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ANÁLISE COMPARATIVA DOS PLANOS DIRETORES DE ARBORIZAÇÃO ENQUANTO

INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO E GESTÃO

Patrícia Mara Sanches1, Juliana Amorim da Costa2, Demóstenes Ferreira da Silva Filho3

(recebido em 03.11.2008 e aceito para publicação em 18.12.2008)

RESUMO
A arborização das cidades brasileiras é marcada por falta de planejamento que resulta em
um cenário de conflitos e baixa qualidade ambiental do espaço urbano. Portanto, faz-se
necessária a utilização de instrumentos que normatizem e regularizem as atividades
relacionadas à implantação e manejo da arborização viária. Um desses instrumentos é o
Plano Diretor de Arborização Urbana (PDAU). Esse plano se constitui numa eficaz
ferramenta tanto de planejamento como de guia para a manutenção e monitoramento da
arborização urbana. Desta maneira, o estudo de Planos que já foram elaborados ou que
estão em fase de elaboração é de grande importância para subsidiar a criação de novos
para outras cidades. Neste trabalho foram analisados os Planos Diretores de Arborização
das cidades de Porto Feliz/SP, Goiânia/GO, Vitória/ES e Porto Alegre/RS. Esta análise foi
comparativa, possibilitando uma visão crítica de todos os aspectos e etapas que compõem o
PDAU, gerando discussões e embasamento para futuros planos diretores.

Palavras-chave: plano diretor de arborização urbana, planejamento urbano, silvicultura


urbana.

1
Arquiteta e Urbanista, mestranda em Paisagem e Ambiente – FAU-USP, Endereço: Rua do Lago,
876, 05508.080, São Paulo – SP - Brasil, <patricia.msanches@usp.br>;
2
Gestora Ambiental, mestranda em Conservação de Ecossistemas Florestais – ESALQ-USP,
Piracicaba-SP, <jcosta@esalq.usp.br>;
3
Engenheiro Agrônomo, professor do Curso de Engenharia Florestal - ESALQ-USP, Piracicaba-SP,
<dfsilva@esalq.usp.br>.

Soc. Bras. de Arborização Urbana REVSBAU, Piracicaba – SP, v.3, n.4, p.53-74, 2008
54 SANCHES, P. M. et al.

COMPARATIVE ANALISES OF URBAN FOREST MASTER PLANS AS TOOLS FOR


PLANNING AND MANAGEMENT

ABSTRACT
The street tree planning in Brazilian cities is marked by lack of planning what results in many
failures and an enviromental poor quality of the urban space Therefore, it is necessary to use
tools that set standards and regulate the activities related to the establishment and
management of urban forest. One of these instruments is the Urban Forest Master Plan. This
plan is an effective tool in planning and a guide for the maintenance and monitoring of urban
forest. Thus, the study of the plans that have already been developed or are under
development have a great importance to guide and support the creation of new plans for
other cities. In this paper the Urban Forest Master Plan of Porto Feliz/SP, Goiânia/GO,
Vitória/ES and Porto Alegre/RS cities were analyzed comparatively. Such analyses provided
a critical view of all aspects and steps of the master plans, helping the authorities in
developing new plans.

Keywords: urban forest master plan, urban planning and urban forestry.

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INTRODUÇÃO

O Plano Diretor é uma lei municipal, cuja elaboração está prevista na Constituição
Federal de 1988, em seu artigo 182, §1º. É o instrumento básico da política de
desenvolvimento e de expansão urbana e veio a ser regulamentada pelo Estatuto da Cidade
(Lei nº 10.257/2001), que estabelece seu conteúdo mínimo (ARAÚJO JUNIOR, 2006). Tem
como objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes e subsidiar o planejamento e a gestão territorial urbana
(BRAGA E CARVALHO, 2001; NASCIMENTO E CAMPOS, 2006).
Deve contemplar diretrizes referentes à circulação, habitação, meio ambiente,
patrimônio histórico e outros aspectos relacionados com o desenvolvimento das cidades, de
modo a proporcionar melhores condições de vida a sua população, e sua criação deve
contar com a participação da comunidade (BRAGA E CARVALHO, 2001; NASCIMENTO E
CAMPOS, 2006).
Outras leis municipais poderão tratar da política urbana, mas terão sempre que
conformar-se com as diretrizes traçada pelo Plano Diretor para as áreas urbana e rural do
município (GALIL, 2005).
E um dos itens previstos para um Plano Diretor completo é a realização de um Plano
Diretor de Arborização Urbana (PDAU), um instrumento de planejamento municipal de áreas
verdes urbanas. De acordo com a Prefeitura de Porto Alegre (2008), o PDAU é o “conjunto
de métodos e medidas adotadas para preservação, manejo e expansão das árvores nas
cidades, de acordo com as demandas técnicas e as manifestações de interesse das
comunidades locais”. Portanto, deve considerar as especificidades locais e atender às
demandas da comunidade. Assim, deve ser participativo e normatizar regras para a
condução de uma arborização urbana de qualidade. Entretanto, são poucos os municípios
brasileiros que possuem tal documento. E alguns daqueles que o possuem ainda não o
implantaram, ou não completaram sua efetivação.
Assim, para melhorar e normatizar a arborização das cidades brasileiras foi aprovado
no dia 27 de maio de 2008, uma mudança no Estatuto da Cidade, para que seja incluso,
obrigatoriamente, nos planos diretores municipais o PDAU, que deverá conter informações
sobre espécies e porte das árvores e as condições da arborização em relação à demanda
da comunidade (FRENTE PARLAMENTAR AMBIENTALISTA, 2008).
Desta forma, faz-se necessário estudos para investigar qual a situação atual dos
PDAUs dos municípios brasileiros. O que vem de encontro com este trabalho que se propõe
a apresentar o estado-da-arte dos PDAUs brasileiros, especificamente de Vitória/ES, Porto
Alegre/PR, Porto Feliz/SP e Goiânia/GO e realizar uma análise comparativa entre eles. O
objetivo é que esta análise ofereça uma visão crítica quanto à elaboração de PDAUs,

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auxiliando na escolha da metodologia, tomada de decisões e diretrizes de novos planos, por


meio do estudo e comparação desses planos.

MATERIAIS E MÉTODOS

A primeira etapa consistiu em uma pesquisa bibliográfica dos planos diretores de


arborização existentes e levantamento de dados daqueles que se encontravam disponíveis:
inventários, diagnósticos, relatórios, leis, mapas, entre outros. Foi necessário o contato e a
consulta a algumas prefeituras, para a obtenção de maiores informações.
Os PDAUs de Porto Alegre/RS, Vitória/ES, Porto Feliz/SP e Goiânia/GO foram
escolhidos para análise em face da disponibilidade e acesso às informações. A análise de
Porto Alegre será pautada na leitura da lei do plano diretor, já de Goiânia e Vitória, serão
examinados os relatórios dos planos na íntegra. O plano de Porto Feliz encontra-se em
andamento e será analisado apenas o diagnóstico elaborado a partir do inventário arbóreo
da cidade.
Os planos serão analisados comparativamente em termos da metodologia do
inventário (quais dados qualitativos e quantitativos foram levantados e como foi feito), do
diagnóstico (manipulação dos resultados e conclusões) e das estratégias de planejamento e
instrumentos legais adotados. Os resultados desta análise serão organizados em um quadro
resumo comparativo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Porto Feliz
O município de Porto Feliz encontra-se a 110 km da capital São Paulo, em direção
leste para oeste do estado. Localiza-se na latitude 23º12’S e na longitude 47º31’W, no
bioma Mata Atlântica. Possui uma área total de 557,9 km2 e população de 46.054 habitantes
(PORTO FELIZ, 2008; IBGE, 2007)
O “Relatório Preliminar: Diagnóstico da Arborização Urbana do Município de Porto
Feliz-SP” (2008) foi o documento disponibilizado pela Prefeitura desta cidade, como um
projeto piloto em direção à elaboração do Plano Diretor.
Como já mencionado, este documento é um diagnóstico realizado a partir do
primeiro levantamento censitário das árvores nas calçadas e canteiros públicos do centro da
cidade. No total foram registradas 161 árvores em 49 ruas visitadas.
As informações levantadas foram características métricas: altura, diâmetro da copa,
altura da primeira bifurcação, DAP (Diâmetro a Altura do Peito), sua posição em relação à
calçada e à quadra, que permitiu o mapeamento georreferenciado destas; e as

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características qualitativas: espécie, idade média, condição geral da árvore, comportamento


das raízes em relação à área de implantação na calçada, conflitos existentes (com rede
elétrica, outras árvores, trânsito, edificações, entre outros), necessidades de manejo, como
controle fitossanitário, poda leve e pesada, e outras observações como defeito físico por
poda, por vandalismo ou provocado por colocação de tutor inadequado.
A partir dos dados levantados in-loco, pode-se traçar um diagnóstico da área, como
subsídio para as tomadas de decisão e elaboração do plano diretor de arborização.
Quanto à composição arbórea, foram registradas 24 espécies de um total de 161 indivíduos,
sendo que 60,25% pertencem a duas espécies: Sibipiruna (Caesalpinia pelthophoroides) e
Falsa Murta (Murraya paniculata). Foi detectado que das 49 ruas avaliadas 47% não
apresentam arborização. A avaliação da condição geral dos indivíduos quanto à raiz
mostrou que 46% das árvores apresentam alterações no calçamento, devido ao plantio
inadequado, mas não evidentes. Os conflitos de todos os tipos estavam presentes em 45%
das árvores, 31% necessitam de controle fitossanitário e 56% mostram presença de algum
defeito físico. Por fim, é apresentado na Figura 1 o resultado da soma das necessidades de
manejo detectadas no levantamento: 84% dos indivíduos necessitam de alguma atenção ou
medida de manejo.
Como considerações finais do relatório é ressaltada a importância deste presente
estudo como subsídio na gestão da arborização nos locais avaliados. Além disso, é
afirmado que apesar da amostragem ser pequena, já se pode traçar algumas conclusões,
como a baixa diversidade – existe uma grande quantidade de indivíduos, mas há grande
predominância de apenas duas espécies – o que leva a um quadro de vulnerabilidade a
pragas e transmissão de doenças; e muitas ruas não são arborizadas, ou seja, a distribuição
arbórea não é homogênea no centro da cidade.
A partir destes resultados foi possível à Prefeitura de Porto Feliz tirar conclusões
sobre a necessidade urgente de um plano que norteasse as tomadas de decisões,
oferecesse diretrizes em relação às espécies mais adequadas para cada tipo de local,
acompanhadas de um cronograma de plantio e técnicas de manejo, qualificação e
treinamento da equipe técnica em relação a este manejo e educação ambiental, de modo a
sensibilizar a população quanto à conservação da arborização viária urbana.

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Figura 1. Porcentagem de indivíduos arbóreos com necessidade de atenção (RELATÓRIO


PRELIMINAR, 2008)

Goiânia
Capital do estado de Goiás, Goiânia possui uma área total de 739 km2, e população
de 1.244.645 habitantes (IBGE, 2007). Localiza-se na latitude 16º 40’S e na longitude 49º
16’W, no bioma do Cerrado.
A Prefeitura de Goiânia tem disponibilizado à população seu PDAU4 na íntegra, cuja
estrutura está dividida em 6 partes: histórico da arborização, características da arborização
e política atual, cadastramento e diagnóstico, planejamento - subdividido em programa de
ampliação e re-qualificação da cobertura vegetal e diretrizes gerais para implantação - e por
fim, regimento legal da arborização do município.
Devido ao tamanho da cidade, segundo a Prefeitura de Goiânia, o cadastramento
censitário seria muito demorado e custoso, por isso a prefeitura realizou um inventário total
(censo) em 70 bairros, que posteriormente serviu como referência para o restante da cidade,
ou seja, por meio de técnicas estatísticas os resultados obtidos foram replicados para os
bairros em que a arborização não foi avaliada.
O inventário consistiu no cadastramento arbóreo qualitativo e quantitativo
acompanhado de mapeamento georreferenciado. A intenção é formar um banco de dados
interligado ao MUBGD – Mapa Urbano Básico Digital de Goiânia, que seria constantemente
atualizado com plantio e remoção de árvores, e possibilitaria o acesso de qualquer cidadão
sobre a situação de uma determinada árvore, fornecendo informações sobre ações de
manejo necessárias.
Os dados quantitativos coletados se referem ao número de indivíduos e espécies
ocorrentes, número de árvores a serem podadas, removidas e de novos plantios.
Conjuntamente foram coletados os dados qualitativos, ou seja, um breve diagnóstico de
cada indivíduo arbóreo, contento a descrição sobre porte; condições físico-sanitárias em

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Plano diretor de arborização urbana de Goiânia. Goiânia: AMMA, 2008. 134 p.

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geral; aspectos paisagísticos; conflitos ou interferências possíveis com fiação elétrica,


telefonia ou iluminação pública; condição da copa quanto à interferência e poda;
características do fuste e das raízes e necessidades de manejo.
Esse tipo de inventário possibilitou pequenas proposições e o direcionamento de
algumas ações, com a identificação e mapeamento das necessidades, do tipo de manejo
necessário, dos indivíduos a serem removidos e da capacidade de plantio de novas mudas
em cada logradouro dos 70 distritos avaliados, conforme segue o exemplo da quadra 65
(Figura 2).

Figura 2. Tabulação do Planejamento Paisagístico

Neste inventário foram cadastrados 178.230 pontos cadastrados e os resultados


foram: 130.061 árvores existentes (74%) e 38.874 novos plantios (21%). Das árvores
existentes, foi recomendada a remoção de 7.079 correspondendo a 5,32% do total, a
espécie monguba (Pachira aquatica) representava 54% do total de árvores a serem
removidas. Foram identificadas 328 espécies, entretanto a freqüência de ocorrência não é
equilibrada, pois duas espécies representam 26% do total de indivíduos: a monguba, com
19% e a sibipiruna com 17%.

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De acordo com o PDAU, a avaliação das condições da arborização e a discussão


dos resultados são importantes instrumentos, pois permitem a identificação das prioridades
de ação, proporcionando a elaboração de cronograma de plantio e manutenção.
A última etapa do plano foi o planejamento, subdividido em dois capítulos. O primeiro
discute sobre os impactos positivos e negativos (estes decorrentes de uma arborização mal
planejada) e as características da vegetação que afetam diretamente na escolha das
espécies, como aspectos morfológicos, funcionais, estéticos e ambientais.
Há um item dentro deste capítulo que trata dos critérios que devem ser considerados
na seleção das espécies mais recomendadas para um determinado local, e apresentação de
uma lista das espécies que não recomendadas à arborização viária por conta das raízes
superficiais e agressivas, da fragilidade quanto ao ataque de pragas, presença de frutos
carnosos ou grandes e espécies com princípios tóxicos. Em seguida, é apresentada uma
segunda lista de espécies não recomendadas especificamente para os logradouros de
Goiânia, face às conclusões tiradas na análise do inventário, como por exemplo, a
monguba, devido à grande ocorrência na vias públicas e por ser suscetível ao ataque de um
coleóptero; além disso, não é uma espécie nativa, de condições climáticas e edáficas muito
diferentes das características de Goiânia. Outro exemplo é a sibipiruna, que apresenta
grande ocorrência nos logradouros e estão mais suscetíveis ao ataque dos cupins.
O Plano conta ainda com planejamento paisagístico de 16 setores de Goiânia
(dentro daqueles 70 setores inventariados). Ele consistiu na indicação das espécies de
árvores a serem plantadas nos locais já diagnosticados no inventário como pontos de novo
plantio, considerando-se as características de cada ambiente: largura da rua e calçada,
existência de fiação aérea, tubulações subterrâneas, equipamentos urbanos e outras
interferências. Foi recomendado o plantio de 24.415 árvores de 151 espécies, priorizando as
nativas do cerrado (64% do total das espécies indicadas), espécies frutíferas voltadas à
alimentação da avifauna e exóticas com boa adaptação ao clima e solo da região.
O exemplo a seguir mostra a tabulação da indicação das espécies resultantes do
planejamento paisagístico de algumas ruas e avenidas do setor Aeroporto. Para cada rua é
identificado seu código, a largura desta e da calçada, a presença ou não de fiação e o tipo:
alta tensão (AT) ou baixa tensão (BT). Nesta planilha é indicada uma espécie para cada
quadra e a quantidade de indivíduos a serem plantados (Figura 3).
Para os bairros restantes que foram inventariados e não receberam este
planejamento paisagístico mais detalhado, recomenda-se que seja realizada uma indicação
genérica das espécies, conforme as características do local. Tal proposição pode ser
embasada com uma segunda tabela disponível no Plano, com parâmetros referenciais que
determinam qual o porte da árvore a ser plantada, em função da presença ou não da rede
aérea, recuo, jardim ou estacionamento e largura da calçada.

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Figura 3. Indicação de espécies de acordo com as características dos locais

Para os bairros não inventariados, o Plano prevê um inventário pré-plantio com a


intenção de apresentar uma planilha semelhante ao planejamento paisagístico após visita
in-loco. Durante a visita deverá ser preenchida uma ficha de campo contendo as seguintes
informações: largura da calçada, existência e tipo de fiação, presença de outros
equipamentos públicos, espaçamento entre as árvores, espaço para novos plantios,
necessidade de remoção de árvore e tocos, a fim de indicar a espécie mais adequada ao
local.
O capítulo VI sobre planejamento traz diretrizes de implantação, ações e programas
a serem instituídos e detalhes de gestão da arborização, assemelhando-se quase a um
manual técnico. Dentre os programas previstos, estão:
ƒ Criação de grupo de trabalho interdisciplinar a fim de planejar e acompanhar a
implantação; outro grupo composto por representantes dos órgãos municipais envolvidos
a fim de discutir e propor ações; e um terceiro grupo com representantes de órgãos
municipais e instituições, universidades e entidades de classe, para discussões, trocas de
conhecimentos, entre outros;
ƒ Convênios: participação e celebração de parceria público-privada para a viabilização de
diversos projetos. Além disso, estabelecer parcerias com instituições de ensino para
fomentar pesquisas na área de produção de mudas e introdução de espécies nativas do
cerrado na arborização urbana;
ƒ Programas de capacitação e qualificação da mão-de-obra para serviços de arborização;
ƒ Programas de Educação Ambiental: para divulgação geral do plano, atuação junto à rede
escolar e conscientização ampla da população, considerando questões sócio-culturais e
econômicas de diferentes segmentos da sociedade;
ƒ Programa de Cadastramento da Arborização consiste nos inventários com o mapeamento
de cada indivíduo arbóreo e as subseqüentes vistorias. Deve ser informatizado, a fim de
agilizar a obtenção de dados e resultados;
Formatados: Marcadores e
numeração

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ƒ Programa Anual de Plantio: tem como objetivo apresentar programas de plantio a cada
ano a serem executados no próximo período chuvoso. Este programa deve diversificar as
espécies a serem plantadas, não podendo ser superior a 30 espécies diferentes, sendo
que uma espécie não deve atingir mais que 15% de representatividade. Estabelece um
prazo de 10 a 20 anos para que Goiânia tenha uma arborização planejada para cada setor
da cidade. Visa dar continuidade ao Programa de Cadastramento e mapeamento de todos
os setores e ao estudo da introdução de espécies nativas do cerrado na arborização
viária.
ƒ Programa de produção de mudas nativas e exóticas: visa atender à demanda da prefeitura
no Programa de Plantio, priorizando a produção de espécies nativas do cerrado. Há um
acordo de cooperação técnica com a Escola de Agronomia da Universidade Federal de
Goiás, que visa aumentar a produção de mudas de 150 mil para 400 mil por ano;
ƒ Programa de Manutenção: tem como objetivo assegurar o bom desenvolvimento da muda
e zelar pela integridade desta e das árvores adultas existentes. Inclui técnicas de poda,
correta remoção de árvore, replantio e controle fitossanitário;
ƒ Programa de Substituição Gradativa das árvores da espécie Monguba, devido a sua
fragilidade a pragas e falta de adaptação às condições climáticas e edáficas de Goiânia;
ƒ Programa de Monitoramento: visa acompanhar sistematicamente o desenvolvimento das
árvores existentes e mudas plantadas;
ƒ Plantio Voluntário: visa dar continuidade ao Programa “Plante a Vida”, com ênfase a
distribuição de mudas, além de orientação à população quanto às espécies mais
recomendadas e adequadas a determinado local;
ƒ Análise da legislação municipal em relação à arborização urbana, propondo alterações na
legislação vigente e criação de novas leis.
Por fim, no último capítulo é apresentada a legislação federal e municipal pertinentes
à arborização urbana. Porém, não está contida a lei ou a normalização resultante do PDAU.
Esta foi obtida através do Diário Oficial da cidade e foi instituída como Instrução Normativa
em 05 setembro de 2008. Nesta está contido os objetivos do plano, as diretrizes gerais, a
participação da comunidade por meio de educação ambiental, a instrumentação do Plano
Diretor (formação dos grupos de trabalho, informações sobre a produção de muda, plantio,
manejo e conservação, poda, substituição de indivíduos e espécies) e diretrizes sobre
vegetação em áreas particulares.

Vitória
Capital do estado do Espírito Santo, Vitória é constituída por 34 ilhas e uma região
continental, totalizando uma área de 104,3 km2. Localiza-se na latitude sul 20º10’ e longitude

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oeste 40º20’, no bioma Mata Atlântica. Concentra a maior parte das atividades econômicas
e culturais da região (Diagnóstico de aspectos prioritários em política de gestão ambiental
urbana na rede de mercocidades, 2002). Possui uma população de 314.042 habitantes
(IBGE, 2007).
Sua malha urbana é marcada por falta de espaço físico, calçadas e ruas estreitas,
que se constituem fatores limitantes para uma arborização urbana de qualidade. Por meio
da observação destes e outros problemas, a Prefeitura do Município de Vitória decidiu
realizar o “Plano Diretor de Arborização Urbana e Áreas Verdes”, no ano de 1992, que é
dividido em quatro capítulos mais anexos. Documento este que será analisado neste
trabalho.
No capítulo I Diagnóstico e Caracterização Geral do Município, a vegetação é
dividida em Arborização de Ruas, Áreas Verdes Públicas, Áreas Verdes Particulares e
Unidades de Conservação. Cada uma dessas áreas é analisada separadamente. Nesse
trabalho optou-se por dar ênfase à Arborização de Ruas.
Para o diagnóstico da Arborização de Ruas realizou-se um inventário quantitativo
total e um inventário qualitativo por amostragem. O formulário utilizado para o inventário
qualitativo foi baseado naqueles utilizados em Curitiba (1984), Recife (1985) e Maringá
(1988).
As informações coletadas referiam-se à: identificação da amostra; identificação da
espécie; porte da árvore (altura, altura da primeira ramificação, CAP e diâmetro de copa);
qualidade (condição geral da árvore e raízes); posição de plantio; planejamento
(compatibilização entre o porte da espécie utilizada e o espaço disponível para plantio);
necessidades de manejo; e verificação de existência de dano físico por vandalismo ou
acidente, por poda, tutoramento, obras de construção e identificação quando plantio
irregular e quando frutífera.
Dentre alguns resultados está a distribuição irregular dos 22.208 indivíduos arbóreos
existentes, representados por 73 espécies. E apenas 35% da área urbanizada da cidade
pode ser considerada como arborizada, 31% apresenta-se parcialmente arborizada, e 34%
sem qualquer arborização.
Ainda na fase de diagnóstico foi calculado um Índice de Áreas Verdes (área em m2
por habitante) para cada divisão proposta. Para a Arborização de Ruas obteve-se 2,88
m2/hab.
O Plano conclui o diagnóstico indicando que a implementação e o acompanhamento
do Plano serão efetivados pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMMAM) e pela
Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SEMURB).
Os inventários realizados chegaram em resultados de grande importância para a
caracterização da situação atual da arborização na cidade, como qual a distribuição das

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mesmas, qual a quantidade de indivíduos que necessitam de poda ou algum controle


fitossanitário. Facilitando a localização dessas árvores, permitindo uma melhor manutenção
dessas áreas.
No capítulo II, são definidas propostas, com base no diagnóstico, para cada divisão
realizada.
Assim, deve ser realizado um novo inventário para indicar ou restringir o plantio,
respeitando o número máximo de 15% de participação por espécie. E para o plantio, deverá
ser considerado o fator paisagístico/estético. Também indica quais características as
árvores devem ter para serem priorizadas no plantio, como espécies com raízes de
crescimento em profundidade, qual a altura ideal da muda, a sua área necessária para
crescimento, dentre outros. Além disso, dá ênfase a campanhas informativas e educativas
para minimizar os danos ocorridos nos espécimes.
Entretanto a localização de áreas para plantio já poderia ter sido realizada, por
exemplo, com o auxílio da ficha de campo para indicação e localização de plantio a utilizada
em SILVA FILHO (2002).
No capítulo sobre Diretrizes Gerais de Ordem Técnica são estabelecidos programas
e projetos para que as propostas sejam efetivamente implantadas, definindo os objetivos e
atividades para cada um. E foram definidos os seguintes programas:
ƒ Programa de Plantio: tem como objetivos realizar o levantamento das características
físicas dos bairros a serem arborizados e definir ruas a serem arborizadas, assim como as
posições de plantio e o número de mudas necessárias. E assim implantar a arborização de
ruas de acordo com normas técnicas adequadas e definir cronograma de ação,
estabelecendo metas anuais a serem cumpridas;
ƒ Programa de Manutenção: visa manter a boa condição fitossanitária da arborização,
assegurar o normal desenvolvimento das mudas e aprimorar técnicas de realização de
poda através do treinamento das equipes. Também pretende estabelecer convênios entre
diversos atores da sociedade para a regulamentação da execução de podas;
ƒ Programa de Monitoramento: pretende acompanhar sistematicamente o desenvolvimento
das árvores plantadas nas ruas e avenidas e obter informações periódicas, que sirvam de
base para posterior replanejamento.
Para o âmbito geral do Plano, foram estabelecidos os seguintes programas:
ƒ Programa de Cadastramento: para obter um sistema cadastral e organizar os dados
obtidos em vistorias e inventários, de modo a computá-los no contexto geral e considerá-
los para futuras ações de planejamento/replanejamento;
ƒ Programa de Desenvolvimento do Horto Municipal: visa assegurar a produção quali-
quantitativa de mudas;

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ƒ Programa de Educação Ambiental: pretende desenvolver práticas de ação pública


esclarecedoras da importância da arborização, estimular a participação da comunidade,
para assim diminuir níveis de vandalismo.
Nas Diretrizes Gerais de Ordem Político-Institucional, foram estabelecidos dois
programas, com seus objetivos e atividades descritos: Programa de Pesquisa, Capacitação
Técnica e Cooperação, visando convênios entre diversos atores da sociedade e a Prefeitura
do Município e Programa de Revisão e Aperfeiçoamento da Legislação.
Nos anexos do Plano está o Projeto de Lei do Plano Diretor de Arborização e Áreas
Verdes. Define os objetivos (proteção, fiscalização e recuperação; elevação do índice de
área verde; monitoramento; instituição de programas educativos; estudo de espécies;
implantação, preservação, fiscalização e recuperação de unidades de conservação; e
proteção dos morros e encostas); atribuições da SEMMAM e da SEMURB; regras para
manutenção, implantação e plantio de árvores; e penalidades nos casos de dano, derrubada
não autorizada ou morte provocada de árvores.
Este Projeto de Lei foi aprovado na reunião do CONDEMA – Conselho Municipal de
Defesa do Meio Ambiente, Resolução 002/92, de 10/08/92, em Vitória/ES.
Apesar de um Plano bem estruturado, com metas e programas estipulados, o
mesmo não foi colocado em prática, já que, em contato com a SEMMAM, a mesma disse
não ter conhecimento sobre o plano.
Entretanto, notícias publicadas no portal da prefeitura (“Vitória adota medidas para
garantir a arborização), em 19 de setembro de 2008 e na Gazeta On-line (“Vitória arborizada
garante bem estar da população”), em 21 de setembro de 2008, mostram a retomada deste
plano, e a tendência para que o mesmo seja atualizado.
Além disso, na Lei municipal nº 6282/2005, que dispõe sobre alterações na estrutura
organizacional do Município de Vitória, no anexo XVI, o item 5 incumbe à Secretaria
Municipal de Meio Ambiente “Executar o Plano Diretor de Arborização e Áreas Verdes e
promover sua avaliação, atualização e adequação”, demonstrando a preocupação do
Município em retomar este Plano.

Porto Alegre
A cidade de Porto Alegre possui uma área total de 476,30 km2, sendo que o
continente corresponde a 431,85 km2 e as ilhas a 44,45 km2, é a capital do Rio Grande do
Sul. Situada na latitude 30º05’S e na longitude 51º10’W, no bioma Mata Atlântica (PORTO
ALEGRE, 2008). Com uma população de 1.420.667 habitantes (IBGE, 2007).

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Foi um dos primeiros municípios brasileiros a instituir um PDAU. Vindo a obter sua
formatação legal e atualizada em novembro de 2006, por meio da Resolução COMAM nº 05
publicado no Diário Oficial do Município. Resolução a qual será analisada neste trabalho.
De acordo com este documento, o PDAU pretende ser uma política de plantio, preservação,
manejo e expansão da arborização na cidade.
Quanto aos objetivos do Plano estão: a definição de diretrizes de planejamento,
implantação e manejo da arborização urbana; a promoção da arborização como instrumento
de desenvolvimento urbano e qualidade de vida; implementação e manutenção da
arborização; estabelecimento de critérios de monitoramento; e o envolvimento da população
neste processo.
A execução do Plano deverá ser realizada pela Secretaria Municipal do Meio
Ambiente (SMAM), nas questões relativas à elaboração, análise e implantação de projetos e
manejo da arborização urbana.
No inciso IV, do artigo 5º do capítulo IV, se estabelece de que os passeios públicos
deverão ter no mínimo 40% de área vegetada. Além deste, outros parâmetros são
determinados, como utilização de cabos ecológicos pelas companhias de energia elétrica.
Essa resolução regulamenta a necessidade de se utilizar predominantemente
espécies nativas regionais, num percentual mínimo de 70%. Sendo vedado o plantio de
espécies exóticas invasoras.
Além da identificação das espécies que compõem a arborização, o Plano prevê a
informatização de todas as ações, dados e documentos referentes a este tema, para assim
manter um cadastro permanente e atualizado, mapeando todos os elementos arbóreos
existentes.
Compete também à SMAM desenvolver programas de Educação Ambiental para o
envolvimento e comprometimento da população na elaboração, implantação e manutenção
do Plano. Bem como elaborar convênios com instituições públicas e privadas visando
agilizar e facilitar a busca por recursos para a efetivação do Plano.
Quanto à instrumentação do Plano, o viveiro municipal será responsável pela
produção de mudas, identificação e cadastro de árvores-matrizes. Dá instruções quanto aos
procedimentos que devem ser tomados para o plantio correto da muda (como a distância
entre as árvores e dimensões da cova). E incumbe ao proprietário do imóvel a construção
de um canteiro em torno de cada árvore de seu lote, atendendo a critérios específicos.
Prevê um programa de manutenção, com visitas periódicas, principalmente nos
primeiros meses do plantio da muda e priorizando o atendimento preventivo, evitando
atividades drásticas, como podas pesadas. Além disso, prevê capacitação permanente da
mão-de-obra, para a realização dessa manutenção.

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Análise comparativa dos planos diretores... 67

Dedica uma Seção ao Plano de Manejo, que deverá atender objetivos específicos:
unificar a metodologia de trabalho nos diferentes setores da SMAM; diagnosticar a
população de árvores da cidade por meio de inventário quali-quantitativo, mapeando o local
e a espécie na forma de cadastro informatizado; elencar as espécies a serem utilizadas, de
acordo com as zonas definidas; estabelecer critérios técnicos de manejo preventivo da
arborização urbana; e identificar áreas potenciais para novos plantios.
Quanto ao estado atual de implementação do Plano, em contato com o engenheiro
agrônomo Luiz Antonio Piccoli, coordenador do PDAU da cidade, foi informado que as
regras do mesmo estão sendo aos pouco incorporadas. O grande fator positivo que já se
conseguiu foi o convencimento das autoridades quanto às especificações necessárias para
o plantio de mudas, conseguindo verbas para tal atividade. Já a maior dificuldade está em
consegui-las num tamanho padrão. O inventário na cidade já foi realizado, entretanto não
tivemos acesso ao mesmo.
De acordo com uma reportagem realizada pelo Ministério das Cidades (“Plano
Diretor quer deixar Porto Alegre mais arborizada”), de 30 de setembro de 2007, a SEMAM
possui uma meta de plantio de 10.000 árvores por ano.

Análise Comparativa
Nesta etapa pretende-se analisar os Planos Diretores de Arborização Urbana
descritos acima, sem deixar de considerar as peculiaridades de cada um e, quando
necessário, essa apreciação será feita individualmente. O objetivo é que essa reflexão
venha contribuir e enriquecer a discussão sobre os planos diretores, proporcionando
oportunidade para melhoria contínua e evidenciando os pontos fortes, estratégias e medidas
bem sucedidas.
A análise está organizada e segue a estrutura geral dos Planos Diretores de
Arborização: inventário (coleta de dados); diagnósticos, ou seja, como esses dados foram
trabalhados e quais os resultados conclusivos que foram extraídos; e planejamento. O
inventário foi subdividido em tipo – total (censo) ou amostral, informações coletadas in-loco
e se houve a plotagem em mapas dessas informações. O planejamento foi subdividido em
programas implantados, se apresentam diretrizes técnicas de plantio e manejo, cronograma,
projeto de lei ou instrumentação legal e mapa de zoneamento. O compilamento dessas
informações foi agrupado em um quadro comparativo dos Planos Diretores de Arborização
que auxiliou a análise (Quadro 1).
Como já mencionado, o PDAU de Porto Feliz está em andamento e o de Porto Alegre foi
possível apenas a obtenção da lei, por isso, não se preencheu todos os quesitos do quadro
resumo.

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68 SANCHES, P. M. et al.

Etapa
Porto Feliz Goiânia Vitória* Porto Alegre
Cidade
Tipo Censo (regional) Amostral Censo e Amostral Não disponibilizado
-Espécie; -Espécie; -Localização;
-Idade aproximada; -Porte; -Espécie;
-Porte; -Condições gerais; -Porte;
Inventário

-Condições gerais; -Condições / controle fitossanitário; -Condição geral da árvore;


-Comportamento das raízes; -Necessidade de poda e remoção; -Condição das raízes;
Dados Não disponibilizado
-Área livre permeável; -Conflitos / interferências; -Posição de plantio;
-Condições / controle fitossanitário; -Raízes: condições e interferências; -Planejamento (relação entre
-Necessidade de poda; -Fuste: condições; porte e espaço físico);
-Defeitos; -Aspectos paisagísticos. -Necessidade de manejo;
-Conflitos / interferências. -Danos.
Mapeamento Sim Sim Sim Sim
-Grau de diversidade; -Quantidade, distribuição e
-Grau de diversidade;
- relação da % de queda com a composição da arborização;
Diagnóstico

-Taxa de distribuição arbórea ao


adaptabilidade da espécie; -Qualidade das árvores;
longo das ruas;
- % Árvores com necessidade de -Características dos plantios;
Resultados -% de árvores com necessidade de _________
manejo; -Árvores com necessidade de
manejo;
-% da origem das espécies; manejo;
-% de árvores com necessidade de
-% frutíferas para fauna e ser humano; -índice de áreas verdes.
atenção.
-% remoção de arvores.
Plantio; Manejo; Monitoramento; Plantio, Monitoramento e Plano de Manejo;
Educação Ambiental; Cadastramento; Manutenção; de Cadastramento, Manutenção; Capacitação e
Capacitação e Qualificação da mão-de- de Desenvolvimento do Horto qualificação da mão-de-obra;
Programas Não possui
obra; Produção de mudas; Plantio Municipal e Educação Ambiental; Programa de Educação
Planejamento

Voluntário; Convênios; Substituição da Convênios. Ambiental; Convênios


espécie Monguba.
Técnicas de
Não possui Sim Sim Sim
plantio e manejo
Instrumentos AMMA Instrução Normativa nº 30, Resolução CONDEMA nº 002/92 Resolução COMAM nº
Não possui
legais 05/09/2008 05/2006
Cronograma Não possui Não possui Para alguns itens Não disponibilizado
Zoneamento Não possui Não possui Não possui Sim

Quadro 1. Resumo Comparativo dos Planos Diretores de Arborização Urbana.

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Análise comparativa dos planos diretores... 69

Inventário
Observa-se que as variáveis qualitativas e quantitativas adotadas para o levantamento
de dados do inventário são semelhantes em quase todos os planos diretores analisados e
úteis para um diagnóstico final. Entretanto faz-se necessário algumas considerações quanto à
metodologia adotada em cada um deles.
Devido ao fato do Plano de Porto Feliz estar em andamento e ainda se mostrar como
um projeto piloto apenas para os bairros centrais, o inventário total da arborização viária foi
viável, pois os objetivos de se cadastrar as árvores ali presentes foram atingidos.
Já para Vitória, uma cidade de porte maior, foi adotado o inventário total em relação
aos dados quantitativos e inventário amostral para os dados qualitativos. Sendo que, o
levantamento deste último foi aplicado somente nos bairros com mais de 50% de ruas
arborizadas. Tal decisão pode levar a resultados tendenciosos ou distantes da realidade, uma
vez que não se escolheu parcelas amostrais heterogêneas, cobrindo uma variedade maior de
tipologias ou graus de arborização diferentes. Neste caso, é mais aconselhável um inventário
sistemático com unidades amostrais presentes em bairros tanto arborizados quanto não
arborizados.
Caso semelhante ocorreu em Goiânia, onde foi realizado inventário total (dados
qualitativos e quantitativos) para 70 setores, cujos resultados serviram de levantamento
amostral para o restante da cidade, ou seja, os dados foram trabalhados e com uso de
técnicas estatísticas aplicados para os bairros que não foram inventariados. Entretanto, estes
70 distritos pertencem a uma mesma região (centro) e são bairros adjacentes, que durante o
processo de urbanização foram marcados por uma mesma política de arborização e
apresentam, de forma geral, segundo o próprio plano diretor de arborização, uma configuração
homogênea. Assim, replicar os mesmo resultados do inventário total para outras regiões pode
também incorrer em erros, pois considerando a cidade como um todo, as regiões apresentam
dinâmicas e conformações diferenciadas, que reflete em uma arborização qualitativa e
quantitativamente distinta. O ideal é que as parcelas amostrais não estejam localizadas em
uma região única, como foi feito.
Um ponto positivo no inventário de Goiânia foi a decisão de indicar, no momento de
cadastramento das árvores existentes, pontos potenciais e viáveis para novos plantios, seja
porque havia um espaço vazio ou porque seria necessária a remoção de uma determinada
árvore. Essa medida funciona como uma proposição inicial ao planejamento paisagístico e
poupa tempo e recursos, uma vez que não será necessário, pelo menos por um determinado
período, um novo inventário para indicação de novos pontos de plantio, como está previsto
para Vitória.
Quanto ao mapeamento, todos os planos buscaram o georreferenciamento dos pontos
levantados, o que é muito positivo, pois a partir da localização exata deste, é possível elaborar

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70 SANCHES, P. M. et al.

planos e projetos paisagísticos mais detalhados, evitando conflitos e possíveis


compatibilizações futuras no momento da execução de ações.

Diagnóstico
Nesta etapa, os resultados observados pelos Planos foram de fundamental importância
para subsidiar propostas e conhecer as necessidades de projetos e programas em diversas
áreas.
Um desses pontos fundamentais foi a constatação do grau de diversidade de espécies
de cada cidade. Todas as cidades apresentaram essa informação, importante para o manejo
das árvores na cidade e para aumentar o número de espécies daquelas que não são
contempladas e diminuir gradativamente a quantidade de indivíduos de espécies que
ultrapassam os limites recomendados.
A taxa de necessidade de manejo, com a classificação do tipo de manejo necessário,
também se configura num ponto essencial de todos os Planos. A cidade de Porto Feliz
apresenta um ponto forte em relação às outras, pois além de classificar, gerou um gráfico final,
provando que 84% das árvores necessitam de alguma atenção. O que demonstra a questão
de urgência de um plano diretor que regularize a situação, funcionando como uma estratégia
de sensibilização das autoridades e também da população em geral, o que pode gerar um
sentimento de cuidado em relação às árvores, e a arrecadação de recursos para o manejo das
mesmas.
A cidade de Vitória se destacou nessa fase por apresentar resultados precisos,
organizados por categorias (unidade amostral e espécie), facilitando a elaboração de diretrizes
para cada região e para cada espécie, o que acarreta na geração de um zoneamento mais
consistente. Pois há informação sobre o bairro, quais os principais problemas do mesmo e as
características de sua arborização, e também, sobre cada espécie, quais as mais adaptadas,
quais aquelas que mais necessitam de manejo.
Já a cidade de Goiânia se destacou por apresentar a relação entre queda de árvore e
adaptabilidade das espécies, como no caso da monguba. Esta análise pode ser útil na tomada
de decisões, sobre qual espécie não deve ser utilizada na arborização viária e na criação de
programas que incentivem o plantio de novas espécies, principalmente de nativas.
Quanto a Porto Alegre, não foi possível fazer inferências sobre seu diagnóstico, já que seu
Plano Diretor de Arborização não foi disponibilizado

Planejamento
Com relação aos programas previstos nos planos de Goiânia e Vitória, pode-se dizer
que há muitas semelhanças entre eles no que se refere ao tema e aos objetivos principais.
Ambos contemplam programa de plantio, de manejo, de manutenção, monitoramento, de
educação Ambiental, viveiros municipais para a auto-sustentabilidade na produção de mudas,

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Análise comparativa dos planos diretores... 71

estabelecimento de convênios e cadastramento informatizado. Entretanto detalhes de como


eles serão realizados ainda é um ponto falho; o plano de Vitória, em algumas ações se
apresenta mais consolidado neste sentido. Quanto à criação de parcerias e convênios com
empresas privadas, instituições de ensino e pesquisa, não é proposto nenhum instrumento
legal, como isenção de impostos, que legitime, beneficie ou estimule a parceria.
De acordo com a Resolução COMAM nº 05/2006, no PDAU de Porto Alegre, está
contemplado o plano de manejo, programa de manutenção, capacitação e qualificação da
mão-de-obra, programa de educação ambiental e estabelecimento de convênio. Por estar
apenas disponibilizado o documento da lei, não é possível aferir se há outros programas
envolvidos e nem como eles serão desenvolvidos.
O Plano de Goiânia inclui, como uma das atividades de novos plantios e educação
ambiental, o plantio voluntário através Programa “Plante a Vida”. Se por um lado, ele pode ser
muito positivo em termos de conscientização da população, por outro, deve-se atentar ao risco
do não atendimento às diretrizes estabelecidas pelo mesmo. Essa ação deve ser muito bem
orientada ou direcionada para não provocar uma arborização de má qualidade. E mesmo que
o plantio não seja viário, o plantio voluntário deve ser dirigido por técnico para escolha da
espécie adequada e técnicas de manejo.
O programa de substituição gradativa das árvores da espécie Monguba (Pachira
aquatica) se mostra como uma ação positiva, pois visa, em longo prazo, promover maior
diversidade na arborização viária com priorização de espécies nativas do cerrado, controlando
a disseminação de pragas e prevenindo futuras quedas acidentais e transtornos na cidade.
Os Planos de Goiânia, Vitória e Porto Alegre apresentam uma grande quantidade de
informação técnica traduzidas em regras e critérios em relação ao manejo, que é um ponto
muito positivo, pois são de extrema importância na padronização e garantia de qualidade das
atividades. Porém, não há a necessidade de que tais informações estejam contidas no Plano
Diretor de Arborização Urbana, pois elas podem ser abordadas no manual técnico específico
em anexo, de forma a facilitar a leitura do plano e o enfoque aos diferentes segmentos de
leitores.
Além disso, para Plano de Goiânia e futuro plano de Porto Feliz, recomenda-se constar
em anexo o projeto de lei, que institui seus respectivos Planos Diretores de Arborização
Urbana.
Vale ressaltar também como oportunidade de melhoria a todos os planos, que
estabeleçam um cronograma como ferramenta de planejamento temporal das atividades
propostas, de forma a guiar e a viabilizar a captação de recursos, a gestão e execução das
ações. Esse cronograma não necessita ser detalhado, mas deve abranger todas as fases
previstas no plano. Goiânia apenas apresenta meta de arborização planejada para toda a
cidade em um intervalo de tempo de 10 a 20 anos, o que ainda se mostra muito vago. Já

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Vitória apresenta cronograma apenas para alguns projetos, como por exemplo, cronograma de
plantio, baseado no calculo do tempo de execução das atividades e disponibilidade de
recursos atuais.
A cidade de Goiânia já possui um planejamento paisagístico. Desta maneira, sugere-se
a elaboração de um mapa com esse planejamento e zoneamento e que este fique disponível
em seu Plano Diretor, para viabilizar o melhor entendimento deste. Para as outras cidades,
faz-se importante a realização desse planejamento paisagístico. Este não precisa estar
necessariamente contido no Plano, entretanto as diretrizes de como este planejamento deve
ser realizado deverão estar descritas, com informações sobre definição espacial (por bairros
ou por macro-regiões), quais as etapas e o cronograma a ser seguido, por exemplo.

Quadro 2. Resumo dos Pontos Fortes e Oportunidades de Melhoria


Cidade Pontos Fortes Oportunidades de Melhoria
- Complementação do Inventário;
- % de árvores com necessidade de
Porto Feliz - Cronograma;
atenção
- Dar seguimento ao Plano;
- Complementação do Inventário;
- Planejamento Paisagístico; - Cronograma;
Goiânia - Relação adaptabilidade e queda. - Disponibilizar legislação;
- Detalhamento dos Programas;
- Mapa de zoneamento.
- Planejamento Paisagístico;
- Diagnóstico preciso;
- Complementação do Inventário;
Vitória - Programas bem descritos;
- Cronograma;
- Legislação referente ao Plano.
- Atualizar o Plano.

- Disponibilizar Plano Diretor de


Porto Alegre - Legislação atualizada
Arborização;

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cada Plano, como pode ser observado, possui seus pontos de excelência e pontos
ainda a serem aprimorados para que sua implantação resulte numa arborização de qualidade
e que atenda às demandas de cada comunidade.
Assim, a cidade de Porto Alegre poderia disponibilizar o seu Plano Diretor de
Arborização para a população, propiciando desta forma, um maior contato da mesma com
esse documento e a oportunidade de estudos completos sobre essa temática.
Goiânia deve disponibilizar a lei que institui seu Plano Diretor de Arborização, para que
o mesmo seja regulamentado e oficializado. Quanto ao seu Plano, este poderia ser mais
sintético e objetivo.

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Análise comparativa dos planos diretores... 73

Por se tratar de um Plano feito no ano de 1992, Vitória necessita atualizar e revisar o
mesmo, bem como dar andamento ao planejamento paisagístico com zoneamento dos bairros.
Porto feliz deve dar andamento ao inventário para toda a cidade e aproveitar as críticas aos
Planos estudados para que não cometa os mesmo erros, analisando também a possibilidade
de aplicar as medidas bem sucedidas de outros planos para sua cidade.
Uma falha observada nos Planos analisados, foi a falta de participação da comunidade
na elaboração do mesmo. O único PDAU que considerou de alguma maneira a população foi o
de Goiânia, entretanto, somente a título de entrevista para ilustrar o mesmo. Entende-se que o
sucesso e a eficácia do plano diretor dependem da aceitação e envolvimento da população.
Assim faz-se necessária a atuação desta em todas as etapas do Plano, desde sua elaboração,
levantando as expectativas e as demandas da comunidade, até sua implementação e
monitoramento.
Também seria muito útil e interessante se cada cidade fizesse um documento à parte
com as discussões e estudos prévios realizados para a elaboração do Plano, contendo as
referências para o mesmo.
Os Planos estudados se encontram em diversos estágios, alguns implementados,
outros esquecidos e outros em fase de elaboração, revelando incertezas e descompassos, e
demonstrando a necessidade de mais estudos e discussões nesta área, a fim de subsidiar
novos Planos e impedir erros recorrentes e falhas observadas nos Planos existentes.

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