Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
l 2
wisdom", no qual a professora JocIi futura. Mas essa perspectiva poderá
Daynard, da Universidade de Harvard, ser evitada se 08 preceilol!l da arquivo
lamenta a substituição doe ma mISCritos logia, sobretudo no que dizem respeito
por disquetes e listagens de computa à criação, procedência e preservação de
dor. uEm breve", escieve ela, "nossos regish08, forem observados. O que é de
conceitos de 'texto' e 'autor' mudarão se esperar, pois a cada dia que paAAa os
inexoravelmente". Ou, como afil"ma Eli· arquimtal5 ee tornam mais conseien·
zabeth Falsey, '''Thxtos têm autoria. A tes de que 08 princípios da arquivolo
infotJllação é anônima.·' Daynard en· gia, que tradicionalmente têm forneci
cena seu estudo com estas palavras: do os fundamentos teóricos e metodo
"Em breve, muito em breve - é o que 08 lógicos para a fidedignidade e a auten
manuscritos parecem dizer-n05 - sere ticidade dos regislios - assunto abor
mos apenas os papéis ou as listagens
• dado antes dá maneira tão clara pela
que deixarmos para trás." E claro para professora Duranti -são mais cruciais
ela que o advento das tecnologias da ainda quando se trata dos registros
info ....'AçãO digitalizada conduz inevita digitalizados presentes e futuros.
velmente à proliferação de uma ilÚor Nesse contexto, o elÚoque de minha
mação desprovida de sentido, anônima palestra recai sobre o papel crucial que
e descon textualizada. os arquivistas e a arquivologia desem
Na realidade, tudo aquilo que os penham para assegurar que os docu
indivíduos ou a sociedade deixam atrás
mentos eletrônicos que hoje estão sen
de si como "memória" (isto é, artefatos,
do criados e usados possam no futuro
registros) é produto da tecnologia da
estar disponíveis aos estudiosos das
ilÚormação disponível na época. Sob
ciências sociais e humanas de urna for
esse aspecto, o ambiente das tecnolo
ma confiável e em condições de utiliza
gias da irúormação digitalizada ora
ção. Meus comentários estão organiza
emergentes não difere substancial
dos em três partes distintas.
mente daquele da transição da memó
A primeira parte concentra-se no
ria para a escrita. ou da escrita para a
ambiente atual das tecnologias da in
imprensa. Não obstante, concordo que
forlllação digitalizada. Será feito um
o cenário futuro de Daynard possa per
resumo das principais tendências das
feitamente ser um dos resultados da
tecnologias da ilÚormação digitalizada
utilização das tecnologiss da informa
e de como elas podem afetar a criação,
ção digitalizada. Existem com certeza
o uso e a preservação de registros. En-
-
tais. Na verdade, são apenas sinais ele prova dos. fatos e ações, mas decisões
trônicos - 1 e O - que não dependem de desse tipo podem criar uma avalanche
seu suporte como os registros em papel. de problemas, inclusive a destruição
talvez aos 500 anos. 10 Além do mais, os cionados desde a Guena Civil Ameri
negativ06 podem ser utilizados quase cana. O estudo, iniciado em 1987, de
indefinidamente para a obtenção de monstrou que a tecnologia da digitali
novas cópias sem que ocorra perda de zação da imagem e do sistema de recu
ll
ilÚOl'lnação, Mas, não obstante eMes peração utilizado no projeto pode pro
pontos fortes, o microfilme é pouco prá duzir imagens superiores e acelerar o
tico para 06 pesquisadores por não ter processo de recuperação para a própria
a portabilidade da fotocópia e não se equipe e para 05 pesquisadores.
•
que estão sendo criados hoje. Os ttês ter,....., arquivistico enquanto tal.
principais obstáculos que merecem hoje
l1088Q atenção são: a unicidade doe re 3.2 Autenticidade
gistnA digitalizadoe em uma bs... da
dados compartilhada ou em rede; a au Os estudiosos e pesquisadores que
tenticidade dos documentoe eletrónieoe utilizam algum material como fonte
diante do fato de a tecnologia poeeibili primária em sua pesquisa partem, em
tar a reinvenção da realidade (ou das geral, do pressuposto de que tal mate
fontes histórica,,) deixando pouco ou ne rial é confiável e fidedigno. Trata-ee de
nhum vestígio de que houve distorção uma "autenticidade presuntiva", por
ou falsificação; e a preservação ao longo que a maior parte do material conside
do tempo de documentoe eletrónieoe que rado fonte primária - registros para 08
são produto de um ambiente em que a arquivistas - não passa de um subpro
obsoleecência tecnológica é o fator mais duto de transações rotineiras exigidas
importante de propulsão. para se levar a cabo uma ação Gegal,
fmaneeira ou comercial), e esses sub
3.1 Unicidade produto. acabsm fOl'mando um corpua
de materiais relacionad08 entre si. A
Como a professora Duranti observou presença de um documento em um cor.
em sua palestra, a unicidade doe docu pua constituído de tipos semelhantes
mentoe arquivisticos é atestada Wlas de material, que se sabe ou se acredita
relações contextuais dos criadores e terem sido produzidos de acordo com
W5IlÁM08 doe registt06, bem como peloe procedimentos-padrão, acaneta uma
próprios documentoe. Os arquivistas presunção de fidedignidade e autenti
acreditam que a unicidade do documen- cidade. Por conseguinte, tanto o con-
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO DIGlTAUZADA 75
cesr
sa oe mesmos dados digitalizados sistamas operacionais se tornam obso
com oe mesmoe Iesultados. E o que se letoe. Não obstante. ela fornece a plata
chama de interoperabilidade. que em fOl"lUa em que se pxlem desenvolver
geral se torna evidente na. aplicações d'las diferentes abordagens. Aprimeira
de ba""" de dadoe relacionais semelhan delas seria a transferência de todoe oe
tes ao SQL. Ainteroperabilidade é par problemas de recuperabilidade e inteli
ticulalmente difícil no caso de imagens gibilidade pera o futuro. na expectativa
digitalizadas em que se utilizam cabe de que 05 USUÁrios sejam capa1.e8 de
çalhoe de arquivo de imagem ou técni praticar a engenharia reversa do 8Oft
cas de compressão que são patenteados, UJwe original ou de que o 80ftware e os
e não de domínio público. Os dad"" di eistemas operacionais sejam "inteligen
gitalizadoe. sobretudo as imagens digi tes" o suficiente pera conseguirem a
talizadas. que só podem ser processados recuperabilidade e a inteligibilidade
em um deieJ'ülinado ambiente paten com pouca ou nenhuma intervenção hu
teado. estão bem mais sujeitos a se tor mana. Daqui a duzentos anos. por
nar ininteligiveis à medida que o am exemplo, a engenharia reversa de um
biente vai se tornando obsoleto. 80ftware desenvolvido noe anos 80 terá
Asuperação da obsolescência tecno de basearse na consulta a extensa do
lógica da digitalização requer dois tipos cumentação referente ao software origi
de atividades: recopiagem periódica e nal. tarefa factível mas s � ita a um
migração para as novas geraçéee da sem-número de problemAS. .
tecnologia. A recopiagem periódica da Asegunda abordagem é confiar /las
infOllililÇão digitalizada com o objetivo normas internacionais que garantem a
de se manter em consonância com a interoperabilidade e as migrações de
tecnologia existente ofele ce uma garan atualização entre gerações de tecnolo
tia absoluta de legibilidade. Quando o gias. A título de exemplo. uma norma
volume da infollnação digitalizada é re pera documentação eletrénica interati
lativamente pequeno e o tempo trans va, como o Infonl1ation Resource Dictioa
corrido entre as cópias fica na faixa dos nary SY"tem (lRDS). visa estabelecer
dez anoe. tudo parece bastante atraen uma ponte entre sistemas de softwwe
te. Mas a verdade é que cópias periódi que de outra fOIDI a seriam incompetí
23
ca8 a cada dez anos, ou menoe, podem veis. estendendo assim a inteligibili
vir a constituir..,e em um pesado encar dade dos registms digitalizados por
go fmanceiro. até mesmo quando oe cus uma ou duas gerações da tecnologia.
tos dos meios de Bnnazenagem são ex· Existem oult-as noru,AS internacionais
tremamente baratos.21 As nOI'IUAS para em desenvolvimento. que. juntamente
intercâmbio de dados. que tratam da com o IRDS. formam um conjunto de
migração pera novas ve rsões de siste normAS as quais, caSO obtenham ade
mas ou para novos sistemaa, podem são, poderão no curto prazo contribuir
estender o tempo entre cópias de dez. pera a solução de muitos dos problemas
por exemplo. para vinte anos. Essas da obsolescência tecnológica.
mesmas normas podem também ser
utilizadas na trallBição entre gerações
das tecnologias computacionais.
A manutenção da legibilidade da in Conclusão
fOlD18ção digitalizada ao longo do tempo
não garante a recuperabilidade e a in o que está em jogo pera o acesso
teligibilidade quando o 80ftwwe e os futuro aos registros digitalizados é o
78 ES1'UDOS HISTÓRICOS - I 994J1 S
mento deve incluir a participação no 5. liDados" são aqui definidos como códi·
projeto dos catálogos de recursos infol" gos numéricos ou aJfanumériC"08 cqjo valor
macionais ou dos sisu.mas de metada é explicado pelos metadados (isto é, pela
dos, para garantir que os catálogos de documentação). "Thxto", a sua vez, é defini
fato venham a conu.r toda a infol'lllação do como o materiaI documental tradicional
(por exemplo, cartas, livI'os e Assemelha
contextual essencial à plena compreen
dos), que é auto-referencial, não exigindo
são dos regist:oo em questáo. Os arqui
documentação externa para ser inteligível.
vistas também devem envolver-se com
6. o que segue baseia-eeem grande parte
a elaboração do IRDS para assPgurar
em um ensaio rudimentar de Avra Michel
que a nOIm a deu.rmine funções relacio
.on e JeffRothenberg, "Scholary communi
nadas com a proveniência.
cation and infonnation technology: expio
As novas tecnologias da informação ring the impact of changes in the research
náo mudaram nem é provável que con pl"OCeS8 on archives", TI� American Archi
sigam mudar a natureza dos regisboo vist, vol. 55, n' 2 (primavera de 1992), p.
como provas de ações e transações, que 236-315.
tém um contexto especifico de criação e 7. Op. cit., p. 226.
uso. Esse aspecto da arquivologia com- 8. (The British Academy, 1993).
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO DIGITALIZADA 79
9. É claro que se podem produzir suces tação, embora não té:u ,iea, encontra-ee em
sivas geraç'-:5 de cópias do documento em Bany Cipra, �ecbvnic timestamping: the
papel. notary public gcca digital", Science, vol. 261,
10. Trata�e do microfi}me em preto e jul l993, p. 162-163.
branoo com emulsão 8 base de sal halóide de 20. Em 1986, em um seminário na
prata, prc-4saado quimicamente de acordo OCLC, em Colwnbus, Ohio, defini a plftrer
com a ANSI PH1.28. Ver preseJvaticm of vação doe regisbve eletrôni"-'8 oomo a ma _
lU.torical ,ocol'CÚI (Washington, DC, Natio nutenção do aoruo ao longo do tempo. Uma
nal Research Council, 1986), p. 49-55. exprusão mais feliz dcsse conceito é "ptv
11. Isto não vale para a cópia de segunda exS8amento.contlnuo", introduzida por Dou
geração, na qual a perda de informoção de glas van Houweling. Ver M. Stuart 4'nn e
wna geração para outra pode chegar a 20%. o 'Thchnology A-s8!sment Adviaory Com
12. Para uma excelente avaliação, ver mittee to the Commie-ion on P.:aervation
Hans Rutimann e H. Stusrt. Lynn, '�mpu and AoocJtA , Pl'eBeJvatinn, and. Q")'Y',88 techllo
terization Project of the Archivo General De wgy, ti", relationship between digital culd
olher media ccmverawn processes: a strllctll
lndias, Seville, Spain", The Commission on
redgloasaJ'Y oftecllnical l6m8 (Commi ..ion
Preservation and Af1(f58 (Washington, mar·
on Prseervation and Arorre, age 1990), p. 3.
ço de 1992).
13. Conversa oom o autor, 11 de maio de 21. Enquanto o custo por byte oontinua a
1993. declinar para 08 meios de armazenagem, o
volume da informação digitalizada a exigir
14. Miehael Lask, "Image formais for
reoopiagem periódica Clesoe dramatica
preservation and aoce3s", A report af the
mente. O desafio básico será então a taxa de
7l!clmology Asse8snumt Aduisory Commit
transferência de dados relativamente baixa
tu to the Commission on Pl'eservation OJ,d
doa dispositivos disponíveis, sobretudo da
Acc... (Washington, 1990).
queles fabricados para o meltAdo consumi
15. Anne R. Kenney, Pl'ese1l)ing orehi dor (por exemplo, dl'Íues de fite DATou QIC
ual material t"l'Oug" digital tecJ"'DÚ>qy (l t e cassetes), Cl.\io ponto crítioo é o preço, e não
haca, New York, Cornell University, 1993). o desempenho. Dado o awnento substancial
16. O conceito de "não·adulterado" é ex no volume da infonnação digitalizada, as
traído de Lester K Bom, 'The De Archivis baixas taxas de transferência podem dificul
Commentarius ofA1bertino Ban.oni (1587- tar muito, em te.nnoe financeiros e de tem
-1667Y', AJ'chiuali8che 7...ü8Ch,.if/., n· 50-51, po, a OOpi8 dos dados para a próxima gera
1955, p. 21, o qual, a sua vez, cita Justinia ção da teuiologia.
no.
22. Para lima das primeiras desaições
17. Boa parte dessa exposição está calca de alguns de!SE3 problemas, ver Charles
da em UArchivists and tecoreis managers in Dollar, "Documentation af machine reada.
the information age", que será publicado em. ble records and research: a historians' view",
AJ'cJuool'ia. P,owglle: TI", Joul1lal of ti", National Ar
18. Para wna boa apresentação daarqui cJliues, vol. 3, primavera de 1971, p. 27-31.
tetura cliente-servidor, ver ElJen Ullman,
23. Sistemas incompatíveis de so{tware
"Client/server ficcs data", Byte, vol. 18, n9 7, também incluem softwares que se torna
jun 1993, p. 96-106.
ram obsoletos.
19. Para uma apresentação informativa
do "carimbo nwncrador digital", ver Peter
Graham, "Intellectual pteservation in the
electronic environrnent''. em Arnold Hirs
Not,,: Este texto foi lido pelo professor
hon (org.),Afle,. ti", ,..,uollltio/l willYOIl b. ti", Charles Dollar 'no Seminário ·CPDOC 20
fil'.t ID go? (Chicago, American Library As anos". A tradução é de Francisoo de Castro
sociation, 1993), p. 24-33. Uma boa apresen- Azevedo.