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Ainda paira grande incerteza sobre qual será o futuro da CDE. A despeito de um
significativo empenho para garantir uma redução estrutural dos objetivos e orçamento
do encargo, as ações dúbias do Governo Federal, pressões de agentes políticos e players
do mercado de energia pleiteiam não só sua manutenção, como inclusão de novos
subsídios à conta.
Segundo a lei, a CDE seria um encargo setorial com os objetivos de: promover o
desenvolvimento energético dos Estados; desenvolver a competitividade da energia
produzida a partir de fontes eólica, pequenas centrais hidrelétricas, biomassa, gás
natural e carvão mineral nacional, nas áreas atendidas pelo Sistema Interligado Nacional
(“SIN”); e garantir a universalização do serviço de energia elétrica em todo o território
nacional.
Esse projeto de sofisticação das políticas energéticas para o setor já encontrava ecos em
deputados e senadores de diferentes partidos no Congresso Nacional. Quanto a isso,
cabe apontar que a Comissão Mista Destinada a Estudar as Causas da Crise de
Abastecimento de Abastecimento de Energia no País já indicava em seu relatório final a
necessidade de a criação de um arcabouço normativo específico parar promoção da
universalização de energia elétrica em locais pouco rentáveis, bem como a necessidade
de estimular o desenvolvimento de fontes energéticas renováveis e termelétricas
movidas a gás natural e biomassa como uma forma de diminuir a dependência
hidrelétrica do país.3
Esses gastos estiveram relacionados em sua grande maioria, ao Programa Luz Para
Todos (“PLPT”), criado pelo Governo Lula com o Decreto nº 4.873/2003 em
substituição ao antigo Programa Luz no Campo. O programa tinha como principal
objetivo para propiciar atendimento à parcela da população do meio rural que não
possuísse acesso aos serviços de energia elétrica. Para isso, ao Governo Federal, através
do Ministério de Minas e Energia (“MME”), foi atribuída a função de coordenar e
financiaria a atuação das distribuidoras de energia elétrica para garantirem a conexão de
unidades consumidoras que até então não estivessem ligadas aos serviços de energia
elétrica.4
3
BRASIL. Congresso Nacional. Comissão Mista Especial Destinada a Estudar as Causas da Crise de
Abastecimento de Energia no País, Bem Como Propor Alternativas a Seu Equacionamento.
Requerimento nº 73/2001-CN. Brasília, 2001.
4
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da
Energia Elétrica: Manual de Operação para o período de 2015-2018 Rev.1. Brasília, 2017.
5
Questão essa que consta da própria exposição de motivos do referido decreto.
O segundo objetivo da CDE foi criar instrumentos de fomento para as chamadas “fontes
alternativas” de energia elétrica. Assim, foram garantidos descontos tarifários de
distribuição e transmissão não inferiores a 50%, a serem determinadas pela ANEEL,
para energia provenientes de fontes eólicas, gás natural, biomassa e cogeração
qualificada. Com isso, essas fontes passavam a ter os mesmos benefícios tarifários que
já eram concedidos às Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no âmbito da Lei n°
9.648/1998 sob a justificativa de garantir o desenvolvimento de novas tecnologias e
expandir capacidade instalada de fontes de energia limpa para diminuir a pegada de
carbono e a dependência hidrelétrica do sistema.
A despeito da redação da lei ser clara no sentido de que o percentual de reembolso para
as usinas à carvão mineral deve ser feito pela Agência Nacional de Energia Elétrica com
a observância de “critérios que considerem sua rentabilidade competitiva e preservem
o atual nível de produção da indústria produtora do combustível”, em fiscalização
realizada pelo Tribunal de Contas da União (“TCU”) verificou-se que esses valores
nunca foram reajustados pela agência9.
6
Nesse caso, a CDE somente incorporou uma política que já se encontrava presente no país desde a
promulgação da Lei nº 5.899/1973.
7
Segundo relatório de Fiscalização do Tribunal de Contas da União, essas políticas visaram garantir o
funcionamento de nove usinas termelétricas da região Sul: Charqueadas, Complexo Jorge Lacerda,
Presidente Médici, São Jerônimo, e Figueira, que representavam 100% das centrais geradoras de carvão
mineral até então. Cabe apontar que outro ponto relevante da política de subsídios ao carvão mineral
adotada neste primeiro momento da CDE foi que usinas termelétricas de carvão nacional que
adotassem tecnologias de geração limpa que estivessem em operação a partir de 2003, também
poderiam receber subsídios para garantia de sua competitividade. Esse benefício, porém, foi revogado
em 2013 pela Lei nº 12.783/2013.
8
O A Lei nº 10.762/2003 alterou a redação do art.13 da Lei nº 10.438/2002 para dispor: “[os recursos da
CDE devem] garantir até cem por cento do valor do combustível ao seu correspondente produtor,
incluído o valor do combustível secundário necessário para assegurar a operação da usina (...)”.
Esse objetivo merece um comentário especial, pois, mostra-se curioso que a CDE
enquanto buscava incentivar fontes de energia limpa também subsidiasse fontes de
energias poluentes movidas a carvão.
É importante mencionar, porém, que esse subsídio atinge tão somente nove usinas
termelétricas localizadas na região Sul10. Além disso, algumas dessas regiões
apresentam índices de mortalidades muito superior ao do Estado em que se localizava,
motivado, principalmente, pela emissão de gases poluentes conforme indica
representação feita pelo Ministério Público Federal em Tubarão/SC perante o Tribunal
de Contas da União:
9
Conforme exposto no Acórdão 1382/2011 do Tribunal de Contas da União“(...) a legislação prevê o
pagamento de até 100% do carvão utilizado, sendo o percentual máximo justificável apenas em caso de
plena utilização da usina; entretanto, nunca houve controle desse subsídio, custeado sempre pelo valor
integral” (Acórdão TCU 1382/2011 – Plenário. Rel. Min. José Mucio Monteiro. Sessão de 27.11.2011.).
10
Segundo disposto na Nota Técnica ANEEL nº 034/2011-SRG/ANEEL, são elas: Presidente Médici A e B,
São Jerônimo, Figueira, Charqueadas e Jorge Lacerda I , II, III e IV.
11
Nota Técnica ANEEL nº 034/2011-SRG/ANEEL
12
Sem afastar a crítica apresentada nesse artigo, é válido mencionar que por força da Lei nº 1.783/2013,
a subvenção de carvão mineral nacional deverá se encerrar em 2027.
O último dos objetivos da CDE foi o desenvolvimento do gás natural no país, uma vez
que os valores da conta também poderiam ser utilizados para a instalação de canalização
de gás natural para aqueles estados que até 2002 não tivessem essa infraestrutura
instalada. Segundo Rutelly Marques, seriam doze unidades federativas que não teriam
essa infraestrutura até então: Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Piauí, Maranhão, Pará,
Amapá, Roraima, Amazonas, Acre, Rondônia, e Mato Grosso e que, consequentemente,
estariam em descumprimento com o art. 25, § 2º, da Constituição Federal.13
A primeira delas adveio com a Lei nº 10.762/2003 que incluiu um programa para a
subvenção econômica destinada à modicidade tarifária para os consumidores
classificados como Subclasse Residencial Baixa Renda pela ANEEL 16, nomeada de
Tarifa Social de Energia Elétrica (TSEE). O novo encargo sofisticava o projeto de
subvenção iniciada em 1993 pelo antigo Departamento Nacional de Águas e Energia
Elétrica que colocava à cargo das próprias concessionárias de distribuição de energia
elétrica a função de elaborar estudos e apresentar projetos de para a redução tarifária de
consumidores residenciais de baixa renda.17
Com a TSEE passou a ser atribuído um percentual de desconto que variaria de 100% a
10%, a depender do tipo e da faixa de consumo do usuário, com o objetivo de se
garantir maior acessibilidade aos serviços de energia elétrica.
Atualmente, porém, o benefício também foi expandido para idosos ou pessoas com
deficiência que recebem Benefício de Prestação Continuada, famílias inscritas no
Cadastro Único com renda mensal de até 3 (três) salários-mínimos que tenha portador
de doença ou deficiência que exija equipamentos eletrônicos, como também famílias
indígenas e quilombolas.
16
Classificação dada então pela Resolução Nº 485, de 29 de agosto de 2002 da ANEEL, posteriormente
substituída pela Resolução Normativa Nº 414, de 9 de setembro de 2010.
17
Portaria DNAEE nº 922 de 28 de julho de 1993.
A segunda delas foi a Lei nº 10.848/2004 que explicitou que as quotas anuais pagas por
todos os agentes que comercializam energia com o consumidor final da CDE seriam
recolhidas mediante encargo tarifário. A modificação tinha o condão de garantir que os
agentes que optassem por integrar o Ambiente de Contratação Livre (ACR) não
deixassem de contribuir com a conta através do pagamento das tarifas setoriais. A
contribuição EM nº 95/MME de 11 de dezembro de 2003, feita pelo Ministério de
Minas e Energia, já deixava expresso tal objetivo:
A opção pela condição de consumidor livre não desobrigará o consumidor dos encargos
referentes à CCC do sistema isolado e de outros encargos de caráter sistêmico, tais quais
a RGR, a CDE, a taxa de fiscalização da ANEEL, a contratação da reserva de energia,
devendo ele contratar cem por cento de sua carga.
A definição de serviço púbico adequado, segundo o autor, poderia ser retirada da Lei nº
8.987/1995 quando descreve os padrões a serem observados pelas concessionárias no
exercício de serviços delegados. Assim, o serviço adequado seria aquele que atende,
cumulativamente, as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança,
atualidade, generalidade e modicidade tarifária.
18
SCHAPIRO, Mário G. Desajustes regulatórios no financiamento do setor elétrico: uma análise da conta
de desenvolvimento energético. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v.272, ago. 2016. p-
145-173.
2. A Segunda Fase –O Agigantamento da CDE
Para concretizar tal objetivo, o Executivo visou alterar a remuneração dos ativos
sujeitos à concessão do setor elétrico para que passasse a cobrir tão somente as taxas de
operação e manutenção dos ativos e, assim, reduzir as tarifas pagas pelos usuários. Com
isso, a referida medida provisória deu margem para que o governo promovesse uma
ampla renovação dos contratos com as concessionárias dos sistemas de geração,
transmissão e distribuição para renegociação de seus termos.
Nesse contexto, como forma de garantir a redução almejada pelo Executivo, a Lei nº
12.783/2013 incluiu uma nova finalidade para CDE, indicando que os recursos da conta
poderiam ser utilizados para garantia da modicidade tarifária, bem como para
compensação de ativos não amortizados em casos de reversão de concessões – objetivo
semelhante daquele já previsto pela Reserva Global de Reversão (“RGR”). Além disso, a
lei também passou a incorporar os dispêndios da então Conta de Consumo de
Combustíveis (“CCC”) sob a justificativa de simplificar a organização dos subsídios do
setor e garantir recursos do Tesouro Nacional para esse subsídio20.
Já quanto a inclusão das outras duas despesas, Rutelly Marques expõe que a
incorporação da CCC pela CDE teve o objetivo de simplificar a cobrança dos encargos
setoriais, bem como permitir que a CCC pudesse acessar as fontes de recurso da CDE.
19
MENDES, Priscilla. Dilma confirma redução na conta de luz e critica ‘pessimistas’. G1 Economia.
Brasília, 23 de janeiro de 2013. Disponível em: < http://g1.globo.com/economia/noticia/2013/01/dilma-
confirma-reducao-na-conta-de-luz-e-critica-pessimistas.html>. Acesso em 16 de abril de 2021.
20
SILVA, Rutelly Marques. Op. cit. p. 11.
21
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Op cit. p.4
A inclusão da compensação de ativos não amortizados em casos de reversão de
concessões, por sua vez, teve objetivo de onerar menos o consumidor, uma vez que o
Congresso reconheceu na tramitação da lei que caso a CDE tivesse margem para
contratar operações de crédito para a indenização das parcelas não amortização dos
ativos, o consumidor seria menos onerado do que a inclusão desses valores nas tarifas.22
Em segundo lugar, a lei passou a incluir os créditos que a União e a Eletrobras detinham
contra a Itaipú Binacional como uma das fontes de recursos para o financiamento da
CDE. Cabe apontar que a despeito de ainda subsistir previsão legal para utilização
desses recursos, o Tribunal de Contas da União verificou que esses créditos somente
valores foram transferidos pelo Orçamento Geral da União à CDE no período de 2013 e
201523.
Por fim, foi realizada uma mudança no regime de quotas pagas pelos consumidores, que
passaram a ser fixadas a partir da diferença entre a necessidade total de recursos para o
ano e a expectativa de arrecadação com as outras fontes (i.e., multas aplicadas pela
ANEEL, quotas pagas por UBP e créditos da União contra Itaipu Binacional).
No mesmo ano também foi promulgada a Lei nº 12.839/2013, que passou a incluir duas
novas despesas para a CDE. A primeira delas foi a atribuição ao Poder Executivo de
22
SILVA, Rutelly Marques. Op. cit. p. 9-11.
23
Acórdão TCU nº 1215/2019-Plenário. Processo TC 032.981/2017-1. Rel. Min Arnoldo Cedraz. Sessão
29.05.2019
poder atribuir, mediante decreto, a subvenção de tarifas nos sistemas de transmissão e
distribuição de energia elétrica para consumidores específicos.
Com essa nova frente de atuação, o Poder Executivo editou o Decreto nº 7.891/2013
que passou a atribuir descontos tarifários para diversas atividades econômicas: (i)
geração de energia por fontes de energia limpa, sendo elas, nos termos do decreto,
Pequenas Centrais Hidrelétricas (“PCHs”) com potência igual ou inferior a 1 MW e
unidades geradoras movidas a energia solar, eólica, biomassa e cogeração qualificada
com potência de até 30 MW; (ii) irrigação e aquicultura realizada em horário especial
(entre 21h30 e 6h); (iii) concessionárias ou permissionárias de distribuição de energia
com mercados de até 5000 GW/ano; (iv) serviço público de água, esgoto e
saneamento24; (v) unidade consumidora rural; (vi) cooperativas de eletrificação rural; e
(vii) serviços público de irrigação.25
O referido decreto acabou por organizar e expandir benefícios tarifários que já eram
pelas concessionárias de energia elétrica. Nesse sentido, temos que o Decreto
67.724/1968 já regulamentava o desconto para as atividades rurais, agrícolas e serviços
públicos e a Lei 9.427/1996 já garantia descontos para as fontes incentivadas. [será que
eu desenvolvo isso aqui? Sinto que está ficando muito longo] [Em caso positivo expor
as normativas da ANEEL que regulamenta esses benefícios: 414/2010 e 77/2004]
A segunda delas foi a possibilidade de que a conta pudesse prover recursos para
compensar o efeito da não adesão à prorrogação de concessões de geração de energia
elétrica trazida pela Medida Provisória 579/2012, uma vez que diversas operadoras de
ativos do setor elétrico não aceitaram a redução de sua remuneração para manter seus
contratos de concessão.
A referida norma foi alterada pelo Decreto nº 7.945 /2013 para dispor, expressamente,
que as concessionárias de distribuição poderiam receber diretamente os recursos da
CDE como forma de neutralizar suas exposições ao mercado de curto prazo advindo da
24
Esse subsídio traz um interessante exemplo de subsídio cruzado, pois, sob a justificativa de garantia de
modicidade tarifária, o Poder Executivo passou a onerar os consumidores de energia elétrica para
amenizar a carga tarifária de outros serviços públicos essenciais.
25
Nesse primeiro momento, por força do §3 do art.1º do decreto, os descontos não poderiam ser
concedidos de maneira cumulativa, devendo ser aplicado tão somente aquele que garantisse a maior
vantagem ao beneficiário. Essa previsão mostra-se importante primordialmente para atividades rurais,
uma vez que atividades agrícolas ou de aquicultura podem facilmente acumular os benefícios atribuídos
às unidades rurais e para o horário especial.
prorrogação dos contratos de concessão, bem como do despacho de usinas termelétricas
acionadas fora da ordem de mérito, por meio de decisão do Comitê de Monitoramento
do Setor Elétrico, em razão de segurança energética.
Para isso, se utilizou como fundamento a Lei nº 12.035/2009, que dispôs que o Governo
Federal deveria fornecer recursos, sem qualquer custo ao Comitê Organizador dos
jogos, serviços relacionados à segurança, saúde e serviços médicos, vigilância sanitária
e alfândega e imigração.
Quanto a esse ponto, cabe mencionar em fiscalização do TCU foram realizadas análises
em relação à evolução do orçamento estimado para a CDE durante os anos de 2012 e
2018. Nelas, é possível identificar que, enquanto os orçamentos de 2013 e 2014
apresentaram previsões de recursos de Itaipú Binacional nas ordens de 8 e 12 bilhões de
reais, respectivamente, o orçamento de 2015 não previu qualquer valor oriundo dessa
fonte. Na prática, a retirada dessa fonte de recurso foi compensada pelas quotas anuais
pagas pelos agentes do sistema elétrico, uma vez que a contribuição dessa fonte que era
da ordem 2 bilhões em 2014 passou a totalizar mais de 18 bilhões em 2015.29
governo, se cada uma das concessionárias ficasse responsável por firmar sua própria operação de
crédito se vislumbraria um alto custo financeiro que seria repassado ao consumidor.
28
SILVA, Rutelly Marques. Op. cit. p. 17.
29
Nesse sentido, cabe apontar a fala da Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura de Energia Elétrica
(Seinfra) do Tribunal: “Coincidência, ou não, verificou-se que a partir de 2015 o OGU passou a não mais
prever a transferência de créditos que a União dispunha em Itaipu Binacional para a CDE. As quotas
anuais passaram a ser a principal fonte de recursos. O aumento do total de despesas da CDE nos anos
seguintes, somado à queda da participação da União na composição do orçamento, elevou
sensivelmente o custo para os consumidores, que passaram a arcar quase que completamente com as
despesas.” (Acórdão TCU nº 1215/2019-Plenário. Processo TC 032.981/2017-1. Rel. Min Arnoldo Cedraz.
Sessão 29.05.2019).
Essa transferência da fonte de custeio somente foi possível com a alteração da
metodologia de cálculo das quotas anuais, que passaram a ser calculadas com base na
previsão de gastos com a conta pelo Executivo.
Entretanto, a referida Medida Provisória, foi objeto de diversas alterações por parte da
Comissão Mista criada para analisar a Proposta de Lei de Conversão. No caso, a
comissão apresentou diversas sugestões para alteração do texto para aperfeiçoar o
ambiente regulatório dos novos contratos de concessão tendo em vista a interligação de
novas capitais ao SIN.31 Dentre essas modificações estariam a utilização de encargos
tarifários, principalmente da CDE, para reduzir alguns riscos das concessões de energia
elétrica nas regiões Norte que afastariam investidores da região.
Diante das modificações estabelecidas nessa segunda fase, é possível vislumbrar que a
CDE passa a adquirir várias finalidades distintas, não vinculadas necessariamente a um
objetivo específico ou mesmo ao desenvolvimento do setor elétrico setor elétrico. Cita-
se por exemplo, que a conta passou a financiar atividades rurais, serviços públicos de
água, saneamento e esgoto, redução das exposições causadas pela Medida Provisória
579/2012 e mesmo o financiamento de obras para os Jogos Olímpicos de 2016.
Tais dificuldades ligadas à alteração ou extinção de subsídios pode ser observado nos
movimentos atuais ligados a regulamentação da CDE. A despeito de se verificar o
crescimento e estruturação de um discurso sólido e organizado para amenizar o impacto
da CDE aos consumidores, esses eventos se intercalam com ações dúbias do Governo
Federal, pressão de grupos econômicos para expansão do subsídio e falta de articulação
política para defesa dos interesses dos consumidores.
Com isso, indicamos uma terceira fase da CDE, em que verificamos um movimento
normativo que caminha tortuosamente em direção a uma redução das despesas da conta.
Utilizamos como marco para uma terceira fase da CDE a edição da Lei nº 13.360/2016,
momento em que podemos identificar um movimento por parte do Governo Federal no
sentido de desonerar a CDE dos consumidores de energia.
A Lei foi promulgada poucos meses após o impeachment da presidenta Dilma Rulsseff
pela conversão em Lei da Medida Provisória nº 735/2016 de Michel Temer. Segundo a
exposição de motivos dessa norma, o governo buscava encontrar um modelo mais
equitativo da CDE, que não onerasse substancialmente a atividade econômica do Norte
e Nordeste (regiões mais privilegiadas pelo financiamento da conta), mas que pudesse
acabar com a judicialização existente em torno do sistema de quotas da CDE.
Uma primeira alteração significativa trazida pela lei foi a mudança do ente gestor da
CDE, que deixou de ser a Eletrobras para passar a ser a CCEE. A justificativa
apresentada para essa modificação apresentada pela Comissão Mista que foi de que a
modificação traria melhorias na governança desse encargo, uma vez que se verificava
um conflito de interesses pelo fato de a Eletrobras ser, ao mesmo tempo, a maior
beneficiária da CDE e a gestora da conta.35
35
A despeito dessa justificativa, os debates legislativos mostram um evidente interesse da base
governista de preparar a Eletrobras para uma eventual privatização.
Em segundo lugar, foram retirados como objetivo da conta o fornecimento de recursos
para a amortização de operações ligadas as reversões de concessões, bem como para
compensação dos efeitos da não prorrogação das concessões de geração de energia
advindas com a Medida Provisória 579/2012. Essa retirada, porém, não deveria afetar as
obrigações que já haviam sido atribuídas a conta antes da promulgação da lei.
Em quarto lugar, foi prevista uma importante alteração na forma de rateio dos curstos da
CDE, fazendo com que as quotas anuais passassem a ser calculadas de maneira
proporcional ao seu mercado consumidor. Tal modificação teve o objetivo de reduzir o
subsídio cruzado entre submercados. [desenvolver o porquê]
Por fim, talvez como o maior exemplo de um movimento em direção a uma tentativa
de redução da CDE, a lei previu a criação de um projeto de redução estrutural da CDE
que deveria abordar, obrigatoriamente: (i) uma proposta de rito orçamentário anual; (ii)
instrumentos de despesas anuais; (iii) critérios para priorização e redução de despesas; e
(iv) instrumentos aplicáveis para que as despesas não superem o orçamento previsto
para cada exercício.
Em atenção a essa previsão legal, o Grupo de Trabalho do MME criado pela Portaria nº
484/2016 apresentou duas publicações relacionadas ao Plano de Redução Estrutural das
Despesas da Conta de Energia Elétrica: (i) o relatório preliminar ao plano, datado de 10
de abril de 201836; e o (ii) relatório final ao plano, datado de 2 de outubro de 201837.
36
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Relatório Preliminar do Plano de Redução Estrutural das
Despesas da Conta de Desenvolvimento Energético. Disponível em:
<http://antigo.mme.gov.br/c/document_library/get_file?uuid=0330efff-eda4-c0d2-9b11-
1115d58561f1&groupId=36148>. Acesso em 16 de abril de 2021.
37
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Relatório Final do Plano de Redução Estrutural das Despesas da
Conta de Desenvolvimento Energético. Disponível em:
<http://antigo.mme.gov.br/c/document_library/get_file?uuid=55cce51d-9b51-2719-022b-
d74b51ccd628&groupId=36148>. Acesso em 16 de abril de 2021.
As publicações indicaram que e recomendaram que:
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