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10.

º ANO EM RESUMO
DOMÍNIO 1: ELEMENTOS QUÍMICOS E SUA ORGANIZAÇÃO
SUBDOMÍNIO 1: MASSA E TAMANHO DOS ÁTOMOS

1.1. O ÁTOMO
Constituição do átomo
O átomo é considerado a unidade base de toda a matéria. Constituído por uma zona central, o núcleo
com dimensões reduzidas (cerca de 104 vezes menor que o átomo) e pela nuvem eletrónica, onde
se encontram os eletrões em constante movimento.

O átomo é
eletricamente
neutro porque
tem um
número igual
de protões e
de eletrões.

A massa dos eletrões é muito menor do que a massa dos protões e dos neutrões, daí que
praticamente toda a massa do átomo esteja concentrada no núcleo.
Um elemento químico tem um número atómico único, que permite a sua identificação e cada átomo de
um elemento químico pode representar-se simbolicamente por:

Esta representação é igualmente válida para iões, partículas que resultam de um átomo por perda ou
ganho de eletrões, acrescentando-lhe sobrescrito à direita a respetiva carga.
Exemplo: 35 35 −
17Cℓ 17Cℓ
Elemento químico: Cloro Elemento químico: Cloro
Número atómico: 17 Número atómico: 17
Número de massa: 35 Número de massa: 35
Número de protões: 17 Número de protões: 17
Número de eletrões: 17 Número de eletrões: 18
Número de neutrões: 35 – 17 = 18 Número de neutrões: 35 – 17 = 18

Os átomos de um mesmo elemento químico possuem o mesmo número atómico, mas podem
apresentar diferentes valores do número de massa uma vez que, apesar de terem o mesmo número
de protões, podem diferir no número de neutrões, designando-se por isótopos.

1
Os isótopos de um elemento têm as mesmas propriedades químicas, mas propriedades nucleares
distintas.
Exemplo:
O hidrogénio tem três isótopos com números de
massa 1, 2 e 3 (contendo 0, 1 e 2 neutrões,
respetivamente) designados prótio, deutério e
trítio.

1.2. DIMENSÕES À ESCALA ATÓMICA


O objeto de estudo da Química pode variar desde o átomo até ao Universo. Por esse motivo, é
conveniente identificar a ordem de grandeza da dimensão do objeto em estudo.
A ordem de grandeza corresponde à potência de base dez mais próxima de um número escrito em
notação científica.
Assim, para se obter a ordem de grandeza de um número, N, deve-se:
1.º Escrever o número N em notação científica: 𝑁 = 𝑎 × 10𝑛
Exemplo: 7000 m = 7 × 103 m
1 ≤ 𝑎 < 10
2.º Indicar a potência de base 10 mais próxima de a;
Exemplo: 7 × 103 m
A potência de base 10 mais próxima de 7 é 101 .
3.º Multiplicar as potências de base 10 encontradas nos pontos anteriores;
Exemplo: Ordem de grandeza = 101 × 103 = 104 m
As ordens de grandeza das estruturas da Natureza podem ser tão variadas que, para simplificar,
usam-se frequentemente múltiplos e submúltiplos, cujas designações são obtidas acrescentando à
unidade o prefixo apropriado:
giga: 1 Gu = 109 u hecto: 1 hu = 102 u centi: 1 cu = 10−2 u
mega: 1 Mu = 106 u deca: 1 dau = 101 u mili: 1 mu = 10−3 u
3 −1
quilo: 1 ku = 10 u deci: 1 du = 10 u micro: 1 μu = 10−6 u
u representa qualquer unidade como m (metro), s (segundo), g (grama), etc.

As dimensões à escala atómica são tão reduzidas que é usual a utilização de submúltiplos como o
nanómetro, o angström e o picómetro.
nanómetro: 1 nm = 1 × 10−9 m angström: 1 Å = 1 × 10−10 m picómetro: 1 pm = 1 × 10−12 m
Hoje em dia, é possível fazer a manipulação de átomos para o desenvolvimento de novas estruturas e
materiais conducentes de uma melhoria da qualidade de vida humana.
A nanotecnologia é a nova área da ciência que se dedica ao estudo da manipulação da matéria
numa escala atómica e molecular, lidando com estruturas e novos materiais entre 1 e 100 nanómetros.

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Exemplo:
Imagem, à escala nanométrica, obtida com um
microscópio eletrónico de transmissão (MET) que
mostra partículas de titânio.
Escala 40 nm
Notação científica, na unidade do SI:
40 nm = 4,0 × 10−8 m
Ordem de grandeza = 100 × 10−8 = 10−8 m

1.3. MASSA ISOTÓPICA E MASSA ATÓMICA RELATIVA MÉDIA


A massa do átomo é tão pequena que é impossível determiná-la diretamente. A alternativa é calcular o
valor relativo das massas dos vários elementos, tomando a massa de um deles, ou uma sua fração,
como termo de comparação.
A massa atómica relativa (𝑨𝐫 ) é definida como sendo o número de vezes que a massa de um átomo
1
é maior do que da massa do átomo do carbono-12. A massa atómica relativa é uma grandeza
12
adimensional.
A massa isotópica relativa é a massa atómica relativa de um isótopo de um dado elemento. Define-
se como o número de vezes que a massa atómica do isótopo desse elemento é maior do que o valor
padrão.
A massa atómica relativa média de um elemento (𝑨𝐫 ) é uma média das massas atómicas relativas
dos vários isótopos desse elemento, mas ponderada pelas abundâncias relativas desses isótopos na
Natureza.

• O resultado é mais próximo da massa atómica relativa do isótopo mais abundante, pois tem maior
peso na média do que a do isótopo menos abundante.
• O valor obtido não é um número inteiro, pois resulta de uma média ponderada.
• A massa atómica relativa média de um elemento pode ser consultada na Tabela Periódica e o seu
1
valor indica o número de vezes que a massa desse elemento é, em média, superior a 12 da massa do
átomo de carbono-12.

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1.4. QUANTIDADE EM QUÍMICA
Quantidade de matéria
A dimensão do átomo é tão reduzida que é impensável contar o número de átomos de uma porção de
matéria, por mais pequena que seja.
A constante de Avogadro (𝑵𝐀 ) é uma constante física universal, de valor numérico igual a
6,022 140 76 × 1023 mol−1.
𝑁A ≈ 6,02 × 1023 mol−1
A mole (cujo símbolo é mol) é a unidade de quantidade de matéria (n), uma grandeza base do SI.
Uma mole contém exatamente 6,022 140 76 × 1023 entidades elementares. Este número é o valor
numérico definido para a constante de Avogadro, 𝑁A , quando expressa em mol−1 .
A quantidade de matéria (n) mede a quantidade de entidades elementares especificadas presentes
numa dada porção dessa mesma entidade. Uma entidade elementar pode ser um átomo, uma
molécula, um ião, um eletrão, ou qualquer outra partícula ou agrupamento especificado de partículas.
É diretamente proporcional ao número de entidades (N) de uma porção de matéria, sendo a constante
de proporcionalidade o inverso da constante de Avogadro:
Unidades no SI:

𝑁 n (quantidade de matéria) – mol (mole)


𝑛 =
𝑁A N (número de entidade) – adimensional
𝑵𝐀 (Constante de Avogadro) – mol−𝟏 (por mole)

A linha de um gráfico de n em função de N é A linha de um gráfico de N em função de n é uma


uma reta que passa na origem reta que passa na origem (proporcionalidade
(proporcionalidade direta), sendo o declive o direta), mas neste caso o declive é igual a 𝑁A .
inverso de 𝑁A .

Exemplo:

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Massa molar
A massa molar (M) corresponde à massa existente por mole de entidades. Exprime-se geralmente em
g mol−1 e equivale à razão entre a massa de uma porção de matéria e a quantidade de matéria de
entidades elementares nela presente:
Unidades no SI:

𝑚 M (massa molar) – 𝐠 𝐦𝐨𝐥−𝟏 (gramas por mole)


𝑀 =
𝑛 m (massa) – g (grama)
n (quantidades de matéria) – mol (mole)
A massa molar é numericamente igual à massa atómica relativa média do elemento (𝐴r ) ou à massa
molecular relativa média das moléculas (𝑀r ) quando as substâncias se identificam com um elemento
ou um composto molecular, respetivamente.
Exemplo:
𝐴r (H) = 1,01, logo 𝑀(H) = 1,01 g mol−1
𝑀r (H2 ) = 2,02, logo 𝑀(H2 ) = 2,02 g mol−1
𝑀r (H2 O) = 2 × 𝐴r (H) + 𝐴r (O) = 18,02, logo, 𝑀(H2 O) = 18,02 g mol−1
Resumindo:
𝑁 𝑚
𝑛=
Número de entidades 𝑁A Quantidade de matéria 𝑀 = 𝑛 Massa
↔ ↔ (𝑚)/ g
(𝑁)/ adimensional (𝑛)/ mol
SUBDOMÍNIO 2: ENERGIA DOS ELETRÕES NOS ÁTOMOS

2.1. ESPETROS CONTÍNUOS E DESCONTÍNUOS


Radiação eletromagnética
O conjunto formado pela sucessão contínua das várias radiações coradas obtidas pela decomposição
da luz branca constitui o espetro visível.
A luz branca, ou luz visível, é um caso particular de radiação eletromagnética que é diretamente
acessível à nossa visão. No entanto, corresponde apenas a um pequeno intervalo do espetro
eletromagnético.

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O espetro eletromagnético representa o conjunto de toda a gama de radiações eletromagnéticas
existentes, seriadas de acordo com as suas energias ou frequências. Partindo das menos energéticas
para as mais energéticas tem-se: ondas rádio, micro-ondas, infravermelhos (IV), visível, ultravioleta
(UV), raios X, e raios γ.
A radiação eletromagnética é constituída por fotões, partículas desprovidas de massa que se movem à
velocidade da luz no vazio, cada um com uma certa quantidade de energia.

A energia de cada fotão (E), cuja unidade no SI A energia de um feixe de luz será um
é o joule (J), é proporcional à frequência da múltiplo da energia de cada fotão.
radiação eletromagnética (f).

𝐸 = ℎ𝑓 𝐸feixe = 𝑁𝐸fotão
−34
onde ℎ = 6,63 × 10 J s (constante de Planck) onde 𝑁 = número de fotões do feixe

Espetros de emissão e de absorção

Exemplo:
Espetros de emissão e de absorção do hélio:

• Cada elemento químico possui o seu próprio padrão de riscas espetrais, que funciona como uma
espécie de “impressão digital” do elemento.
• Não existindo dois elementos com o mesmo espetro, estes podem ser utilizados para identificar os
respetivos elementos em amostras de composição desconhecida.
• Os espetros de emissão e de absorção de um mesmo elemento químico são complementares –
verifica-se que as riscas brilhantes do primeiro surgem exatamente para os mesmos valores de
energia que as riscas escuras do segundo.

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2.2. INTERPRETAÇÃO DO ESPETRO DO ÁTOMO DE HIDROGÉNIO
Modelo de Bohr e a quantização da energia
O físico dinamarquês Niels Bohr propôs, pela primeira vez, uma interpretação do espetro do átomo de
hidrogénio, usando-o para explicar a estrutura interna dos átomos.
Segundo o modelo de Bohr:
 O eletrão só pode ser encontrado em
determinadas órbitas, ou seja, movimenta-se em torno do núcleo,
descrevendo órbitas fixas.
 A cada uma dessas órbitas está
associado um determinado valor de energia. Só são permitidos ao
eletrão alguns estados, com valores de energia bem definidos.
Diz-se, por isso, que a energia dos eletrões é quantizada.
 Por convenção, um eletrão livre
é um eletrão infinitamente afastado do núcleo, com energia igual a
zero. Como consequência, a energia do eletrão no átomo é
negativa, dado que o eletrão é mais estável quando está sob a
ação das forças do núcleo.

A expressão que permite determinar os valores de energia possíveis para o eletrão do átomo de
1
hidrogénio é dada por 𝐸𝑛 = − 2,18 × 10−18 (𝑛2 ) (J).

Ainda de acordo com o modelo de Bohr:


 A energia dos níveis
energéticos que o eletrão pode ocupar vai aumentando à
medida que o eletrão se afasta do núcleo, sendo, no entanto,
cada vez menor a diferença de energia entre dois níveis
consecutivos.
 O nível eletrónico de
menor energia (n = 1) é designado por estado fundamental e
é o mais estável. A todos os outros dá-se o nome de estados
excitados, pois têm uma energia superior à do estado
fundamental.

Para explicar o surgimento das riscas nos espetros atómicos de absorção ou emissão, Bohr propôs
que:
• Enquanto o eletrão permanece (em movimento) numa determinada órbita, não absorve nem emite
energia.
• No caso de absorver ou emitir uma quantidade discreta de energia, o eletrão pode passar de uma
órbita para outra. Cada eletrão só pode ter determinados valores de energia, pelo que as transições
eletrónicas só ocorrem por absorção ou emissão de energias quantizadas (o chamado “salto
quântico”).
Em qualquer situação:
𝐸radiação = |𝚫E|

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Para as transições entre os mesmos níveis de energia, a energia da radiação emitida é igual à energia
da radiação absorvida.
Por exemplo:
𝐸radiação emitida, n=4⟶n=2 = 𝐸radiação emitida, n=2⟶n=4

As riscas observadas no espetro de emissão do átomo de hidrogénio correspondem, então, às


radiações emitidas quando o eletrão transita de um nível para outro de menor energia.

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Séries espetrais do átomo de hidrogénio
Uma série espetral é um conjunto de riscas resultantes das transições do eletrão de diferentes
estados eletrónicos excitados para o mesmo estado final, excitado ou não.

Séries espetrais do átomo de hidrogénio:


Série Transições eletrónicas Tipo de radiação emitida
Lyman De 𝑛 ≥ 2 para 𝑛 = 1 Ultravioleta
Balmer De 𝑛 ≥ 3 para 𝑛 = 2 Ultravioleta (baixa intensidade) e visível (4 riscas)
Paschen De 𝑛 ≥ 4 para 𝑛 = 3 Infravermelha
Brackett De 𝑛 ≥ 5 para 𝑛 = 4 Infravermelha
Pfund De 𝑛 ≥ 6 para 𝑛 = 5 Infravermelha

A espetroscopia de absorção atómica (EAA) é uma técnica de análise química que faz uso da
absorção de radiação por átomos livres no estado gasoso para proceder à determinação qualitativa e
quantitativa de um grande número de elementos químicos (por exemplo, identificação de elementos
químicos nas estrelas ou determinação de quantidades vestigiais em química forense).

2.3. ENERGIA DE REMOÇÃO ELETRÓNICA


Num átomo polieletrónico, a energia de um eletrão é influenciada pelo efeito das atrações entre os
eletrões e o núcleo (que diminui a energia dos eletrões) e das repulsões entre os eletrões (que
aumenta a sua energia).
O balanço entre as atrações e as repulsões confere ao átomo de um elemento uma estrutura
eletrónica única, o que leva a que os eletrões se distribuam por níveis de energia distintos,
eventualmente desdobrados em subníveis, em átomos de diferentes elementos.

Para se conhecer a energia de cada eletrão num átomo recorre-se à técnica de espetroscopia
fotoeletrónica. Esta técnica permite obter, para os diferentes eletrões, os valores das respetivas

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energias de remoção – valor mínimo de energia que um qualquer eletrão deve absorver para ser
ejetado a partir do átomo e que é simétrica da energia do eletrão no átomo.

𝐸remoção eletrónica = −𝐸eletrão no átomo

Que informações se podem obter a partir de espetros fotoeletrónicos?


Os espetros fotoeletrónicos obtidos por espetroscopia fotoeletrónica permitem determinar as energias
relativas dos subníveis eletrónicos ocupados, assim como os números relativos de eletrões em cada
subnível, por análise dos picos:
 a posição indica os valores da energia de remoção eletrónica;
 a altura é proporcional ao número de eletrões em cada nível ou subnível de energia.
Exemplo:_ __________________
Análise do espetro fotoeletrónico do boro:

 Observam-se três picos – três subníveis de energia – três valores de energia de remoção:
– A diferença de energia é muito maior do 1.º pico para o 2.º pico do que deste para o 3.º pico
– o que pressupõe a existência de 2 níveis de energia, com o 2.º nível desdobrado em 2
subníveis.
 Observa-se que dois picos têm igual altura e o terceiro tem cerca de metade dos anteriores:
– 1.º nível de energia: ocupado com 2 eletrões (maior valor de energia de remoção);
– 2.º nível de energia: 2 eletrões ocupam o subnível de menor energia e 1 eletrão ocupa o
subnível de maior energia (menor valor de energia de remoção).

A análise dos dados obtidos por espetroscopia fotoeletrónica para diferentes elementos químicos
permite concluir que:
 o primeiro nível de energia, à exceção do hidrogénio, é sempre ocupado com dois eletrões;
 no segundo nível de energia podem existir, no máximo, oito eletrões, distribuídos por dois subníveis,
em que o primeiro pode comportar dois eletrões e o segundo subnível por seis eletrões;
 átomos de elementos químicos diferentes apresentam valores diferentes para a energia dos
eletrões no mesmo subnível de energia: a energia de um subnível é tanto menor quanto maior for a
carga nuclear, pois maior é a intensidade da força atrativa exercida pelo núcleo, sendo maior o valor
da energia de remoção eletrónica dos eletrões que ocupam esse subnível;
 considerando que um nível, que não se encontre desdobrado em subníveis, contém um único
subnível, então o número de subníveis de energia total ou parcialmente preenchidos num átomo

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coincide com o número de energias de remoção eletrónica para esse átomo.

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2.4. MODELO QUÂNTICO DO ÁTOMO
Orbitais e níveis de energia
Apesar de o modelo de Bohr explicar satisfatoriamente o espetro do átomo de hidrogénio, com base
na quantificação da energia eletrónica, não permitia interpretar os dados
obtidos para os outros cerca de noventa elementos químicos que
surgem na Natureza.
O modelo atualmente aceite para o átomo é o modelo quântico.
De acordo com o modelo quântico, a nuvem eletrónica representa a
distribuição da densidade dos eletrões à volta do núcleo atómico,
correspondendo as regiões mais densas a maior probabilidade de aí
encontrar eletrões. Verifica-se que há uma elevada probabilidade de o
eletrão se encontrar perto do núcleo.
A região do espaço atómico onde há maior probabilidade de encontrar um eletrão designa-se orbital.
Na tabela seguinte encontram-se as superfícies tridimensionais que representam as orbitais
atómicas para uma probabilidade de ocorrência de 90%.
Orbitais s Orbitais p Orbitais d

As orbitais p (𝑝𝑥 , 𝑝𝑦 e 𝑝𝑧 ), três por As orbitais d (𝑑𝑥𝑦 , 𝑑𝑦𝑧 , 𝑑𝑥𝑧 ,


As orbitais s, uma por
nível de energia, apresentam dois 𝑑𝑥 2 − 𝑦2 e 𝑑𝑧2 ), cinco por nível
nível de energia,
apresentam simetria lóbulos simétricos, tendo o núcleo de energia, apresentam uma
esférica. como centro. forma mais complexa.

Quanto maior for o nível de energia, maior é a distância média do eletrão ao núcleo e, portanto, maior
é a orbital, seja s, p ou d.
O spin eletrónico é uma propriedade quantizada do eletrão, além da sua massa e carga, podendo
assumir dois estados diferentes. Está relacionado com os dois movimentos de rotação eletrónicos
possíveis, um no sentido dos ponteiros do relógio e outro no sentido contrário ao dos ponteiros do
relógio.

Como estabelecer as configurações eletrónicas dos átomos?


Para se obter a configuração eletrónica do estado fundamental dos átomos deve aplicar-se:

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• O Princípio de Exclusão de Pauli, segundo o qual uma orbital pode acomodar no máximo dois
eletrões, tendo eles necessariamente spins opostos.
Os dois eletrões, com spins opostos, que ocupam uma orbital designam-se eletrões
emparelhados.
Cada eletrão que ocupe sozinho uma orbital designa-se por eletrão desemparelhado.
A orbital com dois eletrões diz-se completamente preenchida, enquanto uma orbital com um só
eletrão diz-se semipreenchida.
Em átomos polieletrónicos todas as orbitais de um mesmo subnível np, ou nd, têm exatamente a
mesma energia e são designadas orbitais degeneradas. Por exemplo, o conjunto das três orbitais p,
em cada nível de energia, que comportam no máximo seis eletrões com um único valor de energia de
remoção, têm igual energia.
• O Princípio de Construção ou de Aufbau, segundo o qual os eletrões se distribuem pelas orbitais
por ordem crescente de energia.

Para cada elemento, os eletrões são adicionados às orbitais por


ordem crescente de energia, permitindo a escrita da
configuração eletrónica. Dessa forma, a configuração eletrónica
resultante corresponde ao estado de energia mais baixa do
átomo que, como já se referiu, se designa estado fundamental.
Qualquer outra configuração possível corresponderá a um
estado excitado.

Exemplo:

Ca – 1𝑠 2 2𝑠 2 2𝑝6 3𝑠 2 3𝑝6 4𝑠 2
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• A Regra de Hund – a distribuição mais favorável dos eletrões por orbitais degeneradas é aquela que
conduz à obtenção do número máximo de spins paralelos.
Exemplo:
Distribuição eletrónica mais favorável para o átomo de
carbono.
O carbono possui 4 eletrões de valência – eletrões do
último nível de energia.

A distribuição dos eletrões pelas orbitais atómicas pode ser apresentada de diversas formas:

• Usando a notação spd 𝐌𝐠 − 1𝑠 2 2𝑠 2 2𝑝6 3𝑠 2


12

• Representação abreviada ou concisa 𝐌𝐠 − [Ne]3𝑠 2


12
• Representação das orbitais como caixas e os
eletrões que as ocupam como setas orientadas

para cima ou para baixo.


• Num diagrama de energias das orbitais

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SUBDOMÍNIO 3: TABELA PERIÓDICA
3.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA TABELA PERIÓDICA
A Tabela Periódica é um esquema de organização de informação sobre os elementos químicos e as
respetivas substâncias elementares. A sua elaboração teve o contributo de vários cientistas.

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3.2. ORGANIZAÇÃO DA TABELA PERIÓDICA
Estrutura da Tabela Periódica
Na Tabela Periódica atual, os elementos encontram-se organizados por ordem crescente de número
atómico, ao longo de 7 períodos (linhas) e 18 grupos (colunas).
Os grupos (também chamados famílias) são formados por elementos com propriedades físicas e
químicas semelhantes e alguns deles têm designações próprias.
De acordo com as suas propriedades físicas, os elementos são também divididos por uma linha
quebrada, em metais, não metais e semimetais.

Os elementos podem, ainda, ser classificados de acordo com a sua configuração eletrónica, em:
• Elementos representativos – Grupos 1, 2 e 13 a 18
• Elementos de transição – Grupos 3 a 12
• Elementos de transição interna – distribuem-se por duas séries: a série dos lantanídeos (6.º
período) e a série dos actinídeos (7.º período)
Tabela Periódica e configuração eletrónica dos elementos
A posição dos elementos na Tabela Periódica está relacionada com a sua configuração eletrónica:
• o período coincide com o número do maior nível de energia preenchido ou em preenchimento;
• o grupo, para os elementos representativos é igual ao número de eletrões de valência (exceto nos
grupos 13 a 18, em que se deve somar 10 para obter o grupo).
Exemplo:

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A Tabela Periódica pode ser dividida em quatro blocos (s, p, d e f), de acordo com o tipo de orbitais
em preenchimento.

Na Tabela Periódica, muitas vezes, na


quadrícula onde está colocado o símbolo
do elemento, são dadas indicações sobre
propriedades do elemento e propriedades
das substâncias elementares que esse
elemento pode originar.

Informações referentes ao elemento químico Informações referentes às substâncias elementares


– Símbolo – Ponto de fusão
– Número atómico – Ponto de ebulição
– Massa atómica – Densidade
– Configuração eletrónica – Estado físico
– Raio atómico
– Primeira energia de ionização

3.3. PROPRIEDADES PERIÓDICAS DOS ELEMENTOS REPRESENTATIVOS


Raio atómico e energia de ionização
Para elementos de grupos e períodos diferentes, o efeito predominante no estudo da variação das
propriedades periódicas obedece à seguinte sequência:

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Raio atómico
O raio atómico é uma das propriedades Ao longo do grupo, o raio atómico aumenta.
periódicas dos elementos químicos. Pode ser
definido como a distância média entre o centro Apesar de haver um aumento da carga nuclear,
do núcleo e os eletrões que se situam na predomina o fator do aumento do número de
camada mais afastada do próprio núcleo. níveis, pelo que os eletrões de valência se
encontram cada vez mais afastados do núcleo.
Ao longo do período, de uma maneira geral,
o raio atómico diminui. À medida que
aumenta o número atómico,
consequentemente, aumenta a carga nuclear,
pelo que aumenta a força atrativa entre o
núcleo e a nuvem eletrónica, ocorrendo a
contração desta, apesar de haver um aumento
do número de eletrões de valência, que se
repelem entre si.

Energia de ionização
A energia de ionização (Ei) é o valor da energia Ao longo do grupo, a 1.ª energia de
mínima necessária para remover um eletrão de um ionização diminui. O efeito do aumento
átomo isolado (estado gasoso e baixa pressão) no do número de níveis de energia
seu estado fundamental. preenchidos prevalece, estando os
eletrões de valência cada vez mais
Quanto maior for o valor da energia de ionização, afastados do núcleo (aumenta o raio
mais difícil é a remoção de um atómico), e por isso menor será a
eletrão de um átomo. energia necessária para remover esses
𝐗(𝐠) + 𝑬𝐢 ⟶ 𝐗 + (𝐠) eletrões.
+ 𝐞−
Ao longo do período, a 1.ª energia de
ionização aumenta. O número de níveis
de energia mantém-se, e prevalece,
geralmente, o efeito do aumento da
A qualquer átomo podem ser retirados, um a um, carga nuclear. À medida que aumenta a
todos os seus eletrões. As energias de ionização carga nuclear, aumenta a atração ao
devem ser cada vez maiores, uma vez que diminui o núcleo (diminui o raio atómico) e, de
número de eletrões, e consequentemente as forças uma maneira geral, aumenta a energia
repulsivas diminuem, prevalecendo as forças atrativas necessária para remover os eletrões de
exercidas pelo núcleo, que se tornam cada vez mais valência.
significativas.

Relacionando as duas propriedades, pode concluir-se que, à medida que aumenta o raio atómico
diminui a energia de ionização.

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Raio iónico
Os átomos metálicos e não metálicos tendem a transformar-se, respetivamente, em iões positivos
(catiões) ou iões negativos (aniões), de forma a adquirirem uma configuração eletrónica estável
semelhante a um gás nobre.

Para se transformar num catião, um átomo tem de


ceder eletrões de valência. Como a carga nuclear
não varia e há uma diminuição das repulsões entre Na ⟶ 1𝑠 2 2𝑠 2 2𝑝6 3𝑠1
11
os eletrões (porque são menos), ocorre contração
da nuvem eletrónica. Pode assim concluir-se que:
Na+ ⟶ 1𝑠 2 2𝑠 2 2𝑝6
Os catiões apresentam raios menores do que os 11
raios dos respetivos átomos.

Cℓ ⟶ 1𝑠 2 2𝑠 2 2𝑝6 3𝑠 2 3𝑝5
Para um átomo se transformar num anião tem de 17
captar eletrões de valência. Como a carga nuclear
não varia, mas há um aumento das repulsões entre Cℓ− ⟶ 1𝑠 2 2𝑠 2 2𝑝6 3𝑠 2 3𝑝6
17
os eletrões (porque são mais), há expansão da
nuvem eletrónica. Pode assim concluir-se que:
Os aniões apresentam raios maiores do que os
raios dos respetivos átomos.

Ao longo do grupo, o raio iónico aumenta, tal como o raio atómico.

Quando um elemento ganha (ou perde) eletrões e se transforma num ião negativo (ou positivo),
adquire, muitas vezes, uma configuração eletrónica semelhante a outro elemento e/ou ião e por isso
são chamadas partículas isoeletrónicas.
Quando se comparam partículas isoeletrónicas, quanto maior for a carga nuclear menor será o raio da
partícula.

Exemplo:

Partículas isoeletrónicas: Configuração eletrónica: raio iónico Cℓ− > raio iónico K+
17 19
18
Cℓ− e K+ 1𝑠 2 2𝑠 2 2𝑝6 3𝑠 2 3𝑝6
17 19

3.4. FORMAÇÃO DE IÕES E REATIVIDADE DE ELEMENTOS QUÍMICOS


Os átomos dos elementos químicos têm tendência a reagir quimicamente, de modo a adquirirem a
maior estabilidade possível, que corresponde à configuração eletrónica dos elementos do grupo 18 (os
gases nobres) que possuem 8 eletrões na camada de valência com exceção do hélio, que apenas
apresenta 2.

Grupo 1 – Metais alcalinos Grupo 17 – Halogénios


A reatividade dos metais alcalinos aumenta São elementos muito reativos que
à medida que se desce ao longo do grupo apresentam energias de ionização
pois, como o valor da 1.ª energia de elevadas.
ionização diminui, a remoção do eletrão de A reatividade dos halogénios diminui no
valência torna-se mais fácil. sentido da sequência flúor, cloro, bromo,
iodo, o que tem a ver com a facilidade
com que captam um eletrão. Como a
Grupo 2 – Metais alcalinoterrosos captura do eletrão é tanto mais fácil
Os metais alcalinoterrosos têm um quanto mais perto do núcleo ele se situar
comportamento químico semelhante ao (maior atração), a reatividade é maior
dos metais alcalinos, embora sejam um para os primeiros elementos do grupo.
pouco menos reativos.
A reatividade dos metais alcalinoterrosos
aumenta à medida que se desce ao longo Grupo 18 – Gases nobres
do grupo (sequência berílio, magnésio, Não têm tendência para se combinarem
cálcio) devido, também, à diminuição da com outros elementos nem para se
1.ª energia de ionização e à facilidade na combinarem entre si, pelo que as suas
remoção dos eletrões de valência. substâncias elementares são
monoatómicas.

DOMÍNIO 2: PROPRIEDADES E TRANSFORMAÇÕES DA MATÉRIA


SUBDOMÍNIO 1: LIGAÇÃO QUÍMICA

19
1.1. TIPOS DE LIGAÇÕES QUÍMICAS
Os átomos com configuração eletrónica distinta da dos gases nobres unem-se uns aos outros de
forma a ceder, captar ou partilhar eletrões e adquirir a configuração e a estabilidade desses gases.
A regra do octeto de Lewis refere que um átomo alcançará uma estabilidade equivalente à de um
gás nobre quando o seu último nível de energia possuir oito eletrões (ou dois, caso se trate do nível
um).
Uma ligação química resulta da união de átomos, por interações que decorrem da cedência,
captação ou partilha de eletrões e que lhes permite adquirir maior estabilidade em consequência,
muitas das vezes, de um octeto de eletrões completo. Essa estabilidade resulta da menor energia
adquirida pelo conjunto de átomos ligados comparativamente com a energia desses átomos
separados.
Ligação iónica Ligação metálica Ligação covalente
Ligação que resulta de uma rede de Ligação que decorre da
Ligação que decorre da iões metálicos positivos imersos num partilha de eletrões entre
atração eletrostática entre “mar” de eletrões de valência átomos de elementos de
catiões e aniões deslocalizados, partilhados por todos os não metais e/ou
resultantes da cedência e átomos. semimetais.
captação de eletrões entre
átomos de metais e não
metais, respetivamente.

Cloreto de sódio (NaCℓ)


Cobre (Cu) Água (H2 O)

Só os eletrões do último nível de energia é que participam nas ligações químicas dado que os
eletrões internos de um átomo são mais fortemente atraídos pelo seu núcleo atómico.

A forma conveniente e útil de representar os eletrões de valência que são utilizados na ligação é
através da Notação de Lewis, em que o símbolo do elemento é rodeado por pontos, um por cada
eletrão de valência, sendo os quatro primeiros colocados em cada um dos quatro lados do símbolo,
enquanto os restantes são também distribuídos pelos quatro lados na condição de cada um dos lados
acomodar até dois pontos.

20
Notação de Lewis para os elementos dos blocos s e p
até ao 4.º período da Tabela Periódica

21
1.2. LIGAÇÃO COVALENTE
A ligação covalente resulta de um equilíbrio entre as interações eletrostáticas atrativas existentes entre
os núcleos e os eletrões e as interações eletrostáticas repulsivas existentes entre núcleos e entre
eletrões.

O diagrama seguinte mostra como varia a energia potencial de dois átomos de hidrogénio, em função
da distância entre eles, verificando-se que:
Na posição 1 os átomos estão muito distantes um do outro, ainda não há interação entre eles,
considerando-se que a energia total do sistema é zero.
Na posição 2 com a aproximação dos átomos, as interações tornam-se significativas, predominando
as atrações entre os eletrões e as cargas positivas de ambos os núcleos. As nuvens eletrónicas
começam a sobrepor-se levando a uma diminuição da energia da molécula.
O ponto mínimo da curva, na posição 3, é a distância internuclear para a qual a molécula é mais
estável, havendo um equilíbrio entre as interações atrativas e repulsivas. Considera-se que está
estabelecida a ligação covalente, sendo mínima a energia da molécula nesse ponto.

Para distâncias ainda menores, posição 4, os núcleos aproximam-se o suficiente para que a repulsão
entre as suas cargas positivas se torne significativa levando ao aumento da energia da molécula.
A curtas distâncias há, assim, um predomínio das interações repulsivas que leva ao afastamento dos
átomos novamente para a posição de equilíbrio.

Estruturas de Lewis
A estrutura de Lewis representa, de acordo com a IUPAC, uma estrutura molecular em que os
eletrões de valência partilhados são representados por pontos (ou um traço) colocados entre os
símbolos dos átomos ligados.

22
Exemplo:
Estrutura de Lewis da molécula de diflúor:

O número de pares de eletrões partilhados entre dois átomos (número de traços entre os símbolos dos
átomos ligados) é igual à multiplicidade da ligação covalente e à ordem de ligação.

Ordem de ligação: 1 Ordem de ligação: 2 Ordem de ligação: 3

Estrutura de Lewis da molécula Estrutura de Lewis da molécula Estrutura de Lewis da molécula


Exemplo:
de di-hidrogénio de dioxigénio de dinitrogénio

N.º total de eletrões de


𝐸𝑉 = 2 𝐸𝑉 = 12 𝐸𝑉 = 10
valência na molécula:

N.º total de eletrões de


valência para que
todos os átomos na
𝐸𝐺𝑁 = 2 × 2 = 4 𝐸𝐺𝑁 = 2 × 8 = 16 𝐸𝐺𝑁 = 2 × 8 = 16
molécula adquiram a
configuração do gás
nobre seguinte:

N.º de eletrões
𝐸𝐿 = 𝐸𝐺𝑁 − 𝐸𝑉 = 4 − 2 = 2 𝐸𝐿 = 𝐸𝐺𝑁 − 𝐸𝐿 = 16 − 12 = 4 𝐸𝐿 = 𝐸𝐺𝑁 − 𝐸𝐿 = 16 − 10 = 6
ligantes:

N.º de eletrões não


𝐸𝑁𝐿 = 𝐸𝑉 − 𝐸𝐿 = 2 − 2 = 0 𝐸𝑁𝐿 = 𝐸𝑉 − 𝐸𝐿 = 12 − 4 = 8 𝐸𝑁𝐿 = 𝐸𝑉 − 𝐸𝐿 = 10 − 6 = 4
ligantes:

23
Comprimento de ligação e energia de ligação
O comprimento de ligação é a distância média entre os centros atómicos envolvidos numa ligação
química, na posição de maior estabilidade.
 O comprimento de ligação entre dois átomos diminui à medida que aumenta a ordem de ligação.

 De uma maneira geral, o comprimento da ligação aumenta à medida que aumenta o raio dos átomos
envolvidos.

A energia de dissociação de ligação, ou energia de ligação, é definida como a energia necessária


para quebrar uma dada ligação numa mole de moléculas no estado gasoso.

 A energia de ligação varia inversamente com o comprimento de ligação pois, quanto mais afastados
estiverem os átomos, menor será a energia requerida para romper a ligação.

 Em moléculas diatómicas com ligações entre átomos do mesmo elemento, quanto maior a ordem de
ligação, mais forte é a ligação e, consequentemente, maior a energia de ligação e menor o
comprimento de ligação.
Ligação
Ordem Força Energia Comprimento
↑ ↑ ↑ ↓

24
1.3. GEOMETRIA E POLARIDADE DAS MOLÉCULAS
Geometria molecular
As propriedades físicas e químicas de uma molécula dependem fortemente do arranjo tridimensional
dos seus átomos, ou seja, da sua geometria molecular.
Segundo o Modelo de Repulsão dos Pares Eletrónicos da Camada de Valência (VSEPR): os
átomos dispõem-se em torno do átomo central de forma a minimizar as repulsões eletrostáticas entre
os pares de eletrões ligantes e não ligantes que se encontram em redor do átomo central.
Regras para aplicar o modelo VSEPR
1.º Representar a estrutura de Lewis da molécula.
2.º Contar o número de pares eletrónicos em torno do átomo central (nesta contagem deve
atender-se ao número de ligações existentes, independentemente da sua ordem de ligação, e ao
número de pares de eletrões não ligantes).
3.º Selecionar o arranjo espacial dos pares eletrónicos que garante o máximo afastamento entre
eles.
4.º Identificar a geometria molecular considerando apenas o número de átomos unidos ao átomo
central.

O ângulo de ligação é o menor ângulo formado pelos dois segmentos de reta que passam pelo
centro do núcleo do átomo central e pelos centros dos núcleos de dois átomos a ele ligados.
Apesar de as moléculas de amoníaco, metano e água possuírem todas um arranjo tetraédrico:
• O ângulo das ligações no amoníaco (107,3º) é menor do que no metano (109,5º), porque o par de
eletrões não ligantes repele os três pares de eletrões ligantes, aproximando as ligações N−H.
• O ângulo da ligação ainda é menor na molécula de água (104,5º) porque, em vez de um, há dois
pares de eletrões não ligantes que, por efeito da sua mútua repulsão, vão exercer uma maior
repulsão sobre os pares de eletrões ligantes, aproximando ainda mais as ligações O−H.

25
N.º pares eletrónicos em Arranjo espacial dos Geometria
Exemplo
torno do átomo central pares eletrónicos molecular

2 pares ligantes Na molécula de dióxido de carbono, CO2 , existem


apenas 2 átomos ligados ao átomo central, pelo
que, a geometria que minimiza as repulsões
desses pares e os mantém mais afastados é a
linear.

3 pares ligantes

Tri-hidreto de boro, BH3

4 pares ligantes Na molécula de metano, CH4 , de acordo com o


modelo VSEPR, os quatro pares de eletrões
ligantes tendem a afastar-se o máximo possível,
de forma a minimizar as repulsões, orientando-se
para os vértices de um tetraedro (pirâmide
triangular com as quatro faces todas iguais).

3 ligantes
Na molécula de amoníaco, NH3 , em torno do
4 pares átomo central existem quatro pares de eletrões
(três ligantes e um não ligante) sendo que a
1 não ligante geometria que minimiza as repulsões desses
pares é a piramidal trigonal (os átomos de
hidrogénio localizam-se nos vértices da base
triangular da pirâmide e o átomo de nitrogénio no
vértice do topo da pirâmide).

2 ligantes
4 pares Na molécula de água, H2 O, em torno do átomo
central existem quatro pares de eletrões (dois
2 não ligantes ligantes e dois não ligantes) sendo que a
geometria que minimiza as repulsões desses
pares é a angular.

Polaridade das moléculas


Os mapas de potencial eletrostático permitem visualizar a distribuição da carga elétrica em torno dos
átomos envolvidos na ligação química. As zonas vermelhas e azuis representam zonas de alta e de
baixa densidade eletrónica, respetivamente.

26
Ligação covalente apolar – ligação covalente em que os eletrões ligantes são igualmente partilhados
pelos átomos unidos, a densidade eletrónica está simetricamente distribuída.
Exemplo:
A ligação covalente numa , como o H2 , formada por dois átomos do mesmo
elemento, é apolar.

Ligação covalente polar – ligação covalente em que um dos átomos atrai mais para si os eletrões
ligantes, o que conduz a uma densidade eletrónica diferente em torno dos átomos envolvidos na
ligação.
Exemplo:
A ligação covalente numa molécula diatómica heteronuclear, como o HF,
formada por dois átomos de elementos diferentes, é polar.

Em moléculas diatómicas, a polaridade está dependente da polaridade da


ligação:
• Se a ligação é apolar, a molécula é apolar;
• Se a ligação é polar, a molécula é polar.

Em moléculas poliatómicas:
• com geometrias linear, triangular plana e tetraédrica, que não possuem pares de eletrões não
ligantes no átomo central, se possuírem os átomos das extremidades todos iguais são apolares
apesar de possuírem ligações polares, porque essas geometrias proporcionam uma distribuição
simétrica da carga elétrica em relação ao centro da molécula.

• com geometrias piramidal trigonal e angular, com pares de eletrões não ligantes no átomo central,
são polares porque essas geometrias conduzem a uma assimetria na distribuição da carga elétrica.

27
1.4. ESTRUTURAS DE MOLÉCULAS ORGÂNICAS E BIOLÓGICAS
Hidrocarbonetos são compostos formados exclusivamente por carbono e hidrogénio.

Quando o hidrocarboneto é formado exclusivamente por ligações simples entre os carbonos designa-
se hidrocarboneto saturado. É o caso da molécula de etano. No caso de possuir uma ou mais ligações
múltiplas, como o eteno e o etino, tratar-se-á de um hidrocarboneto insaturado.
Como na molécula de etino existem três pares de eletrões ligantes entre os átomos de carbono, as
forças atrativas são mais intensas, aproximando mais os núcleos dos átomos unidos. Assim, a ligação
C ≡ C na molécula de etino tem um comprimento menor e, por conseguinte, uma energia de ligação
maior do que a ligação C = C na molécula de eteno e que a ligação C − C na molécula de etano.
Molécula Ligação 𝐂 – 𝐂 𝐂𝐨𝐦𝐩𝐫𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐞 𝐥𝐢𝐠𝐚çã𝐨 / 𝐩𝐦 𝐄𝐧𝐞𝐫𝐠𝐢𝐚 𝐝𝐞 𝐥𝐢𝐠𝐚çã𝐨 / 𝐤𝐉 𝐦𝐨𝐥−𝟏

Etano C– C 153,5 345

Eteno C = C 132,9 612

Etino C ≡ C 120,3 809


Comprimento e energia da ligação carbono-carbono para o etano, eteno e etino.

Nomenclatura de alcanos
O nome de um alcano é constituído por um sufixo -ano, que identifica o hidrocarboneto como sendo
um alcano, e um prefixo que identifica o número de átomos de carbono da cadeia acíclica.

28
Fórmula estrutural
Número de carbonos Fórmula molecular Nome
condensada

1 CH4 Metano CH4

2 C2 H6 Etano CH3 CH3

3 C3 H8 Propano CH3 CH2 CH3

4 C4 H10 Butano CH3 (CH2 )2 CH3

5 C5 H12 Pentano CH3 (CH2 )3 CH3

6 C6 H14 Hexano CH3 (CH2 )4 CH3


Nomenclatura de alcanos de cadeia linear.

Nos alcanos de cadeia ramificada, os substituintes mais simples são os grupos substituintes alquilo
– cadeias laterais derivadas dos alcanos com menos um hidrogénio no local da ligação à cadeia
principal e que substituem um átomo de hidrogénio ligado ao hidreto parental.
Os nomes dos grupos substituintes alquilo obtêm-se substituindo o sufixo -ano por -ilo, embora o -o
final seja sempre suprimido no nome de um alcano ramificado.
Os átomos de hidrogénio dos alcanos podem também ser substituídos por átomos de halogénios. Os
nomes dos halogenetos de alquilo, também designados haloalcanos, seguem as mesmas regras que
os alcanos, considerando-se o halogénio um substituinte.

Exemplo:
Nomeação de um alcano:

O nome do composto é 3-etil-2,3-


dimetilpentano

29
Nomeação de um haloalcano:

O nome do composto é 2-cloropropano.

Grupos característicos (funcionais)


Os hidrocarbonetos são as moléculas orgânicas mais simples, por serem formadas apenas por
carbono e hidrogénio. São também fundamentais pois são a base de um grande número de classes
funcionais de compostos orgânicos que se dividem de acordo com os grupos característicos
(funcionais) que contêm.

Um grupo característico (funcional) é um grupo de átomos ligados à estrutura parental, de forma


específica, que confere reatividade e propriedades químicas próprias à molécula orgânica.

30
Classe Grupo característico
Exemplo
funcional (funcional)

grupo hidroxilo
Álcoois

grupo carbonilo (𝐂 = 𝐎): num


átomo de carbono na
extremidade da cadeia
carbonada
Aldeídos

grupo carbonilo (𝐂 = 𝐎):


ligado a dois átomos de carbono
Cetonas (no meio da cadeia carbonatada)

grupo carboxilo (-COOH):


ligado numa ou em várias
extremidades da cadeia
Ácidos
Carboxílicos

derivam do 𝐍𝐇𝟑 (amoníaco)


Aminas

1.5. LIGAÇÕES INTERMOLECULARES


As ligações intermoleculares resultam das interações eletrostáticas atrativas que existem entre as
moléculas, obrigando-as a permanecer próximas umas das outras, principalmente no estado sólido e
líquido.

31
Ligação de hidrogénio
A ligação de hidrogénio é a mais intensa das interações
intermoleculares; resulta de uma partilha pouco significativa de eletrões
de um par não ligante de um átomo (como o flúor, oxigénio ou
nitrogénio) de uma molécula com um átomo de hidrogénio, de outra
molécula, ligado covalentemente a um elemento com muita tendência
para atrair eletrões (como F, O ou N). Estabelece-se nas moléculas de
água, de amoníaco, ou de fluoreto de hidrogénio ou nos compostos
orgânicos com um grupo amino, um grupo hidroxilo ou um grupo
carboxilo.
Ligações de van der Waals
As moléculas que não reúnem condições para estabelecer ligações de hidrogénio interatuam por
ligações de van der Waals:
LIGAÇÃO DIPOLO-DIPOLO:

Estabelece-se por atração eletrostática


entre as cargas opostas dos dipolos
permanentes de duas moléculas polares
vizinhas.

LIGAÇÃO DIPOLO-DIPOLO INDUZIDO:

Estabelece-se por atração eletrostática


entre o dipolo permanente de uma
molécula polar e o dipolo induzido,
LIGAÇÕES resultante da distorção da nuvem
DE VAN eletrónica da molécula apolar vizinha.
DER
WAALS:
FORÇA DE DISPERSÃO DE LONDON:

Também designada ligação dipolo


instantâneo-dipolo induzido, explica as
interações entre moléculas apolares e
entre gases nobres.
Consiste na atração eletrostática entre
dipolos instantâneos, formados por
deformação da nuvem eletrónica, e
dipolos induzidos, resultantes da
polarização induzida em moléculas
vizinhas.

 • são tanto mais intensas quanto maior


for a nuvem eletrónica, pois mais
polarizável é a molécula;

 existem também em moléculas polares,


somando-se às atrações entre as
distribuições assimétricas de carga.

32
A intensidade das forças intermoleculares aumenta da forma seguinte:

Implicações na estrutura e propriedades da matéria


Quanto mais fortes são as ligações intermoleculares, maior é o estado de coesão das moléculas
e maiores são os pontos de fusão e de ebulição das substâncias.

Exemplo:
As ligações de hidrogénio e o número de ligações que as moléculas de água podem estabelecer,
explicam o elevado ponto de ebulição da água, comparativamente com outras substâncias
moleculares, nomeada mente o H2 S.

De uma maneira geral, para que duas substâncias moleculares sejam miscíveis é necessário que
as intensidades das ligações intermoleculares na mistura sejam próximas das intensidades das
ligações intermoleculares em cada uma das substâncias isoladamente:
Exemplo:

 A água e o álcool comum (etanol) são moléculas polares que se misturam em qualquer
proporção. A explicação está no facto de as interações entre as moléculas de água e álcool serem,
predominantemente, ligações de hidrogénio e terem uma intensidade comparável às ligações de
hidrogénio em cada uma das substâncias isoladamente;

 A água (polar) e o óleo vegetal (apolar) não se misturam. Neste caso, as atrações intermoleculares
entre as moléculas de água, principalmente ligações de hidrogénio, são mais fortes que as ligações
de van der Waals que se podem estabelecer entre as moléculas de água e as moléculas que
constituem o óleo vegetal.

SUBDOMÍNIO 2: GASES E DISPERSÕES

2.1. LEI DE AVOGADRO, VOLUME MOLAR E DENSIDADE


Lei de Avogadro
Segundo a Lei de Avogadro, volumes iguais de gases diferentes, nas mesmas condições de pressão
e temperatura, contêm o mesmo número de partículas elementares.

Para as mesmas condições de pressão e temperatura, o volume (V) ocupado por uma amostra gasosa
é diretamente proporcional à quantidade de matéria (n) presente, em que k é a constante de
proporcionalidade.
𝑉
= 𝑘 ⇔ 𝑉 = 𝑘𝑛
𝑛

33
Volume molar
Designa-se volume molar (𝑉m ) de uma substância, o
volume ocupado por uma mole dessa substância, em
determinadas condições de pressão e de temperatura.
O volume molar de qualquer substância no estado gasoso,
em condições PTN (𝑇 = 273,15 K e 𝑃 = 101,325 kPa), é:
𝑉m gases (PTN) = 22,4 dm3 mol−1 1

Tendo em conta a Lei de Avogadro e sabendo que o volume ocupado por uma mole de um gás é igual
ao volume molar, obtém-se:
Unidades:

𝑉 𝑽𝐦 (volume molar) – 𝐝𝐦𝟑 𝐦𝐨𝐥−𝟏 (decímetros cúbicos por mole)


𝑉m =
𝑛 𝑽 (volume) – 𝐝𝐦𝟑 (decímetro cúbico)
𝒏 (quantidade de matéria) – 𝐦𝐨𝐥 (mole)

A linha de um gráfico de V em função de n é uma reta que passa na origem, que


traduz a proporcionalidade direta entre as duas grandezas, sendo o declive igual
ao volume molar para as condições de pressão e temperatura em causa.
𝑚
Substituindo, na relação anterior, a quantidade de matéria por 𝑛 = 𝑀
, obtém-se
uma nova expressão
𝑀
𝑉m = 𝑉
𝑚
que relaciona o volume molar com a massa da amostra gasosa:
• o aumento de massa é diretamente proporcional ao aumento do volume ocupado por uma
substância;
• para a mesma massa de substâncias diferentes, quanto maior a massa molar da substância, menor
é o volume ocupado pela mesma.

Densidade de um gás
A densidade (𝜌), que muitas vezes já foi designada massa volúmica, define-se como o quociente
entre a massa e o volume de uma substância a uma dada pressão e temperatura.
Unidades:

𝑚 𝝆 (densidade) – 𝐠 𝐝𝐦−𝟑 (gramas por decímetro cúbico)


𝜌 =
𝑉 𝒎 (massa) – 𝐠 (grama)

𝑽 (volume) – 𝐝𝐦𝟑 (decímetro cúbico)

A uma dada pressão e temperatura, a densidade de diferentes gases é


diretamente proporcional à respetiva massa molar, sendo a constante de
proporcionalidade o inverso do volume molar:

34
𝑚gás 𝑛𝑀 𝑀
𝜌gás = ⇔ 𝜌gás = ⇔ 𝜌gás =
𝑉gás 𝑛𝑉m 𝑉m

Fração molar
A fração molar (𝑥) de qualquer componente de uma mistura é igual ao quociente entre a quantidade
de matéria desse componente e a quantidade de matéria total de todos os componentes presentes na
mistura. Esta razão será sempre uma grandeza adimensional.
𝑛A
𝑥A = Sendo 𝑥A + 𝑥B + 𝑥C + … = 1 pois 𝑛total = 𝑛A + 𝑛B + 𝑛C + . ..
𝑛total

A fração molar de um componente numa mistura gasosa também pode ser determinada pela fração
volúmica desse componente (1) e ainda a partir do número de entidades dos constituintes da mistura
(2).

2.2. COMPOSIÇÃO DA ATMOSFERA TERRESTRE


O ar atmosférico é, fundamentalmente, uma mistura homogénea de gases, ou seja, é uma solução
gasosa. No entanto, sobretudo nas camadas mais baixas da atmosfera, o ar também contém outros
tipos de dispersões.
As dispersões podem classificar-se como soluções, coloides e suspensões com base na ordem de
grandeza da dimensão das partículas dispersas.

Qual a composição atual da atmosfera terrestre?


A atmosfera é, maioritariamente, constituída por dinitrogénio
(≈ 78 %) e dioxigénio (≈ 21 %), mas também contém, em
muito menor percentagem e em quantidades variáveis,
outros gases, como o dióxido de carbono, o árgon e o
vapor de água. A crescente atividade humana na indústria,
na agricultura ou na pecuária, tem vindo a originar alterações
na composição da atmosfera e variações significativas
na concentração de muitos dos seus constituintes vestigiais.

35
Os gases libertados em quantidades excessivas para a atmosfera provocam uma contaminação
prolongada do ar, vulgarmente designada por poluição atmosférica.
Dependendo da sua origem, os poluentes atmosféricos podem ser classificados como:
Principais Fontes de Poluição
Poluente atmosférico Naturais (quando provêm Antropogénicas (quando resultam da
de fenómenos naturais) atividade humana)

Atividade Industrial e queima de combustíveis


Óxidos de enxofre (SO2 ) Erupções vulcânicas
fósseis (refinarias, centrais térmicas)

Queima de combustíveis fósseis (circulação


Óxidos de nitrogénio (NO𝑥 ) Ação bacteriana
automóvel)

Agricultura e a pecuária (atividade agrícola em


Decomposição anaeróbia
Metano (CH4 ) geral, destacando-se a plantação de arroz e a
de matéria orgânica
criação de gado)
Queima de combustíveis fósseis (circulação
Monóxido de carbono (CO) Incêndios florestais
automóvel, centrais térmicas)

Queima de combustíveis fósseis (circulação


Dióxido de carbono (CO2 ) Incêndios florestais
automóvel, centrais térmicas)
Reações fotoquímicas dos óxidos de
Ozono (O3 ) Relâmpagos
nitrogénio

2.3. COMPOSIÇÃO QUANTITATIVA DE SOLUÇÕES

36
Existem várias formas de exprimir a composição quantitativa do(s) soluto(s) numa solução:
Designação Definição Unidade mais usual

Concentração 𝑚soluto
𝑐𝑚 = g dm−3
em massa 𝑉solução
𝑛soluto
Concentração 𝑐 = mol dm−3
𝑉solução
𝑚A
Fração mássica 𝜔A = adimensional
𝑚total
𝑚A
Fração volúmica 𝜙A = adimensional
𝑚total

Substituindo, na expressão da concentração mássica, a massa de soluto pelo produto da respetiva


quantidade de matéria pela massa molar, facilmente se percebe que:
𝑛soluto 𝑀
𝑐m = = 𝑐𝑀
𝑉solução

A fração mássica e a fração volúmica de um soluto também pode ser expressa em percentagem e em
partes por milhão, sendo simples estabelecer uma relação entre esses dois modos de exprimir a
composição quantitativa de uma solução.
𝑚A 𝑚A
Sendo 𝜔(%) = 𝑚total
× 102 e 𝜔pm = 𝑚total
× 106 , obtém-se:

𝜔pm = 𝜔(%) × 104

De modo análogo,
𝜙pm = 𝜙(%) × 104

Diluição de soluções aquosas


Numa solução diluída o soluto é pouco abundante e a concentração é baixa, enquanto numa
solução concentrada o soluto é muito abundante e a concentração é elevada.
Quando uma determinada solução é diluída, o seu volume aumenta e a sua concentração diminui,
mas a quantidade de matéria do soluto permanece constante.

𝑛final = 𝑛inicial
𝑛
Como 𝑐 = 𝑉
⇔ 𝑛 = 𝑐𝑉, então:
𝑉inicial
𝑐final 𝑉final = 𝑐inicial 𝑉inicial ⇔ 𝑐final = 𝑐inicial
𝑉final
Ao quociente entre o volume de solução diluída obtida (𝑉f ) e o volume de solução concentrada
utilizada (𝑉i ) chama-se fator de diluição, que indica o número de vezes que a concentração final é
menor que a concentração inicial.
𝑉f 𝑐i
𝑓 = 𝑉i
ou 𝑓 = 𝑐f

37
SUBDOMÍNIO 3: TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS

3.1. REAÇÕES QUÍMICAS E ENERGIA DE LIGAÇÃO


Processos endoenergéticos e exoenergéticos
Uma reação química é uma transformação química que
leva à formação de novas substâncias.
Durante uma reação química existe rutura de ligações
químicas nos reagentes e formação de novas ligações
químicas nos produtos.

A rutura das ligações químicas nos reagentes A formação das ligações químicas dos
envolve absorção de energia e o aumento da produtos implica libertação de energia e
energia potencial interna – é um processo diminuição da energia potencial interna – é um
endoenergético. processo exoenergético.

Reações químicas endotérmicas e exotérmicas: variação de entalpia


Como a energia potencial que resulta do rearranjo molecular numa reação química é, de uma forma
geral, totalmente convertida em energia térmica do sistema reacional, a variação de energia que
acompanha uma reação química repercute-se numa variação de energia térmica. Como tal utilizam-se
os termos endotérmico e exotérmico para mencionar os processos de transformação química que
ocorrem, respetivamente, com absorção e libertação de energia térmica.
A variação de entalpia (𝛥𝐻), corresponde ao fluxo de calor numa transformação química a pressão
constante. Pode ser obtida através da diferença da entalpia entre os estados final e inicial do sistema
reacional:
𝛥𝐻 = 𝐻final – 𝐻inicial

Estimativa da variação de entalpia de uma reação


O balanço energético entre a energia envolvida na rutura e na formação de ligações químicas
corresponde à energia da reação, também designada variação de entalpia (𝜟𝑯) para transformações
que ocorrem a pressão constante.
A variação de entalpia de uma reação pode ser estimada a partir das energias de ligação:
𝛥𝐻 = Σ Energia (entalpia) ligação reagentes – Σ Energia (entalpia) ligação produtos
𝛥𝐻 = Σ 𝐷reagentes – Σ 𝐷produtos

As equações químicas podem apresentar a variação de entalpia da reação em causa sendo, nesse
caso, designadas equações termoquímicas.

38
REAÇÃO ENDOTÉRMICA REAÇÃO EXOTÉRMICA

• A entalpia dos reagentes é superior à entalpia dos


• A entalpia dos reagentes é inferior à entalpia dos produtos.
produtos.
• Quando 𝐻final < 𝐻inicial , então 𝜟𝑯 < 𝟎 (variação
• Quando 𝐻final > 𝐻inicial , então 𝜟𝑯 > 𝟎 (variação de entalpia negativa), o que significa que a
de entalpia positiva), o que significa que é reação foi acompanhada pela libertação de
necessário fornecer energia ao sistema reacional energia.
para que a reação ocorra.

• A energia envolvida na rutura das ligações


• A energia envolvida na rutura das ligações químicas nos reagentes é menor, em valor
químicas dos reagentes é superior, em valor absoluto, do que a energia libertada na formação
absoluto, à energia libertada na formação das das ligações químicas nos produtos da reação.
ligações químicas dos produtos da reação.

Em sistemas isolados, numa reação exotérmica,


Em sistemas isolados, numa reação a energia libertada pela reação origina uma maior
endotérmica, a energia associada à agitação das agitação das partículas, aumento da energia cinética
partículas, energia cinética interna, diminui, pois interna, que se traduz num aumento da
parte dessa energia converte-se em energia que é temperatura do sistema.
absorvida pela reação química sob a forma de
energia potencial interna, provocando a diminuição Esse aumento ocorre à custa da diminuição da
da temperatura do sistema reacional. energia potencial interna, associada às ligações
químicas.

Reação Endotérmica
Reação Exotérmica
Tipo de sistema Temperatura Energia total
Tipo de sistema Temperatura Energia total
Isolado Diminui Não se altera
Isolado Aumenta Não se altera
Aumenta (capta
Aberto e fechado Mantém-se energia da Diminui (cede
vizinhança) Aberto e fechado Mantém-se energia à
vizinhança)

Em sistemas abertos e fechados como há trocas de energia com o exterior, a energia libertada ou
absorvida pelo sistema tende, respetivamente, a dissipar-se na vizinhança ou a ser recuperada da
vizinhança conduzindo, em ambos os casos, a uma temperatura equivalente à temperatura exterior.

Exemplo:
Equação termoquímica da reação de combustão do di-hidrogénio:
2 H2 (g) + O2 (g) ⟶ 2 H2 O(ℓ) 𝛥𝐻 = − 571,6 kJ
Neste caso como a variação de entalpia é apresentada em kJ, representa a entalpia da reação de
acordo com a proporção apresentada na equação química, o que significa que há a libertação de
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571,6 kJ de energia quando 2 moles de 𝐇𝟐 (𝐠) reagem com 1 mole de O2 (g) para formar 2 moles de
H2 O(ℓ).
Como a equação química indica o consumo de 2 moles de H2 (g), a variação de entalpia pode também
ser expressa por 𝛥𝐻 = – 285,8 𝐤𝐉 𝐦𝐨𝐥−𝟏, a que corresponde a equação termoquímica:
1
H2 (g) + O (g) ⟶ H2 O(ℓ) 𝛥𝐻 = − 285,8 kJ mol −1

2 2
Neste caso, – 285,8 kJ mol−1 significa que a combustão de H2 (g) liberta 285,8 kJ de energia por cada
mole de 𝐇𝟐 (𝐠) e 0,5 moles de O2 (g) consumidas e por cada mole de H2 O(ℓ) formada.

3.2. REAÇÕES FOTOQUÍMICAS NA ATMOSFERA


Fotodissociação e fotoionização
A radiação eletromagnética, ou simplesmente a luz, é capaz de interagir com a matéria,
desencadeando transformações químicas. As reações químicas que se iniciam por ação da luz são
designadas por reações fotoquímicas e correspondem a processos endoenergéticos, isto é, a
processos que necessitam de absorver energia para ocorrer e que apresentam uma variação de
entalpia positiva.
Dependendo da substância em causa e da energia dos fotões incidentes, podem desencadear-se dois
fenómenos:

FOTOIONIZACÃO FOTODISSOCIAÇÃO
Reação química desencadeada pela absorção de Reação química desencadeada pela absorção de
um fotão capaz de provocar a ejeção de um eletrão, um fotão capaz de provocar a quebra homolítica de
ou seja, de ionizar a substância – forma-se um ião. uma ligação entre os átomos que constituem a
substância – formam-se radicais.
Luz
Luz
∙+ −
AB → A∙ + B ∙
M → M + 1e

Um radical é um átomo, uma molécula ou um ião que apresenta, pelo menos, um eletrão
desemparelhado, ou seja, tem pelo menos um eletrão isolado numa orbital. É normalmente, uma
espécie química extremamente reativa, tendo o eletrão desemparelhado grande tendência a ligar-se a
outro eletrão de spin oposto, mesmo que esteja localizado numa outra espécie química.
Os radicais apresentam as fórmulas ou símbolos químicos com um ponto que representa o eletrão
desemparelhado.
H2 O ⟶ OH ∙ + H ∙ Br2 ⟶ Br ∙ + Br ∙
A grande reatividade dos radicais livres explica a sua participação em muitas reações no interior das
células ou nos tecidos do organismo, que originam processos metabólicos celulares prejudiciais, como
por exemplo, o envelhecimento celular, os diabetes, certas doenças neurológicas degenerativas (como
a doença de Alzheimer), o cancro e a cegueira.

Estabilidade de espécies químicas na atmosfera


A atmosfera terrestre é composta por quatro camadas: troposfera, estratosfera, mesosfera e
termosfera.

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A termosfera, a camada mais externa da atmosfera, é atingida por todo o espetro de radiação solar
que chega à Terra. Existindo radiações muito energéticas nesta camada, a interação da radiação com
a matéria desencadeia reações de fotoionização e fotodissociação das moléculas de dinitrogénio,
N2 , e dioxigénio, O2 .

Fotoionização: Fotodissociação:
Luz Luz
N2 → N2∙+ + 1e −
𝛥𝐻 = 1505 kJ mol −1
N2 → N∙ + N∙ 𝛥𝐻 = 964 kJ mol−1
Luz Luz
O2 → O2∙+ + 1e− 𝛥𝐻 = 1144 kJ mol−1 O2 → O∙ + O∙ 𝛥𝐻 = 500 kJ mol−1

Na estratosfera existe outra molécula constituída pelo elemento oxigénio que apresenta um papel
relevante no controlo da radiação que atinge a superfície da Terra. Trata-se da molécula de ozono (O3 )
que, sujeita à radiação, sofre fotodissociação.

Fotodissociação:
UV
O3 → O∙ + O2 𝛥𝐻 = 387 kJ mol−1

EM CONCLUSÃO:
• a interação da radiação com a matéria, na atmosfera, desencadeia processos endoenergéticos;
• a energia requerida para a ionização das moléculas de N2 e O2 é consideravelmente superior à que é
necessária para as dissociar;
• quanto maior for a energia de dissociação de uma molécula diatómica mais forte é a ligação da
molécula:
– a ligação da molécula de N2 é bastante mais forte do que a ligação da molécula de O2 ;
– a ligação entre os átomos de oxigénio é mais forte na molécula de dioxigénio, O2 , do que na
molécula de ozono, O3 ;
• a fotoionização e a fotodissociação das moléculas de N2 e O2 são desencadeadas por radiações das
gamas mais energéticas do espetro eletromagnético como as radiações ultravioleta ou os raios X;
• requerendo, no geral, menos energia, as reações de fotodissociação podem desencadear-se
também em camadas inferiores da atmosfera;
• para dissociar a molécula de ozono não é necessária radiação tão energética, mas, ainda assim terá
de ser da gama ultravioleta.
Ozono estratosférico e ozono troposférico
O ozono é um gás altamente instável e muito tóxico. A sua acumulação na troposfera pode originar
problemas respiratórios e irritação ocular, além de ter um efeito corrosivo em diversos materiais.
É também um dos responsáveis pelo efeito de estufa e participa na formação do nevoeiro fotoquímico
(smog), que surge nos grandes centros urbanos e industriais.
Assim, pode falar-se em dois tipos de ozono, consoante a camada da atmosfera em que este está
localizado: o ozono estratosférico, que funciona como filtro das radiações UV protegendo a
superfície terrestre da sua ação danosa, e o ozono troposférico, que atua como poluente quando
apresenta uma concentração acima do recomendável.
A camada de ozono – zona da estratosfera, onde se encontra cerca de 90% do ozono que existe na
atmosfera – absorve grande parte das radiações UV (funciona como um filtro solar de radiações UVB,
bem como das radiações UVC que não foram absorvidas pelas moléculas de dioxigénio na
mesosfera), impossibilitando a sua passagem para a superfície terrestre.

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Efeito dos clorofluorcarbonetos sobre o ozono estratosférico
Por serem gases muitos estáveis, os clorofluorocarbonetos (CFC) podem atingir a estratosfera sem se
modificarem. Nessa camada sofrem fotodissociação pela radiação UVC, formando radicais cloro que
iniciam o ciclo de decomposição do ozono.
Luz
CCℓ3 F(g) → CCℓ2 F (g) + Cℓ (g)
• •

De acordo com esse mecanismo, o radical cloro reagiria com uma molécula de ozono para formar um
radical monóxido de cloro e dioxigénio.
Cℓ (g) + O3 (g) ⟶ CℓO (g) + O2 (g)
• •

Num último passo, o monóxido de cloro reagiria com um radical oxigénio para se estabilizar, formando-
se de novo o dioxigénio e o cloro radical, que fica livre novamente para reagir com outra molécula de
ozono.
CℓO (g) + O (g) ⟶ Cℓ (g) + O2 (g)
• • •

Trata-se de um ciclo em que o radical cloro viabiliza a decomposição do ozono, contribuindo para a
sua drástica diminuição, sem ser consumido. Dessa forma, os gases destruidores do ozono
permanecem ativos durante décadas na estratosfera.

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