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Resumo: Este trabalho objetiva apresentar o perfil de Slavoj Žižek, filósofo esloveno que vem
ganhando espaços em todos os meios acadêmicos, sociais e políticos desde os últimos anos do século
XX e chega ao século XXI aclamado como o principal teórico-crítico da contemporaneidade. Para
efetivação desta pesquisa, que é bibliográfica, selecionamos as produções de Bazzanela (2009),
Santos (2018) e Silva (2009), pioneira nos estudos sobre Žižek no Brasil. De início, fizemos um
breve relato dos dados biográficos de Žižek, com destaque, principalmente, para as informações
que, de alguma forma, mantenham relação com as concepções filosóficas expressam por ele em suas
produções, já que a atual crise política, a, pobreza e os problemas ambientais são assuntos
recorrentes em seus textos. Esta pesquisa destaca que, diferente das abordagens propostas por outros
escritores, Žižek explora, propositalmente, esses temas a partir de trechos do cotidiano e da mídia,
tais como filmes de Hollywood e de ficção popular, ou mesmo, de áreas consagradas do saber
oficial, como ópera, alta literatura, biogenética, neurociências, entre outras. Estudioso das
concepções filosóficas de Hegel e Heidegger, Žižek encontrou nos conceitos de Lacan, os
fundamentos que deram origem ao Materialismo Lacaniano, teoria filosófica da qual ele é um dos
principais representantes. Convém ressaltar que, apesar de Žižek ser um escritor em intensiva
produção, o materialismo lacaniano ainda é pouco difundido no Brasil, e este fato justifica a
importância desta pesquisa, uma vez que ele propõe numa nova leitura da cultura popular,
abordando temas que vão do cinema à música, passando pela literatura, física, química e outros
tópicos como o fundamentalismo, a tolerância, a correção política e a subjetividade nos tempos pós-
modernos. Enfim, segundo Bazzanela (2009) é muito importante conhecer Žižek, pois sua trajetória
apresenta uma visão muito crítica e original acerca do mundo e, sobretudo, da contemporaneidade.
Introdução
Nesta pesquisa, ainda em fase inicial, objetivamos externar a vida e teorias de Slavoj Žižek,
sociólogo, teórico crítico e cientista social esloveno, que nasceu na Liubliana, capital da Eslovênia
em 21 de março de 1949, país este situado no continente europeu. Slavoj Žižek representa um dos
maiores filósofos-crítico da contemporaneidade, cuja heterogeneidade marcada por uma pluralidade
de conhecimento carrega um turbilhão de teorias reformuladas por ele mesmo que preferenciam
atingir pontos extremamente visados e acobertados na sociedade atual. Sua formação filosófica em
1981 foi marcada pelo idealismo alemão. Fez dois cursos de Doutorado, um em Filosofia - estudou
Heigel e Heiddeger, e o outro em Psicanálise, quando estudou Lacan.
Slavoj Žižek candidatou-se à presidência da república da Eslovênia numa plataforma neo-
liberal (doutrina desenvolvida em 1970 que visava a absoluta liberdade de mercado e uma restrição
a intervensão estatal sobre a econômia) Esse acontecimento foi logo após a queda do muro de
Berlim, momento em que a maioria da população ansiava por liberdade de expressão.
Devido à hegemônia filosófica de seus pais, Žižek buscou distender ainda mais seus
conhecimentos, tanto na área física quanto no intelecto, principalmente quando concluiu o segundo
doutorado na França e passou a estudar a psicanálise lacaniana. Ao retornar ao seu país natal
encontrou certas dificuldades de se situar novamente.
[...]. Eu era jovem, tinha um filho, estava desempregado e é preciso reconhecer estas
pessoas foram muito francas quanto à situação. Disseram-se que, na circunstância política
vigente, estava fora de cogitação eu me tornar professor: seria problemático demais e, em
termos políticos arriscado demais. Assim, elas tentaram me arranjar um trabalho de
pesquisa, como medida temporária. Mas houve outras complicações, e não pude conseguir
o emprego que elas queriam para mim, como pesquisador em filosofia. Assim, em 1979,
quando percebi que estava num impasse, arranjei um trabalho através de meus amigos
heideggerianos, no Departamento de Sociologia do Instituto de Ciências Sociais da
Universidade de Liubliana. E, durante cerca de onze anos, não trabalhei na minha área.
Ao lermos as obras de Žižek, nos deparamos com um autor que apresenta, num mesmo texto,
argumentos filosóficos e psicanalíticos e que, ao mesmo tempo em que dá saltos buscando
exemplos em cenas de filmes, em sua maioria hollywoodianos, ou lançando mão de pequenas
histórias de fundo cômico, como forma de explanação de seus argumentos em torno da
temática em questão. Metaforicamente, Žižek nos dá a impressão de apresentar-se com um
estilo filosófico-literário de “guerrilha”, na medida em que “nos dá a impressão” [de] que
procura não enfrentar o problema em campo de batalha aberto, mas lança mão de intrincados
caminhos e atalhos, o que exige de seu intérprete esforços significativos para seguir seus
rastros, a necessidade de revisão constante das coordenadas para não ser pego de surpresa em
equívocos interpretativos, ou mesmo, cair na armadilha de rotular o filósofo, de atribuir-lhe
superficialidade reflexiva (BAZZANELA, 2008, p. 16).
Bazzanela nos diz que Žižek por ter uma vasta área de conhecimento tende dentro de suas
teorias exemplificar de forma própria sua visão de mundo, e ele em momento algum nas suas obras
deixa-se manipular pelo sistema vigente, já que se posiciona de acordo com seus ideais, embasado
apenas em seus estudos.
Destacamos também a opinião de Corrêa (2009, p. 18) sobre a escrita de Žižek:
A velocidade da troca pode surpreender, mas, quando lido como cuidado, Žižek se revela
um excelente provocador: suas considerações sobre aspectos aparentemente banais, ou já
estudados até a exaustão, da vida cotidiana, são sempre surpreendentes e iluminadoras. Na
pior das hipóteses, ele nos obriga a repensar, mesmo quando discordamos de suas ideias.
Na melhor, ele chegar a criar impressões epifânicas em seu leitor.
Žižek evidência que seu amplo objetivo é criticar a sociedade vigente por meio de suas
escritas. Para obter êxito, ele utiliza e aborda trechos do cotidiano e da mídia, como filmes de
Hollywood, textos da alta literatura e da literatura popular também, fatos da neurociência. Em outras
palavras, por meio de seus estudos, Žižek consegue ir da Literatura de Stephen à grande música de
Mozart, passando pela física quântica e por Kafka. Por ser bastante crítico, sua proposta é uma nova
leitura da cultura popular cujo desejo é convidar os leitores a uma reflexão sobre os conceitos
básicos como a tolêrancia e a correção política .
O nível de produtividade de Žižek é imensurável. Ele publica cerca de uma obra por ano,
tem mais de cinquenta livros publicados e já é referência em produtividade e excelência em suas
obras.
Algumas de suas produções
2017: A Coragem do Desespero - Crônicas de um ano em que agimos perigosamente.
2017: Lenine 2017
2016 : A Europa à Deriva - A verdade sobre a crise de refugiados e o terrorismo.
2015 : O Islão é Charlie?
2015 : O absoluto frágil - Ou Por que vale a pena lutar pelo legado cristão?
2014 : Violência.
2013 : Menos que nada.
2013 - Alguém disse totalitarismo?
2012 - O ano em que sonhamos perigosamente.
2012 - Vivendo no fim dos tempos.
2011: Primeiro como tragédia, depois como farsa.
2011: Em defesa das causas perdidas.
2009: Lacrimae Rerum - ensaios sobre cinema moderno.
2008 : A visão em paralaxe.
2008: Os Direitos Humanos e o Nosso Descontentamento.
2008: As Metástases do Gozo -Seis Ensaios Sobre a Mulher e a Causalidade.
2008: A Marioneta e o Anão - O Cristianismo entre Perversão e Subversão.
2005 : Às portas da revolução.
2003: Bem-vindo ao deserto do Real!
A partir dessas obras podemos tentar entender o pensamento de Žižek. O ano de 2008 foi
um marco: publicou quatro livros, reforcando o quão produtivo é. As obras “Pensador
insubordinável”, “Menos que nada”, “A visão em Paralaxe” e “Bem-vindo ao deserto do Real” são
referências para entender o pensamento de Zizek. Este ultimo respectivamente trata do ataque às
torres gêmeas.
Citar e evidenciar suas obras é exaltar sua diversidade nas diferentes aréas do saber. Seus
livros compõem a biografia de um escritor contemporâneo e contraditório. Vale ressaltar que sua
intenção na escrita não é expressar sua visão de forma clara muito menos objetiva, pois tentar
entender seu pensamento exige muito mais do leitor do que propriamente da obra. Sua escrita requer
conhecimento prévio de sua biografia, pois de nada adiantará ler a obra sem acompanhar a trajetória
do autor.
O Real é um excesso (surplus) que não cabe nessa realidade, só pode ser percebido pelo seu
brilho, ou seja o Real corresponde a um evento traumático, algo que o indivíduo viveu e lhe fez
passar por grande dor. Mas é necessario que o ser não permaneça nesse estágio por muito tempo,
pois a dor é tão profunda que ele pode não suportar. É necessário voltar para o mundo imaginário
(mundo real). Geralmente o ser retira algo de traquejo dessa experiência. O Real corresponde a um
excesso que não conseguimos suportar.
O sol é um excelente exemplo, pois ao olhar para o sol não conseguimos permanecer por
muito tempo fixados nessa luz que chega a doer. Outro exemplo é o buraco negro, que é algo
sombrio e sem fim, assustador.
Conclusão
Žižek explora, propositalmente, os temas para apresentar suas concepções teórica a partir de
trechos do cotidiano e da mídia. Ele encontrou nos conceitos de Lacan os fundamentos que deram
origem ao Materialismo Lacaniano, teoria filosófica da qual ele é um dos principais representantes.
Convém ressaltar que, apesar de Žižek ser um escritor em intensiva produção, o materialismo
lacaniano ainda é pouco difundido no Brasil.
Žižek consegue falar da literatura de Stephen King à grande música de Mozart, passando
pela física quântica e por Kafka, além de inserir muitos insights sobre política, psicanálise e filosofia
que são áreas bem destacadas em sua obra. Muito além da metafísica, teologia ou positivismo, para
este filósofo, a verdade passa a ser uma compreensão das relações de poder reais que controlam a
sociedade e das ideologias que impedem a sociedade de realizar a liberdade social e política. Deste
modo, a questão da ideologia ganha uma nova roupagem.
Ler Žižek exige do leitor um grande conhecimento de mundo, da diversidade cultural, da
politica e das mazelas existênciais, ou seja, a multiculturalidade faz-se necessária para tentar
entendê-lo. A intertextualidade é fator prepoderante, pois seus estudos vão desde a literatura
canônica a filmes de blockbuster.
Finalizamos nossos estudos com duas frases de Žižek que provocam o leitor a pensar a
realidade. Zizek por ele mesmo:
«Sou filósofo, não profeta. Não tenho respostas para as perguntas que faço, mas as faço para
criticar a nossa sociedade. Também é importante não repetir o que todos os outros estão a dizer.
»“Chegou o momento de voltar às grandes questões metafísicas. Não vivemos na era da
superficialidade. Há um público para grandes e sérios trabalhos teóricos”.
Esse é Slavoj Žižek, um furação de ideias, tic nervosos e de tamanha intelectualidade.
Referências