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JONAS SAVIMBI
O futuro da UNITA, o movimento do Galo Negro, será traçado pela nova direcção
que emergirá (ou não?) da fase de transição que agora começa. Um período difícil
e cheio de incertezas, para a UNITA mas também para o Movimento Popular para
a Libertação de Angola (MPLA, principal partido no poder em Luanda), as
oposições, as Igrejas, as Organizações Não Governamentais (ONG), habituados a
reagir às iniciativas de Savimbi, o «Mais Velho». Para não falar das pressões da
comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos, que colocou como
primeiras prioridades da sua agenda a solução da crise humanitária, a melhoria
das condições de vida da população e a estabilidade e segurança regionais. Os
candidatos à sucessão de Savimbi vão ter que equacionar cuidadosamente todos
estes factores, sob pena de repetirem erros estratégicos que levaram o líder à morte
e o Galo Negro ao impasse. O «trono» não ficou vazio: a megalomania não cegou
Savimbi ao ponto de se julgar eterno. Nas últimas entrevistas fez alusões à sua
morte.
Savimbi (foto Revista Expresso)
As mortes de Salupeto Pena (em 1992) e de Arlindo Pena «Ben-Ben» (em 1998)
fizeram fracassar uma «solução dinástica», que fazia destes dois sobrinhos de
Savimbi- filhos da sua irmã mais velha - herdeiros naturais do «rei», segundo
«Grande Chefe», na tradição matrilinear dos bailundos. Na última fase da guerra,
Savimbi encarou a possibilidade de ser capturado ou de ficar incapacitado, por
ferimento ou doença.
Deixou instruções que os seus homens mais fiéis começaram a pôr em prática,
jurando fidelidade ao vice-presidente, António Dembo, alcandorado a presidente
interino até ao próximo congresso. Os comandantes militares das várias «forças
residuais» (como as chamou o Presidente José Eduardo dos Santos) têm carta
branca para continuar as operações, sem contactos com «o Estado Maior
General». Há bastante tempo que tinham aprendido a viver à sua custa, sem
contar com a «logística» do movimento - desarticulada depois de 1999, com a
queda dos últimos bastiões no planalto central angolano. O isolamento das várias
unidades foi progressivamente agravado pelas sanções decretadas pela ONU, a
«selagem» (nunca completamente estanque) das fronteiras terrestres e a
desarticulação da rede de comunicações. Estas forças, avaliadas oficialmente em 8
a 12 mil homens, estão concentradas no Norte de Angola e entre Benguela e o
Kuanza Sul. É desta UNITA que o general Dembo é agora presidente e é com ele
que o Governo angolano quer estabelecer uma trégua e negociar a conclusão do
processo de paz assinado em Lusaka.
Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi assinaram em Lisboa
um acordo de paz que previa o fim da guerra civil (foto Revista Expresso)
Mas o único homem que soube, até agora, lidar com todas as facções é o ex-chefe
da representação da UNITA na Comissão Conjunta encarregue da aplicação dos
acordos de paz, Isaías Samakuva, hoje refugiado em Paris. Tido como um homem
recto e conciliador, de uma fidelidade sem falha ao «Mais Velho». Samakuva não
gosta de queimar etapas. Enquanto Dembo for vivo, não reconhecerá outro
presidente. Depois, se verá. "
Jonas Savimbi e N'Zau Puna (foto Revista Expresso)
O galo voa
«...E o vosso galo????»
- "Voa"
Cândida Pinto
SAVIMBI
Ele foi o pior inimigo de si
próprio
O autor (foto Revista Expresso)
A vida de Jonas Savimbi pode ser dividida em três fases: o Savimbi da etapa
inicial, o Savimbi da etapa intermédia e o Savimbi da etapa final. O da etapa
inicial foi um produto do sistema colonial português. Nasceu em 1934 em
Munhango, estação da linha de caminho-de-ferro de Benguela, onde o pai era
chefe de estação - na época, um lugar impressionante para um africano. Savimbi
sofreu a humilhação por que passaram muitos negros angolanos, inteligentes e
ambiciosos. Tinha antipatia pelos «assimilados» e por alguns mulatos que faziam
então parte da classe privilegiada. (Mais tarde, Savimbi iria atenuar a sua
hostilidade em relação aos brancos, criando grandes amizades com alguns deles).
Foto Revista Expresso
Em finais dos anos 50 obteve uma bolsa de estudo para Lisboa a fim de estudar
Medicina, mas, depois de muitas perseguições movidas pelas autoridades
portuguesas, fugiu para a Suíça onde estudou Ciências Políticas. Voltou para
África, aderiu à FNLA e tornou-se seu secretário para os Assuntos Externos.
Viajou por todo o mundo e estabeleceu ligações com muitos nacionalistas africanos
incluindo Jomo Kenyata, do Quénia, e o falecido Felix Houphouêt-Boigny, da
Costa do Marfim. Savimbi foi para a China, onde conheceu o Presidente Mão, e
adoptou a revolução chinesa como modelo. Regressou clandestinamente a Angola
e, em Dezembro de 1966, levou a cabo o primeiro ataque, em Luau, na província
do Moxico. Em 1974, por ocasião da revolução em Lisboa que derrubou o regime
colonial fascista, a UNITA, de Savimbi tornou-se num dos três movimentos de
libertação que competiram entre si pelo apoio dos angolanos. Os outros dois eram
a FNLA e o MPLA. O MPLA seria o vencedor da guerra civil que se seguiu à
partida dos portugueses.
Savimbi devia pensar que ia ganhar as eleições de 1992 e realizar o sonho da sua
vida de ser Presidente de Angola, e que todos aqueles que ele tinha matado seriam
esquecidos. Mas não foi isso o que aconteceu. A UNITA perdeu as eleições, disse
que os resultados tinham sido fraudulentos e Savimbi e os seus colegas voltaram a
pegar nas armas. Este período, desde 1992 até à sua morte, marca o Savimbi da
etapa final.
O Savimbi da etapa final também sabia lançar as famílias mais influentes umas
contra as outras, através do seu sistema clientelar. Jonas Savimbi nunca se
interessava pelo dinheiro em si. Isto talvez derivasse da sua educação de
protestante. Contudo, estava mais interessado no poder do que naquilo que o
dinheiro poderia dar a alguém. Um dos fracassos da UNITA foi o de ser um
movimento cujo líder tinha ilusões de vir a governar um Estado. Ainda me recordo
dos tempos em que os líderes da UNITA diziam que esta tinha tanto dinheiro que
dava para envergonhar o tesouro de muitos países africanos. O próprio Savimbi
gabou-se um dia numa entrevista que havia africanos que vinham ter com ele para
lhe pedirem lições de economia. (Quem recusaria tais lições se, no fim, lhes era
entregue um envelope com alguns diamantes?).
Cientes do futuro que lhes estava reservado, muitos deles acabaram por desertar
para as fileiras do Governo, onde eram devidamente recompensados compostos
aliciantes. Muitas famílias importantes da etnia ovimbundo, a maior de Angola,
confiavam em Savimbi e entregavam-lhe os seus filhos. Por ocasião da sua morte,
muitos destes falaram mal dele. Muitos perceberam que Savimbi queria implantar
um estado totalitário em Angola. Não foi o Governo angolano enquanto tal que
destruiu o falecido líder da UNITA; Jonas Savimbi foi o pior inimigo de si próprio.
Isto explica a estranha apreensão da elite governamental de Angola na sequência
da morte de Savimbi: agora que o papão nacional desapareceu eles terão de provar
do que são capazes. Por exemplo, será que vão continuar a desviar a riqueza da
nação para contas em bancos estrangeiros, será que vai haver uma verdadeira
democracia nos assuntos do Estado?
Jonas Savimbi tinha profetizado em diversas ocasiões a sua morte. Num discurso
na Jamba, então o quartel-general da UNITA no leste de Angola, disse que iria
morrer de morte violenta. Em vida, Savimbi já se tinha tornado numa lenda. Na
morte, poderá, para muitos dos seus ardentes apoiantes, tornar-se no perfeito
mártir. Tanto a UNITA como o MPLA têm heróis - alguns são uma pura criação
dos departamentos de propaganda - que disseram terem posto o interesse colectivo
acima dos seus interesses individuais. No entanto, todos concordam que Savimbi se
manteve fiel aos seus princípios - ou seja, a conquista do poder - até ao último
momento. Não parou de disparar mesmo depois de sete balas se terem alojado no
seu corpo.
*escritor angolano
Comente no meu Livro de Visitas
Almirante Vermelho
Rosa Coutinho
Este "mabeco
sarnento"morreu em
02.Junho.2010
Revolução do 25 de Abril de 1974 O TRAIDOR
Dog Murras - Angola Extrato do video editado no
Hora Quente Google:
CFB Angola - 2009 Combóio Mala Angola - US, UN, and Communist
As Maravilhas de Portugal no Mundo, Revolutionary Tactics in Africa
Convento do Carmo, Angola
ENTREVISTA A CARLOS
ANGOLA de outros tempos
PACHECO
Luanda 1904 - 2008 Programa «O Que Fica do que
LUANDA: a miserável e milionária Passa», canal Q (18/01/2011)
Chuva em Luanda
O outro lado de Luanda
DW Angola vozes da cidade ALICE
As Gentes de Angola
Trânsito em Luanda
Angola 1961 - Sublevação da Baixa do Cassange
Lisboa
(Portugal)
Telémaco A.
O autor"kota"em 08. 2008
Pissarro
r.petrinus@netcabo.pt
Índice
MEMÓRIA
S
Angola 1951-1975
Atenção pessoal de Angola!Àqueles que nasceram depois de 1975 (Dipanda)
certamente lhes foi ensinado nas escolas que foi o MPLA e Agostinho Neto, o
chamado "pai da pátria angolana" que lutou pela descolonização para que o povo
se libertasse do jugo colonial e tivesse uma vida melhor. Neste site vereis
pormenorizadamente que isso não passa de uma utopia e não corresponde à
verdade dos factos devido às guerras fraticidas provocadas pela ambição do poder
do MPLA e dos outros partidos porque, actualmente, Angola <> sendo um país com
uma riqueza natural enorme, está bem pior que em 1975 que era o país mais
próspero da costa ocidental de África.
Já fui acusado de não ser imparcial no que escrevi neste site. O que escrevi foi
baseado nas minhas memórias e no que encontrei em livros, jornais e na Internet.
Por isso, peço a quem quiser relatar as suas memórias baseado em factos reais
credíveis que o faça e me envie os textos ou fotos que eu os colocarei neste site para
que se possa ver a opinião de ambos os lados do que se passou antes e depois da
descolonização. Há muita coisa que não está nos livros nem na Internet mas há
vivências pessoais que contadas me ajudarão a repor a verdade doa a quem doer.
Podem usar um pseudónimo se quiserem, o mais importante é que os factos
relatados sejam reais, credíveis e sem facciosismo político. Obrigado pela vossa
colaboração.
Introdução
Fui para Angola em 1951 ainda jovem com 19 anos cheio de ilusões para conseguir
uma vida melhor do que aquela que tinha em Portugal continental. Como milhares
de outros portugueses (cerca de 500 mil) devido à cegueira políticade alguns ultra-
esquerdistas do MFA mentores do 25 de Abril, a minha esposa e os meus quatro
filhos tiveram de abandonar em 8 de Junho de 1975 a sua querida e amada terra
que os viu nascer. Eu só regressei ao meu país natal em 25 de Outubro de 1975 por
não ter mais condições e com risco da própria vida, tendo deixado tudo o que
conseguimos com muito trabalho e sacrifício durante mais de 20 anos.
Li alguns livros escritos por jornalistas que, com risco da sua vida acompanharam
os nossos valentes soldados nas operações no norte de Angola de onde obtive a
maior parte das fotografias, algumas incrivelmente chocantes que irei colocar no
texto para assim poder mostrar ao mundo da Internet a realidade nua e crua que
propositadamente foi encoberta e desmistificar o que se disse e escreveu em
Portugal sobre a descolonização de Angola, sobretudo pelos partidos de extrema
esquerda. Eventualmente poderei escrever algumas imprecisões nas datas dado os
anos que já se passaram e que terei de citar de memória pelo que me penitencio.
1961
Janeiro 4-24
Fevereiro 4-5
Durante o funeral dos polícias, grupos civis armados fazem batidas aos musseques
na periferia de Luanda e deixam algumas vítimas. (...) Uma combustão de violência
e de pânico convulsiona Luanda. A mitologia da coexistência racial e da harmonia
social - trave mestra da política africana de Portugal - sofre um abalo de
credibilidade. (...)
Março 6
Março 7
Março 15-18
[No Conselho de Segurança das Nações Unidas] (...) os Estados Unidos, numa
inversão da política da Administração Eisenhower, votam pela primeira vez contra
Portugal ao lado da União Soviética.
Março 22
Acordo de Alvor
Na sequência do 25 de Abril, finalmente, no Alvor (Portugal), os três concertaram
com o Governo português um acordo sobre a fórmula pela qual Angola se tornaria
independente.
O Governo devia tomar posse até ao fim de Janeiro, marcar eleições no prazo de
nove meses, e deveria ser constituído um exército unificado. Na altura da
independência, essas forças militares unificadas deveriam ter 48 mil homens - 24
mil efectivos portugueses e oito mil de cada um dos movimentos. Os militares
portugueses em excesso seriam evacuados até 30 de Abril, e todas as tropas
portuguesas deveriam deixar Angola até Fevereiro de 76.
Assinaram por baixo, por Portugal, o ministro sem pasta major Melo Antunes, o
ministro dos Negócios Estrangeiros, Mário Soares, o ministro da Coordenação
Interterritorial, Almeida Santos, e, por Angola, os líderes do MPLA, da FNLA e da
UNITA.
A independência de Angola não foi o ínicio da paz, mas o ínicio de uma nova guerra
aberta. Muito antes do dia da Independência, a 11 de Novembro de 1975, já os três
grupos nacionalistas que tinham combatido o colonialismo português lutavam entre
si pelo controle do país, e em particular da capital, Luanda. Cada um deles era na
altura apoiado por potências estrangeiras, dando ao conflito uma dimensão
internacional.
A África do Sul que apoiava a UNITA, por seu lado, invade Angola (9 de Agosto de
1975).
O Zaire que apoiava a FNLA invade também este país (Julho de 1975). A FNLA
conta também com o apoio da China, mercenários portugueses e também com o
apoio da África do Sul.
Os EUA que apoiaram inicialmente apenas a FNLA, não tardam a ajudar também
a UNITA. Neste caso, o apoio manteve-se até 1993. A sua estratégia foi durante
muito tempo dividir Angola.
MEMÓRIAS
Nasci a 25 de Março do ano de 1931 na Freguesia de Sª Maria na cidade de
Bragança no Nordeste Transmontano. O meu pai era sargento do exército na
altura prestando serviço no Regimento de Infantaria 10 mais tarde Batalhão da
Caçadores 3 que estava instalado junto do castelo e que mais tarde foi demolido
para dar uma visão mais ampla do castelo. Infelizmente o meu pai faleceu aos 33
anos de idade e tinha eu apenas 3. Sou o mais velho de três irmãos felizmente ainda
vivos. A nossa mãe, viúva mas ainda jovem, tinha um irmão mais velho em Angola
na povoação do Chengue próxima da cidade de Silva Porto (Kuito) onde tinha uma
casa e a loja comercial. Por isso resolveu ir para Angola com a intenção de voltar a
casar e nos poder dar um futuro melhor.
Este meu tio que não cheguei a conhecer pessoalmente, vivia com uma preta e
tinha, como é evidente, filhos mestiços, todos eles reconhecidos. Mesmo assim, em
1974/75 foi barbaramente assassinado à catanada pelos chamados
revolucionároslocais a quem, como era costume, devia ter vendido fiado (a crédito)
tudo o que eles necessitavam.
Ficámos entregues a uma tia que nos criou com muito carinho e sacrifício não
obstante recebermos uma pequena pensão do Estado pela morte do nosso pai. Esta
tia foi praticamente a nossa mãe tendo inclusivamente vendido todo o seu
património que herdara para nos criar porque a nossa mãe, embora já casada,
devido às complicações com a Segunda Grande Guerra Mundial, nem sempre tinha
possibilidade de nos enviar os meios suficientes para o nosso sustento.
Como se fora hoje, recorda-me da velha escola primária que frequentei no bairro
da Estacada e o meu primeiro professor Sr. Vinhas, pessoa respeitável com barba
comprida tipo judeu. Nas proximidades da velha escola estava já a ser construída
uma escola nova moderna com características arquitectónicas completamente
diferentes, mandada construir pelo governo de Salazar. Toda a estrutura principal
era de granito, amplas salas de aula com lareira e sanitários num recinto coberto
para nos intervalos das aulas nos abrigarmos quando chovia. Em Bragança havia
pelo menos quatro dessas escolas, duas para rapazes e outras duas para raparigas.
Ainda cheguei a frequentar uma dessas escolas novas na 4ª classe.
Tenho bem presente na memória que nas salas de aula na parede por detrás da
mesa do professor, havia dois quadros: um com o retrato do Presidente da
República na altura Marechal Carmona e do Primeiro Ministro Dr. Oliveira
Salazar. No centro um crucifixo. Nas paredes laterais da sala de aulas havia
quadros, não me lembra quantos, os chamados quadros de Salazar. Recorda-me
apenas de dois que ficaram, não sei porquê, gravados na minha memória. Num
deles do lado esquerdo via-se uma velha escola e o professor bêbado. Os alunos
insubordinados saltavam pelas janelas para a rua. Do lado direito viam-se as
escolas tal como aquela que eu vi construir. O outro era um quadro onde, do lado
esquerdo, se via um automóvel da época talvez um Ford circulando numa estrada
toda cheia de buracos. Do lado direito as estradas novas mandadas construir pelo
Governo de Salazar.
Nas tardes quentes de Verão íamos tomar banho no rio Sabor que é um afluente do
Douro e ficava a cerca de 2 km da cidade. As suas águas, naquele tempo,
cristalinas, com muitos peixes: barbos, escalos e bogas que nós pescávamos.
Aproveitávamos para tomar banho, principalmente nos fundões e na represa da
ponte nova que tinha uma agueira (canal) para o moinho do Castanheira. No início
dessa agueiraque era ladeada por arbustos, salgueiros e amieiros, as jovens
costumavam tomar banho vestindo apenas as camisas interiores de Verão que, com
a água, ficavam transparentem e pegadas aos corpos e nós, já rapazotes,
aproveitávamos para dar uma espreitadela e apreciar com volúpia a intimidade dos
seus esbeltos corpos.
Ponte nova do Sabor (foto do autor)
Nos dias de romaria nas aldeias no distrito de Bragança era costume contratarem
uma banda de música para animar a festa e a banda dos Bombeiros Voluntários de
Bragança era, na altura, a preferida por ser a melhor da região. No final do Verão,
os lucros da nossa actividade nas festas eram distribuídos pelos elementos da banda
que, naquele tempo, dava pelo menos, para comprar um bom fato de fazenda de lã
e também um bom par de sapatos.
Mesmo assim, com essa alimentação simples e natural nunca tomei nenhum
medicamento e a primeira injecção que apanhei foi contra a febre amarela quando
embarquei para Angola tinha 18 amos de idade. As constipações por vezes muito
frequentes no Inverno devido ao frio eram curadas com suadouro: um copo de bom
vinho tinto bem quente adoçado com mel. Normalmente resultava mas houve
amigos meus com mais posses que morrerem de tuberculose.
No nosso distrito havia minas de volfrâmio, mineral que era utilizado juntamente
com o aço no fabrico de canhões e que era vendido a bom preço aos países
beligerantes. Muita gente ganhou bastante dinheiro com o volfrâmio mas como não
estavam habituados a tanta fartura era gasto em bens desnecessários e supérfluos e,
assim como vinha, também se ia rapidamente.
Num local onde se fazia a feira semanal em Bragança chamado Toural havia uma
separadora de volfrâmio estrangeira alemã. Nas imediações viam-se escórias
provenientes do metal purificado ou apenas grosseiramente separado do minério
bruto. Os largos portões da separadora eram de madeira mas estavam quase
sempre em reparação tantas vezes eram partidos. Viatura carregada de volfrâmio e
perseguida pelas autoridades que entrasse na dita separadora estava a salvo.
Bragança, Cidadela. A casa onde residi até ir para Angola (foto autor 1980)
Concluído o curso industrial não era fácil conseguir um emprego. Com sorte, um
amigo que pertencia também à banda do Bombeiros Voluntários disse-me que no
Notário onde era amanuense precisavam de mais um empregado. Fui recomendado
para o lugar pelo meu amigo e por lá fiquei durante uns anos onde pratiquei
dactilografia numa velha máquina de escrever Remington e também escrita
manual nos livros do cartório, aperfeiçoando assim o estilo de escrever. O
vencimento para a época não era grande coisa, por isso, ou continuava como
amanuense no Notário até melhorarem as condições ao que parecia estava para
breve, ou teria de procurar outro modo de vida. Só me restavam poucas
alternativas: aos 19-20 anos ir como voluntário para a aviação em Alverca, fazer o
curso de furriel miliciano e por lá ficar o que não era fácil ou, então, ir para a PIDE
como alguns dos meus amigos fizeram. Sempre era melhor do que estar
desempregado.
Como amanuense do único notário de Bragança, conhecia muitas pessoas e, entre
elas, algumas jovens que depois da conclusão do 5º ano do liceu e para ingressarem
na Escola Nornal (Escola Superior de Educação) para se formarem em professoras
do Ensino Primário (Essino Básico) precisavam reconhecer as assinaturas dos
respectivos requerimentos. Por isso, quando me encontrava com elas na rua ou nos
jardins mantinhamos uma conversa amena e muito agradável que ainda hoje,
passados 58 anos, recordo com saudade e amor, porque não dizê-lo também.
Naquela época (anos 50) recorda-me também de uma canção romântica brasileira
que se chamava Copacabana cantada pelo "Braguinha" que uma dessas minhas
amigas frequentemente cantava e que era transmitida pela Emissora Nacional ou
pelo Radio Clube Português a qual, depois de muita pesquisa na Net consegui obter
na versão original que podereis ouvir aqui. Estou certo de que as pessoas desse
tempo que a ouvirem sentirão a mesma nostalgia que eu sinto.
Eu (no centro) e os meus irmãos (1951)
Como sempre tive uma grande aptidão para a electrónica, com algum sacrifício,
comprei alguns livros sobre o tema, muito comuns naquela época traduzidos do
Francês, onde ensinavam a fazer receptores com detectores de galena, as chamadas
simplesmente Galenas. Montei um desses receptores com o parco material que
consegui eu mesmo fazer, inclusivamente os auscultadores que eram a peça
principal e que foram feitos com fio muito fino do secundário de uma bobina de
ignição avariada de um automóvel e com duas caixas de pomada para calçado
vazias. Como não tinha minério de galena natural preparei-a com enxofre e limalha
de chumbo tudo fundido num tubo de vidro até cristalizar. Com esse aparelho
rudimentar conseguia escutar a BBC. Foi uma alegria indescritível. Mais tarde, já
com mais conhecimentos de electrónica e mais possibilidades económicas, fiz um
receptor com válvulas alimentado por pilhas e com os auscultadores apropriados.
Com este pequeno receptor e com uma antena exterior conseguia ouvir não só a
BBC como a Emissora Nacional e outras.
Entretanto a minha mãe que tinha casado há anos e estava vivendo em Vila Luso
(Luena), Angola, sabendo da minha situação, escreveu-me dizendo-me que era
melhor eu ir para Angola porque lá teria mais facilidade de conseguir um emprego
possivelmente na Diamang. Que me enviaria os meios monetários necessários para
a passagem e a respectiva carta de chamada na altura estupidamente obrigatória.
Perante todas as alternativas que tinha optei por ir para Angola.
Contactei uma agência no Porto que se encarregava de conseguir passagens por via
marítima para Angola. Em Junho de 1951 fui contactado por eles dizendo-me que
tinha passagem marcada no navio Moçambique para 15 (?) de Junho e, por isso,
comprei passagem de comboio para o Tua, daí para o Porto e depois para Lisboa.
Foi uma viagem longa a que não estava habituado. Chegado a Lisboa, tinha à
minha espera um primo que trabalhava como continuo no Ministério das Colónias.
Passei de eléctrico pelo Terreiro do Paço e, foi aí, que pela primeira vez na vida vi o
Tejo e o mar. Não fiquei muito surpreendido. No dia seguinte fomos à Companhia
Colonial de Navegação para confirmar a passagem. Como ele tinha contactos
frequentes com os funcionários da companhia perguntou a um dos seus amigos se
havia uma passagem marcada em meu nome para o navio Moçambique. Para meu
espanto não estava nada marcado. A agência do Porto sacou-me o dinheiro e fui
enganado.
No dia seguinte foi mostrar-me o navio Moçambique que estava atracado no cais da
Rocha. Foi a primeira vez que vi um navio daquele porte. Mas, mesmo assim, no
meu imaginário, pareceu-me pequeno e, por isso, perguntei-lhe: