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1
BARRETO, T. apud ROMERO, S. História da Literatura Brasileira (1888). 7a ed. Rio de Janeiro:
Livraria José Olympio, 1980. 5 v, p. 34.
2
ARARIPE JÚNIOR, T. A. Araripe Júnior: teoria, crítica e história literária. (seleção e apresentação de)
Alfredo Bosi. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: Edusp, 1978, p. 319.
3
PACHECO, F. apud RIO, J. O Momento Literário. Rio de Janeiro: H. Garnier, s/d [1906], p. 170.
4
CARVALHO, E. apud RIO, J. Op.cit. p. 263. (grifo do autor)
5
SANTIAGO, G. apud RIO, J. Op.cit. p.293.
6
Cf. BROCA, B. A Vida Literária no Brasil – 1900. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio,
1960, p. 201.
aguardava uma oportunidade para entrar em polêmica com quem quer que fosse, a
propósito dos assuntos em que se sentisse mais à vontade".7
É verdade, a propósito, que a polêmica de um modo geral pode nos levar a
pensar em reflexão rápida, superficial, movida pelo calor da hora, ou mesmo, em textos
repletos de muito tempero, de defesas apaixonadas, de interpelações irônicas, de
xingamentos explícitos e de um sem-número de outros atrativos. Todavia, é verdade
também que no afã de criticar ou se defender, os literatos do período criaram textos que
são muitas vezes permeados de fina erudição. Os produtores da polêmica, segundo
George Ermakoff, em seu estudo sobre grandes polêmicas do século XIX e do XX:
7
MENDONÇA, C. S. Sílvio Romero. Sua Formação Intelectual (1851-1880). São Paulo: Comp. Ed.
Nacional, 1938, p. 76.
8
BUENO, A. e ERMAKOFF, G. (org). Duelos no Serpentário: uma antologia da polêmica intelectual
no Brasil 1850-1950. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2005, p. 8.
9
Não só nos intelectuais do final do século XIX se tornou notória a necessidade de afirmação, mas
também em toda a vida intelectual brasileira isso foi uma constante.
10
MACHADO NETO, A. L. Estrutura Social da República das Letras (Sociologia da Vida Intelectual
Brasileira – 1870-1930). São Paulo: Edusp, 1973, p. 24.
11
Sobre evolucionismo......
12
VENTURA, R. Estilo Tropical: história tropical e polêmicas literárias no Brasil, 1870-1914. São
Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 80.
mostrar um pouco da efervescência desse fim do século XIX para tentar perceber o
papel que a polêmica teve nesse cenário.
Assim sendo, Brito Broca, no seu esforço de apresentar uma história social de
nossas letras, vai afirmar que a vida literária no final do XIX e início do XX sobrepujou
a literatura e que as polêmicas se colocaram mais no terreno da vida literária do que da
literatura. Havia, segundo Broca, uma necessidade entre os intelectuais do período de
viver a literatura, ou seja, estes homens buscavam “literalizar o trato cotidiano da
existência”.13 Esse viver a literatura, especialmente pelos boêmios, se fazia, em grande
parte, na Rua do Ouvidor – “estreita ágora mundana e literária onde se faziam e
desfaziam os mitos e os prestígios da vida intelectual”.14Ali se encontravam os
principais cafés, confeitarias, jornais e livrarias, os quais possuíam, em certa época,
cada um a sua “igrejinha” efetiva.
O mais famoso dos estabelecimentos, de acordo com os estudos sobre a vida
literária, foi a Livraria Garnier, onde se reunia o grupo de Machado de Assis. Este, que
nunca freqüentava os cafés ou as confeitarias, se encontrava na Garnier todas as tardes
com José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, Coelho Neto, Taunay, Nabuco e outros, para
um café, depois do fechamento da Revista Brasileira. Dessas tertúlias nascera, tempos
depois, a Academia Brasileira de Letras. João Luso, a propósito, em seu A Sublime
Porta, para ilustrar o papel da Livraria Garnier, escrevia que:
ficar ali de perna trançada, o ombro contra o batente, as duas mãos solidamente
apoiadas no castão da bengala, eis a decisiva demonstração de talento ou de
valor que a história exige para conscientemente se pronunciar.15
13
BROCA, B. Op.cit.,p. 37.
14
Cf. MACHADO NETO, A. L. Op.cit. , p. 201.
15
LUSO, J. apud BROCA, B. Op.cit. , p. 41.
16
RAMOS, S. apud RIO, Op.cit. , J. p. 179.
17
COELHO NETO apud BROCA, B. Op.cit. , p. 129
que se dessoram a si próprios e fazem moer quantos lhes são adversos,
nomeadamente os bons escritores provincianos”.18
18
ROMERO, S. apud BROCA, B. Op.cit., p. 28. (grifo nosso).
19
MACAHDO NETO, A. L. Op.cit., p. 147.
20
IDEM
21
BILAC, O. apud RIO, J. Op.cit , p. 10.
22
ROMERO apud RIO, J. Op.cit., p. 49.
23
BEVILAQUA, C. apud RIO, J. Op.cit., p. 111-112.
24
PASSOS, G. apud RIO, J. Op.cit., p. 150.
imprensa, que constituía a principal instância de produção cultural da época e que
fornecia a maioria das gratificações e posições intelectuais”. 25
Além disso, Flora Sussekind, em Cinematógrafo de Letras, pontua que a
linguagem do literato no final do XIX foi tomando uma dimensão de escrita jornalística,
ou seja, o “simples fato de trabalharem na imprensa diária, em contato com a visão de
cada dia como condensação privilegiada da História, parece sugerir a esses poetas uma
espécie de forma literária de passagem, moldada no jornal”.26 Esses intelectuais não só
conceberam um novo estilo de escrita, a jornalística, como também criaram, nesse
período, um vocabulário beligerante próprio.
George Ermakoff, igualmente, declara que houve uma “transmutação de pacatos
intelectuais em guerreiros da palavra”.27 Guerreiros estes que transformaram a
linguagem da crítica em um jargão de guerra, criando um vocabulário específico para se
referirem tanto à vida literária como às suas obras e os títulos de suas obras. De acordo
com Machado Neto, por exemplo, para se referirem a carreira literária, as palavras eram
“liça, luta, embate”, para falar da ascensão literária “fala-se sempre em batalha, pugnas,
combates”.28 Esses viperinos do final do Oitocentos, portanto, criaram uma linguagem
bélica própria e exemplos desse vocabulário foi o famigerado neologismo polêmico de
Sílvio Romero, Zeverissimações, em sua obra de ataque a José Veríssimo, ou alguns
títulos de suas obras, como Doutrina contra Doutrina, Provocações e Debates. Tais
títulos biliosos, todavia, não eram encontrados somente nas obras de Sílvio Romero,
mas também em livros como o de Lúcio de Mendonça, intitulado Vergastas, ou na obra
de Valentin Magalhães, com o título de Cantos e Lutas, entre outros.
Mas os considerados campeões de polêmicas, no terceiro quartel do século XIX,
foram: o já apresentado Sílvio Romero, bem como Medeiros e Albuquerque, que teve
suas polêmicas compiladas pelo filho e lutou com grande parte da intelectualidade da
época, como, por exemplo, João do Rio e Rui Barbosa; e Carlos de Laet – apresentado,
muitas vezes, como um lendário do jornalismo combativo, um polemista até a morte –
marcou, igualmente, o cenário de polêmicas com a sua célebre batalha com o português
Camilo Castelo Branco, o famoso “polemista invencível”. Todos esses homens
possuíam personalidades fortes e conduziram com agressividade sua vida literária.
Todavia, Sílvio Romero foi considerado, pela historiografia sobre o período, o mais
constantes dos polemistas nacionais.
Esse título recebido por Romero, nesse sentido, pode ser tomado como umas das
razões de sua fama ter chegado ao ponto de contemporâneos como Chrysanto de Brito
declararem que "ouvia falar do autor da História da Literatura Brasileira como destes
destruidores terríveis, cujo fim é sempre a demolição", ou seja, "como destes homens
que transformam a pena sistematicamente numa arma de combate, pelo prazer somente
de destruir e arrasar".29 Clovis Beviláqua, ao contrário, grande amigo de Romero, vai
defendê-lo afirmando que “caía sobre as cabeças abaçanadas uma atmosfera de luta; e
esse meio eletrizante sacudia todos os nervos e incitava coragem a todos. Sílvio
Romero, que era uma organização talhada para a vida gnostica das letras, abraçou-se
naquela febre”.30
25
MICELI, S. Poder, Sexo e Letras na República Velha. São Paulo: Perspectiva, 1977, p.15
26
SÜSSEKIND, F. Cinematógrafo de Letras: literatura, técnicas e modernização no Brasil. São Paulo:
Cia. das Letras, 1987, p. 99.
27
BUENO, A. e ERMAKOFF, G. (org). op.cit. p. 8.
28
Cf. MACHADO NETO, A. L. Op.cit., p. 150.
29
Estudo de Sílvio Romero por Chysanto de Brito, p. V. Cf. BRITO, C. de. “Sylvio Romero (Resenha
Synthetica)”. In: ROMERO, S. Discursos. Porto: Livraria Chardron, 1904.
30
BEVILAQUA, C. Épocas e Individualidades: estudos literários. Rio de Janeiro: H. Garnier Livreiro-
Editor, 1888, p. 126.
A bem da verdade, havia sim outros meios de se adentrar na vida literária
naquele tempo. Nas palavras de Felix Pacheco, afora a luta e a demolição do adversário
para entrar no meio, “o que resta é apenas a docilidade passiva, o respeito aos
medalhões, a subserviência miserável e ignóbil – elemento seguro e infalível para a
subida rápida”31, como bem nos ensina, vale lembrar, Machado de Assis, em seu
clássico conto A Teoria do Medalhão.
A análise dos escritos dos homens de letra do final do século XIX e mesmo os
estudos sobre a vida literária do período nos mostram, ao fim e ao cabo, a presença de
um padrão de escrita polêmico, ou seja, a polêmica, nesse período, se tornou um traço
estruturante da produção intelectual. E Sílvio Romero, apesar de sua vultuosa obra de
polêmica e sua pejorativa fama, fez coro a seus contemporâneos e compartilhou das
práticas consolidadas pelos homens do seu tempo.
BIBLIOGRAFIA:
MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero. Sua Formação Intelectual (1851-
1880). São Paulo: Comp. Ed. Nacional, 1938.
MICELI, S. Poder, Sexo e Letras na República Velha. São Paulo: Perspectiva, 1977.
RIO, João do. O Momento Literário. Rio de Janeiro: H. Garnier, s/d [1906].
31
PACHECO, F. apud RIO, J. Op. cit. , p. 170.
ROMERO, S. História da Literatura Brasileira (1888). 7a. ed. Rio de Janeiro:
Livraria José Olympio, 1980. 5 v.
SÜSSEKIND, F. Cinematógrafo de Letras: literatura, técnica e modernização no
Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1987.
VENTURA, Roberto. Estilo Tropical: história tropical e polêmicas literárias no Brasil,
1870-1914. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
Sylvio Romero e Arthur Guimarães - Estudos sociaes: o Brasil na 1ª década do século
XX – Problemas Brasileiros. Lisboa, A Editora, 1911. (APESP 330.981R672e).
Sylvio Romero - História da literatura Brasileira. Rio de Janeiro, Livraria José
Olympio, 1943. (APESP 869.909R672h).