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Patrícia Mara Sanches1, Juliana Amorim da Costa2, Demóstenes Ferreira da Silva Filho3
RESUMO
A arborização das cidades brasileiras é marcada por falta de planejamento que resulta em
um cenário de conflitos e baixa qualidade ambiental do espaço urbano. Portanto, faz-se
necessária a utilização de instrumentos que normatizem e regularizem as atividades
relacionadas à implantação e manejo da arborização viária. Um desses instrumentos é o
Plano Diretor de Arborização Urbana (PDAU). Esse plano se constitui numa eficaz
ferramenta tanto de planejamento como de guia para a manutenção e monitoramento da
arborização urbana. Desta maneira, o estudo de Planos que já foram elaborados ou que
estão em fase de elaboração é de grande importância para subsidiar a criação de novos
para outras cidades. Neste trabalho foram analisados os Planos Diretores de Arborização
das cidades de Porto Feliz/SP, Goiânia/GO, Vitória/ES e Porto Alegre/RS. Esta análise foi
comparativa, possibilitando uma visão crítica de todos os aspectos e etapas que compõem o
PDAU, gerando discussões e embasamento para futuros planos diretores.
1
Arquiteta e Urbanista, mestranda em Paisagem e Ambiente – FAU-USP, Endereço: Rua do Lago,
876, 05508.080, São Paulo – SP - Brasil, <patricia.msanches@usp.br>;
2
Gestora Ambiental, mestranda em Conservação de Ecossistemas Florestais – ESALQ-USP,
Piracicaba-SP, <jcosta@esalq.usp.br>;
3
Engenheiro Agrônomo, professor do Curso de Engenharia Florestal - ESALQ-USP, Piracicaba-SP,
<dfsilva@esalq.usp.br>.
Soc. Bras. de Arborização Urbana REVSBAU, Piracicaba – SP, v.3, n.4, p.53-74, 2008
54 SANCHES, P. M. et al.
ABSTRACT
The street tree planning in Brazilian cities is marked by lack of planning what results in many
failures and an enviromental poor quality of the urban space Therefore, it is necessary to use
tools that set standards and regulate the activities related to the establishment and
management of urban forest. One of these instruments is the Urban Forest Master Plan. This
plan is an effective tool in planning and a guide for the maintenance and monitoring of urban
forest. Thus, the study of the plans that have already been developed or are under
development have a great importance to guide and support the creation of new plans for
other cities. In this paper the Urban Forest Master Plan of Porto Feliz/SP, Goiânia/GO,
Vitória/ES and Porto Alegre/RS cities were analyzed comparatively. Such analyses provided
a critical view of all aspects and steps of the master plans, helping the authorities in
developing new plans.
Keywords: urban forest master plan, urban planning and urban forestry.
INTRODUÇÃO
O Plano Diretor é uma lei municipal, cuja elaboração está prevista na Constituição
Federal de 1988, em seu artigo 182, §1º. É o instrumento básico da política de
desenvolvimento e de expansão urbana e veio a ser regulamentada pelo Estatuto da Cidade
(Lei nº 10.257/2001), que estabelece seu conteúdo mínimo (ARAÚJO JUNIOR, 2006). Tem
como objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o
bem-estar de seus habitantes e subsidiar o planejamento e a gestão territorial urbana
(BRAGA E CARVALHO, 2001; NASCIMENTO E CAMPOS, 2006).
Deve contemplar diretrizes referentes à circulação, habitação, meio ambiente,
patrimônio histórico e outros aspectos relacionados com o desenvolvimento das cidades, de
modo a proporcionar melhores condições de vida a sua população, e sua criação deve
contar com a participação da comunidade (BRAGA E CARVALHO, 2001; NASCIMENTO E
CAMPOS, 2006).
Outras leis municipais poderão tratar da política urbana, mas terão sempre que
conformar-se com as diretrizes traçada pelo Plano Diretor para as áreas urbana e rural do
município (GALIL, 2005).
E um dos itens previstos para um Plano Diretor completo é a realização de um Plano
Diretor de Arborização Urbana (PDAU), um instrumento de planejamento municipal de áreas
verdes urbanas. De acordo com a Prefeitura de Porto Alegre (2008), o PDAU é o “conjunto
de métodos e medidas adotadas para preservação, manejo e expansão das árvores nas
cidades, de acordo com as demandas técnicas e as manifestações de interesse das
comunidades locais”. Portanto, deve considerar as especificidades locais e atender às
demandas da comunidade. Assim, deve ser participativo e normatizar regras para a
condução de uma arborização urbana de qualidade. Entretanto, são poucos os municípios
brasileiros que possuem tal documento. E alguns daqueles que o possuem ainda não o
implantaram, ou não completaram sua efetivação.
Assim, para melhorar e normatizar a arborização das cidades brasileiras foi aprovado
no dia 27 de maio de 2008, uma mudança no Estatuto da Cidade, para que seja incluso,
obrigatoriamente, nos planos diretores municipais o PDAU, que deverá conter informações
sobre espécies e porte das árvores e as condições da arborização em relação à demanda
da comunidade (FRENTE PARLAMENTAR AMBIENTALISTA, 2008).
Desta forma, faz-se necessário estudos para investigar qual a situação atual dos
PDAUs dos municípios brasileiros. O que vem de encontro com este trabalho que se propõe
a apresentar o estado-da-arte dos PDAUs brasileiros, especificamente de Vitória/ES, Porto
Alegre/PR, Porto Feliz/SP e Goiânia/GO e realizar uma análise comparativa entre eles. O
objetivo é que esta análise ofereça uma visão crítica quanto à elaboração de PDAUs,
MATERIAIS E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Porto Feliz
O município de Porto Feliz encontra-se a 110 km da capital São Paulo, em direção
leste para oeste do estado. Localiza-se na latitude 23º12’S e na longitude 47º31’W, no
bioma Mata Atlântica. Possui uma área total de 557,9 km2 e população de 46.054 habitantes
(PORTO FELIZ, 2008; IBGE, 2007)
O “Relatório Preliminar: Diagnóstico da Arborização Urbana do Município de Porto
Feliz-SP” (2008) foi o documento disponibilizado pela Prefeitura desta cidade, como um
projeto piloto em direção à elaboração do Plano Diretor.
Como já mencionado, este documento é um diagnóstico realizado a partir do
primeiro levantamento censitário das árvores nas calçadas e canteiros públicos do centro da
cidade. No total foram registradas 161 árvores em 49 ruas visitadas.
As informações levantadas foram características métricas: altura, diâmetro da copa,
altura da primeira bifurcação, DAP (Diâmetro a Altura do Peito), sua posição em relação à
calçada e à quadra, que permitiu o mapeamento georreferenciado destas; e as
Goiânia
Capital do estado de Goiás, Goiânia possui uma área total de 739 km2, e população
de 1.244.645 habitantes (IBGE, 2007). Localiza-se na latitude 16º 40’S e na longitude 49º
16’W, no bioma do Cerrado.
A Prefeitura de Goiânia tem disponibilizado à população seu PDAU4 na íntegra, cuja
estrutura está dividida em 6 partes: histórico da arborização, características da arborização
e política atual, cadastramento e diagnóstico, planejamento - subdividido em programa de
ampliação e re-qualificação da cobertura vegetal e diretrizes gerais para implantação - e por
fim, regimento legal da arborização do município.
Devido ao tamanho da cidade, segundo a Prefeitura de Goiânia, o cadastramento
censitário seria muito demorado e custoso, por isso a prefeitura realizou um inventário total
(censo) em 70 bairros, que posteriormente serviu como referência para o restante da cidade,
ou seja, por meio de técnicas estatísticas os resultados obtidos foram replicados para os
bairros em que a arborização não foi avaliada.
O inventário consistiu no cadastramento arbóreo qualitativo e quantitativo
acompanhado de mapeamento georreferenciado. A intenção é formar um banco de dados
interligado ao MUBGD – Mapa Urbano Básico Digital de Goiânia, que seria constantemente
atualizado com plantio e remoção de árvores, e possibilitaria o acesso de qualquer cidadão
sobre a situação de uma determinada árvore, fornecendo informações sobre ações de
manejo necessárias.
Os dados quantitativos coletados se referem ao número de indivíduos e espécies
ocorrentes, número de árvores a serem podadas, removidas e de novos plantios.
Conjuntamente foram coletados os dados qualitativos, ou seja, um breve diagnóstico de
cada indivíduo arbóreo, contento a descrição sobre porte; condições físico-sanitárias em
4
Plano diretor de arborização urbana de Goiânia. Goiânia: AMMA, 2008. 134 p.
Programa Anual de Plantio: tem como objetivo apresentar programas de plantio a cada
ano a serem executados no próximo período chuvoso. Este programa deve diversificar as
espécies a serem plantadas, não podendo ser superior a 30 espécies diferentes, sendo
que uma espécie não deve atingir mais que 15% de representatividade. Estabelece um
prazo de 10 a 20 anos para que Goiânia tenha uma arborização planejada para cada setor
da cidade. Visa dar continuidade ao Programa de Cadastramento e mapeamento de todos
os setores e ao estudo da introdução de espécies nativas do cerrado na arborização
viária.
Programa de produção de mudas nativas e exóticas: visa atender à demanda da prefeitura
no Programa de Plantio, priorizando a produção de espécies nativas do cerrado. Há um
acordo de cooperação técnica com a Escola de Agronomia da Universidade Federal de
Goiás, que visa aumentar a produção de mudas de 150 mil para 400 mil por ano;
Programa de Manutenção: tem como objetivo assegurar o bom desenvolvimento da muda
e zelar pela integridade desta e das árvores adultas existentes. Inclui técnicas de poda,
correta remoção de árvore, replantio e controle fitossanitário;
Programa de Substituição Gradativa das árvores da espécie Monguba, devido a sua
fragilidade a pragas e falta de adaptação às condições climáticas e edáficas de Goiânia;
Programa de Monitoramento: visa acompanhar sistematicamente o desenvolvimento das
árvores existentes e mudas plantadas;
Plantio Voluntário: visa dar continuidade ao Programa “Plante a Vida”, com ênfase a
distribuição de mudas, além de orientação à população quanto às espécies mais
recomendadas e adequadas a determinado local;
Análise da legislação municipal em relação à arborização urbana, propondo alterações na
legislação vigente e criação de novas leis.
Por fim, no último capítulo é apresentada a legislação federal e municipal pertinentes
à arborização urbana. Porém, não está contida a lei ou a normalização resultante do PDAU.
Esta foi obtida através do Diário Oficial da cidade e foi instituída como Instrução Normativa
em 05 setembro de 2008. Nesta está contido os objetivos do plano, as diretrizes gerais, a
participação da comunidade por meio de educação ambiental, a instrumentação do Plano
Diretor (formação dos grupos de trabalho, informações sobre a produção de muda, plantio,
manejo e conservação, poda, substituição de indivíduos e espécies) e diretrizes sobre
vegetação em áreas particulares.
Vitória
Capital do estado do Espírito Santo, Vitória é constituída por 34 ilhas e uma região
continental, totalizando uma área de 104,3 km2. Localiza-se na latitude sul 20º10’ e longitude
oeste 40º20’, no bioma Mata Atlântica. Concentra a maior parte das atividades econômicas
e culturais da região (Diagnóstico de aspectos prioritários em política de gestão ambiental
urbana na rede de mercocidades, 2002). Possui uma população de 314.042 habitantes
(IBGE, 2007).
Sua malha urbana é marcada por falta de espaço físico, calçadas e ruas estreitas,
que se constituem fatores limitantes para uma arborização urbana de qualidade. Por meio
da observação destes e outros problemas, a Prefeitura do Município de Vitória decidiu
realizar o “Plano Diretor de Arborização Urbana e Áreas Verdes”, no ano de 1992, que é
dividido em quatro capítulos mais anexos. Documento este que será analisado neste
trabalho.
No capítulo I Diagnóstico e Caracterização Geral do Município, a vegetação é
dividida em Arborização de Ruas, Áreas Verdes Públicas, Áreas Verdes Particulares e
Unidades de Conservação. Cada uma dessas áreas é analisada separadamente. Nesse
trabalho optou-se por dar ênfase à Arborização de Ruas.
Para o diagnóstico da Arborização de Ruas realizou-se um inventário quantitativo
total e um inventário qualitativo por amostragem. O formulário utilizado para o inventário
qualitativo foi baseado naqueles utilizados em Curitiba (1984), Recife (1985) e Maringá
(1988).
As informações coletadas referiam-se à: identificação da amostra; identificação da
espécie; porte da árvore (altura, altura da primeira ramificação, CAP e diâmetro de copa);
qualidade (condição geral da árvore e raízes); posição de plantio; planejamento
(compatibilização entre o porte da espécie utilizada e o espaço disponível para plantio);
necessidades de manejo; e verificação de existência de dano físico por vandalismo ou
acidente, por poda, tutoramento, obras de construção e identificação quando plantio
irregular e quando frutífera.
Dentre alguns resultados está a distribuição irregular dos 22.208 indivíduos arbóreos
existentes, representados por 73 espécies. E apenas 35% da área urbanizada da cidade
pode ser considerada como arborizada, 31% apresenta-se parcialmente arborizada, e 34%
sem qualquer arborização.
Ainda na fase de diagnóstico foi calculado um Índice de Áreas Verdes (área em m2
por habitante) para cada divisão proposta. Para a Arborização de Ruas obteve-se 2,88
m2/hab.
O Plano conclui o diagnóstico indicando que a implementação e o acompanhamento
do Plano serão efetivados pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SEMMAM) e pela
Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SEMURB).
Os inventários realizados chegaram em resultados de grande importância para a
caracterização da situação atual da arborização na cidade, como qual a distribuição das
Porto Alegre
A cidade de Porto Alegre possui uma área total de 476,30 km2, sendo que o
continente corresponde a 431,85 km2 e as ilhas a 44,45 km2, é a capital do Rio Grande do
Sul. Situada na latitude 30º05’S e na longitude 51º10’W, no bioma Mata Atlântica (PORTO
ALEGRE, 2008). Com uma população de 1.420.667 habitantes (IBGE, 2007).
Foi um dos primeiros municípios brasileiros a instituir um PDAU. Vindo a obter sua
formatação legal e atualizada em novembro de 2006, por meio da Resolução COMAM nº 05
publicado no Diário Oficial do Município. Resolução a qual será analisada neste trabalho.
De acordo com este documento, o PDAU pretende ser uma política de plantio, preservação,
manejo e expansão da arborização na cidade.
Quanto aos objetivos do Plano estão: a definição de diretrizes de planejamento,
implantação e manejo da arborização urbana; a promoção da arborização como instrumento
de desenvolvimento urbano e qualidade de vida; implementação e manutenção da
arborização; estabelecimento de critérios de monitoramento; e o envolvimento da população
neste processo.
A execução do Plano deverá ser realizada pela Secretaria Municipal do Meio
Ambiente (SMAM), nas questões relativas à elaboração, análise e implantação de projetos e
manejo da arborização urbana.
No inciso IV, do artigo 5º do capítulo IV, se estabelece de que os passeios públicos
deverão ter no mínimo 40% de área vegetada. Além deste, outros parâmetros são
determinados, como utilização de cabos ecológicos pelas companhias de energia elétrica.
Essa resolução regulamenta a necessidade de se utilizar predominantemente
espécies nativas regionais, num percentual mínimo de 70%. Sendo vedado o plantio de
espécies exóticas invasoras.
Além da identificação das espécies que compõem a arborização, o Plano prevê a
informatização de todas as ações, dados e documentos referentes a este tema, para assim
manter um cadastro permanente e atualizado, mapeando todos os elementos arbóreos
existentes.
Compete também à SMAM desenvolver programas de Educação Ambiental para o
envolvimento e comprometimento da população na elaboração, implantação e manutenção
do Plano. Bem como elaborar convênios com instituições públicas e privadas visando
agilizar e facilitar a busca por recursos para a efetivação do Plano.
Quanto à instrumentação do Plano, o viveiro municipal será responsável pela
produção de mudas, identificação e cadastro de árvores-matrizes. Dá instruções quanto aos
procedimentos que devem ser tomados para o plantio correto da muda (como a distância
entre as árvores e dimensões da cova). E incumbe ao proprietário do imóvel a construção
de um canteiro em torno de cada árvore de seu lote, atendendo a critérios específicos.
Prevê um programa de manutenção, com visitas periódicas, principalmente nos
primeiros meses do plantio da muda e priorizando o atendimento preventivo, evitando
atividades drásticas, como podas pesadas. Além disso, prevê capacitação permanente da
mão-de-obra, para a realização dessa manutenção.
Dedica uma Seção ao Plano de Manejo, que deverá atender objetivos específicos:
unificar a metodologia de trabalho nos diferentes setores da SMAM; diagnosticar a
população de árvores da cidade por meio de inventário quali-quantitativo, mapeando o local
e a espécie na forma de cadastro informatizado; elencar as espécies a serem utilizadas, de
acordo com as zonas definidas; estabelecer critérios técnicos de manejo preventivo da
arborização urbana; e identificar áreas potenciais para novos plantios.
Quanto ao estado atual de implementação do Plano, em contato com o engenheiro
agrônomo Luiz Antonio Piccoli, coordenador do PDAU da cidade, foi informado que as
regras do mesmo estão sendo aos pouco incorporadas. O grande fator positivo que já se
conseguiu foi o convencimento das autoridades quanto às especificações necessárias para
o plantio de mudas, conseguindo verbas para tal atividade. Já a maior dificuldade está em
consegui-las num tamanho padrão. O inventário na cidade já foi realizado, entretanto não
tivemos acesso ao mesmo.
De acordo com uma reportagem realizada pelo Ministério das Cidades (“Plano
Diretor quer deixar Porto Alegre mais arborizada”), de 30 de setembro de 2007, a SEMAM
possui uma meta de plantio de 10.000 árvores por ano.
Análise Comparativa
Nesta etapa pretende-se analisar os Planos Diretores de Arborização Urbana
descritos acima, sem deixar de considerar as peculiaridades de cada um e, quando
necessário, essa apreciação será feita individualmente. O objetivo é que essa reflexão
venha contribuir e enriquecer a discussão sobre os planos diretores, proporcionando
oportunidade para melhoria contínua e evidenciando os pontos fortes, estratégias e medidas
bem sucedidas.
A análise está organizada e segue a estrutura geral dos Planos Diretores de
Arborização: inventário (coleta de dados); diagnósticos, ou seja, como esses dados foram
trabalhados e quais os resultados conclusivos que foram extraídos; e planejamento. O
inventário foi subdividido em tipo – total (censo) ou amostral, informações coletadas in-loco
e se houve a plotagem em mapas dessas informações. O planejamento foi subdividido em
programas implantados, se apresentam diretrizes técnicas de plantio e manejo, cronograma,
projeto de lei ou instrumentação legal e mapa de zoneamento. O compilamento dessas
informações foi agrupado em um quadro comparativo dos Planos Diretores de Arborização
que auxiliou a análise (Quadro 1).
Como já mencionado, o PDAU de Porto Feliz está em andamento e o de Porto Alegre foi
possível apenas a obtenção da lei, por isso, não se preencheu todos os quesitos do quadro
resumo.
Etapa
Porto Feliz Goiânia Vitória* Porto Alegre
Cidade
Tipo Censo (regional) Amostral Censo e Amostral Não disponibilizado
-Espécie; -Espécie; -Localização;
-Idade aproximada; -Porte; -Espécie;
-Porte; -Condições gerais; -Porte;
Inventário
Inventário
Observa-se que as variáveis qualitativas e quantitativas adotadas para o levantamento
de dados do inventário são semelhantes em quase todos os planos diretores analisados e
úteis para um diagnóstico final. Entretanto faz-se necessário algumas considerações quanto à
metodologia adotada em cada um deles.
Devido ao fato do Plano de Porto Feliz estar em andamento e ainda se mostrar como
um projeto piloto apenas para os bairros centrais, o inventário total da arborização viária foi
viável, pois os objetivos de se cadastrar as árvores ali presentes foram atingidos.
Já para Vitória, uma cidade de porte maior, foi adotado o inventário total em relação
aos dados quantitativos e inventário amostral para os dados qualitativos. Sendo que, o
levantamento deste último foi aplicado somente nos bairros com mais de 50% de ruas
arborizadas. Tal decisão pode levar a resultados tendenciosos ou distantes da realidade, uma
vez que não se escolheu parcelas amostrais heterogêneas, cobrindo uma variedade maior de
tipologias ou graus de arborização diferentes. Neste caso, é mais aconselhável um inventário
sistemático com unidades amostrais presentes em bairros tanto arborizados quanto não
arborizados.
Caso semelhante ocorreu em Goiânia, onde foi realizado inventário total (dados
qualitativos e quantitativos) para 70 setores, cujos resultados serviram de levantamento
amostral para o restante da cidade, ou seja, os dados foram trabalhados e com uso de
técnicas estatísticas aplicados para os bairros que não foram inventariados. Entretanto, estes
70 distritos pertencem a uma mesma região (centro) e são bairros adjacentes, que durante o
processo de urbanização foram marcados por uma mesma política de arborização e
apresentam, de forma geral, segundo o próprio plano diretor de arborização, uma configuração
homogênea. Assim, replicar os mesmo resultados do inventário total para outras regiões pode
também incorrer em erros, pois considerando a cidade como um todo, as regiões apresentam
dinâmicas e conformações diferenciadas, que reflete em uma arborização qualitativa e
quantitativamente distinta. O ideal é que as parcelas amostrais não estejam localizadas em
uma região única, como foi feito.
Um ponto positivo no inventário de Goiânia foi a decisão de indicar, no momento de
cadastramento das árvores existentes, pontos potenciais e viáveis para novos plantios, seja
porque havia um espaço vazio ou porque seria necessária a remoção de uma determinada
árvore. Essa medida funciona como uma proposição inicial ao planejamento paisagístico e
poupa tempo e recursos, uma vez que não será necessário, pelo menos por um determinado
período, um novo inventário para indicação de novos pontos de plantio, como está previsto
para Vitória.
Quanto ao mapeamento, todos os planos buscaram o georreferenciamento dos pontos
levantados, o que é muito positivo, pois a partir da localização exata deste, é possível elaborar
Diagnóstico
Nesta etapa, os resultados observados pelos Planos foram de fundamental importância
para subsidiar propostas e conhecer as necessidades de projetos e programas em diversas
áreas.
Um desses pontos fundamentais foi a constatação do grau de diversidade de espécies
de cada cidade. Todas as cidades apresentaram essa informação, importante para o manejo
das árvores na cidade e para aumentar o número de espécies daquelas que não são
contempladas e diminuir gradativamente a quantidade de indivíduos de espécies que
ultrapassam os limites recomendados.
A taxa de necessidade de manejo, com a classificação do tipo de manejo necessário,
também se configura num ponto essencial de todos os Planos. A cidade de Porto Feliz
apresenta um ponto forte em relação às outras, pois além de classificar, gerou um gráfico final,
provando que 84% das árvores necessitam de alguma atenção. O que demonstra a questão
de urgência de um plano diretor que regularize a situação, funcionando como uma estratégia
de sensibilização das autoridades e também da população em geral, o que pode gerar um
sentimento de cuidado em relação às árvores, e a arrecadação de recursos para o manejo das
mesmas.
A cidade de Vitória se destacou nessa fase por apresentar resultados precisos,
organizados por categorias (unidade amostral e espécie), facilitando a elaboração de diretrizes
para cada região e para cada espécie, o que acarreta na geração de um zoneamento mais
consistente. Pois há informação sobre o bairro, quais os principais problemas do mesmo e as
características de sua arborização, e também, sobre cada espécie, quais as mais adaptadas,
quais aquelas que mais necessitam de manejo.
Já a cidade de Goiânia se destacou por apresentar a relação entre queda de árvore e
adaptabilidade das espécies, como no caso da monguba. Esta análise pode ser útil na tomada
de decisões, sobre qual espécie não deve ser utilizada na arborização viária e na criação de
programas que incentivem o plantio de novas espécies, principalmente de nativas.
Quanto a Porto Alegre, não foi possível fazer inferências sobre seu diagnóstico, já que seu
Plano Diretor de Arborização não foi disponibilizado
Planejamento
Com relação aos programas previstos nos planos de Goiânia e Vitória, pode-se dizer
que há muitas semelhanças entre eles no que se refere ao tema e aos objetivos principais.
Ambos contemplam programa de plantio, de manejo, de manutenção, monitoramento, de
educação Ambiental, viveiros municipais para a auto-sustentabilidade na produção de mudas,
Vitória apresenta cronograma apenas para alguns projetos, como por exemplo, cronograma de
plantio, baseado no calculo do tempo de execução das atividades e disponibilidade de
recursos atuais.
A cidade de Goiânia já possui um planejamento paisagístico. Desta maneira, sugere-se
a elaboração de um mapa com esse planejamento e zoneamento e que este fique disponível
em seu Plano Diretor, para viabilizar o melhor entendimento deste. Para as outras cidades,
faz-se importante a realização desse planejamento paisagístico. Este não precisa estar
necessariamente contido no Plano, entretanto as diretrizes de como este planejamento deve
ser realizado deverão estar descritas, com informações sobre definição espacial (por bairros
ou por macro-regiões), quais as etapas e o cronograma a ser seguido, por exemplo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cada Plano, como pode ser observado, possui seus pontos de excelência e pontos
ainda a serem aprimorados para que sua implantação resulte numa arborização de qualidade
e que atenda às demandas de cada comunidade.
Assim, a cidade de Porto Alegre poderia disponibilizar o seu Plano Diretor de
Arborização para a população, propiciando desta forma, um maior contato da mesma com
esse documento e a oportunidade de estudos completos sobre essa temática.
Goiânia deve disponibilizar a lei que institui seu Plano Diretor de Arborização, para que
o mesmo seja regulamentado e oficializado. Quanto ao seu Plano, este poderia ser mais
sintético e objetivo.
Por se tratar de um Plano feito no ano de 1992, Vitória necessita atualizar e revisar o
mesmo, bem como dar andamento ao planejamento paisagístico com zoneamento dos bairros.
Porto feliz deve dar andamento ao inventário para toda a cidade e aproveitar as críticas aos
Planos estudados para que não cometa os mesmo erros, analisando também a possibilidade
de aplicar as medidas bem sucedidas de outros planos para sua cidade.
Uma falha observada nos Planos analisados, foi a falta de participação da comunidade
na elaboração do mesmo. O único PDAU que considerou de alguma maneira a população foi o
de Goiânia, entretanto, somente a título de entrevista para ilustrar o mesmo. Entende-se que o
sucesso e a eficácia do plano diretor dependem da aceitação e envolvimento da população.
Assim faz-se necessária a atuação desta em todas as etapas do Plano, desde sua elaboração,
levantando as expectativas e as demandas da comunidade, até sua implementação e
monitoramento.
Também seria muito útil e interessante se cada cidade fizesse um documento à parte
com as discussões e estudos prévios realizados para a elaboração do Plano, contendo as
referências para o mesmo.
Os Planos estudados se encontram em diversos estágios, alguns implementados,
outros esquecidos e outros em fase de elaboração, revelando incertezas e descompassos, e
demonstrando a necessidade de mais estudos e discussões nesta área, a fim de subsidiar
novos Planos e impedir erros recorrentes e falhas observadas nos Planos existentes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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importância no processo de construção da cidadania e da democracia. Revista do Direito
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CARVALHO, Pompeu F. de; BRAGA, Roberto (orgs.) Perspectivas de Gestão Ambiental em
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Diagnóstico de aspectos prioritários em política de gestão ambiental urbana na rede de
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<http://www.idrc.ca/uploads/user-S/11436513501LIVRO.pdf>. Acesso em 25 set 2008.
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<http://www.vitoria.es.gov.br/diario/2008/0919/arvores2.asp>. Acesso em 25 set 2008.
GALIL, A. M. G. O direito urbanístico no Brasil: aspectos estratégicos para a elaboração do
plano diretor. Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares”, Juiz de Fora: UFJF, nov
2005, 20 p.