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CAPÍTULO 3: RELAÇÕES DE MASSAS NAS REACÇÕES QUÍMICAS

3.1 Massa atómica


3.2 Número de Avogadro e massa molar de um elemento
3.3 Massa molecular
3.4 Espetrómetro de massa
3.5 Composição percentual dos compostos
3.6 Reacções químicas e equações químicas
3.7 Quantidades de reagentes e produtos
3.8 Reagentes limitantes
3.9 Rendimento da reacção

Neste capítulo;

 Começamos estudando a massa de um átomo tendo como escala o isótopo do carbono-12.


Ao átomo do isótopo do carbono-12 é atribuída uma massa de exactamente 12 unidades de
massa atómica (u). Para trabalhar com a escala mais conveniente de gramas, usamos a massa
molar. A massa molar do carbono-12 tem exactamente 12 gramas e contém um número de
Avogadro (6,022*1023)de átomos. As massas molares de outros elementos também são
expressas em gramas e contêm o mesmo número de átomos. (3.1 e 3.2).
 A discussão da massa atómica leva à massa molecular, que é a soma das massas dos átomos
constituintes. Aprendemos que a maneira mais directa de determinar as massas atómica e
molecular é por meio de um espectrómetro de massa. (3.3 e 3.4)
 Para continuar o nosso estudo de moléculas e compostos iónicos, aprendemos a calcular a
composição percentual dessas espécies a partir de suas fórmulas químicas. (3.5)
 Em seguida vamos aprender a escrever uma equação química para descrever o resultado de
uma reacção. Uma equacção química deve ser equilibrada de modo a ter o mesmo número e
o mesmo tipo de átomos para os reagentes, os materiais de partida, e os produtos, as
substâncias formadas no final da reacção. (3.6)
 Com base o nosso conhecimento de equações químicas, podemos então avançar para o
estudo das relações de massas das reacções químicas. Uma equação química permite utilizar
o método das moles para prever a quantidade de produto(s) formado(s), sabendo-se a
quantidade de reagente(s) usado(s). Veremos que o rendimento de uma reacção depende da
quantidade do reagente limitante presente (o reagente consumido em primeiro lugar). (3.7 e
3.8)
 Vamos aprender que o rendimento real de uma reacção é quase sempre menor do que o
previsto a partir da equação, chamado de rendimento teórico, por causa de várias
complicações. (3.9)
3.1 Massa atómica
Neste capítulo utilizaremos conceitos já aprendidos no que se refere à estrutura e às fórmulas
químicas no estudo das relações de massas de átomos e moléculas. Estas relações ajudam a explicar
a constituição dos compostos e as mudanças que ocorrem na sua composição.

A massa de um átomo depende do número de electrões, protões e neutrões que o constituem. O


conhecimento da massa atómica é de extrema importância no trabalho laboratorial. Átomos são
partículas extremamente pequenas – até o menor grão de poeira que a nossa vista consiga detectar
contèm cerca de 1 x 1016 átomos! Na prática, é impossível pesar um átomo, mas conseguimos
detrminar experimentalmente as relações de massas entre dois átomos. Primeiro devemos atribuir
um valor de massa a um átomo de um dado elemento a fim de usá-lo como a massa padrão.

Convencionou-se internacionalmente que massa atómica (também designada por peso atómico) é a
massa de um átomo em unidades de massa atómica (u). Uma unidade de massa atómica é definida
como a massa igual a 1/12 da massa de um átomo de carbono-12. Carbono-12 é o isótopo de
carbono constituído por seis protões e seis neutrões. Convencionando a massa atómica de carbono-
12 como 12 u, estabelece-se o padrão para a medida das massas atómicas dos outros elementos.
Experimentalmente, verificou-se que, em média, um átomo de hidrogénio tem apenas 8,400% da
massa do carbono-12. Assim, se considerarmos que a massa de um átomo de carbono-12 é
exactamente 12 u, a massa do hidrogénio será 0,084 x 12,00 u, ou seja, 1,008 u. Cálculos análogos
mostram que a massa atómica do oxigénio é 16,00 u, e a do ferro, 55,85 u. Assim, embora não
tenhamos conhecimento de qual é, em média, a massa atómica do ferro, sabemos que ela é 56 vezes
superior à massa do átomo de hidrogénio.

Massa atómica média


Ao consultar a tabela de massas atómicas verificamos que o valor da massa atómica do carbono é
12,01 u e não 12,00 u. A razão para a existência desta diferença relaciona-se com o facto de, na
natureza, existirem elementos (incluindo o carbono) que possuem mais de um isótopo. Isso significa
que, ao determinar a massa atómica de um elemento, o valor de massa indicado é geralmente o da
massa média da mistura dos isótopos naturais. Por exemplo, as abundâncias naturais do carbono-12
e carbono-13 são, respectivamente, 98,90% e 1,10%. A massa atómica média do carbono-13 tem
um valor experimental de 13,00335 u. Assim, a massa atómica média do carbono será dada por:

massa atómica média do carbono = (0,9890)(12 u) + (0,0110)(13,00335 u) = 12,01 u

Note que nos cálculos que envolvem percentagens é necessário convertê-las em valores
fraccionários. Por exemplo, o valor de 98,90% será 98,90/100, ou seja, 0,9890. Uma vez que a
abundância natural do isótopo carbono-12 é muito superior à do carbono-13, o valor da massa
atómica média é muito mais próximo da massa do isótopo mais abundante.

É importante entender que, ao dizer que a massa atómica do carbono é 12,01 u, estamos nos
referindo a um valor médio. Se fosse possível medir individualmente a massa de um atómo de
carbono, o valor encontrado seria 12 u ou 13,oo335 u, mas nunca 12,01 u.
3.2 Número de Avogadro e massa molar de um elemento
A unidade de massa atómica representa uma escala de massas relativa, adequada para massas
atómicas. Vistos que os átomos possuem massas demasiado pequenas, não é possível inventar uma
balança para pesá-los em unidades definidas de massa atómica. Em situações concretas, lidamos
com amostras constituídas por inúmeros átomos, daí a utilização conveniente de uma unidade
especial para exprimir essas grandes quantidades. A ideia de uma unidade para representar muitos
objectos não é nova. Por exemplo, um par (2 espécies), uma dúzia (12 espécies) e uma grosa (144
espécies) são unidades familiares. Os químicos medem átomos e moléculas em moles.

No sistema SI de unidades, a mole é a quantidade de substância que contém tantas entidades


elementares (átomos, moléculas ou outras partículas) quantas existem em, exactamente, 12 g (ou
0,012 kg) do isótopo carbono-12. O número de átomos existente em 12 g de carbono-12 é
determinado experimentalmente. Este número designa-se por número de Avogadro (NA), em
homenagem ao cientista italiano Amedeo Avogadro. O valor actualmente aceito é:

NA = 6,0221415 x 1023

Em geral arrendondamos o número de Avogadro para 6,022 x 10 23. Assim, tal como uma dúzia de
laranjas contém 12 laranjas, também 1 mole de átomos de hidrogénio contém 6,022 x 10 23 átomos
de hidrogénio.

A enormidade do número de Avogadro é difícil de imaginar. Por exemplo, espalhando-se 6,022 x


1023 laranjas sobre toda a superfície da Terra produziria uma camada com cerca de 14,5 km! Como
os átomos (e as moléculas) são muito pequenos, precisamos de um grande número para estudá-los
em quantidades praticáveis.

Vimos que 1 mole de átomos de carbono-12 tem exactamente 12 g de massa e contém 6,022 x 10 23
átomos. Essa massa do carbono-12 é designada por massa molar (M) e definida como a massa (em
gramas ou kilogramas) de uma mole de unidades (como átomos ou moléculas) de uma substância.
Note que a massa molar do carbono-12 (em gramas) é numericamente igual à sua massa atómica em
u. Do mesmo modo, a massa atómica do sódio (Na) é 22,99 u e a sua massa molar é 22,99 g; a
massa atómica do fósforo é 30,97 u e a sua massa molar é 30,97 g; e assim sucessivamente. Se
soubermos a massa atómica de um elemento, saberemos também a sua massa molar.

Conhecendo a massa molar e o número de Avogadro, conseguimos calcular a massa de um único


átomo em gramas. Por exemplo, sabe-se a que a massa molar do carbono-12 é 12 g e que existem
6,022 x 1023 átomos de carbono-12 em uma mole da substância; portanto, a massa de um átomo de
carbono-12 é dada por

12g de átomos de carbono-12 / 6,022 x 1023 átomos de carbono-12 = 1,993 x 10-23 g

Podemos usar o resultado anterior para determinar a relação entre unidades de massa atómica e
gramas. Como a massa de cada átomo de carbono-12 é exactamente 12 u, o número de unidades de
massa atómica equivalentes a 1 grama é
Este exemplo mostra-nos que o número de Avogadro pode ser utilizado na conversão de unidades
de massa atómica em gramas e vice-versa. As noções de número de Avogadro e de massa molar
permitem realizar conversões entre massa e moles de átomos e entre moles e número de átomos.

3.3 Massa molecular


Se soubermos as massas atómicas dos átomos de uma moléculas, podemos calcular a massa da
molécula. A massa molecular (por vezes designada peso molecular) é a soma das massas atómicas
(em u) dos átomos da molécula. Por exemplo, a massa molecular de H2O é

2(massa atómica de H) + massa atómica de O ou 2(1,008 u) + 16,00 u = 18,02 u

Multiplica-se a massa atómica de cada elemento pelo número de átomos desse elemento presente na
molécula e somam-se contribuições de todos os elementos.

Conhecendo a massa molecular podemos calcular a massa molar de uma molécula ou composto. A
massa molar (em gramas) é numericamente igual à massa molecular (em u). Por exemplo, a massa
molecular da água é 18,02 u, logo, a sua massa molar é 18,02 g. Note que 1 mole de água pesa
18,02 g e contém 6,022 x 1023 moléculas de H2O, tal como 1 mole de carbono elementar contém
6,022 x 1023 átomos de carbono.

Finalmente, repare que, para compostos iónicos como o NaCl e o MgO, que não contêm unidades
moleculares distintas, usamos alternativamente o termo massa por fórmula. A fórmula do NaCl
consiste em um ião de Na+ e em um ião de Cl -. Assim, a massa por fórmula de NaCl é a massa de
uma unidade da fórmula:

massa por fórmula do NaCl = 22,99 u + 35,45 u = 58,44 u

e a sua massa molar é 58,44 g.

3.4 Espectrómetro de massa


O método mais directo e preciso para a determinação das massas atómicas e moleculares é a
espectrometria de massa. Em um dos tipos de espectrómetro de massa, bombardeia-se uma amostra
gasosa com um feixe de electrões de alta energia. Das colisões entre estes electrões e os átomos
(moléculas) gasosos resultam iões positivos, consequência da remoção de um electrão de cada
átomo ou molécula. Estes iões positivos (de massa m e carga e) são acelerados ao passarem por
duas placas carregadas de cargas opostas. À saída, os iões são defletidos por trajectórias circulares
por um ímã. O raio da circunferência depende da razão carga/massa (ou seja e/m). Os iões de menor
e/m descrevem circunferências maiores do que os de maior e/m, de modo que os iões com a mesma
carga mas diferentes massas separam-se uns dos outros. a massa de cada ião (e, portanto, de cada
átomo ou molécula que o origina) é determinada a partir da sua amplitude de deflexão. Os iões
atingem o detector que registra uma corrente eléctrica para cada tipo de ião. Estas correntes são
directamente proporcionais ao número de iões, sendo assim possível determinar a abundância
relativa dos isótopos.

O primeiro espectrómetro de massa, desenvolvido nos anos 1920 pelo físico inglês F. W. Aston, é
muito primitivo segundo os padrões da actualidade. Apesar disso, ele permitiu demonstrar de forma
irrefutável a existência de isótopos – neônio-20 (massa atómica de 19,9924 u e abundância natural
de 90,92%) e neônio-22 (massa atómica de 21,9914 u e abundância natural de 8,82%). Com o
desenvolvimento e aperfeiçoamento de espectrómetros mais sensíveis, descubriu-se um terceiro
isótopo estável do neônio, com uma massa atómica de 20,9940 u e abundância natural de 0,257%.
Este exemplo mostra bem a importância da precisão experimental em uma ciência quantitativa
como a Química. As experiências iniciais falharam ao não detectar neônio-21 devido à sua baixa
abundância, apenas 0,257% (ou seja, em 10 000 átomos de Ne apenas 26 são de neônio-21). As
massas moleculares são determinadas de forma semelhante por meio do espectrómetro de massa.

3.5 Composição percentual dos compostos


Como vimos, as fórmulas químicas traduzem a constituição elementar dos compostos. Suponhamos
que dispomos de uma amostra de um composto para ser usado em uma certa experiência, mas da
qual desconhecemos o grau de pureza. A partir da fórmula conseguimos saber a massa total de cada
elemento na amostra. Experimentalmente, obteremos a sua composição percentual. Comparando os
dois resultados é possível estimar o grau de pureza da amostra.

A composição percentual em massa é a percentagem em massa de cada elemento em um


composto. A percentagem de composição é obtida dividindo-se a massa do elemento existente em
uma mole de composto pela sua massa molar, e moltiplicando em seguida por 100.
Matematicamente, a composição de percentagem de um elemento em um composto é expressa por

n∗massa molar do elemento


percentagem de composi çã o elementar= ∗100 %
massa molar do composto

em que n é o número de moles do elemento em 1 mole do composto. Como exemplo, em uma mole
de peróxido de hidrogénio (H2O2) há 2 moles de átomos de H e 2 moles de átomos de O. As massas
molares de H2O2, H e O são, respectivamente, 34,02 g, 1,008 g e 16,00 g. Portanto, a percentagem
de composição do H2O2 é calculada do seguinte modo:
A soma destas percentagens é 5,926% + 94,06% = 99,99%. A diferença entre este valor e 100% é
devido aos arredondamentos feitos nas massas molares dos elementos. Se tivéssemos usado a
fórmula empírica HO para os cálculos, teríamos obtido as mesmas percentagens. Isso ocorre porque
tanto a fórmula molecular quanto a fórmula empírica indicam a composição percentual em massa
do composto.

Aos químicos interessa muitas vezes conhecer qual é a massa de um elemento em uma dada
quantidade de composto. Na indústria mineira este tipo de informação permite aos cientistas
determinar a qualidade do minério. Como a composição percentual em massa dos elementos de uma
dada substância pode ser facilmente calculada, este tipo de problema é resolvido com facilidade.

3.6 Reacções químicas e equações químicas


Tendo visto a massa dos átomos e das moléculas, vamos em seguida observar o que acontece aos
átomos e às moléculas em uma reacção química, um processo no qual uma substância (ou
substâncias) se transforma (m) em uma ou mais novas substâncias. Para se comunicarem entre si,
os químicos estabeleceram uma forma padrão de representar essas transformações, usando equações
químicas. Uma equação química usa símbolos químicos para mostrar o que acontece durante uma
reacção química. Nesta secção aprenderemos a escrever equações químicas e a balanceá-las.

Escrevendo reacções químicas


Considere o que acontece quando hidrogénio gasoso (H2) entra em combustão com o ar (que
contém oxigénio, O2) para formar água (H2O)

H2 + O2 H2O

onde o símbolo “+” significa “reage com” e a seta significa “para formar”. Assim, esta expressão
simbólica pode ser lida do seguinte modo: “o hidrogénio molecular reage com o oxigénio molecular
para formar água”. Considera-se que a reacção ocorre da esquerda para a direita, conforme indicado
pela seta.

No entanto, a equação acima escrita não está completa, pois há o dobro dos átomos de oxigénio no
lado esquerdo da seta (dois) em relação aos do lado direito (um). Para concordar com a lei da
conservação da massa, deve haver o mesmo número de cada tipo de átomo em ambos os lados da
seta; isto é, precisamos ter tantos átomos no final da reacção quantos tínhamos antes de ela se
iniciar. Podemos balancear a equação adicionando um coeficiente apropriado (2, neste caso) antes
de H2 e de H2O:
2H2 + O2 2H2O
Esta equação química balanceada mostra que “duas moléculas de hidrogénio podem combinar-se,
ou reagir, com uma molécula de oxigénio para formar duas moléculas de água”. Visto que a razão
do número de moléculas é igual à razão do número de moles, a equação também pode ser lida do
seguinte modo: “2 moles de moléculas de hidrogénio reage com 1 mole de moléculas de oxigénio
para formar 2 moles de moléculas de água”. Como conhecemos a massa de uma mole de cada uma
destas substâncias, tanbém podemos interpretar a equação como “4,04 g de H2 reagem com 32,00 g
de O2 para formar 36,04 g de H2O”.

Referimo-nos a H2 e a O2 na equação como reagentes, que são as substâncias de partida em uma


reacção química. A água é o produto, que é a substância formada como resultado da reacção
química. Então, uma equação química é a forma mais prática de um químico descrever uma
reacção. Por convenção, em uma equação química os reagentes são escritos do lado esquerdo da
seta, e os produtos, do lado direito da seta:

reagentes produtos

Como informação adicional, os químicos frequentemente indicam os estados físicos dos reagentes e
dos produtos usando as letras g, l e s para mostrar se a substância é gasosa, líquida ou sólida,
respectivamente. Como exemplo,

2CO(g) + O2(g) 2CO2(g)

2HgO(s) 2Hg(l) + O2(g)

Para mostrar o que acontece quando se dissolve cloreto de sódio (NaCl) em água, escrevemos

onde aq designa o meio aquoso (ou seja, em água). Ao escrever H 2O acima da seta indica-se o
processo físico de dissolução de uma substância em água, embora ele possa ser omitido para
simplificação.

O conhecimento dos estados físicos dos reagentes e dos produtos é especialmente útil em
laboratório. Por exemplo, quando brometo de potássio (KBr) e nitrato de prata (AgNO 3) reagem em
um meio aquoso, forma-se um sólido brometo de prata (AgBr). Esta reacção pode ser representada
pela equação:

KBr(aq) + AgNO3(aq) KNO3(aq) + AgBr(s)

Se os estados físicos dos reagentes e dos produtos não forem dados, uma pessoa pouco informada
poderia tentar esta reacção misturando brometo de potássio e nitrato de prata ambos sólidos. Estes
sólidos reagiram muito lentamente ou poderiam mesmo não reagir. Imaginando o processo a nível
microscópico, vemos que para que se forme um produto como brometo de prata, é necessário que os
iões Ag+ e Br- entrem em contacto uns com os outros. No entanto, no estado sólido estes iões estão
fixos nas suas posições e têm pouca mobilidade.
Balanceamento de equações químicas
Suponhamos que queiramos escrever uma equação para descrever uma reacção química que acabou
de ser realizada no laboratório. Como devemos proceder? Como sabemos a identidade dos
reagentes, podemos escrever as suas fórmulas químicas. A identidade dos produtos de reacção é
mais difícil de estabelecer. Para o caso de reacções simples, muitas vezes é possível prever o(s)
produto(s). Para reacções mais complexas, que envolvam três ou mais produtos, os químicos talvez
necessitem realizar mais experiências a fim de verificar a presença de compostos específicos.

Uma vez identificados todos os reagentes e produtos da reacção e tendo escrito correctamente as
suas fórmulas, podemos agrupá-los na sequência convencional – os reagentes no lado esquerdo
separados dos produtos no lado direito por uma seta. A equação escrita deste modo pode não estar
balanceada; ou seja, o número de cada tipo de átomo em ambos os lados da equação pode não ser
igual. Em geral, podemos balancear uma equação química por meio dos seguintes passos:

1. Identifique todos os reagentes e produtos e escreva de forma correcta as fórmulas no lado


esquerdo e direito da equação, respectivamente.

2. Comece o balanceamento da equação experimentando coeficientes adequados que nos deem


o mesmo número de átomos de cada elemento em ambos os lados da equação. Podemos
mudar os coeficientes (números que precedem as fórmulas), mas não os índices (números no
meio das fórmulas). Mudar os índices altera a identidade da substância. Por exemplo, 2NO 2
significa “duas moléculas de dióxido de nitrogénio”, mas se duplicarmos os índices, teremos
N2O4, que é a fórmula do tetróxido de dinitrogénio, um composto completamente diferente.

3. Primeiro procure os elementos que aparecem apenas uma vez em cada lado da equação e
com igual número de átomos em cada lado: as fórmulas contendo estes elementos devem ter
o mesmo coeficiente. Logo, não é necessário neste momento ajustar os coeficientes destes
elementos. Em seguida, procure os elementos que aparecem apenas uma vez em cada lado
da equação, mas com número de átomos diferente. Acertar estes elementos. Finalmente,
acertar os elementos que aparecem em duas ou mais fórmulas de um mesmo lado da
equação.

4. Verifique a equação balanceada para se certificar de que o número total de cada tipo de
átomo em ambos os lados da seta da equação é o mesmo.

Consideremos um exemplo específico. No laboratório, pequenas quantidades de oxigénio gasoso


podem ser preparadas por aquecimento de clorato de potássio (KClO 3). Os produtos da reacção são
oxigénio gasoso (O2) e cloreto de potássio (KCl). A partir destas informações, podemos escrever

KClO3 KCl + O2

(Para simplificar, omitimos os estados físicos dos reagentes e produtos). Os três elementos (K, Cl e
O) aparecem apenas uma vez em cada lado da equação, mas apenas K e Cl aparecem com igual
número de átomos em ambos os lados. Assim, KClO3 e KCl devem ter o mesmo coeficiente. O
passo seguinte consiste em igualar o número de átomos de oxigénio em ambos os lados da equação.
Visto que há três átomos de O no lado esquerdo e dois átomos de O no lado direito da equação,
podemos balancear os átomos de O colocando 2 antes de KClO3 e 3 antes de O2.
2KClO3 KCl + 3O2

Finalmente, balanceamos os átomos de K e Cl colocando 2 antes de KCl:

2KClO3 2KCl + 3O2

Como verificação final, elaboramos uma tabela de balanceamento para os reagentes e produtos em
que o número entre parênteses indica o número de átomos de cada elemento.

Reagentes Produtos
K (2) K (2)
Cl (2) Cl (2)
O (6) O (6)

Note que a equação tanbém poderia ser balanceada com coeficientes múltiplos de 2 (para KClO 3),
de 2 (para KCl) e de 3 (para O2). Por exemplo;

4KClO3 4KCl + 6O2

No entanto, no balanceamento de equações, deve-se usar o menor e mais simples dos conjuntos
possíveis de todos os coeficientes inteiros.

Consideremos agora o exemplo da combustão (ou seja, a queima) do etano (C 2H6) em oxigénio ou
ar, que origina como produtos de reacção dióxido de carbono (CO 2) e água. A equação não
balanceada é

C2H6 + O2 CO2 + H2O

Observamos que o número de átomos é diferente em ambos os lados da equação para qualquer um
dos elementos (C, H e O). Vemos ainda que C e H aparecem apenas uma vez em cada lado da
equação; O aparece em dois compostos no lado direito (CO 2 e H2O). Para balancear os átomos de C,
colocamos um 2 antes do CO2:

C2H6 + O2 2CO2 + H2O

Para balancear os átomos de H, colocamos um 3 antes do H2O:

C2H6 + O2 2CO2 + 3H2O

Nesta altura, os átomos de C e H estão balanceados, mas os átomos de O não, porque há sete
átomos de O no lado direito e apenas dois no lado esquerdo da equação. A desigualdade de átomos
7
de O pode ser eliminada escrevendo antes do O2 no lado esquerdo:
2

7
C2H6 + O 2CO2 + 3H2O
2 2

7
A “lógica” do uso do coeficiente é explicada pelo facto de existirem sete átomos de oxigénio no
2
lado direito da equação, mas apenas um par de átomos (O 2) no lado esquerdo. Para acertá-los,
devemos ter em conta quantos pares de átomos de oxigénio são necessários para igualar sete
7
átomos de oxigénio. Assim, como 3,5 pares de sapatos igualam sete sapatos, O2 igualam sete
2
átomos de oxigénio. Como a seguinte correspondência mostra, a equação agora está balanceada:

Reagentes Produtos
C (2) C (2)
H (6) H (6)
O (7) O (7)

No entanto, normalmente preferimos exprimir os coeficientes como números inteiros e não como
7
fracções. Assim, multiplicamos toda equação por 2 para converter em 7:
2

2C2H6 + 7O2 4CO2 + 6H2O

A correspondência final é

Reagentes Produtos
C (4) C (4)
H (12) H (12)
O (14) O (14)

Note que os coeficientes utilizados no balanceamento da equação anterior são os menores dos
conjuntos possíveis de números inteiros.

3.7 Quantidades de reagentes e produtos


A pergunta básica normalmente feita em química laboratorial é: “Qual é a quantidade de produto
que se formará a partir de determinadas quantidades de materiais de partida (reagentes)?” Ou, em
outros casos, teremos de colocar a questão ao contrário: “Qual é a quantidade de material de partida
que será necessária para obter uma determinada quantidade de produto?”. Para interpretar
quantitativamente uma reacção química, teremos de recorrer ao nosso conhecimento sobre massas
molares e ao conceito de mole. Estequiometria é o estudo quantitativo de reagentes e produtos em
uma reacção química.

Independentemente de as unidades adotadas para reagentes (ou produtos) serem moles, gramas,
litros (para gases) ou qualquer outra unidade, usamos moles para determinar a quantidade de
produto formada em uma reacção química. Este método é designado por método da mole, que
significa simplesmente que os coeficientes estequiométricos em uma equação química podem ser
interpretados como o número de moles de cada substância. Por exemplo, a produção industrial de
amoníaco é feita pela síntese a partir do hidrogénio e do nitrogénio do seguinte modo:

N2(g) + 3H2(g) 2NH3(g)


Os coeficientes estequiométricos mostram que uma molécula de N2 reage com três moléculas de H2
para formar duas moléculas de NH3. Percebe-se que o número relativo de moles é o mesmo que o
número relativo de moléculas:

Assim, esta equação pode ser lida como “2 moles de N 2 gasoso combinam-se com 3 moles de H 2
gasoso para formar 2 moles de NH3 gasoso”. Nos cálculos estequiométricos, dizemos que 3 moles
de H2 são equivalentes a 2 moles de NH3, ou seja,

3 moles H2 ≡ 2 moles NH3

em que o símbolo ≡ significa “estequiometricamente equivalente a” ou apenas “equivalente a”.


Estas relações permitem escrever os seguintes factores de conversão

3 moles H 2 2moles NH 3
2moles NH 3
e 3 moles H 2

Da mesma forma, temos que 1 mole de N2 ≡ 2 moles de NH3 e 1 mole de N2 ≡ 3 moles de H2.

Consideremos um exemplo simples em 6,0 moles de H2 reagem completamente com N2 para formar
NH3. Para calcular a quantidade em moles de NH 3 produzida, utilizamos o factor de conversão que
contém H2 no denominador e escrevemos

2moles NH 3
moles de NH3 produzidos = 6,0 moles H2 x =¿ 4,0 moles NH3
3 moles H 2

Suponhamos agora que 16,0 g de H2 reagem completamente com N2 para formar NH3. Quantos
gramas de NH3 serão obtidos? Para efetuarmos este cálculo, devemos ter em conta que, neste caso,
a correspondência entre H2 e NH3 é deduzida a partir da relação molar na equação balanceada.
Portanto, temos que converter, em primeiro lugar, gramas de H 2 em moles de H2, calcular as moles
correspondentes de NH3 e, em seguida, convertê-los em gramas de NH 3. Os passos de conversão
são os seguintes:

gramas de H2 moles de H2 moles de NH3 gramas de NH3

Primeiro convertemos 16,0 g de H2 em moles de H2, usando a massa molar de H2 como factor de
conversão:

1 mole H 2
moles de H2 = 16,0 g H2 x =¿ 7,94 moles H2
2,016 g H 2

Em seguida, calculamos o número de moles de NH3 produzido

2moles NH 3
moles de NH3 = 7,94 moles H2 x =¿ 5,29 moles NH3
3 moles H 2
Finalmente, calculamos a massa de NH3 produzido em gramas usando a massa molar de NH3 como
factor de conversão

17,03 g NH 3
g de NH3 = 5,29 moles NH3 x =¿ 90,1 g NH3
1 mole NH 3

De modo similar, determinamos a massa em gramas de N2 consumida nesta reacção. Os passos da


conversão são os seguintes

gramas de H2 moles de H2 moles de N2 gramas de N2

utilizando a relação 1 mole N2 ≡ 3 moles H2, escrevemos

1 mole H 2 1 mole N 2 28,02 g N 2


g de N2 = 16,0 g H2 x x x = 74,1 g N2
2,016 g H 2 3 moles H 2 1 mole N 2

A abordagem genérica para resolver problemas de estequiometria é resumida a seguir.

1. Escreva a equação balanceada da reacção.

2. Converta o valor dado do reagente (em gramas ou em outras unidades) para o número de
moles.

3. Utilize a razão molar da equação balanceada para calcular o número de moles do produto
formado.

4. Converta as moles do produto em gramas (ou em outras unidades) do produto.

3.8 Reagentes limitantes


Quando um químico realiza uma reacção química, os reagentes não se encontram normalmente
presentes em quantidades estequiométricas exactas, ou seja, nas proporções indicadas pela
equação balanceada. Como o obectivo de qualquer reacção é a transformação dos reagentes iniciais
na máxima quantidade de produto, é frequente a utilização em excesso de um dos reagentes para
assegurar que o mais caro seja completamente convertido no produto desejado. Como
consequência, no final da reacção, alguns materiais de partida ficarão por reagir. O reagente
consumido em primeiro lugar é designado reagente limitante, visto que a quantidade máxima do
produto formado depende depende a quantidade inicial deste reagente. Quando todo este reagente é
consumido, não se pode mais formar produtos. Reagentes em excesso são os reagentes presentes
em quantidades superiores às necessidades para reagir com a quantidade de reagente limitante
existente.

O conceito de reagente limitante é semelhante à relação entre homens e mulheres em um concurso


de dança em um clube. Se há 14 homens e apenas 9 mulheres, apenas 9 pares mulher/homem
podem competir. Cinco homens ficarão de fora, sem par. O número de mulheres limita, então, o
número de homens que podem dançar neste concurso, logo, há um excesso de homens.
Considere a síntese industrial do metanol (CH3OH) a partir do monóxido de carbono e do
hidrogénio a temperaturas elevadas:

CO(g) + 2H2(g) CH3OH(g)

Suponha que inicialmente dispomos de 4 moles de CO e 6 moles de H 2. Um modo de determinar


qual dos dois reagentes é o reagente limitante baseia-se no cálculo do número de moles de CH 3OH
que será obtido a partir das quantidades iniciais de CO e H 2. Da definição de reagente limitante,
sabemos que apenas este dará origem a uma quantidade menor de produto. Partindo de 4 moles de
CO, chegamos ao número de moles de CH3OH produzido

1mole CH 3 OH
4 moles CO x = 4 moles CH3OH
1mole CO

e partindo de 6 moles de H2, o número de moles de CH3OH formado é

1mole CH 3 OH
6 moles H2 x = 3 moles CH3OH
2 moles H 2

Como a quantidade de H2 disponível produz uma menor quantidade de CH3OH, ele deverá ser o
reagente limitante. Assim, CO é o reagente em excesso.

Nos cálculos estequiométricos envolvendo reagentes limitantes, o primeiro passo consiste em


decidir qual dos reagentes é o reagente limitante. Após esta identificação, o resto do problema pode
ser resolvido como explicado na secção 3.7.

Na prática, os químicos escolhem para reagente limitante os reagentes mais caros, visto que, deste
modo, todo o reagente será consumido durante a reacção química. Na síntese da ureia, o NH 3 é
invariavelmente o reagente limitante por ser muito mais caro do que CO 2. Outras vezes, o excesso
de um reagente é utilizado para ajudar a conduzir a reacção até a conclusão ou para compensar uma
reacção secundária que consuma aquele reagente. Os químicos sintetizadores frequentemente
precisam calcular a quantidade de reagentes que devem usar com base nesta necessidade de ter um
ou mais componentes em excesso.

3.9 Rendimento da reacção


A quantidade de reagente limitante presente no início de uma reacção determina o rendimento
teórico dessa reacção, ou seja, a quantidade de produto que se formará se todo o reagente limitante
for consumido durante a reacção. Logo, o rendimento teórico é a quantidade máxima de produto
que pode ser obtida, prevista pela reacção balanceada. Na prática, o rendimento real, ou quantidade
de produto obtida na reacção química, é normalmente menor do que o rendimento teórico. Há
muitas razões para justificar esta diferença entre rendimento real e teórico. Por exemplo, muitas
reacções são reversíveis e, como tal, não processam a 100% da esquerda para a direita. Mesmo
quando uma reacção é 100% completa, pode ser difícil recolher os produtos no meio reacional (por
exemplo, de uma solução aquosa). Algumas reacções são complexas pois os produtos formados
podem continuar a reagir entre si ou com os reagentes de modo a formar ainda outros produtos.
Estas reacções adicionais reduzirão o rendimento da reacção inicial.
Para determinar a eficiência de uma reacção, os químicos usam a noção de percentagem de
rendimento para descrever a proporção entre o rendimento real e o rendimento teórico, sendo
calculada da seguinte forma:

rendimento real
% rendimento = x 100%
rendimento teórico

As percentagens de rendimento podem variar entre 1 e 100%. Os químicos esforçam-se para


maximizar a percentagem do rendimento de uma reacção. Os factores que afectam esta percentagem
incluem a temperatura e a pressão. Vamos estudar esses efeitos mais adiante.

Os processos industriais envolvem geralmente enormes quantidades (milhares a milhões de


toneladas) de produtos. Assim, um pequeno aumento no rendimento pode reduzir
significativamente os custos da produção.
Literatura Recomendada

1. R. Chang e K. A. Goldsby “Química” 11ª edição, AMGH Editora.


2. João Usberco e Edgard Salvador “QUÍMICA, Volume Único” 5ª edição, Editora Saraiva.
3. Brown, LeMay, Bursten, Murphy, Woodward, Stoltzfus “Química, A Ciência Central” 13ª
edição, Pearson.
4. J. A. Brady e F. Senese “Química - A matéria e suas transformações” 5ª edição, LCT.
5. N. Glinka “Problemas e Exercícios de Química Geral”, Editora Mir Moscovo.
6. J. B. Russell “Química Geral”.

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