Em sonho, às vezes, se o sonhar quebranta Este meu vão sofrer, esta agonia, Como sobe cantando a cotovia, Para o céu a minh'alma sobe e canta.
Canta a luz, a alvorada, a
estrela santa, Que ao mundo traz piedosa mais um dia... Canta o enlevo das coisas, a alegria Que as penetra de amor e as alevanta... “O sonho”, Frida Kahlo. Mas, de repente, um vento húmido e frio Cá vela, como dantes, a meu lado... Sopra sobre o meu Os meus cantos de luz, anjo adorado, sonho: um calafrio São sonho só, e sonho o meu amor! Me acorda - A noite é negra e muda: a dor Antero de Quental, Sonetos
O poema “Acordando” de Antero de Quental, aborda a oposição entre um sonho e a realidade.
O poeta começa por manifestar o seu desejo de libertar-se do sofrimento da realidade, através do sonho, usando vocabulário de carácter positivo e termina por exprimir o retorno repentino e desagradável à realidade, trazendo para o poema um vocabulário negativo e sombrio. Automaticamente associei estes versos com uma pintura da artista Frida Kahlo, intítulada de “O sonho”. Nesta pintura, Frida retrata, para além da serenidade do sono, o retorno súbito à angústia da realidade através dos explosivos ligados ao esqueleto (que simboliza a fraqueza do ser humano, um ser mortal). Ambas estas duas obras, relembram-me o facto de que enquanto sonhamos, a realidade imaterializa-se em infinitas possibilidades, no entanto, a realidade acaba sempre por se impor.