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O FUTURO DO PRETÉRITO COMO ESTRATÉGIA DE POLIDEZ:

Cunha e Cintra (1985) destacam que a forma de FP simples pode ser


utilizada para manifestar polidez, e seu uso ocorre como denotador de desejo.
Para ilustrar tal uso, os autores apresentam os seguintes exemplos:
(1) Seríeis capazes, minhas Senhoras,
De amar um homem deste feitio? (A. Nobre, S, 79).
(2) Desejaríamos ouvi-lo sobre o crime (C. Drummond de Andrade,
BV, 103). (CUNHA; CINTRA, 1985, p. 451)

1. O FUTURO DO PRETÉRITO SIMPLES emprega-se: 1º) para designar


ações posteriores à época que se fala; 2º para exprimir a
incerteza (probabilidade, dúvida, suposição) sobre fatos passados;
como forma polida de presente, em geral denotadora de desejo; 4º)
em certas frases interrogativas e exclamativas, para denotar surpresa ou indignação; 5º) nas afirmações condicionadas, quando se referem a
fatos que não se realizaram e que, provavelmente, não se
realizarão;

2. O FUTURO DO PRETÉRITO COMPOSTO emprega-


-se: 1º) para indicar que um fato teria acontecido no passado, mediante
certa condição; 2º) para exprimir a possibilidade de um fato
passado; 3º) para indicar a incerteza sobre fatos passados, em certas
frases interrogativas que dispensam a resposta do interlocutor
(CUNHA; CINTRA, 1985, p. 450-453).

O futuro do pretérito (FP) é uma forma verbal que, dentre outros valores,
expressa polidez. No campo linguístico, a polidez é uma estratégia utilizada
com o objetivo de evitar conflitos na interação verbal. Apresentamos, a seguir,
um exemplo que evidencia o uso da forma de FP com valor de polidez, em
dados da língua em uso.

(1)E: agora no final do curso você se sente realizado com o seu desempenho
ao longo do curso? acha que poderia ter sido melhor? por quê?
F: então é um curso assim que... que depende muito né? do
estudante se... se ele vai se dar bem se ele vai se dar mal... depende
muito do estudante... têm pessoas que têm mais facilidade
outras têm menos facilidade... eu num se- eu... diria que (uma das
disciplinas) poderia ser melhor gostei eu acho que eu me esforcei...
no curso me dediquei... fiz o máximo que eu pude... mas é claro
que isso poderia melhorar mais... todo mundo poderia melhorar
mais... (hes) no que a gente já fez (m 02)2

Ao discorrer sobre o FP em sua Gramática do português brasileiro, Perini


(2010) faz menção ao valor de polidez. O autor afirma que, quando se utiliza o
FP (ou condicional, em seus termos) com verbos de desejo para fazer pedidos,
acrescenta-se um matiz de polidez à situação, como, por exemplo, em:
(4) Eu gostaria de participar da exposição.
(5) Minha irmã adoraria conhecer o seu apartamento. (PERINI,
2010, p. 225)

Assim como Cunha e Cintra (1985), Bechara (2009) faz referência ao uso
do FP como estratégia de polidez ao afirmar que esta forma verbal exprime
“asseveração modesta em relação ao passado, admiração por um fato se ter
realizado” (2009, p. 280). Para demonstrar tal tipo de emprego, o autor apresenta
os seguintes exemplos:
Eu teria ficado satisfeito com as tuas cartas [RV].
Nós pretenderíamos saber a verdade.
Seria isso verdadeiro? (BECHARA, 2009, p. 280)

Ataliba de Castilho (2010), em sua Nova gramática do português brasileiro,


também faz alusão ao uso do FP com o valor em questão no presente
estudo. Castilho (2010, p. 434) afirma que há um FP “metafórico”, que se emprega
em lugar do presente do indicativo quando se quer manifestar “opinião
de modo reservado, ou nos usos de atenuação ou polidez”. Vejamos os exemplos
utilizados pelo autor para demonstrar essa possibilidade:
(6) Eu acharia/teria achado melhor irmos embora.
(7) Isto aqui seria/teria sido o bacilo de Koch, pelo menos ele não
está/estava sentado nem deitado.
(8) Que seria/teria sido aquilo? (CASTILHO, 2010, p. 434)

Proposta de trabalho
Trabalhar no ensino com os valores de polidez, explorando os contextos
de uso do FP, é de suma importância pelo fato de dar base ao aluno para
refletir sobre o seu comportamento linguístico e suas relações interpessoais.
Assim, tendo o conhecimento dos efeitos que a polidez pode desempenhar
na interação, o aluno poderá avaliar qual a melhor estratégia linguística a ser
utilizada em cada situação para atender aos desígnios comunicativos e sociais
dos interlocutores envolvidos na interação. O professor, como o mediador
entre o conhecimento e o aluno, deve propiciar ao aluno a reflexão sobre o
uso do FP em diversas situações comunicativas, atentando para os efeitos de
sentidos produzidos, ao abordar o ensino de língua em seu contexto de uso,
em seu funcionamento

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