar o tempo disponível para a apresentação em resumos
descontextualizados, em divagações estranhas à investigação concreta, em
autojustificações pessoais sobre um eventual incidente de percurso;
• Não ser objetivo, coerente e sucinto;
• Usar vocabulário em calão;
• Falar muito depressa, sem fazer pequenas pausas entre os assuntos;
• Mostrar-se apático, sem energia e indiferente;
• Não demonstrar segurança em relação à apresentação e ao domínio do
tema;
• Não se preparar para a presentação: deve treinar a apresentação;
• Não apresentar soluções, mas novos problemas a investigar;
• Não defender o seu trabalho com convicção: não use “eu acho”, substitua
por “eu acredito”.

31
RELATÓRIO (lato Sensu)
O relatório é um documento que apresenta uma exposição de
factos observados por ordem ou pedido de alguém com estatuto
para ordenar ou solicitar. O redator está, pois, sujeito às
instruções recebidas e às normas das organizações.

Um relatório pode incidir sobre um leque variado de matérias e


situações: relatório de um acidente, de uma peritagem de
seguros, relatório técnico de inspeção às normas de segurança
numa fábrica, relatório de contas, relatório de uma visita de
estudo, de uma atividade levada a cabo por alguém (como um
estágio, por exemplo), etc.

32
O relatório refere-se sempre a uma exposição
circunstanciada e pormenorizada ou sintética, daquilo que se viu,
ouviu, observou ou analisou. O relatório é, assim, um texto escrito
onde se descrevem, objetivamente, factos passados e que tem
como objetivo orientar o destinatário para determinada ação.

Há diversos tipos de relatórios, sendo a sua natureza e


tipologia condicionadas pelo fim a que se destinam, pelas
motivações que os originam e pelos assuntos abordados: o
relatório crítico é um texto que procede à descrição de
acontecimentos ou experiências para dar a conhecer o modo
como decorreram e a uma analise do sucedido e o relatório-
síntese é um texto mais abreviado do que o anterior, elaborado a
partir de uma investigação, pesquisa ou resultado prévio. 33
Pode limitar-se a informar, caso em que ficará pela
descrição dos factos encontrados. Com frequência, porém, visa
também outros objetivos: fornecer informações fundamentadas
para que, com base nelas, quem o ordenou ou pediu possa tomar
decisões. É assim que, por exemplo, um relatório de uma
inspeção técnica ao andamento de uma obra abordará,
naturalmente: o que se pretendeu fazer, o que de facto está
realizado, o que não foi possível concretizar e porquê, e
apresentará propostas e recomendações para a superação.
Consequentemente:
Qual o objetivo do relatório? Informar apenas, ou informar e
convencer, ou seja: expor, intepretar e propor?

A quem se destina? A um ou vários leitores? Que necessidades


tem ou têm? 34
Um bom relatório é aquele que identifica as necessidades de
quem dele precisa e as satisfaz. Se destinado a vários leitores, o
redator deverá ter redobrados cuidados na sua legibilidade.

Estrutura, estilo e dimensão

Simples, claro, preciso, lógico, adaptado a cada caso particular,


breve tanto quanto possível.

“Diga-me rapidamente o que precisava de saber ontem” é a


frequente atitude do leitor de um relatório.

Esquemas, desenhos, tabelas, fotografias, cálculos, sempre que


facilitadores de uma melhor compreensão, podem ou devem ser
incluídos. Um relatório que não é entendido por quem o solicitou
é um mau relatório.
35
A dimensão do documento varia, consoante as circunstâncias. O
relatório dito de estilo informal – o mais corrente, aquele em
que não é exigida exposição exaustiva, tem habitualmente de
uma a três páginas, com esta estrutura:

1. Descrição sumária do assunto do relatório;


2. Mensagem principal do relatório;
3. Resumos dos factos observados;
4. Previsões/propostas ou recomendações (se existirem);
5. Anexos (se existirem).

36
O relatório formal, pormenorizado e completo em toda a sua
extensão, pode ir às dezenas de páginas e conter diversos
anexos. Imaginemos uma empresa que encomendou um estudo
e o consequente relatório para modernizar os seus processos de
produção. Neste caso, e em situações similares, o documento –
relatório-proposta em estilo formal, tem a seguinte estrutura e
apresentação:
Página de rosto (Título do relatório, com breve referência à natureza do
documento; Nome da empresa a que se destina (Preparado para:);
Nome do relator / pessoa que o elaborou (Elaborado por:); a data da
elaboração pode surgir no início do documento ou no final;

Página do resumo ou sumário: Justificação da proposta, os benefícios,


os custos implicados;

Página do índice (caso a extensão do relatório o justifique); 37


Corpo do relatório, com as partes: Introdução – o problema; Análise /
discussão comparada entre o que existe e o que propõe; Informação
técnica sobre o que se propõe, avaliação de hipóteses diversas,
comparações e custos; Conclusões; Recomendações. No corpo do
relatório ou parte central, o desenvolvimento do assunto anteriormente
enunciado é, por vezes, feito numa perspetiva crítica.

Anexos, como informações técnicas (fotografias, gráficos, fotocópias de


materiais com interesse, etc.). Nesta parte do relatório, os anexos /
apêndices, agradecimentos e bibliografia só surgem se o tipo e a
extensão do relatório o justificarem.

38
Apresentação do relatório:
- letra de tamanho médio e facilmente legível;
- margens não inferiores a 2,5 cm;
- espaçamento entre linhas de 1,5 ou duplo;
- páginas numeradas;
- cabeçalhos, títulos e subtítulos destacados e seguindo sempre o
mesmo formato.

Características do registo linguístico:


- utilização de registo formal (linguagem cuidada, rigorosa, clara e
concisa);
- uso de verbos que chamam a atenção para determinados aspetos,
como constatar, observar, precisar, sublinhar, confirmar, lembrar, (...);
- emprego das primeira e/ou terceira pessoas;
- recurso a frases curtas e ligadas através de conectores textuais
portadores de coerência e coesão e capazes de transmitir correta-
mente as intenções do relator;
- construção de parágrafos breves. 39
Estrutura do relatório:

1 - Cabeçalho ou página de rosto (onde constam informações como


o titulo, o nome do destinatário, a data, o local e o nome do relator);

2 – Índice geral (caso a extensão do relatório o justifique)

3 – Introdução/preâmbulo (apresentação dos objetivos e do assunto


que se vai relatar);

4 - Corpo ou parte central (desenvolvimento do assunto anteriormente


enunciado, por vezes, numa perspetiva crítica);

5 - Conclusão (exposição das conclusões e balanço, com a apresen-


tação de propostas de atuação e eventuais recomendações);

6 – Anexos/apêndices, agradecimentos e bibliografia (só surgem se o


tipo e extensão do relatório o justificarem).

40
RELATÓRIO DE ESTÁGIO (stricto sensu)
De acordo com a legislação em vigor é possível a obtenção do
grau de Mestre através da realização de trabalho científico, no
âmbito de um estágio profissional efectuado junto de uma
instituição que seja previamente aprovada pela comissão
científica e pedagógica do mestrado.

Segundo a legislação, o ciclo de estudos conducente ao grau de


Mestre pode integrar “um estágio de natureza profissional objeto
de relatório final, consoante os objetivos específicos visados,
nos termos que sejam fixados pelas respetivas normas
regulamentares, a que corresponde um mínimos de 35% do total
dos créditos do ciclo de estudos” (Decreto-Lei n.º 107/2008, de 25
de junho).
41
Embora um relatório de estágio tenha um caráter mais
profissionalizante, dado o candidato usualmente realizar o seu
trabalho inserido na instituição, é essencial existir um
enquadramento teórico e metodológico que permita a realização
de um trabalho de âmbito científico. As tarefas e funções a
exercer devem ser claramente identificadas e especificadas, e os
objetivos do estágio distintamente definidos.

A forma e o conteúdo de um relatório de estágio pode variar de


instituição para instituição, assim como de acordo com a natureza
da área laboral e científica na qual se insere, no entanto, é
fundamental a definição pormenorizada dos objetivos do estágio
(do ponto de vista da formação do candidato e propósito
empresarial/institucional), do plano de trabalho, da sua
calendarização e articulação entre o processo de formação
curricular e aplicação dos conhecimentos adquiridos na parte42
curricular do mestrado.
Usualmente, nos estágios de orientação profissional existe,
também, um orientador indigitado pela empresa / instituição na
qual o candidato se encontra sediado.
O trabalho de investigação conducente ao grau de Mestre poderá
também incluir um projeto, desenvolvido individualmente, na
área de conhecimento do respetivo curso, de acordo com o
articulado no ” Decreto-Lei n.º 107/2008, de 25 de junho.
Em termos formais, os relatórios de projeto deverão incluir – à
semelhança das dissertações de mestrado e relatórios de estágio
– um enquadramento teórico e metodológico que permita a
realização de um trabalho de âmbito científico.

43
Resumindo, após a implementação do processo de investigação,
a redação do trabalho científico pode assumir diversas formas,
como por exemplo, os relatórios de investigação, as monografias,
as teses de doutoramento, as dissertações de mestrado, os
relatórios de estágio e projeto.
Qualquer um destes trabalhos, de natureza científica, tem de
obedecer a regras para a sua publicação.
Erros a evitar:
• Não ser objetivo, criando interpretações enviesadas dos resultados;
• Não colocar os anexos individualizados, em páginas separadas;
• Não referenciar os anexos no texto;
• Desproporção entre a dimensão dos capítulos;
• Erros de concordância verbal e nominal;
• Início de parágrafo com a mesma expressão do título; 44
• Uso de palavras repetidas no mesmo parágrafo;
• Uso da primeira pessoa do singular ou do plural, quando o recomendado é
a terceira pessoa do singular no texto;
• Listagens de itens, sem ponto-e-vírgula ao final das linhas;
• Não normalização de modelos gráficos, tabelas e quadros;
• Não colocar as palavras estrangeiras em itálico;
• Uso de siglas sem especificação;
• Utilização de numeração das Referências Bibliográficas, Glossário de
Termos, Apêndices e Anexos;
• Falta de interligação e de sequência lógica entre as várias partes
(Introdução, Tópicos Teóricos, Metodologia da Pesquisa, Análise e
Conclusão);
• Análises sem pré-testes;
• Não mencionar e não justificar na conclusão se os objetivos foram atingidos
e se as hipóteses foram validadas;
45
• Não inclusão das limitações e recomendações ou sugestões para futuras
investigações;
• A listagem das Referências Bibliográficas não estar por ordem alfabética e,
ainda, desrespeito à ordem cronológica (colocar em ordem crescente de
ano) dentro da ordem alfabética; caso existam obras do mesmo autor e
mesmo ano, incluir as letras alfabéticas em ordem decrescente ao final dos
anos: por exemplo 2019, 2019a, 2019b, 2019c e assim por diante;
• Referenciar Bibliografias sem estarem referenciadas no corpo de texto;

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Referências

- ADAM, Jean-Michel, Les textes: types et prototypes, Paris: Nathan, 1992;


- ADAM, Jean-Michel, Linguistique textuelle: des genres de discours aux textes, Nathan, 1999;
- AZEREDO, M. Olga, PINTO, M. Isabel Freitas M., LOPES, M. Carmo Azeredo, Da Comunicação
à Expressão - Gramática Prática de Português, Lisboa Editora, S. A., 2010;
- CASSANY, D. (2007). Oficina de Textos: Compreensão leitora e expressão escrita em todas as
disciplinas e profissões. Porto Alegre: Artemed.
- BARTHES, Roland. S/Z. Trad. Léa Novaes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992;
- CEIA, Carlos, A Literatura Ensina-se? Estudos de Teoria Literária, Lisboa: Colibri, 1999;
- CEIA, Carlos, s.v., “Dissertação”, E-Dicionário de Termos Literários, coord. de Carlos Ceia, ISBN:
989-20-0088-9, <http://www.edtl.com.pt>, consultado em 14, 27 e 28-12-2012;
- GREIMAS, A.J. e COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. Trad. de Alceu Dias Lima et alii. São
Paulo: Cultrix, s.d.;
- MATEUS, M. H. et al. (2003). Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Caminho.
- NASCIMENTO, Z. & PINTO, J. M. C. (2001). A Dinâmica da Escrita. Como escrever com êxito.
Lisboa: Plátano Editora.
- PEREIRA, Isidro S. J., Dicionário Grego-Português e Português-Grego, Livraria Apostolado da
Imprensa, 7ª edição, Braga, s/d.;
- PEREIRA, M. L. A. (2000). Escrever em Português. Didáticas e Práticas. Ed. Asa.
- RAPOSO, E. et al. (2013). Gramática do Português. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
- REIS, Carlos: O Conhecimento da Literatura: Introdução aos Estudos Literários, Livraria
Almedina, Coimbra (1995);
47
- RICOEUR, Paul. Du texte à l’action, Paris: Seuil: 1986;
- RODRIGUES, Adriano Duarte, As Técnicas da Comunicação e da Informação, Editorial
Presença, 1ª edição, Lisboa, Agosto de 1999;
- ROCHA, Maria Regina, Gramática de Português – Ensino Secundário | 10.º, 11.º e 12.º anos,
Porto Editora, 2016.
- SOUSA, M. J. et al. (2011). Como fazer investigação, dissertações, tese e relatórios. Lisboa:
Lidel.

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