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Unitermos:
Pós-graduação,Pesquisa.Transferênciada Informação.
o excelente filme intitulado Guerra de fogo (5), "Quest for fire", ajuda
na compreensão do discurso oficial sobre a Universidade e a interminável
discussão sobre a legitimidade da pós-graduação e a não menos controver-
tida relação entre a doutora pesquisa, o mestre ensino e a estagiária ex-
tensão universitária.
A pós-graduação é luxo ou necessidade? Essa pergunta tem norteado
a discussão no Brasil em todos os nrveis, desde a reforma universitária de
1968. Equivale a perguntar: pesquisar é necessário? E nesse caso, a pes-
quisa necessita vincular-se à extensão? O irmão mais velho do tripé recla-
ma, aflito: e o ensino, como fica na relação? Não é o ensino a base e o co-
meço de tudo, confundindo-se até mesmo com o conceito de escola?
Falar, portanto, em pós-graduação desvinculada de graduação é o
mesmo que tentar tocar na questão da Universidade ou suas atividades sem
relacionar o tripé dialeticamente, tendo em vista a busca do fogo.
"A Universidade busca o fogo do conhecimento". A frase é de Jamil
Cury (6). Mas, embora o autor refira-se ao mito do Prometeu para aludir a ta-
refa prometeica da Universidade, a frase suscitou-me as imagens do filme
dos primatas, onde os ensinamentos sobre a relação entre teoria e prática
são acertadrssimos. E aplicam-se muito bem à discussão da Universidade.
A relação entre graduação e pós-graduação pode ser analisada como
a própria relação entre teoria e prática, ou, se preferirem, entre técnica e tec-
nologia, ou ainda entre o pensamento e as feições da realidade exteriores ao
pensamento. Isto extrapola de longe a questão histórica da Universidade.
Tanto mais os 20 anos de pós-graduação brasileira.
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persegue as diferenças entre ciência e tecnologia /Solla Price fez isso até
com brilhantismo inovador em seus trabalhos/, Sales vai dizer de forma bem
mais simples (12): "O modo de sentir/pensar/agir é um modo de atuação. É
uma tecnologia". E mais: "A Universidade... estA, portanto, convocada a
produzir tecnologias técnicas, polfticas/sociais de afirmação dos construto-
res da sociedade").
O homem primata não é um homem homogêneo, isto e; o mesmo ho-
mem para toda a face da Terra. HA um homem ali, que por razões de clima e
região desenvolveu habilitações diferentes das desenvolvidas acolá, visto
que o homem, bem como todos os seus sentidos e sentimentos são históri-
oos; o processo de hominização - -
diferenciação da natureza também o é.
Donde a grande mensagem deixada pelas imagens da descoberta do fogo:
quando o primeiro homem primata observa, perplexo, o outro primata fazer o
fogo, o espanto e a perplexidade do primeiro não cabem na expressão cor-
poral do artista. Não era o fogo algo que se achava na natureza? Podia-se
fazer o fogo, a qualquer hora, prescindindo dos caprichos da natureza que
nO-lo oferecia, às vezes em paisagens tão distantes, quase miragens.
A posse de um saber tão fundamental desnorteia a mente do homem
primitivo. E nesse momento o seu pensamento se alarga enormemente. Pois
o pensamento só vai pensando o possrvel, o imaginAvel... Fazer o fogo para
esse homem era o impensAvel até aquele momento. De agora em frente, tu-
do vai ser diferente: a teoria estava pronta! Fogo era algo que se fazia.
A decepção não demora a surgir, quando, mesmo de posse da teoria,
o primata não consegue realizar a grande façanha de botar fogo na vara,
porque para isso é necessArio ter jeito. Não pode ser qualquer jeito. É preci-
so técnica, é preciso habilidade: a fricção da vareta na pedra para provocar
calor necessita de uma dada velocidade nas mãos do fazedor de fogo. É ho-
ra do manual de procedimentos. A técnica é importante e da mesma maneira
que não existe tecnologia sem técnica, a técnica, sem os princfpios raciona-
6zadores da ciência, não consegue se fazer diferente. Mas no momento em
que ele domina o fazer e o porque fazer desta forma, ele estA em condições
de criar inúmeras outras maneiras de proceder. É por isso que no 11Plano
Nacional de Pós-Graduação dos anos 80 estA:
por alta qualificação deve ser entendida a capacidade de mover-se
com segurança e agilidade na fronteira de uma especialidade, não só
ao ponto de estar em condições de reproduzir o conhecimento gerado
em outras partes, o que representaria a capacidade efetiva de incor-
porA-lo, mas também de colaborar para o seu avanço, com contri-
buições significativas, o que representaria o domrnio real daquela es-
pecialidade" (1)
Quando Sales insiste tanto em ampliar o conceito de tecnologia para
"um modo de sentir pensar/agir", a gente entende a graduação e a pós-gra-
duação como momentos diferentes mas ainda assim momentos de um
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CONFRONTAÇÃO DE SABERES
tou
J. logia também não o é. Por mais que funcione. Há várias formas de fazer o
Into fogo. Umas interessam a uns. Outras a outros. O confronto é constitutivo da
existência humana. Por isso o cerne da discussão não pode ser a prioridade
lisa
:ial, da ciência pura sobre a aplicada ou vice-versa. Ambas são fundamentais. A
'ea- briga refere-se aos interesses norteadores do desenvolvimento de uma e ou-
se tra.
que tipo de tecnologia dita leve, barata e feita por ar (tesão), em contraposição à
~afi- tecnologia pesada, cara e poluente. Junto com isso vem o discurso da natu-
mto reza (o verde) e a respectiva filosofia de sustentação: holismo, integração
om- homem/natureza, equillbrio entre as forças yang/ying, isto é, equillbrio entre
~nta razão e intuição (ninguém fez isso melhor que F. CAPRA em O ponto de
o.É mutação).
Mas por desconsiderar o confronto de saberes como sendo antes um
I re- confronto de classe social, a nova tecnologia proposta afasta-se dos inte-
)es- resses.da maioria dos homens até porque não questiona as bases materiais
brevivência: quem não souber fazer melhor que o outro cai no buraco negro.
É claro que o fazer melhor implica em estar a par dos. outros fazeres.
Qualquer nova tecnologia dentro do mesmo modo de produção implica
em concorrência e, consequentemente, lucro. Por isso, no confronto de tec-
nologias, não resolve muito discutr-Ias passando por cima das relações so-
ciais. A proposta ecológica e tantas outras alternativas orientais para nos
devolver o equillbrio perdido só é válida na confrontação de saberes. Falar
do saber social é falar do fazer. O saber e o fazer estão juntinhos. Travar o
consumo para criar uma nova produção é gerar uma tecnologia burguesa
e tão elitista quanto a anterior. A grande maioria dos homens famintos da
humanidade morreria verde. A crise atual da economia capita6sta desenca-
deada na década de 70 se expressa na crise da produtividade e, portanto,
do consumo. Foge a esse artigo aprofundar o tema, pois terramos que anali-
sar as várias formas de reorganização da economia capitalista nos últimos
40 anos, especialmente a remodelação das condições gerais de produção
no pós-gu~rra com a expansão do sistema de consumo particular o que,
hoje, sabemos esgotados. Por isso é que o movimento ecológico é suspeito
do ponto de vista dos trabalhadores: a ecologia propõe ~ levantada geral,
aumento da produtividade com o necessário estancamento do consumo,
através de hábitos frugais. É mais uma forma de reorganizar a economia ca-
pitalista da produção. As contradições inerentes a essa economia são muito
bem percebidas pelos ecologistas. (impossfvel de analisar nesse artigo a
contradição capitalista fundamental entre o aumento da produtividade e a
baixa tendencial da taxa do lucro).
O importante é perceber que ao propor remodelações técnicas sem
remodelações nas relações sociais (e relações sociais são algo bem mais
material do que passeios matinais e hábitos frugais), o ben6ficiamento de
certas empresas em detrimento de outras pelo reforço da concorrência e da
concentração monopolista é inevitável. Para o modo de produção capitalista
é totalmente indiferente que a tecnologia seja leve ou pesada. Para os ecolo-
gistas é também totalmente indiferente que a tecnologia leve proposta esteja
em relações de produção capitalistas ou socialistas. O homem frugal está
acima de qualquer suspeita.
Pois os ecologistas confundem capitalismo com industrialização. Já
que o equillbrio perdido entre o homem e a natureza se deu por culpa da in-
dustrialização, é mister inventar outra indústria menos poluente. Só que ca-
pitalismo é muito mais do que a indústria em geral. Indústria, porém. é qual-
quer sistema de aplicação de máquinas à produção. O que está em jogo é
um dado sistema social. A contradição fundamental não é entre os homens e
a natureza. Entre eles, desde o homem primata, tem havido infinidade de
equillbrios possfveis. E sempre com desiquihbrio/equillbrio, depre-
dação/construção. O esgotamento da natureza é um mito: o homem não só
tira da natureza mas também a repõe incessantemente. O esgotamento das
- . -- - --
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;ta esteja mestrado e doutorado. O que era secundário em 1968 é, hoje, tão prioritário
quanto os demais objetivos da pós-graduação - a formação de profissionais
ugal está
altamente qualificados para o mercado de trabalho. Para estes os cursos de
especialização são indispensáveis."
zação. Já
Jlpada in- Tentei discutir a questão de fundo, a de ser a pós-graduação um refi-
6 que ca- namento das habilitações da graduação. LOBO discute a formalidade de se
m.é qual- conseguir isso: será via mestrados, doutorados ou tudo isso com ênfase es-
em jogoé pecial para as especializações?
homense
Outro ponto é o problema das vocações das instituições.
Inidadede
), depre- "Em resumo, parece haver um consenso em torno da soma de três
em não s6 condições para que uma Universidade seja uma Universidade: produção de
mentodas conhecimento, transmissão e aplicação. Não são os numerosos prédios que
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PRODUTIVIDADEACADÊMICA E VOCAÇÃO
INSTITUCIONAL
10- NADAI, E. & NEVES J. História do Brasil. 1- Brasil Colônia (19 Grau). São Paulo,
tnde: Saraiva, 1988, 136p.
)ráticas, -
11- OllVEN, Arabela C. el. alH. Universidade Brasileira: indústria do conhecimento ou
ad limi-
consciência das comunidades? Educação Brasileira -
Revista do CRUB,
8(19),1987.
lçãodo-
'10Sme- 12- SALES, Ivandro C. Universidade e sociedade: como resgatar suas principais relações?
Educação em Debate. Fortaleza, (11), 1-13, jan.ljun. 1986.
escreva
ou mais
~irosde- ABSTRACT
portarite
umaes- MOSTAFA, Solange P. The post-graduation seeks the fire 01 knowledge. Trans-in-for-
de edu- mação. Campinas, PUCCAMP. 1(1): 13-23jan.lapr. 1989.
In a colloquial way, lhe author analyses the relations between theory and pratice re-
'edesco-
lerring to the undergraduate and graduate courses. The images 01the filme "Quest lor lire"
~itável.A were used lor the analogies.
cotidiano
KEY WORDS:
~vem se University, science and technology theory and pratice.
Itaçãode