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UNIVERSIDADE VALE DO RIO VERDE

AGRONOMIA – NOTAS DE AULA


Av. Av. Castelo Branco, 82 - Chácara das Rosas
Três Corações – MG - Tel.: (35) 3239-1000
NOTA DE AULA Nº 1

CURVAS-DE-NÍVEL E BACIAS DE RETENÇÃO

1) Considerações iniciais

A construção de curvas-de-nível e bacias de retenção são sugeridas para o


ordenamento e armazenamento da enxurrada, de modo a reter sedimentos,
evitando o processo de perda de solo por erosão e/ou, ainda, o surgimento de
voçorocas. Existem, ainda, várias outras formas, alternativas, como a construção
de paliçadas, terraços embutidos, cordões-de-vegetação, etc. Embora não seja
consensual, variando de solo para solo e, dependendo da especificidade da
situação, justifica-se o uso de curvas-de-nível apenas em terrenos cuja declividade
é igual ou superior a 18%.

As curvas-de-nível (FIG. 1) podem ser locadas em a) nível simples; b) com


um ligeiro desnível ou; c) mistas. As curvas-de-nível simples possuem as
extremidades bloqueadas, tendo a função de acumular e infiltrar a água, e são
recomendados para áreas com boa permeabilidade. Já as curvas-de-nível com
ligeiro desnível conduzem a água para as laterais, sendo mais adequadas para
áreas com menor permeabilidade e/ou declividades. No entanto, o mais usual são
as curvas-de-nível mistas, objeto desta nota de aula, isto é, as curvas que
englobam os dois tipos anteriores, ou seja, são projetadas e locadas em nível,
inclusive com capacidade de acumulação de água, mas que ao ser excedida, escoa
pelas laterais (PRUSKI et al., 2006). Este último tipo de curva procura somar as
vantagens das outras duas. A seleção do tipo de curva-de-nível a ser construída,
assim como seu dimensionamento, sua locação e sua construção devem ser feitas
ou supervisionadas por Engenheiros Agrônomos, ou ainda, outros profissionais
igualmente qualificados.

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FIG. 1. Vista de uma curva-de-nível no município de Pinheiral-RJ. A terra retirada é
colocada abaixo, formando um camalhão para aumentar sua eficiência. (Fonte:
acervo próprio, 2006)

Além das curvas-de-nível é muito comum, principalmente na região sul e


centro-oeste do Brasil, o uso de terraços (FIG. 2), estruturas de terra que tem as
mesmas funções das curvas-de-nível. Os terraços, no entanto, são “amontoados
de terra”, enquanto as modernas curvas-de-nível são canais no terreno. Os terraços
classificam-se em:

 quanto a sua largura: base estreita (menos de 3 m), base média (3 a 6


m) e base larga (6 a 12 m)

 quanto ao seu perfil: terraço do tipo embutido, murundum e patamar (ou


plataforma) (PRUSKI et al., 2006).

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FIG. 2. Terraço de base média, do tipo murundum, em Planalto-SP. (Fonte: acervo
próprio, 2014)

Quando escolhido, os terraços do tipo embutido devem ser aplicados em


áreas com baixa declividade; acima de 18 %, usa-se o tipo murundum e em grandes
declividades, o tipo patamar (este último consiste em “cortes” na superfície do
terreno, sendo mais utilizados na Ásia – FIG. 3). No entanto, o alto custo de
construção dos terraços (pois demanda máquinas pesadas e implementos
específicos) e somado à perda de grande parte do terreno, muitos produtores tem
abandonado esta prática e optado pelas curvas-de-nível.

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FIG. 3. Terraços para o cultivo de arroz em Phuket, Tailândia. Declividade estimada
em 50% e solo de textura silto-arenosa. (Fonte: acervo próprio, 2016)

As curvas-de-nível mistas, preferida pelos produtores rurais, não têm a


capacidade e nem a função de reter toda a água escoada, mas sim de transportá-
la em segurança até as bacias de retenção, estruturas situadas nas extremidades
necessário para o armazenamento e infiltração da enxurrada.

A bacia de retenção, popularmente chamada “barraginha”, é, portanto, um


tipo de estrutura para conter e armazenar a água da enxurrada de modo que ela
tenha tempo para se infiltrar no solo, implantada no final das curvas-de-nível (FIG.
4).

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FIG.4. Bacia de retenção circular (barraginha), protegida com cerca, em Perdões-
MG. Fonte: acervo próprio, 2019.

Há situações em que a água da enxurrada pode escoar pelas laterais (sem


bacias) sem haver danos, como é o caso de curvas-de-nível que funcionam como
escoadouros vegetados (BERTONI & LOMBARDI NETO, 1993). Poderia se pensar
também em outro tipo de estrutura de dissipação de energia da enxurrada, como
pré-moldados, criando uma escada de dissipação, etc. Convém ressaltar que os
custos totais poderão ser bem mais elevados, ficando ao critério do agrônomo e do
produtor, a escolha do método.

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2) Determinação da declividade da área

A determinação da declividade da área é o primeiro passo para a construção


das curvas-de-nivel, que juntamente com a informação da textura do solo, são
utilizadas para calcular o espaçamento que as curvas ficarão distanciadas umas
das outras.

Para tanto, podem ser utilizados equipamentos desde aqueles mais


modernos, como o nível óptico, teodolito ou estação total (que requerem técnicos
qualificados para sua operação) até equipamentos alternativos, que também são
precisos o suficiente para este trabalho, com a vantagem de ter construção e uso
simples.

Os equipamentos alternativos mais comuns são: o nível de mangueira (ou


de borracha), nível retangular, nível de trapézio (ou “pé-de-galinha”), dentre outros.
Dentre esses, o pé-de-galinha é o recomendado pela Embrapa. Esse instrumento
consiste de um triângulo de madeira, com 2,0 m ou 3 m de comprimento (entre
pernas), e um prumo de pedreiro acoplado no seu topo (FIG 5).

FIG. 5. Ilustração do pé de galinha. (Fonte: Embrapa, 2022)

Para determinação da declividade utilizando o pé-de-galinha, deve-se


posicionar o equipamento no sentido da declividade, levantar a haste abaixo até
que o fio de prumo nivele na marca da barra horizontal, ficando centralizado, e
então, medir com uma régua ou metro e anotar o valor encontrado. Para a próxima

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leitura se deve prender a base e girar o equipamento fazendo com que a haste de
cima vá para a parte de baixo, procedendo desta forma, pelo menos cinco leituras
(FIG 6).

FIG. 6. Operação de determinação da declividade com o pé-de-galinha

Exemplo 1

Calcule a declividade de um terreno, sabendo que o somatório das leituras


realizadas tenha sido 4,5 m (diferença de nível), usando um pé-de-galinha de 3 m
de comprimento entre-pernas, em 5 leituras.

RESOLUÇÃO: Se foram 5 leituras e considerando o comprimento entre-pernas de


3 metros, temos 15 metros de distância percorrida. Utilizando uma regra de três
simples tem-se:

15 m --------------- 4,5 m
100 m --------------- D

D = (100 x 4,5)/15 = 30% de declividade

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3) Cálculo da distância entre as curvas-de-nível

Para implantação das curvas-de-nível é necessário calcular os


espaçamentos vertical e horizontal. O espaçamento vertical não diz respeito à
diferença de nível propriamente dita entre as curvas, mas é um dos componentes
da distância entre elas. Segundo Pires e Souza (2003) o espaçamento vertical pode
ser calculado por várias fórmulas, mas a mais utilizada é a de Bentley:

𝐷
𝐸𝑉 = (2 + ) 𝑥 0,305
𝑋

onde:
 EV = espaçamento vertical (m)
 D = declividade (%)
 X = fator obtido na Quadro 1. Note que ele apresenta, também, os valores
para terraços.

Quadro 1. Valores de X para cálculo do EV entre curvas e terraços

PRÁTICA CONSERVACIONISTA
Valores
Terraços Curvas-de-nível
de X
Culturas permanentes Culturas anuais Culturas anuais/permanentes
Em desnível Em nível Em desnível Em nível Mista Em nível
Argilosa 1,5
Média 2,0
Arenosa Argilosa 2,5
Média 3,0
Arenosa Argilosa 3,5
Média Argilosa 4,0
Arenosa Argilosa Média 4,5
Média Arenosa Argilosa 5,0
Arenosa Média 5,5
Arenosa 6,0

Fonte : Pires & Souza (2003) com modificações

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Como se pode observar, segundo estes autores, para o cálculo do EV leva-
se em consideração o tipo de prática conservacionista, tipo de solo, relevo e
cobertura vegetal do solo. É importante observar que, quanto menor for o valor de
X, maior será o EV e, consequentemente, maior será a distância entre as curvas
(ou terraços).

De posse do valor de EV para determinada condição, e juntamente com a


declividade do terreno, pode ser calculado o espaçamento horizontal (EH) entre as
curvas através da fórmula abaixo:

𝐸𝑉 𝑥 100
𝐸𝐻 = ( )
𝐷

onde:

 EH = espaçamento horizontal (m)

Exemplo 2

Considere uma área de encosta coberta com pastagem degradada que


apresenta processos erosivos intensos, inclusive presença de voçorocas e que
para sua recuperação, serão implantadas curvas-de-nível mistas. A declividade do
local, como calculada no Exemplo 1, é de 30%, e o solo possui textura média.
Calcular o espaçamento entre as curvas.

Dados:

 D (declividade)= 30%
 X= 4,5 (valor de x da equação)

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RESOLUÇÃO: Primeiramente, calculamos o EV:

30
𝐸𝑉 = (2 + ) 𝑥 0,305 ≈ 2,64 𝑚
4,5

Posteriormente, calculamos o EH:

2,64 𝑥 100
𝐸𝐻 = ( ) ≈ 8,8 𝑚
30

Trabalhos conduzidos por Oliveira (2010) em áreas degradadas por


voçorocas, comparando-se dados do Brasil, Reino Unido e Portugal, têm
constatado que utilizando leguminosas de rápido crescimento, a cobertura florestal
da área pode ocorrer em cerca de 3 a 5 anos, passando a atuar de forma
significativa no controle da erosão. Tendo em vista essa rápida cobertura, admite-
se por uma questão econômica, um aumento do espaçamento entre as curvas
(EHfinal), adicionando-se a metade desse valor ao valor encontrado pela fórmula.
Com isso, a quantidade de curvas a serem construídas será menor, reduzindo os
custos e mantendo praticamente a mesma eficiência.

Genericamente, teríamos, então, uma fórmula derivativa para o cálculo do


espaçamento final (distância final entre curvas), como sendo:

EHfinal = EH X 1,50

No exemplo anterior, a distância entre as curvas seria, portanto:

 EHfinal = EH X 1,50
 EHfinal = 8,8 X 1,50
 EHfinal = 13,2  EHfinal ≈ 13 metros

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4) Demarcação e locação das curvas-de-nível

Para demarcar as curvas-de-nível com o pé-de-galinha, deve-se, primeiro,


escolher o método de escoamento da água. O profissional pode optar o sentido de
escoamento da água para um a) um lado da curva ou; b) para os dois lados da
curva.

Se a opção for para que a água escoe somente para um lado, ele deve iniciar
a locação no sentido oposto onde a bacia de retenção ficará. No entanto, caso a
opção seja para que a água escoe para os dois lados, a locação inicia-se na
metade da dimensão da curva-de-nível, caminhando, para a direita e/ou para a
esquerda, no sentido da declividade, fazendo as medições com o nível, conforme
metodologia de determinação de declividade. A marcação na metade da curva
diminui o volume das bacias de retenção, embora exija a construção nas duas
extremidades – contudo, é mais seguro para animais e locais com acesso a
crianças.

É importante ressaltar que, em campo, a distância entre curvas é dada pelo


espaçamento horizontal (EHfinal), que é o fator que realmente importa.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE Nº 1: PARA EFEITOS DE PROJETO, O NÚMERO


DE CURVAS-DE-NÍVEL É OBTIDO DIVINDO-SE O COMPRIMENTO DA RAMPA
PELO EHfinal, TOMANDO-SE, SEMPRE, O NÚMERO INTEIRO.

Para locar as curvas-de-nivel mistas, procede-se da mesma forma que as


curvas em nível simples. No entanto, adiciona-se o valor do desnível à leitura,
fazendo-se o ajuste. De acordo com Galleti (2001), o desnível de 0,3 % (ou seja,
3,0 cm para cada 10 m, ou 30 cm para cada 100 m) é o ideal para curvas mistas
com desnível homogêneo, pois evita velocidade erosiva da enxurrada ou a sua
rápida sedimentação (entupimento).

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Uma sugestão interessante é empregar pés-de-galinha com 2,0 m entre
pernas. Assim, na quinta leitura do pé-de-galinha (5 leituras x 2,0 m = 10m) deve-
se medir 3,0 cm a partir do seu ponto e bater uma estaca, repetindo-se esse
procedimento até onde for necessário.

Quando as estacas ficam muito próximas, devido a irregularidades naturais


do terreno, é comum elas fazerem um “zigue-zague”, o que atrapalha o tratorista.
Então, após sua locação, retiram-se aquelas que estão fora do traçado desejado
para a curva-de-nível, ou seja, aquelas desalinham a curva. Tratoristas experientes
geralmente trabalham com espaçamentos de 20, 30 ou até 40 metros entre estacas
– porém, caso a distância seja muito grande, aumentam-se as chances de erro na
execução do projeto.

5) Determinação do escoamento superficial

A determinação do escoamento superficial é, na prática, o volume total de


água que uma determinada área acumula e é importante para o dimensionamento
da seção transversal das curvas-de-nível e do volume das bacias de retenção, os
quais serão abordados de forma detalhada mais adiante. O escoamento superficial
varia em função da declividade, tipo de solo (textura), cobertura vegetal e
intensidade das chuvas.

Para sua estimativa, emprega-se o “Método Racional”, desenvolvido por


Ramser (1927), que calcula a vazão máxima escoada para áreas inferiores a 500
hectares, a partir de evento de chuva de intensidade máxima com um determinado
tempo de concentração. A fórmula utilizada é:

𝐶 𝑥 𝐼𝑥 𝐴
𝑄𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = ( )
360

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onde:

 Qtotal = vazão do escoamento superficial (m3 s-1)


 C = coeficiente de escoamento (adimensional)
 I = intensidade da precipitação pluviométrica (mm h-1)
 A = área de contribuição (ha)

A cobertura do solo influencia bastante no escoamento superficial. No


Quadro 2, seguem os valores de coeficiente C para diferentes situações
topográficas e coberturas de solo.

Quadro 2. Coeficiente de escoamento (C) para áreas inferiores a 500 ha.

Topografia e declividade
Tipo de
Cobertura Suave Fortemente
solo Ondulada Amorrada Montanhosa
vegetal ondulada ondulada
(textura)
2,5 a 5,0% 5,1 a 10,0 % 10,1-20,0% 20,1-40,0% 40,1-100%

Culturas Argiloso 0,60 0,58 0,76 0,85 0,95


anuais Arenoso 0,52 0,59 0,66 0,73 0,81

Culturas Argiloso 0,48 0,54 0,61 0,67 0,75


permanentes Arenoso 0,41 0,46 0,52 0,56 0,64

Pastagens Argiloso 0,38 0,43 0,48 0,53 0,59


limpas Arenoso 0,32 0,37 0,41 0,45 0,50

Argiloso 0,26 0,29 0,33 0,37 0,41


Capoeiras
Arenoso 0,23 0,25 0,28 0,32 0,35

Argiloso 0,18 0,20 0,22 0,25 0,28


Matas
Arenoso 0,15 0,18 0,20 0,22 0,24

Fonte: Pires & Souza, 2003 (modificado)

Note que, para solos de textura média, o valor de C deve ser obtido a partir
da média entre solos argilosos e arenosos.
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O próximo parâmetro da equação, a intensidade máxima de chuva (I), é um
fator muito importante, pois está relacionado com a produção de enxurrada. Para
obtenção desse parâmetro o ideal seria utilizar valores de série histórica, no
entanto, nem sempre o acesso a esse tipo de dado é possível, e nesse caso, se
utiliza a probabilidade do evento ocorrer em intervalos de 5, 10, 15 anos, etc.

Para se obter o evento de intensidade máxima da chuva, é necessário


calcular o tempo de concentração (Tc) da bacia. Embora Tc seja, na prática, o
tempo gasto para que toda a área contribua para o escoamento, ele é considerado,
para efeito de cálculo, como o tempo de duração da chuva (BERTONI &
LOMBARDI, 1993). Com isso, se tem a enxurrada máxima possível para uma
determinada área.

Dentre as várias equações existentes, a Equação de Kirpich é a mais usada


em estudos hidrológicos (CARVALHO, 2005), e depende do comprimento de rampa
e do desnível.

Fórmula:

0,385
0,87 𝑥 𝐿³
𝑇𝑐 = ( )
𝐻

onde:
 Tc= tempo de concentração (h)
 L= comprimento de rampa (km)
 H= desnível entre o ponto mais alto e o ponto considerado (m)

Como pode ser observado, trata-se de uma fórmula empírica e ela é apenas
um dos constituintes da equação que determina o volume total de enxurrada que
uma área é capaz de acumular.

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Exemplo 4

Imagine uma área que possui 72 m de comprimento de rampa, e a diferença


do ponto mais baixo e o mais alto é de 20 m. Calcule o tempo de concentração.

0,385 0,385
0,87 𝑥 𝐿³ 0,87 𝑥 0,072³
𝑇𝑐 = ( ) = ( ) ≈ 0,014323 horas ≈ 0,86 minutos
𝐻 20

Pires & Souza (2003), ressaltam que chuvas de mesma duração podem
apresentar diferentes intensidades e, quanto maior ela for, menor é a sua
probabilidade de ocorrência. Esses autores compilaram um quadro com a
intensidade máxima de chuva que pode ocorrer em função do tempo de
concentração e do período de retorno (Quadro 3).

Quadro 3. Valores aproximados das intensidades máximas de chuva (I),


em mm h-1, possíveis de ocorrerem em diferentes durações ou tempos de
concentração, num período de segurança (período de retorno) de 5 e 10 anos.
Regiões com precipitação média Regiões com precipitação média
Tempo de
anual inferior a 1400 mm anual superior a 1400 mm
concentração (Tc) ou
Freqüência Freqüência Freqüência Freqüência
duração da chuva
(min) de 5 anos de 10 anos de 5 anos de 10 anos
mm h-1
0,5 263 290 320 350
0,7 255 281 310 341
1 246 270 300 330
1,5 230 257 382 310
2 220 247 272 297
3 203 225 252 275
5 177 200 223 250
7 160 180 205 225
10 141 160 181 202
15 117 137 155 173
20 104 120 138 155
30 85 98 115 130
40 72 85 100 114
50 64 77 89 101
60 58 68 80 93
80 49 58 68 79
100 43 51 60 69
120 38 46 54 63
Fonte : Pires & Souza, 2003 (adaptado)

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Exemplo 5

Dando continuidade aos exemplos anteriores e que, segundo cálculos,


apresentou um tempo de concentração (Tc) de 0,86 min, considere uma região com
precipitação média anual inferior a 1400 mm, e tempo de retorno de 5 anos,
pergunta-se: Qual será o valor de I (intensidade da chuva)?

Com base no Quadro 3, é necessário fazer a interpolação dos valores.


OBSERVE QUE A TÉCNICA DE INTERPOLAÇÃO UTILIZADA É A DE
LAGRANGE:

0,7'---------255 mm h-1 0,3'-----------------9 mm h-1


1'-----------246 mm h-1 0,16’------------x mm h-1 (?)

1’ - 0,7’ = 0,3’ x= (0,16 x 9)/0,3 = 4,8 mm h-1


255 - 246= 9 mm h-1 246 + 4,8= 250,8 mm h-1
0,86’ - 0,7’= 0,16’

Logo, o valor de I é 250,8 mm h-1.

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE Nº 2: EM CASO DE DÚVIDA, CONSULTE A


NOTA DE AULA COMPLEMENTAR SOBRE MÉTODOS DE INTERPOLAÇÃO.

Agora então, conhecendo-se a área de contribuição do local a ser controlado


a erosão, e juntamente com as informações anteriores, já é possível calcular o
escoamento superficial da chuva, ou seja, o Qtotal.

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Exemplo 6

Imagine que a mesma área anterior, possua dimensões de 72 m de


comprimento (sentido do declive) por 100 m de largura. Utilizando os dados dos
exemplos anteriores, calcular o escoamento superficial (Qtotal). Para efeitos de
cálculo, considere C = 0,59 (valor dado – pastagem degradada).

Dados:

 I= 250,8 mm h-1
 A= 0,72 ha
 C = 0,59

RESOLUÇÃO: O escoamento superficial será:

𝐶 𝑥 𝐼𝑥 𝐴 0,59 𝑥 250,8𝑥 0,72


𝑄𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = ( )= ( ) = 0,30 𝑚3 𝑠 −1
360 360

6) Dimensionamento das curvas-de-nível

Para ordenar a enxurrada produzida na área a ser controlada a erosão, é


necessário conhecer a quantidade de curvas-de-nível e qual deve ser a seção
transversal necessária para transportar a vazão do escoamento superficial. A
quantidade das curvas é determinada dividindo-se a dimensão do terreno, no
sentido do maior declive, pela distância horizontal (EHfinal) encontrada.

Para o dimensionamento das curvas, primeiramente, deve-se escolher sua


forma geométrica. As formas mais comuns de curvas-de-nível são trapezoidal,
retangular, triangular e parabólica. A forma trapezoidal (FIG 7) é a mais utilizada
para curvas revestidas ou não, pois a inclinação das paredes reduz o
desmoronamento dos barrancos, e consequentemente, o assoreamento. Esta
inclinação poderá ter diferentes valores em função da resistência das paredes.
Normalmente se utiliza inclinação de 45º, sendo chamado de talude 1:1.

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FIG. 7. Seção típica de uma curva trapezoidal

Já a curva com forma retangular (FIG. 8), apresenta a vantagem de ser mais
simples e fácil de ser construída, principalmente se for feito de forma manual.

FIG. 8. Seção típica de uma curva retangular.

Contudo, como critério de projeto, outras seções podem ser adotadas, como
a seção triangular (FIG. 9) ou seção parabólica (FIG. 10).

h
α

FIG. 9. Seção típica de uma curva triangular.

18
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d

FIG. 10. Seção típica de uma curva parabólica.

Praticamente, todas as curvas-de-nível são feitas com tratores e arado, o


qual faz um desenho parabólico no canal. Para o cálculo da seção das curvas-de-
nível (BERNARDO et al., 2005), os diferentes métodos existentes se baseiam:

 Na “Equação de Manning”...

1
𝑉= 𝑥 𝑅ℎ2/3 𝑥 𝑖 1/2
𝑛

onde:

 V = velocidade média da água (m s-1)


 n = coeficiente de rugosidade, em função do tipo de parede da curva
(Quadro 4)
 Rh = raio hidráulico
 i = declividade da curva (m m-1)

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Quadro 4. Valores de n em função da natureza das paredes da curva.

Natureza das paredes Coeficiente de rugosidade (n)


Curvilíneas e lamosos 0,0250
Terra retilíneas e uniformes 0,0225
Leito pedregoso e vegetação 0,0350
Fundo de terra e talude empedrados 0,0300
Revestimento de concreto 0,0150

Fonte : E. T. Neves citado por Bernardo et al., (2005)

 ...e na “Equação da Continuidade”

𝑄𝑐𝑎𝑙𝑐 = 𝐴 𝑥 𝑉

onde:

 Qcalc = vazão calculada (m3 s-1)


 A = área (m2)
 V = velocidade (m s-1)

Para obtenção da seção escolhida utilizando o método das tentativas, deve-


se testar valores para as dimensões do canal e da lâmina d’água (h), de modo que
a vazão resultante seja a mais próxima possível àquela do projeto, de modo que a
velocidade de escoamento fique dentro do limite para as condições testadas
(Quadro 5), evitando assim, a erosão ou sedimentação. Após a obtenção das
dimensões da curva-de-nível, recomenda-se utilizar uma borda livre ou valor de
segurança, ou seja, adicionar na altura (h) da curva mais 0,10 m, isto é, 10 cm
(PRUSKI et al., 2006).

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Quadro 5. Valores máximos da velocidade média de escoamento nas curvas.

Resistência do solo Velocidade (m s-1)


Solos soltos < 0,3
Solos medianos < 0,5
Solos compactos < 1,0

Fonte : Daker (1987)

Para se calcular o Rh, é necessário antes, calcular a área (A) da seção


transversal e o perímetro molhado (P).

Fórmulas para curvas de seção trapezoidal

A = b x h + m x h2

P = b + 2 x h x ( 1 + m2)

Rh = A/P

onde:
 A = área da seção transversal (m2)
 b = largura do fundo da curva (m)
 h = altura da lâmina de água (m)
 m = tang de  (ângulo das paredes/talude - para  = 45º, m = 1)
 P = Perímetro molhado (m)
 Rh = raio hidráulico (m)

Fórmulas para curvas de seção retangular

A=bxh

P = b + (2 x h)

Rh = A/P

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Fórmulas para curvas de seção triangular

A = (b x h)/2

P = 2 x h x ( 1 + m2)

Rh = A/P

Fórmulas para curvas de seção parabólica (para disco de arado)

A = 2/3 x d x h

P = d + [(8 x h²)/3 x d]

Rh = A/P

onde:
 d = diâmetro do disco de arado (m)

Exemplo 7

Continuando o exercício, dimensionar o intervalo de valores permitidos para


a Qcalc, cuja Qtotal = 0,30 m3 s-1.

RESOLUÇÃO: O volume de enxurrada produzido será a vazão do escoamento em


relação à duração da chuva. Para isso, utiliza-se a duração da chuva como sendo
igual ao tempo de concentração (Tc) da área de contribuição. Assim:

Vtotal = Qtotal x Tc

Então:
Acertamos as unidades  Q = 0,30 m3 s-1 x 60 s = 18 m3 min-1
Então: Vtotal = 18 m3 min-1 x 0,86 min = 15,48 m3 de enxurrada (ou seja ≈ 16 m3).

Lembrando que:

 1 minuto = 60 segundos

 1 m3 = 1000 litros

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Temos, então, 16 m3 = 16.000 litros de enxurrada.

É necessário, também, saber quantas curvas serão construídas na área.


Para tanto, basta dividir a dimensão da linha do maior declive, pelo EHfinal
encontrado: Considerando que a área possui 72 m de comprimento (maior declive)
por 100 m de largura, o número de curvas será:

Dado:
 EHfinal= 13 m
 Número de curvas (Ncurvas) = 72/13 = 5,5
 Sempre devemos procurar arredondar o valor de Ncurvas para baixo,
pois diminui o impacto no solo e nos custos
 Portanto, Ncurvas = 5

Para dimensionar as curvas propriamente ditas, é necessário conhecer a


vazão que chegará na extremidade de cada curva, ou seja, a vazão de projeto
(Qprojeto). Para isso, basta dividir a vazão de escoamento de toda a área (exemplo
6) pelo dobro da quantidade de curvas (lembrando que, nesse exemplo, optamos
pelo escoamento da água para os dois lados da mesma curva – este é um critério
de projeto não obrigatório).

Então:

𝑄𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
𝑄𝑝𝑟𝑜𝑗𝑒𝑡𝑜 =
𝑁𝑐𝑢𝑟𝑣𝑎𝑠 𝑥 2

No nosso exemplo:

 Qtotal = 0,30 m3 s-1 (exemplo 6)

 Ncurvas = 5

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𝑄𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 0,30 𝑚3 𝑠 −1
𝑄𝑝𝑟𝑜𝑗𝑒𝑡𝑜 = = = 0,030 𝑚3 𝑠 −1
𝑁𝑐𝑢𝑟𝑣𝑎𝑠 𝑥 2 5𝑥2

No entanto, no processo de dimensionamento da curva, por vezes, são


encontrados valores diferentes da vazão de projeto (Qprojeto) em relação a vazão
necessária para a curva, chamada vazão calculada (Qcalc).

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE Nº 3: A Qcalc É UM VALOR QUE QUE SÓ PODE


SER OBTIDO A PARTIR DO DIMENSIONAMENTO DAS SEÇÕES DA CURVA.

A vazão de projeto (Qprojeto) é o valor mínimo no qual a vazão calculada


(Qcalc) deve obedecer, enquanto o valor máximo é obtido a partir do coeficiente de
segurança (CS) adotado. Geralmente, estes valores oscilam em torno de 20%.
Portanto:

No nosso exemplo:

Então, quaisquer valores entre servem para Qcalc. Constrói-se, então, uma linha
de valores permitidos entre o mínimo (Qprojeto) e o máximo (Qprojeto máx) para
visualização dos valores da Qcalc permitidos:

Qcalc

Qprojeto ----------------------------------------------- Qprojeto máx


(0,030 m3 s-1) (0,036 m3 s-1)

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Exemplo 8

Dando sequência aos exemplos anteriores, dimensionar a seção das curvas


em dois tipos: 1) trapezoidal e; 2) retangular. Considere que o possui resistência
mediana, com paredes de terra, curvilíneos e lamosos, com declividade de 0,3% e
talude de 45º (no caso do trapezoidal).

Dados:

 Resistência do solo = mediana  Então: V < 0,5 m s-1


 Qprojeto = 0,030 m3 s-1
 n= 0,025
 I= 0,3%  I = 0,003 m m-1
  = 45º  m = tang ()  m = tang (45º)  m= 1

Exemplo com curva de seção trapezoidal

1ª TENTATIVA

Para esta primeira tentativa, serão testadas as dimensões: b= 0,3 m e h= 0,3


m. Então, os parâmetros a serem calculados são área, perímetro molhado, raio
hidráulico, velocidade e vazão calculada.

A = b x h + m x h2
A = (0,3 X 0,3) + (1 X 0,32) = 0,18 m2

P = b + 2 x h x ( 1 + m2)
P = 0,3 + 2 x 0,3 x ( 1 + 12) = 1,15 m

Rh = A/P
Rh = 0,18/1,15 = 0,16 m
V = 1 Rh2/3 x I1/2
n
V = 1 x 0,162/3 x 0,0031/2  V = 0,63 m s-1 (observe que a velocidade já estourou
0,025 o limite de V < 0,5 m s-1)

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Embora não seja necessário, pois o projeto já está comprometido, vamos verificar
os demais cálculos e confirmar se a Qcalc extrapolou Qprojeto

Qcalc = V x A
Qcalc = 0,63 x 0,18= 0,113 m3 s-1
0,113 >> 0,030 m3 s-1
Qcalc >> Qprojet (CONFIRMADO! Interpretamos, portanto, que a vazão para as
dimensões inicialmente estabelecidas é grande demais, ou seja,
podemos reduzir as dimensões da curva)

Assim, de acordo com os resultados obtidos conclui-se que a vazão


calculada de 0,113 m3 s-1 está excessiva em relação a do projeto que é
de 0,030 m3 s-1, e portanto, se deve fazer uma nova tentativa com valores menores.

2ª TENTATIVA

Nova tentativa utilizado: b= 0,3 e h= 0,15 m para cálculo da seção


transversal.

A = b x h + m x h2
A = (0,30 x 0,15) + (1 x 0,152) = 0,07 m2

P = b + 2 x h x ( 1 + m2)
P = 0,3 + 2 x 0,15 x ( 1 + 12) = 0,72 m

Rh = A/P
Rh = 0,07/0,72 = 0,097 m

V = 1 Rh2/3 x I1/2
n

V = 1 x 0,0972/3 x 0,0031/2 = 0,44 m s-1 (OBS.: V < 0,5 m s-1. Então OK!)
0,025
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Qcalc= V x A
Qcalc= 0,44 x 0,072 = 0,031 m3 s-1
0,031 m3 s-1  0,030 m3 s-1
Qcalc  Qprojet

Agora com essa nova tentativa, utilizando as dimensões de 0,3 m (b) e 0,15
m (h), se verifica que a vazão resultante foi de 0,031 m s -1, sendo bem próxima a
vazão de projeto, e a velocidade de escoamento encontrada (0,44 m s -1),
permaneceu abaixo do valor máximo de velocidade média de 0,5 m s-1.

Resumindo:

Qcalc (0,031 m3 s-1)

Qprojeto ----------------------------------------------- Qprojeto máx


(0,030 m3 s-1) (0,036 m3 s-1)

Para obter as dimensões finais das curvas-de-nível falta, agora, calcular o


valor de h com a borda livre e também, a dimensão da base maior da curva (B).
Adicionando-se 0,10 m de borda livre (mais um fator de segurança), o valor de
altura da lâmina (h) da curva passa a ter (0,15 + 0,10 m) de altura total, ou seja
htotal = 0,25 m.

Para se obter o valor da base maior (B), se utiliza a fórmula:

B= b + 2 x m x h

Logo, B= 0,30 + 2 x 1 x 0,15= 0,60 m. Lembrando, mais uma vez, que m


equivale a 1 para curvas de seção trapezoidal com 45º de inclinação.

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Portanto, as dimensões das curvas-de-nível trapezoidais para atender as
especificações do projeto devem ser de 0,25 m de altura total (htotal), e 0,30 m de
base menor (b) e 0,60 m de base maior. No desenho técnico, temos:

B = 0,60 m

= 0,15 m htotal = 0,25 m

b = 0,30 m

Exemplo com curva de seção retangular

Os parâmetros a serem obtidos são área, perímetro molhado, raio hidráulico,


velocidade e vazão calculada. Vamos fazer uma tentativa utilizando b= 0,33 m e h=
0,2 m. Fazendo os cálculos, chegamos à Tabela 1.

Tabela 1. Resumo dos parâmetros obtidos

b h A P Rh Rh2/3 1/n I1/2 V Q calc Q projet

0,33 0,20 0,07 0,73 0,09 0,2 40 0,0548 0,44 0,031 0,030

Os valores de dimensões testados atenderam as exigências de velocidade


de escoamento (menor que 0,5 m s-1), e conferem uma vazão bastante próxima a
de projeto, sendo então, recomendados para o dimensionamento das curvas. As
dimensões que as curvas devem possuir para escoar a vazão de projeto são: altura
(h) + borda livre= 0,30 m (0,33 + 0,10 m), fundo (b)= 0,33 m.

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7) Dimensionamento das bacias de retenção

Depois de calculada a dimensão das curvas, resta calcular o volume que


cada bacia terá que ter para armazenar a enxurrada escoada na área, de modo a
promover seu armazenamento e infiltração, conforme comentado anteriormente.

A quantidade de bacias necessárias deverá ser o dobro da quantidade de


curvas (caso o profissional opte pela vazão para os dois lados) e, nesse caso serão
construídas bacias na extremidade de cada curva. Lembrando, sempre, que esta é
uma opção, ou seja, um critério de projeto.

Para obter o volume das bacias, basta dividir a enxurrada produzida na área,
calculada por meio do escoamento superficial e tempo de concentração da chuva,
pela quantidade de bacias.

Exemplo 9

Para concluir os exemplos anteriores, dimensionar o volume das bacias de


retenção para o projeto em elaboração, utilizado os resultados encontrados.

Dados:

 Ncurvas: 5 (exemplo 7): consequentemente  10 bacias de retenção.

 Volume de enxurrada : 16 m3 (exemplo 6).

Para se obter o volume das bacias para armazenar a enxurrada produzida


na área, basta dividir o volume da enxurrada pela quantidade de bacias a serem
construídas.

Vbacia= 16/10= 1,6 m3

As dimensões das bacias para atender esse volume de enxurrada podem


ser de 1,6 comprimento, 1,0 m de largura e 1,0 m de profundidade, ou qualquer
combinação que resulte num volume armazenado de 1,6 m 3.

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7) Bibliografia

BERNARDO, S.; SOARES, A. A.; MANTOVANI, E. C. Manual de irrigação. 7. ed.


Viçosa: Imprensa Universitária, 2005. 611 p.

BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. 2. ed. São Paulo:


Editora Ícone, 1993. 352 p.

CARVALHO, D. F. de. Notas de aula. Disciplina de hidráulica. Seropédica:


Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2005. 51 p.

DAKER, A. Hidráulica aplicada à agricultura: a água na agricultura. 7. ed. Rio de


Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1987. v 1. 316 p.

MACHADO, R. L.; COUTO, B. C. do; SILVA, A. H. da; RIBEIRO, P. T.; OLIVEIRA,


J. A., RESENDE, A. S. de; CAMPELLO, E. F. C.; FRANCO, A. A. Perda de solo em
erosão por voçorocas com diferentes níveis de controle no município de Pinheiral-
RJ. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE
PLANTAS, 27.; REUNIÃO BRASILEIRA DE MICORRIZAS, 11.; SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE MICROBILOGIA DO SOLO, 9.; REUNIÃO BRASILEIRA DE
BIOLOGIA DO SOLO, 6., 2006, Bonito. Anais... Bonito-MS: SBCS/SMB/Embrapa
Agropecuária Oeste, 2006. CD ROM.

OLIVEIRA, L.R.O. The influence of soil properties on the erodibility of Brazil, Spain
and Portugal loamy soils: a study base on rainfall simulation experiments. Earth
Surface Processes and Landforms, Sussex, v. 13, p. 499-507, 2010.

PIRES, F. R.; SOUZA, C. M. de. Praticas mecânicas de conservação do solo e


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PRUSKI, F. F.; GRIEBLER, N. P.; SILVA, J. M. A. da. Práticas mecânicas para o
controle da erosão hídrica. In: PRUSKI, F. F. Conservação do solo e da água:
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p. 131-171.

RAMSER, C. E. Runoff from small agricultural areas. Journal of Agricultural


Research, Washington, D. C., v.34, p. 797-823, 1927.

31
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UNIVERSIDADE VALE DO RIO VERDE
FUNDAÇÃO COMUNITÁRIA EDUCACIONAL DE TRÊS CORAÇÕES
CURSO DE BACHARELADO EM AGRONOMIA

MODELO DE AVALIAÇÃO
DISCIPLINA: Física e Conservação do Solo TURMA: 7º/8º Período
PROFESSOR: Leyser Rodrigues Oliveira
Aluno(a): _____________________________________________________________
Valor:_________ Nota:_____________

O Governo do Estado de Minas Gerais abriu um edital para a construção de curvas-nível-mistas


para atender os pedidos de uma associação de produtores rurais de Governador Valadares-MG,
cujos solos estavam degradados por ação da erosão, sendo, atualmente, ocupado com pastagens,
uma cultura permanente. Um grupo de Engenheiros Agrônomos, ex-alunos da UninCor, fundaram
uma empresa de consultoria e venceram a licitação pública, observando que o edital determinava
que os cálculos das curvas deveriam obedecer um período de retorno de 10 anos. Baseando-se em
dados climatológicos a partir de informações do IBGE, verificou-se que a região tinha uma
precipitação anual média inferior a 1400 mm ano-1. Para tal, um dos Engenheiros Agrônomos,
responsável pelos cálculos de uma das propriedades contempladas, foi ao um dos locais
contemplados e verificou que o solo apresentava textura argilosa e, para iniciar seus trabalhos,
projetou um pé-de-galinha de 2,5 m de comprimento entre-pernas. Após 15 leituras, o somatório
das leituras da declividade foi de 14,3 metros. A propriedade pela qual esse engenheiro ficou
responsável apresentava um comprimento de rampa de 200 m e uma largura média de 150 m,
sendo que a diferença entre os pontos mais alto e o ponto mais baixo era de 38 metros. Por meio
de análises texturais e sondagem superficial com penetrômetro de Stolf confirmou-se que o solo
poderia ser considerado como um solo compacto e, para efeito de cálculo da velocidade máxima da
água, optou-se por curvas retilíneas e uniformes, a fim de evitar ao máximo a erosão. Quantas
curvas, bacias de contenção (altura, largura e profundidade) e quais dimensões dos canais das
curvas-de-nível (profundidade e largura) o engenheiro teve que calcular, considerando que ele optou
apenas por canais retangulares?

DIMENSÕES DO CANAL DIMENSÕES DA BACIA

htotal h

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