A reforma urbana proposta pelo prefeito carioca Pereira Passos, na área

central do Rio de Janeiro, expôs o quanto as classes desfavorecidas são prejudicadas pela
irregularidade imobiliária. Todavia, mesmo após décadas de avanços sociais e econômicos, o
Brasil ainda enfrenta essa problemática. Isso ocorre não só pelas mudanças nas relações
sociais e institucionais, mas também pela ineficiência estatal.

Com efeito, o filósofo polonês Zygmunt Bauman, em sua obra "Modernidade Líquida",
preconiza que as relações interpessoais contemporâneas são caracterizadas pela liquidez e
efemeridade. Somado a isso, as relações institucionais também acompanham esse processo,
com a relação entre indivíduo e Estado ficando cada vez mais superficial. Logo, os indivíduos
colocam o benefício próprio a frente do bem comum, ignorando normas pré-estabelecidas e
construindo estruturas prejudiciais à sociedade.

Não fosse o suficiente, de acordo com o filósofo francês Jean Jacques-Rousseau, em seu livro
"Do Contrato Social", é dever do poder público garantir o bem-estar social e os direitos
fundamentais da população. Todavia, essa não é a realidade brasileira, tendo em vista a
crescente construção de obras irregulares. Com isso, o Estado deixa de arrecadar impostos que
poderiam ser repassados à sociedade, além de colocarem a vida dos indivíduos irregulares em
risco. Portanto, ao não aplicar as leis corretamente e deixar de fiscalizar construções civis, o
Estado não exerce suas funções fundamentais.

Dado o exposto, é tempo de a sociedade e do poder público agirem para frear a irregularidade
imobiliária no Brasil. Logo, cabe ao Ministério da Educação conscientizar a população sobre os
danos sociais que a construção ilegal pode causar. Isso será feito por meio da adição do tema
na Base Nacional Comum Curricular, expondo como a sonegação de tributos e a instabilidade
estrutural dessas construções podem prejudicar a sociedade em geral. Feito isso, o Brasil se
tornará um país mais democrático e igualitário no que diz respeito a regularidade de imóveis.