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ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
CONTRIBUIÇÕES DA ENGENHARIA DA
SUSTENTABILIDADE NO LEVANTAMENTO E NA ANÁLISE
DE PARÂMETROS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NO
RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO DA ESCOLA DE
ENGENHARIA
NITERÓI
JULHO/2017
BRUNA BARROSO MOREIRA
Orientador:
Gilson Brito Alves Lima
Niterói, RJ
2017
BRUNA BARROSO MOREIRA
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. GILSON BRITO ALVES LIMA – Orientador
UFF
___________________________________________________________________________
Profa. Dra. NÍSSIA CARVALHO ROSA BERGIANTE
UFF
___________________________________________________________________________
Prof. Dr. RUBEN HUAMANCHUMO GUTIERREZ
UFF
___________________________________________________________________________
MSc HÉCTOR NAPOLEÃO COZENDEY DA SILVA
UFF
Niterói, RJ
2017
AGRADECIMENTOS
Incondicionalmente à toda minha família, especialmente à minha mãe e ao meu pai, pelo
apoio e sugestões de melhoria durante toda essa jornada; à minha madrasta pelas correções
ortográficas e semânticas e pela contribuição ao Apêndice 1; aos meus avós maternos pelo apoio
e compreensão quando precisei de foco e concentração.
Ao meu orientador Prof. Dr. Gilson Brito Alves Lima, pelos conhecimentos transmitidos
e pela confiança em meu trabalho. Ao MSc Héctor Napoleão Cozendey da Silva, pelo apoio e por
suas contribuições. À Profa. Dra. Maristela Soares Lourenço, pelo suporte e contribuições junto
ao Projeto de Extensão.
Aos meus amigos, pelo companheirismo e carinho, em especial a Mayara Silva de Melo,
pela sua amizade desde o primeiro dia do curso de Graduação em Engenharia de Produção e pelo
grande auxílio com a formatação de texto, e a Fernanda Reis Cordeiro, por suas inspirações e
bons conselhos para o trabalho e na vida.
Sustainability Engineering is a branch of Production Engineering, which seeks the efficient use of
natural resources in production systems, as well the environmental management and social
responsibility implementation. Thinking about it, were identified the high food production and
the inappropriate disposal of the waste generated by the University Restaurant of the Engineering
School of the Universidade Federal Fluminense. Therefore, the purpose of this work was to
identify and evaluate the contribution of organic waste for possible energy efficiency through the
technological innovation of biodigesters. The field research has collected data to ascertain the
energy potential arising from the treatment of such waste generated by the restaurant. The
benefits brought by the implementation of this technological innovation were also analyzed. The
results achieved were: the daily average amount of organic waste generated by the University
Restaurant of the School of Engineering of 40.7 kg and the corresponding monthly energy output
of 185.3 kWh. Finally, the implantation of a biodigester in the University Restaurant would
generate positive impacts in the three pillars of sustainability: economic, environmental and
social.
1 O PROBLEMA ......................................................................................................................... 10
1.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 10
1.2. FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA ........................................................... 11
1.3. OBJETIVOS DO ESTUDO ............................................................................................. 13
1.4. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ...................................................................................... 13
1.5. QUESTÕES DA PESQUISA........................................................................................... 13
1.6. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO ..................................................................................... 14
2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................... 15
2.1. SUSTENTABILIDADE ..................................................................................................... 15
2.2. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA ............................................................................................ 16
2.3. GESTÃO DE RESÍDUOS ORGÂNICOS .......................................................................... 18
2.4. BIODIGESTOR .................................................................................................................. 21
3 METODOLOGIA..................................................................................................................... 27
1 O PROBLEMA
1.1. INTRODUÇÃO
Na Alemanha, por exemplo, uma política para substituir suas fontes de energia nucleares
por fontes mais sustentáveis foi adotada, o que inclui a desativação das suas usinas atômicas até
2022. A revolução energética da Alemanha surge em 1980, após o acidente de Chernobyl
(Ucrânia), ganha força em 2011, após o caso de Fukushima (Japão), e tem como meta alcançar
80% de toda a energia do país a partir de fontes limpas e renováveis, até 2050. O termo
energiewende, que em português significa “virada energética”, simboliza o movimento adotado
pelo Governo e sua população e já traz resultados consideráveis, como o aumento de 23% destas
fontes de energia em apenas 2 anos (GLOBO, 2016).
Um dos caminhos adotados pelas indústrias para a preservação dos recursos naturais é a
gestão de resíduos, a fim de garantir a sustentabilidade socioambiental. Afinal, os resíduos
apresentam alto valor, econômico e energético, e enorme possibilidade de se constituírem
insumos de novos produtos comerciais ou de processos secundários, inclusive gerando energia
(LAUFENBERG et al., 2003). Para Prado e Campos (2008), quando não aproveitada a matéria
orgânica, deve-se considerar o desperdício de energia e a poluição recorrente da disposição não
controlada destes no ambiente.
É válido também lembrar que todo resíduo é matéria-prima jogada fora, cujo valor desta é
superior à venda do reciclado. Isto é, primeiramente, deve-se haver uma preocupação em reduzir
a quantidade de resíduos produzidos e, daqueles que inevitavelmente são gerados, deve-se tratar
adequadamente. Ressalta-se a sua importância em tempos de baixo crescimento econômico e de
crise financeira nas Universidades.
por apresentar vantagens significativas. De acordo com Salomon e Lora (2005), a fonte de
energia alternativa do biogás, proveniente da digestão anaeróbia de resíduos sólidos ou líquidos,
“contribui em muito na questão ambiental, pois reduz potencialmente os impactos ambientais da
fonte poluidora”. Um dos fatores é a diminuição nas emissões do gás metano de grande impacto
no efeito estufa e corresponde em até 70% do biogás (PECORA, 2006; FAZOLO, 2011).
Além disso, são produzidos diariamente no Brasil cerca de 100.000 toneladas de resíduos
sólidos urbanos, sendo que mais de 50% da massa dos mesmos corresponde a fração orgânica
(ALBERTONI, 2013). É notável o potencial energético e os benefícios socioambientais
decorrentes do reaproveitamento destes resíduos. Como eles passam a agregar valor econômico,
devem seguir a Política dos 3R’s, sendo reduzidos, reciclados e reutilizados em outras cadeias
produtivas, e reduzindo os impactos ambientais, os custos de destinação, demanda por matérias-
primas e energia (BONELLI, 2010).
Este projeto está também delimitado ao contexto dos parâmetros físicos, não sendo
aprofundadas as pesquisas na direção dos parâmetros químicos e biológicos, que também fazem
parte do contexto da promoção da eficiência energética por biomassa com aplicação de
biodigestores.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1. SUSTENTABILIDADE
O Triple Bottom Line propõe que o sucesso organizacional é medido não apenas pelo
lucro gerado pelo negócio, mas pela interação do desempenho nas dimensões econômica, social e
ambiental (DE LIMA et.al., 2009). Assim, muitas organizações passaram a comunicar seus
desempenhos e suas inter-relações baseados nestes três pilares da sustentabilidade (ISENMANN
et al., 2007).
Este conceito realça que a sustentabilidade vai além de apenas uma preocupação com o
meio ambiente. Segundo Campos (2010), para ser sustentável deve-se ser ambientalmente
correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito. Ao englobar tais
vertentes, as empresas compõem novos objetivos, visando evitar prejuízos ao cumprir as leis e
normas, aumentando a qualidade dos processos e produtos ou serviços, diminuindo custos
(SCHMIDHEINY, 1992), com a redução do consumo de energia e insumos, diminuição de
resíduos e com o reaproveitamento destes. Passa a ser fundamental que a gestão ambiental seja
parte integrante da gestão global da organização (PAIVA, 2013).
Uma das formas para reduzir o desperdício seria a revalorização dos subprodutos, pois o
que é resíduo para uma empresa pode ser matéria-prima para outra. O reaproveitamento de
subprodutos é excelente para reduzir custos e diminuir emissão de resíduos, podendo inclusive
resultar em alguma receita. Deve-se ter em mente a busca do desperdício zero, porém metas
absolutas são utópicas. Como não é possível ter resíduo zero, deve-se dar um fim no mesmo.
Como foi visto, não é legal, tanto no sentido estrito da lei como da razoabilidade, jogar lixo em
lugares que polua a natureza, desse modo, uma forma de reaproveitar o lixo do restaurante seria
transformá-lo em insumo para um biodigestor, que também levaria à redução com gastos de
energia, uma vez que o biogás alimentaria o próprio bandejão, podendo inclusive ser
autossuficiente.
energéticos de baixo custo e de baixo impacto ambiental (MENKES, 2004; TOLMASQUIM et.
al., 2007; LUCON & GOLDEMBERG, 2007, 2009).
A importância da gestão dos resíduos sólidos faz com que exista um Plano Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS) no Brasil, a exemplo de outros países no mundo. O principal objetivo
do plano é contextualizar a situação no país, estabelecer cenários, programas, ações e metas para
orientar a política brasileira de resíduos sólidos.
19
É válido destacar algumas definições segundo a Lei 12.305/2010 (BRASIL, 2010), que
disciplina a Política Brasileira de Resíduos Sólidos:
De acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, 2012), é preciso adotar
uma cultura de produção e de consumo mais sustentável e uma gestão dos resíduos mais eficaz,
“por meio de uma ampla e profunda ação pedagógica que incentive a não-geração, a redução, a
reutilização, o tratamento e a destinação final ambientalmente adequada”. Por isso este trabalho
também visa induzir futuros estudos com esta temática incentivando atitudes acadêmicas e
pedagógicas que possam culminar em políticas públicas no tema.
17%
32%
Material reciclável
Matéria orgânica
Outros
51%
Figura 1 - Estimativa da composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos no Brasil em 2008
A partir de dados do IBGE (2010), apenas 1,6% (1.519 t/d) dos resíduos orgânicos
coletados no ano de 2008 foi encaminhado para tratamento via compostagem. Isso ocorre uma
vez que não há separação adequada na pré-coleta, ou seja, na fonte, gerando despesas que
poderiam ser evitadas.
Para mais, tal resíduo pode representar risco ao meio ambiente quando em grande volume
e se disposto de maneira inadequada, conforme visto anteriormente, pois em seu processo de
decomposição gera lixiviado, emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, além do
favorecimento da proliferação de vetores de doenças.
Por outro lado, a gestão de resíduos orgânicos tem muitos benefícios, como a geração de
renda, por meio da venda do subproduto biofertilizante, a redução do consumo de energia
elétrica, com o uso energético do biogás, bem como da emissão do gás metano na atmosfera, o
qual tem um “potencial de aquecimento global (efeito estufa) 21 vezes maior que o do gás
carbônico”, conforme Andrade et al. (2002).
Outras externalidades desde tipo de resíduo são o odor causado pelos “gases liberados
pelo metabolismo dos microrganismos anaeróbios, a contaminação de águas superficiais e
subterrâneas causada pelo lixiviado, líquido resultante da decomposição anaeróbia, com alta
21
carga poluidora, a elevada demanda por áreas para disposição dos resíduos, problemas sociais e
de saúde pública”, citadas por Ferreira (2015).
Segundo um estudo realizado pela Food And Agriculture Organization (FAO), estima-se
um desperdício anual de um terço da produção mundial de alimentos para consumo humano. Este
valor equivale a 1,6 bilhão de toneladas de alimento, sendo praticamente a totalidade desses ainda
propícia para comer. Além disso, esse resíduo é responsável por aproximadamente 8% das
emissões globais de gases de efeito estufa na atmosfera (FAO, 2013).
2.4. BIODIGESTOR
biodigestor mostra grande potencial no país, que permitira se apresentar em lugar de destaque no
processo de geração de biogás e na sua conversão em energia. Há justaposição desta tecnologia
às metas do Governo Federal presentes no Plano Nacional de Resíduos Sólidos (2012), que são:
redução, reutilização, reciclagem, aproveitamento energético dos gases, a eliminação e
recuperação de lixões, medidas para incentivar e viabilizar a gestão regionalizada.
Um biodigestor pode ser definido como uma câmara fechada, onde a biomassa sofre a
digestão pelas bactérias anaeróbicas, produzindo o biogás e o biofertilizante, na ausência total de
oxigênio (GASPAR, 2003; PEDERIVA et al., 2012; SILVA, 2012). O processo geralmente é
composto por um sistema de entrada de matéria orgânica, um tanque onde ocorre a ação
microbiológica e um mecanismo para retirada de subprodutos (REIS, 2012). A Figura 2 ilustra o
processo da biodigestão, suas entradas e saídas, e a Figura 3 e 4 são fotos de modelos de
biodigestores.
A Tabela 1 apresenta a composição do biogás, sendo que esta varia de acordo com a
natureza do composto orgânico utilizado como insumo. Como observado, as maiores proporções
são de metano e de gás carbônico. Todavia, como o gás carbônico é incombustível, pode-se
eliminá-lo através da dissolução em água; por outro lado, é possível obter um biogás com cerca
de 95% de metano de poder calorífico de cerca de 8.500 kcal/m3 (ARRUDA et al., 2002a).
Conforme Arruda et al. (2002b), um exemplo prático da eficiência do gás é que 1m3 do mesmo
corresponde ao consumo de energia para o preparo de três refeições diárias para uma família de
cinco pessoas. A Tabela 2 compara o poder calorífico do biogás em relação a outras fontes de
energia, em condições ambientes.
Gases %
Metano (CH4) 50 a 80
Gasolina 0,31 L
Querosene 0,34 L
GLP 0,40 L
3 METODOLOGIA
O desenvolvimento do trabalho de conclusão de curso em questão pode ser observado na
Figura 5, na qual são expostos os passos realizados no estudo.
Fonte: Autora
Para cumprir este papel, é iniciado o segundo passo. Primeiramente, no capítulo um,
foram definidos o tema sustentabilidade, eficiência energética e gestão de resíduos. Ademais, foi
estabelecido um foco mais específico em biodigestor como tecnologia que envolve os dois
últimos mencionados. No segundo capítulo, reforçou-se o embasamento por meio de pesquisas
em diferentes referências (artigos científicos, teses, dissertações, revistas, sites, livros, etc),
28
Segundo Vergara (2011), existem dois critérios básicos para definição do tipo de
pesquisa: quanto aos fins e quanto aos meios. Quantos aos fins, o presente estudo é descritivo,
tendo como principal finalidade identificar, registrar e analisar características, fatores ou
variáveis que se relacionam com um processo.
Após a pesquisa de campo, é necessário analisar seus resultados para que seja possível
chegar a uma conclusão. Para a análise, foi realizado um levantamento de dados para definir o
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potencial energético proveniente da biodigestão de tais resíduos. Assim, o passo seguinte foi a
análise propriamente dita dos dados das duas etapas anteriores.
O passo seguinte foi aplicar filtros para auxiliar a seleção de um biodigestor para atender
as demandas do Restaurante Universitário da Escola de Engenharia da UFF. Os filtros foram os
seguintes: quantidade média de resíduo gerado, potencial diário de produção de metano e preço.
Nesta última etapa, foi selecionado um biodigestor comercial com tal finalidade.
A UFF de Niterói dispõe de seis refeitórios distribuídos em cinco campi: Gragoatá, Praia
Vermelha, Reitoria, Veterinária e Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP). Os horários de
funcionamento no almoço variam de campus para campus na faixa de 11h30 até 14h30, de
segunda-feira à sexta-feira. Nos campi Gragoatá e Praia Vermelha são ofertadas refeições
também no jantar das 17h00 às 19h00, de segunda-feira à sexta-feira, sendo que nas sextas-feiras,
no Praia Vermelha, funciona apenas das 17h00 às 18h00 (UFF, 2017).
Há uma produção média de 8.000 refeições por dia na cozinha central do Gragoatá, que
são distribuídas para todas as unidades. Sendo servidas neste campus, em média, 3.887 refeições
por dia. Já no campus Praia Vermelha, em média, 833 refeições diariamente.
31
Tabela 3 – Refeições consumidas pelo RU Praia Vermelha e RU Gragoatá no mês de abril, maio e junho
de 2017
Praia
Mês Gragoatá
Vermelha
Abril (número de refeições) 10.665 57.032
Maio (número de refeições) 21.448 91.921
Junho (número de refeições) 13.464 61.909
Média mensal (número de refeições/mês) 15.192 70.287
Média diária (número de refeições/dia) 833 3.887
Fonte: Projeto de Extensão (2017)
Para fins comparativos e por já fazer parte da coleta de dados do Projeto de Extensão,
estão também estarão presentes os valores referentes ao campus Gragoatá, cujos resultados
comparativos estarão expressos nas tabelas 4 e 6.
Os resíduos orgânicos gerados pelo RU Praia Vermelha consistem das sobras sujas e
limpas do processo de servir a comida (rejeito) e dos restos alimentares dos pratos dos usuários
(restos). Isto é, resíduos que ficam no fundo dos recipientes de armazenamento da comida,
alimentos que caem no chão e resíduos que são descartados pelos usuários. Não são considerados
os resíduos do processo de produção das refeições.
De acordo com os dados obtidos pelo Projeto de Extensão referentes ao mês de maio de
2017 (Tabela 4), a média de resíduos orgânicos gerados diariamente é 40,7 kg. Em comparação, a
média do campus Gragoatá é 198,3 kg. No período em questão, os números de refeições servidas
nos campus Praia Vermelha e Gragoatá foram, respectivamente, 21.448 e 91.921, produzindo um
total de 976 e 4.758 kg de resíduos orgânicos.
33
Tabela 4 – Resíduos orgânicos gerados pelo RU Praia Vermelha e RU Gragoatá no mês de maio de 2017
A partir desse valor médio é preciso saber qual quantidade útil desse material será efetivo
para produção de energia. Para isso, necessita-se calcular o teor de degradabilidade do substrato
afluente a partir do percentual de sólidos voláteis totais (SV).
Foi utilizado como base os dados do estudo de Rocha (2016), que em seu levantamento
bibliométrico compilou os dados expostos na Tabela 5, que representam a taxa útil de resíduo
alimentar para a produção energética.
Utilizando o valor médio da Tabela 5, tem-se que apenas 23% dos resíduos totais são úteis
no processo de transformação em energia. Dessa maneira, temos um valor liquido de 9,4 kg SV
por dia (Tabela 6).
O metano tem um poder calorífico inferior de 9,9 kWh/m3 (CNTP), conforme Coldebella
et al. (2006). É valido ressaltar que o biogás terá um poder calorífico inferior abaixo do
mencionado, devido ao teor de metano presente no mesmo (50 a 80%). Deve-se atentar, também,
para a taxa de eficiência da conversão do biogás em energia elétrica, que, para motores ciclo
Otto, é de aproximadamente 25% (CCE, 2000). Com isso, tem-se que o potencial energético
diário do RU Praia Vermelha é de 37,1 kWh e a produção diária real de 9,3 kWh (Tabela 6).
Considerando apenas dias úteis, que geralmente correspondem aos dias de funcionamento
do RU, a produção mensal real deste campus é de 185,3 kWh e a produção para o campus
Gragoatá é 903 kWh (Tabela 6).
Com os dados da quantidade média de resíduo gerado (40,7 kg) e do potencial diário de
produção de metano (3,7 m3 CH4/dia), será possível realizar a seleção do melhor biodigestor que
se adeque a essas restrições.
Input Produção
Input Produção média
matéria média de
No Capacidade (L) água esperada de Preço (R$)
orgânica biofertilizante
(L) biogás (m3/dia)
(kg) (L/mês)
1 10000 150 150 5 113 R$8.950,00
2 10000 150 150 5 113 R$5.900,00
3 5000 75 75 2,5 4500 R$6.850,00
4 5000 75 75 2,5 4500 R$3.800,00
5 1000 12,1 10 1,4 10 R$1.600,00
6 2000 24,3 20 2,8 20 R$2.500,00
7 5000 75 75 1,5 3500 R$2.779,00
8 7500 113 113 2,25 5250 R$3.223,00
9 10000 150 150 3 7000 R$3.644,00
10 600 7,3 6 0,8 6 R$1.597,91
11 600 7,3 6 0,8 6 R$1.499,00
12 1300 15,8 13 1,8 13 R$2.485,90
13 3000 36,4 30 4 30 R$6.949,00
Fonte: Autora
Para efeito de tomada de decisão, foram adotados três filtros para avaliar a melhor opção
de biodigestor:
Este filtro restringe os es pela capacidade do mesmo de processar por batelada a demanda
do RU Praia Vermelha, que, conforme visto anteriormente, são 40,7 kg de resíduo orgânico
37
gerados, em média, diariamente. Assim, todos aqueles que possuírem um input de matéria
orgânica inferior a tal valor não passará pelo critério.
Input Produção
Input Produção média
matéria média de
No Capacidade (L) água esperada de Preço (R$)
orgânica biofertilizante
(L) biogás (m3/dia)
(kg) (L/mês)
Pode-se eliminar os modelos: 5, 6, 10, 11, 12 e 13, vide Tabela 9. Em seguida, foi
utilizado o segundo filtro.
Input Produção
Produção média
matéria Input média de
No Capacidade (L) esperada de Preço (R$)
orgânica água (L) biofertilizante
biogás (m3/dia)
(kg) (L/mês)
1 10000 150 150 5 113 R$8.950,00
2 10000 150 150 5 113 R$5.900,00
Fonte: Autora
Este critério é o preço propriamente dito, pelo qual é selecionado o de menor valor.
Input Produção
Produção média
matéria Input média de
No Capacidade (L) esperada de Preço (R$)
orgânica água (L) biofertilizante
biogás (m3/dia)
(kg) (L/mês)
2 10000 150 150 5 113 R$5.900,00
Fonte: Autora
Este resultado traz impactos positivos para a Universidade como um todo, em particular,
com a conscientização sobre o tema e a importância dos cuidados necessários com os resíduos de
processos produtivos, especialmente aqueles associados a problemas socioambientais.
• Econômico:
o Eficiência energética
o Uso de fontes renováveis de matéria-prima
o Uso de rejeitos com valor econômico
o Redução de gastos logísticos para destinação dos resíduos
o Abatimento nas contas de luz e de gás
o Venda de crédito de carbono
39
É válido ressaltar que a questão cultural pode ser um fator limitador para a implementação
do biodigestor em diversos segmentos. Como se pode observar no Brasil, onde a tecnologia já
existe a algumas décadas e há grande potencial de utilização, ainda não é muito difundida nem
muito estudada.
40
5 CONCLUSÃO
5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS:
• Econômico:
o Eficiência energética
o Uso de fontes renováveis de matéria-prima
o Uso de rejeitos com valor econômico
o Redução de gastos logísticos para destinação dos resíduos
o Abatimento nas contas de luz e de gás
o Venda de crédito de carbono
o Adequação à Lei de Gestão de Resíduos
o Uso de recursos de fundos de financiamento
• Ambiental:
o Redução da emissão de gases de efeito estufa
o Redução da contaminação da água e do solo
o Desenvolvimento e utilização de energia limpa e renovável
o Reuso e proteção de recursos hídricos
o Proteção de áreas de despejo
o Proteção de recursos naturais
• Social:
o Produção de conhecimento nacional, patentes, teses e dissertações
o Viabilidade de projetos educacionais e de extensão
o Contribuição para a sociedade, através da redução da proliferação de vetores
de doenças e do odor
o Capacitação de pessoal para atuar nas áreas envolvidas, como gerenciamento
de resíduos orgânicos e desenvolvimento da biotecnologia
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49
APÊNDICE 1
Quantidade de resíduos orgânicos gerados por uma residência com três adultos
Dia Kg
1 0,3
2 1,2
3 1,1
4 1,1
5 1,1
6 0,9
7 0,3
8 0,2
9 2,0
10 1,3
11 1,2
12 1,0
13 0,9
14 0,3
15 0,2
16 1,0
17 0,5
18 1,0
19 1,2
20 1,0
21 0,3
22 0,1
23 1,4
24 1,0
25 0,9
26 1,1
27 0,8
28 0,2
29 0,2
30 1,9
31 0,8
32 0,7
33 0,2
34 0,5
Média diária 0,8 kg
Média mensal 24,6 kg
Média anual 295,4 kg