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A PALAVRA DO LEITOR

Esta é uma nova secção.


Com ela procuramos dar voz a trabalhos de investi-
gação ou de reportagem dos nossos leitores, que di-
rectamente se nos dirigem exprimindo o interesse da
sua publicação.
As opiniões, tal como dos restantes artigos, são da
inteira responsabilidade dos seus autores.
A direcção da revista reserva o direito de aceitar a
sua publicação.

O SELO CIFRA 100 RÉIS NÃO DENTEADO


(Publicado pelo Clube Filatélico do Brasil)
Rafael Prestes Salem

Faço questão de citar o polêmico e explorador "filotelista" Dorvelino Guatemo-


zim, que em mais um de seus maravilhosos estudos que clarearam, e muito, a
filatelia clássica brasileira, nos conta a exata história do selo "Cifra" 100 réis
(cheia – RHM nº 65) sem denteação.
Dorvelino Guatemozim destacou-se no passado por causa de sua persistência
para defender a filatelia de uma forma totalmente radical, e não duvidemos: ele
brigava por causa dos selos! E essa paixão pela filatelia brasileira foi o que o
tornou um dos maiores filatelistas da nossa história. Com uma linguagem ela-
borada, porém plenamente entendível, ele nos explica:
“O ‘Catálogo Thut’ erradamente traz esta observação a respeito do selo
nº67s: ‘Este selo foi posto em circulação mal acabado; isto é, sem den-
teação, depois da República, sendo assim vendido em vários pontos do
País.
Presumimos por isso tratar-se até de uma espécie de "selo provisório"
do governo republicano.
Fico estático quando se me deparam leviandades desse vulto, avaliando
eu a incomensurável ousadia de certos indivíduos que afirmam uma
cousa sem sabê-la. Para anular tamanha leviandade, que muito poderia
prejudicar a história exata da nossa filotelia, estampo o molde nº 104,
que prova terem circulado esses selos, pelo menos, 16 meses antes da
proclamação da República. Que coragem e competência de semelhante
HISTORIADOR!!”
(GUATEMOZIM, D. Catálogo Brasil. 3ed. Rio de Janeiro, 1941)
Este foi um pequeno exemplo, uma pequena citação, que comprova que a fila-
telia brasileira é das mais ricamente interessantes do mundo. E Dorvelino Gua-
temozim foi apenas uma das inúmeras pessoas que publicaram artigos e trechos
como este citado acima. A literatura filatélica brasileira contém informações in-
contáveis e de extrema importância não só para compreensão dos filatelistas,
bem como para ajudar a reconstruir a nossa história, em catálogos, boletins, re-
vistas e demais publicações do gênero.

Ilustração de um par sem denteação do selo 100 réis cifra cheia e o "molde nº 104",
citado por Dorvelino Guatemozim e que comprova que o selo circulou no período
Imperial.

FILATELIA OU FILOTELIA?
Raphael Prestes Salem

A Língua Portuguesa é muito rica. E isso não se contraria quando se trata de


vocábulos relacionados à também rica arte de colecionar selos. Nós não preci-
samos emprestar palavras de línguas estrangeiras para denominar os elementos
e técnicas filatélicas, e esse fato nos orgulha a todos os adeptos da filatelia.
Contudo, toda afirmação tem suas contrariedades, e é aí que surge a dúvida: Fi-
latelia ou Filotelia?
Já dizia o ilustre e saudoso filatelista da primeira metade do século XX, Dorve-
lino Guatemozim, que era radicalmente contra o uso do termo “filatelia” e de
seus derivados: “...adotemos a forma filotelia e seus derivados; persistir no
erro seria simplesmente um despautério...”
Sua opinião era essa devido à seguinte contradição: A palavra origina-se das
palavras gregas philos (“amigo”) + telos (“imposto”) ou ateleia (“isenção de
impostos”). Aí persiste a dúvida. Qual a real terminação: telos ou ateleia?
A justificativa de Dorvelino Guatemozim baseou-se em diversos fatos. Veja-
mos o seguinte trecho de seu livro “Catálogo Brasil”, 3ª edição, de 1941:
“(...) O acatado filólogo GONÇALVES VIANA registra no seu Vocabulário so-
mente Filatelia, sem referência à sua derivação.
Acontece, porém, que o eminente helenista BARÃO RAMIZ GALVÃO, profundo
conhecedor do rico e sonoroso idioma de HOMERO, está em desacordo quan-
to ao segundo elemento – ateleia, e afirma que o correto é Filotelia – cuja ori-
gem é o grego philos (masculino) – amigo, e telos (masculino) – imposto, que
significa amigo do imposto, isto é, de selos.
Penso que o preclaro RAMIZ GALVÃO deu um quinau nos lexicógrafos, acres-
cendo, para corroborá-lo, que existe uma revista mensal, que se publica em
Atenas, capital da Grécia, à Avenida Patission, nº 26-a, intitulada Philotelia,
órgão oficial da Sociedade Filotélica Helênica.
Para firmar opinião sobre o assunto, visitei, em sua residência, o sábio profes-
sor. Acolhimento fidalgo. Discreteando sobre o caso, declarou-me ele manter,
pereutória e convictamente, a sua idéia – a etimologia sua, exposta acima, e
portanto a forma portuguesa Filotelia. Esta é que é correta.”
Nota-se que, após diversas pesquisas e eloqüentes justificativas, a conclusão de
Dorvelino Guatemozim foi a qual determina “filotelia” o termo etimologica-
mente correto. Isso fez com que ele o usasse radicalmente em todas as suas pu-
blicações. Porém, desde antes dessa conclusão e até hoje, usa-se o termo
“filatelia”; são raras as citações do termo “filotelia” como o correto.
A controvérsia continua. E só poderá ser abolida quando a questão realmente
for estudada e analisada com profundidade. Difícil será mudar o costume uni-
versal caso o polêmico Dorvelino esteja certo...

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